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História Corrupted (Livro 1) - O Banheiro dos Monitores


Escrita por: moonysupreme

Capítulo 38 - O Banheiro dos Monitores


Fanfic / Fanfiction Corrupted (Livro 1) - O Banheiro dos Monitores

24 de dezembro de 1994
Hogwarts
22:13

Eleanor voltou para a festa depois de alguns minutos tentando conter as emoções que sentia. Se recusou á voltar enquanto ainda sentisse vontade de chorar, pois não queria estragar (mais ainda) a festa para os outros.

Quando entrou no Salão Principal, automaticamente foi abordada por Hannah e Susan, que tinham as expressões muito preocupadas. Justin e Ernie vinham logo atrás delas, acompanhados por Cedric, ainda emburrado.

– Cedric nos contou o que houve! – Susan a puxou para um abraço. – Eu sinto tanto, tanto, El...

– Você está bem? – Justin perguntou, apoiando uma mão no ombro dela. Ele ainda não sabia até onde sua intimidade com Eleanor ia, então hesitava nos momentos de contato com ela, mas agora, achava que ela precisava.

– Cadê aquele oxigenado? Eu juro que acabo com ele... – Hannah resmungou, olhando em volta.

– Também não encontro ele... – Ernie olhava em volta, com os braços cruzados e o cenho franzido.

– Ele não voltou. Eu fiquei olhando. – Cedric os avisou, andando até Eleanor. – Ei...

– Cedric, agora não. – Susan o interrompeu. – Ela não precisa de mais um esporro seu! – O olhou de cara feia.

– Eu não vou brigar com ela! – Cedric suspirou. – Só... me deixe falar com ela.

Susan lançou um olhar de soslaio para Eleanor, que assentiu, e então ela se afastou, levando os outros consigo. Cedric e Eleanor ficaram sozinhos, em um silêncio um tanto constrangedor.

– Vamos lá, diga o que você quer dizer. – Eleanor bufou. – "Eu te avisei", eu sei que você quer falar.

– Querer, eu quero... – Ele riu pelo nariz, sem graça. – Mas, Susan está certa. Você não precisa disso agora...

– Pelo menos isso...

– Você... está bem? Seu rosto está inchado, ele te fez chorar? – Franziu o cenho. – Juro que quis seguir vocês, mas Cho não deixou. Disse que eu tinha que te dar privacidade...

– Cho estava certa. – Suspirou. – E sim, eu estou bem. Quer dizer... vou ficar. Eventualmente.

– Eu sinto muito. – Desviou o olhar para o chão. – Não queria que isso acontecesse com você... ficar sozinha no baile. É revoltante.

– Bom, pelo menos George e Helena estavam lá para salvar o dia.

– Helena?

– Ah, é uma menina do sexto ano... da Sonserina. – Apontou para a pista de dança, onde Helena dançava energeticamente com Angelina. – Ela era acompanhante dele, mas eles combinaram de "terminar" na frente da McGonagall pra... ele poder me acompanhar.

– Ah, sim... – Cedric a observou por alguns segundos, mas virou de volta para Eleanor bruscamente. – Eu sempre soube que não podiam ter só pessoas ruins na Sonserina. Aí está nossa prova...

– É...

Os dois ficaram em silêncio por alguns longos segundos, ainda sem jeito pela discussão do dia anterior. Nunca haviam brigado naquela proporção antes, á ponto de dizerem coisas que não deviam um pro outro. O mais próximo que chegaram daquilo, foi naquele mesmo ano, quando brigaram pelo Torneio Tribruxo.

– Eleanor, você voltou... – George apareceu do lado deles, e parou ao perceber que Cedric estava ali também. – Opa... estou interrompendo alguma conversa? – Fez careta, sem graça.

– Não, não... está tudo bem. – Cedric sorriu fraco pra ele, e olhou de soslaio para Eleanor. – Eu já estava... indo. – Suspirou e deu às costas, voltando para o lado de Cho, que o esperava próxima às mesas.

– Sinto muito por isso. – George olhou para Eleanor. – Eu não vi você voltar... fui procurar você pelos corredores quando vi que não tinha voltado.

– Foi mal, eu precisava... de uns minutos. – Sorriu fraco pra ele, e aquilo pareceu fazer ele notar seus olhos inchados.

– Você estava chorando. – Ele balançou a cabeça, em negação. – O que foi que ele falou pra você lá fora?

– Ah, você sabe... as besteiras de sempre. – Forçou uma risada. – Draco Malfoy sendo Draco Malfoy... não sei como não percebi antes.

– Não me diga que ele te chamou de...

– Não! Não... isso não... – Negou com a cabeça freneticamente. – Só... falou algumas coisas que atingiram o ponto certo, eu acho.

– Eles serviram algumas sobremesas, se você quiser afogar as mágoas... – Apontou para a mesa, repleta de doces, levantando as sobrancelhas. – Na verdade, acho que vou até me juntar á você... – Ergueu o braço para ela.

– Acho que vou aceitar sua proposta, sabe... – Balançou a cabeça e cruzou o braço com o dele, e os dois começaram á andar em direção á mesa.

Eleanor percebeu que estava ficando boa em esconder o que sentia. Sua alma, na verdade, estava em sua cama do dormitório, chorando até cair no sono, mas ela preferiu ficar na festa; tanto por seus amigos, quanto por ela mesma. Afinal, era uma campeã tribruxa, e não iria deixar que Draco Malfoy e sua indecisão estragassem sua noite. Por mais que já tivessem estragado.

– Do que você gosta? – George parou com ela em frente á mesa, observando as opções na mesa.

– Qualquer coisa, sinceramente... – Ela sentiu sua boca aguar ao olhar para a mesa; brownies, tortas, cheesecakes, docinhos, pedaços de chocolate...

– Seu pedido é uma ordem, madame. – George forçou a formalidade em sua entonação, se soltando do braço dela e andando em direção á mesa, pegando dois pratos e colocando doces neles.

Enquanto o esperava, se sentiu sendo puxada pelos ombros, para trás, com certa agressividade. Preparou a mão para virar para a pessoa a dando um tapa na cara, mas preferiu checar quem era antes.

– Cadê ele, Sparks? – Pansy Parkinson sibilou, a encarando de cara feia.

– Quem? – Eleanor franziu o cenho, a olhando de cima a baixo. "Que intimidade é essa pra sair me puxando?"

– "Quem?" Não me faça rir! – Revirou os olhos. – Draco, é claro!

– Oras, você é a acompanhante dele! Procure-o você mesma. – Eleanor deu risada, dando as costas.

– É claro que você está tentando arruinar o baile pra mim! – Pansy andou até o lado dela, cruzando os braços. – Aceite que ele veio comigo, e tudo que você teve foi um artigo te chamando de interesseira!

– Escuta aqui, Parkinson. – Eleanor se virou para ela, com o sangue esquentando. – Primeiro, eu não poderia me importar menos com onde o Malfoy está. Por mim, ele poderia estar morrendo engasgado em algum corredor por aí. – Sibilou, a encarando.

Pansy pareceu ter sido pega de surpresa com a reação de Eleanor, pois ficou em silêncio, a encarando, com os olhos arregalados.

– Segundo, eu não estou tentando arruinar o seu baile, pois eu estou tentando me divertir e foi você quem veio arrumar briga. – Prosseguiu. – Se você veio aqui esperando que eu brigue com você, sinto em te decepcionar.

– Ele saiu com você! E não voltou mais!

– Não vou brigar com você por causa de um garoto, Parkinson. Muito menos um que, claramente, não se importa o suficiente com nenhuma de nós duas pra estar aqui. – Negou com a cabeça. – Se valorize mais.

– Algum problema, Parkinson? – Helena surgiu, do nada, parando ao lado de Eleanor.

– Nenhum. – Pansy balançou a cabeça, encarando Eleanor de cara feia.

– Então dê o fora daqui, ela já disse que não vai perder o tempo dela brigando com você. – Helena sibilou, levando Eleanor para longe, para onde George estava.

– O que... o que houve?!? – George perguntou, com a boca cheia de chocolate, ao ver a expressão no rosto das duas ao se aproximarem.

– Nada. – Eleanor respondeu rapidamente. – Tem bolo de chocolate?

George assentiu, ainda confuso.

– Ótimo. – Pegou um dos pratos na mão dele, andando na direção do bolo.

Não permaneceu no baile por muito tempo. Nem mesmo os doces e as palhaçadas que George fazia para fazê-la rir funcionaram. No final, ele acabou se oferecendo para levá-la até os barris.

– Sinto muito por fazer você cuidar de mim o baile todo... – Murmurou, enquanto andavam pelos corredores.

– Não se preocupe com isso. – Ele sorriu fraco. – Não te culpo por ficar triste... não foi legal o que ele fez.

Ela não respondeu, apenas assentiu, cabisbaixa.

– Mas, hã... eu me diverti com você. – Ele prosseguiu. – Enquanto deu, é claro.

– Eu também me diverti. – Sorriu. – É por isso que eu estava evitando ele... sabia que iria acabar assim...

– Não sei o que você viu nele, sinceramente... – Disse, por impulso, mas se calou, de repente. – Quer dizer, eu... você não...

– Tudo bem. – Balançou a cabeça. – Acho que eu enxerguei coisas boas onde... não tinham. Me iludi achando que poderia ser diferente... tenho que aprender á confiar mais na minha intuição.

– E o que sua intuição te diz?

– Me diz para procurar ele e dar um soco na cara dele.

– Parece um bom plano... quer ajuda? – Fez careta, e os dois riram. – Não se culpe por isso, aliás... a única coisa que você fez foi acreditar nele. Quem errou foi ele por te enganar...

– É... é complicado. – Deu de ombros.

– Tem certeza de que vai ficar bem sozinha? Todos estão no baile, ainda...

– Bom, nem todos... qualquer coisa, jogo Snap Explosivo com os primeiranistas. – Ironizou, rindo pelo nariz. – E sim, eu vou ficar bem... vou ficar escutando minhas músicas trouxas no meu dormitório, fingindo que não existo.

– Músicas trouxas? Que tipo? – Ele pareceu se empolgar por alguns segundos, mas balançou a cabeça quando percebeu que ela o olhava confusa. – É que meu pai... você conheceu ele, lembra?

– Ah! Na copa! – Ela se lembrou de Arthur Weasley e riu. – Ele ia me perguntar... algo sobre patos de borracha?

– O próprio. – Enrugou o nariz. – Ele... gosta bastante... de coisas trouxas. Uma vez, trouxe do trabalho um toca-discos e um vinil, pra nos mostrar.

– Mesmo?!? – Eleanor o olhou, levantando a sobrancelha. George assentiu. – Qual era? Você lembra?

– Era um cara...

– Solo? Ou banda?

– Eu não lembro!

– Aerosmith? Journey? Guns'n'Roses? The Cure? Bon Jovi? The Police? QUEEN?

– Eu não lembro. – Ele riu da empolgação dela. – Mas era um nome de homem, se não me engano...

– Michael Jackson? Bryan Adams? George Michael? Elton John?? David Bowie? Bruce Springsteen?

– Esse! David! – Balançou a cabeça. – Tinha um desenho na capa... como história em quadrinhos.

THE RISE AND FALL OF ZIGGY STARDUST! – Eleanor pulou de tão animada. – Meu pai escuta o tempo todo! Você gostou?

– Se eu gostei? É incrível! – Respondeu, na mesma animação. – Tem uma que eu e Fred tentamos lembrar até hoje... nunca conseguimos encontrar o disco, achamos que mamãe jogou fora.

– Que droga, George, eu não tenho esse disco... – Fez bico. – Você lembra o ritmo?

– Não vou cantar assim! – Negou com a cabeça. – Preciso de um palco, holofotes e uma banda inteira.

– Uau, tanto talento assim?

– Muito, você nem tem noção... canto como um anjo.

– Sinto que Fred me diria o contrário...

– Fred tem inveja porque eu sou o gêmeo mais bonito. – Fez careta, e os dois riram, ficando em silêncio até chegarem até a entrada dos barris. – Bem... está entregue, sã e salva.

– Não teria tanta certeza sobre o "sã"...

– Acontece com as melhores pessoas. – A deu uma piscadela exagerada, a fazendo rir. – Boa noite, Eleanor, espero que se sinta melhor amanhã.

– E eu espero que você possa aproveitar o resto do baile. – Fez careta. – Boa noite, George, e obrigada por hoje.

– Você nunca para de agradecer e de se desculpar? – Fez careta pra ela. – Eu me diverti, não precisa disso.

– ...ok, descul... – Parou de falar, fechando os olhos. – Boa noite.

Ele deu risada e continuou andando de volta para o Salão Principal, enquanto Eleanor reproduzia o ritmo de Helga Hufflepuff nos barris.

Passou rapidamente pelos primeiranistas que aproveitavam que o monitor estava fora para curtirem a Sala Comunal até tarde; havia brincado com George sobre ficar com eles, mas não sabia se conseguiria segurar as emoções por muito mais tempo. Seus olhos já estavam marejados quando ela passou pela porta do dormitório, e o peso do que havia acabado de acontecer pesava em seus ombros mais do que nunca.

Trancou as portas do dormitório, garantindo que ninguém fosse entrar para checar nela. Susan e Hannah não voltariam por um tempo...

A primeira coisa que fez foi puxar a tiara de sua cabeça com força, o que apenas a machucou mais, pois Hannah havia prendido ela entre seus cabelos, os puxando quando foi puxada. Soltou um grunhido de dor e foi até o espelho, começando á, lentamente, desfazer cada trança prendendo a tiara á sua cabeça.

Aquele processo foi mais doloroso do que arrancar a tiara de sua cabeça á força, pois precisou olhar para a tiara por longos minutos que mais pareceram anos. Quando finalmente desfez todas as tranças, jogou a tiara no chão e se jogou na cama, colocando o rosto no travesseiro para abafar seus soluços. Não queria que os primeiranistas se preocupassem.

Seus soluços abafados apenas contribuíram para a forte dor de cabeça que ela sentia, pois enquanto eram baixos para quem a visse, eram 2x mais altos em seus ouvidos. Sua cabeça havia se tornado pura confusão, e mal podia entender seus próprios pensamentos.

Como pôde ter sido tão burra? Por acreditar que, talvez, ele estivesse mudando? Havia caído tão facilmente no teatro dele... Deveria ter suspeitado desde o início, que nunca seria prioridade ou um motivo para que ele fosse contra sua família. Como ele mesmo havia dito, "nunca deixaria seus sentimentos destruírem tudo que sua família construiu".

Família? Família. Grande merda de família, isso é. Como pode querer influenciar tanto na vida de seus filhos? Como se tivesse total posse deles e de suas ações? E como podiam ter tanto... tanto nojo de pessoas como ela? Tudo que ela fez foi... nascer. Não é como se pudesse controlar a família onde você nasce! E nem se pudesse, ela não mudaria por nada!

Preferia mil vezes continuar sendo humilhada por seu sangue e ainda ter seus pais, do que ser endeusada por ser "pura" e ter pais como Lucius e, seja lá qual fosse o nome da mãe dele, Malfoy.

A coisa que menos fazia sentido havia sido a mudança de comportamento de Draco. Ele parecia, genuinamente, estar mudando. Parecia ter ficado tão interessado pelos costumes trouxas, suas músicas... por ela.

Não se esqueceu, por um segundo, do jeito que se sentia quando ele a observava contando sobre o que fazia durante as férias, nem do jeito que ele pareceu surpreso quando ela desenhou como as ruas do subúrbio se pareciam; aparentemente, ele vivia em uma casa mais afastada dos outros (e que, provavelmente, tinha o tamanho de todas as casas de Bloomsbury, juntas).

Aquele, no corredor, não era o Draco pelo qual ela se apai... que ela começou a gostar. Não era. Se recusava á acreditar que essa era a verdadeira identidade dele, todo esse tempo.

E mesmo que não fosse, e se ele não quisesse dizer nenhuma daquelas coisas, que diferença faz? Ainda havia as dito, e ela tinha certeza de que ele dizendo que estar com ela era uma vergonha ecoaria em todos os seus pesadelos, pelo resto de sua vida.

O único motivo de ter pedido para ele a beijar, naquela noite chuvosa, foi porque, de repente, percebeu que a fúria dos pais dele não importava. Ela não queria mais nada. Não queria um jantar onde os pais dele conhecessem os dela, não queria um Natal em conjunto das duas famílias, não queria o apresentar para Carter (e escutar as piadas sobre ele ter avisado que eles ficariam juntos), não queria ver Amy com ciúmes por ela ter arrumado um namorado...

Por mais que tudo isso parecesse ótimo, e algo que, no fundo, ela queria... acima de tudo, o que ela mais queria, era ele. E estava disposta á aguentar o que fosse para ter ele. Até mesmo a fúria de Lucius Malfoy.

Mas ele não parecia tão disposto á lutar por eles. No primeiro obstáculo, decidiu jogar tudo para o alto, e ir embora. A deixando sozinha. Sequer havia enviado uma carta... qualquer coisa. O que ele faria, se tivesse consideração.

Sequer teve tempo de sair de seu vestido, pois acabou dormindo enquanto chorava. Seu corpo ainda tinha alguns espasmos, com os soluços, mas estava completamente adormecida. Como havia previsto, sonhou que estava revivendo a cena do corredor, milhares e milhares de vezes.

Precisou assistir Draco indo embora. De novo, de novo, de novo, de novo e de novo.

– Alohomora! – A voz de Hannah ecoou pelo corredor, fazendo a porta do dormitório se abrir, e as duas correram para dentro, aterrorizadas de Eleanor ter feito algo ruim.

– El! – Susan a viu na cama, deitada, encolhida, ainda em seu vestido de festa e com toda sua maquiagem borrada. – Ai, Merlin... – Suspirou, sentindo um nó em sua garganta.

– Está dormindo? – Hannah a olhou também, preocupada. – Susan, veja se está respirando!

– Claro que está, Hannah! – Susan a olhou de cara feia. – Eleanor não iria... – Mal pôde completar a frase. – ... não seja estúpida.

As duas correram até a cama dela, tentando a levantar, mas ela estava em um sono tão profundo que seu corpo apenas caiu para trás, escapando dos braços delas.

Ernie e Justin chegaram logo depois, preocupados, mas ficaram mais aliviados ao ver que ela estava bem. Cedric chegou depois deles.

– O que houve com ela? – Perguntou, franzindo a testa e andando até a cama dela, onde Hannah e Susan ainda tentavam a levantar.

– Caiu no sono enquanto... chorava, eu acho. – Susan apontou para o travesseiro dela, manchado de maquiagem. – Estamos tentando acordar ela pra trocar de roupa... essas pedrinhas do vestido podem machucar ela.

– Deixa que eu acordo... – Ele as dispensou, fazendo com que elas se levantassem, e então se sentou ao lado dela. – Eleanor... – Passou a mão no cabelo dela, lentamente.

Eleanor apenas resmungou, dando as costas e virando pro outro lado, fungando.

– Vamos lá, você precisa acordar... – Ele sacudiu o ombro dela lentamente. – Colocar um pijama confortável, então pode dormir o quanto quiser.

Mais um resmungo.

– Não me faça te pegar no colo. – Suspirou. – Eleanor, é sério... eu mesmo coloco o pijama em você se for preciso.

Não vai não... – Ela resmungou, fungando mais uma vez, e então, lentamente, se levantou, percebendo a presença de todos ali.

O olhar no rosto deles a dizia que sua aparência deveria estar bem ruim, pois Susan parecia á beira de lágrimas, Justin a olhava com um olhar preocupado, Ernie parecia surpreso por Eleanor ter sentimentos, enquanto Hannah parecia planejar mil e um jeitos de assassinar Draco Malfoy, girando sua varinha entre os dedos.

– Está sentindo alguma coisa? – Cedric a perguntou, lentamente, sabendo que ela não era muito boa em responder perguntas assim que acorda.

– Minha cabeça... – Murmurou, colocando a palma da mão contra sua testa. – ... está doendo.

– Quer ir pra Madame Pomfrey? – Susan perguntou, e ela negou com a cabeça. – Tem certeza?

– Só quero voltar á dormir... – Se levantou da cama, lentamente, e Cedric também o fez.

– Vamos deixar você se trocar... vamos, meninos. – Pegou Ernie e Justin pelos ombros, os levando pro lado de fora e fechando a porta atrás de si.

Hannah, que já havia pego o malão debaixo da cama e separado os pijamas preferidos dela, entregou uma muda de roupas para a amiga, ainda sonolenta.

– Vamos lá, se troque. – Hannah sorriu pra ela. – Consegue sozinha?

– Só abram aqui... – Apontou desajeitadamente para suas costas, e as duas correram para ajudá-la.

Não se lembraria de muita coisa no dia seguinte, pois rapidamente colocou seus pijamas e se jogou em sua cama, chorando até dormir mais uma vez. Hannah e Susan a observavam, silenciosamente, de suas camas, esperando que ela dormisse de novo para voltarem para a Sala Comunal.

– Como ela está? – Cedric perguntou, ao ver elas passarem pela porta do corredor.

– Como você espera? Ela levou um fora minutos antes do baile, e sabe-se lá o que mais ele não deve ter dito pra ela! – Hannah exclamou, raivosa, se jogando no sofá, ao lado de Cedric.

– Vocês acham que ele a chamou de... – Justin olhou para eles, nervoso. – ...sangue-ruim?

– Justin, não fale essa palavra! – Ernie o encarou, de cara feia, mas então a realização o atingiu. – Ah, você é nascido trouxa... eu esqueço.

Panaca. – Hannah revirou os olhos. – A questão é quando vamos matar o oxigenado e como.

Eu digo para envenenarmos a comida dele. – Susan sugeriu, e todos a olharam, espantados. – O quê? Olhem o estado que ele a deixou! Eu posso ficar com raiva!

– Eu digo para fazermos Poção Polissuco, nos transformarmos naqueles dois paspalhos que seguem ele como cachorrinhos, e quando ele menos esperar, espancamos ele e deixamos num corredor vazio. – Ernie disse. – É melhor Cedric ir comigo, porque Justin, vocês sabem, é um medroso.

– Eu não gosto de bater nas pessoas! – Justin se defendeu. – Mas admito que é tentador, depois do que ele fez...

– Estamos todos de acordo que ele precisa apanhar, então? – Hannah sorriu, vitoriosa, mas o sorriso se esvaiu quando viu que Cedric estava pensativo, no sofá. – Ai, o que foi agora?

– Não vamos fazer nada... – Cedric negou com a cabeça, e os quatro protestaram. – Me escutem, droga!

Eles se silenciaram, o olhando de braços cruzados.

– Eleanor sabe se defender sozinha, não sabe? Não é como se ela não tivesse cuidado dele sozinha, antes. – Iniciou. – Ela está assim agora, por causa do choque... mas ela é forte, aposto que em dois ou três dias, ela voltará ao normal. Vocês vão ver.

*****

Uma semana havia se passado. E naquele momento, Eleanor estava deitada em sua cama, de olhos fechados e virada para o teto, ouvindo "Hopelessly Devoted To You" da cantora Olivia Newton-John, no volume máximo, pela quinta vez apenas naquela tarde.

Cedric, geralmente, não permitia que meninos ficassem no mesmo dormitório que as meninas, mas, para Eleanor, abriu uma exceção, então Ernie e Justin jogavam um jogo de cartas trouxa, sentados no chão, enquanto Susan pintava em uma de suas novas telas em sua cama, e Hannah lia seu livro de Herbologia, balançando os pés no ritmo da música.

– Por Merlin, Eleanor, essa música de novo? – Ernie resmungou, e Eleanor apenas ergueu o dedo do meio pra ele, sem abrir os olhos ou mexer qualquer outro músculo. – Credo. – Fez careta pra ela, que não viu.

 Ernie, sossega, deixa ela escutar! – Justin o repreendeu, contendo uma risada do dedo do meio que ela ainda mantinha erguido. – El, já entendemos sua revolta... – Disse, e ela abaixou a mão.

Quando a música acabou, e outra se iniciou, Ernie quase comemorou, mas Eleanor foi mais rápida e apertou o botão de voltar para a música anterior, fazendo com que ela tocasse, mais uma vez.

Sem que percebesse, Susan começou a murmurar junto com a música. Era como se o incidente de Hannah com As Esquisitonas se repetisse; todos já haviam gravado a música. Hannah reproduzia as batidas na capa de seu livro, com as articulações de seus dedos, e, mesmo que negasse, Ernie balançava a cabeça pra um lado e pro outro.

– But, noooow... – O Discman cantou, e, então, em um pulo, Ernie e Justin se levantaram, jogando suas cartas no chão e fazendo poses dramáticas.

– THERE'S NOOOOWHEREEE TO HIIIDEEEEE!! – Os dois cantaram em uníssono, fazendo com que as três meninas saltassem de suas camas, assustadas.

Susan foi a primeira á dar risada, enquanto Hannah pulou de sua cama também, se juntando á eles no centro do quarto.

 SINCE YOU PUSHED MY LOVE ASIIIIDEEEEE!! – Os três cantaram, dançando exageradamente.

 IIIIIII'M OUT OF MY HEAAAAAD!! – Susan cantou, ainda sentada em sua cama, e os quatro olharam para Eleanor, com expectativa.

Ela os encarava de volta, desanimada e com o cenho franzido, mas, no fim, revirou os olhos e suspirou, deixando um sorriso escapar.

– HOPELESSLY DEVOTEEEEED TOOO YOOOOUUUUUUUU!! – Ela cantou, e os quatro se juntaram á ela para o resto do refrão.

Pela primeira vez, em uma semana, Eleanor começou a rir, quando Ernie e Justin fizeram uma pose exagerada no final da música. Susan e Hannah a olharam, extasiadas, como se o som da risada dela fosse a coisa que elas mais quisessem ouvir durante a semana.

– Juro que vocês dividem um neurônio. – Eleanor disse, entre risadas, para Ernie e Justin.

Sequer havia saído do dormitório durante a semana. Todos na escola já comentavam sobre o que teria acontecido, pois alguns primeiranistas deixaram escapar que a ouviram chorar quando voltou do baile.

– Agora, por Merlin, escute outra música! – Ernie suplicou, voltando á se sentar no chão e recolhendo as cartas.

– Ei, essas são as minhas cartas! – Justin correu, tirando da mão dele rapidamente. – VOCÊ OLHOU!

– Eu não olhei nada, enlouqueceu? Como se eu fosse trapacear... absurdo, de verdade, Justin. Achei que fosse meu amigo!

Justin pareceu perdido por alguns segundos, pensando se realmente havia o ofendido ou se estava sendo irônico. Era impossível saber com Ernie, afinal.

– Só senta, vai... – Ernie revirou os olhos. – Te perdôo, dessa vez...

Justin não percebeu, pois era muito inocente, mas aquilo havia sido a confirmação de que Ernie havia olhado as cartas dele: agora, sabia todo o jogo dele e exatamente o que fazer para ganhar.

Quando anoiteceu, Cedric se juntou á eles, parecendo que um peso havia sido tirado de seus ombros ao ouvir que Eleanor havia rido pela primeira vez em tanto tempo. Passou o tempo todo no chão, ao lado da cama dela, contando sobre o que aconteceu na escola.

Mal havia a visto durante esses dias, pois queria que ela tivesse espaço pra melhorar: as únicas que a viram nesse tempo foram Hannah e Susan, então tinha muitas coisas para contar.

– Ah, aquela sua amiga da Sonserina me parou no corredor. – Contou.

– Helena? – Eleanor franziu a testa, e ele assentiu.

– Queria saber como você estava, mas eu disse que não sabia... – Deu de ombros. – Tenho a leve impressão de que ela deu em cima de mim...

–...funcionou? – Eleanor o encarou, arqueando uma sobrancelha.

– O qu... eu namoro! – Ele a encarou de volta, confuso e ficando vermelho. – Já ficou boazinha, né? Pra voltar á falar besteira...

– Tudo bem, então, eu volto á escutar Olivia Newton-John... – Exclamou, em voz alta, esticando a mão para pegar seu Discman.

– AH, NÃO!! – Ernie gritou, do outro lado do quarto, enquanto olhava as figuras do livro de Herbologia de Hannah. – Eu não aguento mais... – Choramingou, e os dois riram ao olhar para ele.

– Vi Potter hoje, nos corredores, e me lembrei de uma coisa... – Cedric continuou falando, ignorando o chilique de Ernie, que ainda não parecia ter percebido que Eleanor estava brincando. – Primeiro, acho que ele está afim de Cho...

Eleanor desviou o olhar disfarçadamente.

–...mas não é isso. – Ele balançou a cabeça. – Você resolveu a pista do ovo? O que era?

O coração de Eleanor se apertou em seu peito. De repente, se lembrou que não havia os contado que havia descoberto um jeito de decifrar a pista, e também, do motivo pelo qual não os contou: usava ele como desculpa para ir para a biblioteca... ver Draco.

Cedric pareceu perceber a mudança no olhar dela, pois franziu o cenho e virou o corpo na direção dela, apoiando os braços no colchão dela.

– Não conseguiu ainda? – Perguntou, preocupado. – Olha, não se preocupe, nós vamos te aju...

– Eu consegui. – Ela o interrompeu. – Quer dizer, quase...

Ele continuou a encarando, agora não mais preocupado, e sim, confuso.

– O ovo precisa ser aberto embaixo da água... é como se os gritos ficassem abafados e desse pra escutar outra coisa. – Explicou. – Mas eu ainda preciso arrumar um jeito de... colocar minha cara embaixo da água pra escutar. Não é como se pudesse fazer isso num caldeirão.

– Onde conseguiu um caldeirão?

Droga.

– Eu... usei na cabana do Hagrid. Ele tem... pra fazer comida, você sabe. – Explicou, rapidamente.

– Ah, não sabia... nunca cheguei á ter aula com ele. – Assentiu a cabeça, parecendo convencido. – Você esqueceu que eu sou monitor, foi?

– Claro que não, o que tem?

– Eleanor...

– O quê?!?

– O banheiro dos monitores...

– E daí?

POR MERLIN! TEM UMA BANHEIRA!

Eleanor, de repente, se sentou na cama, como se acendessem uma lâmpada em sua cabeça.

– É verdade!

– Não acredito que você realmente esqueceu... – Ele a olhava, incrédulo, balançando a cabeça em negação.

Não é como se eu usasse! – Se defendeu. – Não é permitido só para os monitores?

– Qualquer um que saiba a senha, na verdade. – Deu de ombros, e se inclinou na direção dela. – A senha é Frescor de Pinho, aliás... – Sussurrou, para que os outros não escutassem.

– Primeira coisa que eu vou fazer amanhã é decifrar essa pista... – Eleanor balançou a cabeça. – Obrigada, aliás... por voltar á falar comigo.

– Não agradeça como se eu estivesse te fazendo um favor, El. – Ele negou com a cabeça. – Você é minha melhor amiga, e não tem Draco Malfoy nesse mundo que possa mudar isso. – Sorriu fraco pra ela.

– Você certamente parecia bem decidido á não falar comigo...

– É, sinto muito por isso... só não queria brigar com você de novo. – Suspirou. – E, se acostume á lembrar que o banheiro dos monitores existe... vou conversar com a Professora Sprout pra você ser monitora ano que vem.

– Você não é louco! – Fez careta pra ele. – Mal consigo controlar esses aí... – Apontou com a cabeça para os outros quatro. – Como espera que eu vá controlar uma casa inteira?

– Não vai ser só você, sabe... escolhem uma menina e um menino.

– E quem escolheriam? Zacarias?

– ...vou ter que contar pra Professora Sprout sobre o que ele fez, bem lembrado. – Fez bico. – O pior que pode acontecer é o Ernie ser monitor.

– O que tem eu? – Ernie ergueu a cabeça, desatento. – Eu ouvi meu nome! – Exclamou, os encarando.

– Estávamos falando mal de você! – Eleanor ironizou.

– Pelo menos, não podem falar que eu sou feio. – Ernie jogou o cabelo cacheado pra trás, convencido, fazendo com que Hannah grunhisse e o atingisse com um travesseiro. – AI!

*****

No dia seguinte, dia 1º de janeiro de 1995, Eleanor decidiu voltar á andar pelos corredores. "Ano novo, simboliza recomeço", pensava consigo mesma.

– Perdeu alguma coisa aqui? – Hannah resmungava para os alunos que encaravam Eleanor, andando ao lado dela junto com Susan.

 Aonde fica esse banheiro dos monitores mesmo? – Susan cochichou para Eleanor.

– No quinto andar. – Ela respondeu.

– E tem certeza de que Diggory não vai te matar por nos levar com você? – Hannah acrescentou, fazendo careta.

 Acho que levar vocês não tem problema... os mais prováveis de quebrar aquele banheiro são Ernie e Justin. – Conteve uma risada. – Além do mais, vocês só vão pra me acompanhar nos corredores...

 E te ajudar com a pista, é claro... – Susan suspirou.

– Claro, qual a vantagem de ter uma amiga inteligente como você se não vou fazer bom uso? – Eleanor a cutucou com o cotovelo.

– E eu fico feliz de preencher o cargo de amiga bonita. – Hannah jogou o cabelo, mas parou de andar bruscamente. – Espera, essa já é a El...

– Não diria qu... – Eleanor abriu a boca, mas foi interrompida.

– Eu fico feliz de preencher o cargo de alívio cômico do grupo. – Hannah se corrigiu e voltou á andar, sorrindo para si mesma, satisfeita.

Andaram por mais alguns minutos, e, para o lamento de Eleanor, encontraram com o grupo de Draco nos corredores. Todos ali pareceram parar de falar, observando os rostos dos dois, esperando alguma reação.

– Me deixe azarar ele, eu imploro... – Hannah tateava suas vestes lentamente, procurando por sua varinha.

– Não se eu fizer antes... – Susan o encarava de cara feia.

Eleanor estava paralisada, mas logo voltou á olhar para o chão, engolindo em seco.

– Só... vamos. – Balançou a cabeça, e continuou andando, virando a cabeça pro lado contrário de onde ele estava. Não queria ver o rosto dele, não ainda.

As duas, relutantes, a seguiram, sem fazer nada, mas isso não as impediu de lançarem olhares feios para Malfoy e seus amigos.

Você viu? Ele fingiu que nem viu ela! – Hannah sussurrou para Susan, indignada. – Como se não tivesse feito o que fez! Babaca do caral...

– Hannah! – Susan a repreendeu. – Ela vai escutar!

– Já escutei. – Eleanor suspirou, e as duas se calaram. – Não me choca. Se ele foi capaz de falar o que falou, com certeza seria capaz de fingir que nunca sequer ouviu meu nome.

As duas se entreolharam, tensas, pois Eleanor ainda não havia se aberto em relação às coisas que ele disse na noite do baile.

– O que... ele disse? – Susan perguntou, lentamente, por medo de Eleanor começar a chorar e voltar á estaca zero.

– Ah, muitas coisas. – Murmurou, suspirando. – Basicamente, que estar comigo envergonha a família dele e que ele não pode deixar os sentimentos destruírem o legado da família.

– Que sentimentos? Aquele sem coração dos infernos. – Hannah fez careta.

– Os que eu achei que ele tinha, aparentemente, e me enganei. – Finalizou o assunto quando chegaram á estátua de Bons, o Pasmo. – Certo, é a quarta porta á esquerda dessa estátua... – Relembrou as instruções de Cedric, contando as portas.

– Aqui! – Susan apontou para uma porta.

– Como era... – Eleanor franziu o cenho, tentando lembrar da senha. – Ah! Frescor de Pinho! – Exclamou, e a porta se abriu com um rangido.

As três, olhando para o corredor e garantindo que ninguém vinha, entraram correndo e trancaram a porta atrás delas. Enquanto Susan checava se estava realmente trancada, Eleanor e Hannah olhavam em volta.

"Talvez, devesse aceitar ser monitora..." Eleanor pensou, ao ver o banheiro "...só pra usar esse banheiro".

O banheiro tinha uma iluminação suave e aconchegante vindo de um lustre com muitas velas, e tudo parecia ser visto de mármore branco. No centro do banheiro, tinha o que parecia ser uma piscina retangular, e vazia. Na borda dela, tinham o que pareceu ser umas cem torneiras, todas com uma tonalidade dourada brilhante, cada uma delas com uma pedra brilhante de cores diferentes engatadas na parte superior.

Longas cortinas brancas protegiam as janelas, e, em frente á banheira, um enorme vitral, onde uma enorme sereia, loira, estava adormecida sob uma pedra, com seus longos cabelos voando de forma graciosa.

Eleanor colocou o ovo na lateral da banheira, e tirou a roupa, já que estava com roupa de banho por baixo. Hannah e Susan se sentaram na lateral da banheira enquanto isso.

– Podemos abrir algumas torneiras? – Hannah perguntou, animada, enquanto Eleanor dobrava suas roupas.

– Acho que sim? – Deu de ombros, e as duas escolhiam as torneiras de forma aleatória.

Eleanor encontrou uma pilha de toalhas brancas, pegou uma delas e colocou na lateral da banheira (que era tão grande que mais parecia uma piscina) também. Olhando para dentro dela, percebeu que havia diferentes tipos de espuma saindo de cada torneira.

Uma delas soltava bolhas rosas e azuis do tamanho de bolas de futebol, enquanto outra, uma espuma branca que parecia ser tão pesada quanto o próprio ovo de ouro. Hannah e Susan pareciam se divertir abrindo todas as torneiras e vendo o efeito de cada uma. Só pararam quando a piscina finalmente se encheu, e Eleanor entrou aos poucos, com a água chegando até um pouco abaixo de seus ombros.

– Fecha antes que transborde! – Susan exclamou, enquanto as duas corriam para fechar todas as torneiras. – Pronto, El...

Eleanor deu um mergulho para ver o quão funda a banheira era, e logo voltou á superfície, em choque.

– Os monitores tem uma piscina! Literalmente! – Se apoiou na borda, olhando para as duas. – Se alguma de nós três ganharmos o distintivo de monitora, vamos fazer a promessa de voltar aqui sempre...

– Por mim, tudo bem. – Hannah deu de ombros, fazendo careta e rindo. – Melhor do que nadar no Lago Negro.

As outras duas riram junto com ela, e então, Eleanor pegou o ovo, o segurando com firmeza para não escorregar de suas mãos molhadas.

Antes que pudesse mergulhar na água, as três se assustaram com uma risada atrás delas. Se viraram, com medo de terem sido pegas por algum monitor, mas deram de cara com uma figura azulada, quase transparente.

Era A Murta Que Geme, fantasma da menina que assombrava o banheiro feminino no primeiro andar. Eleanor teve o... prazer... de conhecê-la no primeiro ano, na sua primeira semana de aulas. Se não tivesse conhecido os outros fantasmas e soubesse da existência deles, provavelmente teria morrido do coração ali mesmo.

– Olá, Murta! – Eleanor exclamou, se recuperando do susto.

– Não sabia que era permitido fazer festas no banheiro... – Murta choramingou, flutuando lentamente até elas. – Mas também, não é como se ligassem de convidar a chata da Murta... a Murta Que Geme... só sabe gemer! E chorar! – Gritou, e Eleanor jurou ver uma lágrima fantasmagórica escorrer pelo rosto dela.

Hannah e Susan se entreolhavam, e então olharam para Eleanor, que parecia ser a mais paciente com Murta das três.

– Não é uma festa, Murta! – Ela se defendeu. – Veja bem, eu estou no Torneio Tribruxo, você ficou sabendo?

–...posso ter escutado uma coisinha ou outra. – Murta olhou para os lados, murmurando.

– Então, isso aqui é parte das tarefas. – Ergueu o ovo, a mostrando. – E eu preciso da ajuda delas pra decifrar a pista aqui dentro, entende?

– E você não acha que eu possa te ajudar? – Murta voltou á se emburrar. – Acha que eu sou burra demais pra entender a pista?

– Claro que não! Eu nem... nem sabia que você podia sair daquele banheiro! – Balançou a cabeça. – Senão, com certeza, eu teria pedido sua ajuda... – Mentiu. Qualquer coisa para não ouví-la chorando pelo resto do tempo que ficasse no banheiro.

– Abra logo! – Hannah exclamou, impaciente. – Murta já está aqui, qualquer coisa pode nos dar uma idéia brilhante. – Ironizou, e Susan a repreendeu com o olhar.

Eleanor afundou o ovo dentro da água, fazendo esforço para o abrir. Quando o fez, muitas bolhas subiram, como se ar fosse liberado de dentro do ovo. Como na Sala de Poções, ouviu uma música saindo da água, abafada o suficiente para que ela não entendesse as palavras que eram cantadas, mas claro o suficiente para entender que era uma música.

A sereia no vitral pareceu despertar, olhando para as três meninas, curiosa. Passou as mãos pelos seus cabelos, os penteando para o lado e mexeu a cauda.

– Mergulhe a cabeça também! – Murta disse, parecendo adorar a idéia de participar de tudo. – Anda!

Eleanor tomou fôlego e afundou até o fundo da piscina, quase se sentando no azulejo. Agora, as vozes e a cantoria pareciam estar mais claras do que nunca; um coro de vozes harmoniosas, quase angelicais, cantava para ela, saindo do ovo nas mãos dela.

"Onde ouvir da nossa voz o tom
Na superfície não há som
Levamos o que lhe fará muita falta
Durante uma hora deve buscar
Para recuperar o que lhe tiramos
Mas passada a hora, adeus esperança de achar
Tarde demais, foi-se, ele jamais voltará."

Eleanor, ao ouvir toda a música, voltou á superfície espumosa, tirando o excesso de água do rosto e jogando o cabelo pra trás.

– E então? – Hannah, Susan e Murta perguntaram, ao mesmo tempo, e as duas olharam para Murta com expressões confusas.

– Ouvi... – Eleanor assentiu. – Susan, você trouxe sua pena?

– Trouxe! – Retirou da mochila sua pena, tinteiro e um pergaminho. – O que ouviu?

– Onde ouvir da nossa voz o tom, na superfície não há som... – Se esforçou para relembrar. – Levamos o que lhe fará muita falta... – Fechou os olhos.

– Só isso? – Susan perguntou, anotando rapidamente tudo no pergaminho, apoiado na lateral da banheira.

– Preciso ouvir de novo. – Tomou fôlego mais uma vez e abriu o ovo, afundando na água novamente.

Ouviu a música mais uma vez até conseguir recitar todos os trechos para Susan. Enquanto Susan e Hannah pensavam, em silêncio, Eleanor andava de um lado pro outro, ainda dentro da piscina.

– Vozes que não podem ser ouvidas da superfície... – Pensou em voz alta, passando as mãos por seu cabelo molhado.

– Puxa, vocês são bem devagares, não são? – Murta disse, parecendo mais feliz do que nunca, quase convencida. – Deve ser por isso que vestem amarelo, ao invés de azul... – Deu uma risada que ecoou pelo banheiro.

– Você literalmente está mor... – Hannah fez careta, ofendida, mas Eleanor jogou água na cara dela antes que ela finalizasse a frase.

– Criaturas subaquáticas, não é? – Eleanor as encarou, e elas assentiram.  – Subaquáticas...

– Talvez tenha algo á ver com o Lago! – Susan exclamou, dando um pulo e ficando em pé.

– Não me diga que vocês vão ter que lutar contra a Lula Gigante... – Hannah arregalou os olhos.

– A lula não tem voz. – Susan negou com a cabeça.

– Murta, você sabe o que mais tem no Lago Negro? Além da Lula?

– Ah, todo tipo de coisa... vou dar um passeio por lá, às vezes, quando dão descarga no meu vaso sem eu esperar...

Hannah conteve uma risada ao imaginar Murta descendo por um cano junto do conteúdo de um vaso, e ao perceber isso, Eleanor mudou o foco da conversa.

– Alguma coisa que tenha voz human... – Seus olhos pousaram no vitral da sereia, em frente a banheira. – Sereias! Cedric disse que tinham sereias no Lago Negro! – Bateu uma única palma, se empolgando.

– Finalmente, achei que ia ter que explicar! – Murta deu uma risadinha.

As quatro olharam para o vitral, onde a sereia dava risadas e se exibia, fazendo suas barbatanas cintilarem. E então, Eleanor arregalou os olhos.

Havia feito aulas de natação quando pequena, e era particularmente boa nisso, mas... a música dizia que procurariam por uma hora. Não existia ser humano que conseguisse segurar o fôlego por uma hora. Ainda mais quando as sereias, provavelmente, moravam no fundo do lago.

– Como eu vou respirar? – Eleanor perguntou, lentamente, olhando para Susan e Hannah.

Ao ouvir aquilo, Murta pareceu voltar á tristeza e melancolia de antes.

Que falta de respeito! – Ela exclamou, batendo os pés invisíveis no chão.

– O quê? – Eleanor a encarou, confusa.

– Falar de respirar! Na minha frente! – Afinou a voz, que ecoou pelo banheiro. – Quando eu não respiro há séculos! – Choramingou.

– Agora pronto... – Hannah sussurrou, massageando suas próprias têmporas.

– Ah, me desculpe, Murta... – Eleanor respondeu, sem graça.

– Ah, é muito fácil pedir desculpas agora! – Ela soluçou, flutuando para cima das cabines do banheiro, chorando.

Enquanto Murta resmungava sobre como ninguém sentia falta dela, nem mesmo quando estava viva, Eleanor acabou se distraindo pensando no rosto da música. Pegou o pergaminho de Susan, lendo e relendo várias vezes.

"Levamos o que lhe fará muita falta", ela releu. O que diabos elas poderiam levar? E como roubariam algo dela se não pudessem sair da água?


Notas Finais


capítulo leve pra poder dar uma folga pra vocês depois do último KKKKKKKKKKK


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