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História Corrupted (Livro 1) - Um Salto de Fé


Escrita por: moonysupreme

Capítulo 74 - Um Salto de Fé


12 de agosto de 1995
Largo Grimmauld
10:54

– Nenhuma notícia do Harry, ainda? – Eleanor desceu as escadas até a cozinha, acompanhada de Helena e dos gêmeos, que a estavam fazendo companhia depois da consulta. Todos os outros negaram com a cabeça, e ela bufou, aflita.

– Arthur não enviou nada. – Lupin estava sentado na cadeira ao lado de Sirius, que parecia estar tomando uma taça de uísque de fogo. "Puxa, nem passou de meio-dia...", Eleanor pensou consigo mesma, um tanto chocada.

– Nada? – Helena fez careta.

– Nada. – Sirius resmungou, contorcendo o rosto por um segundo, depois de dar um grande gole. – Não pode estar demorando tanto assim, não é?

– É o Fudge, o que você esperava? – Georgia disse, sacudindo a perna.

– Ele deve estar tentando, com tudo que pode, colocar alguma coisa na conta do pobre menino... – Arabella comentou, enquanto ajudava Molly com o preparo do almoço.

Eleanor permaneceu calada, pensando em como a tia de Susan estaria agindo durante a audiência. Se perguntava se ela sequer havia recebido a carta, já que não teve nenhuma resposta.

– Você vai ficar em pé aí? – George chamou a atenção dela, já sentado na mesa, e ela assentiu, andando até a cadeira próxima dele, distraída.

Ele a lançou um olhar desconfiado e preocupado por alguns segundos, mas Fred o cutucou para cochichar algo, o fazendo desviar o olhar.

– Ei, El! – Gina a chamou, á algumas cadeiras de distância. – Como foi sua consulta? Bem?

– Ah! Foi sim... – Ela sorriu fraco. – Tudo certo comigo.

– Está liberada para voltar para Hogwarts, então? – Ron perguntou, e ela assentiu. – Maneiro! – Ele sorriu, parecendo feliz por ela.

– Ah, vocês não sabem o que eu descobri! – Helena exclamou, e todos os adolescentes a olharam, curiosos. – A mãe de Eleanor já deu aula pra aquele primo insuportável do Harry!

– O Dudinha? – Fred arqueou a sobrancelha.

– Da língua inchada? – George acrescentou, dando risada, e Ron soltou um ronco. – Explica isso aí, El.

– Minha mãe é professora e dá aula na escola dele... eu nem sabia que era ele o primo do Harry, só conheci o nome porque minha mãe fala dele como se ele fosse o anticristo. – Comentou, fazendo careta, e todos eles deram risadas fracas. – E, segundo... Dudinha da língua inchada?

– Ah, foi uma coisinha que fizemos, sabe... – George deu de ombros, fingindo descaso.

– Devo me preocupar?

– Não se você não gosta do Dudinha. – Levantou as sobrancelhas, e ela negou com a cabeça.

– Bom, já que você também faz parte do clube de pessoas que desgostam da família trouxa do Harry... – Fred disse, e ele e George se entreolharam.

– ...acho que podemos contar, não é? – George finalizou, sorrindo de lado, e se virou para ela. – Podemos, ou não podemos, ter deixado cair, sem querer, um Caramelo Incha-Línguas na casa dos Dursley, no ano passado, quando fomos buscar Harry para a Copa de Quadribol...

– Um... o quê? – Ela deu uma risada incrédula, mas tampou a própria boca.

– É simples, na verdade. – George se ajeitou em sua cadeira, ao lado dela, e ela o observava, curiosa para a explicação. – É um caramelo normal, mas enfeitiçamos ele com o Feitiço de Ingurgitamento.

– Meu Deus... – Balançou a cabeça, em choque, ainda com a mão cobrindo a própria boca. – De que tamanho ficou a língua dele?!

– Papai disse que ficou com mais de um metro quando deixaram ele usar um feitiço pra encolher pro tamanho normal. – Fred disse, parecendo muito orgulhoso.

– Ele disse que isso desestabiliza as relações bruxos-trouxas, e que ele passou metade da vida fazendo campanhas contra os maus-tratos aos trouxas, pra nós fazermos igual... – George relembrou.

– ...mas nós não fizemos porque ele é trouxa! – Fred negou com a cabeça.

– E sim, porque ele é um bully, implicante e mimado. – George deu de ombros. – E, francamente, nós nem forçamos ele á comer... só deixamos o caramelo cair. Ele comeu porque quis!

– Faz sentido. – Eleanor sorriu, imaginando a cena, por mais que não soubesse exatamente como Dudley Dursley se parecesse; apenas o conhecimento de que ele havia sofrido um pouco a deixava mais feliz, depois de tanto ver sua mãe estressada por causa das coisas que ele fazia na escola. – Bem... ninguém mandou ele comer, não é?

– Que bom que estamos na mesma página. – Ele sorriu para ela, e ela retribuiu, o fazendo rapidamente desviar o olhar. Fred e Helena se entreolharam, segurando as risadas, mas Eleanor não percebeu.

Todos eles conversaram entre si pelos próximos minutos, se sentindo um pouco mais animados pela consulta de Eleanor ter ido bem, mas ainda um tanto tensos com a expectativa da chegada de Harry e o Sr. Weasley. Ás onze horas, quase meio-dia, as batidas rítmicas soaram na porta da frente, e todos se calaram, ansiosos.

Zahi decidiu ser o primeiro a se levantar, julgando ser o mais calmo, e quando Harry e Arthur entraram na cozinha, alguns poucos minutos depois, todos se levantaram da mesa, os olhando, ansiosos.

– E então? – Eleanor perguntou, com a voz trêmula, por medo de sua carta para Susan ter estragado tudo. "Ele não me olhou com cara de morte, então, acho que, pelo menos isso, eu não fiz...", observou.

– Inocente. – Harry deu um sorriso aliviado. – De todas as acusações!

Todos comemoraram, e a cozinha pareceu a comunal da Lufa-lufa em dia de partidas de quadribol, Eleanor reparou.

– Eu sabia! – Ron dava socos no ar, sorrindo de orelha á orelha.

A Sra. Weasley abraçava Arabella, aos prantos, enquanto era consolada por ela. Zahi deu dois tapas no ombro de Harry, o parabenizando, com um sorriso vitorioso no rosto, sendo o máximo de expressão que havia demonstrado desde que chegou no Largo Grimmauld.

Fred e Helena pareceram prestes á se abraçarem, mas, ao invés disso, deram um estranho aperto de mãos, ambos ficando alguns tons mais rosados, mas Eleanor estava mais concentrada em manter o equilíbrio depois de um enorme peso ser tirado de seus ombros. Se sua carta havia feito diferença ou não, ela não sabia, mas pelo menos, tudo havia dado certo.

– Eles tinham que te inocentar! – Hermione exclamou, com um sorriso convencido no rosto, mas seu queixo tremia levemente e ela estava um tanto pálida, enquanto suas mãos tremiam ao lado de seu corpo. – Não tinham caso contra você!

– Pra quem já sabia que eu ia me livrar das acusações, vocês todos parecem bem aliviados... – Harry indagou, dando risada das reações em volta da cozinha.

Disfarçando, a Sra. Weasley secou o rosto com seu avental, enquanto os gêmeos, Helena e Gina faziam uma espécie de dança irlandesa, enquanto cantavam uma musiquinha composta apenas pela frase "Ele conseguiu, ele conseguiu...", e Eleanor, ao lado deles, perdia as forças de tanto dar risada da entonação na voz deles, se apoiando na mesa para se manter em pé.

– Chega! Sosseguem! – O Sr. Weasley exclamou, embora ainda tivesse um sorriso muito feliz no rosto. – Sirius, você me pediu pra manter um olho nele... Lucius Malfoy estava no Ministério.

Aquilo foi o suficiente para que Eleanor parasse de sorrir e dar risada naquele exato momento. Seu peito gelou e ela perdeu o equilíbrio nas pernas de vez, deixando seu peso cair de volta na cadeira, enquanto olhava para o Sr. Weasley de olhos arregalados. Harry a lançou um olhar tenso, com o maxilar trincado.

– O quê?! – Sirius exclamou, ríspido, com o rosto contorcido.

"Ele conseguiu, ele conseguiu, ele conseguiu..."

– Quietos, Gina, George, Fred! – O Sr. Weasley gritou.

– Helena! – Georgia gritou também, lançando um olhar repreensivo para a sobrinha, mas não adiantou.

– Nós vimos ele conversando com Fudge no nível nove, antes da audiência. O Harry tentou... é... não é importante. – Ele desconversou, seu olhar alternando rapidamente de Harry de volta para Sirius. – Não sei o que ele estava fazendo lá... não era pra ele estar lá, era?

– Dumbledore precisa saber disso. – Harry disse, dando um olhar significativo para o padrinho, discretamente apontando com a cabeça para Eleanor, que se encolheu, na cadeira.

– Com certeza. – Sirius disse, de cenho franzido. – Vamos contar para ele, não se preocupem. – Respirou fundo, parecendo irritado.

– Bem... é melhor eu ir andando. – Arthur disse, mudando de assunto, enquanto Eleanor apenas encarava a mesa, ainda pega de surpresa pela menção ao nome de Lucius Malfoy. – Preciso resolver algo do trabalho... talvez, Kingsley venha jantar, junto comigo.

– Eu vou junto com você, Arthur. – Georgia se levantou da mesa. – Helena, pare de cantar e me escute... – Chamou a sobrinha, que parou de dançar com os gêmeos e Gina e se virou para ela.

– Euzinha! – Sorriu para ela, e Eleanor, se não estivesse tão desnorteada, ficaria surpresa com o quanto as duas são parecidas, tanto na aparência quanto no jeito.

– Irei voltar tarde hoje, porque vou cobrir o turno da Tonks... se comporte e obedeça á Molly, me ouviu? – Disse, séria, mas ainda de forma amigável.

– Pode deixar. – Sorriu fraco para ela, que a deu um beijo rápido na testa antes de subir as escadas atrás do Sr. Weasley.

"Ele conseguiu, ele conseguiu, ele conseguiu...", a cantoria continuava, mas Helena já havia se calado, se sentando de volta ao lado de Eleanor.

– Agora já chega... Fred, George, Gina, chega! – A Sra. Weasley exclamou, massageando as têmporas. Sem sucesso. – Harry, querido, venha se sentar... almoce alguma coisa, você nem comeu no café da manhã!

Harry se sentou do outro lado da mesa, de frente á Ron e Hermione, e parecia lançar vários olhares nervosos na direção de Eleanor, que, de repente, não sentia mais tanta fome assim.

Uma atmosfera feliz, calorosa e hospitaleira tomou conta do Largo Grimmauld depois do anúncio de Harry, e todos pareciam muito mais felizes. No entanto, isso fez com que o estado de Eleanor ficasse mais fácil de notar. Com sorte, Lupin estava do outro lado da mesa, próximo de Sirius. Porém, pro seu azar, Helena estava bem ao seu lado.

– Tudo bem aí, El? – A ruiva sussurrou, a olhando de cenho franzido. – Você tá meio pálida...

– Estou. – Engoliu em seco, balançando a cabeça e sorrindo para ela, mesmo tendo certeza de que seu sorriso não chegava até seus olhos. – Deve ser a fome.

– Então coma! – Fez careta pra ela, a oferecendo o pote de purê. – Parece que você vai desmaiar!

Sirius, Eleanor reparou, a olhava, preocupado, de forma disfarçada, enquanto Lupin passava os molhos para os outros. Ela engoliu em seco, tendo certeza de que ele sabia exatamente o motivo de estar daquele jeito, assim como Harry, que alternava seu olhar entre Ron, Hermione e ela.

Para fingir que nada estava acontecendo, pois, afinal, não queria acabar com o clima de comemoração que Harry merecia, ela aceitou o purê de batatas oferecido por Helena e colocou uma quantidade minúscula em seu prato; o plano era fingir que estava comendo, o máximo de tempo que podia, aproveitar as comemorações, e quando tivesse a chance, iria voltar para o quarto.

– É claro que depois que o Dumbledore apareceu pra te defender, não tinham como eles te condenarem! – Ron exclamou, enquanto Harry contava todos os detalhes sobre a audiência.

– Na verdade, ficou empatado, no final... – Harry comentou, e todos se calaram por alguns segundos. – Quem desempatou acabou sendo a Madame Bones... ela foi muito legal mesmo.

– Legal ou justa? – Hermione indagou.

– Legal mesmo. Ela fazia as perguntas que o Fudge evitava fazer, e parecia realmente querer ajudar... – Contou, e Eleanor, mesmo não se sentindo bem, conteve um sorriso. Não pôde deixar de pensar que teve algo á ver com isso.

Do outro lado da mesa, Eleanor podia jurar ter visto uma lâmpada se acender na cabeça de Lupin, e ele olhou na direção dela. Rapidamente, ela desviou o olhar e passou á fitar seu prato como se fosse a coisa mais interessante do mundo.

De repente, Harry largou seus talheres com um barulho alto e levou uma das mãos á testa, fazendo Eleanor erguer o olhar para ele, assustada. Da última vez que viu a cicatriz dele doer, Voldemort estava por perto. Ao lembrar disso, sentiu a comida tentar voltar de onde veio, mas engoliu em seco.

– Harry? – Perguntou, com a voz trêmula.

– O que foi? – Hermione perguntou.

– Cicatriz... – Ele explicou, com o rosto levemente contorcido. Ao reparar o olhar de Eleanor, se apressou para amenizar o susto. – Mas não é nada, não se preocupem... acontece o tempo todo, agora.

Os outros não pareceram reparar; estavam ocupados se servindo e falando sobre como Harry havia escapado por um triz. Fred, George e Gina ainda cantavam, e Helena, disfarçadamente, os ajudava, de sua cadeira. Hermione pareceu um tanto nervosa, e Eleanor afastou o seu prato de si mesma, com o estômago embrulhado. Antes que alguma das duas pudesse dizer algo sobre a cicatriz, Ron exclamou, alegre:

– Aposto que Dumbledore vai aparecer por aqui hoje, pra festejar com a gente, sabe?

– Não acho que ele vá poder, Ron... – A Sra. Weasley negou com a cabeça, enquanto pousava uma travessa enorme de galinha assada no centro da mesa. – Ele têm estado realmente ocupado...

"ELE CONSEGUIU, ELE CONSEGUIU, ELE CONS..."

– CALEM A BOCA, OS QUATRO! – A Sra. Weasley berrou, e Helena abriu a boca. – E sim, Helena, eu te vi cantando junto!

– Foi mal, Sra. Weasley. – Ela sorriu, vermelha como um tomate.

Eleanor esperou mais alguns minutos para se levantar da mesa, dizendo estar cheia, e tentou subir as escadas antes que Lupin fosse atrás dela, mas sem sucesso. Já deveria esperar isso dele, afinal, parecia a ler como uma revista.

– Não tão rápido. – Ele disse, enquanto ela subia as escadas para o 2º andar. – Vamos lá, desembuche... eu não nasci ontem...

– Não sei do que está falando. – Deu de ombros, permanecendo séria.

– Você não pode me achar influenciável á ponto de achar que Amélia Bones, uma das bruxas mais rígidas do Ministério, iria fazer questão de provar a inocência de Harry por livre e espontânea vontade, sendo que eu sei que você é melhor amiga da sobrinha dela, não é? – Arqueou a sobrancelha, e ela olhou para o chão, suspirando. – Que foi que você fez?

– Oras, você não pode acreditar na bondade das pessoas? – Cruzou os braços. – Vai ver, ela só estava de muito bom humor hoje, e quis ajudar ele... foi um julgamento muito injusto, afinal.

– Ah, tem razão, tem razão... – Franziu o cenho e balançou a cabeça. – Só achei que, talvez, você tivesse algo á ver com isso.

– Não tive. – Negou com a cabeça. – Acho que se enganou. – Sorriu sem mostrar os dentes.

– Deve ter sido. – Ele riu pelo nariz, parecendo incrédulo. – Bem, se tivesse sido você, eu iria dizer que foi muito honroso de sua parte.

– Bem... não fui eu. – Continuou negando com convicção. – Sinto muito em quebrar suas expectativas. – Cruzou os braços.

– Ah, sem problemas. – Afirmou.

– Ótimo. – Balançou a cabeça, e continuou andando, apressada, subindo os degraus. Porém, na metade da escada, se virou para ele, bruscamente. – Na verdade, se tivesse sido eu... – Ela murmurou, sem o olhar diretamente.

– Sim?

– ...eu te pediria pra não falar nada para o Harry. – Levantou as sobrancelhas, fingindo descaso. – Mas só se fosse eu. Como não sou eu... é só um conselho. – Deu de ombros.

– É claro. – Sorriu de lado. – Mais alguma coisa? – Arqueou a sobrancelha, e ela pensou, por alguns segundos.

– ... não. Só isso. – Suspirou, e voltou á subir as escadas.

*****

Eleanor passou as próximas horas tentando fingir não ter escutado a menção de Lucius Malfoy e o fato de ele estar presente no Ministério, conversando com Fudge, antes da audiência de Harry. Tentava ignorar também a curiosidade que sentia; o Sr. Weasley disse que ele não deveria estar lá, no momento da audiência de Harry. Ela queria saber o que ele estava aprontando.

Porém, decidiu ficar de fora. Não sabia se tinha saúde mental restante para lidar com seja lá o que Lucius Malfoy estivesse aprontando.

– Eu tenho outros livros ali, sabe... – Helena cortou o silêncio absoluto, apontando para sua enorme caixa, transbordando de livros até a boca, enquanto lia o segundo livro da série de Anne de Green Gables, deitada no sofá. – ... só pra você não ficar, sabe, olhando pro teto...

Eleanor ergueu a cabeça, percebendo que estava deitada na cama, de barriga pra cima, em posição de estrela-do-mar, encarando o teto, sem sequer ter noção do tempo que se passava. Suspirou pesadamente, erguendo o corpo e olhando em volta, aflita.

– Desembucha aí. – Helena disse, sem erguer o olhar. – Dá pra ver na sua cara que está incomodada...

– Não é nada. – Eleanor negou com a cabeça, encolhendo os ombros. Recebeu um olhar desconfiado da amiga, por alguns longos segundos. – É sério! Não é nada!

– Tudo bem, então... se você diz... – Levantou as sobrancelhas e se calou.

Eleanor balançava os próprios pés, olhando para eles, pensativa.

– Eu só estava pensando... – Deu um salto da cama, de repente, e Helena, balançando a cabeça, fechou o livro, lentamente, focando sua atenção na mais nova. – Você ouviu o que o Sr. Weasley disse? Sobre... você sabe...

– Sei do quê? – Franziu o cenho.

– Do... – Por alguns segundos, não conseguiu se forçar á dizer o nome dele. Era como se não saísse; sentiu um nó se apertar em sua garganta. – ...Lucius Malfoy.

– Eu... não ouvi nada. – Fez uma cara pensativa. – Quando eu comecei á escutar o que ele estava falando, ele já estava indo embora...

– Ah, verdade. – Respirou fundo. – Ele disse que... ele estava lá. No mesmo andar em que era pra acontecer a audiência, falando com o Fudge... e o Sr. Weasley disse que nem era pra ele estar lá! – Explicou.

– Como se aquele cara tem qualquer respeito pelas regras. – Resmungou, jogando o cabelo pra trás. – Você vê ele, aparecendo na escola quando bem entende, andando pelos corredores como se fosse dono de lá... desgraçado presunçoso...

– Mas não é esse o problema! – Gesticulava com as mãos, afobada. – O que diabos ele queria falar com o Fudge logo antes da audiência do Harry? Ele teria o dia todo pra isso!

– Você pode perguntar pro seu namorado o que o pai dele tava fazendo por lá, ué... – Sugeriu, e Eleanor a encarou, com os olhos arregalados. – Ah... o Fred e o George comentaram comigo que vocês tinham voltado...

Eleanor se lembrou do dia em que eles os viram no lago, em algum dia do mês de maio. Eles não tocaram mais no assunto depois disso, e ela sequer pensou que eles talvez achassem que eles ainda estavam juntos. Afinal, não sabiam que havia sido o pai de Draco o responsável pela sua tortura.

– Ah... isso... eu... – Engasgou nas próprias palavras, ficando um pouco nervosa para tentar se explicar sem contar os detalhes. – ...é que... não deu certo, sabe...

– Ah, claro. Eu entendo. – Helena sorriu fraco, parecendo não ter ligado para a tensão da amiga. – Mas... você está bem com isso? – Inclinou a cabeça.

– Sim, claro. – Sorriu, forçada. – Foi melhor assim. – Admitiu. E, nesse quesito, não estava mentindo.

– Então, podemos cortar "perguntar pro Draco" da lista... pode perguntar pro Harry, então?

– É que eu não queria... – Gaguejou, coçando a própria cabeça. – ...perguntar sobre isso...

– Ele provavelmente queria garantir que o Fudge tentasse acabar com a vida do Harry. – Deu de ombros. – Que os Malfoys odeiam o Harry, nem é novidade. Devem estar amando essa campanha Anti-Potter do Profeta Diário.

– Certo, certo. – Fechou os olhos por alguns segundos, engolindo em seco. Começava á sentir que estava suando. Não queria mais tocar no assunto dos Malfoy; apenas queria saber o que é que Lucius queria.

– O meu ponto é, se realmente quer saber o que ele queria, só vai descobrir se falar com o Harry. – Deu de ombros e pegou seu livro novamente.

Eleanor ficou parada, no centro do quarto, pensando no que Helena havia dito. Talvez, estivesse certa; realmente, deveria falar com o Harry. Não adiantava tentar evitar nada que envolvesse Lucius, afinal, já que teria que reencontrar Draco em menos de um mês (preferiu não se aprofundar nesses pensamentos). Não poderia continuar fugindo das lembranças da existência de Lucius Malfoy.

E, além do mais, ela merecia, e deveria, saber o que é que seu torturador estava aprontando.

Dando passos pesados, ela abriu a porta do quarto e saiu, determinada. Quase esbarrou em George e Fred, que

– Oi! – Fred exclamou, depois de desviarem do caminho dela, por um triz.

– Quase atropelou a gente! – George fez careta, a olhando.

– Apressada! – Ela respondeu, descendo as escadas, sem olhar pra trás.

Chegando ao terceiro andar, bateu, com força, três vezes na porta do quarto de Harry e Ron. O Weasley a abriu, um pouco confuso e, não admitiria isso, um pouco assustado.

– Tudo bem aí, Eleanor? – Perguntou, com o cenho franzido.

– Tudo ótimo, suave. – Ela disse, rapidamente, colocando a cabeça para dentro do quarto. Harry estava sentado em sua cama, olhando para a porta, igualmente confuso. – Harry, uma palavrinha?

– Hã... claro... pode entrar. – Ele deu de ombros, chegando para o lado, dando espaço em sua cama para ela se sentar.

– Aqui fora... – O chamou com a cabeça. – É que... é particular. – Lançou um olhar rápido para Ron, que fingiu não ver.

– Tudo bem... – Ele deu de ombros e ajeitou os óculos, se levantando e saindo do quarto. Ao passar, Eleanor fechou a porta atrás dele, deixando Ron do lado de dentro, ainda confuso. – O que foi? – Se virou para ela, com as mãos no bolso da calça.

Ela, silenciosamente, andou alguns metros para longe da porta, com medo de Ron estar por trás dela, escutando. Ele a seguiu, desnorteado, mas ainda curioso.

– Eu preciso que você me fale... – Ela disse, em tom normal, mas decidiu abaixar a voz. – ...se sabe o que o... – Sussurrou, mas viu uma figura minúscula escondida atrás de uma estátua no corredor.

Ergueu a postura, irritada, e andou até a estátua, onde Monstro, pelo menos em sua cabeça, achava estar escondido. Ele parecia esquecer que seu enorme nariz estava para fora, e arregalou os olhos, por alguns segundos, ao ver Eleanor parada na frente dele.

– Monstro estava limpando a estátua. – Disfarçou, apoiando a mão na figura de mármore. – Não viu os senhores conversando.

– Não viu? – Eleanor arqueou uma sobrancelha. – Tudo bem. Perdoado. Pode continuar limpando depois, não é?

– Monstro precisa limpar. – Disse, de forma exageradamente inocente. – Mas podem continuar conversando, não deixem o velho Monstro inibir vocês...

– Até parece. – Ela cruzou os braços, ainda encarando ele.

– Sangue-ruim mau educada... invade a casa de minha senhora, infesta todos os móveis com seus germes imundos, e ainda quer esconder segredos... – Ele resmungava, fingindo não a ver ali mais. – Que vergonha, que vergonha...

– Fique aí, então. Eu não ligo. – Ela forçou um sorriso, olhando em volta, vendo uma porta no final do corredor. – Vamos, Harry. – Puxou o garoto, que observava a cena, em silêncio, pelo colarinho da blusa social que usava.

Ele dava passos rápidos para acompanhá-la sem ser sufocado pela própria blusa, já que ela puxava com a mesma força que queria usar para empurrar a estátua de mármore na cabeça de Monstro. Eleanor abriu a porta e, sem olhar o que havia dentro, empurrou Harry e entrou logo atrás dele, fechando a porta.

Era um armário mofado e imundo; com sorte, era largo o suficiente para que os dois ficassem á uma distância confortável um do outro. Por outro lado, se ela ficasse ali por mais do que dez minutos, tinha certeza que ia desmaiar por conta da poeira.

– Qual é a do desespero, hein? – Harry resmungou, alisando a própria nuca, irritado.

– O que você acha?! – Fez careta pra ele. – Lucius! O que é que ele fez? O que ele falou? – Se sentou em cima de um balde que havia ali.

– Ah... isso. – Ele suspirou, ficando mais calmo. De repente, entendeu o motivo da euforia dela. – Tem certeza que quer... falar dele? – Se encostou na parede em frente á ela e deslizou até estar sentado ao chão.

– Tenho. – Afirmou, com a voz firme, exalando confiança, mas não se sentia nem um pouco confiante. – E então? – O apressou, com um movimento das mãos, e ele a encarou por alguns segundos, pensando se deveria, ou não, dizer algo.

– Eu estava no corredor, prestes á chegar na sala da audiência, e vi ele cochichando com o Fudge. – Contou. – Ele nem me viu, de primeira, mas quando eu vi a cara dele... lembrei do que ele fez com você, e não consegui me segurar, comecei á avançar na direção dele... – Esfregou o rosto com as mãos.

– O que você fez?! – Contorceu o rosto, temendo o que ele diria á seguir.

– Nada! – Se defendeu. – O Sr. Weasley me segurou!

– E você perdeu a noção, por algum acaso?! – Pegou uma revista, que estava em cima de uma das muitas caixas ali dentro, e o bateu no topo da cabeça com ela. – Tentar bater em alguém na frente do Fudge? Quando está prestes á ser interrogado por ele? Você é burro ou só idiota? – Sibilou.

– Ah, sinto muito se eu quis te defender! – Levantou as mãos em sinal de rendição, com deboche na voz. – Eu só senti raiva dele, tá bem?

– E você acha que eu não sinto? – Exclamou, e percebeu apenas naquele momento que estava com os olhos marejados.  – Enfim... não aconteceu mais nada?

– Ah, o Sr. Weasley disse que ele provavelmente estava tentando ficar por perto do tribunal pra entrar sem ser visto. – Contou. – E que, se não estava falando sobre mim com o Fudge, estavam falando de ouro.

– Ouro?

– Parece que os Malfoy tem feito "doações generosas" ao Ministério, com frequência. O Sr. Weasley diz que "ajuda á fazer amizade com as pessoas certas", pra depois pedir favores. – Fez careta. – Atrasar leis que não quer que sejam aprovadas, dar prioridades ás leis que ele quer que aprovem...

– Fazerem vista grossa se ele for acusado de algo... – Acrescentou, contorcendo o rosto.

– Exato. – Assentiu, bufando. – Ele é bem relacionado, esse desgraçado...

– O que significa que ele é intocável pra nós, não é? – O encarou, desanimada. – Ainda mais agora, que estão arrastando nossos nomes na lama...

– E ele continua sendo o doador do Ministério. – Sibilou, ácido. – Acredita que foi isso que o Fudge disse quando eu falei que ele era um dos Comensais no cemitério?

– Está brincando?

– Ele disse "Malfoy foi inocentado", e que "ele vem de uma família muito antiga, que contribuiu com doações muito generosas para causas excelentes". – Fez aspas com as mãos, sarcástico.

– Um monte de merda. – Contorceu o rosto. – A causa excelente sendo o bolso dele, só se for.

– Exatamente o que eu pensei.

– E se o... Lucius... – Se forçou á dizer o nome. – ...tiver enfeitiçado o Fudge? Na hora que eles estavam conversando? Com a maldição Imperius!

– É uma maldição imperdoável...

– E a maldição Cruciatus é o quê? – O encarou, fria, e ele corou, sem graça.

– Não é isso que estou falando. – Negou com a cabeça, bufando. – Fudge já estava assim na noite da terceira tarefa. – Argumentou. – Não acho que esteja sobre qualquer controle de mente. Ele só é um babaca de merda.

– Concordamos em uma coisa. – Riu pelo nariz. – Mas ainda acho bem a cara do... Lucius... amaldiçoar o Fudge.

– Acha que ele faria isso debaixo do nariz do Ministério? Ele não se arriscaria assim...

– Pra mim, parece que ele iria bem longe. – Murmurou, sentindo um calafrio em sua espinha, e seus olhos marejaram de novo. Queria se convencer de que sentia raiva de Lucius Malfoy, mas a verdade era clara: o temia.

Harry ficou em silêncio, apenas a olhando, sem reação. Os dois notaram que nunca chegaram á falar sobre a noite da terceira tarefa; não diretamente.

– Eu... nunca tive a oportunidade de dizer. – Ele murmurou, depois de alguns segundos olhando para o chão. – Obrigado por me ajudar, naquela noite. Não sei o que aconteceria se você não me ajudasse.

– Você estava se dando muito bem sozinho. – Ela deu de ombros e olhou para o teto, tentando conter as lágrimas.

– Dois é melhor do que um. – Riu pelo nariz, e ela o acompanhou. O clima ficou um pouco mais leve. – Eu não sabia que você tinha ficado tão abalada... Ron me contou sobre o seu negócio com o toque, e dos pesadelos...

– Imaginei que contaria. – Balançou a cabeça. Sentia que Harry era uma das únicas pessoas que ela poderia falar abertamente sobre sua tortura, e se sentia confortável para o fazer. – Não está tão ruim agora, sabe... os pesadelos não são tão ruins.

– Os pesadelos... – Indagou. – Eles são sobre... o que fizeram com você?

Ela não respondeu com palavras, apenas assentiu, desviando o olhar.

– É o mesmo pesadelo, sempre. – Confessou. – É como se eu revivesse tudo... como se sentisse tudo de novo... as mesmas dores.

– Eu... – Ele hesitou, ajeitando a postura. – Eu também tenho tido pesadelos. Provavelmente, não tão ruins quanto os seus, mas têm acontecido quase todas as noites... ou todas...

– Mesmo? – Ela o olhou, com o cenho levemente franzido.

– É como você disse... como se estivesse no cemitério de novo. – Contou. Não tinha coragem de contar para ela que os gritos agonizantes dela ecoavam em seus ouvidos até alguns segundos depois que ele acordava. – É a mesma coisa, sempre. O duelo com Voldemort. De novo, e de novo, e de novo... tudo isso enquanto você grita do meu lado.

Ela se ajeitou em cima do balde, inquieta. Nunca havia falado com tantos detalhes sobre sua tortura, mas, por algum motivo, não queria parar.

– Comigo é diferente. – Ela disse, sem coragem de olhar no rosto dele. – Depois de um tempo, tudo que eu consigo ver são os olhos dele... são iguais aos do... – Parou de falar, de repente, engolindo em seco.

– É tudo culpa dele... – Harry resmungou, irritado, sabendo exatamente de quem ela falava. – Se ele não te metesse no meio dessa confusão, o pai dele não ia querer te...

– Isso não importa. – Bufou. – Não quero falar dele, não era nem pra eu ter mencionado... prefiro deixar pra lidar com ele quando voltar pra escola. Por enquanto, podemos só fingir que ele não existe?

Ele ficou calado, balançando a cabeça.

– Você só sonha com isso? – Ele perguntou, mudando de assunto. – Com o cemitério...

– Eu acho que sim. – Ela deu de ombros, pensativa, tentando lembrar se havia mais alguma coisa de diferente. – Por quê?

– Ah, eu só... nada. – Negou com a cabeça, parecendo desconcertado.

– Você sonha com mais alguma coisa? – Inclinou o corpo pra frente, o olhando diretamente nos olhos. – Nós estamos juntos nesse barco, sabe...

– Eu sei. – Forçou um sorriso, ajeitando os óculos. – É só que... eu tenho tido uns sonhos estranhos... achei que você também estivesse.

– Que tipo de sonhos? – Apoiou o queixo em uma das mãos.

– Não é nada. – Negou com a cabeça, apoiando o cotovelo em cima de seu joelho e desviando o olhar.

– Você contou pra mais alguém? – Perguntou, e ele negou com a cabeça. – Por quê não? Sirius pode te ajudar... até mesmo Zahi, ele é muito espiritual, sabe...

– Vão me achar pirado. – Bufou. – Não quero dar mais motivos pra desconfiarem de mim.

– Você pode falar pra mim. – Suspirou, ajeitando a postura. – Acho que está bem claro que eu não vou te achar pirado. Nós dois estamos no fundo do poço, no fim das contas... se você está pirado, eu também estou.

– Não fazem muito sentido, esses sonhos. – Deu de ombros. – É só um corredor, escuro e comprido, com uma porta no final. Eu quero abrir aquela porta, eu sei que quero, mas nunca chego perto o suficiente...

– Onde fica esse corredor? – Franziu o cenho, curiosa.

– Eu não sei! Nunca vi ele antes... – Negou com a cabeça. – Pelo menos, eu acho que não...

– Mas pra você sonhar, você tem que ter visto... geralmente, é assim que funciona. – Observou, mas ele deu de ombros. – É o mesmo corredor, sempre?

– Sim. – Afirmou, arranhando o tecido da calça com as unhas. – É uma sensação horrível... uma vontade enorme de abrir a porta, como se eu quisesse muito o que tem atrás dela... mas eu não sei o que é, não sei que porta é aquela, e nem onde fica!

– Pode não ser um significado literal, também. – Teorizou. – Pode ser que tenha um significado mais profundo...

– Mais profundo?

– Pode ser o seu subconsciente tentando te avisar dos seus sentimentos. – Explicou, se lembrando de quando ouviu uma conversa de seus pais sobre uma palestra á qual Daisy compareceu. – Tem todo um estudo dos sonhos... eu não sei muito sobre, mas posso pesquisar sobre, se quiser.

– Não precisa. – Negou. – Seja lá o que meu subconsciente quer dizer, tenho certeza que não quero saber. – Ironizou, sorrindo de lado, e ela riu fraco.

– Agora, vamos sair daqui. – Se levantou, abrindo a porta do armário. – Antes que eu tenha uma crise alérgica...

– Nós precisamos limpar esse armário. – Ele afirmou, passando por ela pra sair.

– Não me envolva nisso. – Fez careta. – Está no andar do seu quarto e do Ron, esse pepino é de vocês.

– Achei que você tivesse dito que estávamos no mesmo barco! – Arqueou a sobrancelha.

– Conte comigo pra duelar com um bruxo das trevas e quase morrer! – Inclinou a cabeça. – Mas faxina... está sozinho nessa. – O deu dois tapas no ombro antes de subir as escadas, o deixando para trás.

Sorriu consigo mesma, percebendo que, aos poucos, estava conseguindo tocar nas pessoas. Com algumas limitações, é claro, mas havia aprendido á apreciar o progresso; por menor que ele fosse. Só Deus sabia o quanto havia se esforçado para melhorar, e o quanto queria que isso acontecesse. Sendo uma pessoa sociável, o toque era algo indispensável, e ela começava á sentir falta de ser abraçada.

Na verdade, nunca precisou tanto de um abraço.

*****

Os pesadelos daquela noite foram um pouco mais intensos do que o normal, e ela teve a impressão de que teve á ver com o tanto que mencionou Lucius e Draco.

Quando acordou, achou ainda estar sonhando ao ver uma figura de cabelo comprido, entrando no quarto. Porém, depois que seus olhos se ajustaram á escuridão, conseguiu reconhecer o cabelo de Helena, iluminado pelas luzes do corredor. A ruiva segurava um copo de água.

– Eu esqueci de novo. – Sorriu para Eleanor, sem graça. – Mas não se preocupe! Não roubei os doces do Lupin dessa vez. – Estendeu o copo pra ela.

– Obrigada... – Suspirou, aceitando o copo e dando um gole. – Foi muito ruim essa noite?

– Um pouco mais alto do que o normal. – Deu de ombros, e Eleanor franziu o cenho, irritada consigo mesma. – Mas você não me acordou! Eu já estava acordada mesmo!

– Fazendo o quê? São tipo... – Olhou para o seu relógio de pulso, que ela deixou em cima da cabeceira. – ...quatro da manhã!

– Bem... – Lançou um olhar rápido para o sofá, onde Eleanor reparou que havia um livro. – Acho que eu perdi a hora...

– Você já não leu esses livros? – Fez careta.

– Já, mas... eu sei lá! Gosto de reler... perceber coisas que eu não vi antes. – Deu de ombros, se sentando na beira da cama de Eleanor e esticando o corpo para pegar o livro do sofá.

– Anne de Green Gables?

– Acertou de primeira. – Enrugou o nariz.

– Não te julgo. Se minha série de livros preferida também tivesse uma personagem principal igual á mim, eu também leria o tempo todo. – Deu de ombros, colocando o copo vazio na cabeceira da cama. – Imagina só, uma história sobre você? Que conte sua vida inteirinha?

– Seria bem deprimente, no meu caso. – A ruiva contorceu o rosto. – Mas não é só por isso que eu leio e releio... é que... ah, deixa.

– Fala!

– É bobeira. – Deu risada para disfarçar. – Ei, que acha da gente mexer naquelas pitangas? – Apontou para a caixa no canto do quarto.

– Pitangas?

– As bolinhas coloridas de fazer pulseira!

– Miçangas?

– Isso, foi o que eu disse!

– Você não diss...

– Ok, vou aceitar isso como um sim. – Sorriu e se levantou, correndo até a caixa, a recolhendo e dando passos apressados até a cama. – Você vai precisar me ensinar, pois eu nem sei como começar. – Acenou a própria varinha, acendendo as velas ao redor do quarto.

– Eu não sei também! – Deu de ombros. – E eu nem concordei em fazer isso. – Franziu o cenho.

– Bom, você não vai voltar á dormir, vai? – Arqueou uma sobrancelha, e Eleanor negou com a cabeça. – Então é melhor a gente ficar fazendo algo, do que ficar deitada, olhando pro nada!

Eleanor bufou, se fazendo mais confortável na cama, olhando para o kit de miçangas da Dra. Chapman com um olhar pensativo, pensando em como diabos deveria fazer aquilo. Além do kit, ela também recebeu uma tesoura e um cordão de nylon de três metros.

– Acho que a gente corta isso aqui... – Ergueu o cordão de nylon. – E coloca as bolinhas... – Fez careta.

– Mas como a gente vai saber o tamanho? – Helena parecia tão confusa quanto ela, porém, estava bem mais animada para aprender e começar.

– A gente... é... a gente pode medir. – Deu de ombros.

– Eu faço, eu faço! – Tomou o cordão das mãos dela. – Vai, dá seu pulso!

Eleanor a olhou, perdida, sem entender o motivo da animação, mas estendeu o pulso para a ruiva, que desajeitadamente desenrolou o cordão de nylon e passou um fio na largura do pulso da mais nova.

– E agora? – Helena ergueu o olhar pra ela.

– Agora corta! – Respondeu, como se fosse óbvio.

– Oras, corta você! Eu tô segurando o negócio pra não soltar! – Fez careta, e Eleanor revirou os olhos e pegou a tesoura.

– É sua pulseira e eu que tenho que fazer o trabalho? – Resmungou, de brincadeira, enquanto cortava o restante do nylon. – E por quê você precisa do meu pulso se a pulseira é pra você?

– É um trabalho em dupla! – A deu uma piscadela exagerada. – E quem disse que a pulseira é pra mim?

– É pra quem, então?

– Pra você, tonta. – Revirou os olhos. – E é bom você usar!

Ao cortar o nylon, Eleanor colocou a tesoura de volta na cama. Tomou o fio das mãos de Helena e deu um nó na ponta dele, fazendo a ruiva a encarar, confusa.

– Precisa de um nó na ponta pras bolinhas não escorregarem enquanto você as coloca. – Explicou, e ela assentiu. – Agora, é com você. – Deu de ombros, empurrando a caixa na direção dela.

– Deixe a artista fazer a arte dela, agora. – Fez careta e se encostou na parede, ao lado da cama, analisando as cores, formas e tamanhos das miçangas.

Eleanor pegou o livro que Helena estava lendo antes e passou alguns minutos lendo as primeiras páginas dele. De fato, era um livro interessante, mas ela sentiu que deveria ler os primeiros dois livros antes, pois não fazia idéia de quem eram metade dos personagens. Não quis perguntar á Helena, pois ela parecia concentrada o suficiente em sua pulseira, e estava escondendo dela para que não visse as cores escolhidas, por algum motivo.

– Eram da minha mãe. – Helena cortou o silêncio, depois de muitos minutos. – Os livros. Todos eles.

– Ah. – Eleanor engoliu em seco, encarando a capa. – Isso é legal! Ter algo dela...

– É mesmo. – Sorriu de lado. – Faz eu me sentir mais próxima dela.

– Ela gostava de literatura trouxa, então? – Puxou assunto.

– Começou á gostar de coisas trouxas por causa do meu pai, pelo que minha tia diz. – Respondeu, tranquilamente. – A família delas é de puro sangue, sabe, então não sabiam muito sobre...

Eleanor ficou um pouco desconfiada. Os Black e os Malfoy também eram famílias de puro sangue, e eram supremacistas nojentos. Mas, também, os Abbott, os Bones e os Macmillan também eram, assim como os Weasley, e não eram preconceituosos...

– Eles não eram Comensais, relaxe. – Helena respondeu, vendo a expressão no rosto da amiga. – Se fosse olhar a lista dos Sagrados Vinte e Oito, nunca encontraria os Blythe. Não queriam nada á ver com essa palhaçada de supremacia de sangue.

– Ah, bem. – Sorriu fraco, aliviada.

– Minha tia diz que meus avós encorajaram ela e minha mãe á entrarem na Ordem da Fênix, quando elas contaram pra eles... – Contou, e Eleanor se calou, percebendo que, pela primeira vez, Helena estava se abrindo. Não sabia se percebia que estava fazendo isso, mas preferiu deixar que ela falasse o que queria falar. – Parece que disseram que criaram elas pra isso. Pra fazer o bem, e o certo.

– Parecem ser boas pessoas...

– Acho que sim. – Deu de ombros. – Estão muito velhinhos hoje, e não moram mais aqui. – Contou, suspirando.

– Sinto muito.

– É tranquilo. – Sorriu de lado, sem tirar os olhos da pulseira um único segundo. – Eles nunca superaram a morte da minha mãe... acho que se mudaram por isso.

– Morar aqui trazia muitas lembranças... – Supôs. – Eu entendo... não deve ter sido fácil.

– Fui eu, na verdade. – Riu pelo nariz, mas o sorriso não chegava até seus olhos. – Acho que eu era parecida demais com minha mãe. E minha tia também... nós éramos as lembranças ruins que eles queriam evitar, no final.

– Oh. – Foi tudo que Eleanor conseguiu dizer.

– Ah, eu considero um elogio, minha mãe era linda. – Brincou, tentando amenizar a tensão.

– Eu... sinto muito. – Repetiu o que havia dito alguns minutos antes. Não conseguia pensar em mais nada que pudesse dizer; havia sido muito de repente. Uma hora, estavam falando de pulseiras e, de repente, Helena estava a contando algo que não contou para seus melhores amigos por anos.

– Eu acho meio injusto da parte deles. – Confessou. – É difícil lidar com o luto, eu sei, mas nós também perdemos pessoas queridas. Não é como se nosso luto não importasse, sabe?

– Entendo. – Assentiu.

– Minha tia teve que cuidar de mim sozinha, depois daquele dia... eu tinha 3 anos, só! E ela, uns 21... é muita coisa, pra alguém tão jovem. – Continuou, como se fosse um assunto banal. – E ainda tinha que lidar com o luto de perder a irmã e o cunhado...

– Ela é bem forte. – Balançou a cabeça. – Você deve se inspirar muito nela.

– Com certeza, ela é demais. – Sorriu de lado, suavemente. – Ela diz que ela e minha mãe eram muito parecidas, na aparência e no jeito, mas eu não lembro muita coisa da minha mãe além da noite que eles morreram. – Deu de ombros.

– Espera, você estava lá quando... quando aconteceu? – Eleanor arregalou os olhos, quase engasgando na própria saliva.

– Eu nunca te contei essa parte, né? – Fez careta, fechando os olhos por alguns segundos. – É que... bem... – Pela primeira vez, tirou os olhos da pulseira.

– Você não precisa me contar. – A interrompeu, antes que continuasse. – De verdade. Já consigo imaginar o quão traumático foi... não precisa falar nada.

– Eu sei. – Balançou a cabeça. – Mas eu quero te falar. Não gosto de bancar a misteriosa. – Sorriu de lado.

– Diz a menina que escondeu isso dos amigos por anos. – Arqueou uma sobrancelha.

– Olha, eles nunca me perguntaram nada, então tecnicamente, eu não escondi e nem banquei a misteriosa! – Ergueu as mãos, em sinal de rendição. – E, agora que eles já sabem que algo aconteceu, acho que vou contar, em breve... mas não agora.

– Entendo. – Assentiu. – Mas... por quê quer contar pra mim? Mal nos conhecemos...

– Bem, os gêmeos e o Lee nunca passaram por algo traumático como verem os pais morrerem ou serem torturados até a beira da morte. – Levantou as sobrancelhas. – Não acho que eles entenderiam, sabe? Que mesmo depois de contar, eu quero que continuem me tratando normalmente.

– Você não quer que sintam pena e nem se preocupem. – Supôs, e ela confirmou. – É, eu te entendo.

– Claro que entende. – Riu. – Você está se afogando na merda, igual á mim.

–E por isso, você quer me contar? – Fingiu ofensa.

– Confio em você, também. Sei que não vai sair contando por aí, e nem que vai me tratar diferente. – Deu de ombros. – Posso confiar em você, não é?

– É claro. – Balançou a cabeça.

– Tudo bem... – Suspirou, ajeitando a posição na cama para que ficasse de frente para ela. – É uma longa história...

– Quando quiser. – Sorriu fraco e se fez confortável.

Helena inspirou e expirou por alguns segundos, como se tentando organizar suas memórias, e, depois de um bom tempo em silêncio, sua história começou.

– Eu não me lembro muito daquela noite. Não sei o motivo deles terem morrido, nem sei o que aconteceu antes ou depois, é tudo... meio que um borrão. A única coisa que eu me lembro com clareza é a noite da morte deles. – Contou, abaixando a cabeça para olhar para as próprias mãos. – Jacob Parker e Lucy Blythe, meus pais... minha mãe nunca se tornou uma Parker porque eles nunca chegaram a se casar. Estavam apenas noivos, o casamento iria acontecer em 1982... eu acabei ficando com o sobrenome Blythe, pois eles acharam que era mais seguro pra mim ter o sobrenome de uma família puro sangue, já que não sabiam como tudo acabaria...

Eleanor não ousou a interromper; apenas a olhava, séria, escutando atentamente. Helena, para disfarçar, voltou á montar a pulseira.

– Minha tia era mais velha. Apenas um ano, mas era mais velha... tinha se tornado auror, e estava morando conosco pra nos proteger caso alguém tentasse invadir a casa. – Continuou. – Naquela noite, ela recebeu uma coruja dizendo que tinha uma emergência que ela tinha que resolver, e ela saiu correndo. Eles não demoraram muito pra chegar, depois disso.

– Era uma armadilha?

– Sim. A pessoa que mandou a coruja estava sob a maldição Imperius, assim que minha tia percebeu, voltou pra casa correndo, mas... já era tarde demais... – Engoliu em seco. – Eu me lembro claramente de estar na cozinha com minha mãe, ela estava me dando de comer, e de repente, ela me pegou no colo e começou a correr.

Eleanor conseguia imaginar claramente os eventos que Helena descrevia.

– Quando chegamos no meu quarto, teve um estrondo muito alto no andar de baixo, e ela mandou eu me esconder embaixo da minha cama. Disse pra eu não sair por nada, nem se for alguém conhecido... me fez prometer, e eu obedeci. – Engoliu em seco, e tentava esconder os olhos marejados. – Assim que ela levantou, eu escutei eles chegando no corredor. Eram quatro. Disseram pra não deixar testemunhas... um deles falou pra não pouparem "a criança". Minha tia diz que viram fotos minhas espalhadas pela casa. Minha mãe ficou encurralada, não tinha como sair do meu quarto sem ser vista, e a casa era muito alta pra sairmos pela janela.

Parou por alguns segundos para respirar fundo, e Eleanor a deu o tempo que precisava. Já estava fazendo o suficiente a contando o que aconteceu; não iria apressar ela.

– Dois deles entraram no meu quarto e viram minha mãe. Começaram á perguntar onde eu estava, porque sabiam que tinha uma criança, e minha mãe disse que minha tia tinha me levado junto com ela pro Ministério. Que ela fazia isso sempre que tinha uma emergência, para casos como esse. Um deles não acreditou... queria revistar o resto da casa, e tentou andar em direção até minha cama, mas minha mãe entrou na frente dele. – Sua respiração pareceu ficar escassa. – ...mataram minha mãe ali mesmo. Sem cerimônia... sem nada... só mataram. Ela caiu em frente pra onde eu estava, eu lembro claramente de ver o cabelo dela caído no chão... o rosto dela virado pro outro lado...

Uma lágrima escapou dos olhos dela, mas a ruiva rapidamente secou, como se nada tivesse acontecido.

– O Comensal que não acreditou na minha mãe continuou querendo revistar a casa, dizendo que sabia que eu ainda estava por lá, mas o outro disse pra esquecer. Que eu era nova demais pra lembrar de qualquer coisa. – Deu uma risada forçada. – Acho que ele errou, não é? Eu lembrei...

Eleanor sentia um peso em seus ombros. Era uma história horrível, e ela sequer conseguia imaginar metade de como Helena se sentia.

– Eles foram embora uns vinte minutos depois... ficaram esperando minha tia voltar, mas algo aconteceu que os fez voltar. Disseram que "Ele estava chamando". Mas eu obedeci minha mãe... continuei embaixo da cama, escondida, sem fazer um barulhinho sequer. – Contou. – O corpo dela de frente pra mim. Eu queria sair... tentar acordar ela... mas ela me fez prometer que eu não ia sair. E eu levava as promessas muito á sério... nem quando minha tia chegou, eu saí. Minha mãe disse para eu não sair nem se fosse alguém conhecido, afinal... e eu fiquei lá, por horas.

– E sua tia?

– Ela voltou algumas horas depois. Lembro até hoje do choro dela quando entrou em casa... não sei onde ela encontrou meu pai, mas escutei ela gritando o nome dele e, logo depois, subir as escadas gritando o da minha mãe. – Contou, fungando. – Quando ela viu minha mãe, no meu quarto, ficou alguns segundos parada. Não sei se chorando... não consegui ver o rosto dela, só os pés... e depois saiu correndo, me chamando. Eu queria responder, mas minha mãe me mandou ficar escondida, e se eu respondesse, não estaria mais escondida... fiquei o tempo todo escutando minha tia gritando meu nome e chorando, e eu acho que ela desistiu depois de um tempo, porque ficou em silêncio e se ajoelhou do lado do corpo da minha mãe e ficou chorando.

Ela tinha a imaginação fértil o suficiente pra conseguir ver claramente Georgia ajoelhada ao lado do corpo de uma mulher ruiva, chorando. Sua irmã mais nova, e agora estava morta. E Helena estava escondida, vendo tudo... a ruína de sua família, com apenas três anos... e se lembrava de tudo.

– Ela só me viu quando... quando abraçou o corpo da minha mãe. Diz que viu meus olhinhos brilhando embaixo da cama. Ela tentou me puxar, mas eu me encolhi... não queria que ninguém me tirasse dali. Minha mãe tinha mandado eu ficar, e eu iria ficar... – Sua voz se embargou. – Acho que eu esperava que ela se levantasse e me dissesse que eu podia sair do esconderijo. Mas minha tia disse que ela não ia levantar, e que nós precisávamos sair dali... ela tentou me convencer por um bom tempo, até eu aceitar. Quando saí de baixo da cama, ela me pegou no colo e cobriu meu rosto com um cobertor. Acho que não queria que eu visse mais nada... acabei dormindo no colo dela, e acordei na casa de uma amiga da minha tia. Não me lembro quem era, só lembro que eram só ela e minha tia.

Por alguns segundos, Eleanor ficou em silêncio, se perguntando se ela tinha mais algo para dizer.

– Não me lembro de mais muita coisa. Elas só me fizeram muitas perguntas, e eu não soube responder nenhuma delas. – Deu de ombros. – O resto é só um borrão... um tempo depois, me mostraram fotos de algumas pessoas, me pedindo para dizer se algum deles era parte do grupo que invadiu minha casa, mas eles não entendiam que eu não vi o rosto deles... e eu não lembrava...

Ela balançou a cabeça, mostrando que estava ouvindo e a entendia.

– Bem... é isso... – Suspirou. – Agora você sabe o que aconteceu com meus pais. – Forçou um sorriso, mesmo que uma lágrima escorresse por seu rosto.

– Elle, eu... – Eleanor gaguejou, sem saber encontrar as palavras certas. – ...eu sinto muito. Eu nunca imaginei que fosse... ser isso.

– Que bom, né? Significa que eu não aparento ser meio traumatizada. – Riu pelo nariz, sorrindo, mas seus olhos continuavam tristes. – Quando minha tia me contou sobre a Ordem da Fênix, achei que vindo pra cá, iria me sentir mais próxima deles, mas acho que... não sei... não senti.

– Tenho certeza de que eles estariam orgulhosos por você estar do lado certo.

– Contra a mesma pessoa. – Levantou as sobrancelhas. – ...como pode esse filho da puta ter voltado, El? Era pra ele estar morto...

– Eu não sei. – Negou com a cabeça, suspirando. – Seja lá o que for, precisamos descobrir o que é, antes que consigamos derrotar ele de novo, e ele volte 14 anos depois.

– Eu me mudo pra Suécia. – Fez careta, e Eleanor riu baixo. – Precisa fazer outro nó quando acaba a pulseira, não é? Pra ficar redondinho. – Mudou de assunto.

– Sim, quer que eu faça? – Estendeu a mão pra ela, mas a ruiva negou com a cabeça, franzindo o cenho, concentrada, enquanto tentava dar o nó. Quando acabou, exclamou "Aha!".

– Acabei! – Estendeu as mãos, segurando uma pulseira amarela e preta. – Entendeu? Porque você é da Lufa-lufa!

Eleanor a encarou por alguns segundos antes de sorrir, balançando a cabeça.

– Ficou realmente muito boa. – Balançou a cabeça. – Você é natural nisso.

– Ah, você sabe, quando se nasce com o dom... – Jogou o cabelo, sorrindo também. – Vai, dá a mão! Você tem que usar!

Eleanor, sem questionar, estendeu a mão para ela, que deslizou a pulseira por seu punho. Ficou pensativa; Helena havia confiado nela algo extremamente pessoal, pois sabia que ela não contaria. Havia se oferecido para fazer companhia para ela, mesmo sabendo dos pesadelos, e a fez companhia até mesmo na consulta no St. Mungus. Sentia como se ela tivesse feito muitas coisas por ela, e Eleanor não havia retribuído de forma alguma.

Achava que Harry era a única pessoa com quem ela podia confiar, em relação á saber sobre sua tortura, mas talvez, devesse dar um salto de fé com Helena. Afinal, Zahi havia dito que algumas cruzes são pesadas demais para serem carregadas sozinhas, e Helena parecia disposta á ajudar com isso.

Disfarçando, puxou a caixa de miçangas para si mesma. Mediu o braço de Helena e, silenciosamente, cortou o nylon, amarrou um pequeno nó na ponta dele e começou á montar sua própria pulseira.

– Lucius Malfoy. – Disse, cortando o silêncio pesado que se fez no quarto. Helena ergueu o olhar pra ela, confusa.

– O que tem ele?

– Foi ele. – Engoliu em seco. – Meu torturador.

Helena demorou alguns segundos para processar a informação. Seu olhar foi de confusão para raiva.

– Desgraçado! – Deu um salto da cama. – Você está brincando, não está?

– Não...

– Eu mato ele! – Balançou a cabeça freneticamente. – Ele, o filho dele, e a esposa! Esse desgraçado mentiroso... disse que estava sendo controlado pela maldição Imperius... mentiroso!

– Eu sei...

– Sinto muito... não quis te interromper. – Suspirou, se sentando de volta na cama.

Forçando um sorriso, ficou mais alguns segundos em silêncio, tentando reunir suas forças para contar toda a história para ela. Não apenas para retribuir toda a confiança que Helena depositou nela, e também pois achava que aquilo a ajudaria á melhorar. E ela queria melhorar.

Passou os próximos vinte minutos a contando toda a história; tudo que viu no cemitério. Era sua primeira vez relembrando toda aquela noite com todos os detalhes, e Helena deixava tudo mais leve com as piadas que fazia á cada pausa que Eleanor dava.

No final da história, Helena ficou boquiaberta. Parecia não conseguir pensar em mais nenhum comentário sarcástico ou alguma piada para amenizar a tensão.

– Sinto muito por ele ter feito isso com você, El. – Ela suspirou. – É uma merda... você não mereceu...

– Ninguém merece isso. – Negou com a cabeça.

– Ele merece. – Franziu o cenho. – Todos aqueles Comensais... viram tudo e não falaram nada... você tem quinze anos!

– Ah, acredite em mim, eles são capazes de bem mais. – Balançou a cabeça. – Queriam matar Harry, com um ano, não é? E queriam te matar, com três... torturar uma garota de quinze é apenas uma quarta-feira normal pra eles.

– É surreal pensar que estamos indo no mesmo caminho de antes. – Suspirou. – A mesma coisa que meus pais viveram... como se nada que eles fizeram antes tivesse valido á pena.

– Mas valeu. – Afirmou. – Precisamos acreditar que valeu. Se não tivermos otimismo... esperança... o que mais teremos?

– ...tem razão. – Assentiu.

– Acabei. – Estendeu uma pulseira na direção dela. Uma pulseira verde e preta. – Entendeu? Porque você é da Sonserina. – Sorriu de lado, imitando a frase dita por ela antes.

– Incrível! – Exclamou, estendendo o pulso pra ela. Eleanor rapidamente colocou a pulseira no pulso dela. – Agora, temos pulseiras combinando! – Enrugou o nariz.

– Acho que não ficou tão ruim, não é? – Colocou o pulso ao lado do dela, olhando as duas pulseiras.

– Não mesmo! – Negou com a cabeça, rindo. – É uma pulseira da amizade. – Fez careta.

– Pulseiras da amizade não deveriam ser iguais?

– ...você entendeu. – Deu de ombros.

De repente, Eleanor não se sentia tão sozinha.



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