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História Coral - A Filha de Coraline - Encontro sob a penumbra da noite


Escrita por: ElanePimentel

Capítulo 34 - Encontro sob a penumbra da noite


— Coral... – Rudy olhou para os lados como se certificasse que estávamos mesmo sozinhos na rua e voltou a me encarar — Você não pode ficar andando por ai sozinha, principalmente quando já está escuro.

Era estranho vê-lo ali depois de tanto tempo, depois de muitas lembranças nubladas, coisas que eu não tinha certeza se era real ou apenas um sonho, não conseguia lembrar claramente de como nossa amizade era, mas aquele garoto parecia sombrio e possessivo, não conseguia lembrar daquela personalidade dele ou aquilo era apenas mais um sonho. E estranhamente, aquela era a primeira vez que estava frente a frente desde que voltei, por um segundo um sentimento de raiva começou a me invadir, quem ele pensava que era?

— Você não pode falar o que devo ou não fazer. – as palavras saíram tremidas, não tinha certeza se aquilo era real então não poderia me dar ao luxo de confiar. Dei as costas pra ele, mas suas mãos quentes seguraram meu braço, e aquele toque me fez sentir coisas familiares que já havia sentido antes, aquilo me assustou, puxei o braço e olhei para ele furiosa. – Não encoste em mim.

— Coral, você tem que me ouvir, não é seguro...

— Ela falou para você não encostar nela. – a voz de Jack interrompeu o que Rudy estava prestes a falar.
Jack como sempre estava com olhar debochado e aparentemente ele e Rudy tinham um passado que eu desconhecia, o garoto que antes parecia um fantasma agora tinha sangue correndo em seu corpo, seu rosto estava vermelho e aquilo parecia raiva. Não queria que Jack aparecesse ali ou que tentasse me apoiar, eu sabia me defender sozinha.

— Sai daqui, esqueleto, ela não pediu sua ajuda. – Rudy sussurrou de forma sombria, estava claro que ele estava com raiva.

— Eu não pedi ajuda de nenhum dos dois. – falei antes que a situação piorasse. Comecei a andar mas Jack deu um passo e ficou na minha frente.

— Mas não vamos esquecer que hoje a Rowena e a turma de zangões dela quase acabaram com você. – Jack estava tentando me provocar, ele tinha aquele efeito em mim, sempre com o riso debochado, sempre me desafiando, eu queria socar a cara dele.

— Rowena fez algo a você? – Rudy perguntou, parecia confuso e ao mesmo tempo preocupado.

— Sua namorada só mostrou as garras, coisa que não me surpreendeu. – falei com tom de entediada, que realmente aquele papo estava me deixando com sono, já estava tarde, precisava chegar em casa. – Jack, me leva pra casa. – falei sem pensar, e pude ver o olhar do Rudy, era uma mistura de decepção com fúria, ele apenas subiu na moto e foi embora velozmente.

— O fantasminha está de tpm. – Jack brincou como sempre fazia sobre tudo, e me guiou para dentro do carro, não me sentia confortável em ir com ele, mas entre os dois ou ficar sozinha, Jack estava quase sempre presente desde que voltei pra casa, então escolher ele por um breve momento de companhia não me mataria.  

O caminho de volta foi exatamente como esperava, Jack fazendo brincadeiras sarcásticas e tentando me provocar, mas eu só conseguia pensar o quão estranho estava sendo desde que voltei pra cidade. A floresta ao nosso redor parecia mais densa e sombria, a noite era um total silencio e estava tranquila em estar dentro daquele carro, mesmo que a companhia não fosse a melhor, imaginar caminha a noite perto daquela floresta me dava calafrios. Comecei a pensar em Rudy e em como me irritou tentando me controlar, Jack era insuportável mas sempre me deixava livre, talvez a sensação que tinha de conhecer bem aquele garoto que no passado era meu melhor amigo fosse uma falsa sensação, e a verdade era essa, eu estive em um manicômio por muitos anos, sai sem saber o que era real ou imaginário, se conhecia aquelas pessoas ou não. Suspirei. Talvez nunca sai do manicômio.

— ... e você tem que mexer bem, porque assim fica mais gostoso. – Jack falava sobre algo que eu não fazia ideia do que era. Suspirei novamente. Aquela volta pra casa estava sendo muito longa ou ele estava enrolando pra ficar mais tempo comigo.

— Só quero chegar em casa! – falei, com tom de irritação. Estava irritada e com sono, só queria minha cama.

— Você já está em casa, boneca. – ele falou parando o carro na frente da casa de tia Mika.

— Não me chame de boneca. – falei, lembrando que alguém me chamava assim e que também não gostava daquele apelido.

Estava prestes a sair do carro quando observei a moto de Rudy parada do outro lado da rua e ele sentado na varanda, observando de uma forma que me deixou desconfortável. Ele parecia furioso e preocupado ao mesmo tempo.

— Ele parece um psicopata. – Jack falou olhando na direção de Rudy. E naquele momento ele não estava com aquela expressão brincalhona ou sarcástica de sempre, estava sério e continuava olhando pra casa na frente da minha. – Mas não é surpresa, levando em consideração com quem ele namora, ou mora.

Fiquei parada com a porta do carro aberta olhando agora para o rosto do Jack tentando processar o que ele acabará de insinuar. Rudy namorava minha prima Rowena, mas era com a Dra. Elza que ele morava. Elza...rella. Algumas lembranças perturbadoras invadiram minha mente. Lembranças? Uma mulher devorando uma criança no meio da floresta, uma mulher sem um olho, uma mulher velha que não era humana. Lembranças? Aquelas coisas realmente aconteceram? Sonhos, tudo aquilo não passavam de sonhos e pesadelos. Minha vizinha não poderia ser um monstro devorador de carne humana, Rudy morava com ela, era a sua avó. E meus pais haviam me abandonado ou tudo poderia estar ligado. Balancei a cabeça para afastar aqueles pensamentos, não poderia me dar ao luxo de pensar em conspirações, Dra. Elza pode não ser um monstro que come crianças, mas é alguém que quer me ver no manicômio novamente.

— Obrigada pela carona, esqueleto. – falei a última palavra sem pensar. Jack riu suavemente e pegou no meu queixo antes que eu pudesse sair.

— Confie na sua intuição, Coral. – ele acariciou meu queixo um pouco. – Você sempre foi a salvadora.

— Salvadora? – não entendi o que ele quis dizer com aquilo.

— Vá pra casa, acho que seu irmãozinho está precisando de você. – Jack falou e mais uma vez parecia serio e preocupado.

Desci do carro ainda tentando entender todas aquelas coisas que Jack havia falado, tentando entender aquela noite. Rudy que observava de longe ao ver Jack sair, pegou a moto e saiu na mesma direção. Não me importava o que aqueles dois iam fazer, se iam se matar, se iam pra lugares diferentes, estava exausta demais pra pensar neles, pra pensar em tudo que estava acontecendo, ou se realmente estava acontecendo. Mas Jack havia falado algo que concordava, meu irmãozinho precisava de mim, foi por Toby que prometi ficar sã, ele era o único que deveria ficar 100% nos meus pensamentos.

Entrei em casa esperando não dar de cara com Rowena, mas pra minha surpresa dei de cara com alguém que fez meu coração quase sair por a boca. Tia Mika estava em pé, parecia triste, e na frente dela estava Dra. Elza com um sorriso frio no rosto e só então percebi que Toby estava entre as duas.

— O que está acontecendo? – perguntei caminhando em direção ao meu irmão que parecia estar tremendo de medo.

— Querida, Toby está... -  tia Mika começou a falar mas foi interrompida por a Dra. Elza.

— Toby está doente, vim leva-lo para cuidar e tratar. – a voz dela era de uma frieza sem tamanho. Meu irmão não iria com ela.

— Ele não vai. – falei.

— Mas meu amor...

— Tia, ele não vai. Eu vou cuidar dele, ele talvez nem esteja doente. – olhei para a mulher que poderia ser um monstro. – Vá embora. É tarde da noite, meu irmão só está cansado. Ele precisa dormir.

Dra. Elza sorriu e cruzou os braços para trás, ela não parecia que ia contestar alguma coisa.

— Tudo ao seu tempo. – ela falou. – Creio que hoje não será possível levar o jovem, mas em algum momento será obrigatório.

— Não enquanto eu estiver aqui pra cuidar dele. – falei sem pensar em mais nada. Tia Mika também parecia aliviada por Toby ter ficado, por algum motivo aquela mulher tinha influência sobre ela, eu não conseguia entender o porquê.

Dra. Elza foi na direção da porta de saída, mas antes de sair se virou pra mim.

— Eu só estou aqui para ajudar, Coral, você mais do que ninguém sabe disso. Existem muitas crianças por ai precisando de... ajuda. – ela sorriu novamente, e por um momento vi seus olhos brilharem, um frio percorreu minha pele e me arrepiei, eu só queria sair de perto daquela mulher.

Levei Toby para dormir no quarto comigo e tranquei a porta rapidamente, meu irmão estava tão cansado que não demorou muito a pegar no sono. O mesmo aconteceu comigo e antes de adormecer só desejei não ser perturbada por pesadelos, queria apenas uma noite tranquila e um dia seguinte cheio de paz.

 

Acordei com a luz do sol entrando pela janela que eu jurava que havia fechado na noite passada, Toby dormia suavemente do meu lado, levante devagar para fechar a janela, percebi que lá fora algumas pessoas estavam amontoadas, conversando e agitadas, alguma coisa tinha acontecido. Sai do quarto e desci para conferir, Tia Mika assistia o noticiário com uma expressão triste, enquanto Rowena parecia não dar a mínima.

Uma criança havia desaparecido.

— Isso é muito preocupante. – tia Mika falou quando me aproximei dela.

Rowena lançou um olhar frio em minha direção.

— Talvez esse moleque virou o jantar de algum animal. – ela deu um breve sorriso. – Nessa floresta existem muitas coisas que nem conseguimos imaginar. Cuidado, prima, andar por ai sozinha pode ser muito perigoso.  



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