1. Spirit Fanfics >
  2. Cook (for) me >
  3. Perda

História Cook (for) me - Perda


Escrita por: Moyashii

Notas do Autor


Sorry pelo título >.<

Boa leitura.

Capítulo 6 - Perda


Izuku

 

- Eu consegui, Okaasan!

- Esse é o meu menino!

Mamãe me pegou no colo, enchendo o meu rosto de beijos como modo de me parabenizar pelo meu primeiro “prato” feito. Era um simples omelete, um tamagoyaki que ela me ensinara quando eu tinha cinco anos.

- Acho que você merece um presente, Izuku.

Voltou a me por no chão, tão logo me entregando um pacote fico e retangular, aguçando toda a minha curiosidade.

- Um avental... meu?

Era personalizado com o meu nome e um desenho da nossa pequena família que eu fizera quando ainda mais novo.

- Assim você pode trabalhar com a mamãe.

Naquele dia, eu fiquei tão feliz e chorei tanto que mamãe pensou que seu filho acabaria desidratado, então passou a tarde de olho em mim, oferecendo-me um grande copo d’água a cada hora que se passava.

- Ne, Okaasan, você vai abrir um restaurante?

 

- Okaasan.

Meus olhos se abriram, porém demorou alguns segundos para que a minha visão conseguisse focalizar no rosto que me encarava.

- Kacchan?

- Como você está se sentindo? – sua voz saiu rouca e baixa e os seus olhos me pareciam um pouco vermelhos.

Ele estava chorando?

- O que... o que aconteceu?

Ao invés de me responder, Katsuki abaixa o rosto impedindo-me de ver o seu olhar e morde com força o seu próprio lábio inferior.

- Você vai se machucar! – minha garganta dói ao gritar.

Coloco a mão no local e noto que sinto uma pequena ardência até para falar, então volto a questionar sobre o que houve e dessa vez ele me responde.

- Nós estávamos jantando com o Kirishima e sua namorada. – começou e sua mão se encontrou com a minha. – De repente você recebeu uma ligação... era do hospital.

Enquanto ele falava, as peças se encaixavam em minha mente e quando tudo fez sentido, meu peito se apertou e doeu, mas eu não ousei chorar. Apenas neguei com a cabeça e forcei o meu corpo para fora daquela maca dura e fria.

A moça da ligação me informara da parada cardíaca que minha mãe sofrera naquela mesma noite, então eu surtei, levantando-me às pressas e derrubando a cadeira que antes estava.

Lembro-me de correr até a saída do restaurante, mas antes que pudesse pedir um taxi, Katsuki se ofereceu para me levar ao hospital e eu aceitei. Contudo, eles não me deixariam vê-la até me acalmar, o que só piorou a situação, logo os obrigando a me sedar.

- Se apoie em mim.

Katsuki pediu, seu semblante preocupado fez eu me sentir culpado, ainda assim aceitei a sua ajuda. Tudo em mim parecia meio dormente, mas não me impediu de guiar o loiro até o quarto de minha mãe, perdendo o ar ao vê-la ligada a ainda mais aparelhos.

- Okaasan. – murmurei choroso, fazendo de tudo para não parecer tão fraco a sua frente. – Esse é o meu namorado, Okaasan.

Ainda apoiado em Katsuki, acariciei o rosto mais frio do que eu gostaria, silenciosamente pedindo que abrisse os olhos e que uma vez mais sorrisse para mim.

Todavia, talvez fosse o meu egoísmo falando e talvez a minha mãe estaria melhor lá no céu do que em uma vida apática e sofrida na Terra. Era injusto mantê-la sofrendo aqui, certo?

Embora perdê-la pudesse me destruir, naquele breve instante eu soube o que deveria ser feito, então o fiz.

- É ele que vai cuidar de mim agora, Okaasan.

Por que tinha que ser tão difícil dizer adeus? Na verdade, por que nós já tínhamos que nos despedir?

- Então se você quiser... se você achar que tá muito difícil... você pode ir.

Agora não era mais possível conter o choro, permitindo que as lágrimas molhassem a minha face e os soluços preenchessem o vazio daquele quarto.

- Eu vou te amar para sempre, Okaasan.

Felizmente, os braços fortes de Katsuki estavam ali para não me permitirem cair no chão, como também para me passar um pouco de conforto, mostrando-se imensamente preocupado com o meu bem-estar.

- Prazer em conhecê-la, Inko-san.

Eu o vi sorrir gentilmente para a minha mãe, depois voltar a me fitar enquanto continuava falando, pouco a pouco acalmando o meu coração.

- Seu filho fala muito bem da senhora. – comentou de maneira amável, não fazendo ideia do quão grato eu estava. – Imagino que ele seja o seu orgulho... e o seu bem mais precioso, não é?

Cada parte do meu ser queria dizer “obrigado”, porém naquele instante me era impossível falar, eu apenas chorava enquanto escutava Katsuki falar sobre mim para a minha mãe.

- Está tudo bem, Inko-san, eu estarei lá para ele. – assentiu, fazendo uma pequena e breve reverência. – Eu prometo.

Então ele me abraçou apertado, permitindo-me chorar em seu peito e liberar parte daquela mágoa, daquela dor que vivia comigo, que me impedia de ser eu mesmo.

Não sei dizer quanto tempo se passou, mas em algum momento os meus olhos pareciam pesados e doloridos demais para se quer piscarem, ainda assim, não poderia me dar ao luxo de sair daquele quarto sem me despedir apropriadamente.

- Ne, Okaasan. – tomei um breve tempo para respirar. – Você sempre estará comigo aqui dentro.

Fechei o punho sobre o peito e engoli o choro, forçando um sorriso para que ela pudesse partir sem arrependimentos.

- Eu te amo, Okaasan.

Não foi como nos filmes, onde os batimentos começam a diminuir e o monitor de repente apita continuamente indicando óbito, mas lá no fundo eu sabia que o seu tempo já estava no fim.

Então nós saímos de mãos dadas e em silêncio, caminhando pelo corredor branco e frio até chegarmos ao estacionamento. Estava cansado, por isso mal podia esperar para chegar em casa e convencer Katsuki a dormir comigo, porque eu precisava do seu calor.

E honrando a sua promessa a minha mãe, ele cuidou de mim durante toda a madrugada, ajudando-me a dormir. Já no dia seguinte, Katsuki me trouxe café na cama e me mimou daquele sua maneira especial, até mesmo conseguindo me fazer rir em certos momentos.

É, ele era bom demais para mim.

- Você não pode passar o dia na cama. – reclamou, em pé e de braços cruzados, encarando-me.

- Eu sei disso, Kacchan. – resmunguei, encolhido nas cobertas.

Katsuki até poderia estar certo, mas a minha vontade de sair daquele conforto era menor do que zero, eu só queria ficar quietinho no meu canto.

- Então vá se trocar.

O tom autoritário quase conseguiu me convencer, porém como forma de protesto, cobri o rosto, impedindo-o de me ver e quem sabe fazê-lo desistir de me tirar da cama.

- Pode parar com essa putaria! – bradou, descobrindo-me. – Porque nós vamos sair e ter um encontro.

Talvez eu estivesse me comportando como uma criança mimada, suspirei derrotado ao notar que Katsuki estava realmente empenhado em me ajudar e que seria muito injusto ignorar o seu esforço.

Por isso, e só por isso, eu me levantei e me arrumei para o nosso “encontro”, não contendo a sua surpresa ao ouvi-lo anunciar que iriamos passear a pé.

De início achei estranho, mas logo compreendi o seu objetivo, afinal não a nada mais relaxante e caloroso do que andar de mãos dadas com a pessoa que a gente ama.

- Quando eu era pequeno, eu me sentia o rei dos pirralhos. – contou, sorrindo de canto e de olhos fixos no parquinho que estava do outro lado da rua. – O tempo passa rápido, não é?

Então se voltou para mim, pegando-me desprevenido e sem respostas, o que o fez rir e consequentemente esquentou o meu peito.

- Nós precisamos aproveitar cada momento, anjo. – seu olhar me manteve totalmente focado em si. – Por isso quero estar com você o máximo possível.

Nós voltamos a andar de mãos dadas e graças à segurança que Katsuki me passava, pude pensar mais claramente em suas palavras sem me preocupar com o que acontecia a nossa volta.

Era óbvio que ele estava preocupado com o meu psicológico devido aos recentes acontecimentos, contudo não me tratava como uma pessoa que precisava de ajuda.

Na verdade, Katsuki somente estava agindo como um bom namorado o faria, sendo cuidadoso e presente em um momento difícil de seu parceiro. E eu o amo ainda mais por isso, e um dia ele saberia, um dia eu lhe contaria.

- Nós podemos ir ao Museu do Lámen? – indaguei meio sem jeito.

- Aquele em Yokohama? – franziu o cenho, pensativo. – Dá pra ir de metro tranquilo.

Esbocei um sorriso com a sua aprovação e me atrevi a beijar a sua bochecha, tentando mostrar que os seus cuidados estavam sendo muito bem aproveitados.

&

O nosso passeio “barra” encontro estava sendo muito divertido, nós visitamos o Museu do Lámen e trocamos alguns comentários culinários sarcásticos que apenas a gente pareceu entender.

Depois fomos até uma das muitas lojas Pokémon, já que recentemente eu havia descoberto a paixão de Katsuki por todas aquelas criaturinhas, principalmente as do elemento fogo.

- Não seja bobo, Kacchan. – suspirei. – Ninguém vai te chamar de criança por ter um chaveiro do Cyndaquil.

Repeti pela décima vez enquanto andávamos pelo shopping no qual se localizava a tal loja, já havia se passado uma hora desde que ele fizera a compra e até agora estava murmurando sobre ter cometido um erro.

De repente, Katsuki parou e ficou me olhando como se estivesse decidindo se o meu argumento era válido ou não, mas antes que eu pudesse fingir o meu choque com a sua atitude afrontosa, pude ouvir a sua risada.

E aquele som me deixou sem palavras, todo apaixonadinho e enrubescido, apenas admirando as variadas faces de Bakugou Katsuki, meu namorado de inúmeras polaridades.

- Você tem razão, anjo. – admitiu por fim, deixando um beijo em minha testa. – Está com fome?

Assenti e logo em seguida voltamos a andar de mãos dadas, silenciosamente agradecendo por tê-lo por perto, pois Katsuki estava certo ao me obrigar a sair da cama.

A distração me impediu de ficar pensando no quadro de minha mãe, claro que um ou outro pensamento sempre acaba se sobressaindo, mas o meu loiro parece bem atento a cada uma das minhas ações.

Tanto que cheguei a pensar que podia ler o que estava em minha mente.

- O que acha de comermos fast food hoje? – sugeriu assim que chegamos à praça de alimentação.

- Eu topo! – ofereci-lhe um sorriso, ganhando um selar em meus lábios. – Mc donalds?

Usei o tom mais sugestivo possível, fazendo-o gargalhar pela escolha inusitada, visto que éramos apaixonados por comidas tradicionais, se é que me entende.

- Vamos! Vamos! – eu o apressei dado o tamanho da fila. – Que eu estou fome!

- E quando é que você não está? – zombou com um sorriso de canto.

- Você me respeita, Katsuki. – parei na fila e me virei para si com uma expressão séria. – Porque eu sou o seu chefe.

Invés de me responder, Katsuki umedeceu os próprios lábios e seu olhar me comeu por inteiro, sem exagero.

- Você tinha que ter visto a sua cara, chefe.

Tremi no lugar, sentindo todo o meu corpo arrepiado, mas antes que pudesse me recompor e protestar sobre o seu atrevimento, Katsuki beijou a minha bochecha.

- Você é lindo demais. – elogiou baixinho, aumentando não só a minha autoestima como também o calor em meu peito.

- Estou ficando mimado. – respondi envergonhado. – E acho que não preciso dizer que a sua beleza supera expectativas, certo?

- Não, não precisa. – sorriu convencido.

As nossas brincadeiras continuaram por todo o almoço, terminando apenas quando estávamos de volta a Tóquio, o clima rapidamente se tornando pesado assim que Katsuki estacionou em frente ao restaurante.

- Você não é obrigado a ir. – disse, permitindo-me deitar a cabeça em seu ombro. – Posso falar que você comeu algo ontem que te fez mal.

- Não posso ficar fugindo do meu próprio restaurante, Katsuki. – ditei o óbvio, ouvindo-o suspirar. – Eu só preciso de um tempo... pode ir indo na frente.

Nós ficamos em silêncio por breves segundos até que ele respirou fundo, depositando um beijo no topo de minha cabeça e saindo do carro sem dizer mais nada.

E assim que a sua figura sumiu de minha vista, eu me permiti chorar, eu me deixei sentir a verdade na pele, porque a minha mãe jamais veria o Inko Flavors, ela jamais saberia que o nosso sonho havia virado realidade.

Doía. Céus, como doía imaginar uma vida sem ela, pensar em tudo que ela me ensinara, cada sacrifício que fizemos juntos e cada conversa que tivemos sobre que tipo de comida nós serviríamos no nosso “futuro” restaurante.

A verdade é que o que estava me mantendo firme era a esperança de vê-la como uma das cozinheiras principais, mas agora parecia que todo o meu empenho, todo o meu esforço não valia de nada.

Sei que estou sendo injusto, e como sei, só que nada mais parece fazer sentido, sabe?

De repente, assusto-me com o tome do meu celular, porém ao invés de atende-lo rapidamente, fico alguns segundos apenas encarando a sua tela, decidindo a minha próxima atitude.

- Tsuyu-chan?

Acabo por atender, ouvindo-a respirar aliviada do outro lado, dizendo que já era a quinta vez que me ligava. Ao que parece, Katsuki havia lhe contado sobre o estado de minha mãe.

- Seu namorado estava preocupado e me pediu para falar com você.

- Eu estou bem. – funguei, quebrando totalmente a minha mentira. – Eu só não sei o que fazer sem ela, Tsuyu.-chan.

Voltei a chorar, permitindo que ela me consolasse, apesar de que a maioria das suas palavras não estava sendo processada pela minha cabeça, como se a lamúria me impedisse de ouvir com clareza.

Isso até Tsuyu dizer algo que me fez engolir o choro e concordar com a cabeça, porque ela tinha razão.

- Sua mãe não gostaria de te ver chorando desse jeito. – comentou de maneira gentil e voz calorosa. – E não se esqueça de que ela sempre estará com você, Izuku-chan.

Dito isso, ela perguntou se eu gostaria de passar um tempo em sua casa, mas neguei.

- Eu tenho um restaurante para administrar e um namoro para cuidar.

Limpei as lágrimas, concentrando-me em respirar devagar a fim de acalmar o meu coração.

- Mas você podia vir me visitar um dia desses. – sugeri.

Então ela prometeu que tentaria, embora a gravidez a deixasse meio lesada e toda dolorida, o que confesso que me fez sorrir.

- Mal posso esperar para conhecê-lo.

Minha prima estava de sete meses, portanto logo mais o bebê estaria entre nós, quem sabe mamãe ainda esteja viva até lá.

- Sabe, Izuku-chan, a tia Inko sempre nos disse para focar naquilo que nos faz bem.

Não sei se foi algum anjo ou apenas uma coincidência, mas assim que ela terminara de falar, Katsuki bateu no vidro do carro e eu tive uma certeza.

- Eu vou ficar bem, Tsuyu-chan... talvez demore, mas eu vou ficar bem.

&

Três dias depois, o médico de mamãe me ligara no meio da madrugada pedindo que fossemos até o hospital, e eu soube que ela tinha morrido, embora nenhuma dessas palavras tenha saído de sua boca.

Primeiro eu respirei fundo e tentei processar a informação, depois olhei para Katsuki que também havia acordado com o toque do celular. Perguntou-me quem era e tudo o que consegui dizer foi “hospital”, e como um bom parceiro, ele me acompanhou em cada etapa.

- Eu sinto muito, Midoriya-san, mas a sua mãe veio a falecer às duas horas e vinte e três minutos dessa madrugada.

“Informação demais, doutor” eu pensei, sentindo a mão de Katsuki em minha cintura, dando-me apoio. O médico continuou falando, mas meus pensamentos estavam bem longes, decidindo se deveria ou não entrar naquele quarto para ver o seu corpo na maca.

Talvez fosse uma péssima ideia, mas lá no fundo eu sabia que deveria, então engoli a minha vontade de fugir dali, e com um aperto em sua mão, Katsuki compreendera o meu pedido.

- Não pretendia te deixar sozinho. – respondeu assim que o médico se retirou, dando-nos um pouco de privacidade.

- Obrigado.

Então nós entramos no quarto, forcei um sorriso enquanto caminhava até a sua maca, observando o corpinho miúdo de tanto tempo em coma. Eu quis muito chorar, acreditem, mas as palavras de Tsuyu ficavam martelando em minha mente.

- Eu vou sentir a sua falta, okaasan.

Parece que eu não era tão forte assim para segurar as lágrimas, visto que a minha visão já está embaçada e as minhas bochechas molhadas. Fazia tanto tempo que eu não chorava daquele jeito, ajoelhado no chão por ser incapaz de me manter em pé enquanto me abraçava com força.

Tão logo, senti os braços de Katsuki a minha volta, o seu calor me ajudando a respirar mais devagar, acalmando o meu ser e diminuindo a intensidade das minhas emoções.

- Está tudo bem em chorar, anjo. – comentou assim que parei de soluçar. – Você só não pode parar de seguir em frente.

Concordei com a cabeça que estava encostada em seu peito, ouvindo o som do seu coração e recebendo o carinho de suas mãos, aquele momento me fez uma vez mais perceber o quão bem Katsuki me faz.

- Você vai estar comigo? – questionei, a voz mais baixa e rouca do que gostaria.

- Como se eu fosse te deixar escapar. – pigarreou, espantando parte daquele clima pesado. – Eu prometi pra sua mãe que cuidaria de você, lembra?

É, parece que finalmente escolhi o cara certo.

- Eu vou sempre te amar, okaasan.

Disse depois de me levantar com Katsuki grudado em minhas costas, permitindo-me sorrir sem forçar.

- E o nosso sonho vai continuar crescendo... eu prometo.

Silenciosamente, pedi que não se preocupasse comigo, porque eu tinha certeza de que Katsuki jamais me deixaria desistir. Com um último adeus, nós saímos do quarto e enquanto Katsuki me pegava uma água, eu sabia que tinha a obrigação de avisar aos nossos familiares e de preparar o velório.

Nós a enterramos naquela manhã de segunda-feira, não chovia, porém também não fazia sol, era o clima dos preguiçosos como dizia mamãe. Recordar-me de si ainda me doía o peito, mas um dia a saudade se tornaria um bom sentimento, é nisso que quero acreditar.

- Foi uma linda cerimônia. – algumas de suas amigas vieram falar comigo.

Foi uma conversa rápida, já que noventa e nove por cento das pessoas não gosta de prolongar após um enterro e eu, com certeza, sou uma delas. Por isso que agradeci aos céus quando Katsuki me puxou até o seu carro, dando-me um beijo nos lábios antes de começar a dirigir para bem longe dali.

O caminho foi silencioso e as nossas mãos ficaram se apertando como se para dizer que estávamos ali, juntos e firmes para o que der e vier.

- O que acha de comer um lanche e dormir logo em seguida? – sugeriu assim que entramos em sua casa.

- É uma boa ideia. – consenti, sentindo falta dos seus braços a minha volta. – Quer que eu faça os lanches?

Sem me responder, Katsuki me puxou até a cozinha, parecendo-me um pouco atento a sua volta como se temesse encontrar alguém.

- Eu faço o lanche. – virou-se para mim, sorrindo de canto. – E você fica aqui.

Colocou as mãos em minha cintura e aproximou os nossos corpos, logo em seguida me colocou sentado em cima da mesa, deixando-me levemente envergonhado.

- Kacchan. – murmurei. – Isso é injusto.

- Só fique quietinho, anjo. – beijou os meus lábios antes de se afastar e me dar as costas. – E aproveite a vista.

Seria mentira dizer que não gostava da maneira que Katsuki estava agindo para me distrair, para me impedir de ficar pensando na morte de mamãe. E eu o amo ainda mais por isso, acreditem.

Por isso fiz exatamente o que ele pediu, assistindo o seu quadril se mover de um lado para o outro enquanto preparava os lanches na pia. E com um sorriso bobo em meu rosto e sem que Katsuki pudesse ler os meus lábios, sussurrei um surdo “amo você”.

- Coma tudo. – ordenou, visto que eu não andava me alimentando muito bem e ele sabia disso. – Ou vai dormir sozinho hoje.

- Malvado. – fiz bico como uma criança mimada, mas não me atrevi a desobedecê-lo.

- Bom garoto. – fez um afago em meus fios rebeldes.

Nós comemos em um silêncio confortável regado de carícias tímidas e olhares apaixonados, depois rumamos até o seu quarto e deitamos juntinhos. Minhas costas sendo aquecidas pelo seu peito ao mesmo tempo em que o seu corpo me apertava contra si.

E por breves segundos, a dor da perda se tornou suportável e o meu amor por Katsuki pareceu recíproco.

- Estarei aqui quando acordar. – prometeu sendo mais carinhoso do que o normal.

Murmurei um simples “hai” e me acomodei em seu calor, logo me permiti fechar os olhos e descansar, porque eu sabia que ali em seus braços eu estaria seguro.

&

Felizmente ou não, os dias rapidamente se tornaram semanas e antes que eu me desse conta um mês se passara, trinta dias após a morte de minha mãe e ainda sou incapaz de conter as lágrimas ao lembrar de si.

Todavia, compreendo que a superação leva tempo e que, para uma pessoa sensível como eu, ficar sozinho no momento é como um pesadelo na vida real. Parte de mim quer acreditar que logo essa sensação de aflição passara, mas parece que acabei me tornando dependente de certo loiro.

Não que seja algo ruim, porém admito que me preocupa, não saber até quando ele ficará ao meu lado vem me assustando desde que perdi a minha mãe.

- Para de fazer essa cara de bosta. – rosnou em meu pescoço, mordiscando-o.

- Desculpe. – pedi, todo arrepiado. – Estou pensando demais. – confessei, pois falar com ele diminuía os meus receios.

Então o abracei, meu corpo se moldando ao seu enquanto nos aquecíamos por de baixo da coberta, trocando beijos e afagos gostosos, tudo sem pressa já que o restaurante não abria de segunda-feira.

- Você precisa de férias. – argumentou, erguendo o rosto e me fitando. – E nem vem com essa besteira de que o restaurante precisa de você!

- Mas ele precisa, Kacchan! – exclamei junto de um choramingo. – O Inko Flavors é o meu bebê, poxa.

- Acho que ele já é grandinho o suficiente para aguentar uns dias sem você.

Sua expressão se fechou o que claramente dizia o quão revoltado estava com a minha recusa em viajar consigo, mas não o culpava, afinal esse deveria ser o nono pedido que me fazia.

- Tsc... tanto faz.

Dito isso, ele se levantou e entrou no banheiro, fechando a porta com força logo em seguida, então eu me sentei na cama e suspirei. Se havia uma coisa que eu odiava, essa seria brigar com Katsuki, mesmo que os nossos desentendimentos nunca fossem tão sérios.

Eram brigas comuns de casais, mas ainda me deixavam apreensivo o suficiente para me fazer reavaliar todas as minhas atitudes, e acabar percebendo que eu estava sendo meio ingrato e desagradavelmente irredutível.

Então procurando um jeito de me redimir, entrei no chuveiro consigo e lhe abracei pelas costas, ouvindo-o reclamar sobre como eu parecia adorar estragar tudo que ele tentava fazer para me agradar.

Ali eu soube que Katsuki além de bravo, também estava magoado, o que era totalmente compreensível e por isso decidi interromper o seu monólogo.

- Eu sempre quis conhecer a Europa.

De imediato, ele se virou para mim, a água agora caindo sobre as suas costas desnudas e suas mãos me apertando a cintura.

- Isso é um fodido sim?

Vê-lo entusiasmado era um dos meus passatempos mais prazerosos e incapaz de recusar a sua proposta, acabei cedendo.

- Talvez. – brinquei, sorrindo como um bobo.

- Sem voltar atrás. – avisou, todo orgulhoso de si mesmo. – Essa porra vai ser inesquecível!

Então me beijou daquele seu jeito rude e gostoso que me fazia ir até o céu, fazendo-me pensar no quanto Katsuki me mimaria durante a viagem, e admito que a ideia me deixou ansioso.

E foi desse modo que o meu lindo namorado me convenceu a passar uma semana inteira longe do meu restaurante.


Notas Finais


Esse cap foi um pouco mais pesado, eu diria, mas é uma etapa natural da vida então espero que tenham gostado do jeito que mostrei as emoções do Izu >.<
Depois me digam o que acharam, please :3
Até!

Tumblr: https://moyashii.tumblr.com
Twitter: https://twitter.com/moya_7c
Instagram: https://www.instagram.com/moya_7c


Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...