Eu me virei e fiquei surpresa, Iori estava entrando na sala, ele se curvou levemente e fechou a porta atrás de si. Eu não via meu amigo desde o dia do acidente, ele não tinha aparecido para me visitar depois que eu saí do hospital e sempre que eu perguntava dele ninguém sabia me informar sobre nada. Ele não me olhou, apenas se aproximou do Mizukage e se curvou para ele entregando dois envelopes. O Mizukage abriu e leu em silêncio, com as sobrancelhas juntas até que se pronunciou
- O que significa isso? - ele fitou meu amigo
- Bom, Mizukage-sama...- ele começou
- Não quero que outras Vilas se intrometam em assuntos internos - ele disse baixo num tom ameaçador.
- Mas eles não estão se intrometendo - meu amigo justificou. Eu fiquei confusa, outra Vila? É provável que ele tenha falado com Konoha, mas por quê? - essas são assinaturas de alguns shinobis de lá que presenciaram o facto junto com os depoimentos de dois ninjas, um deles muito conhecido. Mas foram eles, eles sozinhos e não a vila que escreveu os depoimentos, o Hokage não teve nada a ver. Eu falei diretamente com os shinobis.
Eu fiquei surpresa, por isso então meu amigo tinha sumido por tanto tempo, ele andou ocupado tentando arrumar um modo para me ajudar. Fiquei pensando quem teria assinado o pergaminho, e os depoimentos, um com certeza era de Dango, ou melhor, de Nobu. O outro é que me inquietava, minha mente logo sugeriu uma opção mas.....era improvável que fosse ele.
O Mizukage pareceu abalado com aquelas cartas. Ele coçou o pescoço e encarou os papéis, parecia estar indeciso. Então ele se levantou
- Com licença, eu irei me retirar - ele anunciou indo em direção a porta de seu escritório - eu retornarei em breve com a minha decisão.
Ele passou pela porta e a fechou, deixando seu escritório num silêncio fúnebre. Até que Mangetsu o quebrou fazendo uma piada para aliviar o ambiente. Eu olhei para Iori mas o loiro não olhava na minha direção, decidi falar com ele para agradecer mas ele pareceu ler meus pensamentos e se afastou, ficando ao lado de Kenichi. Meus pais se aproximaram, tentaram me acalmar mas eu notei que eles também estavam ansiosos. Após quase 6 minutos o Mizukage abriu a porta, os olhos baixos no chão e sem dizer nada. Ele ficou atrás de sua mesa, olhou para todos os papéis e deu a sua sentença.
- Eu decidi que a senhorita poderá continuar a ser uma Kunoichi de Kirigakure -eu sorri aliviada, sem acreditar e todos atrás de mim suspiraram aliviados - mas....
- Mas...? - Mangetsu perguntou impaciente, expressando a tensão que todos sentimos
- Mas ficará suspensa e impedida de realizar suas atividades durante 3 meses - ele decretou se sentando em sua cadeira - essa será sua punição.
- Mas isso é um absurdo - o Líder se revoltou - senhor Mizukage-sama, veja bem o que ela fez! É um ultraje e...
- Você está insinuando que minha decisão não foi bem tomada? Está questionando minhas capacidades de julgar? - o Mizukage o olhou feroz
- Não, claro que não senhor - o líder baixou a cabeça
- Foi o que eu pensei - ele voltou a escrever nos papéis - e quanto a você líder, por ter atacado um companheiro de Vila pelas costas e ter agora uma atitude tão desrespeitosa eu te condeno a 3 semanas de suspensão e perda de ajuda de custos por 1 mês.
- Sim senhor, Mizukage-sama - o líder me olhou com rancor
- Dou esta reunião por encerrada, tenham um bom dia. - ele disse com os olhos ainda nos papéis e deu um aceno de mão
- Obrigada Mizukage-sama - dissemos todos juntos.
Eu me levantei sentindo minhas pernas falharem, era como se eu estivesse andando em gelatina. Eu quase não conseguia respirar tamanho era o alívio de não ser expulsa, mas uma leve revolta de instaurou, eu iria ficar 3 MESES suspensa. De qualquer modo era melhor do que ser expulsa, e isso graças a Iori-kun, se não fosse pelas cartas eu teria sido dispensada.
Meu coração batia intensamente, eu sentia minha mente tentando assimilar o que tinha acontecido. Assim que saímos da sala me senti ser envolvida por braços calorosos, me aconcheguei naquele abraço e senti o perfume doce de minha mãe. Eu a envolvi com meus braços e quase deixei algumas lágrimas escaparem.
- Deu tudo certo minha filha, eu disse que nós iríamos conseguir - ela sussurrou acariciando meu cabelo - Kami-sama nos ajudou. E Iori também
Minha mãe me soltou e foi abraçar Iori, eu aproveitei e abracei meu pai. Eu pude sentir o alívio nele, seus braços me seguraram fortes como se quisesse me passar a confiança e proteção de que eu estava precisando. E assim eu fui abraçando cada uma das pessoas que me ajudou e que se fez presente ali, abracei meus tios, Fumiko praticamente se jogou nos meus braços com os olhos cheios de lágrimas. Shin quis me estender a mão mas eu ignorei e o puxei para um abraço.
- Muito obrigada Shin-san, foi importante para mim - eu agradeci o apertando, ele parecia uma estátua de gelo imóvel no meu abraço.
- Não tem problema, você é uma boa Kunoichi, embora me desobedeça - ele disse me provocando e eu revirei os olhos rindo
Eu o soltei e fui abraçar minha sensei, eu sabia que ela iria se esquivar e rejeitar o gesto de afeto como sempre fez, e iria apenas dar leves tapinhas em meu ombro mas mesmo assim eu quis tentar. Para minha surpresa ela se deixou abraçar e me envolveu meio sem jeito com os braços por poucos segundos antes de se afastar.
- Pronto foi o suficiente - ela disse cruzando os braços. Eu a olhava estupefata - o que foi Izumi-chan?
- Você me abraçou - eu disse sem acreditar - a única vez que você fez isso foi quando você pensou que eu tinha morrido na nossa missão na ilha do norte.
Minha sensei deu de ombros claramente não querendo responder ao meu comentário. Eu procurei Mangetsu com os olhos, ele tinha ficado um pouco afastado enquanto eu abraçava minha família. Eu o encontrei ao lado de Fumiko e de uma outra garota que eu me lembrava de chamar Miku. Miku era uma Chunin que as vezes fazia o patrulhamento ao redor da Vila, ela ainda não tinha conseguido passar no teste para se tornar Jonnin, eu não sabia o que ela estava fazendo lá. O Hōzuki estava encostado numa parede, ele me olhou e sorriu do jeito que só ele sabia. Comecei a ir em sua direção quando alguém segurou meu braço.
- Izu-chan! - Kenichi me puxou para um abraço de urso - que susto, eu achei que tudo estava perdido mas graças a Iori nós conseguimos. Quem diria que aquele garoto iria salvar o dia
- É verdade, mas deu tudo certo - eu retribuí - e obrigada por ter se arriscado e me defendido
- Óbvio que eu viria te defender - ele disse ofendido
- Mas eu fico preocupada se o líder vai fazer algo contra você depois, seu pai também se preocupou
- Não se preocupe minha querida - a voz de meu padrinho surgiu, eu e Kenichi nos separamos - eu não permitirei que o líder faça nada contra meu filho, todos estão cientes da situação.
- Ainda bem Kusune-sama - eu sorri abraçando meu padrinho - muito obrigada
- Eu sempre estarei aqui para você minha querida - ele sorriu e Kenichi se esticou um pouco pigarreando, meu padrinho revirou os olhos - NÓS sempre estaremos aqui, eu, meu filho, você sabe que nossa família também é a sua.
Kenichi sorriu de modo exagerado, tentando imitar o sorriso de seu pai e balançou a cabeça, não pude deixar de notar como aquilo foi fofo. Pedi licença e fui atrás de Iori e Mangetsu, o de cabelos brancos tinha sumido junto com Fumiko mas meu amigo loiro estava ao lado de minha mãe escutando meu pai falar com Shin. Eu me aproximei deles, que andavam para a saída do prédio, e pousei minha mão sobre os ombros de Iori e de minha mãe.
- Olá, com licença - eu disse polidamente - Posso falar com você Iori-kun?
- Claro - ele disse de modo neutro - com licença
Nós nos afastamos um pouco, Iori estava um pouco calado no entanto nitidamente mais calmo do que quando entrou na sala do Mizukage. Assim que paramos eu lhe dei um abraço, ele retribuiu prontamente num gesto quase desesperado.
- Muito obrigada Iori-kun, você me salvou. Se não fosse por você...- eu comecei a falar mas ele me impediu
- Não fui eu, foi graças aos depoimentos dos ninjas da Folha, eu não poderia fazer nada. Foram eles que fizeram o Mizukage pensar - ele disse baixando o olhar
- Olha pra mim Iori-kun - eu disse sem acreditar no que ele tinha dito - se não fosse você a pedir os depoimentos deles eu duvido que eles teriam enviado por livre e espontânea vontade seus depoimentos e assinaturas, foi você quem foi atrás não foi?
- Sim, eu fiquei pensando durante a nossa viagem de volta como eu poderia ajudar sua situação - ele disse coçando a nuca - e o Líder pareceu respeitar o Hatake-sama então eu deduzi que talvez os depoimentos pudesse causar uma comoção mas...
- Exatamente - eu o abracei de novo - você foi incrível, eu nunca vou poder agradecer o suficiente o que você fez por mim. Nunca vou poder retribuir
O loiro me olhou intensamente com seus olhos verdes, quase pude sentir um ar mentolado e fresco sendo exalado por aquele olhar. Ele sorriu genuinamente e deu uma leve risada.
- Você não precisa fazer nada Izumi-chan, você salvou minha vida várias vezes então eu também precisava salvar a sua. Caso contrário quem iria me defender nas próximas missões? - ele deu de ombros e eu ri revirando os olhos
- Ah então foi por isso que você me ajudou? - eu disse brincando mas ele não riu
- Além do mais, você é amiga - ele disse me olhando timidamente - Eu sempre irei estar aqui, assim como eu sei que você sempre vai estar aqui para mim.
- Claro que sim Iori-kun, muito obrigada - eu dei palmadinhas carinhosas em seu ombro
- E também – ele disse fazendo um bico e virando levemente a cabeça para o outro lado com uma cara de criança enciumada – eu não ia permitir que você fosse para a Vila da Folha.
Eu o olhei espantada, ele falou com uma voz meio brava. Eu não acreditei que Iori ainda pensava no convite de Nobu. Eu comecei a gargalhar da atitude dele, e isso apenas o irritou mais, ele cruzou os braços e continuou com a cara birrenta
- Se bem que você ia ser a mais feliz do mundo, com Dango de melhor amigo, comendo o melhor Rámen do Ichiraku, seguindo regras shinobis que você não desaprova e nem te irritam. – eu ri ainda mais, já sentia as lágrimas rolarem pelo meu rosto – e o principal, quem sabe você não arranjava uma casa perto do Hatake?
Ao escutar isso eu fechei a cara e parei de rir, por que eles sempre tinham que colocar o Hatake no meio? Isso já estava começando a me irritar. Iori percebeu que tinha tirado o sorriso do meu rosto, fez uma cara vitoriosa e continuou falando
- Assim você podia ir pedir uma xícara de açúcar para seu vizinho e ficar pro jantar. Olha que lindo: você, Dango e o Hatake, comendo rámen numa fria noite de outono – ele abriu os braços como se anunciasse o nome de um grande espetáculo
Escutei uma risada abafada, olhei para trás e vi Kenichi ao lado de meu padrinho tapando a boca. Ele estava escutando tudo e se divertia as minhas custas. Eu lhe lancei um olhar irritado e ele fingiu não estar rindo.
- Hahaha, que engraçado você Myoga – eu falei mau humorada – por que vocês sempre inventam de colocar o Hatake no meio? Dango eu até entendo, agora ele? Não
- Aí Izumi-chan é que – ele começou
- É que nada – eu falei fingi do estar brava, mas logo ri – você é muito bobo com ciúmes. Konoha e legal mas não é meu lar, não é lá o de estão as pessoas que eu amo e com quem me importo – eu disse sorrindo mas meu amigo estalou a língua
- Tsc, tanto faz – ele deu de ombros ainda emburrado
- Para de birra, parece um bebezão – eu revirei os olhos – você ainda me deve uma taça de rámen lembra?
Ele assentiu com a cabeça, continuamos a andar para fora do prédio do Mizukage. Algumas pessoas já tinham se ido embora, mas as mais próximas estavam do lado de fora a minha espera. Continuamos todos falando como tínhamos tido sorte, e como Iori-kun tinha salvo o dia. Sem ouvir muito o que diziam eu procurei por Mangetsu, mas ele aparentemente não estava ali, nem Fumiko, será que alguma coisa tinha acontecido?
- Iori-kun - eu chamei - no meio dessa emoção toda eu esqueci de perguntar, sei que tivemos as assinaturas, mas de quem eram os depoimentos que você conseguiu?
- Um você já deve imaginar que é do Dango - ele disse rindo
- Sim, eu já esperava - eu confessei sorrindo
- Você sabe que eu queria um ninja que fizesse com que o Mizukage prestasse atenção na nossa situação, então pedi para o Hatake Kakashi - eu levantei às sobrancelhas, já desconfiava mas não levei a sério essa hipótese, parecia distante demais - Pensei que seria difícil conseguir esse depoimento dele, mas ele foi muito cooperativo e aceitou de bom grado, Dango me disse que ele até convenceu alguns membros da ANBU a darem suas assinaturas.
- Sério? - eu perguntei surpresa - não acredito, Hatake Kakashi, o ninja copiador me ajudou! Se isso tivesse acontecido alguns meses atrás eu teria tido um infarto aqui mesmo
Iori me olhou indignado, bufou e revirou os olhos antes de rir. Murmurou algo como “ só você mesmo, a sério, infartar só por causa de um depoimento”. Ele sempre reagia assim quando eu dizia essas coisas exageradas.
- Mas agora que eu o conheci pessoalmente e tive o que pode se chamar de mini conversa, fiquei extremamente grata, mas não vou infartar, pode ficar tranquilo - eu brinquei
- Então você finalmente conheceu um de seus ídolos, mas vê-lo pessoalmente quebrou um pouco o encanto da lenda do "Ninja copiador"?
- Nem por isso, só fiquei ainda mais impressionada com suas habilidades - eu disse sorrindo - mas antes ele era uma lenda sobre quem eu escutava histórias, mas agora é um ninja com o qual eu já tive a oportunidade de trabalhar junto.
- Entendi - ele disse sorrindo
Seguimos andando pelas ruas, cada um pronto para voltar aos seus afazeres diários e compromissos. Eu queria muito falar com Mangetsu, ele me ajudou e apoiou tanto nesses últimos dias, desde que eu saí do hospital. As vezes ele só vinha me fazer companhia ou me levar para dar uma volta, eu precisava andar um pouco e de apanhar ar puro. Ele só não estava comigo durante meus treinamentos de rastreamento com Ameyuri-sensei, ela dizia que ele era muito barulhento e isso seria problemático para nossa concentração.
Respirei fundo e me concentrei, consegui sentir a assinatura de chakra das pessoas ao redor, o modo como o chakra de cada um deles fluía. Aumentei a área de rastreamento, até que encontrei a assinatura de chakra conhecida, com a qual eu quase me tinha acostumado a estar ao lado. Ele não estava longe, estava perto de um lago da Vila e Miku estava com ele. Não conseguia entender porquê eles estavam tão juntos naquele dia.
- Izumi-chan o que foi? - a voz de Iori-kun me chamou
- Eu preciso ir - eu disse simplesmente
- Vai ver Mangetsu? - ele advinhou
- Sim vou, não consegui falar com ele depois da reunião e ele me ajudou bastante essa semana - eu expliquei
- Entendi, vai com cuidado. Depois vamos marcar para fazer alguma coisa, você precisa pensar no que vai fazer nesses 3 meses de licença - ele disse
- Eu acho que já tenho uma ideia - eu confessei mordendo o lábio inferior
- E eu acho que já sei o que é - ele sorriu de lado, e eu tinha certeza de que ele sabia.
- Depois falamos sobre isso, vamos marcar. Por agora, até mais - eu me despedi com um aceno
- Até mais - ele acenou de volta
Dei as costas para Iori e segui até o lago, ainda conseguia sentir o chakra de Mangetsu e de Miku, eu os tinha marcado em minha mente assim como Ameyuri-sensei tinha dito. Percebi quando a kunoichi pareceu se afastar dele, acelerei o passo. Eu ainda não podia correr como antes mas já estava melhor e conseguia dar corridas de ritmo leve. Miku logo se afastou mais e mais de Mangetsu e do lago, fiquei com medo de Mangetsu também ir embora. Fiquei feliz que ele não acompanhou Miku, assim eu poderia conversar com ele.
Fui me aproximando por entre as árvores, a névoa era mais densa ao redor do lago e alcançava quase a minha cintura. Mesmo de longe consegui avistar Mangetsu, ele estava parado a beira do rio de braços cruzados e de costas para mim. A espada Hiramekai presa em suas costas por uma espécie de cinto de couro, seus cabelos brancos balançavam levemente com a brisa húmida. Ele balançou um pouco a cabeça, deixou os braços caírem ao lado do corpo e começou a se afastar do lago. Eu então corri para sair do meio das árvores e chegar à orla do lago.
- Oe! Mangetsu-kun! - eu chamei acenando
Ele se virou surpreso, seus olhos se encontraram com os meus e ele abriu um sorriso mostrando seus dentes de tubarão. Algumas pessoas achariam esse sorriso intimidador mas eu apenas conseguia ver a doçura de Mangetsu transparecendo nele. Eu gostava como ele saía da sua postura séria e calculista quando estava comigo, ele se abria e mostrava seu lado mais dócil.
- Izumi-chan! O que faz aqui? Por que veio? - ele perguntou juntando as sobrancelhas
- Você fala como se não quisesse que eu tivesse vindo - eu disse com meu sorriso desaparecendo do rosto
- Não, não é isso, você sabe! - ele balançou as mãos explicando - eu só fiquei surpreso
Eu fui andando até o lago e ele me seguiu, me virei para Mangetsu que estava ajeitando as bandagens em torno de seu pescoço.
- Bom você não falou comigo depois da reunião com o Mizukage, então eu te procurei - eu expliquei - você sumiu depois que a reunião acabou
- Eu não sumi, você estava com sua família - eu levantei a sobrancelha - e me chamaram, eu precisei fazer uma coisa.
- Entendi - eu disse me virando para o lago - e a Miku veio te ajudar a fazer essa coisa? - eu tentei soar inocente
Ele não respondeu, eu fiquei olhando o lago calmamente enquanto esperava sua resposta. Depois de 10 segundos em silêncio minha paciência já estava acabando, me virei para olhar o Hōzuki que me encarava sério como se tentasse entender o que estava acontecendo. Eu forcei um sorriso mínimo com os lábios.
- Desculpe, não quis parecer intrometida - as palavras saíram deixando minha boca amarga, ele continuou me olhando em silêncio - bom.... só queria falar com você porque você me ajudou tanto essa semana e achei que poderíamos comemorar juntos a decisão do Mizukage, mas você não parece estar no clima e nem com tempo. Então... obrigada Mangetsu pela ajuda.
Eu baixei levemente a cabeça me sentindo envergonhada e com raiva de mim mesma, se ele quisesse falar comigo ele teria ido lá no prédio do Mizukage. Mangetsu já conhece minha família e eu conheço a dele, não teria problema se ele tivesse vindo. E agora ele fica me olhando em silêncio, de maneira calma e calculista isso me irritava tanto. Eu então dei o primeiro passo para começar a me afastar e ir embora.
- Eu achei injusto o Mizukage te afastar por 3 meses, mas pelo menos não cancelou seu registro ninja - ele disse de repente
Eu levantei o rosto para o olhar, ele tinha uma mão na cintura e tinha dado um passo para se aproximar de mim. Eu me virei para ele com as mãos na cintura.
- Sim, graças a Iori-kun e os depoimentos dos ninjas da Folha. Caso contrário o Mizukage ia ignorar tudo o que nós tínhamos dito - eu divaguei
- De facto - ele disse como se finalizasse o assunto. Reparei que ele estava aflito, o rapaz parecia ponderar cada palavra e movimentação dele- bom eu já estava saindo quando você chegou, então...
- Me desculpe ter vindo atrás de você, eu só...senti sua falta ontem e queria conversar - eu disse olhando em seus olhos antes de baixar o olhar, senti um desconforto no estômago – mas, acho que foi um erro. Não foi minha intenção te chatear.
- Você não me chateou - ele disse sorrindo - na verdade, você parecia brava quando chegou aqui, pensando em alguma coisa séria.- ele disse coçando a nuca.
Sim eu estava pensando no porquê você saiu do nada e com Miku e veio até o meio do nada com ela sendo que vocês nem conversam direito. Ela nem tinha motivos para estar naquele corredor bem no momento da minha reunião, ou talvez o motivo fosse ele. Tinha alguma coisa que Mangetsu não estava me contando, eu sentia isso em meus ossos.
- Não estava pensando em nada especial - eu menti - bom não vou mais te atrapalhar então. Quando você se encontrar hoje de novo com Miku-san por favor lhe diga que eu lhe enviei comprimentos por ela ter estado lá depois da minha reunião, muito gentil da parte dela - eu disse ironicamente
- "Quando eu me encontrar com ela hoje?" - ele disse levantando uma sobrancelha - você quis dizer "se" eu me encontrar com ela, certo?
- Ah, é isso mesmo, desculpe, me expressei mal - eu me desculpei apenas para evitar conflitos
Eu me controlava para não perguntar o que estava acontecendo, eu conhecia Mangetsu o suficiente para saber que ele não ia me dizer. Todos os seus sinais corporais indicavam que ele queria evitar o assunto.
- O que aconteceu Izumi-chan? Por que você está assim? - ele questionou
- Não estou de jeito nenhum – minha voz saiu um pouco mais ríspida do que eu tinha planejado - e você não estava precisando ir embora? Então vai.
Girei nos meus pés e começar a dar passos apressados para me afastar do local mas a mão de Mangetsu segurou a minha.
- Está fugindo de mim? - ele perguntou com uma voz rouca
- Não - eu disse me virando para tentar soltar minha mão - não estou fugindo.
- Então por que saiu tão apressada? - ele me puxou para perto e colocou as mãos na minha cintura.
Nossos rostos se aproximaram, eu prendi a respiração por alguns segundos e Mangetsu baixou seu olhar. Nessa última semana eu tentei me aproximar mais dele, mas eu não sabia bem como fazer isso. Eu aproveitei cada segundo ao seu lado e no dia antes da reunião quando ele não pôde ir me ver eu senti sua falta.
O sol saiu do meio das nuvens e nos iluminou, pude sentir o calor sobre minha pele. Naquele momento não pude deixar de apreciar como os olhos roxos de Mangetsu ficavam ainda mais bonitos sob o sol, eu consegui ver a pequena variação de tons de roxo em sua Íris. Percebi que ele também me olhava intensamente e eu corei.
- Não é só você que tem coisas para fazer sabe? - eu disparei tentando quebrar o clima que tinha começado. Ele me olhou arqueando uma sobrancelha e então começou a rir - está rindo do que?
- De nada - ele olhou para o lado ainda com o sorriso - sabe, se eu não te conhecesse um pouco poderia até dizer que...
- Dizer o quê? - eu juntei as sobrancelhas sem fazer questão de me distanciar dele.
- Que.... - ele me soltou, remexeu na garrafa de água presa em sua cintura e pareceu ponderar - nada, esquece.
- Você sabe que pode me dizer - eu reclamei me afastando um passo e vi uma excelente oportunidade para o alfinetar - agora vai começar a não me dizer coisas?
Me surpreendi ao sentir ele colar sua bochecha na minha, sua face estava fria contra a minha quente da irritação que eu sentia. Senti um arrepio na espinha.
- Então é por isso que você está mal humorada assim? - ele debochou carinhosamente - acha que eu não estou te contando alguma coisa?
- Eu não acho, eu tenho certeza disso - eu disse num tom de desafio - e eu te conheço o suficiente para saber que você não vai me contar, mas saiba Hōzuki, eu sei que está acontecendo alguma coisa e eu vou descobrir.
- Hōzuki? Nossa você está mesmo incomodada com essa história - eu separei minha bochecha da sua irritada - e eu que cheguei a pensar que você estava assim por eu ter saído com a Miku-san sem dizer nada.
- Mas que lata que você tem, sinceramente - eu disse o encarando, ele sorria minimamente - eu sei que ela está envolvida na história que você não quer me contar, e isso me irrita mais.
- Eu adoro te ver brava assim - ele disse se aproximando para me encarar de perto e poder rir da minha expressão brava, ele sabia o quanto isso me irritava
- E eu adoro....- senti o cheiro de Mangetsu, era erva-cidreira e orvalho. Antes que eu pudesse perceber deixei escapar o que eu tinha decidido lhe dizer no dia em que saí do hospital, depois de falar com a minha mãe - eu adoro você.
Pela primeira vez na nossa conversa ele pareceu se abalar, sua expressão calma e descontraída vacilou um pouco. Ele rodou os olhos pelo meu rosto como se procurasse pela explicação do que eu tinha dito. Aproveitei a proximidade de nossos rostos e num leve avanço de cabeça selei os nossos lábios.
Minhas mãos rodearam o pescoço de Mangetsu e as dele envolveram minha cintura. Eu já o tinha beijado, mas esse beijo pareceu muito mais cheio de significado, era a resposta para a pergunta que ele tinha me feito antes de me deixar em casa quando eu saí do hospital. Ele me beijou com desejo, de forma carinhosa, eu quase pude sentir a felicidade vindo dele e esperava que ele pudesse sentir a minha também. Por fim nos separamos para buscar oxigênio.
- Você.... o quê? - ele perguntou ofegante
- Eu gosto de você Mangetsu - eu confirmei, passei minha mão pela sua face acariciando o local - já faz um tempo que eu sei disso.
- E só me disse agora por quê? - ele riu roçando seu nariz no meu
- Queria esperar a reunião passar - eu expliquei e percebi que ele não tinha dito que também gostava de mim, resolvi ignorar - mas agora já respondi a sua pergunta certo?
- Um beijo não é uma resposta sabe? - ele brincou
- Eu também disse que te adoro, que gosto de você - eu lembrei enquanto depositava um leve beijo em seus lábios - acho que isso, seguido por um beijo já mostra o que eu quero. Eu quero ter...como você disse, mais momentos. Quero estar com você Mangetsu, quer dizer...se você também quiser estar comigo não é?
Ele não sorriu como eu esperava que ele iria fazer, mas seus olhos ganharam uma pequena chama no fundo de suas pupilas.
- Eu também te adoro Izumi - ele disse com uma voz intensa - eu gosto muito de você e com toda certeza eu quero estar com você.
Eu sorri e voltamos a nos beijar, acariciei os cabelos brancos e macios de Mangetsu. Senti os fios médios entre meus dedos e seus músculos dos braços nus sob as palmas de minhas mãos. Finalizei o beijo a contra gosto.
- Você não tinha dito que estava saída antes de eu chegar? Não precisava ir? - eu provoquei fazendo ele revirar os olhos
- Prefiro estar aqui com você, mesmo que depois eu vá levar uma bronca - nós dois começamos a rir
- Não quero que você se prejudique, é melhor ir - eu disse fazendo carinho em seu queixo - eu também tenho treinamento com Ameyuri-sensei daqui a pouco.
- Eu já vou levar bronca mesmo, mais vale aproveitar um pouco mais então - ele concluiu
- Vamos ter tempo depois - eu garanti
- Eu sei - ele disse já se aproximando para outro beijo.
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