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História Corpos Falam - Corpo no apartamento


Escrita por: DeadMoon e dearchanbaek

Notas do Autor


Desculpem os erros e boa leitura! <3

Capítulo 2 - Corpo no apartamento


Fanfic / Fanfiction Corpos Falam - Corpo no apartamento

Depois daquele fatídico dia do confronto, Chanyeol foi quem fez questão de se afastar do Byun. Baekhyun não deixava faltar a educação e sempre que passavam um pelo outro o desejava bom dia, boa tarde ou, até mesmo, um bom trabalho. 

O médico já nem fazia mais questão de ouvir, para ser sincero. Se esquivava e, na maioria das vezes, desviava o caminho toda vez que o via longe nos corredores. Eram poucas as vezes que não tinha escolha e passava por ele, então acabava respondendo com certa grosseria cada cumprimento. 

Naquele dia não foi diferente, já tinha dado um “chega pra lá” no outro e, quando estava pronto para ir embora, Jongdae apareceu gritando:

— Chamado! 

— Agora?! — Respondeu, rabugento. 

— Corpo fresco, acabaram de achar e parece que não faz tanto tempo. Precisamos ir logo. Falaram que o modus operandi é estranho o suficiente para nos acionar de primeira.

— Ok… Vou arrumar as coisas. Me dê dois minutos. 

— Tudo bem, grandão. Vou pegar nossos cafés.

E, assim que o amigo saiu de sua vista, viu pelas janelas do laboratório Baekhyun correndo, provavelmente para pegar carona com o primeiro carro que iria para a cena do crime. Riu, sabendo que ele estava atrasado e que, provavelmente, iria com quem ficasse — sem se lembrar de que era ele mesmo quem estava ali, se arrumando para sair. 

Ao sair do laboratório, conferindo se estava tudo desligado e nenhuma evidência fora do seu devido lugar, seguiu até a praça do café, onde sabia que encontraria Jongdae. Entretanto, não contava dar de cara com o Byun implorando uma carona. 

— Eu juro que vai ser só dessa vez, agente Kim. Eu vou ter mais cuidado em deixar tudo pronto, mesmo no fim do expediente. 

— Está bem, Byun. — suspirou o amigo. — Está pronto, Chan? 

— Sim. — Chanyeol conteve o riso ao ver o rosto do fotógrafo empalidecer. — Vamos? 

— Claro. Você dirige. 

— Valeu. — Sorriu o legista. — Vamos antes que comecem a reclamar da demora. Eu quero ir pra casa ainda hoje. 

— Eu duvido que vamos pra’ casa hoje, mas podemos tentar. 

— É… Eu quero ver quem eu vou capturar pra’ me ajudar essa noite. Será que a cena é tão feia assim? 

— Você não tá’ querendo assustar os novatos de novo, está?

— Eu não assusto eles, Dae. Apenas mostro a eles a realidade do nosso trabalho. 

O Kim apenas riu e entrou no carro, seguido dos outros dois colegas. Estava vendo que Baekhyun tencionava os ombros e desviava olhares o tempo todo, mas não sabia como ajudá-lo propriamente, afinal, o desconforto tinha nome e sobrenome: Park Chanyeol. 

— Baekhyun, você pode ir na frente quando chegarmos, vamos terminar o café primeiro. 

— Tudo bem, agente Kim. Agradeço a carona, de verdade. 

— Apenas tenha certeza de sempre estar pronto, certo? Não prevemos quando assassinatos acontecerão antes do horário de ir embora. 

— Sim, senhor. 

E, bem, quando chegaram, Baekhyun fez o que lhe foi dito. Saiu do carro, após agradecer mais uma vez e subiu pelo elevador até o 4° andar do prédio em questão. 

— Ele é um bom garoto. — Observou Jongdae. 

— Quer ficar pra você? — Debochou o Park, sem nenhuma paciência para voltar ao assunto de almas gêmeas. 

— Já parou pra pensar que ele estava apenas assustado com tudo isso? É claro como a água que ele tenta se aproximar de você vez ou outra. 

— Acontece que ele mesmo disse que não tem chance alguma de nos darmos bem, então, não sou eu quem vai correr atrás. Não nasci ontem. 

— Chanyeol, você não ficou, nem um pouquinho, assustado quando descobriu? Não pensou a mesma coisa que ele? 

— Por um segundo. — confessou. — Mas diferente dele, eu aceitei o destino e estava apto a tentar. Sabe como o amor é importante pra mim, não sabe? 

— Sei. Sei como a marca é importante pra você, meu amigo, mas convenhamos… Ele é mais jovem, entrou na equipe há pouco tempo e vocês só se cutucavam. Qual a chance de levar um soco e descobrir que o agressor é sua alma gêmea?

— Resuma o sermão. — Reclamou Chanyeol, engolindo o resto do café. — O que quer dizer com tudo isso? 

— Fale com ele. Veja se as suspeitas estão erradas, se ele está apenas sendo educado…

— Você, realmente, acha que eu devo falar com ele sobre isso de novo?

— Sim. Não custa tentar, Chan! É sua alma gêmea! Vocês têm a marca que todo mundo sonha em ter! Deviam aproveitar!

— Eu quis tentar, Jongdae. A culpa não foi minha!

— E desde quando eu tô colocando culpados aqui? — retrucou o mais baixo. — Estou dando um conselho de amigo. 

— E eu só vou aceitar esse conselho se me levar pra beber na sexta à noite, bonitão. 

— Ora…! Abusado. 

— Onde vamos? — Pressionou com um belo sorriso sacana nos lábios. 

— No mesmo de sempre. Saímos juntos. 

— Feito!

— Agora vamos, antes que o Jun venha atrás da gente. 

— Vamos. Quero ir embora logo. 

Os dois então subiram até o 4° andar com seus materiais de trabalho e, ao chegarem ao apartamento 403, que estava com a porta aberta e cheia de policiais, todos se afastaram para dar passagem. O corpo, até onde sabiam, estava no banheiro, então, o policial que os recepcionou mostrou o caminho e deixou que as expressões de surpresa chegassem por si mesmas. 

— Meu Deus…! — Começou Jongdae, descrente da cena. 

— Esse aí deve ter feito muita coisa ruim pra’ acabar assim. — Observou Chanyeol, tentando se manter são e pronto para ação. 

O corpo estava sentado na banheira do apartamento. O cadáver segurando a própria cabeça decepada, com os dedos entrelaçados e sem os dois olhos nas órbitas. Também tinha vários "X" marcados nas mãos e na testa, como um aviso ou, até mesmo, uma assinatura. As órbitas estavam fechadas, como se já estivessem coladas, prontas para o velório do ser.  

— Eu nem sei por onde começar com esse aqui. — Disse Chanyeol, após colocar luvas e separar seu material. — Que cena horrível. 

— Alguma dúvida de que foi um crime de ódio? — Debochou Junmyeon, com os braços cruzados, mantendo os olhos no corpo. 

— Nenhuma. Até porque essas marcas no corpo são, claramente, um sinal. — O chefe revirou os olhos, entendendo que o mais alto não tinha entendido sua piada e então se virou para ver o fotógrafo parado, olhando Chanyeol trabalhar.

— Baekhyun tirou todas as fotos que precisava? 

— Acredito que sim, senhor. — Respondeu assustado por ter sido pego no flagra.

— Até mesmo desses "x"? 

— De cada um deles. — Confirmou.

— Ótimo. 

— Eu vou tirar fotos do apartamento, se me permite. — Disse sem graça, sob o olhar de Chanyeol, que parou para prestar atenção na segunda pergunta do chefe.

— Claro, fique à vontade.

E, assim que o menor saiu, encarando o mais alto que não o dava bola propriamente, Chanyeol pôde respirar e começar seu trabalho. Tinha certeza de que todos ali sabiam sobre a birra que tinham um com o outro, então não era ele a esconder.

— Vocês dois precisam conversar. — Disse Junmyeon. — Trabalham juntos há tanto tempo e agora vão começar a rosnar quando se encontram?!

— Não é nada disso, senhor. 

— Então se resolvam logo.

— Sim, senhor. — Bufou o mais alto. — Sabia que precisava colocar certos limites em seu relacionamento com o Byun e que precisavam mesmo conversar, mas não tinha paciência, nem saco, para chamá-lo para uma conversa.

— Com licença. — Pediu Baekhyun, após um tempo.

— Sim?

— Precisa de mim na cena? Eu já terminei por aqui…

— Pode ir embora. — Respondeu sem nem olhá-lo.

— Não precisa de ajuda?

— Por quê? Vai se voluntariar a passar a noite comigo abrindo esse cadáver?

— Eu… Se você precisar de ajuda, posso voltar para a UAC e ajudar.

— Tá’ bom. — Suspirou Chanyeol. — O que é que você está querendo com isso tudo? Porque percebi que já faz dias que você tá’ tentando se aproximar e não fala nada com nada.

— Eu só quero ajudar. — Respondeu, sem coragem de falar qualquer coisa pessoal ali, no meio dos policiais.

— Se é o que você tanto quer, coloque luvas e venha me ajudar a colocar o corpo na maca pra’ podermos levá-lo.

— Tá’ bem.

O Byun sequer reclamou, afinal, queria mesmo falar a sós com o Park sobre o famigerado dia. Não queria que ele ficasse tão rabugento consigo depois daquela conversa, mas também não mediu palavras quando fora abordado com o assunto. Sabia que tinha feito errado e que Chanyeol tinha o direito de ficar bravo com a situação, mas também queria que ele se colocasse em seu lugar, que entendesse que foi pego de surpresa e que quando ouviu o maior falar em tentar um relacionamento, se assustou e não pôde se expressar direito.

— O que quer que eu faça? — Perguntou após colocar as luvas.

— Eu estou pensando na melhor forma de tirá-lo daqui sem prejudicar nada.

— Onde está a maca?

— Não está ali fora?

— Não. Quando entrei não tinha nada ali.

— Então espere aqui.

— Tudo bem.

Chanyeol saiu sem se preocupar se o outro ficaria bem sozinho com o corpo. Precisava achar Jongdae para acionar os preguiçosos que se chamavam de socorristas para colocar o corpo na maca de uma vez. Contudo, não precisou de muito, já que os encontrou e, com um único aceno de mão, conseguiu fazê-los se mover atrás de si, prontos para colocar a mão na massa.

— Baekhyun, deixa que eles façam. Vai ser mais fácil.

— Tudo bem.

— Um de vocês pode segurar a cabeça? Pra’ podermos pegar o corpo sem deixá-lo cair.

E, bem, como o Byun estava bem na frente do corpo, Chanyeol apenas acenou com a cabeça para que ele a pegasse e desse espaço.

— E não encoste ela em você. — Lembrou o Park.

— Está bem. — Concordou o Byun, fazendo o que lhe fora dito. Não confessaria, mas estava animado pela sua primeira ação de verdade em uma cena de crime que não fosse tirar fotos.

Contudo, ele não pensava que segurar uma cabeça seria tão horripilante e ruim. Tinha que segurar com ela virada, para que os órgãos não caíssem pelo pescoço decepado e tinha que tocar o menos possível, para não amassar ou tirar algo do lugar. Até mesmo estava com o estômago embrulhado, vendo todo aquele sangue coagulado e músculos cortados. O cheiro também não era lá dos melhores, fazendo tudo parecer ainda pior.

— Me dê isso aqui e vá respirar um pouco. — Disse Chanyeol, pegando a cabeça das mãos do menor, vendo a palidez de seu rosto e o horror em seus olhos. — Se não consegue fazer alguma coisa, precisa falar. Não quero ninguém passando mal em cima dos meus cadáveres.

— Desculpa. Eu só não tô’ acostumado. — Sussurrou antes de sair e deixar com que o pessoal trabalhasse.

O fotógrafo levou um tempo até conseguir voltar para a cena e ver o que mais Chanyeol precisava antes de voltar para a Unidade. Ele ainda tinha a vontade de ir ajudar e ver como o legista trabalhava bem de perto, então não perderia a oportunidade. Queria ir, e grudaria no Park se fosse preciso.

— Já estamos partindo. Você vai com a gente? — Perguntou Jongdae, sorrindo.

— Se eu puder, com certeza.

— Vá pra casa. — Interrompeu Chanyeol. — Quase vomitou no corpo antes mesmo de abrirmos.

— Mas eu quero ajudar. Eu quero ver como é feito. — Chanyeol suspirou, pois não podia negar. Não podia porque não havia mais ninguém para ajudá-lo.

— Se passar mal de novo, não entra mais no meu laboratório.

— Tem certeza que consegue? — Questionou o agente Kim. — Chanyeol é perfeccionista com seu trabalho e muito detalhista, então ele abre tudo o que consegue. Se você não aguentar, peça pra’ ir embora, eu fico com ele.

— Não. Eu vou conseguir.

— Tudo bem. Apenas seja sincero e diga o que sentir para ele, certo? Se passar mal, avise, de verdade.

— Pode deixar. Vou dar o meu melhor.

— Dê bastante café a ele. Ajuda a manter a calma e a concentração. Ele fica menos puto quando tem café.

— Anotado. — Sorriu Baekhyun. — Obrigado, agente Kim.

— Não há de quê, garoto. Agora vamos que o corpo já foi. E Chanyeol vai ficar ainda mais mau humorado se você demorar pra’ ir até ele. 

— Você acha que ele vai ficar muito bravo se eu conversar com ele durante o trabalho?

— Acho que não. Se o assunto for sério, vá devagar e veja como ele reage. Geralmente, quando se trata de vida pessoal, ele prefere conversar fora do trabalho ou nos intervalos. 

— Certo. — Suspirou o menor. — Ele ainda está muito bravo comigo? 

— Eu não diria bravo, mas, sim, chateado. A marca significa muito pra ele desde que era pequeno e, bem, você fez questão de falar pra’ ele que não se importava se era marcado ou não. 

— Não foi bem isso o que eu quis dizer, mas… Eu vou falar com ele. 

— Faça isso. Apenas não leve pro’ coração, sabe como ele é cabeça dura às vezes. 

— Pode deixar. Obrigado, agente Kim. 

— Não há de quê. 

Os dois, saindo do elevador, em silêncio total, seguiram até o carro, onde viram Park e Junmyeon conversando seriamente, então se aproximaram vagarosamente, para que vissem que estavam ali e não iriam se intrometer no que quer que fosse. 

— Vão logo. — Disse o chefe. — Byun vai ficar com Chanyeol para abrir o corpo? 

— Sim, senhor. 

— Bom, boa sorte então. Me avisem quando acabar e bom descanso. 

— Se precisar me chame. Sabe que eu não tenho essa de fazer questão de tirar folga. 

— Você precisa de uma folga, Park. Agora vá. 

— Sim, senhor. 

— E nada de brigas no laboratório. 

— Sim, senhor.  — Responderam em uníssono, antes de entrar no carro. 

— Então vão ter folga amanhã, hein?! Quanta regalia!

— Nós vamos?

— Vamos. — Chanyeol respondeu. — Quando ficamos a noite trabalhando, tiramos o dia de folga. 

— Mas e se tiver outro caso amanhã? 

— Eles deixam o corpo na geladeira. 

— Mas e as chances de perder alguma prova? Porque tem, não tem? 

— É o que eu digo ao Junmyeon. — Falou o médico, convencido de que não precisava tirar folgas. — Mas ele não deixa com que eu pise no prédio nas próximas 24 horas. 

— O chefe já teve que cancelar a digital dele pra’ mandar ele pra casa. 

— Na entrada? — Perguntou Baekhyun. 

— Sim! Naquela catraca da entrada. 

— Workaholic. — Foi o que o Byun respondeu. 

— Prefere perder as evidências? — Retrucou o Park, o olhando do espelho do carro. 

— Trabalhar até a exaustão também não é bom. 

— Ouviu, Park? Até ele sabe! Precisa descansar. 

— Um dia não mata ninguém, por favor. 

— Teimoso que nem uma pedra. — Reclamou Jongdae. — Trate de ficar em casa amanhã. 

— Eu vou. Junmyeon me proibiu de ir ao prédio amanhã. 

— Perfeito. 

— O que quer comer hoje, Baekhyun? — Questionou Chanyeol, de mau grado. 

— Estou bem, obrigado. 

— Vamos passar a noite em claro, precisamos comer. É por conta da empresa. 

— Ah… O que você pedir pra’ mim tá’ ótimo. 

— Não conte com isso. — Riu Jongdae. — Chanyeol vai pedir pizza havaiana se deixar. Ou vai pedir comida sem gosto.

— Eu gosto de pizza havaiana… — Sussurrou o fotógrafo, tendo a indignação do Kim e o sorriso largo do Park.

— E aí, vai tirar sarro do fotógrafo agora também?! — Riu Chanyeol, adorando ter alguém que comesse o mesmo que si. 

— Vocês são loucos de comer essas coisas horríveis. Já não basta comer coisa gordurosa, tem que misturar frutas junto? Argh!

— É gostoso. — Se defendeu Baekhyun. — O abacaxi quebra todo o gosto de gordura do queijo.

— Eu digo isso pra ele o tempo todo, mas ele não ouve. — Disse Chanyeol. — Nem tente, é só perda de tempo.

— Está bem. — Respondeu o fotógrafo. — Então nós podemos pedir pizza hoje.

— Com uma garrafa grande de refri gelado.

— Eu não tomo refrigerante. — Respondeu prontamente.

— Por quê? — Fora Jongdae o curioso a perguntar.

— Porque eu tendo a ficar muito inchado quando tomo… Como já vou comer pizza, não posso beber refrigerante.

— Então você tem complexo com seu corpo. — Deduziu o legista. — Você é tão magro, não precisa disso.

— Ah… Eu tenho hipotireoidismo, então eu preciso mesmo me cuidar pra’ não engordar…

— Mas hipotireoidismo não te impede de tomar refrigerante. Você toma seus remédios certo?

— Sim, todos os dias no mesmo horário. — Confirmou.

— Então você tem, sim, um complexo com seu corpo.

— Quer parar de colocar o garoto contra a parede? Ele gosta de ser magro, só isso.

— Está bem, nossa. — Reclamou o maior. — Eu também tenho, por isso falei. — Explicou-se. — Sou obcecado por exercícios físicos, então, quando não estou trabalhando, estou na academia. Qualquer mudança mínima no meu corpo, no meu rosto, eu dobro os exercícios.

— E para de comer, vive na base de água e café, passa mal durante o expediente…

— Ei! Quer parar? Isso não aconteceu tantas vezes assim…

— Quer mesmo discutir sobre isso?

— Não. Eu estou me cuidando, vou até comer pizza hoje.

— Pizza ruim que vai fazer vocês dois entrarem de dieta já amanhã, pelo jeito.

Chanyeol sequer respondeu, apenas olhou para Baekhyun pelo espelho novamente e seguiu seu caminho até a UAC, onde o corpo já deveria estar os esperando para ser aberto. Sabia que aquele tópico podia ser muito sensível, por isso se expunha, para que pudesse mostrar que era mais comum do que achavam ser. 

Quando chegaram, Chanyeol foi primeiro pedir a pizza e depois se paramentar. Quando entrou no laboratório, viu Baekhyun entretido no celular, enquanto escrevia furiosamente, com uma cara nada boa. Sequer tinha percebido sua presença ali. 

— O corpo já chegou? — Perguntou, vendo o menor pular de susto e o olhar com raiva.

— Está na gaveta.

— Então ponha as luvas. Hora de trabalhar. — Mandou o médico, já abrindo a gaveta e puxando a maca para o centro do laboratório, para colocar o corpo na mesa. — Pegue os pés com força e quando eu disser já, colocamos na mesa.

— Certo. — Disse Baekhyun, já com medo.

— Já!

A manobra foi até fácil, porque os dois fizeram até mais força do que precisava, considerando que o corpo já estava no início do rigor mortis, então já tinha certa dureza na hora de mexer. O médico, após ajeitar o corpo da forma que queria, separou sua caixa de instrumentos estéreis, para só então dar atenção ao fotógrafo que olhava para o cadáver sem nem piscar, tamanha impressão que teve. 

— Quanto mais você olhar, pior é. — Aconselhou o médico. — Se ficar com a imagem muito tempo na cabeça, vai ter pesadelos mais tarde.

— Você ainda tem pesadelos?

— Não mais. Mas tive por muito tempo, de verdade.

— Entendi…

— Bom, temos que tirar essas roupas. Consegue tirar as calças dele?

— Posso tentar.

Os dois não tiveram tanto sucesso na rapidez de tirar as roupas do defunto, afinal, a rigidez aumentava a cada minuto, o que dificultava, principalmente para o menor, que não tinha experiência alguma com o trabalho.

— Pode colocar elas num saco de evidência e colocar na cesta do laboratório. Vou mandar pra’ análise amanhã pela manhã. — Pediu Chanyeol, enquanto olhava o corpo nu, com mais detalhes.

— Quer que eu tire as fotos? — Perguntou o menor, depois de ter feito o que fora pedido.

— Se você quiser, sinta-se à vontade. A câmera do laboratório ainda não chegou, então eu tava usando o meu celular mesmo. — Explicou o maior, se afastando do corpo.

— Eu tiro e mando pro’ Junmyeon quando ficarem prontas.

— Agradeço. Vai demorar muito?

— Uns minutos.

— Então eu vou ver se nossa pizza já chegou. O porteiro não costuma avisar no meu ramal, então eu vou perguntar.

— Tudo bem.

Baekhyun estava bem. Estava mais acostumado ao ver o corpo, principalmente agora que estava na posição anatômica normal, com a cabeça onde deveria estar, mesmo que separada do resto do corpo ainda. Os detalhes do resto também não estavam tão pesados, como as partes expostas, tinham algumas marcas de luta, hematomas, mas nenhuma perfuração, nem nada.

Então, quando Chanyeol retornou, Baekhyun entregou a câmera para que ele visse seu trabalho e como tudo tinha ficado, antes de guardar seu instrumento de trabalho tão precioso.

— Estão ótimas. — Foi o que Chanyeol disse. — Quer ir comer antes de abrir?

— É melhor ou pior comer antes?

— Melhor, porque sua pressão não cai rápido e pior, caso você vomite.

— Não sei se quero comer, na verdade. — Disse o menor, com medo de passar mal.

— Vamos comer, você vai ver que vai se sentir melhor depois.

— Tem certeza?

— Vamos logo, fotógrafo. — Respondeu Chanyeol. — Da próxima vez, pense duas vezes antes de se voluntariar.

— Mas eu quero aprender. — Retrucou. — Sei que preciso melhorar, mas eu quero ser promovido a agente, é o meu sonho.

— Mas pra’ ser agente você não precisa saber como abrir um corpo, Baekhyun.

— E não é interessante participar de tudo?

— Quantos anos você tem mesmo?

— Isso foi uma pergunta séria ou…?

— Séria.

— Tenho 25. — Respondeu, sem entender o porquê da pergunta. — E você?

— 32.

— Sério? — Ao ter a confirmação, Baekhyun pareceu ainda mais surpreso. — Achei que fosse mais novo.

— Isso é pra’ ser um elogio ou uma crítica?

— Elogio. — Falou o menor, já abrindo a caixa da pizza ao entrarem na cozinha. — Que fome.

— Eu disse que era melhor a gente comer antes.

— Eu vou buscar um copo de água. — Disse Baekhyun, já se virando para ir ao bebedouro.

— Não precisa, eu pedi um suco de laranja pra’ nós.

Chanyeol já servia os dois copos, fazendo com que o menor não tivesse escolha, a não ser se sentar e beber junto com o médico. Não faria desfeita, logo naquela noite, afinal, além de não querer contrariar Chanyeol, não queria deixar o clima ruim, pois não havia para onde fugir.

— Eu… — Começou Baekhyun, sem saber, realmente, por onde começar.

— Você?

— Eu queria pedir desculpas por aquele dia. — Falou, olhando nos olhos do maior, que não esboçava reação. — Fiquei muito surpreso com tudo aquilo e me expressei muito errado.

— Muito errado? — Retrucou Chanyeol, confuso, mas ainda pensativo sobre dar atenção ao menor sobre o assunto ou não.

— Sim… Eu fiquei assustado quando entramos no assunto e… E eu ainda estava magoado com o soco que você me deu. Não achei que fosse me pedir desculpas ou algo do tipo, entende? E eu acabei falando muita besteira.

— E onde você quer chegar com esse assunto? — Questionou o médico, já preocupado em onde aquilo daria, afinal, não estava entendendo onde o fotógrafo queria chegar.

— A marca também é importante pra mim. — Disse depois de mastigar um bom pedaço da fatia da pizza. — Eu sonhei com ela minha vida toda e…

— E falou que nunca daríamos certo. — Alfinetou o maior, não contendo a língua, pela mágoa que sentia. — Nem sequer cogitou tentar. Que nunca daríamos certo e que não nos aproximaríamos por conta da marca.

— Eu…

— Além de me pedir pra’ não contar a ninguém sobre. — Continuou o legista, firme e afiado.

— Me desculpa, tá’ legal?! — Baekhyun interrompeu, aumentando o tom de voz. — Eu tinha acabado de terminar um relacionamento e estava sensível, não queria jogar nada pra’ cima de você, por isso disse que não queria que tivéssemos uma experiência ruim. Eu estava errado e eu admito, por isso estou aqui, pedindo desculpas.

— E pensa que vamos virar amigos a partir disso? — Perguntou ainda mais confuso.

— Eu estou aberto a tentar. — Foi o que ele respondeu, bebericando o suco, enquanto Chanyeol comia. — Se você também quiser, podemos nos aproximar e tentar fazer isso dar certo. 

— Por que você mudou de ideia? — O médico perguntou, cético com tudo aquilo, afinal, Baekhyun parecia irredutível naquele dia em que conversaram pela primeira vez. — Está pensando que eu vou ser um tapa buraco? 

— Não. Somos almas gêmeas, afinal, quem melhor do que você para estar ao meu lado? 

— Eu não acredito que você não tem um motivo. — Baekhyun suspirou, mas entendeu, afinal, ele tinha feito a mesma coisa anteriormente com o legista. Não havia acreditado em nada do que ele falara, nem que podiam estar juntos sem algum interesse.

— Eu te entendo. — Disse depois de um tempo. — Fiz a mesma coisa contigo há dias atrás, então sei o que está sentindo, mas eu estou sendo sincero. Acredito que o tempo me fez perceber que você estava certo e que não custa tentar. Se nascemos para ficar juntos, podemos, ao menos, tentar.

— Tá… — Ainda cético, Chanyeol respondeu.

— Bom, era isso. — O mais novo respirou fundo e, sem conseguir olhar para Chanyeol, enfiou mais um pedaço da fatia na boca, para se entreter em algo que não era o cara que carregava sua marca no ombro.

— Eu não sei o que falar. — Respondeu com sinceridade. — Você também tinha razão quando disse que não daríamos certo. — Vendo a surpresa nos olhos do menor, o médico se explicou melhor. — Nesse momento, não temos nada que nos diga que podemos dar certo. Nos odiamos desde o primeiro dia e continuamos a nutrir esse sentimento até descobrirmos a marca, então, realmente, não daríamos certo. Pelo menos, não agora.

— Então eu ainda tenho uma chance? — Perguntou, despretensioso, o fotógrafo.

— Só o tempo nos dirá. — Foi o veredito final. — Agora coma logo que temos um corpo pra abrir.

— Que horas vamos pra’ casa? — Perguntou, para se programar para o dia de folga.

— Quando terminarmos o serviço. — Respondeu com simplicidade. — Temos que abri-lo, anotar toda e qualquer alteração, fechar e deixar o mais preparado possível para o enterro.

— No caso dele o caixão não seria fechado? — Questionou o fotógrafo.

— Sim, mas temos que deixá-lo preparado para caso o caixão tenha a janela de vidro, sabe? Onde só aparece a cabeça.

— Ah…

— Preparado? — Perguntou Chanyeol ao ver o menor satisfeito com a comida.

— Você que não comeu quase nada. — Reclamou. — Comeu dois pedaços pequenos.

— Lembra o que eu disse sobre ter complexo com meu corpo? — Com o menear de cabeça de Baekhyun, o legista continuou a explicação. — Se comer mais um pedaço, sei que minha barriga vai estufar e eu vou me obrigar a passar o dia sem comer ou na academia amanhã, para perder tudo isso.

— Mas você é magro…

— É, é isso o que todo mundo diz quando falamos que não aceitamos nosso corpo da forma que é, não é?! — Sorriu com deboche. — Agora vamos, mais tarde comemos mais.

— Tudo bem.

— Ainda não está arrependido de ter ficado?

— Não, eu deveria estar?

— Vamos ver o que me diz até o fim da noite. — Sorriu o médico, apertando o passo até o laboratório. — Coloque essas luvas cirúrgicas, são mais higiênicas e contaminam menos o corpo.

— E tem diferença de uma pra’ outra?

— Essas cirúrgicas, são estéreis, portanto, o mínimo de poluição de fora vai para o corpo. Claro que ainda é um tabu usá-las em um morto, mas há pesquisadores que acreditam que o corpo fica preservado por mais tempo se usadas essas luvas.

— Mas as bactérias já não atuam desde a morte?

— Sim, mas há vários fatores que aceleram a decomposição, entende? Quanto menos fatores colocarmos no corpo, menos ele se decompõe.

— Ah, tipo as bactérias da minha mão nele.

— Exatamente. Fungos, micro-organismos, ácaros, tudo o que decompõe a matéria com mais rapidez.

— Entendi.

Chanyeol se virou de costas para o novo parceiro de laboratório para checar seus materiais estéreis na mesa de instrumentos. Encaixou as lâminas em seus respectivos bisturis, arrumou as serras para abertura torácica e organizou suas pinças, tesouras e afastadores como gostava. Seguia uma ordem específica há anos, então sequer olhava a mesa para pegar o que precisava.

— No que eu posso ajudar? — Perguntou o fotógrafo, ansioso para a ação.

— Pode pegar esse spray azul da mesa e borrifar em todo o tórax, por favor.

— Claro. Mas… Isso não apaga evidências?

— Bom, como ele estava de roupas e não teve nenhuma perfuração, podemos limpá-lo sem maiores problemas. O corpo não está sujo nessa parte e não aparenta ter qualquer substância diferente. As fotos também já foram tiradas, então tudo bem.

Baekhyun afirmou e borrifou várias vezes, enquanto Chanyeol passava gazes para limpar bem onde faria as incisões para abrir o tórax. Era um TOC seu, tinha que limpar bem o tórax antes de abri-lo, caso contrário, se sentia ansioso e insatisfeito com o seu próprio trabalho.

— Posso começar? — Sob o olhar curioso do colega, Chanyeol se concentrou e esperou pela resposta positiva para fazer o primeiro corte. — Vamos abrir primeiro o corpo, para depois abrirmos a cabeça, tudo bem?

— Por que abrir a cabeça? — Perguntou impressionado com a rapidez que o médico fazia as incisões no peito do cadáver.

— Porque precisamos ter ideia de tudo. Por exemplo, um homem que foi esfaqueado e chegou aqui com claras feridas de faca, a causa da morte é confirmada?

— E não é? — Retrucou Baekhyun.

— Pense que, e se ele levou as facadas, mas, ainda assim, sobreviveu. Qual a provável causa da morte?

— Hemorragia?

— É uma das causas, mas, e se a vítima caiu, bateu a cabeça e, por isso, faleceu?

— Isso não é improvável?

— Mas quando se trata de um crime, não é relevante?

— É… Tem razão. — Suspirou Baekhyun, olhando para o corpo nu da vítima em questão. — Ele está cheio de hematomas, não é?

— Ele, com certeza, lutou bastante antes de morrer. Olha como os pulsos dele estão marcados e com hematomas fortes. As pernas também, parece que levou vários golpes.

— E temos como saber com o que foram dados esses golpes?

— Não especificamente. Podemos apenas ter uma ideia dos formatos, mas nunca certeza, a não ser que tenham resquícios em pele, em roupas ou a arma do crime na cena ou descoberta mais tarde pelos agentes.

— E os objetos que o Jongdae, geralmente, recolhe nas cenas. Quem analisa eles?

— Eles passam por duas pessoas, pelo menos. Uma delas, que ultimamente tem feito tudo sozinho, é o papiloscopista, ele é perito em digitais e análises clínicas para reconhecimento de pessoas. É pra ele que mando todas as roupas, acessórios e tudo o que precisa ser analisado microscopicamente ou digitalmente. Meu trabalho é completamente manual e, apenas, no corpo das vítimas.

— Ah, entendi.

— É por isso que sou detalhista em tudo.

— Deve ser difícil aprender a lidar com tudo dessa forma. — Disse o menor. — Você tem que ter um olho muito bom e técnicas muito boas.

— Tudo vem com a prática. Foram anos aprendendo a teoria na universidade, depois alguns anos de prática em campo, em pós-graduações e em cursos à parte, então eu acabei desenvolvendo meu modo favorito de trabalhar.

— É interessante ver você em campo. — Confessou. — É incrível como você consegue tirar várias informações apenas de olhar o corpo e seu estado.

— Isso aprendemos nos cursos de especialização e com experiência. Não tem tanto segredo. — Respondeu Chanyeol, feliz em ser reconhecido por um colega. Gostava de saber que todos os seus esforços tinham resultado e gostava ainda mais de ouvi-los da boca dos outros.

— Continua sendo incrível.

— Obrigado. — O médico ainda fez uma reverência em brincadeira, para disfarçar a vergonha, e então posicionou a serra para cortar as costelas já dissecadas e abrir a cavidade torácica de verdade, ver os órgãos e constatar se estavam, ou não, intactos. — Vou fazer barulho, não se assuste. 

 — Tudo bem, eu aguento.

— Então, senhor “eu aguento”, segure esse afastador aqui pra mim. — O médico colocou o instrumento por debaixo da pele e puxou, dando mais visão das costelas do cadáver, entregando a ponta para Baekhyun mantê-lo daquela forma. — Se começar a passar mal, me avise.

— Eu estou bem.

— Então vou começar.

Assim que Chanyeol ligou a serra, Baekhyun fechou os olhos, apenas sentindo o corpo se mexer com os movimentos que o médico fazia. Não queria vê-lo abrindo e retirando pedaços do outro, apenas queria ver tudo pronto, matar sua curiosidade de como fazer.

— O coração dele está bem preservado, mas era um fumante, com certeza. — Comentou o mais alto, colocando a mão por dentro, mexendo nos órgãos que estavam em meio ao sangue ali contido, derivado do extravasamento postmortem. Baekhyun, por sua vez, resolveu olhar e entender como é um pulmão de um fumante e ver, pela primeira vez, um coração.

— Nossa, é cinza. — Exclamou o menor, fazendo Chanyeol rir.

— Só é cinza desse jeito porque ele fumou por muito tempo, provavelmente. Os pulmões têm coloração rosa claro quando funcionais e, após a morte, ficam arroxeados, mas não dessa cor intensa, ainda mais com essas petéquias, essas manchas aqui. Tendem a escurecer e ficar mais cinzentos após muitas horas do óbito ou após o tratamento com formol.

— Eu vi pulmões bem roxos quando assisti um documentário sobre anatomia.

— Eles vão ficando mesmo, pela falta de oxigenação e o sangue parado e "sujo".

— Entendi. — Baekhyun queria não ficar tão impressionado ao ver tudo aquilo ao vivo, mas não conseguia, principalmente quando Chanyeol cortou o que ligava os pulmões à traqueia e retirou o órgão, após mais alguns cortes de veias e artérias ligados a eles.

— Pode fechar os olhos, eu vou mexer em tudo ainda. — Debochou o médico, vendo Baekhyun ficar pálido.

— Você tira todos os órgãos dele? Tipo… Todos?

— Preciso tirar, até porque preciso investigar todos eles, um por um. Tirando os órgãos abdominais, que eu consigo mexer, abrir e retirar pedaços sem ter que retirar tudo, os pulmões, coração e o cérebro sempre são retirados.

— Mas você coloca de volta depois?

— Depende. — Respondeu. — Nós temos convênio com a SKY, a tríade de universidades daqui de Seoul, então, quando os parentes falam que vão enterrar, entramos em contato para ver se precisam de órgãos para estudo, caso contrário, tratamos como lixo infectante, já que também temos como incinerar com várias outras coisas que também precisam ser descartadas com muita higiene. Nesses casos tiramos os intestinos ou fazemos um bom embalsamento do corpo, por conta do cheiro e dos resíduos que ficam.

— E se o corpo for cremado?

— Dai eu coloco de volta e mando o corpo para o profissional reestruturar da forma que preferir antes de cremar. Cada um tem um jeito de fazer o processo e também depende da família que vai escolher fazer um velório ou não, se são religiosos e se a religião deles pede uma quantidade de dias antes da cremação, se eles querem ver o corpo a qualquer custo e afins. Isso tudo, claro, se eu não precisar ficar com os órgãos para uma análise laboratorial e um exame mais demorado e se eu já não tirei os órgãos para fora, como acabei de fazer com o pulmão. Esse vai ser mandado pro lixo infectante ou pro laboratório.

— Mas na preparação eles não tiram?

— Depende, mais uma vez, de quem está fazendo o trabalho. A maioria dos profissionais fazem o embalsamento e acabam fazendo a sucção dos resíduos com um trocar, que é um instrumento aspirativo, então é como se eles fizessem uma lipoaspiração no cadáver. Eles não precisam dos órgãos, na realidade, mas como algumas religiões e famílias preferem enterrar ou cremar com o corpo “intacto”, prefiro devolver de onde tirei, quando tem como.

— Entendi. É muita burocracia.

— É, mas é necessária, pra’ não causar estresse mais tarde. A questão mesmo é que os parentes exigem ver a pessoa, ver o corpo e tudo mais.

— Eu entendo. Todos os enterros que fui até hoje o caixão era aberto e as pessoas, realmente, gostam de ver, de tocar e afins.

— Sim, exatamente. Contudo, esse aqui, mesmo que peçam para ter um velório, será com caixão fechado, por conta da cabeça decepada. Isso nem com a melhor da maquiagem consegue tapar.

— Do jeito que está, com certeza não.

— Bom, consegue colocar os pulmões naquela outra mesa ali, por favor? — Questionou o médico, entregando o órgão para o mais baixo.

— É só colocar?

— Sim.

Baekhyun o fez, mas prendeu a respiração até deixar os pulmões na mesa ao lado. Não tinha estômago para aquilo e tinha certeza naquele momento de que não servia para trabalhar com corpos. Não daquela forma, muito menos com Chanyeol o testando.

A autópsia se seguiu, de acordo com o que Chanyeol sabia e gostava de ter como ordem de acontecimentos. Ele até que trabalhava rápido, segundo Baekhyun, afinal, ele era detalhista e olhava até mesmo com lupas os órgãos que achava necessário. Colocava em potes e em saquinhos as evidências que mandaria para laboratório e, como a cereja do bolo, pediu para que o fotógrafo tirasse as impressões digitais, ensinando como limpar as mãos do defunto, assim como passar o rolo de tinta carimbeiro e colocá-las no papel, para enviarem para análise mais tarde.

— Achei que você fazia tudo, assim como nos seriados da TV. — Comentou Baekhyun.

— Eu levaria semanas para cuidar de apenas um caso, se fizéssemos isso. Além de não ter vida fora daqui, afinal, eu teria que resolver tudo sozinho.

— É, isso é verdade. — Suspirou o mais baixo. — O que mais falta?

— Já está impaciente?

— Não, eu estou curioso, pois ainda tem a cabeça…

— Sim, aqui só falta mesmo olhar a genitália, pra ter certeza de que não houve estupro e, caso tenha acontecido, se o autor do crime deixou rastros, como esperma.

— Eu espero que não tenha nada ali.

— Então vai continuar esperando, pois, com os esfincteres relaxados, com toda a certeza, tem fezes ali.

— Que nojo. — Murmurou, mesmo que estivesse ajudando Chanyeol a virar o corpo. — A gente não deveria ter visto isso antes?

— Não necessariamente. — Respondeu o mais alto. — Segure os glúteos dele abertos, por favor.

— Tudo bem.

Contudo, conforme Baekhyun abria os glúteos do morto, a surpresa chegava até os dois, ao ver ali, nada mais, nada menos, que um dos globos oculares enfiados, quase saindo. O fotógrafo, já estava branco como a parede naquele momento, mas não conseguiu aguentar quando Chanyeol tirou o órgão com uma pinça e o outro olho, simplesmente rolou para fora junto, expelido como se fosse nada.

— Baekhyun! — Chanyeol gritou e correu segurar o balde quando percebeu que o outro ia vomitar. — Aqui, pode colocar tudo pra’ fora. — Aconselhou e teve toda a paciência do mundo enquanto o colega vomitava todo o jantar. Sabia que ele não aguentaria até o fim, então já estava preparado para vê-lo passar mal, no fim das contas. — Senta aqui, vem.

O médico cuidou do menor, que teve a pressão caindo mais a cada minuto. Ele o sentou em sua cadeira do laboratório e esfregou suas costas até que o menor conseguisse levantar a cabeça sozinho e colocar o balde no chão, indicando que não vomitaria mais.

— Tudo bem? — Perguntou, preocupado, retirando as luvas do menor, após ter tirado as suas próprias para acudi-lo.

— Eu só preciso de um momento. — Garantiu o menor.

— Eu termino aqui sozinho, não se preocupe. Só vou coletar material e então fechar o corpo para esperar a família decidir o que fazer. — Chanyeol não podia nem esconder o quão preocupado estava, afinal, fazia tempo que não via alguém passar tão mal em meio uma autópsia.

— Desculpa.

— Não precisa se desculpar, a culpa não é sua. — Respondeu Chanyeol de imediato. — Nem eu poderia prever algo assim… Estou realmente chocado com esse caso. Quero muito saber os motivos do assassino para deixá-lo dessa forma.

— Como você consegue lidar com isso com tanta naturalidade?!

— Anos de experiência. Já passei muito perrengue e já levei muito susto nesses anos que estou aqui.

— Mas isso não te choca?

— Choca, mas não tanto quanto choca a você.

— Meu deus… — Sussurrou, passando as mãos pelo cabelo, tentando melhorar o mais rápido possível.

— Fique quietinho aí, eu termino aqui rapidinho.

E bem, o “rapidinho” levou mais de uma hora para ser feito, afinal, Chanyeol até mesmo costurou a cabeça de volta no corpo antes de guardá-lo. Baekhyun, naquele momento, já estava se sentindo melhor, mas ainda não conseguia olhar para qualquer outro canto da sala sem se lembrar do ocorrido e sentir náuseas.

— Vem, vamos pra sala de descanso. — Pediu Chanyeol, após tirar as luvas novamente e chegar perto do menor.

— Já acabou tudo?

— Sim. Já o coloquei na geladeira, então apenas precisamos esperar a resposta dos familiares para saber sobre o que fazer com o corpo.

— Isso é demorado?

— Na verdade, sim. E mesmo que eles decidam rápido, tudo o que podemos fazer é esperar, pois o corpo tem que ficar refrigerado por, no mínimo, 24 horas, antes de qualquer procedimento. 

 — Por quê? — Questionou o Byun, curioso, seguindo o maior até o outro cômodo.

— Porque, segundo acontecimentos, uma pessoa pode estar viva e ser dada como morta, então temos que esperar um dia inteiro para confirmar a morte, mesmo que já esteja dentro da geladeira.

— Desnecessário. — Foi o que comentou o fotógrafo, após se sentar no sofá enorme que tinham na unidade. — Como é que alguém vai conseguir ficar vivo depois de autópsia e ficar na geladeira?

— São casos e casos, né? Mas, como órgão federal, apenas obedecemos às ordens.

— Eu entendo.

— Está se sentindo melhor? — Perguntou o médico, depois de um silêncio na sala de descanso. Querendo ou não, ele já estranhava o silêncio do Byun por muito tempo, afinal, era o menor quem sempre puxava assunto.

— Um pouco… — Suspirou antes de continuar a falar. — Acho que aquela imagem nunca vai sair da minha mente.

— Eu te entendo perfeitamente, mas, se serve de consolo, nem eu tinha visto algo tão brutal antes. Sequer consigo pensar em motivos para fazer isso com alguém.

— Jura?

— Sim. Já acompanhei vários serial killers nesses últimos anos, mas não um assim, que tivesse um detalhe tão característico.

Baekhyun não respondeu. Estava entre o encanto e o horror pelo que estava vivendo, além de estar digerindo todo aquele caso e o que vira minutos atrás. Já Chanyeol, estava preocupado pelo silêncio do fotógrafo. Tinha uma boa ideia do que ele estava sentindo, pois seus primeiros anos ali na UAC tinham sido intensos também.

Pensando nisso, se levantou e preparou um chá de camomila com hortelã para o colega de trabalho, sem que ele percebesse sua movimentação. Também não forçou nenhuma conversa, pois entendia a importância dele superar o caso sozinho, afinal, cada pessoa era diferente e lidava com cada situação a sua forma.

— Aqui, tome pelo menos um gole. — Disse meio seco, entregando a xícara com o líquido quente. Baekhyun o olhou surpreso, a princípio, pelo susto que levou ao ser retirado de seus pensamentos, mas também ao ver a figura cuidando de si. — Tá’ sem açúcar, se você quiser, coloque um pouco, mas não exagere.

— O que é isso?

— Apenas tome. — Retrucou Chanyeol, voltando a se sentar, mesmo que mantendo os olhos no fotógrafo.

— Obrigado. — Respondeu, mesmo sem saber sobre o que se tratava. Imaginava que era para ajudá-lo em seu enjoo, então se sentiu grato ao mais alto por estar ali e se esforçar para vê-lo bem. Bebeu, sentindo o gosto amargo da mistura e, com cara feia, colocou três goles para dentro, antes de deixar a louça na mesa. — Desculpe pelo vexame. — Murmurou após conseguir se acostumar com o amargo do chá em sua garganta.

— Acontece, Baekhyun, não se preocupe com isso.

— Mas eu me sinto em dívida com você. — Retrucou, pois se sentia mesmo daquela forma.

Uma das muitas características do Byun era essa: Dar e receber na mesma moeda — mesmo que muitas vezes desse mais do que recebia. Gostava de pessoas que fariam por ele o que ele faria por elas, assim como se doava nas amizades e relacionamentos, sem medir consequências. Se sentia em débito com o Park pelo fato de ter sido acudido e cuidado pelo médico, sem nem pedir sua ajuda.

Então me leve para jantar, assim não ficará mais em dívida comigo.


Notas Finais


Espero que tenham gostado!
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