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História Coraline - 06 - Caroline


Escrita por: Bella56

Capítulo 7 - 06 - Caroline


Fanfic / Fanfiction Coraline - 06 - Caroline

- Filha.... Vai ficar tudo bem.
- Não mãe - digo em lágrimas.
- Vai sim. É só mais uma crise de ansiedade.
Minha mãe olha pra mim do banco da frente. Meu pai ainda está dirigindo e Leslie está sentada do outro lado do banco.
- Mãe... Para o carro por favor. - peço chorando.
- Filha, por que acha que vai acontecer algo de ruim? - meu pai diz com a voz serena. Minha mãe me olha preocupada. Respiro fundo e olho para os lados, estou de volta dentro do carro.
- Porque.... Porque está chovendo.
Minha mãe me olha com cara de espanto e então o clarão invade minha visão. Tudo fica preto, mas ainda ouço um zumbido e sinto pingos grossos de água caírem em mim. Abro os olhos e minha visão fica turva, mas eu posso sentir o gosto da terra misturada com sangue em minha boca e sentir a grama no meu corpo. Não consigo me mexer, tudo doi, e então vejo o carro capotado longe de onde estou. O sentimento de pânico me consome, não consigo correr, não consigo levantar, não consigo gritar. Meu corpo está totalmente paralisado. Ouço os latidos de Leslie e então, quebrando todo o silêncio o carro explode diante dos meus olhos. Posso ouvir meu coração se partir no meu peito e a dor me invade começando a me deixar inconsciente.

Acordo, mas antes de abrir os olhos noto o barulho da chuva. É tudo que consigo ouvir. Meu corpo está paralisado, minha visão turva e meu corpo cansado. É como se meus sentidos tivessem entrado em colapso e mesmo assim, eu estou consciente. Pisco minhas pálpebras sentindo o peso nelas, não consigo mante-lás abertas. Olho para a porta da sacada e o quarto está levemente iluminado pela lua cheia.
Olho para o outro lado da cama, estou deitada de barriga para baixo. Respiro fundo e então vejo uma silhueta, uma sombra passar diante meus olhos, mas meu corpo já não funciona mais e o sono vai me consumindo.
Deve ser o Lúcio"
Me lembro de que ele estava comigo e antes do meu último segundo de consciência escuto um grito estridente vindo de dentro da casa. O sono chega e me apaga.

- Lucio! - acordo assustada ao sentir mãos em meu cabelo.
- Calma Cora, sou eu, Max. - Max diz colocando uma lanterninha em meus olhos.
- Max, por que me assustar assim? - digo voltando a deitar sentindo meu coração bater forte contra o peito e a minha pressão cair.
- Eu não quis te acordar.
Ele diz e sorri pra mim. Como sempre está sentado na beirada da cama com o seu jaleco branco.
- Você está palida demais Cora, foi do susto que te dei?
Respiro fundo.
- Não. Eu tive pesadelos e não conseguia acordar e me mexer.
- Tem tomado os remédios?
- Pensei que era culpa deles - digo ainda grogue.
- Não. Você tem que tomar eles. - ele diz mais sério me deixando sem graça.
- Quero que melhore logo querida. - ele diz apertando minha mão que estava caída ao lado do meu corpo.
- Os remédios vão me fazer melhorar?
- Vão sim. - ele diz sorrindo. - E então poderemos sair e você vai conhecer Seattle.
- Não vejo a hora.
Ele arruma suas coisas e então tira o jaleco deixando amostra sua camisa azul escura que marca bem seus olhos esverdeados.
- Quer passear?
- Hoje não Max, estou cansada.
- Tudo bem.- ele diz me encarando.
Ele se senta na cama de novo e tenta tocar meu cabelo, recuo um pouco, mas não é o suficiente. Estou cansada, não quero ser tocada.
- Posso te fazer uma pergunta.
- Claro. - respondo virando o rosto pra ele.
- Por que chamou por seu tio? - ele diz sério e baixo.
- Porque.... - respiro fundo - Porque ele é meu guardião, pensei que fosse ele me acordando de outro pesadelo.
- Queria que seu tio deixasse eu dormir aqui para zelar por você.
- Tudo bem Max, eu estou bem.
- Você é a garota mais bonita que eu já vi. - ele diz me deixando sem graça.
Qualquer uma amoleceria sendo alvo de elogios de um homem assim. Só que ele é diferente de Lucio, mais magro, parece mais .... Novo talvez.
- Obrigada. - digo sentindo meu rosto corar.
- Acho que nenhuma garota, mesmo parecida com você, vai conseguir ser mais bonita que você. - ele diz sorrindo.
Meu coração bate forte de novo, mas não como é com o Lucio, é de vergonha também.
- Agora, quero que tome esses remédios aqui para melhorar mais rápido e podermos sair. - ele diz me entregando os remédios.
Max sempre me trata de um jeito aconchegante e carinhoso, mas não é nada comparado com o que o Lucio fez ontem, só de lembrar me sinto melhor.
- Tenho que voltar ao hospital Cora.
- Mais já?
- Sim. Mas responda minhas mensagens, se não vou ficar preocupado achando que tem algo ruim acontecendo.
- É que eu tenho dormido muito. - digo enfim me levantando.
- Tenta usar as pernas, corra, nade, faça algo. Seus remédios pra dor e contra inflamação e até mesmos os calmantes são muito fortes.
- Ta bem Doutor. - digo sorrindo fraco.
Ele passa a mão em meu cabelo de forma carinhosa e sai. Me levanto, faço as higiene normais, coloco um short e uma regata preta normal e desço para comer.
- Já ia subir. - disse Kate me encontrando no pé da escada.
- Estou sem fome.
- Mas tem que comer. Doutor Lucio nos mata se souber que não comeu.
- É só ele não saber...
- Acredite, ninguém engana aquele homem.
Me sento na mesa e tomo iogurte e como algumas frutas, talvez os remédios de Max me deixaram sem fome ou foi o pesadelo.
- Cora. - Kate fala parada atrás de mim fazendo um rabo de cavalo no meu cabelo que está maior e menos indomável.
- Fala....
- A Doutora Hattway está a sua espera na estufa.
- Aqui tem uma estufa?
- Claro que tem querida. - ela diz como se fosse uma coisa super normal como ter uma TV.
Respiro fundo. Sei que o tempo está fechado lá fora e sair seria ruim. Talvez seja isso que ela quer, me expor ao meu medo.
- Diga a ela que vá até meu quarto. Eu não vou sair de casa.
- Mas Cora, deveria ouvir sua médica. - Kate diz em tom de reprovação.
- E eu vou ouvir, do meu quarto. Estou cansada. - digo me levantando calmamente para não machucar as costas e então subo até meu quarto e retorno para debaixo das cobertas.
Ouço duas batidas na porta e então Rachel entra mais bonita que nunca com um vestido vermelho vivo destacando sua pele clara, seus olhos azuis esverdeados e seu cabelo castanho escuro.
- Olá Coraline. - ela diz vindo até min.
- Oi Rachel - digo fechando o livro que comecei a ler.
- Não quis ir na estufa, eu...
- Estou cansada. - interrompo.
- Não dormiu bem?
- Não muito. - digo sem olhar para ela.
- Gostaria de me contar o porquê?
- Está chovendo.
Ela respira fundo e puxa uma cadeira para perto da cama.
- Tem tomado muitos remédios? - ela pergunta olhando os remédios na mesinha do lado da cama.
- O necessário.
- Para que?
- Para que as dores parem.
- As físicas, espero...
- Não. As mentais também.
Digo me virando e encarando ela. Ela abre a boca para falar algo mas a interrompo de novo.
- Calmantes.
- Claro, claro. - ela diz voltando a respirar normalmente.
- A quanto tempo trabalha como psiquiatra?
Posso ver que ela estranha a pergunta.
- A uns 3 anos.
- Pouco tempo não acha? - digo calma, sem ofende-lá.
- É o suficiente por enquanto. - posso sentir que ela fica nervosa.
- Vamos falar de você Cora.
- Presumo que já saiba tudo que precisa. - digo de forma um pouco mais evasiva.
- Quero saber como está. A verdade, por favor.
- Eu estou cansada. - digo a ela. Sinto minhas pálpebras pesadas de novo. O que não faz sentido, eu acabei de acordar.
- Estava pensando em parar com seus remédios para dormir. O que acha?
- Um absurdo. - digo mais alto.
- Você não precisa tanto deles. - ela diz de forma calma sem alterar a voz.
- Eu não preciso? Eu mal consigo dormir com eles. - digo irritada.
- Mas agora está dormindo demais. Você está frágil Cora, talvez não devesse...
- Eu não sou frágil. - digo alto dando ênfase em todas as palavras.
- Disse que está frágil. - ela diz no mesmo tom de voz de sempre, mas dando ênfase na palavra "está". - Está tomando muitos remédios já.
- Para coisas diferentes.
- Você só tem que tentar.
- Não. - digo simplesmente e fico de barriga para cima com a cabeça virada para o outro lado.
- É muito nova para tomar esse tipo de remédios. Isso pode atrapalhar na sua formação, na sua capacidade cognitiva....
- E se eu não dormir Rachel? Vai atrapalhar em algo? - digo de forma sarcástica me virando bruscamente para ela. Sinto minhas costas doerem e meu pescoço também, um pouco.
Rachel respira fundo e junta sua bolsa ao corpo.
- Tenho que ir, mas volto mais tarde para ver como está. - ela diz de forma carinhosa.
- Ta. - digo cansada e com sono.
- Tente não dormir tanto.
- Pensei que ajudasse na recuperação.
- Não a psicológica. - ela diz e se levanta saindo do quarto.
Ouço seus passos se afastando pelo corredor graças aos saltos que usa. Não é que eu não goste dela, mas ela me faz sentir doente, e eu não gosto de me sentir assim.
Fico deitada, está frio e não há nada para fazer.

Acordo sentindo dor no peito e falta de ar. Está frio e meu quarto está silencioso. Olho no celular e são três da tarde. Meu corpo está um lixo, minha cabeça doi, minhas pernas e minha coluna também. Me arrasto para fora da cama e resolvo tomar um banho para ver se me recupero. Ligo o chuveiro e só o barulho das gotas de água me faz arrepiar então resolvo esperar a banheira encher.
Tiro a roupa, prendo o cabelo e coloco um roupão quente. Ouço batidas na porta e não me importo em dizer que pode entrar, estou cansada demais.
- Cora, o que está fazendo? - pergunta Kate encostada na porta.
- Não é óbvio? - digo fadigada.
- Você está horrível. - ela diz com graça na voz.
Acho um pouco engraçado, mas sinto dor ao tentar rir.
- Eu sei. - digo abaixando a mão medindo a temperatura da água.
- Quer ajuda?
- Não, eu to bem.
Olho pra ela que me encara e depois de alguns segundos ela entende a mensagem e se vira. Tiro o roupão e entro na banheira com cuidado.
- Você está muito magra. - ela repreende virando para mim de novo.
- Algumas garotas achariam isso bom.
- Mas é um magro doente, não um magro atlético. - ela diz tentando argumentar.
- Eu sei. O sonho de qualquer modelo. - digo tentando não rir pra não entregar o jogo.
Ela se da por vencido, mas antes de sair do banheiro da sua cartada final.
- Vamos ver se seu tio vai pensar a mesma coisa.
Cheque ..... Mate!

Ela da um sorriso de vitoriosa e sai do banheiro. Ao lembrar do meu tio, lembro da nossa conversa de ontem. Nem vou mais chamar ele de tio, não sinto como se ele fosse, só quando ele me olha como meu pai me olhava quando estava preocupado, o resto, não é meu tio. Não sinto como me sinto com Filipe amigo do meu pai, ele sim considero tio.
Fico na banheira pensando em tudo ate meus dedos enrrugarem, então saio e me cubro com o roupão. Olho o curativo das minhas costas no espelho que fica no enorme banheiro do meu quarto e resolvo tirar.
Quando olho ele sem curativo pela primeira vez, vejo um corte um pouco machucado ainda, mas cicatrizado com algumas pontas de linha para fora. Lembro da Bia dizer: - Não queira nem saber quantos pontos levou " e olhando o machucado pela primeira vez, concordo com ela.
O curativo na barriga está muito bem colado então não tento ver, e na verdade, nem quero já que vou ter que conviver com elas pra sempre. Ouço a porta se abrir de novo e então Kate grita do quarto.
- Voltei. Venha comer antes que seu tio demita todos nos. - ouço ela rir.
- Ta de bom humor hoje Kate?
- Não. Só acho que a senhorita deveria viver mais.
- E o que isso tem a ver com o que eu disse? - digo dentro do closet.
- Que estaria de bom humor se vivesse mais.
- Esse é meu bom humor. - digo saindo do closet com uma blusa cinza caída nos ombros com a bandeira dos Estados Unidos na frente e um short jeans preto.
- Patriota você.
- Não sou estadunidense.
- Mas sua família é. - ela retruca.
- Mas eu não.
Solto o cabelo que cai sobre os ombros. Sei que os arranhões mais leves já sararam, mas é como se eles ainda estivessem espalhados pelo meu corpo. Meus braços ainda tem cortes. Ontem na cama com Lucio, ele me analisou dos pés a cabeça, e então percebo que talvez ele não quis transar comigo por não querer me tocar já que eu estou cheia de machucados.
O pensamento me machuca.

Respiro fundo afastando os pensamentos de mim para não deixar que Kate perceba.
- Você está diferente hoje. - droga, tarde demais.
- Estou como sempre Kate, só que com um pouco mais de sono.
- Não. Você está má.
- É que você está muito bem humorada e eu não, isso pode irritar uma pessoa. - digo rindo e comendo o lanche que ela me fez.
- Você mão come mais comidas de verdade, só lanche, não sei como não engorda.
- Pensei que aqui fosse a terra do Fast food.
- Muito engraçado. - ela diz sendo sarcástica.
Sinto tontura por ter passado da hora normal de comer e ter que tomar remédios logo depois, fora os que tomo antes para a gastrite.
- Não sei se deveria contar. - diz Kate sentada na minha frente limpando a mão no avental branco.
- Agora tem de me dizer.
- Não deveria.
- Não negue informações a uma moribunda. - ela ri.
- Dramática. Então, eu ouvi sua médica falando no telefone.
- E? - digo frustrada por não ser algo tão importante.
- Ela estava falando com o Max, pedindo para diminuir seus remédios.
Olho para Kate que espera de mim uma reação, e a reação e raiva. Eu disse que não queria que diminuísse, ela com certeza quer que eu passe dor e que não durma.
- Ela deveria estar aqui para me ajudar a dormir, não para me fazer sentir dor.
- Cora, olhe pra você. Você tem dormido o tempo todo.
- Kate, eu não consigo dormir direito. Eu ... - engasgo com o suco - Eu não consigo. - digo ainda mais frustrada e com raiva.
- Deveria tentar outras formas.
- Eu já tentei, e bom, não ajudou tanto assim. - digo lembrando de Lucio dormindo comigo.
- Bom, eu não sei o que o Max disse. Se você sentirá mesmo dor, ele não deixara e ele é o médico responsável por você.
- Ela não pode fazer isso. - digo tonta por causa da pressão.
- Ela é médica também.
- Max não pode...
- Calma, ele faria de tudo por você. - ela diz com segundas intenções.
- Tomara mesmo. - digo me levantando e subindo na cama.
- Vai dormir de novo? - ela fala em tom de sermão.
- Eu estou com a pressão baixa. - digo me cobrindo.
- Só vou ficar deitada aqui vendo TV, até porque com o tempo lá fora....
- Estava pensando em fazer um bolo de chocolate. Quer?
- Seria muito legal da sua parte. - digo forçando um sorriso pra ela.
- Sabe fazer? - ela diz.
- Não. - suspiro fundo menos tonta que antes.
- Vamos até a cozinha então, vamos aprender. - ela diz sorrindo.
Minha primeira resposta é não, mas eu penso melhor e talvez isso melhore minha situação com a Rachel e ela pare de insistir nessa loucura de tirar meus calmantes.
Me arrasto para fora da cama e então quando saio Kate faz sinal para outra empregada entrar.
- O que ela vai fazer?
- Vai trocar os lençóis.
- Mas foram trocados recentemente. - digo estranhando.
- Você passa muito tempo deitada Cora. São ordens do Doutor Lucio para não inflamar seus machucados.
Penso em Lucio de novo de da maneira como ele encarou meu corpo semi nu. Talvez depois de ter que cuidar dos meus ferimentos ele tenha sentido nojo ao ver minha pele com alguns machucados ainda. O pensamento corta meu peito, nunca senti tamanha dor psicológica antes, a não ser quando fiquei sabendo que meus país... Foi pior.
Respiro fundo indo até a cozinha com Kate. Ela insiste em me ajudar nas escadas por causa dos pontos, mas eu odeio isso. A casa está com uma iluminação natural deixando-a mais clara e evidenciando o piso de madeira escura. Olho para fora e sinto vontade de descobrir o que tem lá, só que ainda não estou pronta, ainda tenho alguns machucados no rosto e não quero que as pessoas tenham pena ou nojo de mim.
Chego na cozinha e a olho com mais vida agora, com alguns empregados e um vaso de flores roxas encima da mesa de madeira escura polida. Duas mulheres e um rapaz que me encara descaradamente. Ele não parece ter mais de 21, é ruivo e tem os olhos azuiss e a pele branca. Ele está sentado na mesa no canto com livros abertos na sua frente. Todos olham pra mim como se algo de outro mundo tivesse entrado na cozinha.
- Meninas, essa é a Senhorita Hastings. A trouxe para ensinar a fazer um bolo de chocolate. Espero que mantenham isso em sigilo. - Kate diz de forma decidida e autoritária.
- Por que o sigilo? - susurro em seu ouvido.
- Doutor Lucio não quer que você se estresse com a presença de muitas pessoas, por isso o número de pessoas que cuidam de você é limitado. - ela sussurra no meu ouvido.
Sinto os olhos das mulheres ainda sobre mim de forma disfarçada, já o rapaz sentado não para de me olhar até uma das mulheres o cutucar com força. Sinto vergonha, sinto vergonha de estar ali no meu estado, eles devem pensar que eu sou uma maluca. Kate pega os ingredientes e eu não saio de seu lado, ela me ensina várias coisas. No Brasil nos tínhamos uma pessoa que só cozinhava e cuidava de assuntos em relação a comida como cardápio e mercado, mas ele nunca me deixou participar. Dizia que não queria distrações.
- Cora, você tem que mexer bem a massa. - ela diz me entregando a vasilha e a colher. Sinto o ar pesar e uma das mulheres para o que está fazendo e nos olha espantada. Kate a repreende com o olhar e ela sai da cozinha.
- É assim Kate? - pergunto mexendo a massa tentando disfarçar minha vontade latente de sair correndo até minha segura e confortável cama.
- Sim, isso mesmo. Agora vamos preparar a forma. Pegue para mim Matthew. - ela olha para o garoto ruivo. Ele suspira, se levanta e pega a forma entregando em minhas mãos. Ele me olha sem trégua e isso me faz querer correr mais ainda só que de volta para o Brasil. Sinto a crise de ansiedade vindo sobre mim, acelerando meu coração e congestionando minha respiração. Minhas mãos estão geladas nas extremidades e eu fico paralisada.
- Cora, precisa ser rápido. - adverte Kate.
Entrego a forma pra ela, ela me encara também.
- Está sentindo algo?
- Não. - digo de uma vez sem nem pensar. - Só estou tentando não esquecer a receita. - digo baixinho pra ela.
- Está estressada com o aumento do número de pessoas aqui? - ela diz parando o que está fazendo e olhando pra mim.
- Não. Só é estranho sair da cama. - digo forçando um sorriso para ela me deixar em paz.
- Vai ser bom pra você. - ela diz untando a forma.
Ela leva até o forno e prepara a cobertura, que eu imploro para ser de chocolate também.
Ela me deixa mexendo a cobertura e sai da cozinha atrás de algo. Tento não olhar para o lado, esquecer que ele está ali e está olhando pra mim.
- Elas tem medo do que seu tio pode fazer com elas se descobrir. - ouço uma voz grossa vir de trás.
Tento formular uma resposta, mas não sai.
- Estava curioso sobre a senhorita. - ele diz parando do meu lado.
Sinto seus olhos verdes sobre mim e posso sentir minha pele esquentar. Droga! Não resisto e olho pra ele de canto, sem virar a cabeça e seu sorriso me amolece. Ele é fofo. Ele olha pra mim e parece analisar meu rosto.
- Nossa, você se parece com a senhora Hastings. - ele diz sorrindo interrompendo meu encantamento. Todos dizem isso pra mim, até Lucio. Que eu pareço com minha avó Carolina, mas eles dizem com uma conotação de surpresa ou ruim.
- Está fazendo errado. - ele diz colocando a mão na colher e consequentemente tocando minha mão.
Seu toque me da um pequeno choque me tirando do transe.
- Eu... Eu... - tento dizer mas as palavras não saem e então somos interrompidos.
Olho para a porta e vejo Carolina parada na entrada da cozinha e Kate está atrás com a cabeça meio baixa.
- Coraline, venha aqui. - ela diz de forma dura.
Ela se vira e segue para a sala. Está com o cabelo solto até os ombros com uma leve ondulação, está vestida com um vestido tubimho não tão apertado creme. Seu salto ecoa na cozinha deixando todos sem respirar. Solto a colher e a sigo passando por Kate que me demonstra um olhar de preocupada, não sei se comigo, ou com ela.
A sigo até a sala de visitas onde ela pega sua bolsa.
- O que estava fazendo? - ela pergunta de forma dura.
- Saindo do quarto um pouco. - digo andando até ela.
- E por que? - ela disse se sentando de forma elegante no sofá e espalmando um lugar ao seu lado.
Vou até ela e sento de frente pra ela analisando cada movimento meu na minha cabeça, é assim que me sinto com ela.
- Rachel quer interferir na minha medicação.
- E o que vai fazer sobre isso? - ela diz ainda autoritária, só que sem tanta hostilidade.
- Vou mostrar a ela que eles não estão me fazendo mal.
- Ou seja, vai deixar que ela mande em você como se fosse uma bonequinha. - ela não aumenta o tom da voz, mas posso sentir a crítica.
- E o que quer que eu faça? Se eu vou contra ela, é porque estou surtando. - digo irritada e desviando nossos olhos pela primeira vez.
- Então você faz o que ela quer se não ela te entrega para meu filho?
- Basicamente isso.
- E você como boa garotinha indefesa deixa?
- O que quer que eu faça? Ameaçar ela? Mate-a? - digo irritada.
- Se for preciso...
Procuro qualquer sinal de sarcasmo ou brincadeira nela, mas no fundo eu sei que ela não está brincando e isso me surpreende e me assusta.
- Não deixe que ela manipule você.
- Por que está tão preocupada com isso? - pergunto intrigada, ela não parece do tipo que se preocupa com a "netinha querida".
- Porque você é uma Hastings e tem um nome a zelar. E se ela dominar você. Logo, logo vai estar dentro dessa casa não só como sua psiquiatra. É isso que quer? - ela me olha diretamente nos olhos como uma flecha. Ela me convence por motivos alheios ao seu conhecimento como minha repulsa em pensar em Rachel com Lucio. Ele não é pra ela.
- Vejo que concorda.
- Não quero que ela viva aqui. - digo mais decidida e com menos medo.
De uma forma muito estranha, Carolina é a única que me motiva e que me faz sentir potente, decidida, melhor.
- Então espero que resolva esse problema para ambas, mais para você.
- E o que sugere?
- Pense em algo. - ela diz se levantando. - Vamos ver se parece só comigo na aparência, ou se na inteligência também. - ela diz e coloca seus óculos escuros que a deixa ainda mais bonita.
- Tchau Carolina - digo me levantando.
- Tchau Coraline. - ela diz de forma amigável e vai embora.

Penso em ir até a cozinha, mas não é o que realmente quero. Subo para o quarto pensar em como tirar Rachel da minha vida. Não sei bem o que Carolina espera que eu faça, mas com ela eu me sinto motivada a fazer. Abro a porta do quarto e na mesma hora o vento invade o quarto pela porta da sacada que ficou aberta, com certeza culpa da moça que limpou meu quarto. Olho a cama arrumada e duvido se está tão aconchegante como antes, com o cheiro do Lucio. Sua rejeição ontem ainda doi um pouco, não consigo deixar de pensar que é por causa dos machucados. Meu subconsciente logo rebate, mas ele é medico, só que me lembro de Kate dizer que ele não cuidava de ferimentos. Olho a pulseira em meu braço e me sinto sozinha, não só no quarto, mas no mundo. Ouço meu celular tocar encima da mesinha e vou até ele ver quem é.
- Alô. - digo em inglês por hábito.
- Amiga, sou eu, minha língua por favor. - diz Cloe rindo.
- Oi Cloe.
- Como vai?
- Do mesmo jeito. - respiro fundo.
- Você não responde mais minhas mensagens e mal fala com a Tia Bianca. - ela diz com a voz mais melancólica.
- Eu tenho dormido muito.
- E isso é bom Cora? - pergunta Cloe desconfiada.
- Acho que sim.
- Então já está conseguindo dormir?
- Mais ou menos.
- Como assim?
- A noite ou quando chove, eu até consigo dormir, mas não descansar. É como se o meu corpo ficasse em alerta o tempo todo e eu fico revivendo as cenas e revivendo só que eu não sei se são reais ou fruto da minha imaginação.
- Como assim?
- Eu não sei. Não me lembro direito o que aconteceu dentro do carro, se eu estava dormindo quando tudo aconteceu ou se meus país disseram algo, ai em cada sonho acontece uma hipótese.
- Amiga, e a psiquiatra?
- Ela não está me ajudando. Ela quer diminuir meus remédios. - digo alterada.
- Mas isso pode te ajudar amiga.
- Amiga - respiro fundo controlando o choro e o sentimento de irá - Eu não consigo dormir sem remédios. É como se algo fosse acontecer e eu acordo - respiro fundo controlando o sentimentalismo - machucada. - digo baixo quase não conseguindo mais me controlar.
- Como assim machucada? - Cloe diz em um tom tão carinhoso que corta meu coração de saudade.
- Eu acordo arranhada ou sangrando, com os machucados inflamados. - minha voz fica carregada de choro.
- Amiga - ouço ela chorar e isso me faz chorar - queria que estivesse aqui, eu não te deixaria sozinha nunca.
- Eu também queria estar aí. Aqui as coisas tem ficado complicadas.
- Como assim?
Respiro fundo com o que vou dizer na cabeça, mas não sei se consigo falar. Penso em mil formas de contar sem ser julgada por isso. Cloe não me julgaria, me conforto, ela nunca me julgou.
- Cloe, eu - interrompo para tomar coragem - eu - interrompo de novo.
- Fala amiga. - ela diz de forma carinhosa.
- Eu dormi com meu tio. - digo de uma vez baixinho espantada com as palavras. Dentro da minha cabeça elas tem outro sentido.
- Eu... Não... Coraline!! Como assim? - ela grita.
- Calma, eu vou explicar.
- Ele é seu tio!!!- ela grita.
- Por favor, fala baixo. - susurro e ela se acalma.
- Eu não fiz sexo com ele, eu realmente dormi com ele.
- De dormir mesmo? - ela se acalma.
- Sim. Mas ele me beijou.
- E você?
- Eu retribui. - digo rindo um pouco da vergonha que sinto.
- Amiga, ele deve ter a idade do tio Filipe.
- Mas eu não sinto esse tipo de laço com ele que eu sinto com o tio Filipe. Pra mim ele não é meu tio. Pra mim ele é um homem que por ser meio irmão do meu pai me abriga em sua casa e cuida de mim.
- Mas amiga... - ela pensa - Você me disse que ele lembra seu pai.
- Na verdade ele se parece mais com a minha avó Carolina
- Sua avó se chama Carolina? - Cloe ri em meio ao choro.
- Sim. Por que?
- Sempre achei diferente seu nome, mas entendo agora. - ela ri. - Você é a Cora e sua avó Carol. - ela parece gostar disso.
- Todos dizem que eu pareço com ela. - isso me da um certo orgulho.
- E seu tio?
- Ele também acha. Ele não se parece com meu pai, mas se parece com ela na cor da pele e do cabelo e os olhos... Os olhos são os mesmos que os dela, que os do meu pai, que os meus. - digo sentindo algo diferente nisso.
- Quando beijou ele, não viu seu pai?
- Não. Eu vi um homem. Um homem pelo qual eu sinto algo que não sei por em palavras. - digo baixo com vergonha.
- Amiga, você está apaixonada pelo seu tio! - Cloe se exalta de novo.
- Como é? - pergunto - Como é estar apaixonada?
- Aí amiga - ela respira fundo parecendo sentir o que vai falar - É como se fosse uma parada cardíaca. Você sente dor no peito, sente falta de ar, mas isso não é ruim, é bom. E tudo naquela pessoa é único, o cheiro, o som da voz, o jeito dela com a gente. Quando ela está perto você a quer mais perto, quando está longe você a sente perto porque ela não sai da sua cabeça. Você pode ser a pessoa mais segura do mundo, mas você fica um pouco insegura perto dela. Sua pupila dilata, o toque fica mais sensível e tudo que ela faz pra você te marca de alguma forma.
- Nossa... - fico sem ar com o tanto de sentimento que ela colocou nas palavras.
Cloe já teve alguns namorados mesmo sendo nova. Ela sempre atraiu a atenção dos garotos e nasceu sabendo lidar com isso. Eu a chamava de Afrodite.
- Acho que estou... - sorrio um pouco - apaixonada.
- Eu esperei tanto tempo pra ouvir isso de você, nunca imaginei que seria em uma situação assim. - diz Cloe.
- Mas amiga, vocês só se beijaram?
- Mais ou menos. - sinto meu rosto queimar.
- Me conta.
Conto pra ela tudo o que aconteceu até agora, em todas as noites desde que cheguei e o conheci.
- Ele fez o que?
- Isso mesmo, ele parou e disse que não poderia fazer isso. - digo meio frustrada.
- Acho que ele ta certo amiga. Talvez ele ache que você é muito nova ainda.
- É, talvez.
- Iii, conheço esse "talvez". O que você acha que é?
- Nada. - digo meio manhosa.
- Amiga, não adianta mentir pra mim.
- É uma coisa que não quero falar.
- Por que?
- Não sei, eu travo.
- Ah, você consegue falar que quase transou com seu tio, mas não consegue falar o que pensa sobre o motivo pelo qual ele não quis.

A parte do " ele não quis " machuca meu orgulho.
- Eu acho que é porque eu to machucada. - digo de uma vez.
- Bom, mais um motivo válido né amiga, vai que ele te machuca.
- Vamos parar de falar disso. - digo afundando na cama.
- Ta bem amiga.
- Tenho que ir.
- Você tem que ir aonde? - diz Cloe fingindo estar brava.
- Tenho que tomar remédio. - digo achando graça de sua provocação.
- Gosto de ouvir sua voz um pouco mais animadinha.
- Saudades amiga. - digo sentindo a saudade se materializar.
- Também sinto. - sua voz fica fraca como se ela fosse chorar de novo.
Nos despedimos. Eu sinto tanta falta dela e da vida que eu tinha. Fecho as cortinas e me jogo na cama de novo me cobrindo por causa do frio. As cortinas escuras deixam o quarto tão escuro que quase não da pra ver nada, só que entra alguma luz ainda. Não sei descrever o que acontece comigo, é como se a minha cama fosse o lugar mais seguro agora, eu estou apaixonada, mas não consigo me sentir animada e eufórica, é como se o vazio que sinto anulasse o resto. Sentimentos como a raiva e a melancolia tem ficado mais profundos, eu não era assim. A dor me transformou em alguém que eu não era. Rolo na cama já sentindo o sono pesar minhas pálpebras, mas antes de ficar totalmente inconsciente ouço a porta se abrir e também um suspiro de desaprovação.
- Você ta nessa cama de novo? - diz Kate.
- Kate, me deixa aqui.
- Não é saudável ficar assim. Sua perna já está boa, você tem que exercita-la.
- Outra hora.
Ela senta na cama e coloca a mão na minha cabeça fazendo carinho no meu cabelo.
- Rachel comentou comigo que você tem sido difícil com ela.
Fico quieta não ligando para o que Kate diz.
- Você não acha mesmo que precisa de ajuda?
Minha mente grita várias respostas, mas estou cansada demais para dar alguma delas.
- Quanto tempo você passava na cama no Brasil?
- Eu to machucada Kate.
- Eu sei querida. Todos sabem, até mesmo Matthew que acabou de te conhecer percebeu o quão machucada você está.
As palavras dela doem em mim e uma lágrima escapa dos meus olhos, não me viro para olhar para ela porque sei que ela está certa.
- Mas o Max não tem remédios para esse tipo de machucado Cora, você tem que deixar a Rachel te ajudar.
- Ela quer tirar meus remédios. - digo com voz de choro e de cansaço.
- Ela me disse que foi só uma sugestão, mas que conversou com Max e que ele não aprovou.
- Max... - digo em meio a um suspiro de alívio.
- Mas eu acho que ele está deixando o que sente por você atrapalhar nessa decisão.
E de novo Kate é direta comigo, como minha mãe era.
- Você não sabe Kate.
- A por favor! Ele só faz o que você quer e fica sorrindo quando te olha.
- Não quero pensar nisso agora.
- Pois eu acho que você gosta dele também, ou gosta de alguém. Porque eu já percebi que você ta estranha, mesmo triste, ainda tem um brilho aí e eu conheço esse brilho.
- Kate, eu estou tão cansada. - digo.
- Eu sei querida. Vou te deixar em paz agora, mas eu quero dizer que Rachel está esperando lá baixo pra falar com você e eu acho que seria legal você ir lá falar com ela.

Penso um pouco e luto contra a minha enorme vontade de ficar na cama para levantar e seguir Kate ate a sala de visitas. Já não sei mais que horas são, só sei que está anoitecendo.
- Cora, que bom que veio. - Rachel sorri.
- Pensei que não voltaria hoje.
Ela sorri pra mim mesmo com a minha defensiva.
- Como está seu corpo?
- Doendo.
- É por isso que estava dormindo?
- Sim.
Kate sai da sala me dando aquela olhada.
- Cora, você tem dormido bem?
- Não - digo me sentando do lado de Rachel.
- Por que?
- Porque eu... - penso no que dizer, se digo a verdade ou não, se sigo o conselho de Kate ou de Carolina. - Eu, meu corpo não descansa.
- Por que diz isso?
- Porque eu acordo durante a noite, tenho sonhos com a noite do acidente e eu sinto dores.
- Com o que sonha?
- Com as possibilidades do que poderia ter acontecido aquela noite. - digo baixo sem encarar seus olhos.
- Por isso não quer que eu tire seus remédios? Eles te ajudam a dormir?
- Eles me ajudam a apagar. Eu não fico acordando a noite e se acordo durmo rápido. Não consigo dormir bem sem eles.
- Você sabe que esses remédios causam dependência?
- Sei, mas assim que eu melhorar eu paro.
- O que melhorar? Os ferimentos no seu corpo, ou em sua mente?
- Eu não sou louca! - digo em um tom mais alto e encarando seus olhos.
- Querida, eu sei que não é. - ela diz colocando a mão em meu braço. Recuo com o toque quase que automaticamente. - Você está passando por um processo normal onde seu cérebro não está conseguindo lidar com o que você sente, com a dor e o luto.
- Eu to bem. - foi a mentira mais difícil de contar.
- Você não está. Você dorme quase que o dia todo, não sai e está se machucando.
- Eu não faço isso porque quero. Eu nem sei se faço mesmo, Lucio pode ter inventado isso.
Ela respira fundo e torna a sua postura formal com as mãos pousadas sobre as pernas encima da sua saia grudada ao corpo preta que vai até a um palmo acima do joelho.
- Como é a sua relação com seu tio?
- É normal. - digo com medo de ela perceber algo.
- Vocês conversam?
- Sim.
- Sobre o que?
- Por que quer saber?
- Só estamos conversando Cora. -ela diz tentando me acalmar.
- Não sei bem dizer sobre o que conversamos. - sinto minhas bochechas esquentarem ao lembrar o que realmente fazemos.
- E a sua avó, Carolina, vista dela?
- Gosto. - digo ainda pensando em Lucio.
- Ela conversa com você?
- Sim.
- E do que conversam?
- Ela me incentiva.
- A que?
- A superar tudo e dar a volta por cima. - distorço as coisas.
- Buscar novos laços é muito importante, ainda mais dentro de sua família. Mas cuidado.
- Cuidado com o que?
- Com Carolina. Ela pode ser manipulativa as vezes.
- Você está falando da minha avó! - digo mais alto.
- Calma Cora, entendo que se sinta assim, mas é um ambiente novo para você.
- Eu to cansada. - digo passando a mão no rosto.
- Você é uma garota muito bonita sabia? - ela diz me olhando, ou melhor, me encarando.
- Do que você ta falando?
- Nada. - ela sorri. - Já se apaixonou?
Ela toca bem em uma das feridas.
- Não. - minto com medo de ela saber que to mentindo.
- Consegue se lembrar de algum sentimento bom antes de tudo isso acontecer?
- Sim. - vejo em minha memória os beijos de Lucio, mas antes ainda, a despedida de todos quando sai do hospital no Brasil.
- Quando aconteceu?
- Quando eu sai do hospital. Na recepção estavam todos os amigos dos meus país e meus, pacientes deles e médicos. Ali eu senti que não estava sozinha.
- Que bonito Cora. - ela diz sorrindo.
Ouço barulhos na porta e então passos vindo pelo corredor. Quando olho para porta vejo Lucio surgindo cansado e com o palitó em um dos braços.
- Lucio !! - diz Rachel animada e indo até ele. - Chegou cedo.
Ela o abraça e posso ver o desconforto em seu rosto que me faz ficar melhor. Ele me encara com seus penetrantes olhos azuis enquanto Rachel o solta.
- Eu vim trazer uma coisa para Cora já que terei de viajar por uns dias. - ele diz parado no lugar. Meu coração martela meu peito. Minha vontade e ir correndo beijar ele, mas fico ali, sentada no sofá. A cara de surpresa de Rachel foi perceptível até para satélite.
- Olha que legal - ela diz lentamente - O que trouxe para ela?
- Cora, pode vir comigo um minuto. - ele diz.
Me levanto e o sigo pelo corredor até a porta de entrada onde tem uma caixa grande com alguns buracos.
Kate aparece também e fica atrás de Rachel que fica atrás de mim. Lucio abre a caixa e para minha surpresa tira um filhote de cachorro pequeno dela. Fico tonta em sentir um pouco de alegria pela primeira vez e lágrimas brotam dos meus olhos.
- Ele é... Lindo. - digo baixo.
Lucio vem até mim e coloca o filhote em meus braços. Sinto o perfume de Lucio. Cloe tem razão, o cheiro dele é marcante, só dele, e desperta coisas estranhas em mim.
- Obrigada Lúcio. - digo baixo e logo ouço os saltos de Rachel vindo até nós.
- Que adorável Lucio. - ela diz fazendo carinho no filhotinho. - Qual a raça dele? - pergunta Rachel.
- Ela não tem raça. Ouvi um dos meus advogados dizendo que sua cachorra teve filhotinhos depois de passar algum tempo perdida na rua.
Não sei porque, mas lágrimas não param de cair dos meus olhos e ao olhar para o filhote de pelo branco e olhos castanhos, sinto uma emoção diferente, e o abraço sentindo seu pelo macio em mim. O lacinho rosa no pescoço indica o sexo dela.
- Qual vai ser o nome dela? - diz Rachel animada.
Olho para a carinha dela, suas orelhas são pequenas e levemente dobradas, seu pelo é branco e seus olhos são grandes e castanhos.
- Amêndoa. - digo sorrindo de verdade e não de forma falsa como tenho feito.
- Lindo nome - diz Kate vindo até mim e envolvendo seu braço nos meus ombros.

- Lucio, vamos deixar Cora brincar com Amêndoa? Preciso falar com você. - diz Rachel.
- Tudo bem. - ele diz guiando Rachel para seu escritório. Antes ele me olha e eu o olho admirada com seu ato.
Sinto um pouco de tristeza e raiva por saber que Rachel está sozinha com Lucio.
- Vamos lá para seu quarto. - diz Kate sorrindo ainda mais que hoje de manhã.
Subo as escadas com Amêndoa no colo. A solto no chão do quarto e mesmo parecendo quietinha ela começa a pular e brincar. Me sento no chão para brincar com ela.
- Ela é linda não é? - digo.
- Ela é. - Kate diz ainda em pé. - O que seu tio fez foi.... Inesperado. - ela diz evidentemente emocionada.
Olho pra ela e contínuo brincando com Amêndoa.

Depois do jantar, sem o Lucio, volto para meu quarto e me arrumo para dormir. Já não me sinto tão sozinha. Amêndoa pula e brinca com minhas coisas no closet. Coloco um vestidinho de dormir preto com renda. Ele é para os dias de calor, mas eu adoro ele, então resolvi colocar.
Vou até a cama e ligo a TV. Minha cachorrinha fica brincando com o travesseiro do meu lado e querendo me morder.
Passo os canais de filmes, mas curiosa vou para o noticiário local. Não se fala em outra coisa. Já são três meninas mortas e todos os casos sem solução.
Seattle está aterrorizada. Diz o homem de terno na TV. Familiares chorando e depois a entrevista de um dos detetives dizendo que eles estão perto de pegas o assassino, mas eles sugerem que garotas não andem sozinhas até eles pegarem a pessoa.
Fico arrepiada com as fotos das garotas. Todas elas morenas, duas de olhos castanhos e uma de olhos azuis.
Ouço duas batidas na porta e então troco de canal para um filme.
- Entra.
Para minha surpresa Lucio entra já sem seu terno no quarto. Com uma calça de pijama preta e uma camiseta cinza.
- Pensei que já estivesse dormindo. - ele diz com as mãos no bolso e com o cabelo bagunçado.
- Eu tava vendo TV. - digo baixo.
Olho para ele parado perto da porta e fico eufórica como toda vez. Sinto minha pele ruborizada e quente.
Me levanto com cuidado e vou até ele devagar, uma parte de mim diz pra voltar pra cama e a outra só quer tocar nele. Movida pela vontade e o instinto vou até ele e o abraço devagar.
- Obrigada Lucio. - digo realmente grata.
Lucio fica parado um pouco e depois sinto seus braços sobre meu corpo me apertando com cuidado. Ele beija minha cabeça e o seu cheiro me deixa viciada.
Me solto de seu corpo e levo ele pela mão até minha cama.
- O que está fazendo? - ele pergunta com a voz meio rouca.
- Eu não sei.
Ele vem comigo e me pega pela cintura me puxando para perto do seu corpo. Sinto algo me queimar por dentro, mas algo ainda exita.
Ele enrosca sua mão no meu cabelo e me beija com vontade, muita vontade. Ele passa a mão pela alça do meu vestido que ameaça cair mas eu não deixo. Término o beijo para que ele não tire minha roupa.
- Cora, eu sinto... - ele diz virando o rosto.
- Tudo bem - digo sentindo vergonha de mim.
Ele me olha e eu viro o rosto e tento me tampar com a coberta.
- O que foi?
- Nada. - digo sem graça.
Não quero que ele olhe pra mim de novo e sinta repulsa.
- Cora, você não é assim. - ele diz vindo até mais perto me fazendo sentar na cama.
Ele vem até mim e beija meu pescoço me fazendo arrepiar e uma das suas mãos aperta um dos meus seios. Quando ele vai tirar meu cabelo de cima do meu ombro recuo.
- Cora, o que há com você?
- Nada não. - digo menos convencida disso do que tudo.
- Não minta pra mim, você prometeu.
Ele diz e eu me sinto encurralada.
- Não é nada.
Vou até ele e o beijo subindo no seu colo. Nunca tinha feito isso antes, mas estava com vontade. Coloco minhas duas maos no seu rosto e elementos abraça pegando meu cabelo também.
Ele me beija e deita na cama comigo e me vira, me colocando embaixo.
Ele se coloca entre minhas pernas e eu eu o abraço. Ele tiras alcinhas do meu vestido e começa a beijar meus seios me fazendo ter pequenos espasmos de prazer.
Ele afunda a cabeça em mim.
- Você me deixa louco. - ele diz.
Prendo mais minhas pernas nele.
Ele puxa meu vestido me deixando de calcinha de novo. Sinto um arrepio de vergonha pelos ferimentos. Ele me olha de novo, com o mesmo olhar por todo meu corpo de noite passada e isso me deixa magoada. Sinto meus olhos arderem e eu tento controlar minhas lágrimas. Não, não, não, agora não. Por que eu tenho que reagir assim? Seja forte, seja forte.
- O que foi Cora?
- Nada. - digo, ficando mais difícil de mentir.
- Você mente mal. - ele diz e eu quase rio.
Ele se deita do meu lado e continua me olhando do mesmo jeito. Viro e o beijo e tento subir encima dele, mas ele me bloqueia.
- Não Cora. - Lucio diz e me machuca mais que nunca.
- Eu sei. - digo com a voz já chorona, mesmo sem deixar uma lagrima cair.
Sinto meus olhos arderem muito e coloco as mãos nos olhos.
- Cora - ele passa a mão no meu cabelo.
- Eu sei o porquê não quer. - digo baixo.
- Por que acha que eu não quero? - ele diz baixo mas decidido.
- Não quero falar sobre isso. - digo me levantando da cama e indo pegar minha roupa de dormir.
- Cora, volta aqui. - ele me segura pelo braço. - Me diz o que ta acontecendo.
- Para Lucio.
- Me fala! - ele fala com a voz mais alta.
- Você não quer me tocar porque eu estou machucada. - digo virando o rosto.
- E por que está magoada com isso? E não é nem isso. Eu não quero te machucar. - ele diz bravo passando a mal pelo cabelo.
- Eu não to chateada.
- Você tenta fingir demais. Me conta.
- Lucio, você me acha feia? - pergunto com o rosto totalmente vermelha eu sei pela temperatura do meu rosto.
- Não. - ele diz alto e perplexo. - Você, com 15 anos é a garota mais bonita que já vi em toda a minha vida.
- Você não me acha repulsiva por ter tantos machucados?
- Não. - ele diz prolongando e eu me sinto uma idiota completa.
Ele bem e me abraça e beija meu pescoço e vai descendo pelas minhas costas beijando cada arranhão e corte que tem. Sinto uma lágrima cair dos meus olhos. Ele me vira de frente e eu não levanto a cabeça.
- Olha pra mim. - ele diz pegando em meu rosto. - Você tem algum efeito sobre mim, algo que não sei dizer, mas com você eu sou alguém diferente do que eu sou.
- Eu sei como é. - digo baixo.
- Nunca mais sinta vergonha de você. - ele diz me beijando. - E nunca mais fique vergonha do jeito que olho pra você.
- Por que não quer?
- Não quero pra não ferir você.
- Não vou me ferir.
- Vai sim. Você não tem certeza do que você quer.
Beijo ele e ele me abraça.
- Quero que tenha uma juventude normal
- Eu quero você Lucio. Sei que é estranho por sermos da mesma família, mas eu ano consigo me importar com isso, eu só quero que fique comigo.
Ele me leva até a cama e me beija por todo o corpo. Tiro sua camiseta e sinto sua pele encostando na minha, a melhor sensação de todas. Ele tira minha calsinha e eu fico completamente nua na sua frente.
- É muito difícil resistir. - ele diz no meu ouvido me dando mais prazer.
- Não resista.
Um pouco de medo de estar fazendo a coisa errada surge em mim, mas logo é substituída pela sensação de prazer. Lucio passa os dedos na minha região intima me fazendo sentir algo totalmente novo. Ele vem pra cima de mim e me beija.
Ele abaixa a calça do pijama e posso ver o quão excitado ele está.
Ele se abaixa de novo e esfrega seu membro em mim me deixando com mais vontade ainda e quase implorando por isso.
-Por favor... - digo baixo e ele sorri.
Ele vem e me penetra. Sinto uma ardência no começo, mas depois me acostumo com a dor que se torna prazer. Lucio se deita sobre mim e eu passo a mão sobre suas costas largas e fecho os olhos pra sentir mais prazer. Minha mão cai sobre a cama e eu sinto algo viscoso sobre o lençol. Curiosa, mesmo com Lucio entrando e saindo de mim eu olho pra ver o que é, então vejo meus dedos cobertos por um líquido viscoso vermelho, demora dois segundos para eu me tocar de que é sangue. Fico aterrorizada com a quantidade e então grito.
- Lucio, para!!
Olho pra ele e ele se levanta sorrindo de cima de mim e então pega uma faca na mesinha do lado da cama.
- Você é a próxima. - ele diz sorrindo e tampando minha boca com a mão e continua o que estava fazendo mesmo eu gritando e me batendo.



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