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História Contra todas as probabilidades - Uma pausa merecida


Escrita por: Mallagueta

Capítulo 26 - Uma pausa merecida


Os patos nadavam tranquilamente nas águas cristalinas do lago. Era um dia bonito e como havia pouco vento, o lago refletia o céu azul quase perfeitamente, dando a impressão de que os patos estavam nadando entre as nuvens.

Ela se aproximou do lago segurando um saco com pedaços de pão velho e começou a jogar alguns na água. Os patos logo perceberam e vieram correndo em busca de uma refeição fácil. Era engraçado vê-los disputando cada pedacinho de pão como se fosse um manjar dos deuses. Felizmente não havia tantos patos, então o pão daria para todos, se os gulosos dessem alguma chance para o resto.

Não demorou muito, o pão acabou e os patos se afastaram ao verem que não teria mais banquete. Eles voltaram a nadar no meio do lago e tudo ficou tranqüilo novamente. Mônica embolou o saco e colocou no bolso para jogar fora mais tarde e foi se sentar a sombra de uma árvore.

Fazia quatro dias que ela estava no sitio dos seus tios, irmão e cunhada do seu pai. O medico tinha passado um atestado lhe dando uma semana de repouso e Souza achou que o melhor seria Mônica ir para o sitio do seu irmão. Assim ela poderia passar um tempo longe de tudo para recompor as energias. A matéria perdida podia ser recuperada mais tarde.

Antes de levar a filha ao sitio do irmão, Souza quis saber o que tinha acontecido realmente. Foi muito difícil para Mônica falar a verdade para seus pais e mesmo assim ela não contou a história toda.

– Mônica, você está brigada com suas amigas desde o primeiro dia de aula e não me falou? – sua mãe repreendeu.

– Eu achei que as coisas fossem se acertar.

– Mas não isso não aconteceu.

– Não.

Ela explicou para seus pais que a turma não tinha aceitado seu namoro com o Felipe. Todos esperavam que ela ficasse com o Cebola e passaram a ignorá-la quando ela recusou seu pedido de namoro. Souza e Luíza ficaram revoltados com aquilo. Será que os amigos da Mônica eram cegos? O Cebola a enrolou por vários meses e quando ela quis seguir adiante, ninguém foi capaz de respeitar sua escolha?

Seu pai ficou furioso ao ver que no fim de tudo, ele acabou como a pobre vitima. Aquele cretino perseguiu sua filha durante toda a infância com insultos, brincadeiras de mal gosto e ainda continuava fazendo-a sofrer daquele jeito.

– E o Felipe? – ele quis saber. – por que ele terminou com você?

– Ele não falou, mas parece que foi alguma coisa que o Cebola andou falando para ele, sei lá. Não sei direito.

– Ah, sim! Sempre o Cebola! Eu já estou ficando farto daquele moleque!

– Calma, querido, ficar zangado não vai resolver nada. Vamos cuidar da Mônica primeiro.

Como era quinta feira, a Mônica não foi ao colégio durante o resto da semana. Eles conversaram com o diretor, explicaram a situação e com isso, ele permitiu que ela se ausentasse pelo resto da semana e toda a semana seguinte sem que isso se convertesse em faltas. Caso precisasse, a escola oferecia aulas de reforço para alunos com dificuldades.

Ali, longe das provocações, ela se sentia mais calma e descansada. Ainda assim a tristeza insistia em lhe incomodar. Saudade do Felipe, dos amigos, mágoa por todos terem se voltado contra ela e mágoa por ele ter terminado o namoro sem dar nenhuma explicação decente e ainda lhe falado aquelas coisas horríveis. Nada lhe tirava da cabeça que o Cebola tinha aprontado. O que ele teria esfregado na cara do Felipe afinal de contas? Seria alguma foto antiga deles? Algum bilhete romântico que ela lhe escreveu na época em que estavam namorando? Não importava. De qualquer forma, ele acreditou naquilo e não lhe deu nenhuma chance para se defender.

E pensar que fora por causa dele que ela perdeu seus amigos... se soubesse que aquilo ia acontecer, ela teria aceitado o namoro com o Cebola, nem que fosse para terminar com ele alguns dias depois. Com isso, ela continuaria com os amigos. Mas não! Ela desafiou todo mundo, ficou de lado, sofrendo piadas, deboches e provocações só para ficar com ele e no fim ele lhe fez aquela palhaçada! As lágrimas não demoraram a brotar dos seus olhos e ela deixou que caíssem livremente.

Por que ela era tão azarada com os rapazes? Primeiro o Cebola, que só lhe trouxe decepção. Um sujeito inseguro, cheio de neuras, sem auto-estima e que tinha obsessão em derrotá-la. Depois, Toni, que se mostrou tão interessado no inicio e no fim era tudo uma armadilha. E mesmo quando ela tentou lhe dar uma nova chance convidando-o como par para dançar na festa da Marina, o imbecil fez aquele papelão lhe deixando sozinha só para comprar bebida alcoólica para alguns idiotas. Depois o DC, que rejeitou sua aproximação só porque era do contra. Pelo visto, ele era complicado demais para namorar qualquer garota. Desde a infância, ela sempre se decepcionava com os meninos.

“Será que eu vou ficar sozinha? É... parece que não vai ter jeito não... e pensando bem, acho que é melhor assim mesmo, sei lá.”

Alguns mosquitos voavam ao seu redor, alguns tentando chupar um pouco do seu sangue. Ela tentou agüentar até certo ponto e acabou se levantando dali, incomodada com os insetos. Que coisa... derrotada por alguns mosquitinhos! “Não faz mal... eu já fui derrotada pelo Cebola mesmo, então não faz mais diferença”. Sim, ela tinha consciência daquilo. Depois de tantos anos e tantos planos fracassados, finalmente ele conseguiu o que queria: derrotá-la. Ela ficou sem amigos, sem namorado, sem condições de participar do concurso de patinação e totalmente arrasada.

Mônica foi voltando para o casarão que ficava no meio do sitio, indo pelo quintal dos fundos. Um cheiro bom chegou ao seu nariz e seu estômago começou a roncar de fome. Parecia cheiro de bolo de milho, que ela gostava. Quem sabe ela não conseguia um pedaço?

Na cozinha, havia um grande fogão de lenha e vários utensílios como panelas de ferro, de barro e tachos de cobre usados para fazer doces. Réstias de alho estavam penduradas na parede, junto com outras vasilhas esmaltadas pintadas com desenhos que pareciam antigos. Ali estava a cozinheira, uma mulata rechonchuda que parecia beirar os quarenta anos.

– Oi, menina. Sentiu o cheiro do bolo, né?

– Senti de longe, D. Ju.

– Se ocê me ajudá a tirá esse tacho de doce do fogão, eu te dou um pedaço.

A moça deu uma risada e pegou dois panos, um em cada mão e tirou o tacho de doce de cima do fogão e colocou sobre a mesa. Era um tacho grande e pesado, mas para Mônica aquilo não era nada. O doce era de mamão cortado em tiras finas e enrolado. O aspecto estava muito bom e parecia delicioso. Ela só não provou porque estava quente.

– Pronto, agora eu quero meu bolo.

– Craro! – a cozinheira pegou uma fatia generosa, colocou num prato e serviu a moça. – trabaiou, agora pode cumê.

Para se distrair, Mônica ajudava em alguns serviços no sitio e deixava os empregados de boca aberta ao carregar grandes troncos de madeira como se fossem palitos de dente. Ninguém cortava lenha melhor e mais rápido que ela e quando algum cavalo ficava sem controle, ela conseguia acalmá-lo facilmente, já que tinha força para domar o animal. Com isso, ela ganhou fama de trabalhadeira.

D. Ju foi para fora, olhar os fornos de cupim que foram construídos perto da cozinha e voltou trazendo uma bandeja de biscoitos. Ao ver tanta comida, Mônica não conseguiu evitar de lembrar da Magali. Ela com certeza ia ficar maluca diante de tantos quitutes saborosos.

– A menina num gosta de biscoito? – a mulher perguntou ao ver a expressão de tristeza no rosto da Mônica.

– É que eu acabei lembrando de uma amiga minha que adora comer. Ela ia ficar doidinha se visse tanta coisa gostosa!

– Ah, mas cumê é bão dimais!

Ela viu que a moça continuava triste. Como já conhecia a história, ela acabou entendendo. Que coisa chata perder todos os amigos!

– Ocê nunca tentou aprender a cozinhá? Dizem que homi se pega pelo bucho! – a mulher falou tentando animá-la.

– Aprender eu quero, mas saber de homem eu não quero não! Ah, neim! Eles são complicados demais!

– Ih, fica assim não! Homi é qui nem biscoito, vai um, vem oito!

– Só que no meu caso, sempre vem um pior do que o que se foi! Acho que vou é ficar sozinha mesmo!

– Óia, menina, eu acho qui ocê num devia ficar preocupando com isso. Deixa o tempo correr, vai vivendo sua vida qui um dia aparece um homi bão procê.

– Será? Acho que não... até agora eu só dei azar com os rapazes.

– Ara! Mas é assim mesmo, sô! A gente vai errando inté achá um homi qui presta. Eu levei um tempão inté encontrar o meu Osório! Aí eu num larguei mais dele!

– Eu também queria ter essa sorte, mas não deu. Tentei, só dei azar.

– Vai ver ocê deu azar pruquê tentou.

– Heim?

– Pega os pote de doce pra eu ir enchendo.

Mônica fez o que a mulher pediu e ficou esperando que ela continuasse.

– Antes di conhecer o Osório, eu vivia fazendo promessa pro santo Antônio. Era novena, reza, inté amarrei um santo di cabeça pra baixo em cima da cisterna, vê se pode!

– E funcionou?

– Funcionou nada! Só aparecia uns homi feio, banguela e mal iducado!

Ela tentou conter o riso para não ofender a mulher, mas D. Ju lhe aliviou.

– Pode rir, menina. Eu tamém acho graça quando mi arlembro disso! Na época, muita moça da minha idade tamém fazia promessa pro santo Antônio qui nem eu!

– Elas conseguiam?

– Pelo que eu me arlembro, elas conseguiam. Só que era cada homi mais pior do que o outro!

– Credooo! Eu é que não faço promessa pra santo Antônio! – dessa vez, d. Ju deu uma risada.

– E num faiz mesmo não, viu? Ficá correndo atrás de homi pra casá só dá pobrema na vida da muié.

– Como assim?

– É que as muié que fica desesperada correndo atrás de homi acaba pegando os pior que tem e casa com eles pruquê elas num param pra oiá com quem tão casando.

– Vixe! E elas não se arrependem depois?

– Craro! Só que dispois num tem mais como vortá. Aqui na roça, as pessoa num aceita muié separada, sabe? O povo fala mal, os pais num qué ela de vorta, os outro homi num leva ela a sério... é muito triste.

– Deve ser triste mesmo. Mas como a senhora conheceu seu marido?

– Eu cunheci ele na quermesse, quando tava vendendo uns doce que eu tinha feito. Ele comeu meus doce e ficou mi rodiando um tempão. Uma semana dispois ele foi pedi pró meu pai pra namorá.

– Ai, que fofo!

– E o mais ingraçado é que eu num tava nem pensando em arrumá homi, sabe? Tinha inté desistido de fazê promessa pro santo Antônio. Eu tinha deixado isso pra lá e comecei a fazê doce pra vender, tava ganhando meu dinheirinho e inté aprendi a ler com uma professora qui mi ajudou.

– Engraçado...

– Engraçado mesmo. Quando eu tava percurando, só aparecia coisa ruim. Quando eu parei de percurá e fui cuidá da minha vida, aí apareceu o Osório. Por isso eu acho que a menina num devia ficá preocupando com essas coisas não. Vai viver sua vida, fazê coisa de mocinha nova, se empetecar... num fica isquentando a cabeça em achá homi pra casar que é bobage.

– Eu já vi que é mesmo.

– Intão? Quando a muié só pensa em casá, ela acaba pegando qualquer um que aparece pruquê ela só quer casá, num importa com quem.

Mônica começou a pensar no próprio caso, quando ela se sentia mal por ser a única garota da turma a não ter nenhum namorado. Seria por isso que ela passou tanto tempo insistindo no Cebola? Talvez. Mas com o Felipe não foi só para ter um namorado. Ela percebeu que alguma coisa especial estava surgindo e ao ver que ele correspondia, resolveu arriscar. Ele não era apenas alguém para preencher uma vaga. Ainda assim, ela levou a sério o conselho da d. Ju e decidiu que não ia mais se preocupar em conseguir ou não um namorado. Ela podia ser feliz de qualquer jeito, com ou sem homem.


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