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História Corrupted (Livro 1) - A Mui Antiga e Nobre Casa dos Black


Escrita por: moonysupreme

Capítulo 71 - A Mui Antiga e Nobre Casa dos Black


7 de agosto de 1995
Largo Grimmauld
04:28

Helena estava sentada ao lado de Eleanor, na cama, depois da mais nova ter acordado de mais um pesadelo. Naquela noite, havia sido particularmente mais intenso, e elas suspeitavam que tinha á ver com toda a agitação do jantar.

– Está melhor? – Helena perguntou, olhando para Eleanor, que soluçava levemente.

– Sim. – Ela mentiu, secando as lágrimas do rosto. Sua voz falhou, e ela percebeu como sua garganta estava seca.

Por costume, estendeu a mão para pegar o copo de água em sua cabeceira, já que ele sempre estava ali, mas se esqueceu que Helena não havia buscado ele na noite anterior.

– Eu falei que você ia ficar com sede! – A ruiva cruzou os braços. – Você precisa beber água! Era pra eu ter pegado...

– Se acalma, tá bem? – Franziu o cenho. – Eu espero até de manhã...

– Não, eu vou lá buscar! – Ela se levantou, andando até a porta e repousando a mão na maçaneta, mas parou de repente, se virando para trás. – Eu não vou sair andando pela casa dos outros assim, de madrugada!

– O quê?

– É falta de educação, não é? – Fez careta.

– Acho que o Sirius não liga pra isso... – Deu de ombros.

– Vem comigo, você, então! – A chamou com a cabeça. – Ele gosta mais de você, de qualquer forma!

– Você está com vergonha de ir na cozinha?!

– ...sim. – Cruzou os braços. – Vai vir ou vai ficar me julgando?

– Os dois. – Suspirou, se levantando enquanto balançava a cabeça negativamente.

As duas saíram do quarto, olhando para os lados, em silêncio absoluto. A casa parecia mais silenciosa do que Eleanor jamais havia visto antes. Os quadros de antepassados Black espalhados pela casa deixavam a atmosfera ainda mais pesada e macabra.

– Se aquele elfo feioso aparecer aqui, eu chuto ele... – Helena sussurrou, alguns passos atrás de Eleanor.

– Cale a boca! – Eleanor sussurrou de volta. – Quer acordar o resto da casa?

 Você também está falando! – Retrucou, e Eleanor virou para trás, a encarando. – Tá bem, parei!

Os únicos sons á serem escutados depois disso eram do piso de madeira, rangendo á cada passo que elas davam. Eleanor, mentalmente, xingava á cada degrau que desciam.

– Maldito dia pra gente dormir no quarto andar... – Helena murmurou, dizendo a mesma coisa que Eleanor pensava.

 Ssshhh!! – Silenciou-a, enquanto passavam em frente ao quarto do Sr. e da Sra. Weasley, no terceiro andar. As duas andaram mais rapidamente, olhando para a porta de forma paranóica.

Quando saíram da "zona de perigo", puderam descer as escadas mais rapidamente, mas ainda sem fazer barulho. Em alguns minutos, chegavam na cozinha, e Helena balançava a própria varinha, acendendo as luzes.

– Acho que já tive adrenalina o suficiente pra um ano. – A sonserina suspirou fundo, fechando a porta. – Como o Sirius passou a infância dele aqui, nessa casa macabra?

– Penso a mesma coisa... – Eleanor olhou em volta, para as paredes descascando e móveis velhos.

Enquanto Eleanor abria os armários, pegando dois copos de vidro, ouviu Helena, atrás dela, abrindo o armário enfeitiçado para funcionar como uma geladeira. A ruiva surgiu ao lado dela, segurando uma jarra de água gelada em uma mão e um pote na outra.

Elle encheu os dois copos e guardou a jarra de volta. Enquanto isso, Eleanor começou a beber sua água.

– Já experimentou comer chocolate e depois beber água? – Helena perguntou, com a boca cheia de alguma coisa que Eleanor não fazia idéia do que era. – É muito bom, sério, experimenta! – Estendeu o pote que segurava antes, e Eleanor arregalou os olhos.

Era o pote de doces de Lupin. Os doces que ele tanto prezava nas semanas de lua cheia.

– Helena! – A encarou. – Por quê você pegou isso?!

– ...estava ali! – Apontou para o armário.

– Oras, coloque de volta! – Gesticulou com as mãos. – E finja que nunca fez isso! Se te perguntarem, você nem sabia da existência desse pote!

– É só um! – Murmurou, mastigando.

– Coloca de volta! – Repetiu, bufando e se virando para continuar bebendo o copo de água.

– Tá bem, tá bem! – Helena fez bico e se afastou.

Ouviu o som da porta do armário se fechando, e ficou mais aliviada. Sendo apenas um doce, Lupin provavelmente não daria falta. Tudo que ela menos queria era dar á ele mais um motivo para ficar enraivecido antes da lua cheia.

– Você não vai beber a sua ág... – Se virou para Helena, e viu que ela tinha mais dois doces em sua mão, enquanto mordia um terceiro. – VOCÊ AINDA ESTÁ COMENDO?

– São só doces! – Respondeu, com a boca cheia, e mordeu outro doce.

– Não, não são só doces! – Andou até ela, tirando o último doce da mão dela. – Isso é do Lupin! Ele come isso tudo nas semanas de lua cheia!

Helena arregalou os olhos, parando de mastigar.

– Ele vai me matar... – Disse, lentamente. – Eu vou cuspir! – Levou a mão até a boca, mas Eleanor a parou.

– Não! Agora não dá mais tempo! – Fez careta. – A gente só precisa colocar esse de volta... – Disse, mostrando o único doce que sobreviveu.

Antes que pudessem abrir o armário novamente, escutaram um barulho atrás delas. Ambas deram um pulo de susto, e Eleanor escondeu o doce atrás de si.

– Monstro! – Helena grunhiu, fazendo careta. – Como é que você anda sem fazer barulho, hein?

– Monstro não quis assustar. – Ele resmungou, as olhando de cima á baixo.

Eleanor permaneceu calada, e escondendo o doce, pois sabia que ele aceitaria qualquer oportunidade de contar para alguém que as viu comendo os doces de Lupin. Apenas para causar alguma confusão.

– Bem... nós... vamos indo, então. – Ela sorriu, sem graça, fechando a mão em um punho e amassando o doce ali. – Vamos, Elle...

 Minha água! – A mais velha fez bico.

– Pega o copo e vem! – Sibilou, a encarando de cara feia, e ela obedeceu.

As duas subiram as escadas apressadamente, deixando Monstro para trás, resmungando alguns insultos que elas não ficaram para escutar.

Ao chegarem no quarto, Eleanor fechou a porta com certa agressividade, mas tomando cuidado para não fazer barulho. Abriu a mão, olhando para o doce que ainda segurava.

– ...acha que ele vai dar falta de quatro doces? – Helena murmurou, parecendo apreensiva.

– Se der, é bom você fingir que nada aconteceu! – Se virou para ela, de cara feia. – Que droga, Helena, precisava fazer isso justo na semana de lua cheia?

– Estamos na semana de lua cheia? – Arqueou uma sobrancelha, e Eleanor assentiu freneticamente. – Aaaah, isso explica bastante... bem que eu achei ele meio irritado...

– E pra piorar, você comeu os doces dele! – Bufou, colocando o doce amassado na mão dela. – Agora come esse!

– Você amassou ele todinho! – Ela fez careta.

– E você queria que o Monstro te visse detonando as coisas do Lupin pra contar pra ele? – Colocou as mãos na cintura. – E eu ainda ia levar a culpa, porque era eu quem estava segurando!

– Ele nem vai notar, quer ver só? – Deu de ombros, mordendo o doce, mas Eleanor não respondeu, se deitando de volta na cama.

Helena terminou de comer o doce e beber o resto da água, colocando o copo na cabeceira da cama de Eleanor e se deitando de volta no sofá. As duas ficaram em silêncio por alguns minutos, até o silêncio ser cortado.

– Reparou que o George não deu as caras por aqui? – Indagou, e Eleanor levou alguns segundos para perceber que ela estava certa.

– Vai ver ele dormiu um pouco mais. – Ela deu de ombros.

– Está louca? Ele acorda com qualquer barulho que escuta vindo daqui e vem correndo te ver. – Comentou. – Ás vezes, acho que ele escuta mais do que eu...

– Ah... – Suspirou. – Não sei, então... – Lançou um olhar curioso para a porta, se perguntando se, talvez, o feitiço de Snape finalmente tivesse funcionado.

O assunto se deu por finalizado, e Eleanor ouviu a respiração profunda de Helena alguns minutos depois, indicando que ela havia caído de volta no sono. Decidiu, então, tentar dormir por mais algumas horas. Provavelmente, acordaria antes que pudesse ter outro pesadelo, já que já passavam das cinco da manhã e, geralmente, todos acordavam depois das sete.

*****

Quando se deu conta, Eleanor estava enrolada e aquecida em seu cobertor, e despertava com a voz de Helena ao lado de sua cama.

– El, todos já acordaram. – Ela sussurrava. – A Sra. Weasley disse para nos arrumarmos e irmos tomar café da manhã rápido... e que vamos precisar ajudar ela á limpar a sala de visitas...

– O quê? – Eleanor murmurou, se sentando na cama, com a cara amassada. – O que tem a sala de visitas?...

– Eu também não entendi, mas ela disse algo de fadas mordentes... e ninho de pufosos... – Deu de ombros, e Eleanor a encarou por alguns segundos, se perguntando se ela estava falando aquilo mesmo ou se ainda estava com os pensamentos confusos por ter acabado de acordar. – Não me olha assim, me julgando! Só se arruma, tá? Vou te esperar na cozinha. – Se levantou e saiu do quarto.

Alguns longos minutos depois, Eleanor, que já tinha se arrumado, estava sentada na mesa do café da manhã, acompanhada de Helena e os outros adolescentes, além de Zahi, Arabella, Molly, Sirius e Lupin. Arthur e Georgia haviam ido trabalhar.

– O café estava delicioso, Molly. – Lupin disse, finalizando sua xícara, e Eleanor murmurou, concordando. Ele se levantou de sua cadeira e foi até a pia, para ajudar com a louça.

– Viu só? Ele nem deu falta! – Helena sussurrou para Eleanor, através da mesa.

 Ele ainda não olhou... – Eleanor negou com a cabeça, observando Lupin atentamente. Ele parecia estar em um dos bons dias antes da lua cheia; sorria e conversava tranquilamente com Molly enquanto os dois lavavam a louça.

– O que vocês fizeram? – Fred perguntou, seguindo o olhar de Eleanor até Lupin. – Colocaram alguma coisa na bebida dele?

– O quê? Claro que não! – Eleanor fez careta.

As duas, junto dos gêmeos, que estavam curiosos para saber o que elas tanto olhavam, observaram Lupin por alguns minutos, até o momento em que ele terminou de guardar as louças, agora limpas, e andou até o armário enfeitiçado.

Helena prendeu a respiração no momento em que ele tirou o mesmo pote que ela pegou na noite anterior, e Eleanor mordeu o próprio lábio, nervosamente.

Lupin, que ainda sorria fraco, bem-humorado, abriu o pote. Lentamente, sua expressão mudou e o sorriso se esvaiu de seu rosto.

– Quem... – Ele levantou o tom de voz. – ...mexeu nesse pote?! – Ergueu o pote em suas mãos, olhando para a mesa.

Rapidamente, os quatro voltaram á olhar para seus pratos, com os olhos arregalados, fingindo que não tinham escutado nada do que ele disse. Helena começou á rir de nervoso, e Eleanor a chutou por baixo da mesa, a lançando um olhar de repreensão.

– Eu perguntei quem foi que mexeu nos meus doces?! – Lupin repetiu a pergunta, parecendo muito irritado. Eleanor engoliu em seco, ainda sem tirar os olhos de sua xícara de café com leite.

Se fosse em qualquer outra parte do mês, ele provavelmente não daria importância. Não se importava de dividir. Mas nas épocas de lua cheia, era completamente diferente. Ele dependia de seus doces como se dependesse de oxigênio para viver, e os tratava como propriedade sua e apenas sua.

3 sicles e a gente coloca a culpa no Ron por vocês. – Fred sussurrou para Helena, que o deu uma cotovelada.

Eleanor, que ainda observava Lupin, o viu murmurar alguns palavrões e fechar o pote com agressividade, o colocando de volta no armário e batendo a porta com um baque. Subiu as escadas bufando, sem se importar com os olhares dos outros.

– Remus está... – Sirius se ergueu da cadeira, constrangido. – ...tendo uns dias difíceis. Eu vou... falar com ele... – Subiu as escadas atrás dele, apressado.

Alguns minutos depois, Eleanor estava reunida de Ron, Harry, Hermione, os gêmeos, Gina e Ayaan com a Sra. Weasley na sala de visitas. Ainda não havia entrado naquele cômodo antes, já que as limpezas foram feitas apenas nos quartos e em alguns poucos cômodos da casa, como a cozinha, a sala de reuniões e os banheiros, ainda haviam muitos cômodos dos quais Eleanor não fazia idéia que existiam na casa.

Era um aposento comprido, com o teto alto. As paredes cor verde-oliva, cobertas por tapeçarias sujas e envelhecidas. O tapete soltava pequenas nuvens de poeira á cada passo que Eleanor dava, e ela jurava que o nariz de Helena ia cair de tanto que a garota espirrava.

– Se eu morrer de rinite, vou processar o Sirius... – Ela resmungou, fungando violentamente e cobrindo a parte inferior do rosto com a blusa.

– Helena, cubra seu rosto com isso antes que piore... – A Sra. Weasley estendeu um pano para Helena, parecendo preocupada. – Na verdade, todos peguem um pano ou uma toalha daquela pilha e amarrem no rosto. – Apontou para uma bolsa de plástico cheia de panos.

Os adolescentes distribuíram os panos e toalhas entre si, enquanto amarravam eles em volta de seus rostos. Eleanor reparou que as cortinas de veludo zumbiam como se houvesse um enxame de abelhas escondido atrás dela, e, por alguns segundos, agradeceu por ter escolhido usar um casaco e uma calça, e sentiu pena de Ron, que usava uma regata.

A Sra. Weasley passou entre eles, entregando á cada um deles um garrafão cheio de líquido preto, com um esguicho no bocal. No canto da sala, um armário parecia sacudir, de um lado pro outro, como se algo quisesse muito sair dali. Ela preferiu ignorar, pois algo em sua intuição dizia que ela não queria saber o que havia ali.

No centro da sala, havia um enorme piano. Era preto, mas estava acinzentado por causa das grossas camadas de poeira.

– O que é isso? – Eleanor sacudiu a garrafa, com o cenho franzido.

– Fadicida. – A Sra. Weasley respondeu. – Tem uma infestação séria aqui... nunca vi pior. O que o elfo doméstico dessa casa andou fazendo nos últimos dez anos?

Eleanor lançou um rápido olhar para Hermione, que mesmo com parte do rosto coberto, pareceu muito ofendida com aquele comentário.

– O Monstro está velho e não pode...

– Você ficaria muito surpresa com o que o Monstro pode fazer quando quer, Hermione. – Sirius, que havia acabado de entrar na sala, disse, carregando uma saca ensanguentada, com o que Eleanor presumiu serem ratos mortos.

– Estava alimentando o Bicuço? – Ela perguntou, e ele assentiu.

– Bicuço?! – Harry pareceu surpreso.

– Sim, guardo ele lá em cima. – Sorriu para o afilhado. – Ficava no quarto antigo de minha mãe, mas agora Molly e Arthur estão lá, e Bicuço está no sótão. – Explicou, jogando a saca de ratos em uma poltrona velha.

– Ele deve ter ficado muito ofendido. – Eleanor ironizou, e Sirius deu risada.

– E como ficou, mas o que podemos fazer... – Balançou a cabeça, se curvando para examinar o armário que sacudia. – Bem, tenho certeza de que é um bicho papão... mas é melhor o Olho-Tonto dar uma olhada antes de soltarmos... conhecendo minha mãe, pode ser coisa muito pior.

– Você tem razão, Sirius. – A Sra. Weasley assentiu, parecendo propositalmente evitar olhar para Sirius, num tom forçado e educado, assim como Sirius, o que deixou claro que nenhum deles havia esquecido, muito menos perdoado, a discussão da noite anterior.

A campainha tocou no primeiro andar, seguida imediatamente pela gritaria rotineira da Sra. Black. Os adolescentes soltaram uma sinfonia de grunhidos, todos já cansados de ouvir as coisas que ela gritava.

– Mas que... – Sirius revirou os olhos. – Vivo dizendo para eles não tocarem a campainha! – Exclamou, exasperado, e saiu correndo da sala.

Puderam ouvir ele descer as escadas com passos pesados e estrondosos, ao mesmo tempo que os guinchos do quadro ecoavam pela casa. "Símbolos da desonra, mestiços sórdidos, traidores do próprio sangue, filhos da imundície..."

– Puxa, ela não troca o disco? – Fred resmungou, de braços cruzados.

– Harry, feche a porta, por favor... – A Sra. Weasley pediu para Harry, que pareceu demorar á fazer de propósito, como se tentando ouvir o que estava acontecendo no andar de baixo.

Eleanor o olhava, curiosa, esperando que a reação dele a dissesse algo sobre o que estava sendo dito, mas a Sra. Weasley o encarou de cara feia, o fazendo fechar a porta alguns segundos depois, se juntando novamente ao grupo de limpeza.

Enquanto a Sra. Weasley consultava um livro, Eleanor aproveitou para andar até onde Harry estava.

O que houve lá embaixo? – Ela sussurrou.

 Não ouvi muita coisa... – Negou com a cabeça. – Era Shacklebolt. Disse que queria deixar um relatório pro Dumbledore, e só.

Ela fez bico, decepcionada, pois esperava que algo mais importante acontecesse, e voltou á olhar para a Sra. Weasley. Seu olhar, automaticamente, focou no livro nas mãos dela, a fazendo arregalar os olhos.

– Sra. Weasley, com licença, mas isso é um livro do Gilderoy Lockheart? – Ela perguntou, suspirando fundo.

– Ah! Sim, querida, é o Guia de Pragas Domésticas dele! – Sorriu leve, rapidamente tirando o olhar do livro para olhar para ela, reparando na expressão em seu rosto. – Algum problema?

– É que... algumas das soluções que ele dá para lidar com as criaturas são um pouco nocivas... – Fez careta, se aproximando dela para ler o livro.

Leu a página na qual ela estava, rapidamente, vendo que ele havia recomendado quatro á cinco borrifos do fadicida. Arregalou os olhos mais ainda.

– Viu? Ele praticamente falou pra matar os bichos! – Exclamou, incrédula, apontando para o livro. – Newt Scamander diz que um borrifo é o suficiente pra paralisá-las! E dois, no máximo, pra elas desmaiarem!

– Puxa, não sabia disso... – A Sra. Weasley pareceu pensativa. – Ouviram, então? Dois borrifos, no máximo!

Eleanor sorriu, satisfeita, voltando ao grupo. George sorria pra ela, parecendo achar engraçado, mas ela não deu atenção, focando sua atenção na Sra. Weasley.

– Certo, crianças, precisam ter cuidado aqui, pois as fadas mordentes mordem e os dentes delas são venenosos. – Ela explicou, séria. – Tenho um vidro de antídoto aqui, caso precisemos, mas preferiria que ninguém precisasse usá-lo.

Ela endireitou o corpo, tomando posição de ataque diante das cortinas, fazendo um sinal com as mãos para que eles se aproximassem.

– Quando eu mandar, comecem á borrifar imediatamente. Vão voar pra cima de nós, imagino, mas é só borrifar antes. Quando terminarem, é só colocar elas nos baldes. – Apontou para os três baldes vazios no canto do quarto, próximos á uma tapeçaria velha. Cuidadosamente, a Sra. Weasley saiu da linha de fogo dos borrifos e, depois de cobrir o rosto, ergueu o próprio garrafão. – Muito bem... agora!

Ela puxou a cortina, e Eleanor semicerrou os olhos, tentando enxergar através dos borrifos. De repente, uma fada mordente adulta passou por cima da fumaça na direção dela; os dentes afiados á mostra, o corpo coberto de pêlos pretos e espessos, com quatro punhos fechados de fúria. Tendo um reflexo um pouco mais lento do que o normal, Eleanor borrifou o fadicida no rosto dela uma única vez, e ela parou no ar, caindo sobre o tapete empoeirado com um baque.

Antes que se abaixasse para recolhê-la, uma mão com dedos compridos e pálidos o fez antes dela. George a deu uma piscadela exagerada antes de erguer o corpo novamente.

– Ei, essa era minha! – Ela franziu o cenho.

– Precisamos de todas as fadinhas que conseguimos pegar. – Deu de ombros, a segurando entre os dedos. – Depois te explico... – Ela viu os olhos dele se fecharem um pouco e presumiu que ele havia sorrido, mesmo com o rosto coberto, e ele se afastou.

Eleanor deu mais algumas borrifadas, fazendo questão de as tirar do chão pois, se não o fizesse, elas corriam perigo de serem pisoteadas em meio á agitação.

– Fred, o que é que você está fazendo?! – A Sra. Weasley exclamou. – Borrife logo e jogue essa coisa fora!

Eleanor fez careta, involuntariamente. "Coisa? Não é uma coisa, é um ser vivo...", pensou consigo mesma, "...tudo bem, é uma criatura mágica classificada XXX pelo universo, e é considerada uma praga, mas ainda é um ser vivo!".

Se virou para olhar e viu Fred segurando, entre o dedo indicador e polegar, uma fada que se debatia.

– Claro! – Ele disse, animado, dando um borrifo na fada, mas assim que a Sra. Weasley deu as costas, ele deu mais um borrifo, a fazendo desmaiar, e a guardou no bolso.

– O que é que você está fazendo? – Eleanor repetiu a pergunta da Sra. Weasley e andou até ele, de cenho franzido, e Harry, que estava por perto, também olhou, curioso.

– Queremos testar o veneno das fadas mordentes para o nosso Kit Mata-Aula. – George surgiu ao lado do irmão, com mais algumas fadas em sua mão.

Eleanor não respondeu no momento, pois duas fadas mordentes voaram em direção á seu rosto, e ela borrifou no mesmo segundo. George as recolheu antes que sequer chegassem ao chão.

– Parem de roubar minhas fadas! – Ela fez careta.

– O que é um Kit Mata-Aula? – Harry perguntou, curioso, e Eleanor, que já sabia o que era, pois George havia a contado, se distraiu com Helena correndo de uma fada.

– MAS QUE CACETE! – Exclamou, irritada, enquanto Gina dava risada.

– Use o fadicida. – Ayaan sugeriu, com uma sobrancelha arqueada.

– JURA? – Helena a encarou, os olhos arregalados. – OLHA, SE MEU ESGUICHO NÃO ESTIVESSE ENTUPIDO, SEU CONSELHO SERIA MUITO ÚTIL! ACREDITA QUE EU NEM PENSEI NISSO?

– Só estou dizendo... – Deu de ombros antes de voltar á borrifar suas próprias fadas.

Eleanor deu passos apressados e borrifou a fada que perseguia sua amiga, que se escondia atrás do armário, que não parava de sacudir.

– Aí está, salvei sua vida. – Ironizou, recolhendo a fada do chão. Helena continuou atrás do armário. – Eu já paralisei ela, sabe...

– Como você consegue segurar isso?! – Colocou a cabeça pra fora, com uma expressão enojada. – São tão peludos, e nojentos, cheios de dentes...

– Espere até você saber que quero ser magizoologista e provavelmente vou lidar com criaturas desse tipo pelo resto da minha vida. – Murmurou, colocando a fada, cuidadosamente, em um dos baldes.

– Você é louca, isso sim. – Balançou a cabeça em negação, voltando á cobrir o rosto. – Ou meu nariz cai com a poeira, ou ele cai quando uma dessas fadas arrancar ele fora... não tem outra saída.

– Continue borrifando antes que o segundo aconteça, então. – Deu de ombros, e voltou ao centro da borrifação.

Continuaram cuidando da desfadização das cortinas pela maior parte da manhã. Já era um pouco mais do que meio-dia quando a Sra. Weasley tirou a echarpe que cobria seu rosto e se jogou em uma poltrona, de repente dando outro salto e soltando uma exclamação enojada, pois havia se sentado na saca de ratos mortos.

As cortinas, agora, haviam parado de zumbir. Estavam moles e pingando de tanto serem borrifadas. Dois dos três baldes estavam cheios até a boca, e o terceiro balde estava cheio de seus ovos. Bichento, que havia chego depois da borrifação, os farejava, enquanto Fred e George pareciam cochichar sobre como pegariam as fadas sem que a mãe notasse.

– Vamos cuidar daqueles depois do almoço... – Molly ofegou, apontando para os armários de portas de vidro empoeiradas de cada lado da lareira.

Tinham uma variedade estranha de objetos guardados: uma coleção de adagas enferrujadas, garras, uma pele de cobra enrolada e algumas caixas de prata gravadas com alguma língua que Eleanor não reconheceu.

A campainha da porta soou novamente, e eles se viraram para a Sra. Weasley.

– Fiquem aqui. – Ela bufou, agarrando a saca de ratos com certa firmeza, na hora que a Sra. Black recomeçou á gritar no andar de baixo. – Vou trazer uns sanduíches...

Saiu da sala, fechando a porta cuidadosamente ao passar. Na mesma hora, todos eles, menos Helena, que ainda encarava a porta, correram para a janela, para espiar a porta de entrada. Viram uma careca mal cuidada, trazendo uma pilha de caldeirões equilibrados de forma nem um pouco segura e estável.

– Ela vai lavar as mãos antes de fazer aqueles sanduíches, né? – Helena apontou o indicador para a porta, com o cenho levemente franzido. – Porque, não sei se vocês repararam, mas ela estava segurando um monte de ratos. Mortos.

– Vem logo! – Fred a chamou com a mão, balançando a cabeça.

– Mundungo! – Hermione exclamou, olhando para a careca janela abaixo.

– Pra quê ele está trazendo todos aqueles caldeirões? – Gina indagou.

– Deve estar procurando algum lugar pra guardar eles. – Ayaan sugeriu. – Era isso que ele disse que estava fazendo quando Harry foi atacado, não é?

– Tem razão... – Harry concordou, pensativo, quando a porta abriu e Mundungo entrou, arrastando seu carregamento de caldeirões, sumindo de vista.

– Mamãe não vai gostar nada disso... – George murmurou, e Eleanor, ao lado dele, concordou com a cabeça. Ele e Fred se apressaram para irem até a porta e encostaram as orelhas ali, na esperança de ouvirem algo. Os gritos da Sra. Black haviam parado.

– Mundungo está conversando com Sirius, Shacklebolt e Zahi. – Fred murmurou, franzindo o cenho, concentrado, enquanto os outros os olhavam, curiosos. – Não consigo ouvir direito... George?

– Nada aqui. – O gêmeo negou com a cabeça.

– Peguem as Orelhas Extensíveis! – Helena os apressou com as mãos.

– Talvez valha a pena. – Fred olhou para o irmão.

– Eu posso aparatar rapidinho, apanhar um par pra gen...

Mas, antes que George pudesse finalizar a frase, ouviram uma explosão de gritos no andar de baixo que tornou as Orelhas Extensíveis dispensáveis. Agora, todos podiam escutar os berros, á plenos pulmões, da Sra. Weasley.

– NÃO ESTAMOS OPERANDO UM ESCONDERIJO SECRETO PARA OBJETOS ROUBADOS! – Gritou.

– Eu falei... – George ergueu as sobrancelhas para Eleanor.

– Adoro ouvir a mamãe gritando com os outros. – Fred sorria de lado, abrindo, cuidadosamente, uma fresta da porta, para que ouvissem melhor. – ...pra variar, sabe?

– ...COMPLETAMENTE IRRESPONSÁVEL! COMO SE JÁ NÃO TIVÉSSEMOS O BASTANTE PARA NOS PREOCUPAR SEM VOCÊ TRAZER CALDEIRÕES ROUBADOS PRA DENTRO DA CASA!

– Estão deixando ela ganhar impulso... – George balançava a cabeça em desaprovação. – Ela anda doida pra achar uma oportunidade de cair em cima do Mundungo, desde que ele saiu escondido quando deveria estar cuidando do Harry... e lá vai a mãe do Sirius, outra vez...

Os gritos da Sra. Weasley foram abafados pelos guinchos e gritos da Sra. Black, acompanhada pelos outros quadros do corredor. Eleanor se encolheu involuntariamente e colocou as mãos nos ouvidos, os tampando.

George, que a observava, franziu o cenho levemente e fez questão de fechar a porta, em uma tentativa falhada de abafar o barulho, mas antes que pudesse o fazer, Monstro se esgueirou para dentro.

O elfo não deu a menor atenção á Eleanor ou qualquer um dos outros. Agindo como se eles não estivessem ali, avançou, arrastando os pés, o corpo curvado, até o fundo do cômodo, resmungando baixinho, na sua voz rouca de sempre, como a de uma rã-touro.

– ...cheira á esgoto, e ainda por cima é um criminoso... mas ela não é melhor, a traidora perversa do próprio sangue, com esses pirralhos que emporcalham a casa da minha senhora... – Murmurava, e Eleanor e Helena se entreolharam. – ...ah, minha pobre senhora, se ela soubesse da ralé que deixaram entrar em sua casa... o que é que ela diria ao velho Monstro... sangues-ruins, lobisomens, traidores, e ladrões...

– E aí, Monstro. – Fred fechou a porta com um estalo, erguendo o tom de voz, chamando a atenção dele.

O elfo parou de andar, parou de resmungar, e se virou para o menino com um sobressalto muito forte e nem um pouco convincente.

– Monstro não viu o jovem senhor. – Disse, fazendo uma reverência para ele. – Pirralho desagradável, traidor do próprio sangue... – Murmurou, ainda com o nariz encostando no tapete em sua reverência.

– Vamos continuar o trabalho... – Eleanor desconversou, arrancando o pano de seu rosto, e Monstro ergueu o olhar para ela. – Deixem ele fazer o que ele precisa fazer...

– Olhe só a pirralha, a sangue ruim, parada ali, insolente... falando como se mandasse na casa... ah, se minha senhora soubesse... – Monstro murmurou, e Eleanor se calou, suspirando fundo.

– Chamou ela do quê? – George ergueu o garrafão, irritado, mas Fred o deu uma cotovelada.

– Não entendi essa última parte, Monstro. – Fred arqueou uma sobrancelha. – Pode repetir?

– Monstro não disse nada, senhor. – Ele fez uma segunda reverência. Depois de alguns segundos, se endireitou, os olhando maldosamente e, parecendo convencido de que nenhum dos garotos poderiam o escutar, continuou resmungando. – Ferinhas desnaturadas, é isso que eles são, esses gêmeos...

Os dois se entreolharam, levemente incomodados, mas George, levemente, abaixou o garrafão, ainda erguido em seus braços.

– Mais uma sangue-ruim, é claro... como Monstro poderia esquecer da infestação... – Continuou, olhando para Hermione dessa vez. – E tem um garoto novo... Monstro não sabe o nome... o que é que ele está fazendo aqui, Monstro não sabe... – Seu olhar repousou em Harry, que olhou para os lados, constrangido.

– Este é o Harry, Monstro. – Hermione disse, hesitante. – Harry Potter.

Os olhos cinzas de Monstro se arregalaram e ele resmungou, mais depressa e furioso do que nunca.

– A sangue-ruim está falando com Monstro como se fosse minha amiga... ah, se a senhora de Monstro o visse em tal companhia, o que diria...

– Não chame ela de sangue-ruim! – Ron levantou a voz, muito zangado.

– Não tem importância. – Hermione sussurrou, balançando a cabeça. – Ele não bate bem da cabeça, não sabe o que diz.

– Não se engane, Hermione. – Ayaan cruzou os braços. – Acho que ele sabe exatamente o que está dizendo. – Encarou o elfo com um olhar sério.

Monstro, sem dar atenção aos olhares feios, continuava resmungando, com os olhos fixos em Harry.

– É verdade? Este é Harry Potter? Monstro está vendo a cicatriz... deve ser verdade... – Esfregava as mãos com uma mistura de curiosidade e fixação. – Foi este o garoto que deteve o Lorde das Trevas... Monstro queria saber como foi que ele o fez...

– E não queremos todos, Monstro? – Fred disse.

– Que é que você quer, afinal? – George perguntou, ainda irritado. Os olhos cinzas de Monstro se viraram rapidamente para ele.

– Monstro está limpando, é claro. – Respondeu, um pouco arisco.

– Dá mesmo pra acreditar! – Uma voz mais grossa disse, e Eleanor, apenas naquele momento, percebeu que Sirius havia aberto a porta. Olhava, aborrecido, para o elfo.

O barulho no corredor havia diminuído; talvez a Sra. Weasley e Mundungo tivessem levado a discussão para a cozinha. Ao ver Sirius, Monstro mergulhou em uma reverência exageradamente profunda, afundando seu nariz no chão.

– Fique em pé direito. – Sirius revirou os olhos. – O que é que você está aprontando, agora?

– Monstro está limpando. – Repetiu. – Monstro vive para servir a nobre casa dos Black...

– Que está ficando cada dia mais imunda e precária.

– Meu senhor sempre gostou de brincar... – Monstro se curvou outra vez, sorrindo de forma nem um pouco convincente. – O senhor sempre foi um porco ingrato e mau, que partiu o coração de sua mãe...

– Minha mãe não tinha coração, Monstro. – Sirius sibilou. – Sobrevivia de puro rancor e maldade.

– O que o senhor disser. – Disse, furiosamente. – O senhor não é digno de limpar a lama das botas de sua mãe... ah, minha pobre senhora... se visse Monstro servindo esse filho, que odiava tanto...

– Eu perguntei o que estava aprontando. – Sirius repetiu a pergunta, impaciente. – Toda vez que aparece, fingindo que está limpando, esconde alguma coisa no seu quarto, pra não jogarmos nada fora.

– Monstro nunca tiraria nada do seu lugar na casa do senhor. – Ele disse, depressa. – A senhora jamais perdoaria Monstro se a tapeçaria fosse jogada fora... faz sete séculos que está na família... Monstro precisa salvá-la, não vai deixar que o senhor, os traidores de sangue e seus pirralhos a destruam... – Acrescentou.

– Imaginei que fosse isso. – Lançou um olhar desdenhoso á parede oposta, e Eleanor reparou que ele se referia á tapeçaria empoeirada que ela viu antes. – Ela deve ter posto mais um feitiço Adesivo Permanente atrás, não duvido nada, mas se houver um jeito, com certeza, me livrarei dela. Agora, vá embora, Monstro.

Monstro não ousava desobedecer ordens diretas, por mais que não gostasse de Sirius. O olhar que o lançou ao passar por ele, arrastando os pés, era do mais profundo desprezo, enquanto ele resmungava.

...volta de Azkaban, dando ordens ao Monstro... ah, minha senhora, o que diria se visse a casa agora, habitada por essa ralé, tesouros atirados no lixo... minha senhora jurou, naquele dia, que ele não era mais seu filho... mas agora, ele voltou, e dizem que também é assassino...

– CONTINUE Á RESMUNGAR E EU VIRO MESMO ASSASSINO! – Sirius berrou, irritado, batendo a porta com força. – Elfo idiota.

– Sirius, ele não está com o juízo perfeito... – Hermione o defendeu. – Não tem consciência de que podemos ouvir ele...

– Passou tempo demais sozinho. – Sirius disse. – Recebendo ordens do retrato da minha mãe, sem ter com quem falar, mas sempre foi um idiota.

– Se você o libertasse! – Ela sugeriu, esperançosa, e Eleanor fez careta, involuntariamente. – Quem sabe...

– Não podemos libertar ele, sabe demais sobre a Ordem. – Sirius negou com a cabeça. – De qualquer forma, o choque o mataria. Experimente sugerir isso para ele, e veja a reação...

Em silêncio, ele atravessou a sala, lentamente, andando até a tapeçaria que Monstro tentou proteger. Cobria toda a parede. Eleanor e os outros o seguiram, curiosos. A tapeçaria estava muito envelhecida, empoeirada e desbotada, de forma que tornava difícil ler os nomes e enxergar as figuras, e as fadas mordentes pareciam ter roído algumas partes dela. Mesmo assim, o fio dourado que a bordava ainda conservava brilho o suficiente para mostrar uma enorme árvore genealógica que voltava até bem antes da Idade Média.

Bem no alto da tapeçaria, em grandes letras, era possível ler:

A Mui Antiga e Nobre Casa dos Black
"Toujours Pur"

– Que idioma é esse? – Gina franziu o cenho.

– Francês. – Eleanor respondeu rapidamente, reconhecendo. – Diz "Sempre Puro"... – Engoliu em seco e olhou para Sirius, que parecia envergonhado.

– Vocês vêem agora... a vergonha que é essa família... – Negou com a cabeça, desviando o olhar do deles, voltando á olhar para a tapeçaria.

– Você não está aqui! – Harry exclamou, olhando para a parte inferior.

– Costumava estar aqui. – Sirius apontou para um buraquinho redondo e queimado da tapeçaria. Lembrava uma queimadura de cigarro. – Minha meiga e querida mãe me detonou depois que fugi de casa... Monstro adora relembrar dessa história.

Eleanor analisou o nome dos pais de Sirius. Orion e Walburga Black. Aparentemente, a bruxa velha e amargurada do retrato tinha um nome... Walburga.

– Você fugiu de casa? – Fred perguntou, muito curioso.

– Quando tinha uns dezesseis anos, sim... – Assentiu. – Já estava de saco cheio.

– Pra onde você foi? – Harry perguntou.

– Pra casa do seu pai, é claro. – Sirius o olhou, a expressão se suavizando. – Seus avós foram muito compreensivos... meio que me adotaram como um segundo filho. Acampava na casa do seu pai, durante as férias da escola, e quando fiz dezessete anos, montei uma casa própria. Meu tio Alfardo me deixou uma grana boa... também foi removido da tapeçaria, sabe... e comecei á cuidar de mim mesmo. Mas ainda era bem-vindo na casa dos Potter nos almoços de domingo. – Brincou, com um sorriso de lado.

– Mas... por que você fugiu? – Helena perguntou.

– Porque odiava todos eles. – Respondeu, direto. – Meus pais, com a mania de puro-sangue, tendo a certeza de que ser um Black o fazia ser praticamente realeza... meu irmão, idiota, que foi frouxo o suficiente pra acreditar neles... olhe ele, aqui. – Sirius apontou para a base da árvore, indicando um nome. "Regulus Black", seguido da data de nascimento e da de falecimento, há alguns quinze anos.

– Não sabia que você tinha um irmão... – Harry analisou de perto.

– Ah, tinha. – Assentiu, amargo. – Mais novo e um filho muito melhor do que eu, como meus pais amavam dizer.

– Mas ele morreu!

– Morreu. Um idiota... juntou-se aos Comensais da Morte...

– Sério?! – Eleanor arregalou os olhos.

– Já não viram o suficiente da casa para saber exatamente o tipo de bruxos que eles eram? – Levantou as sobrancelhas. – Contribuiu muito pra minha fama de Comensal da Morte, sabem... realmente ajudou o Ministério á me pintar como vilão.

– Seus pais... também eram... Comensais da Morte? – Harry engoliu em seco.

– Não, mas acredite quando digo que achavam que Voldemort estava certo. Eram totalmente á favor de purificar a raça bruxa, entregarem o comando aos puro-sangues, se livrarem dos nascidos trouxas... – Lançou um olhar triste para Eleanor e Hermione. – ...não estavam sozinhos. Havia muita gente antes da Voldemort, mas se acovadaram quando viram as extremidades que ele estava disposto á ir... mas aposto que meus pais acharam que Regulus era o perfeito heróizinho quando ele se alistou...

– Foi morto por um auror, eu presumo... – Eleanor indagou.

– Ah, não. Morto pelo próprio Voldemort. – Negou com a cabeça, e um suspiro de susto correu pelo grupo. – Ou por ordens de Voldemort, o que acho mais provável... duvido que Regulus havia se tornado importante o suficiente pra ser morto por Voldemort em pessoa.

– Como ficou sabendo? – Ayaan perguntou.

– Pelo que me diziam, na Ordem da Fênix... – Respondeu. – Pelo o que eu soube, acompanhou o movimento até o certo ponto, mas entrou em pânico com as tarefas que o davam. Tentou recuar. Mas, bem... ninguém recusa um pedido de Voldemort. Nem pede demissão. É um serviço pra vida toda.

Eleanor permaneceu parada, por alguns segundos, mal percebendo quando a Sra. Weasley retornou ao quarto.

– Almoço! – Ela anunciou, empunhando a varinha no alto, trazendo uma enorme bandeja carregada de sanduíches e bolos. Estava com a cara muito vermelha e ainda parecia irritada.

Os outros se dispersaram, famintos, mas Eleanor e Harry permaneceram próximos de Sirius, trocando olhares tensos e curiosos.

– Faz anos que eu não olho isso... – Sirius murmurou, se curvando para olhar a tapeçaria de perto. – Fineus Nigellus, meu tetra-avô... o diretor menos querido que Hogwarts já teve... e Araminta Meliflua, prima da minha mãe... tentou aprovar, á força, uma lei ministerial que tornava legal a caça aos trouxas... – Virou o rosto para longe de Eleanor, como se sentisse culpado de alguma forma.

Ela apenas fitou o chão, engolindo em seco. Nunca entendeu completamente o fato de que haviam pessoas no mundo bruxo que odiavam ela e sua família pelo simples fato de existirem, mas, diferente dos outros anos, agora ela tinha uma prova desse ódio. Sua própria tortura.

– Minha querida tia Eladora... foi ela quem deu início á tradição familiar de decapitar os elfos domésticos quando ficavam velhos demais para carregar as bandejas de chá. – Continuou.

– Só tem você de decente nessa família? – Eleanor disse, sem pensar direito, olhando para a tapeçaria com o rosto contorcido.

– Não tem só eu, mas é claro que senpre que a família gerava alguém razoavelmente decente, era repudiado. – Deu de ombros, andando até outra parte da tapeçaria. – Estou vendo que Tonks não está aqui... talvez seja por isso que Monstro não recebe ordens dela, a obrigação dele é atender á tudo que alguém da família pedir.

– Você e Tonks são parentes?! – Harry e Eleanor perguntaram em uníssono.

– Ah, claro. A mãe dela, Andromeda, era minha prima preferida. – Disse, examinando a peça com cuidado. – Não, Andy não está aqui também... olhem...

Eleanor demorou alguns segundos para olhar para onde ele apontava. Andy... jurava ter ouvido aquele apelido em algum lugar antes. Mas, por azar, os remédios estavam começando á afetar sua memória em certas partes. Balançando a cabeça, tentando ignorar a impressão de que estava deixando algo passar, seguiu o dedo de Sirius até mais um espaço carbonizado entre outros dois nomes: Bellatrix e Narcissa.

– As irmãs de Andy continuam aí porque fizeram casamentos belos e respeitáveis com puros-sangues, mas Andy se casou com Ted Tonks, que é nascido trouxa... – Novamente, desviou o olhar de Eleanor, mas ela não reparou pois, mais uma vez, tinha uma sensação de familiaridade com o nome Andy. – Realmente, a história se repete... – Ela ouviu ele murmurar, mas antes que pudesse perguntar o que ele quis dizer, Harry, que analisava a tapeçaria de perto, soltou uma exclamação.

– Você é parente dos Malfoy! – Exclamou, e Eleanor sentiu como se sua alma tivesse saído do seu corpo. Seu peito gelou e sua cabeça ficou mais leve, ao mesmo tempo em que seus olhos se arregalaram.

– Ah... é... – Sirius ficou sem graça, vendo a expressão no rosto de Eleanor e sabendo exatamente o motivo de ela estar assim. A fitou com certa preocupação. – Todas as famílias puro-sangue são entrelaçadas...

Eleanor não ouvia mais nada que eles diziam, apenas andou até onde Harry estava, analisando a tapeçaria com cuidado, sentindo como se seu coração fosse sair pela boca.

Á direita da queimadura de Andromeda. Uma linha dupla de ouro ligava os nomes de Narcissa Black com... Lucius Malfoy. Apenas o mero desenho do rosto dele fez com que um arrepio percorresse pela espinha de Eleanor. Uma única linha vertical saía dos noles deles, com o nome de Draco no fim dela, junto de um desenho de seu rosto.

Harry, ao lado dela, a olhou, preocupado, como se percebesse que, talvez, não devesse ter falado sobre os Malfoy. Fazia tempo que não a via assim. Estendeu a mão, tentando a colocar no ombro dela, de forma tranquilizadora, mas Eleanor desviou, sem tirar os olhos da tapeçaria.

– Se alguém quiser que os filhos e filhas casem-se apenas com puros-sangues, a escolha fica muito reduzida... sobram muitas poucas opções. – Sirius tentou tirar a atenção dela dali, mas sem sucesso. O único que o dava ouvidos era Harry, igualmente preocupado. – Molly e eu somos primos por casamento, e Arthur parece que é um primo de segundo grau... nem tentem procurar por eles aqui... se um dia houve uma família "traidora de sangue", foram os Weasley.

Harry leu o nome á esquerda da queimadura de Andromeda. Bellatrix Black, ligada ao nome de Rodolphus Lestrange. Mas Eleanor ainda estava paralisada, alternando o olhar entre os desenhos de Lucius e Draco.

– Lestrange... – Harry disse, em voz alta, pensativo.

– Estão em Azkaban. – Sirius respondeu, sombrio, e Harry o fitou, curioso. – Bellatrix e o marido foram junto com Bartô Crouch Jr. e o irmão de Rodolphus, Rabastan. – Esclareceu.

A postura de Harry se ergueu, como se ele lembrasse de algo. Eleanor, no entanto, não deu importância. Na verdade, sequer estava ouvindo qualquer coisa que eles dissessem.

Cedendo á um impulso que teve, Eleanor ergueu a mão e tocou no desenho de Draco com a ponta dos dedos, sentindo seu coração se apertar e se estilhaçar em mil pedaços. Aos poucos, sua visão se embaçou, e ela notou que Harry e Sirius haviam parado de falar, provavelmente a olhando.

Se afastou da tapeçaria bruscamente, engolindo em seco e fungando para disfarçar. Rapidamente passou a manga do casaco nos olhos e virou-se para eles, forçando um sorriso.

– Do que estamos falando? – Perguntou para eles, disfarçando, mas falhando miseravelmente.

– É... – Harry desviou o olhar dela, tentando não dar atenção ao assunto. Ela não parecia pronta para falar sobre. Não ainda. – Você nunca disse que ela era sua prima... – Olhou para Sirius.

– E faz diferença? – Sirius deu de ombros. – No que me diz respeito, nenhum deles é minha família. E ela, muito menos. Não a vejo desde que tinha sua idade, a não ser que conte a visão de relance de quando ela chegou em Azkaban. Acha que tenho orgulho de ter parentesco com alguém como ela? – Indagou, ácido.

– Desculpa. – Harry disse, depressa, muito vermelho. – Eu não quis... só... fiquei surpreso... – Balançou a cabeça.

– Não faz mal, não precisa se desculpar... – Sirius disse, em um murmúrio, se afastando da tapeçaria, com as mãos nos bolsos. – Não gosto de ter voltado, sabem... nunca pensei que teria que voltar á ficar preso nessa casa.

Harry assentiu, como se entendesse perfeitamente o que ele queria dizer, mas Eleanor permaneceu parada. Não conseguia nem imaginar como era não se sentir confortável na própria casa. Não sabia como era odiar a própria família de tal forma. Se sentia um pouco privilegiada por isso.

– Naturalmente, é perfeita para uma sede. Meu pai instalou aqui todas as medidas de segurança conhecidas no mundo bruxo, quando morávamos aqui. Não é localizável, por isso os trouxas nunca podem aparecer para visitar... como se algum dia fossem querer vir para esse lugar horrível... – Murmurou. – Agora que Dumbledore colocou novas medidas de proteção, vai ser difícil achar lugar mais seguro nesse mundo. Dumbledore é o fiel do segredo, sabem. Ninguém encontra a Ordem sem que ele diga pessoalmente como fazer.

Eleanor o olhou, curiosa.

– Sabem aquele bilhete que vocês lêem, quando chegam? – Ele perguntou, e os dois assentiram. – Era de Dumbledore... ah, se meus pais pudessem ver para que está servindo a casa deles agora... – Deu uma risadinha curta.

– Acho que o quadro da sua mãe já nos dá uma idéia. – Eleanor brincou, fazendo Sirius e Harry rirem pelo nariz.

– Andem logo, vocês três, ou não vai sobrar comida! – A Sra. Weasley os chamou.

Eleanor andou um pouco á frente de Sirius e Harry, os deixando ficarem sozinhos, e se sentou ao lado de Helena no chão. A ruiva a entregou dois sanduíches.

– O Fred decidiu comer até a bandeja, pelo que parece, então eu guardei pra você caso ele não te desse a chance. – Disse, olhando para o amigo de cara feia.

– Valeu. – Sorriu fraco e recolheu os sanduíches.

– Está se sentindo bem? – Ayaan perguntou, a olhando. – Você parece um pouco... triste.

Os outros a olharam também, analisando sua expressão, e Eleanor corou diante disso. Rapidamente deu uma grande mordida no sanduíche, tentando disfarçar.

– Não fei do que esfá falanfo... – Deu de ombros, com a boca cheia.

Depois que terminaram de comer, George se aproximou dela, um pouco mais sério do que o normal.

– Ei, El. – A olhou, curioso. – Dormiu bem hoje?

– Hã... – Ela franziu o cenho por um milésimo de segundo. – Sim... por quê?

– Eu não ouvi você... sabe... – Gesticulou com as mãos. – Mas isso é bom, não é? Seus pesadelos estão melhorando!

Próxima deles, Eleanor viu Helena franzir o cenho e a encarar, muito confusa. "O feitiço de Snape funcionou, então...", confirmou, "...finalmente, fiz algo certo.".

– Sim. – Ela sorriu para ele. – Realmente ótimo. – Suspirou, mais aliviada.

Ela fez o possível para não voltar á olhar para a tapeçaria, e nem pensar nela, enquanto esvaziavam os armários, naquela tarde. Com sorte, foi uma tarefa que exigiu toda sua energia e concentração, já que a grande maioria dos objetos pareciam ter sido enfeitiçados para resistirem caso alguém tentasse os remover das prateleiras empoeiradas.

Sirius aguentou uma mordida feia de uma caixa de prata; em poucos segundos, sua mão foi coberta por uma crosta grossa, que lembrava uma luva de couro marrom.

– Tudo bem, tudo bem. – Ele acalmou Helena, que estava enojada e assustada ao mesmo tempo. Com um toque de sua varinha, sua pele voltou ao normal.

– Pus de bubotúbera... – Eleanor disse, em voz baixa, e Sirius a olhou, como se confuso sobre como ela sabia.

Os leitores de Rita Skeeter a enviaram pus de bubotúbera em um envelope, na época em que o artigo sobre ela saiu no Profeta Diário. Com sorte, não foi ela quem abriu o envelope, mas, infelizmente, foi Cedric quem o fez, tendo a mesma reação que Sirius.

– Sim... pus de bubotúbera... – Assentiu, surpreso. – Deve ter isso ali dentro...

Atirou a caixa no saco em que estavam jogando os escombros do armário. Poucos minutos depois, Eleanor viu George enrolar a mão, com todo cuidado, em um pano, e colocar a caixa no bolso, já cheio de fadas mordentes. Ao ver que ela o observava, sorriu, sem graça, a fazendo rir pelo nariz e balançar a cabeça em desaprovação.

Encontraram um instrumento de prata que não parecia nada amigável, uma pinça de muitas pernas, que subiu como uma aranha pelo braço de Harry. Eleanor tentou tirá-la, mas a pinça tentou furar sua pele. Sirius agarrou-a e a esmagou com um livro pesado chamado "A Nobreza Natural: Uma Genealogia dos Bruxos", jogando o livro no saco de lixo, com um olhar enojado.

Eleanor, de vez em quando, se sentia atordoada com a quantidade de coisas sobre sangues-ruins que haviam ali. Porém, Sirius, quando reparava que ela olhava algo do tipo, tirava das mãos dela e dizia algo para tranquilizá-la, antes de jogar o objeto dentro do saco.

Houve, também, uma caixa musical que tocou uma música um tanto sinistra quando deram corda, e logo perceberam que estavam ficando fracos e sonolentos. Por um impulso, Eleanor pegou uma enciclopédia e bateu, com força, na tampa da caixa. Encontraram vários selos antigos, e uma caixa coberta de pó; uma Ordem de Merlin, primeira classe, que foi concedida ao avô de Sirius por "Serviços Prestados ao Ministério".

– O que significa que ele deve ter doado á eles um carregamento de ouro. – Sirius resmungou, com desprezo, arremessando a medalha no lixo.

Monstro tentou, inúmeras vezes, entrar de fininho na sala, tentando contrabandear algo debaixo de suas roupas surradas, murmurando maldições horríveis toda vez que alguém o pegava no flagra. Sirius, certa hora, tirou á força da mão dele um anel de ouro com o brasão dos Black, fazendo Monstro se debulhar num choro furioso, abandonando a sala soluçando, baixinho, e xingando Sirius de nomes que Eleanor nunca ouviu antes.

– Pertenceu ao meu pai... – Sirius disse, atirando o anel no saco. – Monstro não era tão dedicado á ele quanto era á minha mãe, mas ainda assim... o peguei abraçando uma calça velha do meu pai na semana passada. – Fez careta, e Fred e Helena contiveram as risadas.

*****

Os próximos dias foram extremamente cansativos; a sala de visita demorou mais dois dias para ser completamente descontaminada. No final, entretanto, restaram apenas a tapeçaria da família Black, que resistiu á todas as tentativas de tirá-la da parede, e o armário velho, com o bicho papão. Moody ainda não havia aparecido na sede, para confirmarem o que havia lá dentro.

Passaram da sala de visitas para uma sala de jantar no primeiro andar; próxima da sala de reuniões, mas era bem menor. Lá, encontraram aranhas do tamanho de CDs dentro do armário, e, por coincidência, Helena e Ron saíram da sala apressados naquele mesmo momento, dizendo que iriam tomar uma xícara de chá, e voltaram apenas uma hora e meia depois, quando já haviam se livrado das aranhas.

Sem a menor cerimônia, Sirius atirou uma porcelana com o brasão e o lema dos Black no saco, e fez o mesmo com uma coleção de fotos velhas, cujos ocupantes soltaram gritos agudos quando os vidros que protegiam as fotos se quebraram.

Snape poderia se referir ao que estavam fazendo como "limpeza", mas a verdade era que estavam em uma batalha incansável com a casa, que resistia bravamente, ajudada e acobertada por Monstro. O elfo tentava recolher tudo que podia dos sacos de lixo, e Sirius até mesmo o ameaçou com roupas, mas Monstro apenas o olhou de forma lacrimosa e disse "O senhor deve fazer o que desejar", antes de se afastar resmungando muito alto, "...mas o senhor não vai mandar Monstro embora, não, não vai, porque o Monstro sabe o que estão tramando... ah, se sabe... está conspirando contra o Lorde das Trevas, com esses sangues-ruins, traidores e gentalha...".

A campainha da porta tocava várias vezes por dia, fazendo Walburga Black começar á berrar, dificultando que Eleanor e os outros conseguissem escutar o que os visitantes diziam, antes que a Sra. Weasley os chamasse de volta ao trabalho.

Snape entrava e saía da casa com cada vez mais frequência, mas Eleanor não esbarrou nele em nenhuma dessas vezes; apenas escutava a voz grave e lenta dele vindo do primeiro andar. Pela janela, Eleanor também viu a Professora McGonagall, usando um vestido e um casaco trouxa, parecendo muito atarefada para ficar para tomar café.

No entanto, alguns dos visitantes ficavam para ajudar nas tarefas. Tonks, em uma tarde acalorada, se reuniu á eles quando encontraram um vampiro homicida escondido no banheiro do terceiro andar. Lupin, á pedido de Eleanor, ajudou eles á consertar um relógio de carrilhão que desenvolveu o hábito de atirar parafusos pesados em quem passava perto dali. Mundungo se redimiu, um pouco, aos olhos da Sra. Weasley, ao salvar Ron de uma coleção antiga de vestes púrpura que tentaram estrangular ele quando tiradas do guarda-roupa.

Embora ainda tivesse alguns pesadelos e dormisse muito mal, Eleanor se sentia melhor do que já havia se sentido desde o fatídico dia em que foi torturada. O feitiço de Snape realmente havia funcionado; George não acordava mais no meio da noite, nem mais ninguém da Ordem, além de Helena, que fazia questão de fazer companhia para ela e a distrair, sem demonstrar qualquer incômodo por ser acordada durante as madrugadas.

No dia 9, um dia antes da lua cheia, no entanto, Eleanor não viu Lupin no café da manhã. Nem no almoço. Nem na janta... o que era estranho, já que ele sempre estava presente durante o dia. Até mesmo para checar em Eleanor. Disfarçadamente, ela chamou Sirius e perguntou onde ele estava, e ele a explicou que, geralmente, ele se afastava um dia antes das luas cheias, pois já começava á sentir alguns sintomas das transformações.

Aquilo fez com que ela muito mal dormisse naquela noite, com a preocupação. Quando estava prestes á cair no sono, sua imaginação á fazia ouvir um uivo, e ela saltava da cama, assustada.

Na manhã do dia 10, Georgia, que geralmente estava no trabalho á aquela hora, se juntou á eles no café da manhã. Se sentou ao lado de Eleanor, no lugar onde Lupin costumava sentar, e a deu um sorriso confortante.

– Remus me pediu para marcar uma sessão de check-up no St. Mungus pra você. – Cochichou, sem saber se a menina queria que os outros soubessem ou não. – Ele quer que vejam se não podem fazer nada sobre seus pesadelos... enfim, consegui marcar. Nós vamos no dia da audiência de Harry, dia 12.

– Eu posso ir? – Helena perguntou, sentada ao lado de Georgia, ouvindo tudo. – Pra fazer companhia pra El! Visitas ao hospital podem ser bem chatas!

Georgia riu pelo nariz e levantou as sobrancelhas para Eleanor, como se pedindo a opinião dela sobre o assunto.

– Eu vou adorar. – Eleanor sorriu fraco, e Helena fez uma dancinha na cadeira. A ruiva mal podia esperar para sair de casa, pelo que parecia.

– Nós vamos sair daqui junto com Harry, então. – Georgia explicou para as duas. – Vamos no mesmo caminho, mas vamos nos separar depois.

– Okey-dokey. – Helena assentiu, sorrindo fraco.

– O Lupin vai conosco? – Eleanor perguntou, esperançosa. Se sentia mais segura com ele, mesmo que gostasse de Georgia.

– Depende... não sei quando ele volta da... da transformação, sabe. – Pareceu um pouco tensa. – E nem como ele vai estar... mas aposto que ele vai tentar ao máximo te acompanhar.

Eleanor sorriu consigo mesma, se sentindo acolhida por todos da Ordem. Até mesmo ousaria dizer que encontrou sua segunda família; até mesmo os "parentes" mais problemáticos, como Mundungo e Snape. Olhou em volta da mesa, satisfeita, e voltou á comer, em silêncio.



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