Camélia
Camélia bebeu quase toda a água em um gole só, já estava se sentindo um pouco mais calma, Klaus ainda a encarava com um semblante preocupado.
- O que está acontecendo Mélia?
Mas no momento em que ela ia responder, uma voz doce e suave fez se ouvir.
- Klaus? Quem está aí?
Uma feérica apareceu, estava apoiada no batente da porta do quarto. Camélia reconheceu como sendo a mãe de Klaus, ela nunca havia sido muito próxima da mãe dele, mas com certeza era ela, Camélia se lembrava da mulher gentil que a recebeu nas poucas vezes que visitou a casa do amigo. Mas a mulher estava diferente, o rosto que uma vez fora corado, com as maçãs do rosto proeminentes estava um tanto pálido, sem cor.
Ela estava tão magra, pensou Camélia.
Usava uma leve camisola branca, que seguia até os pés, descalços, o que indicava que a mulher provavelmente havia acabado de sair da cama, se apoiava na madeira da porta com certa dificuldade.
- Mãe, eu falei para a senhora não se levantar.
Ele rapidamente vai ao encontro da mulher, ela se apoia com dificuldade no ombro do filho.
- Vem eu te ajudo - com cuidado Klaus levou sua mãe de volta para o quarto.
Camélia estava completamente surpresa, o amigo nunca comentou sobre o estado de saúda da mãe, a ruiva não sabia nem que ela estava doente, e pelo estado que se encontrava parecia ser algo grave.
- Klaus...sua mãe ela...porque não me contou?
Ele expressava um semblante cansado enquanto se acomodava no sofá ao lado dela.
- Eu não sei, acho que não queria preocupar vocês, além disso ela não estava tão ruim, ficou pior essas últimas semanas.
Camélia queria perguntar o que a mulher tinha, queria saber se havia alguma coisa que ela pudesse fazer para ajudar, mas antes que pudesse falar, Klaus começou:
- Mas e você? Vai me contar o que está acontecendo?
Silêncio.
Derrepente pareceu errado falar sobre aquilo com Klaus, claramente o amigo também estava com problemas, Camélia corou, por que ela estava lá mesmo? Queria um ombro amigo para chorar? Veio pedir um lugar para ficar?
- Camélia, por acaso eles não fizeram nada....
- Não - ela rapidamente interrompeu o amigo - A corte noturna não fez nada, fui eu.
Depois de uma longa pausa, ela resolveu contar toda a história.
Rhysand
Assim que Azriel e Camélia sumiram em meio as sombras, a sala havia caído em um completo silêncio, ninguém ali parecia saber o que falar ou fazer. Rhysand arriscou um olhar para seu filho, mas o mesmo já havia dado as costas para o círculo íntimo, e subia as escadas com uma rapidez impressionante até mesmo para os Feéricos.
- Nossa - exclamou Cassian ainda estupefato - que merda acabou de acontecer aqui?
" Será que eles brigaram? "
Feyre perguntou pelo laço.
" Eu vou falar com ele "
Foi a última coisa que disse para sua parceira antes de seguir para o andar de cima.
A porta do quarto de Ray estava meio aberta, pode ver o filho sentado na cama, com a cabeça baixa entre as mãos.
Rhysand ponderou se não era melhor voltar mais tarde, deixar Ray ter esse tempo sozinho, mas agora era tarde de mais, porque o herdeiro de Velaris se virou para encarar a porta.
- Mélia eu...- parou no mesmo instante em que percebeu que não era Camélia que estava lá - Ah, foi mal pai.
Rhysand observou a expressão transtornada e as lágrimas do filho, uma pontada horrível surgiu em seu peito, ele quis instantaneamente abraça-lo, se Rhys pudesse, pegaria toda a tristeza que o filho estava sentindo e passaria para ele mesmo.
- E-eu não entendo - Murmurou Raysand - Pensei que ela estava feliz aqui, pensei que estava feliz comigo.
Rhysand não suportava ver o filho naquele estado, e sinceramente, ele mesmo não havia entendido o motivo de Camélia ter aquela reação. A convivência estava se saindo até melhor do que ele esperava, Mélia conquistou todos alí, foi incrível ver o modo como Azriel conversava facilmente com ela, e em todos esses anos, Rhysand sabia que seu irmão era uma pessoa difícil de se abrir para qualquer um, mas Camélia parecia ter algo que quebrasse as barreiras do encantador de sombras, os dois conversavam por horas, seja lá sobre o que. Cassian não se cansava de elogiar a ruiva, falava sobre como ela aprendia as técnicas de combate rápido, e de como ela possuía uma alto disciplina incrível. Mor e Elain haviam praticamente adotado a garota, Nesta e Amren, embora fossem um pouco mais frias e indiferentes adoravam o jeito afrontoso com o qual Camélia as enfrentava, nunca abaixando a cabeça....ele confessa que estava receoso quando Raysand contou que sua parceira era filha de Tamlin, e sabia que sua Feyre possuía o mesmo sentimento, não era mágoa ou raiva, era medo, medo de que Raysand sofresse com um laço de parceria que nunca daria certo, medo de que Tamlin fizesse algo contra o filho deles, mas também sabia que Ray não iria desistir, soube no momento em que Raysand entrou por aquela porta e contou a história de como a encontrou, todo o encanto e carinho com o qual falava de Camélia, mesmo sem nem a conhecer direito, Rhys voltou para o dia em que encontrou Feyre na corte primaveril.
Ele podia imaginar a angústia que o filho estava sentindo, então sem mais enrolação puxou Ray para um abraço.
- Nós estávamos bem, e derrepente ela veio com uma conversa sobre não estarmos dando certo - Raysand parecia falar mais para si mesmo do que para o pai - Ela não é feliz comigo pai.
A cada lamento do filho Rhysand se sentia mais angustiado, havia algo nessa história que não fazia o menor sentido. Raysand se virou para ele, com as lágrimas ainda escorrendo.
- Nós somos parceiros, era pra ela me amar né? Era pra ser um amor leve, fácil, igual o seu e o da mãe.
- Nem sempre meu amor com a sua mãe foi fácil e leve Ray - Murmurou Rhys, lembrando do início de sua relação com Feyre, de como um dia ele realmente chegou a acreditar que ela nunca seria capaz de ama-lo.
- Você entendeu o que eu quis dizer - choramingou Raysand - estou falando de que depois de vocês aceitarem a parceria, sempre foram o porto seguro um do outro. Ela nunca disse que sentia vergonha e nojo de você por exemplo.
O tom de Ray com essas últimas palavras era de pura mágoa, e ele estava certo, Feyre jamais havia dito algo que chegasse perto daquilo, ele também não saberia dizer como reagiria se ouvisse tais palavras da boca de sua parceira, não podia nem imaginar o quanto o coração de Raysand estava quebrado, apertou ainda mais o abraço com o filho.
Rhysand deixou Ray sozinho em seu quarto, quando desceu para a sala todos pareciam ter arranjado algo para fazer, ninguém a não ser Feyre estava lá.
- Como ele está? - perguntou preocupada - Eu vou vê-lo.
Rhys puxou delicadamente sua parceira pela cintura.
- Deixe ele sozinho, não acho que ele queira falar com ninguém agora.
Feyre aceitou relutante.
- Ele te contou o que aconteceu pelo menos?
Rhysand explicou para ela que, segundo Raysand, não havia acontecido nada, Camélia simplesmente havia resolvido de uma hora para outra, que não queria mais ficar ali.
- Mas isso não faz o menor sentido Rhys - exclamou a grã senhora - Eles pareciam bem, quer dizer, levando em conta o barulho que fizeram na corte invernal.
Rhysand não resistiu e acabou soltando uma risada diante do comentário de Feyre, e realmente, digamos que seu filho e a parceira fizeram um certo barulho na noite que passaram na corte invernal, do tipo que Rhysand teve que colocar um escudo a prova de som ao redor do quarto dele e de Feyre.
- Tem alguma coisa muito errada nessa história - disse ela.
Camélia
Klaus estava estático na frente dela já fazia uns três minutos, Mélia havia acabado de contar sobre toda a história da maldição, e a falta de reação do amigo já estava a deixando preocupada.
- Pelo caldeirão Klaus - exclamou sem paciência - Fale alguma coisa.
- E-eu não sei o que falar.
O garoto se levantou a sua frente, passando ao mãos pelo cabelo castanho, num gesto impaciente e desesperado.
- Está me dizendo que você e aquele idiota do Raysand - ela lançou um olhar repreendendo o modo como ele se referia a Ray, mas Klaus claramente ignorou - carregam uma maldição antiga, que seus ancestrais acabaram se envolvendo com a Tecelã, ela lançou essa maldição, e agora ela aflige geração por geração da família de vocês?
- É - ela respondeu, revirando os olhos - Você não ouviu nada do que eu acabei de explicar?
- A me desculpa se eu estou levemente chocado com essa notícia - disse num tom irônico- O que vai fazer agora?
- Eu já fiz - ela respondeu.
- O que você fez?
Ela suspirou fundo, ainda lembrando da discussão que teve na corte noturna.
- Acabei tudo, terminei com Raysand, fui embora de Velaris. Pra sempre.
Klaus parecia ainda mais chocado, se é que isso era possível.
- Mas Mélia, você não pode fazer isso, você ama Raysand.
- É justamente por isso Klaus - o tom da ruiva agora era alto e angustiante - Eu amo ele, preciso deixar Raysand fora dessa confusão, não posso ariscar a vida do meu parceiro, nem a de ninguém.
Klaus parecia finalmente mais calmo, seu olhar deixou de ser desesperado e surpreso, e agora uma leve tristeza passava por eles.
Ele puxou Camélia em seus braços, num abraço apertado.
- Eu sinto muito Mélia, pretende voltar para casa do seu pai?
Se desvencilhou dos braços do amigo, Camélia não tinha pensado sobre isso ainda, sabia que não queria voltar para casa de Tamlin, isso estava fora de cogitação.
Negou com um movimento de cabeça, Klaus esboçou um sorriso leve.
- Então acho que vou colocar um colchão a mais no meu quarto hoje.
Não queria dar mais trabalho a Klaus, ela ficaria o menor tempo possível, só até conseguir um emprego por ali, e poder pagar algum lugar para ficar.
- Obrigada - devolveu o sorriso gentil para o amigo.
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