- Amiga, eu não vou mais e ponto final. – Ana Tereza disse decidida.
- Cala a boca. – a voz do outro lado da linha ecoou. – com ou sem Neuer você vai estar lá comigo.
- Sara, isso não vai dar certo. Só vai dar eu lá te dando trabalho com minha dor e sofrimento.
Podia sentir que a amiga estava revirando os olhos mesmo sem vê-la.
- E depois eu que sou a dramática da relação.
As duas riram.
- Você vai pra apoiar seu cunhado, dane-se quem vai estar no mesmo ambiente.
- Arturo Vidal vai ficar me devendo. – resmungou.
- Aposto que você vai se divertir e quem vai estar sofrendo por causa dos jogos vai ser eu. Querendo ou não vamos estar juntas nessa copa, nem que eu cumpra dessa vez a promessa de te sequestrar!
- Certo, certo. Mas já vai preparando minha camisa da seleção chilena aí que vou como torcida da La Roja.
- E eu não sei? Já está aqui, autografada e tudo. Eu sabia que você iria.
- É claro, você sabe ser persuasiva. – elas riram novamente. – Preciso ir. Te vejo na Rússia?
- Já pode ficar me esperando no aeroporto. – sua amiga respondeu.
Ana Tereza desligou a ligação e sorriu.
É, isso pode mesmo me fazer bem...
Mesmo depois de alguns dias, os flashes da noite em que acabara ligando pra Manu ainda a atormentavam. Por conselho de sua amiga tinha parado de tentar se convencer de algo. Ela precisava sentir mais, ter seu momento de luto. Acabou e era isso. E ela tinha que deixar sua mente perceber por conta própria.
Era arriscado ir pro mesmo evento que ele. Muito. Sentia-se ansiosa sempre que pensava naquilo. Mas, por outro lado, seria incrível para curtir a companhia de seus amigos que ela quase não via devido a rotina corrida de cada um. E com eles tudo sempre era melhor.
Colocou uma playlist animada pra tocar e começou arrumar as malas, enchendo-as de roupas que era bem provável que não usaria. Tinha essa mania.
Separou algumas peças para cada tipo de clima que poderia fazer – até porque estava saindo de casa sem previsão certa de volta – e acabou se deparando com uma camisa da Seleção Alemã com o número 1 que Manuel havia a presenteado. Torceu o nariz e a jogou na mala.
- Vai que, né? Só por precaução. – falou sozinha, rindo da situação.
Seu voo saía dali somente algumas horas, já que Sara não havia deixado que ela cancelasse. E agora ela realmente estava feliz por não ter o feito.
Neuer bufou ao receber a terceira bronca naquele treino. Löw estava perdendo a paciência com ele e o mesmo já tinha percebido. A sorte que ainda tinha muita vantagem com o seu técnico.
- O que você tem, rapaz? – ouviu a voz de Joachim atrás de si.
Ele virou para olhar o professor.
- Não sei. Está faltando alguma coisa. – foi sincero.
A expressão de Löw parecia que ele entendia a situação.
- Falta foco, Manuel. – o mais velho falou. – e eu sei que você consegue, rapaz. – ele deu dois tapinhas nas costas do goleiro e saiu.
O clima na Rússia estava extremamente quente, então ele saiu para jogar um pouco de água no rosto e voltar para treinar mais. O restante do grupo já havia sido dispensado, mas ele resolvera ficar mais um pouco e mostrar que ainda podia ser o capitão que sua seleção precisava.
Enquanto ele se enxugava com uma toalha, ouviu uma voz conhecida vindo de longe.
Juntou as sobrancelhas num ato de confusão, e balançou a cabeça se achando um louco.
O que ela estaria fazendo na Rússia? Até parece...
Tirou a ideia da cabeça e voltou para o campo.
- Ana Tereza, eu não sei como você consegue ser atleta sendo tão desastrada. – Vidal comentou brincando com a amiga.
Ela o encarou fingindo estar séria, mas não aguento segurar o riso por muito tempo.
- E eu não sei como conseguiu fazer minha amiga casar com você tendo esse cabelo, se é que posso chamar assim. – ela retrucou divertida.
- Só não faço pior porque estamos em público. – disse ao jogar a garrafinha de água que segurava nas costas dela.
- Ah, como é bom estar com vocês de novo. – Sara comentou rindo.
- Tenho que ir, a Alemanha já deve ter terminado, vejo vocês depois. – Arturo se despediu com um selinho na esposa e um peteleco em Ana.
As duas ficaram por uns segundos sem falar nada.
- Ele disse Alemanha?
- Eu acho que sim..? – Sara respondeu incerta.
- Amiga sinto muito, mas você vai ter que ficar viúva muito cedo.
Sara revirou os olhos.
- Eles já devem ter ido embora, não estou vendo ninguém sem ser os de camisas chilenas. – a amiga comentou olhando ao redor, enquanto Ana continuava parada como uma estátua no mesmo lugar.
- Então vamos dar uma volta pra fingir que nada está acontecendo. – a tenista sugeriu, já puxando a amiga pelo braço.
As duas então começaram a caminhar entre alguns pequenos campos vazios, colocando o papo em dia.
- A gente precisa se encontrar mais vezes ao ano, sério. A internet não faz jus a isso. – ela apontou para si e para a amiga.
- Você é rica, pode me visitar mais vezes. – Sara brincou. – e ainda tem mais motivo para ir a Munique.
Ana soltou um riso e deu um soquinho no ombro da amiga.
- E você não, né? Seu marido bem que podia alugar um jatinho pra mim vez ou outra. Eu iria visitar vocês numa boa.
- E você bem que podia comprar um logo de uma vez, não aguento mais esse negócio de aluguel. – Sara respondeu irônica.
As duas riram mais uma vez.
- Quem diria? Do Brasil pro mundo... – Ana falou olhando para os pés.
- Se bem que a gente dizia isso pra caramba, só não acreditava muito. – a amiga contestou.
- Verdade.
- Vamos sentar ali. – Sara apontou para um banco de cimento um pouco mais distante de onde elas estavam.
Sara e Ana apertaram o passo se sentaram.
Ana Tereza encostou a cabeça no banco e respirou alto, fechando os olhos.
- A vida é muito doida.
A amiga somente concordou com a cabeça, mesmo que a outra não pudesse vê-la.
Barulhos de passos chamaram a atenção delas, fazendo com que ambas olhassem na direção em que vinham, involuntariamente.
Sara engasgou com a própria saliva, e Ana arregalou os olhos voltando a olhar para os próprios pés.
Neuer havia se sentado num banco a alguns metros de distância. Ele usava fones de ouvido e aparentemente não tinha as visto ali.
- Levante devagar, sem movimentos bruscos. – Sara sussurrou e a amiga obedeceu.
Quando a tenista foi alcançar seu segundo metro, acabou tropeçando nos pés da amiga e se paralisou inteira ao ouvir o barulho que tinha provocado. As duas pareciam estar se escondendo de um animal silvestre em plena floresta.
- Ana Tereza? – a voz tão temida de ser escutada soou longe.
- Merda. – a mesma cochichou.
- Te espero aqui? – Sara perguntou e Ana concordou com a cabeça, forçando seus pés a seguirem o caminho que a levassem até Manuel.
- Ei, Manu. – ela o cumprimentou, sem chegar muito perto.
O clima tenso estava quase se materializando, e ela podia sentir as mãos pingando suor dentro dos bolsos do short.
- Ei. – ele sorriu de lado. – ouvi sua voz antes, mas achei que estava ficando doido. O que faz aqui?
- Com ela. – apontou para a amiga que mexia no celular, agora sentada de novo no banco que ambas estavam antes.
- Ah é, Vidal. – ele pareceu se lembrar do companheiro de time.
- Está tudo bem com você? – ele a perguntou incerto.
- Sim, e você?
Ela riu internamente. Os dois pareciam adolescentes.
- Também. – Manuel coçou a cabeça. – tenho que ir.
- Hum... tudo bem.
- Eu posso, hã... te mandar uma mensagem?
Ana Tereza olhou os famosos olhos que a encaravam de volta. Nem o tão cobiçado azul international Klein fazia jus àquele azul.
Sentindo as águas daquele oceano invadirem seus pulmões, Ana Tereza o respondeu:
- Sim, Manu, você pode me mandar uma mensagem.
Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.
Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.