Mais alguns pares de semanas haviam ido embora desde a primeira visita de Sadie na mansão. Hoje é quarta feira e a casa encontra-se bem movimentada outra vez. Há diversas SUVs estacionadas na parte da frente, homens que mais parecem armários indo de um lado para o outro e eu já havia entendido - parcialmente - o que significava quando tal fato acontecia. Pretendia seguir caminho para a biblioteca quando Mary chamou meu nome e aguardei que me alcançasse.
– Vá se vestir, nós iremos almoçar fora hoje. – Franzi o cenho e verifiquei o relógio em meu pulso.
– São nove da manhã. – Argumentei confusa.
– Leva um tempo para chegar. E eu não gosto de ficar aqui quando... – As palavras perderam-se e ela olhou ao redor. Foi então que entendi.
– Mary...
– Tudo bem, querida. Eu já estou acostumada. Só não gosto de vivenciar a tensão antes do necessário.
– Eu não demoro, ok? – A mais velha assentiu com um sorriso que não chegou aos olhos. Finn é um idiota. Idiota por fazer coisas ilegais e idiota por deixar uma pessoa tão adorável quanto Mary tão preocupada assim; com medo de perder o filho toda vez. Por um instante fui eu quem congelou no lugar e um frio percorreu meu estômago. Não é como se ele fossa minha pessoa favorita no mundo (eu diria que estava anos luz longe disso) todavia não é como se eu quisesse que ele morresse ou sei lá, levasse uns tiros. E também havia Noah, eu definitivamente não queria que se ferisse. E Gaten e Caleb. Tenho passado bastante tempo com todos eles então meio que eu só não desejava que ficassem correndo perigo por aí. Mesmo que na verdade eles fossem o perigo. O que é uma merda porque eu me sinto como quando se está assistindo aqueles filmes em que o vilão é o protagonista da história e então você está lá torcendo por ele sem sequer notar o quão errado é. Infelizmente eu me afeiçoei aos vilões.
Tomei uma ducha rápida e escolhi jeans skinny e uma blusa ombro a ombro preta. Passei um pouco de rímel e gloss labial apenas. Em quinze minutos eu estava pronta e descendo para o térreo. Eles não me viram nem ouviram chegar.
– Se quer tanto assim protegê-la deveria era parar com isso, Michael. – Repreendeu com voz firme.
– Não entraremos nesse assunto de novo. – Respondeu no mesmo tom. – Vocês irão com o Bass por segurança. E por favor, mãe...
– Voltar antes das seis ou ficar por lá, entendi. – Antes das seis? Ela pretende me levar para almoçar do outro lado do estado?
Saí de trás da porta e ambos olharam para mim. A figura de Finn todo vestido de preto capturou minha atenção. A camiseta justa delineava seus bíceps.
– Está gostando da vista, Millie? – Um sorriso egocêntrico lhe escapava dos lábios. Revirei os olhos andando até eles.
– Estou pronta. – Avisei Mary que assentiu e virei-me para seu filho. – Acho que não te verei mais então.. Tente não morrer essa noite. Caso contrário eu mato você.
– Tecnicamente eu já estarei morto.
– Descubro um jeito de trazê-lo de volta a vida apenas para te matar eu mesma.
– Não se preocupe, docinho.
– Vocês são um casal estranho. – Pontuou sua progenitora atrás de mim. Nem me fale. A começar pelo fato de que não somos um. Não de verdade.
– Bem.. tchau. – Subi nas pontas dos pés e deixei um beijo não muito demorado em sua boca. Prendeu meus quadris com as mãos impedindo-me de afastar. Ele semicerrou os olhos.
– O quê?
– Lembra quando fomos para aquele evento beneficiente semanas atrás logo quando você chegou?
– Sim? – Respondi desconfiada.
– Você disse que não iria me beijar e estava bem decidida a respeito disso.
– Ainda bem que se lembra. – Assegurei.
– Eu sim, ao que parece você quem esqueceu. Pelas minhas contas é a quinta vez em... – Checou o relógio inexistante em seu braço – duas horas.
– Eu só te beijei porque sua mãe est... Oh meu Deus. – Ele é retardado ou o que? Girei meu corpo na velocidade da luz e foi aí que notei que estávamos sozinhos. Em algum momento entre um diálogo e outro Mary deixou-nos a sós e eu não percebi. Voltei novamente minha atenção à ele.
– Eu não teria beijado se soubesse que ela havia saído. – Ressaltei e ele me fitou.
– Teria, Mills. Ambos sabemos que teria.
Passei o resto da manhã e o dia todo com Mary. A princípio o chauffeur (o mesmo das outras vezes) que descobri chamar Bass e que na verdade era um dos seguranças de Finn levou-nos até um dos shoppings da cidade onde nós duas fizemos algumas compras. Depois, já no horário de almoço fomos para um restaurante qual eu jamais sonharia em pisar. É claro que como um ser humano normal eu adoro comer mas nunca mesmo pagaria quase três dígitos em um prato de entrada.
Por volta das seis da tarde, como o prometido, retornamos à mansão, vazia se comparado com horas mais cedo. E sabia que os rapazes não estavam mais lá. Subi para o meu quarto depois de tomar um copo d’água ná cozinha. Esvaziei as duas sacolas não muito cheias e guardei tudo para não acumular bagunça. Tomei um longo banho de banheira para relaxar, meus pés e pernas estavam doloridos devido as andanças com a minha... sogra.
Fiquei tentada a ligar a tv no noticiário mas tudo o que eu fiz foi descer e fazer companhia à Dorothy enquanto preparava o jantar.
Acabei dormindo pouco depois da meia noite.
Desci para a primeiro andar ainda meio dormindo mesmo depois de ter lavado o rosto. Fiquei desperta no instante em que vi Noah saindo de um dos corredores.
– NOUAH – Gritei chamando sua atenção que sorriu assim que me viu e o envolvi em um abraço. – Você está bem? – Ele deu uma revirada de olhos.
– É óbvio que estou bem.
– Ótimo. – Respondi andando ao seu lado.
– Wolfhard já acordou? Não consigo falar com ele.
– Huh, eu não sei. Não o vi ainda. Vocês ficaram na Greenhouse até que horas?
– Nós até umas três ou quatro. Finn não estava conosco.
– Não? – Franzi o cenho.
– Ele disse que viria para casa porque estava cansado. O que na real foi bem estranho.
– Que horas foi isso?
– Por volta das onze.
– Ah. Bem, para cá ele não veio.
“O que houve com Finn?” A voz de Gaten surgiu vinda do hall de entrada e se dirigia a nós no meio do caminho.
“Como assim?” – Eu e Schnapp respondemos em uníssono.
– Eu acabei de o ver subindo lá para cima e estava para lá de Bagdá.
– Tipo como?
– Tipo chapado para cacete. Ele deve ter cheirado e bebido a noite toda. – Eu olhei para o rapaz ao meu lado.
– Isso acontece sempre? – Questionei. Nunca havia pensado na possibilidade de Wolfhard ser usuário também. Tal como papai. Para ser sincera eu nunca nem o vi bebendo de verdade. Reparei na troca de olhares confidenciais entre Noah e Gaten deixando-me sem entender nada.
– Não. Não desde...
– Muito tempo. – O de olhos verdes cortou o cacheado. Um ponto de interrogação se formara em minha testa.
– Acho melhor ir ver como ele está. – Sugeriu.
– Por que eu?
– Porque se um de nós for é bem provavel de terminarmos o dia com uma bala enterrada no meio da cara.
– E porque eu tenho de ir? – Repeti a pergunta.
– Gosto de você, Brown – Pos uma mão em meu ombro. – mas a minha vida é mais importante.
– Ou talvez seja porque você é única entre nós que tem autorização para ir a ala leste. – Indagou Noah.
– Outra vez esse papo de ala leste? Isso aqui é “A Bela e a Fera” por acaso?
– Bela e a fera é ala oeste não leste. – Corrigiu o mesmo e eu revirei os olhos logo indo em direção os degraus polidos.
Bati na porta antes de entrar.
– Finn? Você está aí? – Não obtive respostas. – Finn? – Silêncio de novo então forcei as maçanetas que se abriram com facilidade.
Visualizei-o de primeira; estirado em sua cama grande de lençóis negros. Estava virado para cima e encarava o teto vidrado. Sem nem piscar.
– Finn? – Tentei chamar agora mais próxima à ele. Fiquei um tanto receosa sobre como o encontraria. Meu pai costumava ficar agressivo quando estava bêbado demais ou drogado demais. Exceto quando alucinava e via mamãe. Por esta razão ele vivia trancafiado em seu quarto para que eu não o visse ou não ficasse a mercê de sua raiva. Meu coração acelerou as batidas quando enfim me olhou. Suas escleras estavam vermelhas e as pupilas dilatadas. Porém seu olhar era vazio. Senti o peito apertar. – O que aconteceu? – Talvez fosse inútil conversar, passei por isso umas boas vezes.
– Millie?
– Sim. – Sentei próxima a cabeceira da cama.
– Eu não consigo.
– Não consegue o que? – Ele permanecia olhando para o nada e foi nessa hora que vi marcas de batom em seu pescoço.
– Não pode acontecer, Millie.
– O quê? O que não pode acontecer?
– Não de novo... Não posso.
– Não estou entendendo.
– Eu sempre soube. Desde que vi a foto.
– Você precisa dormir. Não está dizendo coisa com coisa.
– Você não sabe o que eu preciso, docinho. Nunca vai saber. – E então fechou as pálpebras.
– Finn? Finn? – Oh, Deus.
Ele apagou com a cabeça em meu colo e os braços ao redor de minha cintura.
Devo ter ficado um minuto inteiro parada sem saber o que fazer até me pegar acariciando os cachos macios e o maxilar bem desenhado. Ele mantinha uma expressão serena quando ressonava. Como estava perto, pude reparar nos cílios longos e na quantidade de sardas que salpicavam suas maçãs de rosto bem ressaltadas. Seus lábios eram bem preenchidos e possuíam um tom vermelho-rosado natural. O cheiro que emanava também era o seu cheiro. O fato de não estar fedendo à àlcool me faz duvidar se ele realmente chegou a beber tanto ou se foram apenas os entorpecentes. Antes que pudesse perceber; eu mesma já estava rendida ao sono devido o ambiente aconchegante e escurecido pelas luzes não acendidas e as janelas e persianas fechadas.
Bocejei antes de abrir os olhos e levei alguns segundos para reconhecer o ambiente. O que não precisaria ter acontecido visto que o dono do quarto apareceu em meu campo de visão.
– Oi. – Falei para chamar sua atenção.
– Oi.
– Você está melhor?
– Sim.
– Que bom. – Respondi e me embaralhei para sair da cama porque não havia notado que eu estava debaixo do edredom. O canadense acompanhou o movimento com os olhos. – Uhm... Não me lembro de estar vestida assim. – Pontuei olhando para o meu próprio corpo e me assegurando de que eu estava vestindo apenas uma camiseta grande e que ela certamente não era minha. Ele deu uma risadinha.
– Sobre isso... Digamos que meu organismo não está mais acostumado com o que recebeu e houve um pequeno acidente. E você dorme feito uma pedra. Quer saber mais detalhes?
– Não. Que nojo. – Fiz careta. – Não acredito que vomitou em mim. Eu tento fazer uma boa ação e olha o que acontece.
– Em minha defesa eu achei que você fosse meu travesseiro.
E foi então que uma coisa me ocorreu fazendo meu estômago agitar.
– Você trocou minha roupa?
– Sim.
Merda. Eu me lembro claramente de não ter vestido um sutiã esta manhã. Senti minhas bochechas esquentarem.
– Então você me viu nua?
– Não é como se tivesse sido a primeira vez. – Ai. Meu. Deus.
– Melhor eu ir. – Avisei e praticamente corri até as portas duplas.
– Millie?
– Sim? – Respondi sem me virar.
– Obrigado.
– Você me deve uma. Ou duas, por ter vomitado em mim.
Escutei sua risada antes de sair do cômodo. Não estava com meu relógio e não fazia ideia de que horas eram. Penteei meu cabelo com os dedos seguindo rumo a cozinha para comer algo pois estava faminta. Não como nada desde o jantar da noite passada.
– Humpf, vocês ainda estão aqui? – Chamei a atenção de Gaten, Noah e agora Caleb. Ambos ao redor da mesa grande. Havia um mapa estendido sobre ela. Todos olharam-me segurando uma risadinha. Todos menos Schnapp, que parecia sério. – O que é? – Esbravejei.
– Nada não. – Respondeu o recém chegado (ou não, afinal eu ainda não sabia que horas eram).
– O que estão fazendo? – Quis saber me enfiando ao lado do meu amigo mais próximo.
– Estudando. – O próprio respondeu sem dar detalhes.
– Vocês não tem um lugar específico para isso?
– Temos e é para lá que estamos indo agora. – A voz grossa dele soou da entrada da cozinha.
– Até que enfim. – Reclamou Matarazzo. Eles fecharam e guardaram o enorme mapa em um segundo e no outro Caleb dizia “até mais srta. Wolfhard”.
E foi aí que me dei conta do motivo por trás das risadinhas dele e Gaten. Eu ressurgi depois de horas vestindo apenas a camiseta de Wolfhard e eu imagino que não devem ter imaginado que a razão seja eu ter recebido uma gorfada e sim... bem, o que eles pensaram que eu estive fazendo.
Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.
Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.