História Como uma Catarse (Yoonmin) - Como uma chuva que passou

Jin já estava na sacada de seu apartamento fumando um cigarro, ele na verdade odiava fumar, mas daquela vez fez uma exceção, afinal não era isso que as pessoas faziam para se acalmar? Ele não sabia o que iria acontecer agora, pois o que fizera poderia fazê-lo ser processado ou algo do tipo, além disso, tinha o fato que agora estava sem emprego e teria que se virar para encontrar algo o mais depressa possível antes que as contas aparecessem em sua caixa de correio. Porém naquela noite a única coisa que realmente tinha em sua cabeça era em organizar seus pensamentos, ele nunca imaginou que um dia iria machucar alguém daquele jeito, por ser o Seokjin ele não poderia fazer mal a nenhuma mosca, pelo menos é o que ele mesmo sempre imaginou. Nunca brigou com ninguém e sempre foi tranquilo na maior parte das vezes; agora percebendo a si mesmo, apenas conseguia sentir suas mãos tremendo levemente ao mesmo tempo em que segurava o cigarro em sua boca para dar um trago, o gosto amargo que invadia sua língua era terrível, mas ao inalar a fumaça devagar e depois soltá-la conseguia sentir uma pequena leveza viciante. Seu rosto ainda estava um pouco inchado e úmido pelas lágrimas que deixou cair todo o caminho até sua casa, já suas bochechas e pescoço estavam com marcas vermelhas de arranhões que ele mesmo causara, era outro vício que por um momento se deixou levar; a ardência que as unhas causavam em sua pele era aliviante perto da ansiedade e da raiva, também a cada atrito entre a epiderme e a unha imaginava como se seu rosto esfarelasse ali, e sua beleza que todos falavam, talvez não fosse verdade, talvez fosse apenas uma máscara que poderia remover. Agora ali submetido aos efeitos do tabaco se perguntava o porquê as pessoas eram tão ignorantes a ponto de acharem que podem fazer o que quiser com os corpos das outras? O que aconteceu no restaurante não foi a primeira vez, já ocorreu coisas assim na escola, no ônibus, em festas e até mesmo em casa. Perguntava-se também em quando aquilo ia parar? Será que só quando envelhecer? Pois neste momento, mais do que nunca, sentia que as palavras “bonito” e “lindo”, que eram constantemente direcionadas a ele deixaram de ser elogios e se tornaram sua ofensa pessoal, ser assim pelo padrão da sociedade era o mesmo que receber olhares a toda hora, passagem de mãos indesejadas em seu corpo, pessoas insistentes em dar em cima de você, mesmo deixando claro que não as quer, e até mesmo tendo namorados terminando com você por serem ciumentos demais e não aguentando tudo isso. Sendo que a última instância não era bem um lamento, pois se alguém termina com você por causa disso sem, ao menos, considerar o fato de que você esteja mais frustrado que ela, então esse alguém não merece você. Era isso que Jin pensava para se sentir um pouco melhor, mas no fundo ainda tinha raiva.

Por um segundo ao olhar a fumaça cinza voando no ar noturno varanda afora, olhou para baixo, notando o quanto seu apartamento era realmente alto, se perguntou por um momento quanto tempo poderia levar para seu corpo atingir o chão, 5 segundos? 7? ou 10? Mas era loucura pensar aquilo, assustando-se com o rumo de seus próprios pensamentos ele sacudiu a cabeça para tirar aquilo de sua mente e entrou novamente em sua pequena, porém charmosa, sala. Seu celular que estava sobre uma mesinha de centro vibrou um pouco o fazendo pegá-lo para checar a mensagens, percebeu que eram besteiras de seus amigos e aquilo o fez se indagar se deveria realmente contar o que aconteceu para eles ou não, mas por fim decidiu-se que não importava o quanto desabafasse, ele ainda sentiria aquela repulsa ao ver seu próprio rosto. Então as lembranças em sua cabeça passaram a cercá-lo mais ainda: “Um menino tão bonito como você não deveria fazer isso”,  “Olha para você, para você é tudo mais fácil”, “Ele só foi escolhido por causa da beleza com certeza”. Aquelas frases se repetiam e repetiam em sua cabeça, até mesmo as cenas do evento que tinha acabado de acontecer: “Você é muito bonito sabia Jin? Até mesmo bravo” —  O homem beijou sua bochecha (...)

Quando deu-se por si mesmo, estava mais uma vez deixando as unhas rasparem lentamente pela própria pele. Enquanto lágrimas quentes e salgadas faziam os machucados em seu rosto arderem.

“Tão bonito, e faz essas coisas…”. Pensou consigo mesmo.

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Park Jimin acordou com o som de seu celular tocando, tateou desesperadamente para encontrar o aparelho e cessar aquele som, quando se levantou pegando o celular sentiu uma fisgada nas costas por ter dormido no sofá novamente. Olhou as horas, eram 04:27 da manhã e o nome de quem ligava na tela e atendeu.

— Alô? — Disse Jimin

— Jiminie… — Falou uma voz rouca e abafada.

— Jin? Você ta bem?

— Eu nunca estou bem Jiminie — Suspirou — Desculpe te acordar

— Tudo bem, mas Jin, o que aconteceu? Por que está estranho?

— Ah, o de sempre Jiminie. O de sempre...

— Você bebeu?

— Não, ainda não — Ouviu-se um ruído atrás de uma porta batendo — Jiminie, eu to aqui em frente ao seu prédio, posso subir?

— Você tá aqui!? Ué… Pode subir sim. Mas Jin, você tá me preocupando aconteceu algo grave?

— Não. E-eu só preciso de alguém agora, eu não consegui dormir e não quero ficar sozinho em casa.

— Você estava chorando?

— Um pouco… Eu já vou subir, tá ?

— Tá — E assim eles desligaram, mas Jimin já tinha se levantado sonolento, mas morto de preocupação.

Logo o interfone tocou para o porteiro confirmar se o amigo poderia subir, e com a confirmação, poucos minutos depois se ouviu um “toc toc” na porta e Jimin a abriu se surpreendendo com o que via. Jin estava com a face, pescoço e até os braços arranhados como se um gato tivesse passado as unhas ali, seus olhos estavam inchados e vermelhos de tanto chorar. Sem dizer ele logo abraçou o rosado e retribuiu o abraço como se pudesse retirar toda a dor de dentro de si. O coração de Jimin doía ao vê-lo daquele jeito, além de que estranhava o cheiro forte de cigarro que vinha das veste do amigo. Ali em pé sentindo palavras silenciosas através daquele abraço, puderam ouvir um som vindo do corredor, e logo Jin abriu seus olhos avistando um Taehyung sonolento os olhando confuso.

— Jin? O que faz aqui? Aconteceu alguma coisa? — perguntou Tae em uma voz grave, mas não houve resposta, apenas Jimin se separou do amigo e olhando para o loiro como quem dizia: “Não pergunte mais nada”.

— Jin, por que você não vai tomar um banho quente para relaxar?  — O rosado assentiu — Pode ir ao banheiro do meu quarto, se quiser use a banheira; eu já pego uma roupa pra você — Ele assentiu novamente — Toalhas fica no armário embaixo da pia — Jin então se dirigiu até o quarto de Jimin.

— O que aconteceu? — Sussurrou Tae e um tom assustado, logo que o rosado passou por ele entrando no quarto.

— Não faço ideia, mas para a mania dele de se arranhar voltar desse jeito deve ter sido grave.

— Você já tinha visto ele assim?

— Assim não, mas ele costumava arranhar os braços por ansiedade e irritação, lembra? — Tae balançou a cabeça negando — Enfim, mas faz anos que isso tinha passado. Ah… — Jimin passou a mão pelos próprios cabelos, com um semblante preocupado — Eu não sei o que fazer Tae…

— Acho que não tem muito que fazer, acho que agora é só o deixar descansar e deixá-lo falar quando precisar.  — Tae colocou as mãos nos ombros de Jimin, como se para apoiá-lo e dizer que também queria ajudar, e o outro sorriu fraco e cansado.

Depois do banho quente, Jin deitou-se na cama de casal do melhor amigo que se deitou ao seu lado passando as mãos em seus cabelos agora molhados. O rosado o olhou cansado, mas se deixou levar pelo toque amigável. Um curto tempo depois Tae também entrou no quarto arrastando suas próprias cobertas e travesseiro.

— Posso me juntar a vocês? — Disse em um sorriso leve, e os dois assentiram em silêncio. Assim, Tae deitou-se do outro lado de Jin, fazendo com que o rapaz tristonho ficasse no meio. O loiro se ajeitou apoiando a cabeça no ombro do rosado. Então, em um silêncio confortável e carinhoso, logo as lágrimas de Jin começaram a descer novamente, mais intensas do que nunca, e seus amigos apenas o abraçaram mais e mais, até que parecessem ser um só.

— Tudo bem Jin, apenas chore o que você tem para chorar, estamos aqui para você sempre — Disse Tae baixinho, enquanto o rosado apenas concordava soltando um pequeno sorriso.

— E-eu to tão cansado — Disse Jin no meio a soluços — To cansado de tentar provar que sou mais do que um rostinho bonito, cansado de tudo.

— Ei — Disse Jimin olhando nos olhos dele — Você é muito mais do que um rosto bonito, muito, muito mais. Não importa o que te falarem ou sei lá o quê, mas lembre de que para gente você é precioso por ser como é, tá? — Jin assentiu chorando um pouco mais.

Um tempo depois, ali de baixo das cobertas os três pegaram em um sono novamente.

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Mais tarde do mesmo dia, Jin acordou com uma chacoalhada nos ombros, olhou para o lado percebendo que nenhuma das pessoas que estavam ali antes estavam presente no quarto.

— Jungkook?

— Finalmente! — Sorriu o mais novo.

— O que faz aqui?

— Tae me chamou para fazer vários nadas enquanto você dormia e Jimin foi trabalhar — Jungkook dava um leve sorriso, mas na verdade ele sentia uma leve agonia em ver o amigo com a pele machucada. Os outros dois haviam lhe contado sobre a aparição repentina do mais velho no meio da madrugada, e na realidade um dos motivos de Tae e Jimin chamá-lo ali era o fato de que ele era bom em alegrar as pessoas — Hum, vamos levanta, a gente vai fazer alguma coisa.

— O que? — Disse Jin sonolento. Ele já não sentia nada, mas também era só isso, nada. Mesmo que o mais novo estivesse sorrindo de modo contagiante para ele.

— Hum, você vai ensinar eu e o V a cozinhar — Jin sorriu levemente diante daquilo.

— Tem que ser cozinhar?

— É que eu to com fome — Riu Kookie adimitindo a verdadeira intenção com aquilo.

— Puff, é assim? Quer me usar na cara dura?

— É… Ué. É isso ou eu e Tae explodindo a cozinha.

— Prefiro a segunda opção. Sério, não tô afim de cozinhar

“Que ótimo Jeon Jungkook, ótimo jeito de animar seu amigo”. Pensou Jeon consigo mesmo.

— Hum… De qualquer forma levanta. Bela Adormecida.

— Não posso ficar aqui para sempre?

— Tá, vamos fazer o seguinte. Se você levantar e escolher um filme legal para gente no Netflix, eu faço uma comida pra gente.

— Você? Desculpe mas prezo pela minha vida — Kookie riu e deu um soquinho no amigo com aquela frase.

— É sério. Tem muita coisa que aprendi na Coreia que você não sabe.

— Ui, olha ele. — Jin começou a se levantar — Tá bom, vou avaliar para ver se aprendeu mesmo.

Ambos foram para a sala e notaram e Tae estava de saída próximo da porta.

— Onde você vai? — Disse Kookie.

— Hã… Mercado, não tem nada na geladeira — Sorriu Tae.

— Hum, então vê se você acha macarrão de batata-doce e óleo de gergelim. Se não tiver o macarrão compra o de espaguete normal mesmo. — Disse Kookie

— Oxi, vai fazer o que? — Falou o loiro, curioso.

— Japchae*. Ah, trás cenoura, pimentão e carne também.

— Tem carne e cenoura ai, mas desde quando você cozinha?

— Desde que eu fui para a Coreia.

— Olha, minha especialidade é comida Coreana, quero só ver se vai prestar isso aí — Disse Jin

— Pode confiar, moço, só sossega aí.  

— Confia em você? Meio difícil hein? —  O mais velho falou novamente.

— Quero só ver se não vai destruir minha cozinha —  Disse Tae — Bom eu to indo...

Enquanto esperava Tae voltar, Jungkook preparava a carne e Jin procurava alguma coisa interessante no Netflix na TV, mas logo desistiu deixando a curiosidade falar mais alto foi até a cozinha e começou a observar o trabalho amador do outro com a carne.

— Vai ficar me olhando mesmo?

— Vou, você realmente está tentando.

— Hahaha, engraçadinho. Você vai ver que está bom. —  Jin sorriu e se sentou em uma cadeira que tinha ali perto, depois de um tempo Jungkook lembrou-se da algo e perguntou sem pensar —  Você não tinha que trabalhar hoje?

Houve um silêncio, e então olhou para trás para observar o porquê o rosado não havia respondido, e notou logo que pela expressão triste dele, havia dito algo errado.

— Desculpe, eu…

— Eu me demiti — Interrompeu-o Seokjin de forma seca tentando não demonstrar emoção alguma, mas no fundo queria fugir do que havia ocorrido.

— Hum… Tem um por quê? — Perguntou receoso, não sabendo se a pergunta poderia magoar o rosado mais ainda.

— Tem, mas, para ser sincero não quero falar sobre isso agora.

— Tudo bem, mas saiba que guardar isso aí, o quer que seja, não vai te fazer bem.

— Falou o menino que sumiu sem dizer uma palavra.

— Por isso mesmo eu falo, não é bom guardar as coisas só pra si por muito tempo. Isso uma hora volta e te machuca em dobro.

— Está machucado maknae*?

— Por enquanto, um pouco só. —  O moreno sorriu tristemente —  Mas também, não quero falar sobre isso.

— Ah, dá isso! — Disse Jin sem paciência, tomando a faca das mãos do outro ao ver que ele cortava a carne de forma errada — É assim que se faz.

— Jin, tem um cílio aqui — Kookie aproximou sua mão no rosto do outro tirando o cílio de sua bochecha, mas como a mão dele estava ainda uma pouco suja por conta do alho que havia picado a pele arranhada do mais velho passou a arder.

— Ai! Isso arde!

— Ah, desculpe! Droga, eu só faço merda.

— Tudo bem.

— Aqui — Falou o menor, entregando um pano limpo e úmido para limpar o rosto do outro.

Nessa hora puderam ouvir a porta sendo aberta e Tae entrando com várias sacolas em mãos

— Estou atrapalhando alguma coisa? —  Perguntou Tae chocado ao ver os dois próximos um do outro sem notar o pano na mão moreno.

— Que? Não! —  Disse Jin chocado.

— Só estou limpando os machucados dele.

— Com um pano de cozinha Kookie? —  Disse Tae rindo e falando em um tom de repreensão.

— Puts! É mesmo, que merda! — Jin e Tate Tae não aguentaram e riram da cara do mais novo — Porque só estou fazendo merda hoje?

— Deve ser minha presença — Disse Jin sorrindo de forma orgulhosa.

— É deve ser — Respondeu Jeon sorrindo e olhando para o rosado com felicidade por este estar um pouquinho mais alegre. Mas o loiro por sua vez se sentiu incomodado e desviou o olhar dos dois.

— Bom, eu vou para meu quarto rapidinho tomar um banho, vocês guardam as coisas aqui? — Disse Tae já saindo de lá sem esperar a resposta deles.

Assim Tae entrou em seu quarto e tirou de baixo de sua camiseta um saquinho plástico com uma fotografia dentro, havia guardado ali para que nem um dos dois visse e fizesse perguntas, pois tinha aproveitado que o supermercado que fora dava para se revelar fotos. Tirou do fundo do guarda roupa uma caixa não muito grande, vermelha e feita de lata, abriu-a, automaticamente sorrindo ao ver sua coleção de momentos ali que tinham tantos sorrisos e tanta esperança infantil que ele era sua história e sua vida. Depositou sua querida fotografia ali, que se misturou ao meio de tantas outras, fechou a lata e escondeu novamente no fundo de seu guarda-roupa como se escondesse seus desejos novamente. Seu desejo que fazia questão de guardar a todo o momento, como sempre fizera.