Ele não falou nada, apenas continuou me puxando pela mão até estarmos dentro de seu quarto. Fui até a cama king size e me enfiei debaixo dos cobertores como se fosse minha própria cama. Me encolhi no segundo seguinte.
– Estou sentindo sua tensão daqui.
– Não é como se estivesse muito longe.
– Está tudo bem, Millie. Tenho certeza que Robert está vivo.
– Se ele estiver morto não está bem. Se ele estiver vivo continuará não estando bem.
– Que tal desligar a cabeça por alguns instantes? Ficar matutando sobre isso não vai mudar a situação.
– Estou tentando desligar há horas.
– Talvez eu possa ajudar.
– Como?
– Vem aqui. – Pediu e senti meu peito inflar. Obedeci me arrastando até ficar poucos centímetros de distância. Ele continou me observando só que agora dedilhando o meu rosto. Lutei contra a vontade de baixar as pálpebras e apreciar o seu toque. Seus olhos estavam tão escuros quanto poderiam ficar na baixa luminosidade.
– Do que é que estava falando hoje de manhã? – Perguntei.
– Qual momento?
– Antes de você gorfar em mim, é claro. – Sua risada soou pelo nariz. – Estava dizendo coisas aleatórias como não poder fazer algo e não conseguir alguma coisa. Seria dormir com alguém? Estava manchado de batom.
– Eu não me lembro nem como cheguei até aqui. Há muitas coisas que eu não posso fazer e que não consigo fazer. É uma pergunta vaga. – Agora seus dedos percorriam o meu ombro e braço.
– Por que se drogou? – A pergunta escapou antes que eu pudesse pensar sobre ela. Ele ficou quieto por breves instantes.
– Por um momento de fraqueza. Não quis lidar com o que estava sentindo e optei por uma válvula de escape. – Contou sem muitos detalhes.
– Uma bem ruim. Que pode te fazer vomitar nas pessoas. – Tentei acrescentar um pouco de humor e pelo visto deu certo. – Eu sei que não tenho nada a ver com a sua vida mas... bem, deve haver outros tipos de escapes que não envolvam esse tipo de coisa. Não é a melhor opção.
– Eu sei. – Enrolou uma mecha do meu cabelo com seu dedo indicador.
– Como você está?
– O quê? – Franziu o cenho como se eu tivesse feito uma pergunta absurda.
– Como está se sentindo? Está bem? Como foi o seu di... – Não consegui terminar a frase pois repentinamente sua boca estava sobre a minha. A princípio eu não entendi nada, apenas me permiti desfrutar daquele beijo. Era acalentador. Diferente dos outros. Não estávamos sequer nos beijando de língua mas a sensação era como se fosse o melhor beijo de toda a minha vida. Os pensamentos a respeito de papai e todo o resto apenas desapareceram feito fumaça. Minha cabeça tão somente desligou como se alguém tivesse desativado o interruptor. Agora tudo o que eu sinto é leveza. A mão dmccxe é tão leve segurando o meu rosto que mais me parece um toque macio de seda pura. Parou apenas quando ficou impossível prender a respiração. Permaneci de olhos fechados. Não queria abri-los e muito menos me abster de seja lá o que é que eu estou sentindo.
E então eu comecei a rir e a me remexer igual uma retardada.
– O que você está fazendo?! – Gritei o mais baixo que consegui sem acordar a casa inteira.
– Na minha língua é comumente conhecida como cócegas. – Ironizou.
– P-Para! Eu não gost-to disso! – Reclamei começando a chorar de tanto dar risada.
– Mas você está morrendo de rir. – Argumentou ainda sarcástico e com os dedos dançando na minha barriga.
– Estou falando sério! – Esbravejei com o meu contorcionismo a todo vapor. Ele me prendeu entre suas pernas e eu não conseguia sair de perto dele e de suas mãos assassinas.
– Por que está chorando, docinho?
– Ora, seu...! – Fui xingá-lo mas uma gargalhada estridente me acometeu quando atingiu um ponto específico.
– Seu o que? Huh?
– APARVALHADO!
– Apar quem? – Franziu o cenho com os cantos dos lábios curvados para cima em um sorriso estúpido.
– Apar-va-lha-do!
– Me parece algo que o meu irmão de quatro anos diria. – Parei de me mexer igual uma doida embaixo dele.
– Você tem um irmão de quatro anos?
– Não, mas se eu tivessse, certamente seria o tipo de xingamento que ele usaria. – Respondeu com um risinho. Semicerrei os olhos.
– Você tem um irmão. – Afirmei.
– Tenho. – Confirmou sem rodeios.
– E por que eu não o conheci?
– Porque ele vive com o meu pai e sua nova esposa.
– Você disse que ele tem quatro anos mas Mary me contou que ela e se... Oh. – Entendi o ocorrido no meio da frase. Não conhecia Eric mas desgostava dele a cada dia. Como ele pôde trair alguém como Mary Jolivet?
– Vocês não são próximos?
– Nos vemos em datas comemorativas.
– Eu gostaria de ter um irmão mais novo.
– É mesmo?
– Sim. Você deveria ter mais contato com o seu. Sabe, não é culpa da criança.
– Eu sei.
– Uhm...
– O que foi?
– Nada.
– O que foi, Millie?
– Já disse que não é nada. Agora será que vossa alteza pode sair de cima de mim? Eu preciso respirar.
– Está dizendo que eu te deixo sem ar?
– Sim. Não! Eu quis dizer não. – O sorriso em seu rosto enlargueceu e então ele voltou para o seu lado da cama. Meu bom Deus qual o meu problema?
Após um bom tempo - diria vários minutos - em silêncio eu me virei de frente para ele.
– Está acordado? – Ele abriu os olhos no mesmo segundo.
– Sim.
– Está com sono?
– Não.
– Eu estou.
– Então durma.
– Não quero dormir.
– O que você quer?
– Não dormir.
– Você já está não dormindo. – Respondeu olhando como se eu estivesse louca. Eu fico assim mesmo quando estou com sono.
– É mas... – Bocejei. – Eu quero ficar acordada. Converse comigo.
– Sobre o que?
– Qualquer coisa.
– Me conte sobre sua mãe. – Mordi o lábio inferior. Pensei que ele fosse falar de qualquer assunto menos esse.
– Minha mãe... Bem, eu não convivi muito tempo com ela. Eu era muito pequena, tenho vagas lembranças apenas. Mas são lembranças que eu guardo com carinho.
– Estou ouvindo. – Disse com total concentração em mim.
– Quando eu era criança costumava a achar que ela fosse uma fada. Porque ela era linda. Tinha traços finos e delicados. E ela cantava para eu dormir. Sua voz era tão etérea.
Meu raio de sol
Minha pequena partícula de alegria
Brilha e irradia com seu sorriso
O céu quer você mas é minha
Meu raio de sol
Minha linda menina
É como a luz da manhã
Encanta e energiza
O céu quer você mas é minha
Minha pequena partícula de alegria
Cantei o último verso sentindo meu coração aquecer. Por meio minuto até me esqueci que Finn estava ali. Olhei em sua direção e ele ainda me fitava cativo.
– O que foi?
– Apenas te olhando.
– Tira um foto que dura mais. – Brinquei.
– Não preciso de foto se você estiver aqui.
E então num segundo eu estava sentindo as famosas borboletas no estômago e no outro eu estava envolta em seus braços.
Eu acho que precisarei de tintas rosa para cabelos.
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