História Conectados - Meu Aniki

Pov’on Vinicius

-Aqui é a secretaria, logo depois fica o atendimento ao aluno e dentro... a enfermaria- ouvia meio desatento as explicações da coordenadora para depois puxar assunto com alguma menina

-Acho que entendi... - menti

-Se quiser pode assistir as duas últimas aulas, fique a vontade... deixa eu pedir para alguém da sua sala te levar- ela olhava para o pátio, cheio de alunos, tentando escolher uma vítima- ... Yumi!- Uma menina morena de olhos roxos nos olhou sem muita expressividade- Faça companhia para seu novo colega e o leve para sala assim que o intervalo acabar

Pode ter sido coisa da minha cabeça, mas sua boca se moveu em um “eu tenho escolha?” e depois sorriu.

Querendo ou não, ela me levou para sala. Mas no meio do caminho veio uma multidão e não consegui acompanhar seu ritmo.

-Ah... Yumi... –ela se virou para olhar a situação e riu- Pode me ajudar? –Pedi sem jeito...

-O que foi? Quer que eu segure a sua mão?- ela pareceu sorri tão sinceramente que estendi minha mão- Pois pode ficar querendo!- pelo visto só pareceu, porque ela se virou e me deixou para trás.

-Ei! –Quando gritei uma menina ruiva se virou para mim.

-Você é do 21A? –Apenas confirmei com a cabeça... –Posso te levar para a sala se precisar de ajuda... –Ela deu um sorriso e me acompanhou

Na sala, no meio dos cadernos e mochilas, avistei a menina de antes sentada no canto da sala e fui até ela.

-Oi menina que me deixou largado no corredor –Ela levantou a cabeça e me olhou com cara de sono

-Não vou servir de babá...- ela se levantou e começou a andar para as cadeiras da frente,  fui atrás. –O que importa é que você chegou.

-Ei, gostei do seu jeito... –Menti... –Quer ser minha primeira amiga? –Ela negou com a cabeça –Por que?

-Consigo reconhecer a pessoa que você é...- ela fez uma pausa antes de continuar –Você abandona seus amigos quando precisam...

Flashback’on

-Ei... Vini...

Akira gritava o meu nome, mas eu nem coseguia me mexer. Minha melhor amiga estava quase se afogando, mas eu não dava um passo

-Aki... eu... não sei nadar...- sussurrei enquanto olhava ela se debatendo até não conseguir mais se manter na superfície.

Flashback’off

-Você... -Disse baixo e ela olhou para mim –Não me conhece –Completei e ela ficou calada

Pov’on Kai

No fim da aula vi a Yumi vir para o final da sala

-O que foi? Quer dormir de novo?

-Não, tem um carinha chato lá na frente –Ela respondeu e sentou na cadeira atrás de mim

-O novato? –Ela confirmou com a cabeça –Parece inofensivo...

-Não sei de nada, mas algo me diz para tomar cuidado.

-Deve ser algo da sua cabeça, se encostasse em você... ele não viveria até o amanhecer. –Ela sorriu

Descemos das cadeiras, fomos para o fundo da sala e ela deitou nas minhas pernas. Me lembrei de como à conheci...

Flashback’on

-Kai, vamos brincar na minha casa... –Noan me convidou no caminho de volta para casa.

-Não dá... lembra que fiquei de castigo?

-Em compensação... você vai para na história como o primeiro aluno que fez a diretora ter um ataque histérico!

-Como eu iria saber que ela não gosta de animais?

-De cachorros e gatos ela pode até gostar, mas sapos?!?

-Mas também tinha aranhas...

- Ah... Isso melhora muito a situação! -Noan disse com ironia –Quando vai sair do castigo?

-Se eu me comportar... mês que vem.

-Okey, então vou indo...- ele disse já correndo para casa

-Até amanhã –Disse enquanto via ele se afastando.

Não queria voltar para casa agora, certamente encontraria meus pais brigando de novo.

Ví que do lado do cominho onde estava tinha uma colina bem alta com uma árvore na parte de cima. Andei até a árvore, iria me encostar nela e aproveitar a vista da cidade, mas parei quando vi uma mochila de estampa militar e um bichinho de pelúcia em forma de bolinho de arroz pendurado na mesma.

-Bolinho... –Foi o que saiu da minha boca. Minha reação fez uma menina de cabelos negros e olhos roxos sair de sua posição original atrás da árvore para me observar

-O que você quer?

-Nada... –Ela me olhou como se dissesse “ATA” -... Só não queria voltar para casa. –disse desviando o olhar, não queria falar sobre isso.

-Senta... -Ela disse batendo no chão do seu lado e voltou a encarar a cidade.

-Meu nome é Kai

-... –Ela me encarou e sorriu antes de falar –Sou Yumi...

Pov’on Yumi

-Por que não me acordou?!? –Gritei enquanto corríamos para casa.

-Já disse, você parecia uma pedra –Ele disse desviando de algumas pessoas –Acho que precisa fazer mais exercícios.

Parei na hora e joguei minha mochila nele

-Fuinha! –Xinguei e ele começou a rir com o velho xingamento/apelido que geralmente usávamos

-O que a gente vai comer hoje?

-Quem disse que vamos comer juntos?

-A nossa rotina... ? –Ele devolveu a mochila –Vai precisar de bem mais do que só uma bolsa para me afastar de você

Acho que... ele sempre foi assim. Meu aniki tinha cabelos espetados, olhos castanhos que as vezes brilhavam e outras vezes estavam sem vida, por isso nunca foi muito difícil para mim identificar quando ele estava triste

Na maior parte do tempo, ele tenta fazer as outras pessoas sorrirem, é divertido, carinhoso, (tem o melhor abraço do mundo) e é extremamente gentil. Gostava de pensar nele como um irmão, mesmo não tendo nenhuma ligação sanguínea ou familiar. Era uma das poucas amizades que eu queria manter enquanto eu respirasse...

Flashback’on

-Aniki... Vamos brincar... –Choraminguei e ele não tirava os olhos do celular –Você termina de assistir o anime depois...

-Só mais um episódio... –Mentiu, ambos sabíamos que essa era a mentira que mais contávamos quando se tratava de mangás e animes.

Saí do quarto e percebi que estava chovendo, voltei para o quarto imediatamente mas parei na porta bem na hora que estava tocando a ending de Cavaleiros do Zodíaco.

-Aniki... –Chamei e ele finalmente olhou –Aqui... –Disse enquanto chamava com a mão

Saímos do apartamento e fomos observar a chuva na garagem do prédio. Depois de uns três minutos de um silêncio reconfortante, ele começou a mexer no celular e colocou na playlist que tínhamos montado, puxei ele para chuva e começamos a dançar e brincar. Claro que aquilo geraria uma bela gripe depois, mas ignorávamos ao máximo, afinal... só tínhamos oito anos.

Flashback’off

Quando a chuva cair eu vou estar aqui, vou me tornar parte de você e compartilhar a sua dor....