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História Corte de Sombras e Sonhos - Pesadelos


Escrita por: lisacampos

Capítulo 6 - Pesadelos


Fanfic / Fanfiction Corte de Sombras e Sonhos - Pesadelos

— Ugh — Davina escutou Cassian resmungar enquanto ele entrava pela janela da sala de jantar da Casa do Vento, dobrando suas asas e todo encharcado.

Já estava anoitecendo e Dav se encontrava sentada diante da mesa com um livro vermelho de capa dura em mãos enquanto esperava os amigos chegarem para o jantar. O livro era daqueles romances clichês, exatamente do tipo que ela gostava. Talvez porque passará trezentos anos em uma torre e sua única companhia de verdade eram os livros que ele conseguia. Talvez porque, apesar de já ter vivenciado tanto, ela também não tinha vivido praticamente nada e aquilo a assustava. Nunca tinha se apaixonado, nunca tinha saído para beber com os amigos, nunca tinha viajado com para outras Cortes ou para outros reinos, mas quando lia, parecia que tinha vivido cem vidas em uma.

— Dia ruim? — inquiriu Dav, fechando o livro e o apoiando ao seu lado sobre a mesa. O macho apenas assentiu com a cabeça, ainda parado com uma poça de água se formando ao seus pés. O que a manhã tinha tido de bonita, a tarde tinha de chuvosa e feia. A fêmea encarou o amigo e apenas estalou seus dedos, o secando imediatamente com seus poderes Grão-feéricos.

— Sempre esqueço que vocês podem fazer isso — Cass abriu um pequeno sorriso, caminhando em sua direção e depositando um beijo em sua cabeça — Obrigado — a morena simplesmente sorriu em resposta.

Ele então puxou a cadeira ao lado dela e sentou-se suspirando e a comida imediatamente surgiu em cima da mesa.

— Az vai chegar tarde hoje — o moreno explicou, já começando a servir-se — Rhys disse que ele mandou não esperarmos.

— Certo — Dav também pegou seu prato e colocou nele um pouco de comida — Como foi o primeiro dia de treino?

— Péssimo, se você sequer puder chamar de treino Nesta sentada em uma pedra a manhã inteira se recusando a se levantar — Cassian disse e a fêmea pôde notar a frustração em sua voz.

Ela conhecia Cass bem o suficiente para saber que ele se importava com Nesta. Ela ficará sabendo do que houve entre eles no final da guerra de Hybern. E sabia que ele se chateava porque tudo que queria era conseguir puxar a feérica daquele buraco que ela mesma tinha cavado.

— Continue tentando — ela disse, largando seus talheres e segurando no braço do amigo — Mais cedo ou mais tarde ela não vai conseguir resistir aos seus encantos — a morena brincou, fazendo com que Cassian solta-se uma leve risada.

— Que bom que está aqui, Espertinha — ele a olhou de canto de olho e sorriu. Davina nao tinha certeza se com “aqui” ele se referia à Casa do Vento ou a Velaris, mas qualquer resposta lhe bastava. Sorrindo, ela se debruçou pela frente, pegando a taça de cristal que logo se encheu magicamente de vinho.

— Eu proponho um brinde — ela estendeu o copo na direção de Cass, que também pegou o seu.

— De vinho? — ele a pirraçou, olhando para o copo de Dav, que apenas revirou os olhos — É só que as vezes eu olho para você e ainda vejo aquela garotinha que quase incendiou a casa da sua mãe em Windhaven porque tinha medo de dormir no escuro e tentou ascender à lareira sozinha.

— Eu posso lhe garantir que não sou mais uma garotinha — Davina disse inocentemente enquanto apoiava um de seus braços na mesa, mas depois percebendo como aquela frase tinha saído da maneira errada quando Cassian ergueu uma de suas sobrancelhas — Eu não tenho mais medo de escuro — ela acrescentou. Eles se encararam por algum tempo e Dav sentiu o ar ao seu redor se aquecer.

— E seu brinde? — o general mudou de assunto, se endireitando na cadeira e se afastando um pouco.

— Ah sim — ela se lembrou, sorrindo — Ao futuro.

— Ao futuro — o macho brindou, entendendo o que ela queria dizer com aquilo. Ao futuro que eles teriam juntos. Todos eles. E por isso Cass não desistiria de Nesta tão fácil. Porque ele a queria nesse futuro. Então ele continuaria tentando quantos dia precisassem para que ela levantasse a bunda daquela pedra e viesse treinar com ele.

x x x

Mais tarde naquela noite, Dav foi na biblioteca particular da Casa para retornar o livro que ela já tinha terminado. 

— Não sabia que tinha alguém aqui — ela falou, ao se deparar com Nesta sentada em uma poltrona de couro com um livro em seu colo. A fêmea não pretendia ir embora, mas esperou um pouco para ver se a outra se importaria com a sua presença.

— Agora sabe — Nesta simplesmente respondeu, sem desviar o olhar da página. Seus cabelos castanhos claros estava presos em um coque, como da outra vez que tinham se visto, mas ao invés de um vestido ela ainda usava couro illyriano.

—  Sim, agora eu sei — a morena tentou manter o tom simpático e não se importar com a acidez na voz de Nesta. Ela conseguia entender o desgosto da outra. A Archeron odiava Rhysand e ela era sua irmã.

Davina caminhou em direção à estante de onde tinha pego o livro, aproveitando para passar os olhos pela sala. A biblioteca privada da Casa do Vento, apesar de não chegar aos pés da enormidade da biblioteca sob a montanha em que se encontravam, era consideravelmente grande. 

— Que livro está lendo? — a morena parou no meio da sala, com o objeto ainda em mãos.

— “Sob seus olhos” — ela respondeu, finalmente erguendo os seus olhos azuis acinzentados para Davina. Quando a fêmea abriu um sorrisinho, Nesta inquiriu surpresa — Você já leu?

— Foi um dos primeiros que li quando eu...voltei — Dav contou, apoiando-se em uma mesa com o braço direito — Em que parte você está?

— Quando Neryn descobre da traição — falou Nesta, perdendo um pouco da sua animosidade.

— Bom, se você está gostando desta leitura, você com certeza vai amar esse daqui — Dav lhe estendeu o livro que estava em suas mãos, mas a outra não o pegou — É sobre uma Grã-feérica da Corte Estival que tem um casamento arranjado com o Grão-Senhor invernal, mas eles se odeiam.

— Por que você está sendo legal comigo? — Nesta alternava seu olhar entre o livro a sua frente e os olhos de Davina.

— Eu preciso de um motivo?

— Todos os seus amigos me odeiam — a fêmea falou e Dav pôde detectar um certo rancor em sua voz — Por que você está sendo legal comigo? — ela repetiu.

— Bem, porque eu acho que todos nós temos um capítulo que não lemos em voz alta — a morena disse, colocando o livro na mesa de centro em frente à Nesta — Eu não posso decidir se um livro é bom ou ruim se tem partes faltando.

Davina apenas virou de costas, suspirando frustrada. No entanto, ao chegar perto da porta, ela ouviu Nesta se direcionando a ela.

— E você? — Dav parou e olhou para a feérica por cima do seu ombro. Ela parecia genuinamente curiosa — Como você superou esses capítulos?

— Eu não superei — ela sorriu, tentando transmitir verdade para Nesta — Eu ainda estou aprendendo a reler meus próprios capítulos sem sentir vontade de tocar fogo em todas as minhas páginas. Mas  pelo menos estou tentando.

Davina continuou um momento parada, esperando uma alfinetada de Nesta por ter insinuado que ela não estava se esforçando. Mas nada aconteceu. A Archeron apenas permaneceu ali, seu olhar agora preso no livro na mesa a sua frente.

— Treinar seria um bom começo — Dav aconselhou, enquanto atravessava pela porta da sala e se dirigia ao corredor.

x x x

Ao chegar no seu quarto, o corpo de Davina implorava para que ela fosse dormir. Estava tão fora de forma que tinha ficado extremamente exaurida pelo esforço físico e pela mudança de rotina. Com calma e paciência, porque todos os músculos dos seus braços e pernas doíam, Dav caminhou até o closet e vestiu uma camisola curta de cetim preto. Em seguida, ela fez sua higiene noturna e foi só encostar a cabeça no travesseiro que caiu em um sono profundo.

De repente ela não estava mais no seu grande e luxuoso quarto na Casa do Vento, mas sim na aconchegante casa de sua mãe em Windhaven. A fêmea analisava tudo com calma, não conseguia entender como tinha ido parar ali. Ela varreu a casa inteira com os olhos, mas a mesma estava vazia, sem nenhuma alma viva ou móvel. Davina se direcionou até a porta principal, girando a maçaneta e deu um passo para fora sem nem olhar. No entanto, já era tarde demais quando ela se viu afundando em uma areia movediça de um tom avermelhado. Não. Era sangue. O vilarejo inteiro estava inundado em sangue e suas pernas desciam cada vez mais que elas se esforçava para se soltar. Em questão de segundos os seus membros inferiores já haviam desaparecido e o líquido rubro estava na altura de seu umbigo. Pouco a pouco ela afundava e ninguém aparecia para socorrê-la. Chamava por Rhysand, Cassian, Azriel, Mor, mas ninguém estava lá. Logo, ela estava submergida até o pescoço e havia sangue tanto sangue ao seu redor que Davina não conseguia raciocinar direito. Suas narinas foram tomadas por aquele forte odor metálico enquanto ela se esforçava para manter a boca fechada, evitando que o líquido entrasse. E então, quando seu corpo foi submergido por completo, ela não estava mais lá.

Agora Dav se encontrava em sua cela, sentada sob o piano em uma das extremidades do espaço. O rei tinha lhe presenteado com ele no seu último aniversário. Trezentos e onze anos. Ela não sabia como ainda não tinha se perdido nas contas, afinal, todos os dias eram iguais. Mas algo no fundo do seu coração lhe dizia que essa contagem seria motivo de orgulho quando ela saísse dali. “Eu aguentei esse inferno por duzentos e noventa e oito anos. Eu fui forte. Tive que ser”. Subitamente, a porta do seu quarto foi aberta e o rei de Hybern adentrou, com uma expressão de irá em sua face que fez o corpo inteiro de Dav gelar. Ela não havia feito nada de errado, disso tinha certeza. Davina odiava o macho com todas as suas forças, mas não era burra o bastante para recusar os luxos que o homem lhe oferecia e nem os jantares para os quais era convidada. Ela queria sobreviver e aquela era a melhor maneira, ainda que ela que tivesse que se esforçar para sorrir até suas bochechas doerem e não atirar uma faca no pescoço de Soryn toda vez que ele estava por perto dela.

— O-o que houve? — ela se levantou, se aproximando mais da parede.

— O que houve?! — ele inquiriu com ironia, parando do outro lado do piano — O que houve foi que seu irmão e sua namoradinha conseguiram escapar de mim. Não sei como, mas conseguiram escapar.

O coração de Dav parou por alguns instantes. Rhys tinha estado ali no castelo. A metros de distância dela. Ela não conseguia processar aquele fato.

— E o que eu tenho a ver com isso? — a fêmea perguntou, realmente assustada. Ela não sabia do que aquele macho era capaz de fazer quando enfurecido e não queria descobrir. 

— Absolutamente nada — Soryn abriu um sorriso largo e malicioso — Mas eu estou com muita raiva e a única maneira que tenho para me vingar de Rhysand é com você.

Seu corpo gelou novamente. Não. O que ele iria fazer? Matá-la, ou pior...

— Soryn — a morena falou, terror refletia em seus olhos castanhos.

— Eu já esperei muito tempo por você, Davina — o rei se aproximou e a fêmea nem tentou fugir, aquilo somente pioraria a sua situação.

— Por favor... — ela implorou baixinho, sentindo lágrimas escorrerem no momento que o macho a segurou pelos braços.

— Você será minha por bem ou por mal — ele falou, ainda com o sorriso nos lábios e a empurrou para cama, de forma que a fêmea deixou de barriga para baixo.

Dav tentou, com todas as suas forças, tirar Soryn de cima de si, mas ele era mais alto e mais forte que ela, além de que não estava usando algemas de veneno feérico. A mão dele desceu até sua canela, puxando a barra do vestido lentamente para cima, como se para torturar Davina propositalmente. A fêmea apenas conseguia gritar e tentar se debater em meio às lágrimas, mas seu corpo já estava ficando cansado do esforço. Ela pensou que fosse vomitar quando sentiu a palma do rei passar pela parte de traz dos seus joelhos, depois por suas coxas e em seguida pela sua bunda, ficando totalmente descoberta. E então, com a mão que não a mantinha presa, Soryn rapidamente desabotoou sua calça e tirou o seu membro de dentro dela. Davina pensou que fosse morrer quando o sentiu-o roçar na sua parte de trás e tudo que pôde fazer foi fechar os olhos e esperar pelo pior. Sua virgindade, que ela esperava dar a alguém que amasse ou no mínimo por quem sentisse desejo, seria arrancada dela de maneira tão cruel que ela não sabia se conseguiria se recuperar. Ela tinha lutado tanto para sobreviver e agora seria destruída, por dentro e por fora.

De repente, Dav sentiu mãos firmes segurarem seus braços e a puxarem até que ela ficasse sentada na cama. Na cama do seus aposentos na Casa, ela percebeu ao abrir os olhos molhados pelas lágrimas. Então, ao erguer o seu olhar, Davina se deparou com Azriel a segurando com um semblante extremamente preocupado. Ela encarou por alguns segundos os olhos amendoados a sua frente, notando então a presença de Cassian ao seu lado e de Nesta parada sob o batente da porta. Todos pareciam aliviados que ela tinha acordado.

— O que aconteceu? — ela perguntou com a voz fraca, fechando os olhos ao seu lembrar dos detalhes daquele terrível pesadelo. 

— Eu acordei com alguns gritos vindos do seu quarto. Quando cheguei aqui, encontrei Az na porta e você estava se debatendo, repetindo “Não, por favor, não” — Cassian contou com pesar e Davina viu que Nesta já não estava mais ali. Azriel permanecia calado, sua expressão agora era uma máscara indecifrável.

— Eu tive um sonho ruim — ela admitiu, se cobrindo com o cobertor ao perceber que suas pernas estavam todas de fora.

— Com que frequência isso acontece? — o encantador de sombras exigiu, sério. Ele não estava mais sobre Dav, como antes, mas sim sentado na sua frente.

— Desde que eu voltei — ela falou honestamente enquanto coçava a cabeça, se sentindo envergonhada por ter acordado todos ali — Mas é só de vez em quando e isso... — a morena se referia ao que eles tinham acabado de presenciar  — Nunca tinha acontecido. Pelo menos eu acho que não.

— Nós podemos perguntar a Rhys, mas acho que ele teria comentado algo — Cass sugeriu, cobrindo a boca com uma mão ao bocejar.

— Desculpa — Davina pediu baixinho, olhando para suas mãos sobre os cobertores. Faíscas da névoa negra e reluzente do seu saiam de suas mãos.

— Ei — Az mudou de postura, erguendo delicadamente o queixo dela com o indicador. Ele ainda usava o couro illyriano, então provavelmente tinha chegado por agora — Você não tem culpa.

— É verdade. Mas se você ainda tinha medo de escuro, era só avisar que eu vinha dormir com você — Cassian brincou, passando a mão pelas suas costas e Azriel os encarou sem entender a piadinha interna. O macho de cabelos mais longos então se levantou, fazendo uma pequena reverência — Mas se me dão licença, eu vou voltar ao meu sono de beleza.

— Quer que eu fique? — Azriel inquiriu, apontando com a cabeça para a poltrona no meio do quarto que tinha visão para a cama, mas a menina negou com a cabeça. O sonho tinha lhe trazido memórias que ela tentava esquecer todo custo de forma tão vívida.. Dav duvidava que fosse conseguir dormir de novo — Por que não cancelamos o treino de amanhã? 

— Não precisa.

— Você vai estar exausta — Az concluiu, lhe dando um pequeno sorriso ao se levantar — Só não vá se acostumando, hein.

 A fêmea apenas retribuiu o gesto e o observou enquanto ele saia do quarto, virando sua cabeça para trás três vezes para checar nela até alcançar a porta e sumir, deixando Davina sozinha com seus próprios demônios.



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