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História Concurso Make It Happen - A Casa do Mal - Capítulo Único


Escrita por: Emeraude

Notas do Autor


Oi!
Cá estou eu com uma nova fanfic a concurso. Desta vez esta é, em específico, para o [b]concurso: Make It Happen[/b], que tem como juízes: [i]DrLecter, Lullaby, Moyashii, Manu_san, Mistu-Koyama e Sorelly.[/i]
Cada uma delas sugeriu um [b]tema[/b], dos quais me inclinei para o da [i]Manu_san[/i]: o do [b]Terror[/b]. Se bem que não sei se consegui alcançar o que ela pretendia, no entanto, já valeu pela aventura, porque deu-me um certo trabalho e um gosto enorme em escrevê-la.
Sendo assim, e sem mais nada a dizer, desejo-vos uma boa leitura!
Espero que gostem!
Bjs

Capítulo 1 - Capítulo Único


Uma manhã normal. Sónia e Alex estavam sentados nas suas respetivas cadeiras, diante de um computador, dentro do escritório que partilhavam.

Sónia era uma mulher de estrutura média, esbelta, com olhos castanhos cor de mel e os seus cabelos eram de um loiro que reluzia como o ouro. O que a diferenciava das outras? Para além do seu profissionalismo, também tinha um pequeno sinal de nascença no pescoço. Era o único sinal à vista e grandinho que tinha. Quanto ao Alex, ele era a perdição de qualquer mulher que trabalhava naquela empresa. Alto, moreno de olhos pretos, cabelo negro e curto com uns músculos definidos pelas camisas justas que usava… No entanto, isso não parecia ter efeito nenhum sobre Sónia. Para ela, ele era um bom amigo e, acima de tudo, o seu colega de trabalho. O melhor parceiro que poderia ter!

No que é que eles trabalhavam? No ramo da imobiliária. Ambos tinham vinte e sete anos e eram bons naquilo que faziam, naquilo para o qual eram pagos. E muito bem pagos. A grande papelada que estava sobre a secretária de cada um era a prova disso mesmo.

TRIIIIM

O telefone tocou. Sónia, que estava perto dele, assustou-se. Não estava a contar com aquilo. Mas, mesmo assim, pegou no auscultador e levou-o ao ouvido.

- Estou sim? Daqui Sónia Jiménez da Empresa Imobiliária Lda. Em que posso ajudar?

Enquanto ela falava ao telefone, Alex parou o que estava a fazer e passou a olhar para ela de lado. Também não estava a contar com um telefonema àquela hora e, por isso, nessas ocasiões, costumava ser bastante cauteloso.

- Quem era? – perguntou, quando ela desligou a chamada.

Sónia encostou-se para trás na cadeira de forma descontraída, levantou as mãos para o alto, colocou-as atrás da cabeça, cruzando os dedos, e de seguida deu um largo sorriso. 

- Prepara-te, Alex! Temos um novo projeto a caminho!

[…]

- Sónia. Tens a certeza de que é esta a casa que o tal senhor mencionou?

- Sim, Alex. Tenho! – afirmou convicta, mostrando-lhe a folha de papel na qual tinha escrito a morada que o senhor lhe havia dado no dia anterior – Vês? É a mesma!

Alex suspirou.

- Então não entendo o porquê dele nos ter trazido até aqui. Esta casa não passa de uma casa velha, a cair aos pedaços, que não nos vai trazer rendimento nenhum.

Sónia sabia que Alex tinha razão. Aquela casa era tal e qual como ele a descrevera. Uma espécie de solar, decorado com muitas lianas de heras agarradas às paredes, que, por sua vez, a cor já estava a se lascar devido à passagem dos anos; e com os vidros partidos. Até ela começava a ter as suas dúvidas quanto à casa.

- Ei, vocês! Estão à procura de alguma coisa?

Quando os dois viraram a cabeça para a direita, avistaram uma mocinha de cabelo castanho-escuro amarrado por dois rabos-de-cavalo, um em cada lado da cabeça, a vir ao encontro deles.

- Nada de especial. – Alex mantinha uma atitude bastante fria e passiva com as mãos dentro dos bolsos. – Também já estávamos de saída.

Quando ele se preparava para virar-lhes as costas, Sónia agarrou-lhe no braço direito e puxou-o de novo para o pé delas.

- Que é isso, Alex? - perguntou com um sorriso brincalhão, quando no fundo tinha era uma vontade de o matar por tal desfeita – Bom, eu chamo-me Sónia Jiménez e este é o meu colega, Alex Quintilla. Somos agentes imobiliários e viemos ver uma casa para avaliarmos e, quem sabe, vendê-la, a pedido do senhor Gomez, que pelos vistos é o dono dela.

- E qual é? Talvez possa ajudar.

- Aquela.

A menina não entendeu o porquê dela ter dito aquela pequena palavra com tanto desânimo, mas, quando virou a cabeça na direção que ela apontara, soube logo a razão. No entanto, ao contrário dos agentes, o seu olhar não foi de espanto, mas sim de puro medo.

- Têm…a certeza de que é esta a casa…? – perguntou, tentando controlar a voz que tendia a tremer, tanto que era a aflição que sentia. Sónia dissera que sim com a cabeça. – Mas isso é impossível! Como é que pode ter sido o dono, se esta casa está abandonada há anos? Há quem diga que esteja assombrada. Por isso é que foi deixada ao abandono. Desde que o último proprietário morreu, nunca ninguém veio morar para esta casa…E os poucos que vinham, acabavam por nunca sair dela…

- Que idiotice! – exclamou, Alex – Não acredito em uma palavra dessa história. Acho que andas a ver filmes de terror a mais, minha menina.

A mocinha abaixou a cabeça triste e depois deu meia volta. Mas, antes de se ir embora, girou um pouco o tronco para trás e olhou-os de lado com um discreto sorriso nos lábios.

- Depois não digam que não avisei.

- Estava a ver que ela não se ia embora. Vamos! – ordenou, virando-se na direção da casa – Quanto mais cedo a virmos, mais cedo saímos daqui.

- Alex!

Apesar de o querer repreender, ele tinha razão. Eles tinham uma casa para ver. Por isso, não teve outro remédio senão segui-lo.

Deparando-se com tal majestosa e um tanto misteriosa fachada, lembrou-se do que a menina de antes lhes havia dito, ficando então a dúvida. Seria verdade ou não?

- Vamos, Sónia! – chamou-a, Alex, com a mão na porta – Pelos vistos o senhor Gomez devia estar à nossa espera. A porta está aberta!

Bom, aquele não era o momento para ter dúvidas. Acima de tudo estava ali a trabalho.

Soltando um pequeno suspiro, ela foi ter com ele e ambos entraram então na suposta casa assombrada.

Ficaram espantados com o que viam. A casa dava mesmo o ar de não ser habitada há muito tempo. Todo aquele hall de entrada estava atolado de pó e teias de aranha. E a única luz que tinha era natural, através dos raios solares que passavam pelas janelas quebradiças.

- Achas que a menina tinha afinal razão?

- Sónia, por amor de Deus! – deu dois passos para a frente e perguntou para o ar – Ó da casa! Está aí alguém? – ninguém respondia – Somos nós, senhor Gomez! O pessoal da imobiliária! Estamos aqui para ver a casa, tal como nos havia pedido!

Será que ele teria ouvido? Será que ele estaria realmente dentro daquela casa?

De repente, ouviu-se o som de passos. Passos que se aproximavam cada vez mais e que, pelo sentido auditivo de Alex, deviam vir da pequena porta que se encontrava à esquerda.

Ambos começaram a encarar aquela porta com ansiedade.

Quem seria? O senhor Gomez?

Ouviu-se o ranger da porta a abrir-se.

- Miau!

Sónia soltou um profundo suspiro. Quem havia saído por aquela porta tinha sido nada mais, nada menos do que um belo e esguio gato preto de olhos verdes.

- Uff…é só um gato!

PUM!

A porta de entrada se havia fechado, provocando um som estrondoso e deixando os agentes um pouco temerosos.

- Alex! A porta fechou-se sozinha! – aproximou-se dela e tentou abri-la, mas nada. – E pelos vistos estamos trancados!  

- Estranho… - Alex começava a preocupar-se com aquela história da menina, mas, como não queria dar parte fraca, tinha de pensar com clareza. Possivelmente a porta se teria fechado por causa do vento, para além de que a casa era já bastante velha. Tinha de ser essa a explicação. – Vamos! – ordenou, dirigindo-se para a mesma porta onde tinha saído o gato preto.

- Para onde?

- Explorar a casa. Ou queres ficar parada aqui o dia todo? Afinal foi para isso que cá viemos, não?

- E o senhor Gomez?

- Esta casa não deve ser muito grande, por isso, talvez o encontremos por aí. Anda. – insistiu, aproximando-se dela, pegando-lhe na mão e puxando-a em direção à porta.

Sónia estava com um pouco de receio daquilo, mas como Alex tinha dito, fora para explorar aquela casa que tinham vindo. O senhor Gomez com certeza de que não se iria importar que dessem uma vista de olhos pelo edifício sem o seu consentimento.

E assim os dois partiram para a aventura. O início daquela que viria a trazer-lhes muitas surpresas…

[…]

Enquanto isso, cá fora, a menina que falara anteriormente com Sónia e Alex estava a brincar com uma bola de futebol contra uma árvore.

A dada altura um corvo sobrevoou mesmo por cima dela em direção à casa assombrada, acabando por pousar no cimo do telhado desta.

Aquilo fez com que ela engolisse em seco e tivesse um pequeno arrepio pela espinha acima. Toda a gente sabia que os corvos não eram um bom presságio.

«Sónia…», pensou preocupada. Dos dois, na sua modesta e pequena opinião, ela era a que tinha sido mais simpática. «E agora? O que é que faço?».

[…]

Alex e Sónia iam avançando de mãos dadas, para não se separarem um do outro, por aquele estranho corredor. Era estreito, com candelabros de cristal no teto, com a luz apagada, não tinha janela, nem porta alguma para a qual se dirigirem; e, acima de tudo, parecia não ter fim.

A cada passo que davam…ouviam sons cada vez mais estranhos. Uns pareciam de animais assustados…outros de qualquer coisa que parecia estar em perfeita agonia…

«Este sítio está a começar a dar-me calafrios.», pensou, Sónia, com um certo medo a apoderar-se do seu corpo.

De repente, sem que tivesse a contar, um grande grito invadiu os seus ouvidos. Um grito que, ao que tudo indicava, pertencia a um homem. A um que não devia estar muito longe dali.

Pensando que aquilo devia ter sido produto da sua imaginação, Sónia quis se sentir mais segura. Por isso, apertou a mão de Alex. Contudo, ela não a conseguiu agarrar, porque não havia mão para isso. Em vez de calor humano, ela sentiu na sua delicada pele o ar frio daquele corredor.

- Alex…? Alex! Onde estás? – ninguém respondeu – Alex…isto não tem piada nenhuma…!

Olhava desesperada para tudo o quanto era canto e sem conseguir enxergar nada. Até que pressentiu que algo se estava a aproximar.

Desviou o olhar para o chão. Então pôde ver algo a tocar-lhe nos sapatos pretos. Era líquido como a água, mas mais escuro…

Sangue.

Arregalou os olhos. Será que aquilo era real?

Bastou agachar-se e tocar com um dedo naquilo para saber logo que mais real do que acabara de tocar não podia haver.

Aterrorizada, levantou-se num ápice e avançou a passos largos. A cada passo que dava, sentia que estava a caminhar por cima de uma grande possa de sangue. Uma poça que parecia igualmente não ter fim. E, por isso, o que mais queria era sair daquele corredor o mais rápido possível.

DRIP DROP, DRIP DROP, DRIP DROP

«Estou a ouvir bem…? Este som é o chapinar de gotas?», questionou-se ao parar de caminhar e com os sentidos apurados.

Já não aguentava mais sentir aquele sangue todo sob os seus pés. No entanto, a curiosidade falou-lhe mais alto. Queria muito saber de onde vinha aquele som e se era mesmo de gotas a cair como havia pressentido.

Sendo assim, tomando coragem, respirou fundo e avançou.

O som estava cada vez mais perto…mais perto…

«É aqui. O meu palpite estava certo. E elas vêm de cima…».

Ergueu o olhar para o alto e…automaticamente os seus olhos arregalaram-se e a sua pele ficara sem vida, acabando por dar, por fim, um estrondoso grito.

Num candelabro, do qual duas velas se acenderam do nada, jazia suspenso por uma corda à volta do pescoço o corpo de Alex. Ele estava todo banhado em sangue, daí o gotejar, e com os olhos, estáticos e sem vida, bem abertos.

Incapaz de continuar a olhar para aquilo de tanto enojada que estava, levou uma mão à frente da boca e desatou a correr pelo seguimento do corredor.

Enquanto corria, grossas lágrimas caíam-lhe dos olhos e escorregavam pela sua delicada face. «Alex…Alex….».

Nesse instante, deparou-se com algo a travar-lhe a passagem. «Uma porta!», deduziu eufórica. Tinha esperança de que fosse a saída.

Então, depois de apalpá-la e descobrir onde estava a fechadura, abriu-a, entrou e fechou-a logo.

Respirou várias vezes e, quando se recompôs, abriu os olhos, que por momentos estiveram fechados, e reparou que afinal não tinha achado saída nenhuma.

Estava, por sua vez, num pequeno compartimento, o qual albergava somente um grande espelho oval pousado no chão.

Ele era um tanto antigo, quanto os restantes objetos da casa que vira, e bem decorado. Ao redor possuía uma faixa a talha dourada com motivos primaveris.

Apesar de um pouco receosa, Sónia decidiu aproximar-se dele. «É só um espelho, Sónia. Não há do que temer…».

Tocou-o. Nada aconteceu. Pelos vistos era apenas um espelho normal. Mas então…que sentido ele tinha naquele espaço? Porque é que só havia aquilo ali?

Passou-lhe, então, as mãos por mera curiosidade. De frente para ele pôde ver o seu reflexo. «Meu Deus! Estou tão pálida e…». Baixou o olhar. «Estou com os sapatos cheios de sangue… Do sangue do Alex…».

Começou a fungar. Ela não ia chorar. Não podia chorar. Mas recordar aquela cena era impossível, tanto quanto dolorosa.

Um estranho movimento no espelho fez com que Sónia voltasse a mirá-lo. A imagem dela estava a distorcer-se, dando lugar depois a de uma outra mulher. Morena, de longos cabelos pretos e com a mesma cor de olhos que ela, cujo corpo era enfeitado por um longo e fino vestido branco de alças.

«Quem será ela…?», questionou, voltando a tocar no espelho. Mais concretamente na dita imagem.

E…sem que nada a preparar-se para tal…Sónia foi sugada pelo espelho…

[…]

Foi despertando aos poucos. Mexeu primeiros os pés, depois as mãos e, por fim, abriu delicadamente os olhos.

Analisou em primeiro lugar o espaço no qual se encontrava. Era frio e escuro como o outro e estava deitada num chão de pedra.

Ergueu o tronco e sentou-se. Viu de novo o espelho no mesmo sítio. «O que foi que aconteceu?».

A última coisa que ela se lembrava era de ter tocado no espelho e depois sentir a cabeça num grande turbilhão, acabando por não ver mais nada, a não ser um grande borrão negro.  

Levantou-se e, a passos lentos, aproximou-se do espelho. A mulher de antes, a tal de cabelos pretos, continuava ali. Mas…alguma coisa estava mal…

Olhando atentivamente para ela, reparou num sinal no lado direito do pescoço. «Mas é o meu sinal de nascença!».

Confusa, baixou o olhar. Reparou então que tinha os pés descalços e o corpo coberto por uma roupa diferente daquela que tinha. «Um vestido branco…?».

Levantou a cabeça, passando a olhar para a sua imagem através do vidro, e, nervosa, levou as mãos ao sinal.

A mulher do espelho fazia o mesmo.

Depois levou-as ao cabelo, pegando nas pontas. Ao ver que o seu cabelo era preto e não loiro, virou-se para a dita imagem com ar assustado.

Não restavam dúvidas. Aquela mulher do espelho era ela!

Como se tivesse visto uma assombração, Sónia afastou-se rapidamente daquele maldito objeto, acabando por tropeçar e cair.

Chegou-se a um canto e ali começou a balançar com as pernas encolhidas e a cabeça no meio delas. Pensava no que lhe havia acontecido até àquele exato momento, questionando-se do porquê de não ter dado ouvidos ao aviso daquela menina. Assim, quem sabe, o Alex ainda estaria vivo.

Nesse momento, a porta se abriu.

- Meu amor…

Triste, nem havia reparado que a porta tinha sido aberta. Somente quando ouviu aquela estranha voz masculina.

- Q-Quem está ai…? – perguntou a sussurrar ainda com a cabeça entre os joelhos.

- Sou eu, meu amor. O Oliver. Não tenhas medo. Eu estou aqui.

- Meu amor…?

Aquilo estava muito estranho. Levantou a cabeça para ver quem era o homem que estava a falar com ela, mas não viu ninguém. «Estranho…».

Depois, a um canto, avistou algo dourado que despertou-lhe a curiosidade. Cansada para se levantar, foi gatinhando até lá. De perto, confirmou que se tratava de um medalhão oval banhado a ouro. Um daqueles que se usava numa corrente como colar.

Ao abri-lo, constatou que dentro estavam duas fotos. Estas eram pequenas e estavam um pouco desgastadas pelo tempo, mas, mesmo assim, eram percetíveis.

Uma era de um homem e a outra de uma mulher. O homem tinha cabelo curto e encaracolado, olhos sorridentes, lábios finos, nariz médio e arrebitado, e aparentava ter mais ou menos uns trinta e dois anos. Parecia feliz quando aquela foto havia-lhe sido tirada. Quanto à mulher, esta era…

- A mulher do espelho… - balbuciou nervosa com as mãos a tremer.

- Não. Essa mulher és tu.

Sónia desviou o olhar do objeto para ver quem se tinha pronunciado. Continuava a não conseguir ver ninguém. Será que aquela voz era mais um dos seus delírios?

- Quem está aí?

- Sou eu, o Joaquín, meu amor. – disse um homem de cabelos ondulados castanhos e olhos da mesma cor, que apareceu diante dela com um sorriso deslumbrante – Não me enganei. És realmente tu, meu amor. - a sua voz estava embargada de emoção – Nem sabes o quanto esperei por este momento. O quanto esperei por ti.

Sónia o olhava perplexa. Sem saber como reagir. Aquele homem era…o homem da foto! Como isso era possível? A não ser que ele fosse um…

- U-Um f-fantasma…

Nervosa, rolou os olhos e…desmaiou…

[…]

A menina corria o máximo que podia. Seu nome: Annie Moreno. Objetivo: salvar os dois agentes imobiliários daquela casa antes que fosse tarde demais.

Vinha da biblioteca. O que havia descoberto lá, apesar de ser um tanto aterrador, podia ser a tábua de salvação daqueles dois. Por isso, tinha de agir rápido.

Chegando à maldita casa, um tanto ofegante, Annie ficou por momentos parada diante da porta principal. Respirou fundo e tentou abri-la. Mas esta estava fechada.

«Droga! E agora?», indagou aflita, olhando para os lados.

 Sem alternativa, começou a rondar a casa. Queria ver se, para além da porta principal, havia outro meio que a permitisse entrar dentro do velho edifício.

Após uma volta, finalmente achou. A janela mais alta da torre estava aberta. No entanto, esta estava muito longe do chão. Como é que ela a iria alcançar?

Teve uma ideia.

Assim que viu o tubo da goteira ao lado, não pensou duas vezes. Trepou-o. Podia não parecer, mas aquilo era canja para ela, uma vez que era uma das melhores alunas da sua turma em Educação Física, pela sua resistência e pela sua agilidade.

Com algum esforço, lá conseguiu chegar à dita janela. E, uma vez lá dentro, reparou que havia entrado numa divisão pequena e muito simplória. Num quarto. Composto por uma cama grande e com gares de metal, uma cómoda, um armário e uma pequena mesinha-de-cabeceira.

Contudo, estava alguém deitado na cama…

Era uma bela moça de cabelos pretos, que usava simplesmente um vestido branco. E, ao que tudo indicava, esta dormia tranquilamente.

Questionando-se mentalmente quanto à sua identidade, Annie aproximou-se dela. O seu rosto era sereno e delicado, como uma boneca de porcelana, enquanto dormia.

«Tão bonita…», pensou, enquanto a encarava com o rosto bem quase colado ao dela.

Nesse exato momento, sem que esperasse, e mulher abriu os olhos de repente, fazendo com que ela se assustasse e caísse ao chão.

Enquanto Sónia se erguia aos poucos, ainda um pouco aturdida, Annie olhava-a com ar surpreso. Estava na dúvida se aquela pessoa era mesmo real.

- Tu… - pronunciou a mulher, inclinando a cabeça ligeiramente para o lado – És-me familiar…

Annie só abanava a cabeça em repleta negação. A verdade é que aquilo estava a começar-lhe a assustar. O seu coração batia descompassadamente.

O rosto da mulher iluminou-se num sorriso.

- Já sei! És a menina de antes! Aquela que nos avisou quanto a esta casa, antes de entrarmos nela.

O coração de Annie baixou um bocado o ritmo. Apesar de assustada, aquela informação fez com que ela ficasse com a pulga atrás da orelha.

- S-Sónia…? – perguntou a medo. Achava muito difícil que aquela mulher fosse a tal agente da imobiliária. Ela era loira, enquanto a mulher que estava à sua frente morena.

- Sim! Sou eu!

A menina levantou-se devagarinho do chão.

- M-Mas…como…?

Sónia pôs desta vez uma expressão triste.

- Se calhar não me deves estar a reconhecer. Por causa desta cor de cabelo. Mas… - saiu da cama de repente e foi ter com ela, pegando-lhe nas mãos – Ainda bem que estás aqui. Nem sabes o que me aconteceu… - os olhos começaram a humedecerem-se – Porque é que não te dei ouvidos?

Annie ficou calada. Apenas fixava o seu olhar no dela. Ali, bem fundo dos seus olhos, vira a resposta que tinha esperança de encontrar.

- Sónia. – abraçou-a fortemente e sorriu - És tu…!

Sónia também sorriu e retribuiu-lhe o abraço.

- Sim. Sou eu. Que bom que ainda te lembras de mim. Já agora… - afastou-se um pouco, querendo ver-lhe melhor o rosto – Como é que te chamas?

- Annie. – as duas sorriram uma para a outra, até que a menina se lembrou de algo - E o outro? – afastou-se e pôs-se a dar uma vista de olhos por aquela divisão, à espera de encontrar mais alguém - O homem que estava contigo…onde é que está?

Nesse instante o semblante de Sónia mudou drasticamente.

- O Alex… - murmurou, começando a chorar com a lembrança que tanto queria esquecer.

- O que se passa? – perguntou preocupada – Porque é que estás a chorar?

- Ele está morto. O Alex…o meu companheiro…está morto…!

- Sónia… - reconfortou-a com mais um abraço. Quando ela começou a se sentir melhor, resolveu perguntar-lhe aquilo que estava a querer saber no momento, enquanto se sentavam juntas na borda da cama. – Sónia. Posso saber o que foi que aconteceu exatamente?

Calmamente e respirando fundo, após limpar as lágrimas dos olhos com a ponta dos dedos, Sónia passou a relatar o que lhe havia sucedido desde a sua entrada naquela casa. E, como se estava à espera, quando chegou à parte da morte do Alex não quis prolongar muito esse assunto.

Annie, por sua vez, ouvia atentamente tudo que ela lhe dizia. Para muitos seria difícil de acreditar, mas para ela não, uma vez que já sabia de antemão o que aquela maldita casa representava.

- O que é isso? – perguntou ao reparar no pequeno medalhão que ela tinha ao pescoço.

- Isto? – retirou o fio do pescoço e passou a olhar o tal objeto – É o medalhão que encontrei na sala do espelho… Como é que isto veio parar ao meu pescoço?

Lembrou-se vagamente do que sucedera antes de ter desmaiado.

- Sónia! Que cara é essa? Parece que viste um fantasma…

- E vi. – murmurou – Vi um. – abriu o medalhão e amostrou-lhe o seu interior – Estás a ver este homem? Foi ele quem eu vi. Chamava-me de “meu amor” e…ai…ele deu-me tanto medo… E a mulher…é a mesma que vi no espelho, a qual acabei por me tornar sem saber como!

- Meu Deus…! – exclamou, sem querer acreditar no que estava a ver –Mas estes dois são o casal que originou a tragédia dentro desta casa! Pelo menos, segundo um jornal que li na biblioteca. Este aqui, Sónia – apontou para a foto do homem – era o filho do último proprietário desta casa. Chamava-se Joaquín Gomez. E esta – indicou a outra foto – a sua amada. Linda Casablanca. Uma nobre dama que foi assassinada com sete tiros. Triste por perder a sua amada de forma tão cruel, ele acabou por se suicidar com um tiro na cabeça, num dos quartos. Agora percebo porque se diz que esta casa está assombrada. Sónia. – chamou - Estás a ouvir-me? – ela parecia estar meio a leste, perturbada com alguma coisa – Sónia!

- Ah! – finalmente deu-lhe a atenção merecida – Desculpa. Disseste...Joaquín Gomez? – Annie confirmou-o com a cabeça – Meu Deus… - virou-se para a frente e baixou a cabeça – Senhor Gomez… - bateu com as mãos na cabeça sistematicamente – Como é que eu não me apercebi disso antes!

- Calma, Sónia! – abraçou-a de lado – Calma…

- Agora entendo o que se está a passar. – virou-se para a menina e passou a encará-la – Esse homem foi o fantasma que eu vi e também foi o que telefonou-me esta manhã para que viéssemos dar uma vista de olhos a esta casa. Annie. Ele deve pensar que eu sou a amada dele!

- Também pensei nisso antes. – disse com um ar pensativo – E, cá para mim, ele deve estar seguro da sua opinião devido ao que o espelho lhe acabou por revelar.

- O que queres dizer com isso?

- O espelho. Ao veres a mulher no espelho, ele confirmou que eras quem ele pensava que eras. A reencarnação de Linda.

- Isso quer dizer que…

- Que o espelho refletiu a tua verdadeira alma e que, ao tocais-lho, este fez com que tu e ela se tornassem numa só pessoa. Daí ele te chamar de “meu amor”. Daí o mistério da tua nova aparência e do facto de ele te ter trazido para dentro desta casa.

O som de palmas invadiu o espaço.

- O que é isto? – perguntou, Sónia, assustada, já que se encontrava um pouco fragilizada devido àquela estonteante descoberta.

- Parabéns! – felicitou uma voz masculina – Nunca pensei que – nesse momento o fantasma do Senhor Gomez apareceu à frente de Annie, sobressaltando-a – uma menina como tu fosse capaz de desvendar tão depressa o significado daquele espelho. – deu um sorriso de lado – Pena que, agora que sabem da verdade, não vão poder sair daqui…vivas!

O fantasma estava com um ar de psicopata.

Assustadas, Sónia e Annie agarraram-se uma à outra. Depois de contar mentalmente até três, as duas correram, juntas e de mãos dadas, para fora daquele quarto, atravessando a figura fantasmagórica do Senhor Gomez, que continuava a ter um grande sorriso estampado no rosto.

Correram o mais que puderam. Passaram por vários corredores. Tudo o que queriam era achar uma saída.

No entanto, toda a vez que elas abriam uma porta…ele surgia do nada, fazendo com que começassem a desesperar.

A dada altura, por estar a ir tão depressa, Annie tropeçou numa lasca de madeira do chão que estava levantada, acabando por levar também a companheira com ela.

Sónia agarrou-se logo a ela. Tentaram-se levantar, mas ele apareceu nesse exato momento diante delas. Tinha um ar assustador e levava uma mão na sua direção.

«Não…!», pensou, Sónia, fechando os olhos com força. «Este é o nosso fim!».

Ele estava cada vez mais perto…cada vez mais perto…

- Sónia! Sónia! Sónia! – Sónia abriu os olhos e quem viu à sua frente foi Alex. Parecia preocupado. – Estás bem?

- Sim… - estava meio zonza – O que foi que aconteceu?

- Não sei. Num momento estavas boa e de repente começaste a não dar sinais de vida. – encolheu os ombros – Desmaiaste por assim dizer.

Sónia olhava para tudo à sua volta. Estava de novo no escritório. Mas…como aquilo era possível? Ainda mais com Alex vivo do seu lado?

- Alex! – exclamou alegre, abraçando-o.

Alex estranhou a sua atitude.

- Ok, ok! Eu sei que sou irresistível. Mas também não é para tanto!

- Bobo.

TRIIIIM

O telefone tocou.

- Espera aqui que eu vou atendê-lo.

- Não! – gritou.

Ele a encarou sem entender o que se estava a passar.

- Sónia. Posso saber porque é que não queres que vá atender o telefone? Pode ser importante.

Aproximou-se dele e, encarando-o nos olhos, suplicou:

 - Por favor, por tudo o que te é mais sagrado, não atendas esse telefone. Por favor…

Não sabia se o que tinha vivido fora um pesadelo ou não, mas a única coisa que sabia era que tudo havia começado com um simples telefonema. Se, naquele momento, tivesse de evitar os telefonemas, bem melhor.

- Ok… Hoje estás meio estranha. Tiveste um sonho mau ou coisa do género?

- Sim. Isso! Um sonho mau. Agora…se não te importas…vamos tomar qualquer coisa? Um café?

Alex sorriu.

- Porque não disseste logo?

Após pegaram nas suas respetivas carteiras, os dois saíram do escritório.

Mas, antes de fechar a porta atrás de si, Sónia pensou numa certa menininha. «Será que a Annie realmente existe? Era tão bom que sim!».

O clique do fecho da porta se ouviu.

Passado um bocado, o espelho quadrado, afixado na parede à esquerda desta, iluminou-se. Nele surgiu a imagem do Senhor Gomez.

Fortes gargalhadas encherem aquele escritório.

Algo mau estava para a acontecer…

 

Será que aquilo pelo qual Sónia passou, terá sido um mero pesadelo…? 


Notas Finais


Como puderam constatar, resolvi colocar pelo meio sons em forma de escrita. O do telefone que é muito conhecido e o de gota a gota a cair no lavatório por exemplo. Em português não sei como é que se faz esse som, por isso resolvi ir pela forma inglesa: [i]Drip Drop[/i]. Vai dar ao mesmo não é verdade? ;)
Mas o que é que acharam? Podia ter sido melhor?
Enfim...agora é só esperar pelo resultado! Boa sorte a todos! *Que eu também preciso!* xD
Bjs


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