Manhã de domingo.
Otto acorda e vê Luísa em seus braços, acordada, pensativa. Sorrindo, aproxima-se ainda mais, depositando um beijo no ombro dela, os braços circundando sua cintura de forma protetora.
-Bom dia... Está muito séria, futura senhora Monteiro. O que está se passando nessa cabeça?
Ela sorri de leve, se voltando nos braços dele, a mão contra seu peito, como se quisesse sentir as batidas do seu coração.
-Só pensando no quanto nossa vida mudou rápido. Há um mês e meio éramos amigos convivendo em prol da criação de uma adolescente. Agora temos um casamento e um filho a caminho. A vida pode ser tão maravilhosa às vezes...
Sorrindo, ele beija a testa dela, afastando os fios de cabelo do rosto.
-Só posso concordar. -Trocam um beijo suave. - Já pensou em como quer nosso casamento? Vou deixar que você decida. Sabe que não tenho grandes valores religiosos, ou talvez nenhum, mas teremos ambas as cerimônias se você quiser.
Ela sorri. Olha a mão com o anel que ele colocou ali na noite anterior, a pedra lançando um reflexo contra a pele dela na luz da manhã.
-Não é preciso. Queria que fôssemos só nós, uma cerimônia particular. Eu, você e Poliana. Nosso menino ainda não pode participar ativamente da cerimônia.
Otto ri, surpreso.
-Por que acha que é um menino? Eu acho que é uma menina.
Ela nega com a cabeça, rindo serena.
-Chame de intuição materna. Eu sei que é um menino.
Ele ri.
-Veremos. Bom, de qualquer forma precisaremos de testemunhas. Ao menos dois casais. O que acha de Sérgio e Joana? - Otto e Sérgio haviam ficado muito amigos no decorrer dos anos, graças ao trabalho competente dele na empresa. A amizade de Luísa com Joana era o complemento perfeito. Luísa concorda com a cabeça.
-Não poderia concordar mais. E o outro casal? - A escolha óbvia a deixou desconcertada. Não era segredo pra ninguém que o irmão não suportava o ex e também atual cunhado, mas Luísa queria ter a amiga consigo neste dia, e também o irmão, se este ao menos se comportasse de forma decente.
Como que lendo seus pensamentos, Otto suspira.
-Acho que devemos falar com seu irmão.
Ela morde o lábio, atraindo o olhar dele para sua boca. Ele desliza o polegar contornando seu lábio inferior.
-Faz ideia do quanto fica sexy fazendo isso?
Ela ri, e eles trocam um beijo profundo. Depois Luísa se vira novamente nos braços dele, até questioná-lo:
-Minha vez... Por que tão pensativo?
Ele pensa por alguns instantes. Depois fala, o tom baixo contra seu ouvido.
-Estava pensando que a vida é curiosa. Perdi uma filha, ganhei uma inesperadamente depois de perder doze anos da vida dela... E agora tenho você e teremos um bebê. E dessa vez vou poder acompanhar tudo, cada etapa do desenvolvimento, cada chute, seu nascimento, seu crescimento. É quase bom demais pra poder acreditar.
A menção à sobrinha falecida e à infância de Poliana entristeceu Luísa. Sabia que ele nunca deixara de sofrer pela filha perdida ou pelos anos que perdeu do crescimento da outra filha.
Se voltando e olhando fundo nos olhos dele, ela o acaricia suavemente o rosto.
-Talvez seja Deus compensando tudo o que você perdeu. Eu só posso pensar que certamente Ele está me recompensando depois de um casamento infeliz e de desistir depois de muito sofrer da ideia de ser mãe.
Otto suspirou. Seus pensamentos acerca daquele Deus onipotente ainda eram escusos. Querendo desviar do assunto, ele acaricia o rosto dela e sorri.
-Precisamos contar pra Poliana.
Ela percebe a mudança de assunto, mas não insiste. Concordando com a cabeça, ri baixinho.
-Encomendei algo pra nos ajudar na tarefa. Depois você vai ver.
Pouco depois eles descem para o café da manhã e Poliana chega da casa de Kessia, aonde tinha dormido. Quando os três se sentam à mesa, Luísa pede licença e volta à sala com uma caixinha na mão. Imaginando do que se trata, Otto pede para conversarem com a filha.
-Poliana, sua tia e eu queremos falar com você.
A garota ri.
-Meu Deus, fiquei preocupada. A última vez que tivemos que conversar foi depois de eu surpreender tia Luísa saindo do seu quarto usando sua camisa, pai. -Otto e Luísa riem, sem graça.- O que foi? -Ela olha de um para o outro e de repente abre um largo sorriso. -Vocês vão casar?
Luísa ri da torrente de palavras da sobrinha. Tira do bolso o anel que Otto tinha colocado em seu dedo na noite anterior e o coloca no dedo, então o mostra à Poliana. A menina fica encantada e os abraça, comovida. Luísa indica então a caixa sobre a mesa.
-Tem mais uma coisa, Poliana. Abre.
Surpresa, Poliana observa a pequena caixa de madeira trabalhada. Deslizando o dedo pelo fecho da mesma, abre-a devagar e se depara com um par de sapatinhos de tricô brancos, um pequeno coração vermelho do mesmo material e na tampa superior da caixa, a inscrição “Promovida a irmã mais velha”. A garota fica estática olhando a caixa, seus olhos se enchendo de lágrimas.
Luísa, que observava a cena em pé ao lado de Otto sentado na cadeira, aperta com força seu ombro, sem conseguir articular uma palavra. Otto percebe e segura sua mão, enquanto dirige um olhar buscando pelos olhos da filha.
-Poliana... Quero que você saiba que sua chegada na minha vida, ou na nossa vida porque tenho certeza que sua tia vai concordar, foi um presente maravilhoso. Você me fez mudar... A dor que eu tinha sentido quando perdi sua irmã e vi sua mãe indo embora só doeu menos quando você chegou. Demorou um pouco mas aos poucos pude construir com você a relação que eu sempre sonhei que teríamos. Indiretamente você me trouxe ainda mais felicidade quando trouxe a Luísa pra minha vida e agora sem que tenhamos planejado recebemos esta gravidez que nos deixou muito felizes. Esperamos que você também fique feliz, por nós e por você também. Você vai ter um irmão ou irmã daqui a cerca de oito meses, e esperamos contar com você pra recebê-lo com todo o amor que ele ou ela merece.
Poliana escuta as palavras do pai em silêncio, os olhos ainda fixos na caixa, o coração acelerado parecendo que ia saltar pra fora. Luísa sentiu o coração afundar com as lágrimas da sobrinha, mas quando Poliana levanta os olhos e vai até ela, Luísa sabe que tudo ficará bem.
Sem dizer nada Poliana abraça a tia apertado, um dos braços enlaçando também o pai, formando de novo aquele abraço a três que estava se transformando aos poucos em algo tão deles. A garota fala baixinho.
-Eu sempre quis ter um irmão ou uma irmã. Quando soube da Stela... -Sua voz falhou por um momento, mas ela continuou.- Eu não podia acreditar. Eu tinha tido uma irmã e não tinha tido a oportunidade de ser amiga dela, de compartilhar segredos, de crescermos juntas... E agora que pensei que nunca realizaria esse sonho, ele se torna real. Deus é tão bom! -Otto não fala nada, apenas as abraça mais forte enquanto Luísa dá um beijo na cabeça da garota. -Você tem sido uma mãe pra mim, tia. Uma mãe maravilhosa e sei que vai ser assim com meu irmão ou irmã. E você, pai... -Poliana olha para Otto, que sente o amor transbordar no peito ao olhar para a filha.- Você é um pai incrível. Os caminhos que a gente trilhou foram diferentes, eu demorei pra entender ou aceitar. E você esperou por mim, respeitou meu tempo, sem nunca deixar de cuidar de mim ou me apoiar. Eu te amo muito e sei que você também merece esse novo recomeço tanto quanto tia Luísa.
Otto não consegue falar, apenas dá um beijo na testa da filha, comovido. Luísa recupera a voz, abraçando forte os dois.
-Eu não poderia querer mais nada pra mim do que o que estou sentindo agora. Vocês três são tudo pra mim.
Poliana se afasta do abraço e olha para ambos. Se refazendo das lágrimas, aperta a mão da tia.
-Sei que é cedo, mas o que vocês acham que é? Menino ou menina?
-Menino. -Diz Luísa.
-Menina. -Diz Otto.
Poliana cai na gargalhada, acompanhada pelos dois.
-Será que é um de cada?
Luísa arregala os olhos. Mas sentia que não era, então olhou confiante para os dois.
-Não! É um menino, eu tenho certeza disso.
Poliana ri, mas depois fica séria e pensativa. Percebendo a mudança brusca na atitude da filha, Otto questiona.
-Poli? Filha, o que aconteceu?
Pensativa ela responde.
-No dia do meu aniversário eu tive um sonho... Sonhei que estava na sala e um garotinho vinha até mim com um coração azul de pelúcia. No dia achei bobagem, mas... Não sei. Acho que concordo com a tia Luísa.
Otto revirou os olhos, rindo.
-Ah, pronto. Duas contra um.
Todos riem e finalmente tomam café da manhã. Logo Poliana pega o celular ao lado e destrava a tela, recebendo um olhar contrariado de Otto.
-Filha, já conversamos sobre celular durante as refeições.
-É só um minuto, pai... Ah, achei. Olha, tia. Vou te mandar. Nesse site tem todos os nomes do mundo e seus significados. Pra vocês começarem a pensar no nome do meu irmão ou irmã.
Luísa agradece, sorrindo. Rolando a tela na mão da sobrinha, ela para o dedo sobre um nome aleatório da lista, e o mesmo se abriu, ocupando toda a tela. Ela lê em voz alta:
-“O nome Otávio significa Oito. O oitavo filho indica um pacifista nato. Ele faz o possível e o impossível para manter um clima amoroso e tranquilo entre as pessoas. Além disso, tem sempre um bom conselho para dar.”
Otto ri.
-Oitavo filho? Vamos deixar este nome mais pra frente então?
Luísa ri, deixando o celular da sobrinha de lado e voltando a comer.
-Meu amor, eu duvido que todos os Otávios do mundo sejam o oitavo filho. E o resto do significado é lindo... Além do que o nome me lembra o seu.
Eles trocam um olhar cheio de afeto.
-Podemos ao menos estar abertos a possibilidade de ser uma menina? Não quero que ela se sinta menos bem-vinda.
Luísa confirma com a cabeça, mas apenas para deixá-lo mais tranquilo.
-Claro... Quais nomes têm em mente?
-Gosto de Heloísa. De Laura, também. Talvez Aurora?
Poliana sorri.
-Gostei de todos... Mas se for menino, que tal Luís Otávio? Lembra vocês dois e combina muito!
Otto sorri, aceitando que nada tiraria da cabeça de ambas que o bebê seria um menino. Ele concorda.
-Eu gostei!
Luísa confirma com a cabeça, satisfeita.
-Eu também.
Entre risadas e brincadeiras, a comemoração do anúncio da chegada do novo membro da família se estendeu até quase a hora do almoço.
Continua...
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