1. Spirit Fanfics >
  2. Coração Defeituoso >
  3. A Inconstância de Daniel

História Coração Defeituoso - A Inconstância de Daniel


Escrita por: GabsHL

Capítulo 4 - A Inconstância de Daniel


Daniel não soube dizer qual havia sido a decisão mais difícil para escolher naquele dilema: Engolir ou cuspir.

Engolir que Felipe houvera sido a pessoa com quem mais queimou a própria língua na casa. Ou melhor, com quem pagou com a própria língua na casa. Prior podia parecer mesmo um retardado, um sujeito que não precisava de álcool para parecer bêbado. Mas ele tinha uma alma, e também um coração. Um coração, que embora defeituoso, bombeava seu desejo por Daniel de maneira sincera e verdadeira.

Ou, por outro lado, Daniel poderia cuspir tudo aquilo que ocorrera entre Felipe e ele. Cuspir para longe qualquer linha de suspeita que surgisse entre os participantes restantes da casa acerca da crescente intimidade que envolvia Prior e ele.

E bem, no fim das contas, Daniel também já tinha engolido parte do brother naquela brincadeira do banheiro. O laço já estava forte demais para ser quebrado.

Prior não pôde conter o sorriso depois que se certificaram que o intruso, Hadson, havia deixado o local. Suas correntes sanguíneas, preenchidas pelo recente orgasmo, davam-lhe um ar de alegria ainda mais potente que o seu natural. Uma energia creditada diretamente a Daniel que o fizera gritar sem voz naquela noite.

Daniel, enquanto se vestia, preferira adotar o silêncio. Ele não sabia exatamente o que sentir, o que fazer ou dizer. Tinha sim gostado de seus momentos com Prior, mas algo em seu peito o queimava uma preocupação sem fundamento. Pelo que temia, afinal? Ninguém sabia, até então, - senão o próprio público do programa - seu envolvimento com Felipe. Talvez fosse a adrenalina, o retorno à realidade depois de um longo período articulado pelas leis da luxúria.

De qualquer maneira, Daniel não pudera resistir aos constantes sorrisos que Felipe o lançava enquanto também colocava sua roupa de volta. Ficaram por alguns momentos parados, apenas trocando olhares e sorrisos, um diálogo frenético e ainda silencioso. Tudo se encerrou pela parte de Daniel que afirmara que seria melhor voltar para festa antes que desconfiassem da ausência de ambos. Prior concordou e permitiu que Daniel fosse em sua frente, pois as garotas poderiam ser mais desconfiadas que os meninos. Daniel assentiu, e como despedida, beijou Prior uma outra vez.

De volta à festa, Felipe decidiu agir da maneira mais natural possível. Era ainda difícil evitar o olhar direto para Daniel, que de volta ao grupo das meninas parecia desconfortável com o possível interrogatório que elas o impuseram. Sentado no mesmo canto que da primeira vez naquela noite chamara Daniel, Felipe avaliou seus atos em linha cronológica. Desde que entrou, teria o público desconfiado de sua sexualidade? Haviam descoberto as inúmeras páginas referentes ao movimento LGBT que seguia? Qual seria sua imagem diante o público? O que achariam aqueles que assistiriam às imagens que, finalmente, expusessem sua natureza homossexual? Ficariam surpresos? Incomodados? Ou apenas diriam que Felipe Prior demorou muito para se revelar algo que sabia e escondia ser?

Prior jamais imaginou que chegaria àquele ponto. A chegada de Daniel mudara totalmente a direção de seus ventos. O brother o havia conquistado desde o primeiro instante na primeira briga que tiveram. Foi naquela briga que Felipe descobrira que carregava um coração, carregava a capacidade de se apaixonar e amar alguém como qualquer outro ser humano. Daniel havia sido seu ponto de ebulição, do derretimento de sua crosta para revelar-se um homem de natureza pura e espírito cadente.

Era assim que Daniel o enxergava? Como alguém para além de suas aparências? E quanto a suas más atitudes, Daniel confiaria em seu arrependimento? Ou o condenaria e fingiria que nada daquela noite havia acontecido?

Talvez fosse cedo demais para pensar em tudo aquilo. E de qualquer forma, sua cabeça doía sem parar. Felipe jamais teve tanta informação injetada de uma só vez em sua mente. Ele decidiu encerrar sua festa por ali e seguir para a cama, mesmo sem Daniel.

Daniel, do outro lado da festa, observava Prior se afastar da euforia. E só foi tirado do transe por mais uma enxurrada de perguntas das garotas que o cercava:

— Onde você estava? — Indagava uma, preocupada.

— Achei que tinha visto o Prior e você saindo do banheiro na mesma hora. Isso é verdade? —Perguntava a outra, transtornada.

— Por que você foi conversar com o Prior mais cedo? — Queria saber a outra, curiosa.

Tudo o que Daniel pôde fazer, para não levantar suspeitas, foi fingir de que não sabia do que elas estavam falando. Ou dizia que havia sido uma mera coincidência o momento em que Prior e ele haviam saído quase juntos do banheiro. Ou ainda que ele sequer considerava a possibilidade de ter algo com Felipe.

Daniel não tinha certeza se elas iriam acreditar em suas afirmações, mas sabia que ao menos ganharia o benefício da dúvida até que tudo entre Prior e ele se resolvesse. As meninas, depois de tanto insistirem, simplesmente desistiram de arrancar alguma resposta reveladora do recém-chegado brother. E com isso, a festa se encerrou de vez.

Foi na cozinha, na manhã seguinte, que a situação se tornou estreita para Daniel e Felipe. Eles eram incapazes de ignorar o clima tenso instaurado em sua união. Mesmo distantes, mesmo permitidos a manifestar indiferença, era impossível fugir das memórias da noite anterior. E mesmo que se esforçassem, podiam flagrar um ao outro a trocar olhares profundos e significativos.

O silêncio parecia a combustão para um fogo invisível. Mas mesmo sem palavras a dizer a Daniel, Felipe não pudera resistir à tentação de colocar tudo em que gostaria de expressar em uma única interrogativa:

— Gente, na época de escola, vocês já beijaram alguém no banheiro?

Muitos dos participantes presentes resmungaram sem entender a razão da pergunta descontextualizada.  Não entendiam por que Prior sorria de orelha a orelha. Muitos negaram realizar tal feito, e Daniel, do outro lado da cozinha, sentia a indireta de Prior corroer seu peito. Não sabia o que sentir, na verdade, e mesmo que quisesse odiar Prior pela ousadia, ele não conseguiria deixar as ações do rapaz de lado. A sua mera presença o afetava o humor, e confortável pela ignorância do restante da casa, ele decidiu dar a Prior o troco ali mesmo:

— Cara, no dia que você falar alguma coisa boca, eu juro por Deus que te dou um beijo na boca.

Daniel imaginou que Prior levaria algum tempo até notar o sarcasmo em sua resposta, mas se surpreendeu quando notou que o brother correu em sua direção, envolveu seu rosto com as mãos e depositou um beijo em sua testa.

Foi através daquele ato que Daniel percebeu que todo seu esforço para encobrir os vestígios de seu envolvimento com Prior havia caído por terra. Ele não poderia, é claro, reverter a situação com desculpas evasivas como havia feito antes. Embora Daniel não negasse sua atração pelo brother, e dissera a si mesmo, no momento do prazer, de que não jogaria pelo prêmio, ele conhecia os riscos de uma paixão daquela magnitude no alto tempo do jogo em que o atrito do grupo das garotas entre o dos garotos estava fervilhante. Ele queria salvar Prior, mas o preço que pagaria seria caro demais. Daniel não estava mais na casa de vidro, não sabia a reação do público e dos participantes da casa. Poderiam o eliminar de vez e assim perderia a chance de ficar com Felipe. Era uma escolha difícil, um novo dilema em que não sabia o que engolir ou cuspir.


Notas Finais


Não se esqueça de avaliar e comentar, se possível. A evolução do escritor se deve principalmente à críticas, elogios e sugestões de leitores. Obrigado!

Até mais!


Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...