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História Complicated - Limantha - Medo


Escrita por: mini_isa

Capítulo 8 - Medo


Fanfic / Fanfiction Complicated - Limantha - Medo

Samantha

Eu adoro conversar com a Lica. É divertido demais, nós temos o mesmo tipo de humor sarcástico e debochado que mais ninguém compreendia. Quase sempre, quando eu fazia umas brincadeiras com a Clara, ou com o Guto, eles não entendiam e levavam a sério. Uma vez a Clara ficou uma semana sem falar comigo porque eu tirei onda com a cara do Felipe, enquanto eles ainda namoravam.

Enfim, o que eu quero dizer nessa exaltação a Heloísa é que, quando estávamos conversando à noite, tentando distraí-la daquele jantar dos infernos – sério, Malu e Edgar no mesmo lugar só se benzendo mesmo – Lica deu uma sumida, não respondeu uma mensagem minha e eu comecei a ficar preocupada.

Aí eu recebo uma ligação dela aos prantos dizendo que aqueles dois embustes estavam sendo homofóbicos, que tinham magoado a minha nenê. Ah, mas saí de casa voando. Por mim ela não ficaria lá por mais nenhum um minuto.

Saí de pijama mesmo e chamei um uber, nem avisei minha mãe que eu iria sair. Ela já estava dormindo mesmo, não iria acordá-la. O uber chega e decido finalmente dar uma espiada num grupo das meninas que eu estava ignorando a noite toda.

Marina: Ai gnt se eu disser q ainda to de ressaca vcs acreditam?

Lô: Claro, tava virando td q via pela frente

Marina: Aff nem foi tanto Lorena

Lô: Foi sim sua loka

Lô: Eu tava ficando com vergonha de ti, tava parecendo mais aqla maluca da Lica

Ah não, é sério que Lorena ia falar mal da Lica? Sério mesmo? Continuei lendo as mensagens antigas, com meu sangue já borbulhando. Seria bom para a integridade física dela que a implicância parasse aí, mas é claro que não parou né. Seria fácil demais se tivesse parado.

Marina: A Lica até q ficou de boa, eu acho. Pelo o q eu me lembro neh kkkkkk acho q chamei ela de Helena

Lô: Devia estar fazendo média pq sabe q se meter o loko de nv a gnt conta p o Edgar

Lô: Em falar nisso, como q tá sendo a noite com sua irmãzinha, @clara?

Clarinha: Ai tava td mais ou menos, eles se implicando como smp

Clarinha: Mas ai minha mae e o Edgar surtaram flando um monte de coisa homofóbica

Clarinha: A Lica falou q n ficava mais um minuto aq e foi embora, n responde minhas msgs

Clarinha: Só espero q ela esteja bem, to preocupada

Lô: Nossa, adora fazer uma cena msm ne

Clarinha: Minha mae pegou pesado, disse q ela tava virando sapatao e essas coisas

Lô: Ah então foi isso

Lô: No mínimo ela ta pegando mulher agr, tia Malu deve ter acertado

Lô: Ela smp teve cara p falar a vdd, nunca me enganou

Lô: @Mari, lembra de n chamar ela mais pras festas do pijama, vai q ela tenta agarrar a gnt kkkkkkkk

Bicho, que ódio da Lorena. Puta que me pariu, será que a gente não podia ter um minuto de sossego? Será que é muito pedir que todo mundo reaja a duas meninas se pegando que nem a Tina? Não precisa ser madrinha do casal, só respeita caralho. Ah, vá a merda, cansei.

Eu: Mds Lorena para de falar merda por um segundo, será q vc consegue?

Lô: Q isso sam? Qq eu fiz?

Eu: Ah bicho vc so pode estar me gastando, olha as coisas q vc ta falando da Lica eu hein q babaquice

Lô: Ué n to entendendo

Lô: Vc nunca foi de defender a drogada

Eu: N chama ela assim

Marina: Gnt vamos nos acalmar

Lô: É serio isso? Vc ta defendendo aquela sapatona?

Eu: Crlh Lorena na moral, para com isso

Lô: Oxe oq eu falei dmais q poderia ofender a sapata?

Eu: Para de chamar ela assim porra, isso é ofensivo

Eu: Se ela se identifica como hétero, lesbica, bi, trans, uma árvore, a porra q for, vc só cala a boca e pronto

Eu: E vc acha msm q se ela gostar de mulher ela vai dar em cima de vc? Logo de vc? Meu anjo, nem o MB te quis e olha q eu já vi ele dando o maior amasso numa garrafa de vodka

Lô: Nossa, surtou completamente hein Sam

Lô: To começando a achar q a mina q a Loca ta pegando é vc

Eu: Lorena me faz um favorzão

Eu: Vai tomar no cu

Você saiu deste grupo

 

Respiro fundo tentando manter a minha calma, ou o mínimo que me restou dela. Acho que a última coisa que Lica precisava era que eu estivesse num estado full pistola. Meu celular acende novamente quando o carro fazia a curva para entrar na rua de Clara e leio a nome da própria nas mensagens, mas decido nem abrir. Minha atenção seria completa e total para a Lica.

Nem espero o motorista parar direito, peço para ele esperar e salto do carro, correndo para a portaria.

― Qual o apartamento? ― O porteiro pergunta.

― Ai, moço não vou subir não, só quero buscar a...

― Não posso deixar entrar. ― Ele me interrompe.

― Pelo amor de Deus eu venho aqui direto, você acha que eu vou fazer o que aí dentro? Só quero levar minha...

― Não posso deixar.

Estava todo mundo tentando testar minha paciência, não pode ser possível. O prédio da Clara tinha a porra de um vidro escuro, eu não enxergava se Lica estava lá me esperando na portaria e eu não sabia se ela conseguia me ver.

E eu sei o que você deve estar pensando: “Meu Deus, Samantha larga de ser besta, usa seu celular e liga para ela ué”. Ok, concordo que seria mais inteligente mesmo, mas minhas notas na escola não são muito boas, inteligência não é meu forte. E outra é que eu não estava pensando direito, só queria a Lica. E isso ia acontecer, nem que eu tivesse que arrancar aquele portão dali com os dentes.

― Sério, moço? O senhor não vai me deixar entrar mesmo?

Ele não responde.

― Ok, então. ― Inspiro fundo me preparando e começo a berrar ali no meio da rua, em pleno meio de semana, às 22:53 da noite. Acho que isso é ilegal, mas dane-se né. Prioridades. ― LICA! LICAAA! LICA!

― Para de gritar, menina! ― O porteiro fala desesperado.

― Ah, agora o senhor fala comigo, né. Mas pelo o que estou vendo continua não abrindo. Não tenho outra opção. LICA!

Finalmente a porta de vidro se abre e revela uma Lica destruída. Ela tinha chorado muito, isso não era nem questionável. Meu Deus, como eu odeio aqueles dois por fazerem ela se sentir daquele jeito. Assim que ela me vê, seus olhos brilham e ela vem correndo em minha direção. Ficamos nos olhando, separadas pelo portão, e eu posso sentir sua tristeza.

Enfim, depois de séculos – acho que ele fez para me irritar –, o porteiro abre o portão e Lica nem espera ele se abrir por completo, se espreme pelo espaço pequeno e me abraça, forte.

― Foi horrível, Sammy. ― Ela estava chorando novamente. Respiro fundo e a esmago também.

― Eu sei, eu sei... Vai ficar tudo bem.  

Pego sua mão e a levo até o carro, onde o motorista ainda nos esperava, parecendo bem constrangido e confuso com as duas meninas chorando de pijama entrando no banco de trás de seu carro.

 

Não falamos nada o caminho inteiro e acho que foi melhor assim. Eu abraçava Lica, deixando que sua cabeça descansasse em meu ombro, e fazia carinho em sua cabeça. Em um momento, dou um beijo carinhoso, no canto de sua boca, ou como nós jovens conhecemos, na trave. E reparei que o motorista olhava de vez em quando para nós, metade incrédulo e metade sem graça.

Olha mas que saco hein. Aposto que tinha casal hétero que quase se comia no carro dele, mas nossa duas meninas abraçadas que coisa de outro mundo.

Ele estava estacionando o carro na frente do meu prédio quando deu a centésima nona espiada para nós e eu me descontrolei.

― É, moço! É isso mesmo que você tá vendo. Somos duas garotas que se pegam. Nunca viu não? Quer um autógrafo?

Nem fico para ouvir a resposta dele e abro a porta, puxando Lica para vir comigo.

 

Lica ainda não havia falado nada. Já estávamos no meu quarto e eu não sabia mais o que fazer para confortá-la. Perguntei se ela queria beber água, mas ela negou, ainda sem dizer nada. Decido me sentar junto dela, de frente, esperando o momento que ela quisesse desabafar.

Mas ela não o faz, apenas estende a mão e acaricia meu cabelo, depois meu rosto.

― Acho que eu sempre gostei de você. ― Ela diz. ― Sempre senti uma coisa forte perto de você, me convenci de que era raiva.

Ela continua o carinho, mudando-o para meu braço.

― Eu sou um desastre. Fiquei com MB, Felipe, inventei que gostava do Bóris, peguei o pai do filho da minha melhor amiga. Mas agora, pensando bem, talvez tenha sido tudo para tentar me convencer de que eu não gostava de você, Sam.

Nem tenho coragem de a interromper, mas ela também não dava pistas de que iria parar. Meu coração não estava preparado, para essa declaração. Ele pulsava, como nunca. Se ficássemos em silêncio era capaz que ela o pudesse ouvir. Sério mesmo, fiquei até com medo de enfartar.

― Mas agora eu não consigo nem me imaginar sem você por perto. ― Ela suspira. ― Eu tenho medo de tudo, Sam. Medo da intensidade do que eu sinto por você, medo de me machucar, de te machucar... Medo do que as pessoas fariam conosco. A Keyla me falou que o Gabriel já apanhou na rua, porque estava com o namorado. Você sabia? Se eles te agredissem, eu... ― Seus olhos se enchem de lágrimas novamente e eu me aproximo, a abraçando.

― Lica, não vai acontecer nada com a gente. Nossa madrinha não vai deixar, lembra? ― Me sinto a melhor pessoa do mundo por conseguir arrancar dela uma risada. Eu me afasto e limpo com o dedo uma lágrima que deslizava lentamente em seu rosto. ― Eu também sinto medo. Mas eu te disse aquela vez e te digo de novo, nós vamos enfrentar isso, nos descobrir, juntas.

― E como a gente vai fazer isso?

― Enfrentando todo mundo que ficar no nosso caminho. Eu não vou deixar que gente estúpida me impeça de ser feliz.

Lica se inclina para me beijar e eu faço o mesmo. É isso, foi nesse momento, foi nessa noite que eu percebi que aquilo que eu estava sentindo pela Lica tinha nome e sobrenome. Estava mais claro que qualquer outra coisa, só eu que não estava enxergando. Era isso, acontecia comigo algo inédito, eu estava me apaixonando.

 

Convencer minha mãe que Lica havia dormido ali depois de sair de uma festa foi bem fácil e ela nem questionou. Ela meio que conhecia a fama baladeira dela, assim como todos os pais de aluno. Eles adoravam usá-la como exemplo, sempre pendendo para o mau exemplo.

Emprestei a ela o uniforme do Grupo e fomos para o Colégio. Lica parecia bem melhor no dia seguinte, pedi para que ela mentalizasse que aquela noite nunca havia existido e ela estava seguindo minha recomendação.

Entramos juntas no Colégio e as pessoas nos encaram, claramente estranhando. Samantha e Lica não era exatamente uma dupla que costumava andar junto por aí. Andamos de cabeça erguida e encontramos nossos amigos no centro do pátio.

― Desde quando vocês são amigas? ― Jota pergunta, nos encarando muito confuso, não muito diferente de Ellen.

― A Samantha e eu estamos nos entendendo. ― Lica diz, me olhando sorrindo.

― Estão se entendendo à beça. ― Tina fala rindo. Amo uma madrinha discreta.

Gabriel prestava extrema atenção em nós duas e a dúvida parecia estar formada em sua cabeça. Foi só a nossa madrinha falar aquilo que a ficha pareceu cair.

― Nossa, shippo muito. ― Ele disse e nós três o encaramos. O resto parecia entender nada. ― Essa amizade. ― Gabriel acrescenta, rindo da nossa cara.

Observo ao longe um cabelo encaracolado, tingido de ruivo. Era a coisa da Lorena, conversando com MB e Felipe. Os dois não pareciam nada felizes e a deixaram para trás, vindo correndo em nossa direção.

― Lica, temos que te contar uma coisa. ― Felipe olha para MB procurando apoio.

― E achamos que você vai ficar bolada.

― Ah, parem de enrolar, falem logo!

― A Lorena. Ela espalhou para o Colégio inteiro que você é lésbica. ― Clara me olha na mesma hora, assustada. Ela claramente estava se culpando por aquilo. O pátio estava lotado, praticamente todos os alunos estavam lá, esperando o começo das aulas.

Lica tem o mesmo pensamento que o meu, porque nós duas olhamos em volta, e a verdade era que todo mundo a encarava.

― Ser lésbica não é problema para eu ficar puta. ― Ela diz. ― Mas acho melhor esclarecer as coisas para esse povo.

Lica sai marchando em direção a algumas cadeiras, como um bando todos vamos atrás, e ela sobe em uma. Começa a bater palmas em seguida, pedindo a atenção dos outros. Os burburinhos para e todos se viram para acompanhar o que Lica faria.

― To sabendo que gente desocupada tá opinando por aí sobre a minha orientação sexual. ― Ela dá uma pausa dramática para analisar a cara de Lorena, que estava no chão. ― Bom, apesar disso não ser da conta de nenhum de vocês, vou esclarecer o que está acontecendo. Não, eu não sou lésbica. Mas eu sou bi. E como o meu querido pai não apoia ensino sexual nas escolas eu ensino para vocês, pelos rostos confusos acho que vocês não entendem. Bissexual significa que eu sinto atração tanto pelo sexo masculino quanto pelo feminino. E sinceramente, acho bem mais divertido, minhas opções de amar são em dobro. ― Outra pausa dramática. ― E acima de tudo, eu tenho que ensinar a vocês que isso não tem problema nenhum. Se eu gostasse só de mulher, só de homem, de nenhum sexo... Isso diz respeito somente a mim e não deveria ser assunto de fofoca.

Ela me olha parecendo decidir se faria alguma coisa ou não. Finalmente ela se abaixa, pega meu braço e me puxa para ficar de pé na cadeira ao lado dela.

― Gosto sim de mulher e eu não tenho vergonha. ― Ela podia estar falando num tom de voz que todos pudessem ouvir, mas aquela frase foi para mim.

― Lica, cê tem certeza disso? ― Eu sussurro.

Ela sorri e me beija, com todo o colégio observando, mas a gente estava pouco se ferrando.



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