Every night, I live and die
Sentada na borda, Cora via as estrelas escorrerem, como cascatas, para aquilo que chamavam de "O fim". Observava com seus olhos escuros, completamente negros e ausentes de esclera, o findar da vida.
De uma estrela para a constelação, da constelação para uma galáxia.
Tudo desaparecia, retornava e o ciclo se repetia. Apenas ela era eterna, tão solitária, que até mesmo as criaturas com os anos na casa dos zilhões tornavam-se finitas perto de sua existência. Enxergava-as indo do multicolorido ao monocromático, vagueando pelos tons de cinza até encontrar o preto.
A sua cor favorita, de longe. A ausência da vida, sua completa essência.
Foi observando os milhões de anos passarem, tão entretida, que não a viu de primeira. Notou-a tardiamente, ao longe, a milhares de anos luz de si. Cora contemplou-a, olhava a sua metade despejar a energia azul e reviver os que já tinham partido.
Era sempre assim, elas iam do preto ao azul, indo da vida a morte. Duas opostas chamadas Astral e Cora, que coexistiam e alimentavam uma à outra.
Levantando-se, a personificação da morte olhou para sua igual. Estavam condenadas a observarem-se de longe, não podendo ficar próximas para não abalar o equilíbrio. Enquanto uma engolia planetas, a outra regurgitava, devolvendo-lhes a vida. Coexistiam em meio àquele clima de Baz Luhrmann, encostando os lábios nas cascatas de estrelas e fingindo apreciar, ao sentir o calor quente dos pontos brilhantes, os lábios uma da outra.
Nunca perto demais para dar fim à existência, mas nunca longe para perderem-se de vista.
Cora, impulsionando o seu corpo, levitou devagar entre as nebulosas e parou em frente a um planeta. Na mesma posição, a anos-luz, Astral observava o seu oposto engolir vidas inteiras, mostrando o céu da boca escura; um perfeito buraco negro. Sentiu na mesma hora uma fisgada no próprio estômago, abrindo a boca e revelando o interior estrelado; quente, cheio de vida.
Impulsionou o corpo e despejou, ali mesmo, toda a natureza em volta da aura azul. No rastro podia-se ver continentes se formando, estrelas renascendo e almas retornando com uma outra roupagem. Aquilo era vida pura, no seu estado mais cru.
Astral, assim que terminou, voltou a olhar para Cora e sorriu. Fechou os olhos e imaginou-a abraçando, não podia estar mais feliz. Estes eram os momentos em que suas existências se completavam e diziam uma para a outra:
Nós somos uma só.
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