24 de junho de 1995
Hogwarts
07:25
A manhã da terceira tarefa não poderia ter chego mais rápido; Eleanor sentiu como se tivesse acabado de fechar os olhos quando acordou com o som de Susan e Hannah cochichando enquanto Hannah escovava os dentes. As duas se calaram ao ouvirem o som de Eleanor se levantando da cama.
– Viu? Você acordou ela! – Susan sussurrou, e Eleanor escutou o som de Hannah cuspindo a pasta de dentes na pia, ficando em silêncio por alguns segundos.
– Eu nem consegui falar direito! Você que tava surtando! – Se defendeu.
– Surtando com o quê? – Eleanor perguntou, entrando no banheiro também. – Bom dia.
– Bom dia, El! – Susan sorriu para disfarçar, mas seus olhos mostravam a preocupação que ela sentia por dentro. – Como... como se sente?
– Bem, não é? Última tarefa... finalmente. – Sorriu de volta, fingindo não saber ao que ela se referia. – Vocês têm mais provas pra fazer hoje, não tem?
– Sim... – O sorriso de Susan se esvaiu. – Nem sinto vontade de comer direito...
– Você fica assim todo ano! – Hannah fez careta. – E sempre acaba tirando as melhores notas do grupo!
– Ainda assim, fico nervosa! – Susan se defendeu. – Ano que vem, vamos começar á prestar as N.O.Ms, sabiam? Precisamos estar com as melhores notas possíveis pra isso.
– Tenho certeza de que vamos nos dar bem. – Eleanor as tranquilizou. – Agora, dêem o fora do banheiro, preciso me arrumar. – Brincou, reparando que as duas já vestiam os uniformes.
Menos de uma hora depois, as três saíram do dormitório, arrumadas, e se juntaram á Justin e Ernie na Sala Comunal. Justin pareceu ficar tenso ao ver Eleanor.
– Bom dia, meninos. – Ela sorriu fraco pra eles e percebeu a expressão no rosto de Justin. – Tudo bem, Justin?
– Hã... sim! Tudo ótimo! – Ele assentiu. – Você não está... você sabe... brava comigo?
– Claro que não. – Negou com a cabeça. – Sei que não fez por mal. E de qualquer forma... uma hora, ia acontecer. Não se preocupe com isso, Fletchley.
Justin pareceu suspirar, aliviado, e sorriu genuinamente. Susan sorriu de lado e juntou a própria mão com a dele, discretamente, e apenas Eleanor reparou, a lançando um sorriso fraco.
– Vamos, então? Estou morta de fome. – Hannah apontou para a saída da Sala Comunal, e todos concordaram e a seguiram, menos Eleanor. – El, você não vem?
– Vou, eu só... vou esperar o Cedric. – Olhou rapidamente pro corredor dos dormitórios. – Quero falar com ele.
– Tudo bem. – Ela assentiu. – Vamos esperar você lá.
Eleanor sorriu pra ela e, quando eles sumiram de vista, se sentou no sofá, esperando ver Cedric sair de seu dormitório. De vez em quando, uma porta se abria no corredor, mas era apenas um dos outros colegas de casa.
Todos que passavam por Eleanor sorriam para ela, ou então a davam um aperto de mãos, a desejando boa sorte na tarefa. Alguns até mesmo diziam que "a vitória já era garantida", o que a fazia dar risada. Tantas coisas haviam acontecido de uns tempos para cá, que ela mal conseguia se concentrar em apenas vencer a tarefa.
Na verdade, parecia até mesmo egoísta pensar em vencer o Torneio Tribruxo, quando tinham tantas outras coisas mais importantes, e mais sombrias, para se preocupar. Tudo que ela queria era acabar com isso de uma vez e voltar para casa. Rever seus pais, sua irmã e seu melhor amigo.
Enquanto pensava nisso, reconheceu o rosto de Cedric saindo de seu dormitório. Ao contrário do que ela esperava, ele não parecia nem um pouco mais calmo do que da última vez que ela o viu, na noite anterior. Rapidamente se levantou do sofá e andou até o lado dele.
– Bom dia. – Sorriu fraco pra ele, que não respondeu, e sequer reconheceu a presença dela. – Podemos conversar?
Sem resposta, ele apenas continuou andando até a saída da Sala Comunal. Lentamente, a expressão no rosto de Eleanor mudou de um sorriso fraco para o cenho franzido.
– Vai fingir que eu não estou aqui? – Perguntou. Sem resposta, de novo. – Uau, quanta maturidade. Para com isso, Cedric!
Quando ele estava prestes á puxar a porta de saída da Sala Comunal, ela entrou na frente dele, cruzando os braços. O menino bufou e olhou em volta, evitando o contato com ela.
– Não saio daqui enquanto você não falar comigo. – Resmungou. – Sabe ser infantil? Eu também sei.
– Ah, eu sei que sabe. – Respondeu, e ela nunca ouviu o tom de voz dele tão frio. – Pronto, falei com você. Agora me dá licença.
– Não, fala direito! – Não se mexeu.
– Eu tenho coisas pra fazer, sabia? – Bufou. – Provas. Nem todos nós somos campeões tribruxos.
– Faltam duas horas pras provas. – Argumentou. – Falar comigo direito não vai levar cinco minutos do seu dia.
– Eleanor, me deixa passar. – Olhou para cima. – Não vou pedir de novo.
– Dá pra parar de agir assim? Que inferno, parece até que eu matei alguém! – Exclamou. – Olha como você tá agindo! É por isso que eu não te contei nada!
– Então você não se arrepende? – A encarou, arqueando a sobrancelha.
– No início, até que estava, mas agora que você está agindo como um babaca, percebo que estava certa. – O encarou de volta e deu um passo pro lado. – Pode passar e seguir com o seu dia ocupado.
– Digo o mesmo pra você. – Disse, ríspido, antes de abrir a porta e sair, a batendo com um estrondo alto depois.
A alteração nos tons de vozes deles chamou a atenção de mais alguns alunos na Sala Comunal, que encararam Eleanor por alguns segundos, curiosos, mas ela logo depois saiu também. Tempo o suficiente para Cedric já ter sumido de vista.
Subindo as escadas até chegar nos corredores do primeiro andar, passou por vários alunos de todas as turmas, que sorriam para ela e desejavam boa sorte na tarefa, e ela sorria de volta e agradecia. Estava ficando realmente muito boa em jogar seus problemas e preocupações para o fundo de seus pensamentos, para lidar com eles depois.
Quando chegou no Salão Principal, concluiu que todos os outros alunos também deveriam estar tão ansiosos quanto ela para o fim do Torneio. Estava lotado, como sempre, mas o falatório parecia estar duas vezes mais alto, quase ensurdecedor.
Levemente atordoada com o barulho, Eleanor demorou alguns segundos para encontrar seus amigos na mesa da Lufa-lufa. Como já esperava, Cedric havia se sentado com Cho na mesa da Corvinal.
– Ele ignorou você também? – Ernie perguntou para Eleanor assim que ela se sentou, percebendo que ela olhava para a outra mesa. Ela assentiu, desviando o olhar de lá.
– Podemos não falar disso hoje? – Eleanor massageou as próprias têmporas, suspirando. Simultaneamente, todos os quatro concordaram, voltando á comer em silêncio. – Então, como se sentem, com as provas de hoje? – Eleanor suspirou e apoiou os cotovelos na mesa, olhando para todos eles com um sorriso fraco no rosto.
As provas estavam acontecendo desde o início da semana, mas como uma Campeã Tribruxa, ela havia sido dispensada dos exames de final de ano, e ficava no fundo da sala, junto de Harry, enquanto os outros faziam as provas.
– A primeira do dia é História da Magia. – Susan disse. – Acho que estamos todos tranquilos, não é? Estudamos bastante...
– Aquele macete foi realmente muito útil, El! – Justin balançou a cabeça, parecendo realmente estar muito tranquilo. Eleanor riu com a afirmação dele.
– Não sei da onde a Sparks tirou que só os bruxos tem nomes estranhos sendo que o sobrenome dela significa "Faíscas". – Ernie fez careta pra ela, muito ofendido.
– Com licença! Pra sua informação, é o mesmo sobrenome de um autor, ok? – Eleanor retribuiu a careta.
– Então não são só você e seus pais com sobrenomes estranhos, viu? – Deu de ombros, e Eleanor abriu a boca para revidar, mas a Professora Sprout contornou a mesa na direção dela.
– Querida, os campeões irão se reunir na câmara vizinha depois do café. – Ela anunciou, colocando uma das mãos no ombro de Eleanor, carinhosa como sempre.
– Agora? Mas... a tarefa não é só no fim da tarde? – Eleanor arregalou os olhos, temendo ter se confundido em relação á hora.
– Sim, no final da tarde! – Ela assentiu. – As famílias dos campeões foram convidadas para assistir á última tarefa, entende? É apenas para você cumprimentá-los. – Explicou, e Eleanor arregalou os olhos mais ainda, se é que isso era possível. Sem perceber, a professora deu as costas e se afastou.
– As famílias? Meus pais? – Gaguejou. – Eles estão aqui? Mas como? – Encarou Susan.
– Eu não sei! Eles são trouxas, não são? – Susan parecia tão confusa quanto ela.
– São!
– Você tem certeza disso? – Hannah questionou.
– Claro que tenho, Hannah! – Eleanor exclamou. – Acho que eu saberia se meus pais fossem bruxos!
– Os trouxas não podem nem ver a escola! – Susan relembrou, franzindo o cenho. – A escola é encantada pra isso! Quando eles se aproximam, tudo o que vêem são ruínas!
– E como diabos a Sprout disse que as famílias dos campeões foram convidadas e que é pra eu ir lá cumprimentar eles? – Eleanor perguntou, esganiçada. – Meu Deus, minha mãe vai me matar por não ter contado pra ela... e meu pai nem vai me defender, senão ele morre junto comigo!
– Eleanor! – Susan exclamou.
– É verdade! – Se defendeu. – Você nunca viu minha mãe brava, acredite em mim, é assustador! Se colocassem ela pra cuidar da escola no ano passado ao invés dos dementadores, podem ter certeza que Sirius Black nem se aproximaria da escola!
– Adorei ela. – Hannah riu alto. – Porquê, ao invés de ficar questionando como eles chegaram aqui, você não vai lá e pergunta você mesma?
– E nós... – Susan se levantou e apontou para Hannah, Ernie e Justin. – ...vamos fazer a prova e falamos com você depois.
Os quatro se despediram dela e saíram do Salão Principal, enquanto Eleanor continuou na mesa, assustada demais para se levantar e ir até a câmara. O Salão, lentamente, se esvaziou, e ela percebeu que apenas ela e Harry ficaram ali, enquanto Krum e Fleur se juntaram e atravessavam o salão para entrar na câmara.
Os dois se olharam, um de cada lado do Salão; Harry, da mesa da Grifinória, e Eleanor, da mesa da Lufa-lufa. Rapidamente, ele se levantou e andou até a da Lufa-lufa, que ficava ao lado da Grifinória.
– Não vai ver sua família? – Perguntou.
– Não acho que eles estão ali. – Olhou para a porta da câmara, suspirando. – São trouxas... não tem como, não é?
– Não sei dizer. Hermione saberia. – Deu de ombros.
– E você não vai lá?
– Aposto que não tem ninguém esperando por mim lá. – Riu pelo nariz. – Meus tios... bem, só acredite quando eu digo que não espero nada deles.
– Simpáticos assim? – Brincou, enquanto ele se sentava ao lado dela.
– Sim, sim. Eles são realmente... – Pareceu pensar nas palavras corretas por alguns segundos. – ...encantadores.
– Pra não dizer o contrário? – Arqueou uma sobrancelha.
– Pra não dizer o contrário. – Assentiu, e os dois deram risada.
De repente, a porta da câmara se abriu e Fleur colocou o rosto para fora, sorrindo quando encontrou eles sentados na mesa.
– Vocês non von vir? Eston esperrando vocês! – Ela os chamou com a cabeça, e entrou novamente, fechando a porta.
Os dois se entreolharam, muito confusos, e se levantaram, lentamente e desconfiados.
– Tem certeza que seus tios não viriam? – Ela perguntou, enquanto eles atravessavam o Salão.
– Absoluta. – Respondeu. – E você tem certeza de que os trouxas não podem entrar na escola?
– Absoluta. – Repetiu, e os dois chegaram á porta. – Quer dizer... quase isso... – Fez careta.
Harry abriu a porta e deu espaço para que ela entrasse. Ao entrar, viu Fleur, próxima da entrada, conversando em francês com seus pais, e sua irmãzinha, Gabrielle, agarrada á mão da mãe delas. Krum, no canto da sala, falava muito rápido em búlgaro com os pais, ambos de cabelos tão escuros quanto os dele, e Eleanor reparou que ele puxou os olhos e sobrancelhas marcantes do pai.
Porém, o que a chamou a atenção foi uma figura familiar. Não era sua mãe, nem seu pai. Na verdade, não havia sinal deles ali. Mal acreditou quando o viu, a ficha só caiu quando ele percebeu a presença dela e abriu um sorriso de orelha á orelha, de forma que rugas se formaram em seus olhos.
Lupin estava ali. E abriu os braços quando a viu dando passos apressados na direção dele, quase caindo para trás quando ela o abraçou, afobada. Seu rosto estava mais envelhecido, cansado e com mais cicatrizes do que antes, mas ela não reparou, e mesmo que reparasse, não ligava, pois estava satisfeita apenas com o fato de, finalmente, ver ele depois de tanto tempo.
– O quê...! O que está fazendo aqui?! – Perguntou, esganiçada, ainda o abraçando.
– Vim prestigiar a campeã tribruxa, é claro! – Ele respondeu, dando risada da reação dela. – Achou que eu não ia ficar sabendo, é? Porquê não me contou?
– Eu... não queria te preocupar... – Murmurou, o soltando e ficando vermelha.
– Quase me esqueci de como seu rosto era, quanto tempo! – Sorriu, dando dois tapinhas fracos no topo da cabeça dela, como se estivesse falando com uma criancinha. – Os 15 anos te fizeram bem, quase não parece a garotinha que eu conheci á dois anos atrás!
– Ainda bem, não é? – Enrugou o nariz. – Olha só! A cicatriz! – Apontou para o lugar na sua testa onde o corte estava na última vez em que ele a viu.
O corte foi feito no final do terceiro ano, quando ela tentou se comunicar com Lupin depois dele se transformar e foi arremessada contra uma pedra. Tanto Lupin quanto Madame Pomfrey acharam que era um corte feito pelo lobo, e que ela teria aquela cicatriz para sempre, já que machucados feitos por lobisomens não se cicatrizavam completamente. Porém, a cicatriz havia sumido, mal era perceptível agora, provando que era apenas um corte feio do seu impacto com a pedra.
Eleanor se lembra de nunca ter visto Lupin tão arrependido e envergonhado quanto quando ele viu o que havia feito. E, naquele momento, o mostrando que não era ele quem havia feito, também nunca o viu tão aliviado. Como se tivesse rejuvenescido 10, ou talvez 15 anos.
– Então não fui...? – Os olhos dele brilharam.
– Não! – Ela sorriu. – Não vê? Sumiu completamente! Só tem uma marquinha de nada, mas uns minutinhos no sol resolvem isso...
– Eleanor, isso é ótimo! – Soltou uma risada aliviada. – Ótimo de verdade...
– Agora me diga, como ficou sabendo? Do torneio...?
– Tenho me correspondido com Dumbledore por... algumas semanas. – Seu sorriso foi desmanchando lentamente, e ele desviou a atenção para o exemplar do Profeta Diário enrolada em suas mãos. – Quero ter uma conversa com você depois, inclusive...
Eleanor engoliu em seco. Para disfarçar, olhou em volta, vendo que Harry estava reunido de duas outras pessoas de cabelo ruivo. Uma delas, ela reconheceu como um dos irmãos Weasley. Bill. Reparou, também, que Fleur, do outro lado da sala, o olhava com bastante interesse.
Do lado dele, uma mulher de cabelo curto e baixinha conversava com Harry de forma muito afetuosa. Eleanor a reconheceu do jornal, quando o artigo sobre o Sr. Weasley saiu e Draco mostrou para todos. Eleanor sorriu ao entender: a família de Harry não eram os tios dele, e sim, a família de Ron. Achou aquilo adorável.
Ao reparar que Eleanor os olhava, Bill acenou para ela e abriu um sorriso amigável, fazendo a mulher a olhar também, curiosa. A analisou por alguns momentos, mas logo sua expressão se fechou e ela cochichou algo para Harry, muito desconfiada, enquanto ainda a encarava.
Harry balançou a cabeça negativamente ao ouvir o que ela cochichou e rapidamente a respondeu, se virando na direção de Eleanor e a chamando com a mão, para se aproximar. Ao perceber a presença de Lupin ali, ele abriu um sorriso enorme.
Quando os dois se juntaram á eles, Harry também abraçou Lupin, enquanto Sra. Weasley ainda a olhava de cima a baixo, disfarçadamente.
– Como têm ido, Harry? – Lupin perguntou, depois de o abraçar, dando dois tapas no ombro dele.
– Muito bem! – O garoto sorriu. – Hã, essa é a Sra. Weasley, e esse é o Bill... – Apontou para os ruivos ao lado dele.
– É um prazer, Sra. Weasley. – Lupin apertou a mão dela. – Tive o prazer de dar aula para os seus filhos. Todos muito inteligentes e educados.
– Ouvimos falar sobre você... todos gostaram muito de você! – Ela sorriu para ele, mas ainda lançava alguns olhares rápidos para Eleanor.
– Esses são, como já sabem, Profes... Lupin e Eleanor. – Harry terminou de os apresentar.
– Já conheci ela na Copa. – Bill a cumprimentou com a cabeça. – Como vai, Eleanor?
– Muito bem, Bill, obrigada. – Ela sorriu para ele e estendeu a mão para a Sra. Weasley. – É um prazer conhecê-la, Sra. Weasley.
A mulher demorou alguns segundos, mas retribuiu o aperto de mão. Eleanor, percebendo que algo de estranho havia acontecido, olhou de soslaio para Harry, franzindo o cenho.
– Hã, Eleanor é uma amiga nossa. – Harry explicou, ficando sem graça. – Todos nós gostamos dela, sabe... o que a Skeeter disse sobre ela foi injusto...
E então, ela entendeu. A Sra. Weasley provavelmente havia lido o Profeta Diário e, como todos os outros leitores, acreditou em tudo que Rita Skeeter disse. Lupin, também entendendo, colocou uma mão no ombro de Eleanor, de forma protetora, sem mudar de expressão.
– Foi ela quem cuidou do nariz quebrado do Percy, mãe... lembra? – Bill relembrou, parecendo tenso com a situação. – Nós te falamos disso.
– Ah... foi você? – Ela perguntou, e Eleanor assentiu rapidamente. – Foi... muito... muito gentil. Obrigada. – Disse, por fim, suspirando e a lançando um sorriso fraco e bondoso.
– Não foi nada. – Eleanor sorriu de volta, aliviada.
– Estou achando o máximo voltar aqui... – Bill mudou de assunto, olhando em volta da câmara. – Não vejo a escola tem cinco anos... o quadro daquele cavaleiro pirado ainda está por aí? O Sir Cardogan?
– Ah, está... – Harry respondeu, rindo.
– E a Mulher Gorda? – Perguntou também.
– Ela já estava aqui no meu tempo! – A Sra. Weasley comentou. – Me deu uma cara feia daquelas uma noite em que eu voltava pra Sala Comunal ás quatro horas da manhã...
– E o que é que a senhora estava fazendo fora do dormitório ás quatro da manhã, hein, mãe? – Bill a encarou, incrédulo. Ela sorriu de lado, os olhos cintilando.
– Seu pai e eu saímos para dar um passeio á noite. – Contou, dando uma risadinha baixa. – Ele foi pego por Apolineo Pringle, o zelador daquela época... ainda tem as marcas.
– Que tal fazermos uma tour da escola? – Remus sugeriu, e todos concordaram.
– Mudando de assunto, hein? – Eleanor o cutucou com o cotovelo. – Fez tanta besteira assim quando estudou aqui? – Perguntou, e ele riu, desviando o olhar.
– Prefiro não te contar pois quero continuar sendo um bom exemplo pra vocês. – Apontou para ela e Harry, enquanto se dirigiam á porta que levava ao Salão Principal.
A manhã estava muito agradável, e a escola estava mais silenciosa do que o normal, já que todos os outros alunos estavam prestando exames. Apesar do começo rochoso, Eleanor percebeu que a Sra. Weasley era muito gentil, assim como o Sr. Weasley, que ela conheceu na Copa Mundial.
– Aquele navio ali é o navio de Durmstrang. – Harry apontou para o navio no Lago Negro. – E ali... a carruagem dos Beauxbatons. – Apontou para a carruagem azul-claro.
– Vocês conheceram Krum, não conheceram? – Bill perguntou, e os dois assentiram. – Ainda não cai a ficha pra mim de que ele tem só 18 anos... é uma fera no Quadribol.
– Foi com a Hermione pro Baile de Inverno! – Harry comentou, e Eleanor reparou que a Sra. Weasley fez careta. – Ela parece ter se divertido bastante, até que... bem... é... ela se divertiu. – Parou de falar de repente.
"Será que eu não fui a única que teve um Baile de Inferno ao invés de um Baile de Inverno?" Eleanor se perguntou.
Continuaram andando, e Harry também os mostrou o Salgueiro Lutador, coisa que a Sra. Weasley se mostrou especialmente intrigada, dizendo que ele não estava lá quando ela estudou em Hogwarts. Eleanor reparou que Lupin ficou especialmente quieto durante essa parte da tour.
– Eleanor, pode vir comigo por um momento? – Lupin a chamou, se virando na direção contrária da qual o resto do grupo andava. – Nós encontramos vocês no almoço! – Acenou para eles.
Eleanor também se despediu deles e andou ao lado de Lupin pelos terrenos da escola, em silêncio. Quando estavam andando nas margens do Lago Negro, foi quando ele começou á falar.
– Eleanor, eu entendo que você não quis me preocupar mas... – Iniciou. – ...o que é que tinha na sua cabeça pra esconder de mim que foi atacada? – Parou de andar, a olhando com uma expressão bem séria, de braços cruzados.
– Hã... Dumbledore te contou? – Ela fez careta, se encolhendo sob o olhar dele.
– Ele disse que te aconselhou á me contar! E você não o fez! – Exclamou. – Eleanor, você, mais do que ninguém, deveria concordar que eu mereço saber! Eu te pedi pra me manter á par de tudo!
– ...o que o Dumbledore te falou? – Ela murmurou, olhando para o chão.
– Só que você foi atacada. – Contou. – Quando eu perguntei quem havia sido, ele disse que achou que você tinha me falado e, que mesmo assim, só você poderia me contar.
– Droga... – Respirou fundo. – Dá pra gente, pelo menos, sentar em algum lugar?
– Não me importo de sentar no chão. Vamos pra mais perto do Lago. – Apontou com a cabeça para a árvore na qual ela costumava se sentar com Draco.
Os dois andaram até lá e se sentaram. Lupin cruzou os pés e apoiou os braços em seus joelhos, voltando á encarar Eleanor, sério. Eleanor abraçou as próprias pernas, encarando o lago, tentando encontrar palavras para contar para ele.
– Vai me dizer quem foi que te atacou? – Repetiu a pergunta, mas não de forma impaciente. Apenas parecia preocupado.
– Foi ele. – Ela revelou, virando a cabeça na direção dele. – Greyback... na Floresta Proibida.
O rosto de Lupin nunca pareceu tão pálido e assustado quanto naquele momento. O observando, Eleanor pensou que era como se ele estivesse revivendo tudo o que passou por causa daquele homem, apenas pela mera menção de seu nome.
– Ele fez... o quê?! – Pareceu despertar do transe. – Ele te mordeu? Te arranhou? Foi numa lua cheia? – Perguntou, afobado, olhando a pequena parte de pele que ela tinha exposta pelo uniforme.
– Não. Não foi numa lua cheia, e ele não fez nada disso... – O tranquilizou, e vendo que ele se acalmou um pouco, suspirou. – Foram duas vezes... eu vou te contar.
Passou os próximos 15 minutos o contando tudo sobre os ataques de Greyback. Da primeira vez, quando ele disse que a observou e esperou a oportunidade certa para atacar, e da segunda vez, quando ele disse que prometeu conseguir a cabeça dela e seria muito bem recompensado por aquilo. Por último, contou do que ele disse naquela mesma noite. "Não pode escapar de mim por muito tempo."
De repente, Lupin se levantou num pulo e passou á andar em voltas, uma das mãos apoiada na cintura e a outra alisando o próprio rosto, parecendo pensativo e preocupado, ao mesmo tempo. Sabendo o que deveria estar se passando na cabeça dele, Eleanor apenas permaneceu em silêncio e deixou que ele ficasse em paz.
– Da primeira vez... pode ter sido coincidência, não é? – Ele indagou, parecendo falar mais consigo mesmo do que com ela. – Mas a segunda... a segunda, não. Alguém mandou ele atrás de você. Quem faria isso?
– Eu... não sei. – Eleanor murmurou.
– O que mais aconteceu esse ano? Me conte tudo. – Voltou á se sentar ao lado dela. – Não poupe detalhes.
– Tudo mesmo? – Fez careta. Já havia levado bronca do Cedric, não queria que o mesmo acontecesse com Lupin.
– Tudo. – Assentiu, sério.
Passou mais um bom tempo o contando tudo que aconteceu desde a última vez que se viram: a Copa Mundial de Quadribol, Lucius Malfoy e a ameaça que ele fez antes do jogo começar. "Divirta-se bastante, enquanto ainda pode". Contou também sobre a invasão dos Comensais da Morte, a Marca Negra que foi conjurada, Winky, toda a confusão com Moody, as maldições imperdoáveis, ele a dispensando do posto de assistente.
Eventualmente, teve de contar sobre Draco. Esperava algum tipo de reação exasperada ou furiosa, mas Lupin apenas riu pelo nariz e esfregou o rosto com as mãos.
– Porquê você está rindo? – Eleanor franziu o cenho.
– Se eu te disser que já vi isso antes, você acredita em mim? – Parecia nostálgico. – Essa rixa.. brigarem o tempo todo, a troca de insultos... aconteceu com uns amigos meus.
O fitou, confusa.
– Para todos os efeitos, ainda devo te pedir para tomar cuidado. Tanto com ele, quanto com a família dele... – Aconselhou.
Ela continuou e contou sobre quando Moody tentou invadir a sala do Snape enquanto eles estavam lá dentro, resolvendo a pista do ovo de ouro, contou sobre o artigo de Rita, o Baile de Inverno, o artigo sobre Hagrid, a morte do Sr. Crouch, o comportamento estranho de Moody antes de encontrarem o corpo dele (pela primeira vez, ela pôde contar sobre isso sem que alguém a interrompesse), a visão que Harry teve na Penseira de Dumbledore, Snape e Karkaroff, a tatuagem bizarra de Karkaroff, tudo que conversaram com Sirius, quando Draco roubou a Poção de Acônito (não ficou muito feliz com isso, disse que Snape ficaria furioso se descobrisse que foi ela) e os ingredientes roubados da Poção Polissuco.
Por último, quando o contou sobre a ameaça que Moody fez, no mesmo dia do ataque de Greyback, esperava que ele concordasse com ela, mas a reação dele foi o contrário.
– O Moody é assim. – Contou, balançando a cabeça negativamente. – Sempre pede que a gente tome cuidado, e pra ficarmos em vigilância constante. Confie em mim, eu conheço ele.
– Como?
– Na Guerra Bruxa... todos nós o conhecíamos. Porquê acha que Dumbledore pediu que ele desse aula pra vocês? – Explicou. – Entendo que tenha ressentimentos por ele por ele te dispensar e tudo o mais, mas não acha que está sendo... imatura de o acusar de algo tão sério?
– Eu...! Eu não... – Eleanor gaguejou por alguns segundos. – Não é uma acusação! Você não entende... ele falou estranho, não foi um conselho!
– Acho melhor mudarmos de assunto. – A interrompeu, balançando a cabeça. – Me fale desses artigos da Rita Skeeter... ela falou do Harry, de você e do Hagrid?
– Sim, aquela vaca velha desgraçada dos infern... – Resmungou, mas logo arregalou os olhos ao perceber que não estava falando com seus amigos. – Hã... desculpa...
– Dessa vez, eu deixo passar. – Riu pelo nariz, e se levantou do chão. – Vamos voltar para o castelo, está quase na hora do almoço. – Estendeu uma mão para ela, a ajudando á levantar.
Andaram na trilha de volta para a escola por alguns minutos, em silêncio, até que Lupin voltou á falar sobre Rita Skeeter.
– Você... leu o Profeta Diário de hoje? – Desdobrou, lentamente, o jornal que ele segurava desde que ela o viu pela primeira vez, na câmara.
– Por qu... pelo amor de Deus, não vai dizer que ela publicou mais alguma coisa sobre mim? – Sentiu seu peito gelar, mas a gargalhada que Lupin deu fez com que seu coração voltasse á bater normalmente.
– Não! Não, isso não, acho que esse acordo que você citou deu certo... – Suspirou, a entregando o jornal, aberto na primeira página. – Pelo menos, não sobre você...
Eleanor arregalou os olhos ao se deparar com uma enorme foto de Harry, com um enunciado nada agradável logo acima dela.
HARRY POTTER PERTURBADO E PERIGOSO
O garoto que derrotou Aquele-Que-Não-Deve-Ser-Nomeado encontra-se instável e possivelmente perigoso, escreve nossa repórter especial, Rita Skeeter. Há poucos dias vieram à luz provas assustadoras do estranho comportamento de Harry Potter, que lançam dúvidas sobre suas qualificações para competir em um torneio como o Tribruxo, ou até mesmo para frequentar Hogwarts.
O Profeta Diário está em condições de afirmar, com exclusividade, que Potter regularmente desmaia na escola, e com frequência se queixa de dor na cicatriz que tem na testa (relíquia do feitiço que Você-Sabe-Quem usou para tentar matá-lo).
Na última segunda-feira, no meio de uma aula de Adivinhação, a repórter do Profeta Diário presenciou a saída intempestiva de Potter da sala de aula, dizendo que sua cicatriz o incomodava em demasia para que pudesse continuar em classe.
É possível dizem os maiores especialistas do Hospital St. Mungus para Doenças e Acidentes Mágicos, que o cérebro de Potter tenha sido afetado pelo ataque que sofreu de Você-Sabe-Quem, e que sua insistência em dizer que a cicatriz continua a doer seja uma expressão de seus problemas.
"Talvez até esteja fingindo", opinou um especialista, "o que poderia ser um mecanismo para receber atenção".
O Profeta Diário, no entanto, descobriu fatos preocupantes sobre Harry Potter, que Albus Dumbledore, diretor de Hogwarts, tem cuidadosamente ocultado do público bruxo.
"Potter é ofidioglota" revela Draco Malfoy, um quartanista de Hogwarts. "Há uns dois anos, houve uma série de ataques a estudantes, e quase todos pensaram que Potter era o responsável, depois que o viram perder a cabeça em um Clube de Duelos e atiçar uma cobra contra um colega. O episódio foi abafado. Mas ele também faz amizade com lobisomens e gigantes. Acham que ele é capaz de qualquer coisa para ter poder."
Um membro da Liga de Defesa contra as Artes das Trevas, que prefere se manter anônimo, declarou que consideraria qualquer bruxo ofidioglota "merecedor de investigação".
"Pessoalmente, eu encararia com muita suspeita qualquer pessoa que conversasse com cobras, pois esses animais em geral são usados nos piores tipos de magia negra e historicamente, são associados com bruxos malignos!". Da mesma forma, "qualquer um que procure a companhia de criaturas selvagens como lobisomens e gigantes me parece ter inclinação para a violência".
Albus Dumbledore deveria, sem dúvida, refletir se um garoto desses pode realmente competir no Torneio Tribruxo. Há quem receie que Potter possa apelar para as Artes das Trevas em seu desespero de vencer o torneio, cuja terceira tarefa será realizada hoje à noite.
– Mas que monte de lixo! – Eleanor exclamou. – Que droga foi essa que o Draco falou?
– Você não disse que ele fez um acordo com ela? – Relembrou.
– Mas isso aqui...! – Bateu a ponta dos dedos no jornal, revoltada. – Esse negócio da cobra! Foi com o Justin, e todo mundo já sabe o que aconteceu!
– Não acho que Rita Skeeter se importa com a verdade, pelo que você me contou...
– E porquê diabos ele tá falando de lobisomens e gigantes? – Releu, ficando com mais raiva ainda. – Eu entendo que ele precisa manter o acordo, mas que droga! Precisa falar de você, do Hagrid e do Harry?!
– Acho melhor você... – Puxou, lentamente, o jornal das mãos dela. – ...me devolver o jornal antes que se irrite...
– Eu não vou fazer nada! – Se defendeu.
– Você tem um jeito bem intenso de lidar com as coisas. – Riu pelo nariz.
Lupin nunca admitiria aquilo para Eleanor, mas já tinha uma teoria muito clara em sua cabeça. Desde que ela o contou sobre o Baile de Inverno e a presença de Lucius na escola, não pôde deixar de acreditar que ele tinha algo á ver com o ataque de Greyback.
Quando voltaram para o Salão Principal, na hora do almoço, permaneceram alguns segundos de pé, entre as mesas da Grifinória e da Lufa-lufa. Hannah, Susan, Justin e Ernie se aproximaram deles.
– Professor Lupin! – Justin o cumprimentou, sorrindo. Os outros permaneceram um pouco atrás, pois, como Eleanor já sabia, os bruxos eram um pouco mais desconfiados dos lobisomens do que nascidos trouxas como ela e Justin. – Que maneiro te ver, o que faz aqui?! – Apertou a mão dele.
– Como vai, Justin? Tudo bem, crianças? – Lupin apertou a mão dele e cumprimentou os outros com a cabeça, parecendo não reparar no comportamento deles, ou então, já estava acostumado. – Vim prestigiar a campeã de vocês. – Colocou uma mão no ombro de Eleanor, fazendo-a rir.
– Era o senhor a visita dela? – Susan perguntou, um pouco envergonhada. Lupin assentiu. – Puxa, acho que... acho que faz sentido. – Sorriu fraco.
– Professor, nós sentimos muito falta das suas aulas! – Justin exclamou. – Quer dizer, o Moody é legal, eu acho, mas você foi meu preferido!
Lupin riu com a animação dele e agradeceu. Depois de alguns minutos, os quatro se sentaram na mesa da Lufa-lufa, e antes que Eleanor e Lupin os seguissem, Harry os chamou da mesa da Grifinória para se sentarem com ele, Bill e a Sra. Weasley.
– Acho que não se importam se os campeões e suas famílias almoçarem juntos, não é? – Lupin brincou, se sentando entre Eleanor e Harry, sorrindo para os dois.
Eleanor apenas riu pelo nariz, mas sua cabeça ainda estava no artigo de Rita. Nem mesmo era pelo fato de Draco ter sido citado como uma das fontes, isso não era nenhuma surpresa. É claro que algumas das coisas ditas a chatearam, mas era parte do acordo, não é? Então, não era nisso que ela pensava.
"Na última segunda-feira, no meio de uma aula de Adivinhação, a repórter do Profeta Diário presenciou a saída intempestiva de Potter da sala de aula"... presenciou? Como diabos presenciou algo que aconteceu dentro da escola? Eleanor não se lembra de ter visto ela por lá... nem mesmo nos corredores.
Alguns minutos depois, Ron chegou no Salão Principal também, e pareceu espantado ao ver a mãe, o irmão e Lupin sentados á mesa.
– Mamãe, Bill! – Ele arregalou os olhos. – Que é que vocês vieram fazer aqui? E Professor Lupin...quer dizer, Lupin! – Se sentou ao lado de Bill, em frente á Harry.
– Como vai, Ron? – Lupin o cumprimentou, com os olhos brilhando. – Viemos assistir á ultima tarefa!
– Devo confessar, é uma bela mudança não ter que cozinhar. – A Sra. Weasley disse, enquanto terminava de engolir suas batatas cozidas. – Como foi o seu exame?
– Ah, foram OK... não consegui me lembrar dos nomes de todos os duendes rebeldes, por isso inventei alguns. – Deu de ombros, mas se encolheu sob o olhar severo da mãe. – Não se preocupe! Todos eles tem nomes tipo... Bodrode, o Barbudo. Ou Urgue, o Impuro. Não foi difícil. – Se serviu de um pastel galês.
– Você está dizendo que colocou "Urgue, o Impuro" de chute? – Eleanor franziu o cenho, e ele assentiu. – Você deu muita sorte, é esse o nome mesmo! – Deu risada, e Ron riu também, ficando vermelho.
Lupin e a Sra. Weasley conversavam sobre um assunto paralelo, enquanto Bill contava para os três jovens sobre seu trabalho no Egito. Eleanor se lembrou de ter conversado com Charlie, o irmão Weasley que estava presente na primeira tarefa, sendo um dos domadores de dragão.
– Eleanor iria adorar conversar com o Charlie! – Ron brincou. – Sabe tudo sobre Criaturas Mágicas, não é? – Contou, e ela corou sob o olhar curioso de Bill.
– Eu não sei tudo... só leio alguns livros. – Murmurou. – E eu certamente não sou tão fã assim de dragões! Ou você esqueceu que eu quase virei churrasquinho?
George, Fred e Gina se juntaram á eles assim que chegaram no Salão Principal também. Os gêmeos desconversaram quando foram perguntados dos exames pela mãe, e jogaram a atenção para Gina, que os lançou uma cara feia antes de contar como achava que havia se saído nas provas.
Fazendo parte de uma família relativamente pequena, Eleanor deu muitas risadas vendo as interações entre os Weasley. Chegou até mesmo a se esquecer da tarefa que aconteceria de noite, apenas aproveitava a companhia de Lupin, Harry e dos Weasley. A única coisa que a preocupava era, ainda, aquele trecho em específico do artigo de Rita.
Enquanto ela se calava e ficava perdida no assunto, escutou o próprio nome ser citado entre eles, seguido de uma risada alta de Gina.
– O que tem eu? – Ela saiu do transe, franzindo o cenho.
– George, você não me contou que foi ao baile com ela! – Molly olhava para o filho com um sorriso no rosto, enquanto George encarava Fred de cara feia.
– Eu... devo ter esquecido. – Ele murmurou, parecendo evitar olhar para Eleanor de propósito.
– Bem, me digam! Vocês se divertiram? – Olhou para Eleanor. – Ele foi educado?
– Hã... foi! Eu me diverti muito. – Ela respondeu, sorrindo, ainda confusa. – E sim, ele foi muito educado. A senhora criou eles muito bem...
George, naquele ponto, parecia querer abrir um buraco no chão e se esconder ali. Com sorte, Bill mudou de assunto e eles voltaram á falar sobre outras coisas. Porém, Eleanor reparou, a Sra. Weasley, de vez em quando, tirava a atenção do que Lupin dizia para olhar para ela enquanto conversava com George, com um sorriso estranho no rosto.
Já era quase metade do almoço quando Hermione apareceu, e ela estava tão tensa que quase não percebeu a presença de Molly, Bill e Lupin. Ao perceber, rapidamente se sentou ao lado de Ron na mesa.
– Olá, Hermione. – A Sra. Weasley a cumprimentou, e seu tom estava mais formal do que antes, e Eleanor também percebeu que sua expressão estava mais séria. Quase o mesmo olhar que ela a deu na câmara, no início da manhã.
– Olá... – Hermione respondeu, seu sorriso vacilando diante da frieza da mulher.
Harry alternava os olhares entre elas, e logo depois, engolindo o suco de abóbora, começou a falar.
– Sra. Weasley, você não acreditou nas besteiras que a Rita Skeeter escreveu, acreditou? Porque Mione não é minha namorada. Nem Eleanor. E nenhuma delas é interesseira ou algo do tipo...
– Ah! – A mulher exclamou, sorrindo rapidamente. – Não... claro que não!
Mas Eleanor reparou que, assim como com ela, o tratamento com Hermione ficou mais caloroso depois de Harry esclarecer as coisas. De repente, como se lessem os pensamentos dela, começaram á falar sobre o artigo de Skeeter.
– Ela deve estar deixando de gostar de mim. – Harry ironizou, dando de ombros.
– Como foi que ela soube que sua cicatriz doeu na aula? – Ron parecia confuso. – Não teria como ela estar lá... não é, Eleanor?
– Acredite em mim, tenho pensado nisso a manhã toda. – Ela suspirou, franzindo o cenho.
– A janela estava aberta, lembram? – Harry disse. – Eu abri por causa da lareira.
– Mas a sala fica no topo da Torre Norte! – Hermione exclamou. – Ela não ia conseguir ouvir dos jardins...
– São vocês duas que estão pesquisando métodos mágicos de espionar! – Ron exclamou. – Digam vocês como ela conseguiu!
– Estamos tentando, tudo bem?! – Hermione o encarou, de cara feia. – Nós só precisamos..
De repente, todo o falatório na mesa se tornou apenas um som abafado para Eleanor. Era quase possível escutar o sons das engrenagens na sua cabeça funcionando, tentando montar uma teoria plausível.
Ok, é simples. Rita não poderia ter voado... numa vassoura ou algo do tipo. Senão, teria sido vista e, certamente, punida, já que estava proibida de pisar na escola fora dos eventos do Torneio Tribruxo.
Agora, para outra teoria... quantas vezes a escola foi invadida, sem saberem? Sem pensar muito, se lembra das diversas invasões de Sirius no ano letivo anterior. Ainda no mesmo assunto, o rato de Ron também era um homem disfarçado de animal, e não foi detectado...
Mas Pettigrew era um rato, certamente não poderia ter escalado paredes até o topo da Torre Norte... muito menos um cachorro. Ela teria visto se tivesse um animal na sala, não teria?
De repente, a realização a atingiu.
" – Eleanor, tem um besouro na sua mochila... – Ele disse. Ela olhou para trás e viu um besouro verde pendurado em sua mochila, mexendo as antenas, eufórico."
" – O besouro estava bem aí... – Ron apontou para a cortina, ao lado dela. – Estava bem aí! Um besouro verde!"
– Puta que pariu... – Sussurrou, levando a própria mão até a boca, arregalando os olhos.
– O que disse? – Lupin a olhou, confuso, pois não ouviu o que ela disse. – Que cara é essa?
– Hermione... – Ela balbuciou, as pernas tremendo de euforia de forma que mal conseguiu se levantar. – Hermione! – A chamou, fazendo a garota, que a olhou.
– O quê?
– Eu acho que sei... – Disse, afobada. – Eu sei! Precisamos ir! – A chamou com as mãos, dando alguns pulinhos de animação.
– Sabem do quê? – Gina fez careta.
– Ah, a casa dela caiu! – Eleanor deu uma risada quase maligna. – Pegamos ela!
– Do que você está falando?! – Hermione a perguntou, e se assustou quando Eleanor a puxou pelo pulso até a saída do Salão Principal.
Deixando os outros para trás, parecendo muito confusos e preocupados, as duas andavam apressadamente pelo corredor. Eleanor, em êxtase, e Hermione, muito confusa.
– Eleanor, eu tenho certeza de que, seja lá o que te deixou animada assim, é genial, mas eu preciso que você me conte! – Ela exclamou.
– Mione, você não vê? – Eleanor parou de andar, a segurando pelos ombros e a sacudindo. – Pensa comigo! O Peter Pettigrew nunca foi detectado, não é? Nem o Sirius? Mesmo os dois tendo entrado na escola? O que é que eles tem em comum?
Uma expressão estranha e pensativa apareceu no rosto de Hermione, e ela correu os dedos pelos cabelos, colocando uma das mãos na cintura.
– Você acha que...? – Ela tinha os olhos arregalados.
– Tenho certeza. – Eleanor assentiu, e as duas riram. – Isso tem que ser ilegal, não é? Não tem jeito que ela seja registrada!
– Decididamente não! – Hermione ainda ria, e bateu palmas. – Ah, nós pegamos ela! Vamos pra biblioteca, dois segundinhos, só pra ter certeza!
Quando elas se sentaram na mesa da biblioteca, Hermione não demorou muito para trazer meia dúzia de livros sobre Animagos. Em alguns minutos concluíram muitas coisas. Entre elas:
1) Rita Skeeter, definitivamente, era uma Animaga não-registrada, já que era proibido usar a animagia para atividades secretas e criminosas.
2) Animagos não podem ser detectados de formas como o olho de Moody ou com os feitiços anti-invasores de Hogwarts, como antes visto com Rabicho e Sirius.
– Espera, só pra confirmar... – Eleanor a interrompeu, levantando uma das mãos. – Quando você teve aquela conversa com o Krum, tinha algum besouro?
– Besou... – Hermione franziu o cenho, parecendo tentar se lembrar com detalhes, e então, arregalou os olhos. – SIM! TINHA! Estava na janela! Um besouro verde! – Apontou para as enormes janelas na parede da biblioteca.
– EU SABIA! – Eleanor fechou o livro que lia com força. – Céus, se eu soubesse, tinha deixado o Draco dar uma livrada naquela inseta nojenta!
– Malfoy ia matar o besouro?! – Hermione fez careta.
– Ia! Eu que não deixei! – Soltou um grunhido de raiva. – Que inferno... eu e minha mania de querer salvar os animais!
– Ainda bem que você não deixou! – Ela balançou a cabeça. – Quando um animago é morto na forma animal, o feitiço se desfaz e ele... volta á forma humana. Morto.
Eleanor ficou em silêncio por alguns segundos, imaginando a cena. Rita transformando-se de volta á forma humana, esmagada como o inseto insignificante que era.
– Certamente evitaria muita coisa... – Eleanor murmurou, mau humorada.
– Não fale isso! – Hermione parecia incrédula. – Vocês dois iam acabar em Azkaban por assassinato!
– ...tem razão. – Fez careta. – O crime não compensa... a não ser que a gente use inseticida!
– Eleanor! – A repreendeu.
– O quê?! Ninguém vai saber! – Deu risada. Definitivamente, estava andando com Ernie por tempo demais. – Estou brincando... a não ser que você aceite o plano?
– Não!
– Então eu estou brincando. – Deu de ombros. – O que nós fazemos, então?
– Eu, vou fazer o resto das minhas provas! – Se levantou. – Você, passe o resto da tarde se preparando para a tarefa. Nos preocupamos com ela depois.
– Pode ser. – Suspirou.
*****
Eleanor passou o resto da tarde na companhia de Lupin, enquanto passeavam pelos terrenos ao redor do castelo. Fez muito bem para ela poder conversar com alguém que soubesse quais conselhos dar e fosse tão sábio, então, quando voltaram para o Salão Principal no final da tarde, para jantarem, ela se sentia mais leve do que nunca.
Dessa vez, se sentaram na mesa da Lufa-lufa. Cedric também, e ele cumprimentou Lupin, mas ignorou a presença de Eleanor.
– Ele está mesmo bravo. – Lupin sussurrou, quando o garoto se sentou na ponta da mesa, á muitos assentos de distância deles.
– Foi o que eu te disse... – Suspirou, voltando á comer.
Olhou para a mesa dos professores, percebendo a presença de Ludo Bagman e Cornélio Fudge, que estava substituindo o falecido Sr. Crouch. Bagman parecia estar bem animado, mas Fudge estava o exato oposto, parecia mau humorado e olhava em volta do Salão Principal, carrancudo. Madame Maxime, ao lado dele, se concentrava no prato á sua frente e Eleanor reparou que os enormes olhos dela pareciam estar vermelhos. Imediatamente olhou para Hagrid, quem não havia visto o dia todo, e reparou que ele não parava de olhar na direção da diretora.
O banquete tinha mais pratos do que o costume, mas Eleanor não conseguiu comer muita coisa. Quando o teto encantado no topo do Salão começou a desbotar de um azul para um violeta crepuscular, Dumbledore se levantou da mesa dos professores e todos se calaram.
– Senhoras e senhores, dentro de dez minutos, peço á todos que se encaminhem para o estádio de Quadribol para assistirmos á terceira e última tarefa do Torneio Tribruxo. – Anunciou, e todos cochicharam entre si, animados. Eleanor sentiu seu estômago despencar. – Os campeões, por favor, acompanhem o Sr. Bagman ao estádio.
Eleanor se levantou, e toda a mesa da Lufa-lufa a aplaudiu. Harry levantou logo depois, sendo ovacionado pela mesa da Grifinória. Lupin, Susan, Hannah, Ernie e Justin a desejaram boa sorte (Susan estava prestes á chorar e Justin passava as mãos nas costas dela para a acalmar).
Quando olhou de volta, viu que Helena, da mesa da Sonserina, aplaudia de pé e assobiava com os dedos na boca, apontando para ela, animada. Procurou por Draco e ele não aplaudia, pois estava do lado de Crabbe e Goyle, mas sorria para ela.
Se dirigiu á porta do Salão Principal, se juntando á Harry, Fleur e Krum, enquanto Bagman chegava também. Rapidamente, os quatro o seguiram pelo corredor; Krum e Fleur ao lado dele, e Eleanor com Harry logo atrás.
Suas pernas não paravam de tremer, enquanto desciam os degraus de entrada para os jardins. Não parava de repassar mentalmente todas as azarações e feitiços que treinou enquanto andavam, e ficou mais tranquila com o fato de que podia se lembrar de todas elas.
Quando chegaram no estádio de Quadribol, foram levados para uma pequena sala onde, um de cada vez, trocaram de roupa para as vestes do Torneio. Eleanor recebeu uma blusa metade amarela e metade preta, com o brasão da escola em um dos lados, e Harry recebeu a mesma blusa, porém vermelha e preta. Fleur usava um moletom de zíper azul claro e Krum usava um suéter de gola alta marrom com o brasão de Durmstrang costurado, bem grande, no centro.
Quando todos os espectadores chegaram, Eleanor pôde escutar a marcha de Hogwarts sendo tocada e o falatório tomando conta do estádio. Logo depois, Lupin e Dumbledore entraram, junto com Madame Maxime e Karkaroff.
– Está na hora, senhores. – Dumbledore anunciou, andando até o lado de Harry.
E assim, os campeões saíram um á um. Primeiro, Krum e Karkaroff. Depois, Fleur e Maxime, seguidos por Eleanor e Lupin. Harry e Dumbledore foram os últimos. Ao pisar do lado de fora, o ar vibrou com as comemorações das centenas de estudantes, a deixando temporariamente surda.
Todos da Lufa-lufa tinham os rostos pintados, ou então carregavam bandeiras ou cartazes com dizeres como: "SPARKS CAMPEÃ", "VITÓRIA DA LUFA-LUFA", e ela reconheceu os rostos de seus melhores amigos ali.
Hannah e Ernie pulavam juntos, enquanto Susan, com o rosto pálido, aplaudia. Justin sacudia uma bandeira da Lufa-lufa desajeitadamente. Acenou para eles, animada, e eles gritavam enquanto acenavam de volta.
Percebeu que Cho estava ao lado de Cedric, algumas fileiras na frente, ao lado da banda da escola, e ambos aplaudiam. Cedric, entretanto, não olhava na direção dela, apenas Cho sorriu para ela e fez joinha com as mãos, mexendo a boca com a frase "Boa sorte!", a qual Eleanor agradeceu com um gesto da cabeça.
Olhando em volta, viu os rostos de todos que ela estudava. Helena estava no meio da torcida da Lufa-lufa, e agora brigava com Justin pois também queria balançar a bandeira e ele, aparentemente, não queria dividir. Susan dava risada enquanto Hannah e Ernie tiravam sarro deles. Ao perceber que ela os olhava, os cinco acenaram e disfarçaram, a fazendo sorrir.
Do outro lado do estádio, viu Draco balançando os braços ao lado de Crabbe e Goyle. Crabbe tinha as palavras "KRUM" pintadas no rosto com tinta vermelha, enquanto Goyle tinha duas listras vermelhas no rosto, mas Draco era o único que "não tinha torcida declarada". Ao notar que tinha a atenção dela, a lançou uma piscadela e sorriu.
Hagrid, o Professor Moody, Flitwick e a Professora Minerva entraram no estádio e se aproximaram deles. Todos usavam grandes estrelas vermelhas e luminosas nos chapéus, menos Hagrid, que carregava a dele nas costas do colete de pele de toupeira.
– Nós vamos estar patrulhando o lado externo do labirinto. – A Professora Minerva disse, para cada um dos campeões. – Se estiverem em apuros e quiserem ser socorridos, disparem faíscas vermelhas para o ar, e um de nós irá buscá-los, entenderam?
Os quatro confirmaram com um aceno de cabeça, e então, Dumbledore subiu em um palanque e chamou a atenção de todos ao amplificar o som de sua voz com a própria varinha, e o som da banda e do falatório se silenciou. Lupin, ao lado de Eleanor, apertou o ombro dela.
– Hoje cedo, o Professor Moody colocou a Taça Tribruxo no interior deste labirrinto. Apenas ele conhece o local exato. – Anunciou, e Eleanor lançou um olhar furtivo para Moody, que pareceu não perceber, mesmo que seu olho mágico não parasse de a encarar. – Permitam que eu os lembre do placar atual...
Pigarreou, e Eleanor aproveitou mais alguns momentos para repassar os feitiços na própria cabeça.
– Empatados em primeiro lugar, com oitenta e cinco pontos cada um, a Srta. Sparks... – Estendeu a mão na direção dela, e toda a torcida da Lufa-lufa explodiu em gritos. – ...e o Sr. Potter, ambos campeões da Escola de Hogwarts! – Eleanor reconheceu, além da Sra. Weasley e Bill, o rosto do Sr. Weasley, que provavelmente chegou depois, já que trabalhava no Ministério. Todos eles estavam do lado da Grifinória, juntos de Hermione, Ron, Gina e os gêmeos.
Os vivas e as palmas fizeram os pássaros saírem voando da Floresta Proibida.
– Em segundo lugar, Viktor Krum, de Durmstrang, com oitenta pontos. – Mais aplausos. – E, em terceiro lugar, Fleur Delacour, da Academia de Beauxbatons.
Demoraram alguns segundos para as palmas cessarem, e Dumbledore esperou até que cessassem completamente para prosseguir.
– O primeiro que conseguir tocar na Taça será o grande vencedor. – Desta vez, todas as torcidas se uniram em um grande estrondo de gritos e comemorações.
Enquanto Dumbledore explicava as regras e medidas de segurança para os espectadores, Maxime e Karkaroff guiaram seus campeões até uma das quatro entradas para o labirinto, e, seguindo a deixa, Lupin fez o mesmo com Eleanor.
– Eleanor, Harry! – A voz de Hagrid exclamou, e ela se virou para olhar para ele. – Boa sorte lá dentro. E tomem cuidado.
Eleanor sorriu para ele e voltou á andar, ao lado de Lupin, que respirava fundo diversas vezes. Parou em frente á uma das entradas e a segurou pelos ombros, de frente á ela.
– Tente chegar aqui inteira, está bem? Já tenho cicatrizes demais por nós dois. – Ele brincou, sorrindo fraco.
De repente, Dumbledore desceu do palanque e pediu que os competidores se reunissem em volta dele. Ao obedecerem, ele colocou os braços em volta de Eleanor e Harry.
– Dentro do labirinto, não haverá nenhum dragão ou criaturas aquáticas. Ao invés disso, enfrentarão diversas criaturas e obstáculos, mas além disso, algo ainda mais perigoso... – Murmurou, no meio dos quatro. – Sabem... as pessoas mudam no labirinto. Achem a taça se puderem, mas estejam bem atentos, porque podem acabar se perdendo no caminho. – Finalizou, e um á um, os campeões dispersaram.
– Harry. – Eleanor sussurrou para o grifinório. – Boa sorte.
– Você também. – Balançou a cabeça.
– Fleur, Krum... boa sorte pra vocês. – Olhou para os outros dois.
– Bonne Chance, Ellanor. – Fleur desejou o mesmo e se juntou á Madame Maxime mais uma vez.
– Boa sorrte. – Krum repetiu, sério, andando até Karkaroff.
– CAMPEÕES, PREPAREM-SE! – Dumbledore vociferou, e a platéia se ergueu mais uma vez.
Lupin puxou Eleanor para um abraço rápido, e ela sentiu o coração dele batendo muito forte contra seu peito, o que a fez dar risada.
– Te vejo mais tarde. – Ela brincou, e ele riu, mesmo que com os olhos parecendo estarem marejados.
Rapidamente, Lupin se juntou aos outros diretores e assim, os campeões ficaram sozinhos em frente á cada uma das entradas do labirinto.
– Quando eu apitar, Harry e Eleanor entram! – Bagman anunciou. – Três, dois, um...
O bruxo soprou o apito com força, e Eleanor aproveitou o pico de adrenalina que sentia para virar e entrar no labirinto sem pensar duas vezes. Deu uma última olhada para trás, vendo os rostos de seus amigos sumirem aos poucos enquanto as sebes do labirinto se fechavam atrás dela. Sequer podia ouvir o falatório ou o som da marcha agora, era como se estivesse em outro lugar completamente distante. Era frio, escuro e silencioso. Quase como se estivesse debaixo d'água mais uma vez.
Por instinto, puxou a própria varinha e murmurou "Lumus", o que a ajudou á enxergar melhor. Mal sentia as próprias pernas enquanto andava, e quando chegou ao fim do pequeno corredor, encontrou com Harry que saía de outro dos corredores. Ambos estavam em uma bifurcação, e se entreolharam.
– Te vejo por aí. – Ela suspirou, e andaram em direções contrárias.
Eleanor continuou andando, depressa, e escutou o apito de Bagman uma segunda vez. Krum provavelmente estava entrando no labirinto, o que a fez apressar o passo, pegando uma trilha que parecia deserta.
Virou em uma curva e se assustou com uma luz alaranjada á sua frente, o que a fez dar um pulo para trás, se escondendo atrás da sebe, mas ao olhar de fininho, percebeu o que era: um dos explosivíns de Hagrid.
Estava enorme, muito maior do que a última vez que os viu. Três metros de comprimento, parecia mais um escorpião gigante do que qualquer outra coisa. O longo ferrão virado na direção dela enquanto seu rabo expelia fogo, não parecendo ter percebido a presença dela. A grossa casca, que mais parecia uma armadura, refletia a luz da sua varinha. Mais um som do apito, Fleur estava entrando no labirinto.
"Ok, Eleanor, você é assistente do Hagrid... lidou com esses bichos por meses, não é possível que não saiba como lidar com eles!", pensou consigo mesma, "Não é como se eu pudesse os prender no chão igual da última vez... estão com o dobro do meu tamanho. Inferno!"
"Explosivíns são uma mistura de Manticoras com Caranguejos-de-fogo... você leu sobre eles, pense, pense!", repetia em sua própria cabeça, e então a atingiu. "O que foi que Newt Scamander disse sobre os Caranguejos-de-fogo?..."
É isso. O ponto fraco deles era a barriga; a única parte que não era protegida pela casca.
Deu um pulo para fora de seu esconderijo, apontando a varinha para a criatura, e sentindo a mesma vibrar em suas mãos, vociferou.
– ESTUPEFAÇA! – E um jato de luz vermelha saiu de sua varinha, mas bateu poucos centímetros acima da parte desprotegida da criatura, batendo em sua casca e ricocheteando com velocidade na direção dela. – PORRA! – Gritou, se abaixando um milésimo de segundo antes do feitiço sobrevoar a cabeça dela. Pôde sentir o cheiro de cabelo queimado.
Agora, estava realmente perdida. O explosivím sabia que ela estava ali, e jorrou chamas da causa, avançando na direção dela. Por impulso, ela se jogou no meio das sebes, e ele passou raspando por ela, parecendo perdido ao perceber que ela não estava mais ali. Se desgrudou das sebes, ficando bem atrás dele, o que foi o seu pior erro. De repente, ele jorrou fogo mais uma vez, a atingindo em cheio na lateral do corpo, fazendo com que ela caísse no chão.
Achou que a queimadura do dragão havia sido dolorosa, mas dessa vez, não usava uma roupa feita para isso. Com sorte, apenas o seu braço foi atingido. Aproveitou a distração do explosivím e engatinhou em direção de uma bifurcação, escapando dele. Era melhor pegar outro caminho, não é?
Quando se viu longe da criatura, se levantou e voltou á correr. Ao sair do lado direito de uma parte da trilha, deu um encontrão com Harry, que se assustou e apontou a varinha para ela, mas ao reconhecê-la, abaixou lentamente.
– Que houve com você? – Franziu o cenho ao ver a roupa chamuscada e o rosto sujo dela.
– Os explosivíns do Hagrid... – Ofegou, apontando para o lado de onde veio. – Estão enormes... uns três metros. Escapei por um triz.
– Droga... – Ele grunhiu, olhando para o lado de onde ela veio.
Balançou a cabeça para ele e continuou andando em direção á outra trilha. Lidaria com o explosivím depois. Rapidamente tomou outros caminhos do labirinto, até um ponto em que não sabia mais o quão dentro dele ela estava.
De repente, ao fazer uma curva, seu coração gelou, como se tivesse parado de bater. Mal pôde acreditar com o que estava na sua frente, a olhando com aquele sorriso maligno e as íris azuis e as escleras pretas.
– Não. Não. – Ela se negou, balançando a cabeça e andando para trás, enquanto Greyback a seguia, lentamente. – De novo, não! IMPEDIMENTA! – Apontou a varinha na direção dele, e o feitiço o atingiu, mas não pareceu fazer muita coisa, apenas meramente o empurrando para trás.
Entretanto, Greyback não dizia uma palavra. Apenas a seguia, lentamente, puxando a própria varinha de dentro do paletó rasgado que usava. Eleanor ergueu a varinha mais uma vez.
– PROTEGO! – Gritou, antes de uma luz verde ser emitida da ponta da varinha dele. O escudo a protegeu, mas algo parecia estar errado. Muito errado.
A luz nunca chegou á sair de sua varinha. E ele não havia falado nada? Nem mesmo uma piada doentia?
– O gato comeu sua língua, Fenrir? – Perguntou, sentindo como se seu coração estivesse prestes á voar pela sua boca. – Se é que é você.
Ele apenas inclinou a cabeça para o lado, e lançou mais um feitiço. Dessa vez, Eleanor não defendeu, e rezava para estar certa, ou aquela seria a última coisa que ela faria.
Confirmando suas suspeitas, nenhum feitiço realmente saiu da varinha dele. Apenas uma luz emitiu e um som estranho foi feito.
– Eu sei o que você é! – Soltou ar pelo nariz, aliviada, empunhando a varinha com força. – RIDDIKULUS! – Conjurou, apontando a varinha para ele e, com um estalo, o corpo de Greyback girou e girou, até diminuir de tamanho e dar lugar á um adorável filhote de Golden Retriever.
"Um bicho papão. É claro.", ela pensou, observando o cachorrinho e rindo para si mesma, "Então, Greyback é meu bicho papão agora?... interessante."
De repente, o filhote sumiu de vista, o bicho papão tendo assumido sua derrota, e Eleanor pôde seguir o caminho. Andou o mais depressa que pôde, apurando os ouvidos e empunhando a varinha com força.
Não tinha a mínima idéia de onde queria chegar, nem de onde estava. Deu de cara com trilhas sem saída três vezes, e enquanto corria de volta para o caminho de onde veio, um grito agudo a fez ficar paralisada, com uma das mãos no peito.
– ELEANOR?! – Ouviu o grito de Harry ecoar, parecendo estar á uma certa distância.
– NÃO FUI EU! – Gritou em resposta. – FLEUR?! – Chamou, mas a francesa não respondeu.
Olhou para todos os lados, mas nada parecia estar acontecendo por perto. Que diabos teria acontecido com ela? Olhou para o céu e não viu nenhum sinal das faíscas vermelhas. Significava que ela estava bem, não é? Ou talvez... estivesse em problemas tão grandes que sequer tivesse conseguido pegar a varinha...
Continuou correndo, procurando por sinal de Fleur. Não encontrou nada, nem mesmo um sinal de pegadas. Sentia uma agonia enorme tomando conta de si, sequer pensava na competição, á esse ponto. De que adianta ganhar, se havia deixado alguém se machucar?
– FLEUR? – Gritou, de novo, entrando em uma trilha mais escura. – FLEUR! – Apontava a varinha para a frente, iluminando seu caminho.
Talvez tivesse sido um bicho papão, e ela apenas se assustou? Ou o explosivím? Até porque ela não os conhecia... talvez tivesse se assustado. Não é?
Por mais de vinte minutos, andou silenciosamente, entrando em várias entradas diferentes, e não encontrou nenhuma sem saída, o que era um bom sinal, não é?
De repente, ouviu um barulho atrás de si, e se virou em posição de duelo, apenas para encontrar o rosto de Krum. Suspirou, aliviada, e abaixou a varinha, rindo pelo nariz.
– Você me assustou... – Confessou, e não reparou que os olhos dele tinham uma coloração branca, como se suas íris e pupilas não estivessem mais lá. – Vamos fazer o seguinte... vamos para lados contrários. Você quer a esquerda ou a direita?
Ele não respondeu, apenas a encarou, com as duas mãos paradas ao lado do corpo, enquanto apertava a varinha em suas mãos.
– Certo, eu vou na esquerda. – Ela deu de ombros e andou na direção da qual ele havia vindo, mas se assustou quando ele ergueu a varinha, a apontando diretamente para ela. – Ei! – Deu um pulo para trás, empunhando sua varinha também.
Ao iluminar o rosto dele mais uma vez, reparou nos olhos dele e se sentiu ficar sem ar por alguns segundos. Não queria atacá-lo, mas ele não parecia ter a mesma intenção que ela.
– O que é que você tá fazendo? Abaixa isso! – Ela gritou. – ABAIXA A VARINHA! – Sua voz ficou trêmula quando percebeu que ele não parecia a escutar.
E, então, o pior aconteceu.
– Crucio!
A dor que sentiu á seguir superou qualquer outra dor que ela já sentiu na vida. Como se seus ossos estivessem pegando fogo, e algo puxasse suas entranhas por dentro. Sentiu seu corpo cair no chão, e mal sentiu que gritava com todo o ar em seus pulmões pois o zumbido que tomava conta de sua cabeça mal a deixava pensar direito. Tinha certeza de que algo estava a cortando no meio, lentamente, sua garganta queimava com os seus gritos, e seu rosto ficava molhado com as lágrimas que escorriam sem que ela sequer notasse que chorava.
Seus olhos se reviravam incontrolavelmente enquanto sentia seu corpo se debater no chão, era como se sua alma estivesse sendo arrancada de seu corpo, o mais lentamente possível, e, de repente... parou.
– ESTUPEFAÇA! – Ouviu alguém gritar, e, no fundo de seus pensamentos, sabia que era a voz de Harry.
No momento em que a dor parou, viu Krum caindo de cara na grama, inconsciente. Mal pôde entender o que havia acontecido pois seu corpo ainda tremia involuntariamente, enquanto seu peito subia e descia com os soluços que dava. Nunca mais queria sentir aquela dor novamente.
– Você está bem? – Harry perguntou, se ajoelhando ao lado dela. Aquilo apenas a fez chorar mais, cobrindo o próprio rosto.
– Eu... não acredito... – Ela ofegou, em meio á soluços. – Ele... ele se aproximou de mim pelas costas... apontou a varinha pra mim e... e...
– Eu sei. Eu sei. – Balançou a cabeça, se levantando e a puxando pelo braço, para que ela se levantasse também. – Eu achei que ele era legal... – Comentou, observando Krum no chão.
– Tinha alguma coisa estranha com ele... – Comentou, as pernas tremendo, com dificuldade para permanecer em pé. Sentia como se todos os seus órgãos tremessem dentro de si. – Os olhos brancos... eu não sei... não parecia o Krum.
– Sirius avisou para termos cuidado com ele. – Relembrou. – Você conseguiu encontrar a Fleur?
– Não... estava procurando ela também. – Suspirou com a respiração ofegante. – Acha que ele pegou ela também?
– Não sei... – Murmurou. – Vamos deixar ele aqui? Ou disparamos faíscas vermelhas?
– Faíscas... alguém vai vir buscar ele. – Assentiu. – Vai acabar sendo comido por um explosivím. Não que não seja bem merecido...
Juntos, os dois ergueram as varinhas para o alto e fizeram chover faíscas vermelhas no ar, pairando sobre Krum, marcando o local onde ele estava. Permaneceram em silêncio por alguns segundos por alguns segundos, sem saber o que fazer á seguir. Afinal, eram adversários, de certa forma, e agora, eram apenas eles que ainda competiam.
– A gente... se separa agora? – Ela perguntou, sua respiração voltando ao normal, aos poucos.
– Hã... acho que... acho que sim. – Balançou a cabeça, então andaram pela trilha escura, se separando mais uma vez. Harry para a esquerda, e ela para a direita.
Àquele ponto, o desejo de ganhar o Torneio era quase nenhuma. O que havia presenciado, e sentido, era demais para apenas uma competição. A única coisa que a impedia de desistir do Torneio era o fato de querer trazer orgulho á Lufa-lufa. Não poderia sequer imaginar os olhares nos rostos de seus amigos se soubessem que ela apenas desistiu.
E Krum... usar uma Maldição Imperdoável? Moody havia deixado bem claro em sua aula sobre elas, que o uso de qualquer uma delas resultava em uma passagem só de ida para Azkaban. Com certeza Krum não queria tanto ganhar a Taça assim, não é? Tinha que haver algo de estranho nisso...
De vez em quando, tinha a impressão de estar dando voltas no mesmo lugar, mas de repente, deu de cara com uma criatura incrível e exuberante, a qual ela achou que só veria através das ilustrações no seu livro de Criaturas Mágicas. Uma esfinge, com o corpo de um enorme leão, grandes patas com garras e um rabo amarelado. A cabeça, entretanto, era de uma mulher muito bela. Focou seus olhos castanhos e amendoados para Eleanor, enquanto continuava andando de um lado para o outro da trilha, impedindo que ela avançasse.
Eleanor sequer levantou a varinha, pois sabia que esfinges não eram conhecidas por atacar de primeira. Apenas atacavam quando ameaçadas.
– Você está muito próxima do seu objetivo. – A voz rouca da esfinge disse, em um tom quase etéreo. – O caminho mais rápido é passando por mim.
Eleanor suspirou, ainda tendo dificuldades para respirar. Apoiou uma das mãos nas sebes, pensando por alguns segundos. Sabia o que estava prestes á acontecer.
– E você não vai me deixar passar até eu acertar o seu enigma, não é? – Perguntou, se lembrando de ter lido sobre o uso das esfinges nos bancos de Gringotts, por segurança.
– Correto. – Respondeu. – Se acertar de primeira, a deixo passar. Se errar, eu a ataco. Permaneça em silêncio, e eu a deixarei partir ilesa.
Engoliu em seco. "Droga, quem gosta de charadas é a Susan, não eu!", resmungou consigo mesma, andando de um lado pro outro.
– Bem... não custa nada tentar. – Decidiu, por fim, parando de virar e parando em frente ao rosto da esfinge. – Pode me dizer qual é o enigma?
A esfinge se sentou nas patas traseiras, bem no meio da trilha, e recitou em um tom quase de cantoria:
"O que é que anda em quatro pernas no amanhecer, duas pernas, ao entardecer, e três pernas, ao anoitecer?"
– Certo. – Eleanor fez careta, mas disfarçou. – Pode... pode repetir?
A esfinge sorriu, e repetiu, lentamente, enquanto Eleanor esfregava o próprio rosto, tentando forçar sua cabeça á funcionar direito.
"Era pra eu ter ajudado a Susan com as charadas do jornal quando ela pedia... talvez não seria tão ruim nisso...", pensou, "Amanhecer, entardecer e anoitecer... certamente, não se refere ás fases do dia, literalmente, não é? Não seria fácil assim"
– A manhã é o início do dia. Tarde, o meio, e a noite, o fim. Então, se refere ao início, meio e fim de algo... – Pensou em voz alta. – Estou certa? – Perguntou, e a esfinge apenas sorriu de forma misteriosa. – Vou entender isso como um sim...
Pensou por mais alguns minutos. No início, anda em quatro pernas... no meio, anda em duas...
– AH! O HUMANO! – Exclamou, como se uma lâmpada se acendesse em sua cabeça. – Engatinha, em quatro pernas, quando é bebê, anda em duas, como adulto, e quando envelhece, anda com uma bengala, como uma terceira perna! – Respondeu, e a esfinge fez silêncio por alguns segundos, o que a fez ficar nervosa.
"Que diabos eu errei? Entendi tudo errado?", se questionou, mas a esfinge abriu um enorme sorriso e se levantou, esticando as patas dianteiras e se afastando para um lado, abrindo espaço para que ela passasse.
– Eu acertei?! – Perguntou, incrédula, e recebeu um aceno da cabeça como resposta. – Eu acertei! – Exclamou, dando uma risadinha, e passou pela esfinge, se achando a pessoa mais inteligente do mundo.
Andou por mais alguns minutos, mantendo em mente o que a esfinge disse. "Está muito próxima do seu objetivo". Ficava cada vez mais escuro, o que ela interpretou como um bom sinal. Quanto mais longe do início do labirinto, mais próxima do centro, não é?
Á frente, precisou escolher entre duas trilhas. Não queria ser infantil á esse ponto, pois era algo sério, mas o único jeito que pensou para resolver aquilo foi fazer uni-duni-tê. Acabou indo para a direita, aonde foi correndo. Um pico de adrenalina tomou conta dela naquele momento, e só piorou quando enxergou o brilho da Taça Tribruxo, em um pedestal, logo no fim do longo corredor formado pelas sebes.
Alguns segundos depois, Harry surgiu do lado dela, parecendo ter vindo pelo mesmo caminho. Por um milésimo de um segundo, os dois se entreolharam, e, ao mesmo tempo, começaram á correr.
Eleanor nunca se considerou alguém competitiva, mas naquele momento, estando tão perto de ganhar e trazer a honra que sua casa tanto aguardava, era como se tivesse se tornado outra pessoa. Durante todo o Torneio, esteve lado á lado com Harry, mas agora, era cada um por si. E ele parecia pensar da mesma forma.
Era difícil dizer quem empurrava o outro, pois o corredor ficava cada vez mais estreito, como se as sebes se fechassem atrás deles. Alguns galhos saíam deles, de vez em quando, os chicoteando no rosto, mas não era o suficiente para pará-los. Corriam com tanta velocidade que mal repararam que raízes saíam do chão até que elas se enrolaram nos pés de Eleanor, a jogando no chão com força. Sua varinha voou alguns metros mais longe, com o impacto, enquanto ela via Harry continuar correndo.
Tentou alcançar a varinha, mas cada vez que se arrastava para a frente, as raízes a puxavam mais ainda para trás, se enrolando mais e mais em seu corpo. Antes, estavam só em seus tornozelos, mas agora, estavam enroladas em seus ombros, sua cintura e toda sua perna. Fora uma sensação tão agoniante que a única coisa que pôde fazer foi gritar enquanto tentava se levantar do chão, sem sucesso.
Parecendo escutar seus gritos, Harry parou de andar. Seus olhos se arregalaram ao ver ela sendo puxada cada vez mais, e, por um segundo, Eleanor pensou que ele fosse deixá-la ali. As raízes se enrolaram em volta de seu pescoço, cortando o seu ar e a impedindo de gritar, e sua visão ia escurecendo.
– REDUCTO! – Harry gritou, e ela sentiu que poderia respirar mais uma vez, ainda que as raízes ainda estivessem enroladas nela.
Ainda sentia muitas dores da tortura, então o contato das raízes com sua pele doía quase o triplo. Seu queixo tremia involuntariamente, enquanto lutava para se levantar, com os braços trêmulos.
Harry se ajoelhou ao lado dela e puxou as raízes para longe dela, mas o contato das mãos dele com o ombro dela a fizeram se debater mais ainda, dificultando que ele conseguisse fazer muita coisa.
– EU TÔ TENTANDO TE AJUDAR! – Ele gritou, com a voz trêmula.
– NÃO TOCA EM MIM! – Gritou de volta, e a quantidade de dor presente na voz dela o assustou, fazendo com que ele caísse para trás, erguendo as mãos em sinal de rendição.
Ao invés de tirar as raízes de cima dela, Harry passou á puxar as raízes em volta dela, o que facilitou que ela se levantasse e pegasse a própria varinha, conjurando o feitiço Redutor mais uma vez e fazendo com que o restante delas caísse.
Estando de pé, Eleanor soluçava e sentia o sangue escorrer pelo seu rosto. Provavelmente tinham vários cortes, com a dor que ela sentia no rosto. Se apoiou contra as sebes, olhando para as raízes caídas no chão, enquanto Harry a olhava, sem reação.
– Obrigada... – Ofegou, o olhando rapidamente.
– Não foi nada. – Respondeu, sem pensar duas vezes. – Você está... bem?
– Sim. – Disse, ríspida. Ela sabia que ele sabia que não era verdade, mas não era hora para isso. – Achei que... achei que ia me deixar aqui.
– Você me ajudou, na segunda tarefa. – Ele relembrou. – E com Sirius... não poderia te deixar aqui.
Ela assentiu, olhando em volta.
– Sou eu quem te devo um favor agora, não é? – Ironizou, ainda sentindo dor.
– E eu vou ficar te devendo um, depois. – Ele acrescentou. – E assim vai.
De repente, as sebes começaram á se juntar novamente, como se o labirinto se fechasse atrás deles. Mas dessa vez, com tanta intensidade que parecia que um buraco negro engolia o restante das sebes.
– CORRE! – Harry gritou, a puxando pelo braço, e as pernas de Eleanor vacilaram por alguns segundos antes de ela o seguir.
Desta vez, continuaram correndo, lado á lado, sem qualquer resquício da competitividade que antes sentiam. Segurando um no braço do outro, se jogaram próximos do pedestal da Taça, quando as sebes se fecharam, os deixando presos ali. Tudo ficou silencioso enquanto eles levantavam do chão.
– Vamos lá, então... – Eleanor ofegou, se levantando sozinha, pois ainda não se sentia pronta para tocar nele. – Pegue a Taça.
– O quê? Pegue você a Taça! – Ele apontou. – Você chegou no centro!
Eleanor, por alguns segundos, se sentiu tentada á aceitar. Estava tão perto. A luz azulada da taça refletia em suas vestes, e era tão clara que quase a cegava. Mas não era justo. Então, ela suspirou e se virou para ele, lentamente.
– Não. – Ela negou com a cabeça. – Você pega. Você salvou minha vida duas vezes aqui... você merece vencer.
– Não é assim que funciona! – Harry revidou. – Pega logo essa Taça, para de ser tão... tão nobre!
– Eu teria perdido a primeira tarefa se você não me contasse dos dragões! – Relembrou.
– Eu tive ajuda com os dragões, e você me ajudou com o ovo. – Respondeu. – Estamos quites.
– E eu tive ajuda com o ovo. – Deu de ombros.
– Continuamos quites.
– Você teria ganhado a segunda tarefa se não ficasse para ajudar. Fibra moral, lembra? Você ganhou de mim, Harry! – Exclamou. – Eu fiquei te devendo um favor, não fiquei? Aqui está o favor. Ganhe o Torneio.
– PEGA A TAÇA! – Grunhiu, impaciente.
– Não. – Cruzou os braços. "Estávamos quase morrendo á alguns minutos e agora estamos brigando como duas crianças?", pensou consigo mesma.
A verdade era que estava custando cada gota de boa vontade e justiça que ela tinha dentro de si para resistir á aquilo. Estava disposta á dar as costas para uma vitória e honra que a Lufa-lufa não conhecia há séculos. Mas de que adianta ter glória se não foi justo?
– Vamos lá, Harry. Todos te subestimaram nessa competição desde o início! – Argumentou. – Prove que estão errados. Pegue a Taça.
– Também te subestimaram! – A encarou. – Façamos o seguinte... os dois.
– O quê? – Franziu o cenho.
– Pegamos a Taça ao mesmo tempo. Ainda é uma vitória de Hogwarts, no final, como Hagrid disse. – Sugeriu. – Nós empatamos.
– Você... – Eleanor descruzou os braços, o encarando, incrédula. – ...você tem certeza?
– Tenho. Nós nos ajudamos o tempo todo, não foi? – Indagou, e ela assentiu. – Não chegaríamos aqui sem o outro. A vitória é nossa. Nada mais justo.
Por um instante, Eleanor achou ter morrido e estar em algum estado de sonho, pois não acreditou no que ouvia. De repente, deixou um sorriso escapar.
– Parece um bom plano. – Balançou a cabeça. – Os dois.
Harry sorriu também, e juntos, os dois andaram até a Taça. Se entreolharam, uma última vez, antes de colocarem as mãos, um em cada asa da Taça.
No instante em que tocaram nela, Eleanor sentiu um puxão em sua cintura, e percebeu que seus pés deixaram o chão. Tentou soltar da Taça, mas não conseguia, como se estivesse grudada. Sentia a presença de Harry ao seu lado, mas tudo que enxergava era um monte de vultos coloridos, passando por eles em alta velocidade.
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