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História Corte de Sombras e Sonhos - A Máscara


Escrita por: lisacampos

Capítulo 15 - A Máscara


Fanfic / Fanfiction Corte de Sombras e Sonhos - A Máscara

— Eu deveria ir com vocês — disse Rhys a Davina, enquanto so pequeno grupo se reunia no saguão da Casa do Rio, na manhã seguinte.

Os cabelos cor de avelã de Dav estavam presos em uma trança e ela usava um uniforme de couro illyriano com mangas e as asas expostas, semelhante ao que Nesta e Cassian vestiam. Duas armas pesavam no coldre em sua cintura - uma adaga e uma pequena espada. Ela nunca gostara de armas pesadas, achava que atrapalhavam a sua agilidade, além disso, não gostava do metal frio de muitas armas contra sua pele. Cassian por exemplo, trazia quatro faças em seu cinto e duas espadas nas suas costas. Somente os deuses sabiam quantas outras ele tinha escondidas pelo seu corpo.

 — Nós deveriamos ir com vocês — Feyre sorriu para a cunhada e passou a. mão gentilmente pela barriga — Mas pelo menos Azriel estará lá.

“O que?” pensou Davina. Eles tinham esquecido de mencionar aquele pequeno detalhe para ela. Provavelmente teria sido decidido de última hora, mas não deixava de ser um incômodo. Bem, pelo menos eles estariam procurando um artefato mágico em uma das regiões mais perigosas do reino feérico, isso seria bom para quebrar o gelo, não?

 — Obrigado pela confiança — disse Cassian, ironicamente, ao beijar a bochecha de Feyre. Rhys tinha baixado o escudo ao redor da parceira – pelo menos por enquanto.

— Ele vai encontra-los lá — Rhys completou, ignorando o comentário do amigo e lhe dando um aperto de mão.

— Nós ficaremos bem. Vocês vão piscar e já teremos voltado. — Dav se aproximou do irmão, lhe dando um demorado abraço. Ela queria tranquiliza-lo o máximo possível quanto a essa missão, ele já tinha coisas demais com as quais se preocupar.

Nesta, parada um tanto afastada apenas alternava o olhar entre o Grão-Senhor, a irmã dele, Feyre e o general. Eles estavam prestes a se aventurar em um antigo pântano letal e nenhum dos outros parecia tão perturbado quanto ela. Ela fez uma careta e Davina ofereceu a ela um leve sorriso.  

— Vamos? — a morena inquiriu, oferecendo um braço para Cassian e o outro para a Archeron mais velha. Nesta olhou escada acima, onde Elain tinha rapidamente passado em um vestido lilás, mas não estava mais lá.

— Eu não gosto disso — Feyre deixou escapar, dando um passo na direção da irmã — Você não teve treinamento suficiente. 

— Ela terá dois guerreiros illyrianos e a princesa da Corte-Noturna a protegendo — Cass sorriu e piscou para Davina —  O que poderia dar errado?

— Não o responda — disse Rhysand, tomando o braço de sua companheira, revirando os olhos e arrancando uma risadinha de Cass.

No mesmo instante, os outros dois tomaram o braço de Dav que, para não lhes dar chance de trocar mais palavras ou se arrepender, atravessou com seus poderes para o Meio. De repente, eles chegaram em um lugar de luz cinza e aquosa.  O ar era pesado, com cheiro de água corrente, mofo e terra argilosa. Nenhuma corrente de vento se movia ao redor deles; nem mesmo uma brisa.  

— Bom, parece que Az ainda não chegou — Cassian pontuou, soltando a mão da morena, assim como Nesta fez.

Davina nunca tinha visto um lugar tão morto. Já tinha ouvido histórias sobre Oorid, claro, e sobre os monstros que ali habitavam. Mas nunca imaginara que realmente fosse visita-lo algum dia em sua vida. Ela não conseguiu conter um arrepio, algo lhe dizia que era errado estar ali. Os três silenciosamente examinaram o terreno baldio. A água era mais negra que o céu noturno e a parte rasa estava poucos metros de distância, onde o líquido escuro encontrava a grama marrom.  Árvores mortas e cinzentas se projetavam como lanças, emergindo de certas partes do pântano, mas nenhuma folha em seus galhos.

— Nenhum inseto — observou Dav — Nem um pássaro sequer.  

— Este é um lugar sombrio — a voz de Azriel penetrou os ouvidos dela, conforme ele aparecia na frente do trio, completamente envolvido por sombras. Seus olhares se cruzaram até que a fêmea desviou — Nenhum animal sobreviveria.

— Que tipo de criatura mora aqui? — Nesta inquiriu, antes que qualquer um dos dois pudesse dizer alguma coisa.

— Você decidiu perguntar isso agora? — disse Cassian, com as sobrancelhas erguidas.  Ele e Azriel usavam suas armaduras mais grossas, convocadas pelo as pedras nas costas de cada mão, além dos outros cinco Sifões espalhados pelo resto do corpo, o que era raro.

— Eu estava com medo de perguntar antes, não queria perder a coragem.

— Coisas que caçam na água e se deliciam com carne feérica e humana — explicou Azriel, o corpo completamente tenso e pronto para atacar.

— Faz muito tempo que ninguém vê um Kelpie — rebateu Cassian. Davina permaneciam calada, em parte porque não sabia o que dizer, mas também porque estava atenta demais àquele perigoso silencio do local.

— Isso não significa que eles se foram.

— O que é um Kelpie? — a Archeron perguntou, o coração batendo forte com nervosismo gravado em seu rosto.  

— Uma criatura antiga - um dos primeiros verdadeiros monstros feéricos — falou Cass — Os humanos os chamavam por outros nomes: cavalos d’água, Nixies. Eles eram metamórfos que moravam nos lagos e rios e atraíam pessoas para seus braços.  Eles os afogavam e só a Mãe sabe o que faziam com seus corpos, mas desapareceram há centenas de anos antes de nascermos.

— Só não saia correndo atrás de um lindo cavalo branco ou de um jovem de rosto bonito e você ficará bem — esclareceu Az com ironia — E fiquem fora da água. 

Cassian então esticou as asas e pegou Nesta em seu colo, decolando para os céus e sendo seguido por Dav e Az. A fêmea tentava ficar na frente do encantador de sombras, para se poupar de ter que ficar olhando para ele, ainda que tentasse passar naturalidade. Fingir que nada aconteceu, sim, era a melhor opção. A floresta morta se espalhava abaixo deles, a água negra a inundava como um espelho de obsidiana. Estava tudo tão parado que eles podiam ver seus reflexos perfeitamente.  

— Não tenho certeza do que estou procurando — eles ouviram Nesta admitir.

— Basta manter todos os seus sentidos aguçados e ver se alguma coisa lhe chama atenção — Davina sugeriu, sentindo que o ar parecia pressionar suas asas, como se quisesse empurra-la para chão. Mas entrar naquela água negra seria o último recurso. 

Ilhas de grama pontilhavam pela extensão, algumas tão cheias de galhos, espinhos e pedras que não conseguiriam encontrar um lugar seguro para pousar.  

— Vamos ficar aqui apenas enquanto tivermos estômago para isso — disse Cassian — E se não encontrarmos nada, voltaremos amanhã e continuaremos de onde paramos. 

Então eles notaram uma nuvem de névoa pairando acima da região norte do pântano. Azriel voou mais rápido até se colocar entre Davina e Cassian assim que adentraram na neblina. Dav sentiu a névoa fria o suficiente para fazer o seu rosto arder.  De repente, ela percebeu uma movimentação estranha vinda abaixo de si, mas estava tudo embaçado que não dava para enxergar muito bem. Ao olhar para Cass, ela notou que Az não estava mais entre eles e arregalou os olhos.

— AZRIEL! — o grito de Cassian ecoou antes mesmo que ela pudesse fazer algo.

 O guerreiro começou a voar para baixo, mergulhando na névoa e Dav o seguiu, enquanto procuravam pelo amigo. O coração dela batia muito rápido, mas então eles se depararam com Az enfrentando um bando de soldados em uma pequena ilha de terra no meio do pântano, uma de suas asas estava com uma flecha atravessada. Davina passou a voar apressadamente na direção do chão, mas notou que Cassian ia em outra direção. 

— Onde você está indo? — ela gritou — Há duas dúzias de soldados lá em baixo!

— Vou deixa-la em um lugar seguro — ele apontou com a cabeça para Nesta em seus braços, que fechou a cara. Davina a escutou reclamar, mas eles já estavam muito afastados. 

Ao chegar mais perto da ilha, ela notou que os soldados eram da Corte Outonal. Poderiam ser esses os soldados desaparecidos de Eris ou ele os tinha feito de tolos? Beron de alguma forma soubera de seus planos?  Dav voou o mais rápido que pôde, rezando para que Az continuasse conseguindo os segurar, mesmo com uma flecha em sua asa. Aquele ferimento de freixo era a única razão pela qual os soldados ainda não estavam mortos – ele não estava forte o suficiente. Dav parou de bater as asas completamente para que os guerreiros não ouvissem o seu barulho e deixou-se cair em queda livre.  Os soldados não tiveram tempo de olhar para cima, e ela pousou, seguida alguns segundos por Cassian. Assim que chocou seus pés contra o chão, Dav pegou a adaga na mão esquerda e a espada na direita, conjurando o seu poder antes que qualquer um pudesse se aproximar. Névoa negra a envolvia, deixando impossível que qualquer um a enxergasse. 

Ela hesitou um pouco, olhando ao seu redor. Az lutava contra seis soldados ao mesmo tempo, a asa esquerda meio caída e sangrando e seus Sifões azuis brilhavam fraco, como consequência da flecha de freixo que tinha tornado o seu poder quase inútil. Cassian lutava do outro lado, derrubando mais adversários a cada segundo, mas eles estavam em clara desvantagem. Com passos ágeis e manipulando a luz ao seu redor para nãos ser vista, Davina se esquivou, surpreendendo os soldados por trás, quando subitamente, foi tomada por um instinto. Algo intenso, algo mais forte que ela e e que a fez se sentir bem. A morena avançou, gostando de todo aquele poder e das pequenas vitorias que tinha sobre cada soldado. Foi tudo tão rápido que pareceu que ela estava sonhando - que tinha perdido a sua consciência por alguns minutos. E quando se tocou, só tinham restado dois soldados de joelhos diante dos illyrianos.

Suas armaduras de couro marrom traziam a insígnia de Eris no peito: dois cães latindo. Eles poderiam ter sido enviados pelo próprio Eris, por Beron ou por ambos. Até que Azriel ou Rhys pudessem obter respostas, eles não poderiam perder tempo criando teorias. Não que os soldados estivessem dispostos a dar alguma explicação. Seus rostos estavam vazios, sem nenhum traço de medo neles ou em seus cheiros.

— Amarre-os — Azriel falou para Cassian, a asa sangrando de onde ele havia arrancado a flecha. Seu irmão o obedeceu e uma luz vermelha saiu de deus Sifões, envolvendo os pulsos, mãos e bocas dos dois machos, acorrentando-os. Eles precisavam daqueles sobreviventes vivos, para confirmar as informações jogando um contra o outro.

Somente então Dav notou que os seus amigos ainda não a enxergavam. Ela imediatamente guardou o seu poder, se revelando apenas a alguns metros de onde os dois estavam. Os machos então a olharam, e ela não conseguiu deixar de notar o choque na face de Az e Cass. Seus olhos estavam direcionados a suas mãos e quando ela as olhou, finalmente percebeu o motivo. A espada e a adaga estavam cobertas de sangue, assim como seus braço. O forte cheiro metálico impregnou suas narinas e Davina deduziu que seu rosto também deveria estar sujo de rubro. E foi aí que sua ficha caiu. Ela tinha assassinado parte daqueles feéricos. Involuntariamente, as armas escorregaram de suas mãos e fizeram um baque oco ao aterrissar na terra avermelhada. 

Ela deu alguns passos para trás, sem conseguir tirar os olhos de suas palmas, sentindo lágrimas escorrendo. Fora a primeira vez que tirara a vida de alguém, e provavelmente nunca esqueceria. Dav apenas desviou os olhos quando notou Azriel dar um passo em sua direção, mas parando ao soltar um baixo resmungo de dor pela ferida em sua asa.

— Eu estou bem — ela engoliu em seco, enxugando as lágrimas e pegando as armas rapidamente no chão. Fora treinada para isso, não deveria estar tão impactada. Mas passaria, talvez não agora, mas sabia que ficaria bem. Todos os amigos tinham ficado, não é mesmo? A morena soltou um pequeno suspirou ao guardar as lâminas de volta no lugar.

— Precisamos sair daqui — a voz de Az estava cansada o suficiente para indicar que seu machucado doía bastante — Podem haver mais deles.

Foi como se Cassian tivesse levado um soco na cara. Ele tinha deixado Nesta em uma árvore e se esquecera completamente. O guerreiro se lançou em direção ao céu, sem esperar os amigos ou ver se Az poderia acompanha-lo. Davina e Azriel o seguiram até uma extensão de grama, melhor do que uma ilha. Em uma ilha, Nes teria ficado presa. Escuridão se erguia atrás deles, a confirmação de que Az conjurou as suas sombras para esconder os dois prisioneiros, apesar de voar com um pouco de dificuldade. Cassian rastreou Nesta pelo cheiro de volta até a grande árvore na qual tinha a deixado, mas ela não estava lá. Ele pairou em enquanto examinava as árvores ao redor e o solo.

— NESTA! — Cass gritou ao cair na terra, rastreando-a por toda a área.

— Eu não a vejo — comentou Azriel, assim que pousou ao seu lado com Dav atrás de si. A água permanecia parada como um vidro preto, nem uma ondulação sequer. Havia uma ilha, no entanto, a 5 metros de distância – será que ela tinha ido para lá? Cassian não conseguia respirar e nem pensar direito com a possibilidade.

Eles rastrearam o cheiro da Archeron até a beira da água - seu cheiro e um pouco de urina. “Pelo Caldeirão!” pensou Dav, Nesta tinha visto algo tão terrível que fez xixi nas calças e agora estava debaixo da água. Ela e Cass mergulharam até a cintura na água escura, sem conseguir ver seus próprios quadris abaixo dela, enquanto mexiam as mãos procurando por qualquer pista. Azriel pairava acima deles, escaneando a região para ver se achava algo também. Cassian se lançou ainda mais para frente e apenas a mão de Az na gola de sua armadura, que entrou na agua rapidamente ao ver o que o amigo pretendia fazer, o deteve. 

— Olhe — o encatador de sombras murmurou e os outros olharam para onde ele apontava, mais a frente. 

A superfície estava se mexendo, a água ondulava com uma luz dourada brilhando abaixo. Cassian saltou em direção a ela, mas Az o deteve novamente, seus Sifões brilhando azuis.  De repente, lanças surgiram na superfície. Como uma floresta surgindo da água, lança após lança, ermergiu.  Em seguida, capacetes pingando água, alguns enferrujados, outros brilhando, mas todos sobre caveiras. 

— Que a Mãe nos salve — Az sussurrou, puro terror em sua voz enquanto os mortos se erguiam das profundezas do pântano. Uma legião deles. 

E então, como se erguida em um pilar debaixo d’água,  Nesta apareceu com uma máscara dourada em no rosto.  Ela era reluzente, mas gravada com runas e padrões tão antigos que haviam perdido todo o seu significado.  Seu cabelo estava solto, suas roupas rasgadas e em suas mãos, havia uma cabeça de Kelpie.  

— Pelos deuses sagrados — Davina respirou fundo e involuntariamente buscou a mão de Azriel ao seu lado esquerdo, a segurando com força. Os mortos ficaram imóveis, um exército pronto para atacar, apenas esperando a ordem. A vontade de Nesta era a vontade deles. 

Um poder frio ondulou em direção aos três guerreiros e eles fizeram a única coisa que podiam fazer naquele situação, - porque enfrentar a Máscara seria enfrentar a própria Morte - eles se curvaram. Com o peito afundado na água, não podiam se inclinar muito, mas abaixaram a cabeça até que seus rostos quase tocassem a superfície. Cassian ergueu os olhos enquanto mantinha a posição e observava o reflexo dourado da máscara dançar sobre a água. E então, de súbito, Nesta arrancou a máscara de seu rosto e os mortos desabaram sob a superfície negra ao mesmo tempo que ela própria afundou.

Cassian nadou rapidamente, a tomando em seu braços antes que se afogasse, a Máscara firmemente presa entre os dedos da fêmea. Ele a carregou para fora, observando seu rosto arranhado e seus olhos fracos. 

— Vamos dar o fora daqui — o general disse, sua a voz sombria e uma expressão indecifrável na face que Dav arriscaria dizer ser um misto de terror e preocupação. 



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