*Winry*
Tomo meu café mais rápido que um raio, subo para meu quarto pegando meu fichário, meu iped, algumas canetas e claro meu mangá de Fullmetal Alchemist, eu não conseguiria me distanciar dele nem que isso fosse extremamente necessário e nesse passo vou seguindo para meu primeiro dia de aula. Para descontrair eu também decido pegar meu violão, pois fiquei sabendo que na escola tem aulas de música e eu achei interessante a possibilidade. Depois de tudo pronto, pego um pequeno mapa com a vovó e saio caminhando para o desconhecido. Nem precisei seguir muito o mapa, logo depois de caminhar um pouco, passar por uma ponte e me dirigir para próximo ao centro de Resembool chego a Eastside High School e posso dizer que fiquei impressionada com o tamanho da escola.
Depois de ir à sala do diretor e pegar meus horários, percebo que estou atrasada para a primeira aula e saio correndo pelos corredores até conseguir achar a sala de geometria, claro que eu estava super aminada, só que não! Só pela minha expressão de cansaço dava para sentir que eu não queria estar ali.
Quando entro no local tenho que suportar o peso de todos aqueles olhares curiosos voltados para mim e o pior de tudo aconteceu: O professor quis me apresentar a turma:
_ Pessoal temos uma nova aluna esse ano, ela veio de Central City, senhorita Rockbell bem-vinda á Eastside, pode se sentar ali. – Diz o professor apontando para uma carteira na segunda fila.
Corada de vergonha por sentir aquela aura de olhares me analisando tento disfarçar o máximo possível e sigo em silêncio para meu lugar. Também ouço alguns garotos fazendo piadinhas sobre mim, mas depois de sentada nem respiro e começo a anotar o que o professor explica. Ao terminar meu dever ainda faltavam alguns minutos para o final da aula, então pego meu mangá e começo a ler com um sorriso e logo parecia que eu tinha saído desse mundo. Eu estava tão concentrada na leitura que nem percebi o sinal tocando e levo o maior susto quando uma garota morena de cabelos cumpridos pretos e uma franja castanha se aproxima e para a minha frente com os braços cruzados.
_ Humm... Que mocinha concentrada. – Diz a garota com expressão de avaliação.
Levanto meu rosto para olhá-la e quando nossos olhos se encontraram eu pude perceber que ela estava chateada com alguma coisa e essa coisa parecia ser a minha presença, não respondo nada de início e ela prossegue com um tom irônico.
_ Você deve estar achando um máximo ter vindo da cidade grande e deve estar pensando que vai fazer muito sucesso aqui como a garota "emo descolada" ou a "roqueira rebelde", mas eu já vim te avisar que essa escola é MINHA e é bom que lembre-se disso! – Diz ela com um sorriso dando ênfase na palavra minha – Meu nome é Rose Thomas, muito prazer!
_ Não que seja da sua conta, mas eu não escolhi vir morar aqui e por isso pouco me interessa sua escola. – Digo me levantando e pegando minhas coisas – Pode continuar seu reinado pois minha passagem aqui será breve.
Rose me olha de cima a baixo e eu faço o mesmo, sem dúvida a saia xadrez relativamente curta e a blusa rosa de manga mostrando um pouco da barriga não revelava somente o belo corpo que Rose tinha, mas também era o conjunto completo de uma "patricinha" ou garota "mimada" perfeita, bonita, implicante e hostil que geralmente tem nos colégios e esse era exatamente o tipo de garota que eu sempre evitava em Central City e aqui não seria diferente.
_ Bom você pode dizer isso... – Continua Rose em encarando com um sorriso forçado – Mas espero que seja verdade e que você não atravesse meu caminho e muito menos o do Christopher Lennox, já que ele é meu.
_ Tá ok, nem sei quem é esse carinha, mas pode ficar tranquila que não me interessa, agora se me dá licença eu preciso ir. – Digo sorrindo falso também.
Era só o que me faltava, uma garota me implicando por conta de um cara que eu nem sabia quem era logo no primeiro dia de aula, só pode ser brincadeira! Caminho pelos corredores até chegar a um pátio e ali acho um lugar mais reservado para voltar para minha leitura:
_ Onde eu tinha parado mesmo? Ah! Claro, "Em qual tábua de salvação vou me agarrar?!" – Leio mentalmente as frases uma após outra, mas logo arregalo os olhos e paro nas últimas falas do Edward Elric:
_ "Primeiro levanta e caminhe pra frente". – Leio em voz alta – "Você ainda tem as duas pernas para poder caminhar, não precisa de agarrar a nada."
Uma onda de choque percorre meu corpo e eu me arrepio, era exatamente isso que eu precisava ouvir! Do que adiantaria ficar me lamentando e chorando pela minha vida, meus pais jamais voltariam, mas eu poderia seguir em frente e continuar vivendo e achando minhas próprias respostas exatamente como os irmãos Elric fizeram. Fecho o mangá e o abraço, de alguma forma eu sabia que meu pai tinha um carinho especial por aquela coleção pois de fato, Edward e Alphonse Elric eram inspiradores.
As aulas seguintes passaram num piscar de olhos e depois que voltei para casa naquele dia, não parei de ler, continuei volume após volume com uma ansiedade crescente no peito. Cada vez que eu terminava um volume eu conseguia me aproximar mais do alquimista de aço, de certa forma eu sentia que ele conseguia me entender e a sua determinação me dava forças.
_ Minha filha não leia na mesa. – Diz a vovó com doçura ao ver o que eu estava segurando.
_ Desculpe vovó é que eu estou curiosa. – Digo com um sorriso fechando o quadrinho.
_ É bom ver você assim, mas ler na mesa é falta de educação. – Repreende vovó Pinako.
_ Tudo bem vovó, me desculpe. – Respondo ainda sorrindo.
Sem demorar no jantar subo para meu quarto e volto para ele, era como se eu e o "baixinho de aço", que não suportava ser chamado de baixinho, compartilhássemos algo importante e isso me deixava contente. Passando alguns dias logo depois de terminar de ler a coleção de mangás, aproveito que é sexta e começo a assistir os animes, um episódio depois do outro absorvendo a intensidade da obra e chorando copiosamente nas partes que eu engoli o choro na leitura. Era tudo muito bom, excitante, empolgante, mágico e muito reconfortante para mim, pois achei na aventura dos irmãos Elric uma nova forma de encarar a vida e toda a impetuosidade e perseverança do Edward me fez ver que eu tinha um paraíso em minhas mãos, as pessoas não voltam a vida é verdade, mas eu logo acharia felicidade em outras coisas, como achei nessa obra.
O restinho do mês de agosto passou e posso dizer que embora eu estivesse aminada fazendo minhas pesquisas e descobertas sobre Fullmetal Alchemist minha vida social não estava lá essas coisas, as meninas embora não estivesse me implicando diretamente, não falavam comigo e os garotos só sabiam dizer coisas maldosas sobre meu corpo. Contudo eu não desanimei totalmente, tentei ver o lado bom, mas percebi que Rose mandava mesmo neste colégio. Ela era uma espécie de abelha rainha, a garota mais linda e popular da escola e suas duas melhores amigas Ashely Valentine e Rachel George eram seus zangões. Essas garotas apesar de pisar em todos eram sempre rodeadas de pessoas e até os professores davam as melhores tarefas a elas por conta da posição social que elas tinham.
Eu as observava de longe e procurava não me preocupar com isso, quando me sentia muito sozinha no refeitório ou na biblioteca eu pegava meu chaveiro com as miniaturas do Edward e do Alphonse, comprados pela internet e olhando para eles eu pensava: "O que o Ed faria? Ele seria um malcriado sem dúvidas e o Al? Ele seria um doce de pessoa e ninguém iria querer sair de perto dele". Com esses pensamentos eu acabava sorrindo e esquecia tudo em volta.
Depois que mais alguns dias se passaram e o mês de setembro estava no fim, eu ainda estava na mesma vida de "solidão" social, porém essas coisas já não me importavam nem um pouco, eu tinha meus livros, meus mangás, meus filmes, seriados, animes, minhas músicas e claro eu tinha o Edward Elric sempre comigo. Cada coisa nova que eu comprava ou descobria sobre a possível existência dos irmãos Elric no mundo real me deixava feliz e eu já não estava me importando tanto com o pessoal da escola, mas como toda calmaria tem um pouco de tempestade, a professora de biologia decidiu que minha vida estava monótona demais e optou por atordoar um pouco as coisas. Ela propôs um rodízio nas duplas de laboratório para melhorar as notas de algumas pessoas e como a sorte não está ao meu favor, eu fui sorteada para fazer dupla com Christopher Lennox.
_ É Winry Rockbell né? – Diz ele me olhando de cima a baixo.
_ Sou, e você é o senhor Lennox não é isso? – Pergunto num tom meio frio.
_ Só Chris por favor.
_ Ah tá. – Falo ligeiramente desconcertada.
Era óbvio que Christopher Lennox era um rapaz bonito, um pouco mais alto que eu, com cabelos castanho bem claros, olhos verdes e um sorriso malicioso. Trabalhando com ele num sapo dessecado eu conseguia entender o porquê de tantos suspiros das garotas que passavam por ele, além de bonito, capitão do time de futebol ele era um pouco sedutor, mas ele não tinha lindos cabelos loiros e nem olhos dourados... Ele também não era impulsivo e inteligente e... O que estou fazendo? Estou comparando mesmo esse garoto ao Edward Elric? Só posso estar doente...
*Edward*
Passado uma semana entre idas e vindas da biblioteca central, Alphonse e eu ainda não tínhamos conseguido decifrar nada sobre a pedra filosofal e isso me deixava cada vez mais impaciente. Eu sei que não posso desanimar, afinal eu estou fazendo tudo isso pelo meu irmão, pois no fundo eu sei que tentar reviver a mamãe através da transmutação humana foi uma ideia minha e que o Al por minha culpa, foi quem acabou pagando o maior preço, então eu tenho que tentar de tudo para que ele consiga seu corpo de volta... Mas como? Sentindo minha cabeça pesar devido a frustração do momento, deito na mesa a minha frente apoiando o queixo sobre os papeis que estava lendo e a seguir começo a reclamar para meu irmão... Como esses códigos conseguem ser tão difíceis? Porém quando ele me propõe desistir eu me nego totalmente e como sou um cara muito obstinado me recuso a ceder e pedir qualquer ajuda ao senhor Marco, pois eu e somente eu irei decifrar esses documentos, isso é um desafio pessoal para mim!
Passado mais algumas horas, Sheska aparece para nos fazer uma visita, o que acaba sendo muito bom para aliviar a tenção do momento e para nos distrair um pouco. Ela ainda está muito agradecia pelo pagamento que dei a ela e ela nos conta que graças a isso ela pôde transferir sua mãe doente para um hospital melhor.
_ Tô falando pra você desencanar com o lance do dinheiro. – Eu digo com um sorriso sem graça – Sério, relaxa... Você não precisa mesmo esquentar com isso...
Eu fico realmente sem jeito por vê-la me agradecendo dessa maneira, para mim a Sheska é quem me fez um grande favor e se eu conseguir mesmo a chave para trazer o corpo do meu irmão de volta nenhum dinheiro no mundo pagará isso.
_ Não estou grata só pelo dinheiro. – Diz Sheska após uma leve reverência – É que graças a vocês dois, eu fiquei feliz em poder ser útil a alguém, já que sempre fui uma inútil que só sabe ficar lendo livros... Eu sou muito grata por isso!
_ Você não é uma inútil... – Diz Alphonse de repente – Só o fato de conseguir se dedicar tanto a alguma coisa, pode ser considerado um dom maravilhoso... Sem falar da sua memória incrível, devia ter mais confiança em si mesma.
Ao ouvir aquilo, encarei meu irmão mais novo por alguns segundos e percebi por suas palavras que ele estava contanto mesmo comigo, aquelas palavras me deram força e eu sabia que o Al estava tentando me incentivar, eu podia sentir isso. Antes que eu pudesse dizer algo em resposta o tenente coronel Hughes entrou em nossa sala de pesquisa fazendo o maior estardalhaço, depois de nos contar as dificuldades que estava tendo para organizar os documentos da corte marcial do exército, eu indiquei a Sheska para trabalhar com ele, pois eu sabia que ela seria perfeita para mexer com documentos, eu tinha a prova disso nas minhas mãos. Quando finalmente todos saíram e nós nos recuperamos de ver a cena do tenente coronel arrastando a Sheska para o novo trabalho como um sequestrador maluco, voltei a me deitar sobre a mesa e dando um longo suspiro e logo depois imitando a voz do meu irmão mais novo eu disse com tom de brincadeira:
_ Como é que Al? "Só o fato de conseguir se dedicar tanto a alguma coisa, pode ser considerado um dom maravilhoso". – Ainda deitado na mesa continuei – Sei... Mandou bem irmãozinho, falou bonito!
_ É que tem um certo alguém aqui que é assim, então acabei chegando a essa conclusão. – Respondeu Alphonse com animação – E acredito nisso do fundo do meu coração.
_ Hehe... Bom se é assim, eu acho melhor esse certo alguém voltar a se dedicar a sua tarefa agora! – Eu digo levantando minha cabeça da mesa e rindo de forma convencida – É esse certo alguém vai se dedicar mais um pouquinho nisso aqui...
Com essa conversa voltamos a nos dedicar com foco total, bom quase total, ainda tinha momentos que eu perdia a cabeça e jogava tudo para o alto ou de tanto cansaço por ler horas a fio ás vezes eu acabava cochilando um pouco, mas todos os dias estávamos ali desde quando a biblioteca abria até a hora que fechava. Nós realmente estávamos concentrados em nossa missão de decodificar as pesquisas do senhor Marco, lendo volume após volume, comparando com livros, desenvolvendo teorias e anotando nossas possíveis "descobertas". Contudo no decimo dia...
_ SÓ PODE SER BRINCADEIRA! – Grito sem controle socando o chão em que agora eu estava sentado – QUE PALHAÇADA É ESSA?!
_ O q-ue aconteceu? – Pergunta o sargento Brosh adentrando na sala em que estávamos ao ouvir meus gritos – Vocês dois brigaram? Primeiro, acalmem-se...
_ Não é nada disso. – Responde Alphonse sério.
_ Então se irritavam porque não conseguem decifrar os códigos...? – Pergunta a segunda tenente com receio também adentrando a sala.
_ Nós deciframos. – Continua Alphonse cabisbaixo – Conseguimos decifrar a pesquisa que queríamos...
_ Verdade?! Estão falando sério? Isso muito bom não é? – Pergunta Brosh com animação.
_ Não tem nada de bom nisso! QUE MALDIÇÃO! – Respondo gritando nas últimas palavras e socando forte o chão com meu braço de aço – Agora eu sei porque pesquisa dos demônios... Eu te odeio por isso senhor Marco!
_ Mas... o que aconteceu? – Pergunta o sargento com tom de aflição na voz.
_ Os ingredientes da pedra filosofal são PESSOAS VIVAS... – Respondo com tom de amargura colocando minha mão sobre meu rosto tentando sintetizar minha decepção, em seguida levo minha mão próximo a minha boca abafando um pouco minha voz e mesmo sem me virar para encará-los, posso ver as expressões de horror e surpresa se formando nos rostos dos militares presentes ali, então continuo – E para fabricar uma única pedra, é preciso sacrificar a vida de inúmeras pessoas...
_ "O elemento prometido que trará prazer em meio ao sofrimento, vitória em meio á guerra e luz em meio á escuridão. Uma matéria rubra, da cor do sangue, a esperança de vida para os mortos. Em reverência, as pessoas a chamam de Pedra Filosofal". – Lê Alphonse um trecho de um livro que se encontrava a sua frente.
_ Não posso negar que eu seria mais feliz se não soubesse disso. – Falo com um olhar duro fixo no canto da sala, ciente que haviam pequenas gostas de suor escorrendo por minha testa.
_ Não posso acreditar que uma pesquisa tão desumana esteja sendo realizada dentro do exército. – Diz o sargento Brosh.
_ É! Não podemos permitir que isso continue! – Fala a segunda tenente Ross.
_ ... Tenente Ross... Sargento Brosh... Eu peço a vocês para que não contem isso a ninguém! – Eu digo sem tom baixo.
_ Mas Edward... – Tenta protestar Brosh.
_ Por favor... Vocês não sabem de nada. – Falo com a cabeça baixa – Por favor.
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