1. Spirit Fanfics >
  2. Corrupted (Livro 1) >
  3. Os Diggory

História Corrupted (Livro 1) - Os Diggory


Escrita por: moonysupreme

Capítulo 16 - Os Diggory


Fanfic / Fanfiction Corrupted (Livro 1) - Os Diggory

24 de agosto de 1994.
Bloomsbury, Londres.
03:54.

A casa dos Sparks estava silenciosa, os únicos sons que podiam ser escutados eram o ruído do piso e o farfalhar das árvores do lado de fora. Daisy e Chester dormiam tranquilos em seu quarto, Amy sonhava com animais falantes em sua cama aconchegante, e era de se esperar que Eleanor estivesse fazendo o mesmo. Mas não estava.

Foi dormir algumas horas mais cedo do que o normal, ansiosa, esperando que se dormisse mais cedo, teria que esperar menos tempo para ir pra Copa Mundial de Quadribol.

Desde que seus pais deixaram que ela fosse com Cedric e o pai dele, ela começou a sentir uma ansiedade imensa em seu peito. Até mesmo Carter percebeu que ela andava inquieta, mas ela conseguia arrumar uma desculpa todas as vezes.

Uma semana antes, depois que ele recebeu a carta de Eleanor dizendo que ela poderia ir com eles, Cedric a enviou um livro com a história do Quadribol para que ela conhecesse os times: Bulgária e Irlanda. Mandou também uma carta que dizia que eles iriam buscá-la ás 17h do dia 24 de agosto, para saírem da casa dos Diggory cedo, no dia 25.

Eleanor usava a própria varinha para iluminar o livro A História do Quadribol. Acordou no meio da madrugada depois de um sonho estranho, e como estava muito ansiosa para dormir, decidiu reler para garantir que fosse saber de tudo quando chegasse lá.

Naquele momento, analisava homens com vestes verde voando em vassouras, entrando e saindo das laterais das páginas, arremessando e rebatendo balaços. Viu um dos bruxos marcar um gol espetacular jogando a bola por um aro a quinze metros de altura.  

Enquanto lia sobre o time da Irlanda, acabou adormecendo debruçada sobre o livro, voltando a sonhar com o mesmo cenário estranho: se via deitada na ala hospitalar, em Hogwarts, e havia alguém em pé do seu lado. Nunca conseguia ver o rosto da pessoa, mas conseguia ver que a pessoa cuidava dela. Aquele cenário parecia anormalmente familiar, mas ela imaginou que fosse apenas pelo fato de ter sonhado com aquilo durante toda a semana.

Algumas horas depois, quando o sol já havia nascido e Eleanor ainda dormia, os Sparks tomavam café da manhã no andar de baixo. Chester esperava seu chá matinal ficar pronto, enquanto Amy se sentava no sofá, ao lado de Fofucho, o gato que eles adotaram, para comer sua torrada com geleia enquanto assistia algum desenho animado.

– Querido, não se esqueça que o amigo de Eleanor virá aqui hoje com o pai pra buscar ela, sim? – Daisy se sentou ao lado dele, bocejando.

– Eu me lembro... será que eles tem carro? – Chester franziu a testa ligeiramente.

– Eu... não sei? – A esposa deu risada mas logo fez uma careta confusa. – Eles ainda andam de trem, então certamente não sabem se locomover por teletransporte ou algo assim?

– Eleanor nos pediu aquela vassoura que ela queria... – Ele se lembrou.

– Verdade... eles vêm de vassoura, então?

– Acho que... – Chester deu de ombros, sem saber o que falar.

Chester e Daisy se lembravam diariamente e claramente do dia em que Eleanor recebeu a carta de aceitação de Hogwarts. Na primeira vez, acharam que fosse uma pegadinha das crianças da sala dela, já que ela estava passando por maus bocados nas mãos deles, então ignoraram e jogaram a carta fora.

Dois dias depois, receberam mais uma carta. A mesma coisa. Jogaram fora novamente, e assim foi durante uma semana, até um funcionário do Ministério de Magia aparecer na casa deles.

Então, acharam que era algum tipo de golpe para sequestrar Eleanor, e ameaçaram chamar a polícia se o homem não fosse embora naquele exato segundo, mas a ficha caiu quando ele demonstrou alguns feitiços básicos na frente deles.

Depois de algumas horas de conversa, concordaram em deixá-la ir, mas se recusaram a tirá-la de suas vistas tão fácil assim, e só começaram a acreditar 100% quando foram até o Beco Diagonal para comprar os materiais necessários. Itens mágicos, vassouras, lojas de varinhas, tudo de novo, e eles precisavam ficar de acordo com o fato da filha deles agora pertencia á aquele mundo.

Claro que eles estranhavam o fato de alguns eletrônicos na casa quebrarem toda vez que Eleanor era colocada de castigo, mas nunca pensaram que fosse algo envolvendo poderes mágicos. Demoraram alguns anos, mas passaram a entender mais sobre esse lado de Eleanor e a se interessarem pelas histórias que ela contava quando voltava pra casa, pois, acima de tudo, queriam que ela se sentisse confortável para contá-los tudo.

Chester precisou ler a carta de Cedric inúmeras vezes antes de entender direito do que ele falava, e Eleanor precisou responder muitas perguntas. "O que é Quadribol?" "MONTADO NUMA VASSOURA?" "Ah, então é tipo futebol?" "Foi por isso que você pediu uma vassoura?" "VOCÊ ENTROU PRO TIME??" "O que é balaço?" "Pomo?" "É uma bolinha que voa?" "Incrível!"

Eleanor acordou por volta de 1h depois, e ás 11h, foi até a casa de Carter. Já fazia parte da rotina se encontrarem antes do almoço, passarem algumas horas do lado de fora, então irem almoçar e se reunirem novamente para passarem o resto da tarde juntos.

Chegando no quintal dos Wilson, que ficava á apenas algumas casas de distância, viu que o Sr. e a Sra. Wilson carregavam inúmeras malas até o carro, com expressões nada felizes nos rostos. Pensou em falar com o Sr. Wilson, que estava mais próximo, mas decidiu andar até a esposa dele, que geralmente era mais amigável.

– Bom dia, Sra. Wilson! – Eleanor sorriu educadamente.

– Eleanor, querida, bom dia! – Sra. Wilson a deu um sorriso de volta, mas Eleanor percebeu que seus olhos não sorriam junto com sua boca. – Não posso conversar agora, mas Carter já está descendo pra se despedir...

– Despedir? – Eleanor franziu a testa, mas a mulher não respondeu e continuou andando até o carro.

Com sorte, Carter saiu de dentro da casa em alguns minutos, com uma mochila pendurada em seu ombro e a cara inchada de cansaço. Ao vê-lo, Eleanor deu passos apressados até ele.

– Ei, o que houve?

– Vamos fazer uma viagem, pelo o que eles disseram... – Carter deu de ombros. – Desculpa não ter te avisado, não queria te deixar sozinha aqui no resto das férias.

– Não se preocupe, não vou ficar aqui também.

– Vai pra onde? – Ele a olhou, com a testa franzida.

– Hã... colônia de férias. Na escola. – Ela inventou. – Eles fazem de vez em quando...

– Ah, maneiro! – Ele sorriu. – Te mando uma carta quando voltar de viagem, então.

– É bom mesmo. – Eleanor brincou, o fazendo rir. – Já sabe pra onde é a viagem?

– Não, meu pai não quis dizer... mas acho que vai ser legal.

– Carter! – Sr. Wilson gritou, ao lado do carro, enquanto a Sra. Wilson se acomodava no banco do carona. – Carro. Agora. – Ele sibilou e entrou no banco do motorista, batendo a porta com força.

Eleanor viu os ombros de Carter ficarem tensos, e apoiou uma das mãos no ombro dele, em forma de apoio. Ele suspirou e se virou para ela, apertando firme a alça de sua mochila em seus ombros, em sinal de nervosismo.

– Bom, te vejo nas férias, então. – Ele sorriu, sem graça.

– Sim! Não se esqueça de me mandar cartas me contando tudo sobre a viagem. – Ela falou e ele assentiu com a cabeça, andando em direção ao carro. – Divirta-se!

Eles acenaram um para o outro enquanto o carro deixava o subúrbio, e Eleanor voltou para casa assim que eles sumiram de vista.

Ao entrar em casa, Chester olhou para a filha com um olhar confuso.

– Achei que fosse ficar o resto da tarde com o Carter? – Ele abaixou o livro que lia.

– Eles foram viajar. – Eleanor explicou.

– Que maravilha, pra onde foram?

– Ele não soube dizer... – Eleanor deu de ombros.

Chester fez careta. Não parecia muito a cara dos Wilson (principalmente da Sra. Wilson) irem viajar para algum lugar e não anunciarem para o resto da vizinhança. Mesmo com todos ali tendo as mesmas condições de vida, eles pareciam se sentir superiores ao resto dos vizinhos.

– Tudo bem então... – Ele deu de ombros também. – Inclusive, seu amigo vem te buscar que horas mesmo?

– Acho que ás 17h... – Eleanor franziu ligeiramente a testa, como se pensativa.

– Isso, e como ele vem?

– Como assim?

– Não imagino que eles tenham carros lá, sim? – Ele olhou para a parede, confuso. – Você pediu uma vassoura de presente... então eles vem de vassoura? É o meio de transporte comum lá?

Eleanor reprimiu uma vontade enorme de rir. Sabia que era comum que seus pais tivessem essas dúvidas, mas ainda era engraçado ver eles tentando formular perguntas de forma que não "a ofendessem".

– Não acho que eles venham de vassoura. – Eleanor se sentou ao lado do pai e pegou Fofucho, que estava ao lado dele, no colo. – Alguém pode ver eles se vierem de vassoura... mas eles também não tem carro. Pelo menos, eu acho... nunca vi bruxos andando de carro.

– Pode ser um carro... voador?

Eleanor riu alto.

– Acho que não existem carros voadores, pai.

O almoço ficou pronto por volta das 13h, e toda a família conversava animadamente. Daisy e Chester escutavam sobre os jogos de quadribol de Eleanor com atenção, apenas a interrompendo quando ela mencionava um nome que eles não conheciam, e Amy parecia tão interessada quanto eles, mesmo que não estivesse entendendo uma palavra sequer do que a irmã dizia.

– Estava chovendo demais! Mal conseguíamos andar até o meio do campo por causa do vento! – Eleanor contava sobre a partida contra a Grifinória. – Eu quase não escutei o apito da professora, os trovões estavam muito altos...

– E eles deixam vocês subirem em vassouras enquanto está trovejando?!? – Daisy bebia seu café em pequenos goles, indignada com as condições em que sua filha foi obrigada a jogar.

– Mas qual foi o placar final? Vocês ganharam? – Chester mexia em sua comida com o garfo mas sua atenção estava toda voltada á história que Eleanor contava.

Naquele momento, Eleanor se lembrou do que aconteceu naquele jogo e como aquilo ocasionou na vitória da Lufa-lufa. Instantaneamente se sentiu culpada por estar se gabando para sua família com a vitória. Sentiu o sorriso se esvair de seu rosto enquanto se lembrava do momento em que viu os Dementadores rodeando Harry Potter, o fazendo cair da vassoura á mais de quinze metros de altura.

– Ellie? – Daisy a chamou, um tom preocupado em sua voz.

– Sim! – Eleanor saiu de seus devaneios. – Ganhamos. – Ela forçou um sorriso, e Chester comemorou.

– Sabia que você iria puxar meu lado esportivo! – Ele brincou, um tom convencido em sua voz, fazendo com que Daisy o olhasse com uma sobrancelha arqueada.

– Você jogou Rugby duas vezes. – Daisy riu. – E só foi porquê o jogador tinha se machucado!

– As circunstâncias não importam. – Chester deu de ombros, ficando vermelho. – Você ainda se apaixonou por mim durante esses jogos.

– Eu me apaixonei quando te vi no laboratório de ciências corrigindo o professor por ter passado a fórmula química errada. – Ela balançou a cabeça. – Se bem que quase desisti quando te vi todo desengonçado naquele jogo.

Chester fez careta e ficou em silêncio, envergonhado. Eleanor riu silenciosamente para a mãe, que retribuiu o sorriso.

Quando o almoço acabou, o resto da tarde passou quase que correndo. Eleanor voltou para seu quarto para checar se todas as suas coisas estavam organizadas e se não estava se esquecendo de nada. Se lembrou, então, de guardar a câmera polaroid que sua mãe a deu para "registrar algumas memórias".

Amy, Daisy e Chester estavam na sala, esperando que Eleanor terminasse de se aprontar para esperar Cedric e seu pai com eles.

O relógio já apontava ser 17h, e Chester começou a balançar a perna com o nervosismo, não conhecia nenhum outro bruxo além de sua filha e do funcionário do Ministério que veio os contar sobre Hogwarts e que ajudou-os a levar Eleanor até a Plataforma 9¾. Daisy organizava todos os mínimos detalhes da sala de estar, pronta para recebê-los, e Amy a ajudava ajeitando as almofadas do sofá.

Num piscar de olhos, todos os três deram berros assustados e se amontoaram no canto da sala de estar, olhando aterrorizados para a lareira, que havia acabado de produzir um som semelhante á explosão e agora, mostrava duas figuras masculinas e altas paradas em cima das chamas.

– O que é isso? – Daisy sussurrou, afundando as unhas no braço de Chester, aterrorizada. – Chester, o que é isso?!?

Fofucho estava com os pelos arrepiados e olhava para a lareira em posição de ataque.

– Deu certo? – Um deles, que parecia ser mais velho e era o mais baixo dos dois, olhou em volta, fazendo careta.

– Pai... – O mais novo colocou a mão no ombro do outro e apontou para as três pessoas abraçadas no canto da sala. – Acho que assustamos eles...

– Vocês são os Specks?

– Sparks, pai... – Ele sussurrou.

– Sparks, sim! São vocês?

– Sim... – Chester se colocou na frente de Daisy e Amy, como se fizesse um escudo com o próprio corpo.

O mais velho olhou para Chester confuso, e então, percebeu o que era.

– Vocês nunca viram isso antes, viram? – Apontou para a lareira, e os três assentiram. – Merlin, sinto muito... esqueci que não é comum.

O mais novo ficou vermelho e balançou a cabeça negativamente atrás dele, enquanto massageava as têmporas.

– Sou Amos Diggory, perdão! – Ele estendeu a mão para Chester, um sorriso sem graça em seu rosto. – Este é meu filho, Cedric. – Apontou para o menino atrás dele.

– Ah! Você é Cedric! – Chester abaixou a guarda, respirando aliviado. – Por um momento, esqueci que estavam vindo... foi um grande susto. – Ele riu, apertando a mão de Amos.

– Olá, tudo bem, Cedric? – Daisy cumprimentou Cedric, com Amy abraçada á sua cintura.

– Tudo ótimo, Sra. Sparks. – Ele sorriu, educado, e direcionou o olhar á Amy. – E você deve ser Amelia, não é? Eleanor fala muito de você... tem muita sorte de ter uma irmã igual a ela! – Ele se agachou para ficar na altura da menina, que escondeu o rosto de vergonha.

– Ela é tímida... – Daisy riu, se sentindo mais calma. – Eleanor estava fazendo as malas, pode ir até o quarto dela ver se já acabou...

– Claro, mas... – Cedric olhou em volta. – Onde fica?

– Amy, leve ele até Ellie, sim? – Daisy repousou suas mãos nas costas da mais nova, e ela assentiu e saiu andando, de cabeça baixa e sem olhar diretamente para Cedric.

Ele a seguiu até o segundo andar, distraído com as fotos de família emolduradas nas paredes. Só parou quando Amy apontou para uma porta branca e saiu correndo de volta até o andar de baixo, onde dava pra se escutar Chester e Amos conversando.

Cedric ficou alguns segundos em silêncio, tentando escutar se Eleanor estava ocupada, e como não ouviu nada, deu três batidas na porta.

Estou ocupada! – A voz dela soou do outro lado. – Me avise quando eles chegarem.

Ele segurou uma risada.

– Acho que já chegaram... – Ele exclamou, e ela abriu a porta tão rápido que ele se assustou.

– Ced! – Ela arregalou os olhos pra ele. – Que horas são?

– Já passam das 17h... – Ele sorriu. – Boa tarde pra você também, senti sua falta também, não precisa me abraçar tão forte... – Ironizou.

– Foi mal! – Ela riu, sem graça, e deu espaço pra ele entrar no quarto. – Estava terminando de guardar umas coisas e me distraí...

Entrou no quarto dela e olhou em volta. Era... colorido, para dizer o mínimo. As paredes tinham um tom rosa bebê, e as cortinas, um tom mais forte de rosa. O piso revestido de madeira, os móveis eram todos brancos. Reparou também em quatro pequenas fotos emolduradas em cima da mesinha ao lado da cama de Eleanor e chegou mais perto para analisá-las.

Uma das fotos era Eleanor e Amy abraçadas, sorrindo. Outra, Eleanor e Daisy rindo enquanto uma criatura que Cedric nunca viu antes estava nos ombros de Eleanor. A terceira foto, era Eleanor e Chester em um ambiente que parecia um jardim, e a última foto, Eleanor abraçada com um menino que Cedric presumiu ser o melhor amigo trouxa dela, ambos fazendo caretas.

– O que? – Eleanor indagou ao ver a careta que ele fazia.

– Por que você tem uma foto com seu outro melhor amigo e não tem uma comigo? – Ele analisava a foto de Eleanor e Carter de perto, arrancando uma risada dela.

– Eu acabei de ganhar essa câmera... aqui. – Ela tirou a câmera da própria mala e o mostrou.

Ele continuou fazendo careta pra ela.

– Tem certeza de que você vai fazer 17 anos? Não se confundiu com 7? – Ela revirou os olhos de brincadeira e guardou a câmera de volta na mala.

– Certeza absoluta! – Ele voltou a sorrir. – Admita que vai sentir minha falta quando eu me formar.

– Hmmm, depende. – Eleanor conteve um sorriso e fez uma cara pensativa. – Pensando por um lado, vou poder pegar várias detenções sem que você brigue comigo...

– Não fale isso! – Ele arregalou os olhos. – Quero que você se torne a capitã do time de quadribol quando chegar no seu 6º ano, e pra isso, você precisa ser exemplar.

– Eu, capitã?!? Você enlouqueceu, eu tenho o emocional de um peixe-dourado! – Exclamou. – Como espera que eu saiba como controlar e administrar um time inteiro?

– Calma! O ano nem começou! – Ele levantou o dedo indicador, pedindo silêncio. – Temos o ano inteiro para conversarmos sobre isso. Pelo menos prometa que vai pensar. – Pegou as duas malas dela de cima da cama.

– Não prometo nada... – Ela continuou séria e começou a carregar a gaiola de Alaska, que piava incessantemente.  – Vamos logo, seu pai está esperando.

Chegando na sala de estar, Amos se virou para os dois e andou desajeitadamente até Eleanor, as mãos estendidas em forma de cumprimento.

– Você deve ser a Eleanor! – Ele sorria. – Cedric me falou sobre você! Encantado em conhecê-la!

– É um prazer, Sr. Diggory. – Ela sorriu de volta, apertando a mão dele.

– Já pegou todas as suas coisas? Minha esposa pediu para chegarmos antes do jantar... – Ele olhou para os pais de Eleanor com um sorriso envergonhado.

– Tenho tudo aqui. – Eleanor apontou para a gaiola de Alaska e suas duas malas no chão; uma para os dias que passaria na casa dos Diggory, e outra mala que levaria para a escola, já que iria direto da casa deles para lá.

– Certo, então vamos lá? – Ele bateu suas mãos em uma única palma, se virando para Chester e Daisy. – Vou precisar reacender a lareira para podermos voltar, tudo bem com vocês?

– Hã... claro! – Chester balançou a cabeça freneticamente, tentando parecer tranquilo mas falhando.

– Incendio. – Amos apontou a própria varinha para a lareira e as chamas voltaram a se acender, então, tirou um saquinho do próprio bolso e entregou-o para Cedric. – Explique para ela como funciona, filho.

– Se despeça dos seus pais para nós irmos. – Cedric a cutucou com o cotovelo, e balançou de leve o saquinho em suas mãos.

Eleanor andou até os pais e abraçou os dois ao mesmo tempo, com Amy no meio deles. Chester beijou sua testa enquanto Daisy acariciava seu cabelo carinhosamente.

– Nos mande uma carta caso qualquer coisa aconteça, ouviu? – Chester a aconselhou.

 Nós te amamos tanto! – Daisy sussurrou para a filha.

– Não esquece de falar com o Fofucho! – Amy se desvincilhou do abraço em família e pegou o gato preto e branco no colo, o estendendo para Eleanor.

– Tchau pra você também, Fofucho... – Eleanor o deu um beijo na cabeça e recebeu um miado manhoso em resposta. – Pronto, podemos ir. – Ela andou até o lado de Cedric.

– Certo, preste atenção... – Ele desamarrou o nó do saquinho que ainda segurava. – Você vai pegar um punhado desse pó, vai pisar por cima das chamas, falar com clareza o nome "Casa dos Diggory", entendeu? Quando falar isso, solte o pó por cima das chamas e você deve chegar lá.

– Eu tenho que pisar no fogo? – Eleanor fez careta.

– Não vai se machucar, foi assim que chegamos aqui. – Ele a assegurou. – Quer que eu vá primeiro?

Ela assentiu, e ele se despediu brevemente dos Sparks. Então, depois de entregar para Eleanor o saquinho de Pó de Flú, retirou um punhado, pisou nas chamas, recitou as palavras que instruiu á Eleanor, e num piscar de olhos, uma chama verde o consumiu e ele não estava mais lá. Daisy, Chester e Amy gritaram em uníssono com o susto, e Amos os tranquilizou.

– Sua vez, Eleanor! – Ele a guiou até a lareira de leve. – Vou esperar você ir para me despedir dos seus pais e desaparatar.

– Desaparatar? Por quê não podíamos fazer isso? – Ela o olhou, confusa.

– Você e Cedric ainda não fizeram e nem passaram no exame, não podem nem pensar em aparatar se não quiserem problemas sérios com o Ministério. – Ele explicou, tirando a gaiola de Alaska das mãos dela. – Eu levo sua coruja... agora, vá!

Eleanor respirou fundo e olhou de soslaio para seus pais, os dando um sorriso nervoso. Pisou com apenas um pé por cima das chamas, e sentiu um hálito morto subir, então decidiu se apressar. Pegou do saco em suas mãos uma quantidade considerável de Pó de Flú, respirou fundo, disse o mais claramente que pode "Casa dos Diggory" e atirou o pó em direção ás chamas.

Sentiu seu corpo começar a rodopiar em grande velocidade e a sala de estar de sua casa desapareceu de vista numa explosão de chamas verde-esmeralda.

Rodopiava cada vez mais rápido, apertando os cotovelos junto ao corpo, lareiras difusas passaram como relâmpagos por ela, até que começou a sentir vontade de vomitar e fechou os olhos. Depois, ao perceber finalmente que estava desacelerando, sentiu seu corpo cair para a frente e antes que pudesse se proteger, caiu de cara no chão.

– Você se machucou? – Cedric a ajudou a levantar. – Esqueci de te avisar pra esticar as mãos na hora de cair... desculpa. – Ele estava vermelho.

– Acho que vou vomitar... – A voz de Eleanor falhava.

– Não, não! – Ele a guiou até o sofá, sua voz trêmula. – Senta aqui, vou pegar algum antídoto... – Ele saiu correndo em direção á cozinha, e ela conseguiu escutar uma voz feminina vindo de lá.

Eleanor apoiou o rosto nos próprios braços, respirando fundo e tentando não vomitar. Nunca havia viajado dessa forma antes, e não queria fazer aquilo de novo nunca mais.

Ouviu um estalo á sua frente e os piados de Alaska, percebendo que o Sr. Diggory havia aparatado de volta.

– Enjôo? – Ele a perguntou, e ela assentiu, ainda sem levantar a cabeça. – Quer vomitar? Posso pegar um pote...

– Peguei! O antídoto! Peguei... – Cedric voltou correndo para a sala de estar e entregou um pequeno frasco para Eleanor. – Eu misturaria com algum suco ou chá mas minha mãe disse que é melhor tomar puro... – Se agachou ao lado dela e tirou a rolha do frasco.

Ela virou o líquido em sua boca com a máxima velocidade que pôde, e só sentiu o gosto amargo do antídoto depois que já tinha engolido, fazendo careta e tossindo.

– É ruim mas é melhor do que vomitar. – Cedric respirou fundo e se levantou.

– Ela está melhor? – Uma mulher entrou na sala, desamarrando um avental de seu corpo e o jogando em cima da mesa de centro na sala de estar. – Sente mais alguma coisa, querida?

Eleanor a olhou e parecia estar vendo a versão feminina de Cedric. Era uma mulher linda, com o mesmo olhar gentil que seu melhor amigo tinha, mas quase da mesma altura que o Sr. Diggory.

– Estou bem... prazer em conhecê-la, Sra. Diggo... – Eleanor se levantou para cumprimentá-la, mas ficou tonta e caiu de volta no sofá.

– Fique sentada! – Sra. Diggory andou até ela. – Quando se sente mal na primeira viagem com Pó de Flú, é bom ficar uns minutos sentada... é um prazer conhecê-la também, Eleanor, e me chame de Cassandra, se preferir. – Sorriu para ela de forma tão sincera que seus olhos pareciam ter se fechado.

– Quando ela se sentir melhor, mostre aonde ela vai dormir, Ced. – Amos se sentou no sofá, se encostando nele.

– Que coruja linda! – Cassandra se agachou ao lado da gaiola de Alaska, seus olhos brilhando. – É uma coruja-das-torres, não é? Tive uma igualzinha quando estudei em Hogwarts...

– Se chama Alaska. – Eleanor sorriu. – Minha irmã que escolheu.

– Lindo nome! – Cassandra exclamou, acariciando a cabeça de Alaska através das grades. – Bom, vou voltar á fazer o jantar.

– Quer ajuda, mãe? – Cedric se virou para a mãe.

– Não, não, pode fazer companhia á sua amiga. – Ela balançou as mãos. – Porém talvez precise da ajuda de vocês pra colocar a mesa, sim?

Os dois assentiram, e assim ela voltou para a cozinha. Amos subiu as escadas para o segundo andar, os deixando sozinhos na sala.

– Você disse que vão comprar uma vassoura pra você. – Cedric quebrou o silêncio. – Qual o modelo?

– Nimbus 2001... disseram que é boa.

– É muito boa! – Ele sorriu, maravilhado. – Espero que consigamos ganhar a taça esse ano... quero ganhar alguma coisa antes de me formar. – Ele fez careta, se encostando no sofá.

– Achei que não fosse competitivo?

Ele a olhou de cara feia, brincando, e os dois riram.

– Se já está falando assim, então pode levantar, vamos. – Ele revirou os olhos, ainda rindo e se levantou. – Vou te mostrar seu quarto.

Eleanor se levantou com cuidado e pegou a gaiola de Alaska, enquanto Cedric se ofereceu á levar suas duas malas.

A casa dos Diggory era muito bonita, Eleanor reparou. A arquitetura, claro, era diferente da do Mundo Trouxa; parecia uma cabana por dentro, com os móveis, paredes e piso revestidos de madeira, e os móveis com tons quentes como vermelhos e laranjas. A casa tinha três andares e, olhando das janelas, era possível ver um grande quintal com uma floresta á distância. O quarto do Sr. e da Sra. Diggory e o quarto de Cedric ficavam no segundo andar, assim como um dos banheiros, enquanto o quarto dos hóspedes, que seria o de Eleanor pelos próximos dias, ficava no terceiro andar com outro banheiro.

Depois de colocarem as coisas dela no quarto, ele a deu uma breve tour pela casa, mostrando alguns dos cômodos e falando sobre as redondezas, e ficaram conversando sentados na escada até Cassandra os chamar para o jantar.

Depois de arrumarem a mesa com os talheres e pratos, Cedric e Eleanor se sentaram á mesa com o Sr. e a Sra. Diggory e todos começaram a se servir.

– Me diga, Eleanor, com o que seus pais trabalham? – Amos perguntou, enquanto comia o ensopado preparado por sua esposa.

– Minha mãe é uma professora, e meu pai é farmacêutico. – Eleanor sorriu de lado.

– O que é um farmacêutico?

– É um profissional especializado nos compostos nos remédios, ele ajuda as pessoas a comprarem e dosarem a quantidade certa de remédios pra tomarem... ás vezes ele também precisa fazer alguns remédios... – Explicou, mas não sabia muito bem como explicar o que o pai fazia.

– Como se fosse Poções? – Cedric franziu a testa, pensativo.

– É parecido, sim... – Eleanor balançou a cabeça, e os três pareciam finalmente terem entendido.

– E os dois são nascidos trouxas? – Amos indagou novamente.

– Isso!

– Incrível, não é? Como, mesmo com dois trouxas, ainda é possível nascer uma bruxa! – Ele sorriu. – E ainda ousam dizer que os meio-sangue e nascidos trouxas são inferiores... provavelmente tem o sangue mais poderoso do que todos os sangue-puros juntos!

– Amos... – Cassandra o cutucou de leve. – Não fale disso na mesa...

– Certo, desculpem... – Ele ficou vermelho. – Estão ansiosos para amanhã? A Copa Mundial de Quadribol!

– Muito! – Eleanor sorriu. – Cedric me contou algumas coisas sobre, e eu li sobre a última copa... parece ser muito legal.

– Legal? É fascinante! – Cedric exclamou, de boca cheia, e ao receber um olhar feio da mãe, terminou de comer antes de voltar a falar. – O fato de times do mundo todo competirem...

– Quem você acha que ganha este ano? – Amos perguntou, as sobrancelhas arqueadas, enquanto bebia o suco de abóbora em sua caneca de aço.

– Irlanda, com certeza. – Cedric afirmou, com segurança.

Eleanor os olhava, em silêncio, pois não sentia que sabia o suficiente para entrar na discussão.

– Bulgária tem o Viktor Krum, Ced! Eles ganham...

– Eles tem um jogador bom, a Irlanda tem todos!

– Talvez esteja certo... queria que a Inglaterra tivesse passado para as finais, que vexame foi...

– O que houve? – Eleanor franziu a testa.

– Perderam para a Transilvânia, de 390 á 10. – Ele suspirou, derrotado. – Foi um dia triste. Então, Gales perdeu para Uganda, e a Escócia perdeu pra Luxemburgo.

Eleanor balançou a cabeça, entendendo, mas não falou mais nada. Quando se serviram da sobremesa, parte das velas que iluminavam o ambiente já haviam se apagado, deixando a sala de jantar mais escura, dando espaço á luz do luar que invadia o cômodo pelas inúmeras janelas. Eleanor podia ver alguns vagalumes voando de longe e o céu estava limpo, com suas estrelas mais visíveis do que nunca.

Eleanor se sentia bem alimentada e confortável com a companhia dos Diggory. Eles a acolheram com muita boa vontade em sua casa e tentavam a incluir em todos os assuntos que podiam, a explicando caso ela não entendesse algo.

– Eleanor, querida, deixe sua lista de materiais comigo antes de ir deitar! – Cassandra se lembrou. – Eu vou até o Beco Diagonal amanhã comprar os materias de Cedric e posso pegar os seus pra você, tudo bem? Tenho medo dessa copa durar cinco dias igual da última vez...

– Cinco dias? – Eleanor arregalou os olhos.

– Os jogadores demoraram a pegar o pomo... – Amos explicou.

– Mas nem é a mais longa que já tivemos, meu pai me contou sobre uma que durou três meses. – Cedric contou, fazendo Eleanor engasgar na própria saliva em choque.

TRÊS MESES?? Eles não dormiam? – Ela exclamou, assustada.

– Dormiam, os jogadores tomavam turnos. Enquanto uns dormiam, comiam, e se cuidavam, os outros jogavam, e assim ia... – Amos relembrou.

– Olhem a hora! – Cassandra se levantou da mesa. – Já era pra terem ido dormir, vocês vão acordar cedinho amanhã!!

Cedinho?

– Quase de madrugada. – Cedric cochichou, enquanto eles subiam as escadas. – Vamos, eu te levo até a porta do seu quarto.

Os dois subiram as escadas, e por sorte, Eleanor já se sentia cansada e fatigada por causa da janta, então sentia que era só deitar e esperar alguns minutos para cair em um sono profundo. Chegando até a porta do quarto dela, Cedric a deu boa noite e voltou para o andar debaixo.

Eleanor trocou de roupa, colocando um casaco e uma calça de moletom, e arrumou um cantinho confortável para colocar a gaiola de Alaska; não podia ficar muito no canto pois ela gostava de luz, mas não queria colocá-la na janela caso o sol decidisse ficar mais quente. A coruja piou de forma carinhosa, como se aprovando o lugar escolhido por Eleanor, e ficou em silêncio enquanto comia o petisco que Eleanor a deu.

Boa noite, Alaska. – Eleanor sussurrou, se deitando na cama e deixando o sono a consumir.

Não sabia que horas eram quando dormiu, e nem quando teria que se levantar, mas sabia que havia sonhado novamente com a mesma cena da ala hospitalar, mas dessa vez, ela não via a si mesma deitada na cama. Agora, ela estava deitada na cama e sentia que alguém a olhava. Não sabia quem era, mas só conseguiu ver uma coisa: um par de olhos azuis.



Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...