História Coração De Diamante - O rei e a rainha dignos

Sentou-se no chão do corredor principal, encostada em um das pardes que mais pareciam banhadas a ouro, porque foi o mais longe que ela conseguiu ir. As lágrimas deslizavam por seus olhos, e a dor estava ali, silenciosa. Tal como o lugar em que ela se encontrava. Ela sabia que Mason estava sentado ao seu lado, mas, não queria falar com ele. Mason respeitaria sua decisão, porque a conhecia o suficiente para saber que era o certo a se fazer.

Emma tinha em sua lista de colegas do orfanato pessoas que conheceram seus pais após adultos, todos eles disseram que após esse primeiro encontro tiveram uma crise de identidade e se perguntaram quem eram de verdade, depois de conhecer seus progenitores.

Ela não estava tendo essa crise. Por mais incrível que soasse ela sabia muito bem quem era naquele momento, e quem foi por toda sua vida,  o que ela sentia de verdade; Era vergonha de si mesma. Todos os motivos que a fizeram ser quem era soavam vazios agora. Se transformou em uma pessoa ruim porque supôs que seus pais a haviam abandonado, só que no fim eles sempre a amaram, e não foi escolha deles a deixarem ir.

Doía tanto saber o que não teve, que ela só queria gritar, mas, não conseguia. Não tinha forças para tal ato. Estava fraca, e até respirar parecia complicado no momento.

Passaram cerca de meia hora ali, calados, e mentalmente Mason agradeceu o bom senso de todos, por não terem ido atrás delas, mesmo que no fundo soubesse que aquilo não tinha haver totalmente com bom senso, Joseph deve te-los dito que o príncipe saberia lidar com Emma melhor que qualquer um.

Mas, esse era o problema. Ele não sabia o que fazer. Não sabia como fazer com que aquela Emma que olhava para o nada, reagisse.

—Por que se apaixonou por mim? — de todas as palavras que eles esperava ouvir dela aquela não estavam incluída em suas expectativas. — Por que se apaixonou por essa pessoa tão odiosa? Você sabe, todos olham para mim, e ficam chocados com o jeito que eu tenho. — ela complementou com a voz sofrida.

Mason, ignorando sua posição de príncipe, e pouco se importando com o fato de que alguém poderia vê-lo assim se arrastou no chão, e trocou de lugar, de forma que pudesse ficar de frente para Emma.

—Emma, o maior erro de noventa e nove por cento das pessoas é ter vergonha de serem que são, é mentir a esse respeito, fingindo ser alguém diferente. A honestidade é a sua marca, a sua arma, e a sua defesa. Você não é ruim, é honesta sobre si própria. Quando somos honestos, as pessoas se assustam, e ficam chocadas. — ele tentou consola-la, da melhor forma que pôde.

Ela não disse mais nada, voltou ao estado de silêncio, e aquilo durou mais dez tortuosos minutos para Mason. Ele amava aquela garota demais, para aguentar vê-la chorando assim.

—Como se sente? — ele implorava por dentro para que ela respondesse.

—Estou triste,  assustada e com medo. Triste por ver como tudo está estranho, assustada por não saber que atitude tomar e com medo de me arrepender após ter tomado alguma. — revela, sem encara-lo.

—Você é esperta, e tem a mim. São dois ingredientes que farão com que você fique bem, independente da atitude que tomar. — Mason acariciou o braço da amada, sorrindo para anima-la.

—Se eu aceitar essa realidade, tudo irá mudar, não é? Deixarei de ser Emma Wright, e me tornarei a princesa perdida Miranda Aleanor. — falou, como se aquelas palavras a assustassem.

—Eu gosto da princesa Miranda Aleanor. — Mason revela. — Porque, não sei se você notou isso, em meio a essa tempestade, mas, essa garota estava prometida a mim, desde que nasceu, e eu sou basicamente obrigado a casar com ela. — ele destaca o ponto, tentando faze-la sorrir. Mas, não consegue.

—Isso é esquisito...Entende, é como se o destino nos dissesse que independente das nossas escolhas e das escolhas das pessoas a nossa volta, nós iriamos acabar juntos. No fim, estamos destinados a isso. — Emma abraça seus joelhos, e suspira, quando as lágrimas diminuem.

—Trina me disse uma vez que só se casaria comigo porque queria cumprir o destino dela. Mas, na verdade, esse sempre foi o seu. Temos um conto de fadas absurdo, Emma...Eu fui para aquela viagem, para esquecer que tinha que cumprir um trato horrível, e sem saber assinei minha sentença para cumpri-lo. Eu me apaixonei pela mulher que sempre foi minha. — o príncipe ri da ironia.

—Isso é tão estranho. — Emma afirma.

—Entende, que com isso tudo se resolve? Eu posso ser rei, e posso me casar com você. Porque de todas as formas, e jeitos, isso é o certo a se fazer. Estarmos juntos é certo. — ele quer que ela enxergue o lado bom em tudo aquilo.

—É, eu sei...Mas...Eu não sei o que fazer. — ela admite quase desesperada.

—Você só tem que escolher aceitar o fato de que é filha deles, de que encontrou seus pais, e de que agora será feliz. — o príncipe a ajudou naquilo. — Em todos os momentos existe uma escolha. Pode se agarrar ao passado, ou aceitar a inevitabilidade da mudança. E permitir que um futuro melhor se desenrole diante de você. Um futuro incerto que pode atrair até mesmo amigos incertos e familiares incertos. De qualquer forma, um novo destino está chegando. Quer você queira ou não. A questão é: Você irá controlá-lo ou ele vai te controlar? — perguntou firme.

Emma olhou para ele, de forma intensa. Tentando decorar cada detalhe do rosto daquele homem, que ela aprendeu a amar.

—Nunca pensei em como seria, se um dia descobrisse quem são meus pais...Mas, quer saber? Não haveria um cenário melhor que esse. — ela diz dando de ombros.

—Como assim? — Mason quer que ela se explique.

—Você está aqui, e eu sei que sempre estará, é isso que faz com que tudo se torne menos assustador. — Emma afirma. — Você tem razão, ser essa princesa ridícula significa que eu posso ficar com você, sem o mundo estar contra isso. Significa que posso ser feliz, de uma forma simples. Então, não tem como isso ser ruim. Sim, é certo, Mason. É a coisa mais certa que já aconteceu na minha vida. — ele segurou o rosto da garota que amava, e encostou seus narizes, enquanto ela continuava chorando.

—Você será feliz, Emma. Você será a mais feliz das mulheres. — Mason garantiu para sua futura esposa.

—E você será um rei maravilhoso. — ela afirmou, acenando com a cabeça e tentando sorrir.

Mason a puxou para seus braços, e deixou que Emma chorasse, tudo que tinha que chorar. Ali no chão, eles prometeram em silêncio, que estariam sempre um com o outro. E foi ali, que a sentença fora decretada; Príncipe Mason e Princesa Miranda, seriam, respectivamente, o rei e a rainha, mais justos que Gardênia já teve.

[...]

1 semana depois.

O pincel deslizou pela tela, com uma delicadeza que com certeza não pertencia a Emma. Sua mão desenhou com maestria uma nuvem azul, angelical, que a fez sorrir. Antigamente ela só desenhava um céu sombrio, agora seus desenhos remetiam a vida.

Os cabelos presos em um coque bagunçado, e o avental, facilitavam seu trabalho, enquanto ela passava mais uma de suas tardes em uma sala especial, que Mason disponibilizou para ela, no castelo em Gardênia.

Se deu por satisfeita quando inclinou a cabeça, e viu que o jardim do reino havia sido representado com riqueza de detalhes. É, até que ela se dava bem com a arte comum.

Ouviu passos vindo da entrada, e se virou, deparando-se com Trina, que acabara de chegar. A ruiva carregava consigo uma taça de martini, e sorriu para Emma, quando notou o que ela estava fazendo.

—Minha...Nossa mãe, também costuma pintar, ela diz que relaxa ela. Já que ser rainha é estressante. — Trina zomba, e beberica seu drink. Emma encara a bebida, e se pergunta onde ela arranjou aquilo. — Quer? — a ruiva oferece.

—Não posso beber. — Emma diz automaticamente.

—Por quê? — indaga curiosa, e a morena suspira.

—Ahn...Porque se eu beber um drink, não irei parar mais, e eu não seria nada bonito a futura rainha de Gardênia aparecer bêbada tão perto de seu casamento. — disse, desviando os olhos dos dela.

—Se você diz...Alias, tenho que te agradecer. — Trina afirma. — Fui preparada a minha vida toda para ser rainha, mas, no fundo, nunca quis ser uma. Agora, tenho a oportunidade de ser só a Trina...E posso ficar com Joseph. — diz sorrindo. — Depois da coroação vamos viajar, ele me levará para conhecer o mundo todo, e então, nos casaremos quando eu me sentir pronta. — anuncia.

—Fico feliz por você. — Emma disse sincera.

—Sabe que ficaria muito mais feliz, se tentasse se aproximar da mamãe e do papai não é? Já faz uma semana que descobriu sobre eles, e até agora está fugindo de uma conversa definitiva...Emma, eles não são tão insistentes, quanto eu sou...Consegui te convencer a ir com a minha cara em dois dias...Mas, quanto a eles, dê o primeiro passo, porque eles não sabem como lidar com a situação. — era verdade que estava fugindo de uma aproximação, mas, era porque não sabia também como se aproximar. Por sorte, seus pais estavam tão preocupados em achar provas contra o que Joseph acusou os Volk de fazerem que deixaram de lado a ideia de forçarem ela, a ser sociável.

—No momento, estou tentando não surtar com o fato de que eu que pensei que nunca iria casar, vou colocar um anel em meu dedo e uma coroa em minha cabeça, na próxima semana. — Emma diz, tentando soar divertida.

—Deve estar ansiosa para a vinda de seus amigos para a cerimônia. — Trina comenta, e Emma sorri, quando se lembra da reação que eles tiveram quando ela contou que era uma princesa, e que iria se casar com Mason tão rápido assim; Maggie gritou por meia hora, e Jake, ao contrário, ficou calado por um dez minutos, durante a vídeo chamada.

—É, vai ser legal. — fala sorrindo ainda mais.

—É claro que vai, todas essas pessoas, seus amigos, familiares e súditos, esperando você entrar em um belo vestido branco, em direção ao seu rei. — ela anunciou também sorrindo. Então, Emma lembrou-se do alvoroço que o reino teve quando foi divulgado, que em vez de Trina se casar com Mason, quem se casaria, era a primogênita, que eles nem sabiam que existiam.

—Nem me fale desse vestido. — Emma diz, revirando os olhos.

—Eu te proíbo de falar mal desse vestido, ele ficou perfeito em você. — Trina anunciou.

—Nós temos um conceito diferente sobre perfeição. — Emma implica.

—Com certeza, eu tenho um conceito correto, e você um errado. — a ruiva disse rindo.

—Claro, que eu não sei o significado de perfeição, nem sou eu que vou casar com Mason. — a morena ironiza.

—Eu namoro o Joseph, eu sei o que é perfeição. — Trina anuncia.

—Mason era virgem, e eu fui a primeira mulher dele...Acha que pode competir com isso?. — Emma piscou para a mais nova, que revirou os olhos.

—Você é uma idiota. — afirma, e a Aleanor mais velha, gargalha.

—Você era noiva do Mason, e nunca o beijou, você que é idiota. — zombou, mesmo que a ideia a irritasse.

—É assim, que é ter uma irmã? — Trina questiona.

—Basicamente isso. — Emma diz.

—Preferia continuar sendo filha única então. — fala divertida.

Emma esbarra no ombro dela, de propósito, e  sorri.

—Estou feliz por ter você. — Emma admite.

Ela não estava mentindo. Finalmente estava completa.