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História Coraline - 1 - Hospital


Escrita por: Bella56

Capítulo 2 - 1 - Hospital


Que dor de cabeça.
Meus olhos são invadidos por uma claridade forte me impedindo de abrir os olhos momentaneamente.. Sinto dor por todo meu corpo. Respiro fundo sentindo um cheiro familiar, droga, droga!
Abro os olhos e ouço os aparelhos do meu lado apitando e em um instante meu quarto está cheio de enfermeiras e residentes.
- Onde... - meu maxilar doi e eu quase nem movi a boca.
- Não se esforce querida. - ouço uma voz familiar.
- Bianca? - sinto dificuldades para respirar também, como se tivesse algo sentado em meu peito. Minha visão fica turva, mas posso ver que é ela.
- Xiii... Não tente falar. Estamos cuidando de você.
- Você? Cade meus... - começo a tossir o que me deixa ainda mais sem ar.
- Por favor, não tente falar.
A vejo com uma seringa nas mãos e então meu corpo relaxa me fazendo apagar.

Abro olhos de novo e meu quarto está escuro.
Meu não, um quarto de hospital. Vejo Bianca dormindo em uma poltrona ao meu lado. Um aparelho apita fazendo com que ela acorde.
- Querida, se sente melhor? - ela se levanta e passa a mão em meu cabelo.
- Não, eu não consigo me lembrar de nada. Odeio ficar confusa. - sinto meu peito se encher de medo e uma lágrima rolar pelo meu rosto fazendo com que ele comece a arder.
- Você não se lembra? - ela pegou uma pequena lanterna e jogou em meus olhos, um por um, para verificar minhas pupilas.
- Não. Não sei. - tento puxar algo na memória, em vão, só dor de cabeça.
- Qual seu nome?
Sinto minha cabeça latejar, mas eu me lembro quem eu sou.
- Coraline. - digo respirando fundo nervosa com tudo isso.
- Cora, se lembra como chegou aqui?
- Não. Eu me lembro de chuva, de Lacrimosa.... - Flashs vem em minha mente, todos embaralhados. -
Onde estão meus país?
- Cora, vocês iam viajar para a praia, você não lembra? - ela me olha com seus olhos verdes, vejo preocupação e cautela neles e olheiras enormes também.
- Para a praia - reconheço a informação - Eu me lembro.
Fecho os olhos e sinto dor de cabeça. Então vejo as imagens borradas de minha mãe sorrir pra mim no banco da frente, do clarão e do fim da música.
- Bianca, cade meus país? - sinto lágrimas brotarem dos meus olhos, não pode ser.
- Cora, foi uma batida muito forte. Eles não conseguiram... - vejo lágrimas caírem de seus olhos e ela já não sustenta mais meu olhar.
Ela não precisa terminar. Meus olhos se enchem de lágrimas. Viro o rosto para o lado e então o choro desesperado me invade. Coloco a mão no rosto e então vejo os machucados por todo meu braço.
- Leslie... - susurro para ela me virando de novo e ela só faz um movimento negativo com a cabeça.
Um choque paralisa meu cérebro. Eu só posso estar sonhando, Meu Deus.
Me viro para o lado sentindo muita dor em meu pescoço. Choro mais, e mais e mais. Não sei quando tempo fiquei ali chorando em silêncio. Todo enfermeiro ou residente que chegava Bianca mandava que saísse e eu via a pena nos olhos deles. Uma garota órfã, pensavam com certeza.
Fecho o punho segurando e apertando forte o lençol tentando controlar a dor que está dentro de mim, uma dor que remédio nenhum vai conseguir dissipar, mesmo chorando durante o mês todo, essa dor não vai passar.

Sinto as mãos de Bianca passando pelas minhas e segurando. Ficamos em silêncio por horas.

- Eu vou ficar aqui querida.
Foi a última coisa que ouvi antes de pegar no sono.

Acordo me sentindo com menos dores, mas minha cabeça ainda doi e abrir os olhos faz com que eles ardam. Não consigo falar, como se eu tivesse travado, nada que eu diga vai melhorar minha situação. Nada que alguém me diga vai.
Vejo Bianca com um médico a minha frente.
- Filipe, não a force.
- Está tudo bem Bia.
Vejo o olhar carinhoso entre os dois e lembro dos meus país. Sinto vontade de chorar mas as lágrimas não saem, meus olhos estão secos e ardendo.
- Cora, você está aí?
Mexo a cabeça de forma positiva. Estou cansada demais para falar e meu corpo parece todo travado, cheio de dores, pontos e remendos. Minhas costas estão me matando, mas a dor por dentro, essa é a pior parte.
- Eu só queria... - Filipe tira seus óculos e passa a mão no rosto. Posso ver que não dorme a dias e isso me faz questionar a quanto tempo estou desacordada?! O que em porta?!! Meus país morreram e nada vai mudar isso.
Bia coloca a mão em seu ombro.
- Desculpe querida. Estou com sono. - ele sorri pra mim, mas posso ver seus olhos cheios de lágrimas o que me faz chorar de novo, as últimas gotas que eu tenho.
Bia senta do meu lado e segura minha mão.
- Cora, estamos aqui com você. O que quiser é só nos dizer. Sei que o que mais quer não podemos proporcionar, mas você está se recuperando muito bem e logo poderá ir pra casa.
- Por que eu... - me engasgo com meu choro - por que eu não morri?
- Não diga isso. - é a vez de Filipe falar.
- Você foi lançada para fora do carro querida. Seus país ficaram presos no sinto de segurança... - ela abaixa a cabeça e Filipe a olha com ar de repreensão.
- Meu Deus... - é tudo que consigo dizer e começo a chorar mais.
Filipe chega mais perto.
Eu os conheço, são grandes amigos dos meus país. É aqui que eles trabalhavam por isso o cheiro me é tão familiar, por já ter passado tanto tempo aqui.
Uma enfermeira chama por Filipe e faz um sinal dizendo que quer falar com ele lá fora. Ele coloca seus óculos de novo e então sai.
Olho para Bia, não quero dizer nada, e ela entende. Ela só coloca a mão em minha testa.
Fico de olhos fechados até ouvir alguém gritar no corredor.
- Mas ela ainda não está bem!! Ela tem que ficar conosco. - ouço a voz de Filipe.
- Não posso esperar mais, já se passaram dias. - é a voz alta de um homem que não conheço.
Bianca vira espantada, logo aperta minha mão mais forte. Um homem engravatado entra no quarto. Ele é um homem de uns quarenta anos, alto e tem o cabelo puxado para trás com gel. Seus olhos são azuis gélidos.
- Coraline Hastings ?
Sinto medo ao ouvir ele pronunciar meu nome.
Olho assustada para Bianca.
- Tudo bem, não precisa dizer nada. Vejo que é a mesma, pelos olhos. - ele sorri de leve me fazendo soltar o ar que prendia em meus pulmões. Nem percebi que tinha parado de respirar por alguns segundos.
- O que quer? - diz Bianca um pouco mais descontrolada que o normal, quase perdendo a calma.
Filipe se encontra atordoado atrás do tal homem.
- Sou advogado dos Hastings e fui contratado para ser acionado caso a morte dos dois ou a de um deles.
É a primeira pessoa que diz a palavra "morte" diretamente isso me faz chorar. Foi um choque, uma facada.
Meus país estão mortos e nunca mais vão voltar.
O homem parado na minha frente abaixa o olhar.
- Me perdoe senhorita Hastings.
- Ainda é muito cedo. Ela está em estado de choque. O senhor deveria fazer isso acompanhado de um psicólogo senhor. - diz Filipe de maneira dura e igualmente nervosa.
- Bom, eu li psicólogo escrito em seu crachá senhor, imagino que seja o psicólogo dela. - diz o homem deixando sua maleta sobre a cadeira agindo com calma.
Filipe abre a boca e depois fecha, pensa um pouco, recobra a postura de médico passando a mão pelos cabelos e fala:
- Como psicólogo acho que é muito cedo para tratar de assuntos assim com uma menor que sofreu uma perda muito grande.
- Deixa, eu quero ouvir. - digo já cansada de tudo isso, me apegando as informações sobre meus país que o homem desconhecido tem. Mesmo com o coração sangrando por dentro.
Todos se olham.
- A senhorita ainda é menor e não pode gerenciar o capital de seus país. Neste caso eles deixaram uma pessoa como sua tutora no caso de sua.... Falecimento. - ele diz a palavra baixo e dessa vez com cautela.
- Para quem? - diz Bianca de forma rude e alta. Sua postura é cansada.
- Para o tio da garota, senhor Lucio Hastings de Alcântara.
O ambiente fica silencioso, meu cérebro não processa direito o que ele disse, ainda estou anestesiada com tudo que aconteceu. Memória cheia!

Eu tenho um tio? Não só eu, mas Bia e Filipe também se espantam.
Não pode ser, minha mãe e meu pai nunca falaram dele, nunca mencionaram um tio.
- Cora tem um tio? - Filipe olha para Bianca sendo o primeiro a conseguir falar depois de tudo isso.
- Não pode ser, Alícia nunca me disse nada, Richard também não. - Bia diz baixo como quem quer reorganizar os pensamentos.
- O senhor Lúcio é meio irmão do Senhor Richard Hastings senhores e senhorita.
- Co-como? - só o que consigo dizer.
Fora meus país eu não conhecia família.
Soube que meus país sempre tiverem problemas familiares e acabaram fugindo juntos, mas meus país me disseram que meus avós já tinham morrido. Eu nunca passei o natal na cada de avós e nunca tive tios nem primos.
Sempre fomos nós três.
- A Cora não conhece esse tio, ela deveria ficar conosco. - diz Bianca de forma firme, mais até que Filipe.
- Senhora, a um documento assinado por Richard Hastings, Alícia Hastings e Lucio Hastings de Alcântara dizendo que se o casal viesse a falecer e sua filha fosse menor, quem cuidaria dela seria o Dr. Lucio.
Ele é da família dela. É o que tem que ser feito.
Todos acompanham o olhar do tal homem até mim, eu sinto vontade de sumir, da cama me absorver e eu desaparecer. Meus país me esconderam um tio. Por que?Por que me deixariam aos cuidados dele se nunca tiveram o interesse de apresenta-lo?
- Onde vive esse homem? - diz Filipe parecendo mais calmo.
- Em Seattle, em Washington.
Todos ficam paralisados menos o advogado. Sinto um ácido queimar minha garganta e antes que eu posso pensar viro para o lado e vômito e depois começo a tossir.
- Cora. - Bianca segura minha cabeça e aperta o Botão vermelho que serve para chamar os enfermeiros.
Três enfermeiros entram correndo e começam a fazer exames em mim.
- Será que o sistema digestório dela está com problemas? - diz Bianca segurando minha mão.
- Não senhora. Nos exames não deu nada. - diz uma enfermeira.
- Bianca, acho que é só estresse pós traumático. - diz Filipe passando a mão na minha cabeça.
- Dêem um sedativo para ela, ela está cansada, precisa dormir. - diz Bianca e logo depois vejo tudo apagar.

Abro os olhos e levanto, sentando na cama. Minha coluna doi, mas doi muito, e minha barriga também.
Tiro o cobertor de cima de mim e então vejo que uma das minhas pernas está enfaixada, que meus pés estão inchados e que há machucados e em alguns lugares até faltam pele. Mesmo nunca tento me machucado assim, não fico assustada, na verdade eu lamento por ter sido só isso.
Olho para o lado e vejo Cloe me olhando da porta.
Olho para ela e então ela vem em minha direção e me abraça forte, juntando todos os meus pedacinhos e até fazendo tudo doer.
- Eu sinto muito. - ela chora alto.
Eu só a abraço.
Me enrosco em sua cabeleira loira. Ela se afasta de mim e eu posso ver seus olhos castanhos, vermelhos e inchados.
- Eles só me deixaram te ver agora. Eu trouxe chocolates. - ela diz mostrando a caixinha de chocolates e limpando o rosto.
- Obrigada. - meus labios tremem.
Ela me abraça e nos duas choramos até eu ter coragem de contar.
- Eu vou para os Estados Unidos. - digo baixinho.
- Como assim? - diz Cloe se afastando de mim um pouco.
Seu arquinho preto se destaca em seu cabelo loiro e sua pele levemente bronzeada. Ela está com um vestido preto com as mangas longas de renda. Seu rosto é redondo e delicado.
- Eu tenho um tio lá. - digo baixo.
- Como assim? Você tem um tio? Nos combinamos de ir juntas aos Estados Unidos, você não pode ficar sem mim, você precisa de seus amigos agora. - ela age como Bianca.
- Eu acho que não tenho escolha. Foram meus pais que determinaram ele como meu tutor. - digo voltando a deitar por sentir muita dor.
- Mas e o Filipe e a Bianca?
- ela me ajuda.
- Tentaram impedir, mas está no testamento deles, e eu sou menor, eu não escolho. - digo chorando de um jeito calmo.
Cloe abre a boca para dizer algo, mas até ela sabe que não tem como mudar isso. Seus país são advogados e eu sei que ela sabe.
- Maldito caminhão... - ela diz baixo e me abraça.
- Você sabe o que aconteceu? - meu corpo arrepia todo.
- Eu não deveria... - ela se desvencilha.
- Por favor, eu tenho que ouvir de você. - digo procurando olhar no fundo de seus olhos, preciso saber.
- Amiga, deu em todos os jornais. - ela solta de uma vez - Muita gente do colégio veio até aqui, mas os seguranças lá fora não estão deixando ninguém entrar. Eu só consegui por causa da Bia. Um caminhão pegou o carro dos seus país fazendo com que eles tombassem. O carro pegou fogo e... - ela chora e tenta limpar o rosto.
Choro em pensar em meus país queimando. Na verdade não tenho palavras pra descrever a sensação. É uma dor, um vazio, uma coisa tão real que pode ser arrancada com a mão, mas não real o bastante para ser tirada em cirurgia. Eu nunca mais vou ver meus país.
- Você sobreviveu por que estava sem sinto e foi jogada para fora do carro. - diz Cloe.
- Minha mãe pediu que eu colocasse, mas eu tirei quando fui dormir. Eu queria ter obedecido ela. - digo chorando e abaixo a cabeça, sentindo a culpa e o arrependimento me consumirem.
- Não dia isso amiga! Eu sei que é doloroso. Eu não consigo nem imaginar a dor que você está sentindo. Mas não pense assim.
Cloe deita comigo na cama e nos ficamos ali abraçada até ela ter que ir embora.

Um mês depois....

Prendo meu cabelo em um rabo de cavalo no alto. Meus braços ainda doem muito, a vontade é de não sair da cama nunca mais, mas eu tenho que ir. Olho no espelho e vejo alguns cortes no meu rosto, e pescoço, mas não é nada comparado as cirurgias que tive que fazer e os problemas que venho enfrentando.
- Se quiser, eu trouxe maquiagem para disfarçar os machucados. - Cloe tentando me animar, mas a verdade é que eu não me importo.
Coloco um vestido azul escuro que vai preso até a cintura e depois solta indo até acima do joelho. As mangas são longas escondendo os cortes em meus braços. Minha perna ainda está enfaixada me fazendo ter que usar cadeira de rodas por enquanto. Cloe tenta dar o seu melhor para melhorar minha imagem, e eu reconheço o que ela está fazendo, mas eu não quero, acho que mesmo com a maquiagem mais linda eu não estarei bonita.
- Eu não me importo Cloe. - digo segurando em sua mão e ela sorri de leve para mim. Sei que ela entende.
Olho no espelho de novo e tenho vontade de chorar ao ver meus olhos. Meus olhos são idênticos aos do meu pai. Grandes e azuis. Minha mãe tinha o cabelo médio e castanho. Meu pai a pele branca, o cabelo loiro e os olhos azuis.
E eu fiquei com o cabelo castanho, a pele branca e os olhos azuis. Meu cabelo é tão idêntico a o da minha mãe, menos no tamanho e no volume. O dela não era tão grande.
- Tira os espelhos daqui Cloe. - digo colocando a mão no rosto. Ela logo tira o espelho e me abraça.
- Amiga, eu não sei nem o que te dizer. - respiro fundo engolindo o choro, mas Cloe não faz o mesmo deixando algumas lágrimas caírem. Tem sido assim o tempo que estive aqui. Todos que chegam perto de mim choram.

- Ser parecida com seus país está sendo difícil para você? - Filipe entra. Não sei a quanto tempo ele está ali.
Mexo a cabeça positivamente.
- Não pense assim querida. Pense que é o legado deles que você está levando.
Não consigo mais chorar, mas sinto uma tristeza imensa dentro de mim.
Sento na cadeira de rodas e sou empurrada por Filipe, pelo hospital.
Quando chego a o holl de entrada, ele está cheio de médicos, residentes e enfermeiros. Alguns amigos do colégio também.
Abaixo a cabeça e olho só um pouco. Todos se juntam e olham pra mim e começam a bater palmas. Não sei o que está acontecendo, mas eles sabem que vou embora e isso me comove. Vejo o Diretor do hospital, Clark vindo até mim enquanto as pessoas ainda batem palmas.
- Eu sinto muito por seus país Coraline, foram grandes médicos e o hospital vai sentir muita falta de vocês aqui. Você nasceu aqui menina. - ele diz beijando minha testa com a voz cheia de emoção e me entrega um quadro com uma foto da minha mãe me segurando na entrada do hospital quando eu era recém nascida e tem vários médicos do lado, e meu pai. A verdade é que eu cresci aqui, e ir embora é doloroso demais, mas talvez ficar seja pior.
- Vou sentir falta de vocês. - digo abraçando ele forte.
- Em nome do hospital eu lhe desejo uma boa viagem, e nos estaremos sempre aqui se precisar Cora. - Diz Clark em meu ouvido.
- Obrigada. - digo com a voz embargada.
Alguns amigos do colégio vem me abraçar e me dizer Adeus.
Não posso dizer que não fui amada. Professores, vizinhos, amigos, médicos e até pacientes dos meus pais vieram se despedir e trouxeram lembranças com eles.
Eu vivi em São Paulo minha vida toda e meus país viveram por muito tempo aqui, com isso acabamos juntando muitos amigos.
Os país de Cloe me abraçam e me deixam claro que se eu precisar deles, eles estarão comigo. Cloe me da um colar com um pingente pequeno de coração prata e ela mostra o dela, nos nunca vamos nos separar foi o que ela disse, e disse que eu teria que viajar para voltar e visita-la.
Sinto um pouco melhor com todo esse amor, mas então vejo o advogado de meus país chegando e o ar fica gelado, como se a realidade tivesse entrado pela porta da frente.
Ele vai me levar para o aeroporto. Claro que Bia e Filipe vão comigo.
Entro no carro preto com a ajuda de enfermeiros, e olho para trás tantas pessoas e até mesmo jornalistas. Vou deixar todos para trás, até o Brasil.
Encosto a cabeça no banco do carro e olho para Bia.
- Vamos passar no cemitério primeiro para que possa se despedir de seus país.
Ela fala e deixa uma lágrima escapar de seus olhos. Seguro meu celular firme em minhas mãos. Ganhei um de Filipe que disse que não perderiamos contato nunca, que eu sempre poderia voltar.
Começo a chorar baixo por estar dentro de um carro de novo. Bia entende e me abraça. Fico nervosa com cada movimento do carro, mas estou sobre efeito de remédios ainda e o medo só se expande por dentro.
Antes de tudo acontecer eu fui diagnosticada pelo meu pai com crises de ansiedade, imagina agora, dentro de um veículo.
Não demora muito até chegarmos ao cemitério. O advogado nos guia até os túmulos. Choro sem esconder, Bia coloca a mão em meu ombro.
- Coraline, seus país me pediram para entregar essa carta para você caso eles... Enfim. - ele parece desconfortável agora.
Todos olham para o envelope que é depositado em minhas mãos e depois todos se afastam.
Olhar os nomes e os rostos nas fotos de meus país ali me fazem chorar mais molhando todo meu rosto.
Abro a carta trêmula e leio.

Querida, se está lendo essa carta é porque não estamos mais aí para proteger você. Quero que nos perdoe por ter te deixado seja qual for o motivo da nossa morte e quero que seja forte. Nos deixamos sua guarda com seu tio que é mais do que capaz de lhe proporcionar a vida que nos te dariamos, mas pedimos que tenha cuidado, existe vários motivos para você ter sido criada longe dos Hastings. Sei que não é o bastante, sei que doi, sei que vai te marcar para sempre, mas não se esqueça de que existe pessoas que te amam. Sei que um dia será uma grande mulher e terá sua família e então vai entender tudo que fizemos. Não vamos estar em seus próximos aniversários, não vamos te dar um carro e nem te levar para a faculdade e não vamos estar com você na maternidade quando tiver seu primeiro filho e seu pai não vai entrar com você na igreja quando for se casar, e eu não estarei para te ajudar a comprar seu vestido. Não passaremos o natal juntos e muito menos o ano novo. Mas quero que saiba que vamos estar aqui, se um de nos estiver vivo vai completar a parte do outro, mas se não, quero que nos leve no coração. Sei que você é capaz, você é uma Hastings.
Tomamos essa precaução porque não queríamos te deixar desamparada, nossa única filha. Sei que está assustada e esperamos que esteja bem. Seu tio vai cuidar de você até você poder se cuidar sozinha, não sei quantos anos tem agora, e não sei o quão abalada você está, mas estaremos sempre com você, sempre Coraline e nós te amamos muito e esse amor não vai para debaixo da terra conosco, ele fica com você.
Beijos mamãe e papai.

As lágrimas caem em forma de cachoeira nos meus olhos. Sei que só existem restos aqui em baixo, que o fogo e o tempo consumiram quase tudo e eu sinto tanto por não poder ter ido ao enterro deles. Mas assim foi melhor, eu não conseguiria...

Sinto a mão de Bia em meu ombro.
- Está na hora de ir querida.
Seu rosto está vermelho e inchado, a dias ela não dorme e eu me sinto culpada por ter dado tanto trabalho. Filipe vem e empurra o cadeira de rodas até o carro preto.
Não consigo levantar a cabeça, não agora, sei que é o que meus país queriam, mas não tenho forças.



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