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História Crazy Little Thing Called Love - Track 1.2: Tequila em Dó Menor


Escrita por: Neotype e hyein

Notas do Autor


Ⓕ FICHA TÉCNICA
[✒] História betada por — @rainfiorest


Ⓝ NOTAS DO AUTOR
Depois de um mês, a segunda parte da fanfic está pronta a ser publicada. Vemos-nos nas notas finais!

Capítulo 2 - Track 1.2: Tequila em Dó Menor


Fanfic / Fanfiction Crazy Little Thing Called Love - Track 1.2: Tequila em Dó Menor

Como era de se esperar, a notícia da solteirice de Son Naeun levou imensos jovens pretendentes até ao departamento de letras. O campus, que era relativamente calmo, tinha ganhado um súbito interesse. A menina bonita estava solteira, a menina bonita precisava de ser cortejada. De facto, houve quem tentasse e outros que conseguiam.

Um deles foi Lee Tae-Yong, do terceiro ano do mesmo curso que Naeun. Segundo fontes, um amor de pessoa; segundo Naeun, uma pessoa mais amorosa do que aquilo que diziam. 

Ele costumava esperar por ela quando as aulas terminavam e fazia questão de a acompanhar até aos dormitórios quando os dias de Inverno encurtaram as horas do dia e do sol. Ele gostava de falar de coisas alegres e de ver as boas coisas na vida. Tinha uma queda para gestos românticos, algo a que Naeun não era completamente contra, mas também nunca tinha sido muito fã. Porém, as flores tinham o seu encanto, e as cartas com pequenas confissões que ele escondia nos bolsos do casaco dela também. Porém, depois de seis meses a saírem um com o outro, a duas semanas do final do primeiro ano de faculdade, Lee Tae-Yong e Son Naeun encontravam-se num grande impasse.
— Não está a resultar pois não? — Perguntou-lhe Naeun enquanto ajeitava a saia do seu vestido florido. Ela gostava de cores alegres quando os tempos eram de chuva. Gostava de dizer que era o seu momento de rebeldia. Yuta preferia dizer que era o seu momento de optimismo. 

— Não. — Concordou ele, pousando o seu copo de papel cheio de chocolate quente com extra de chantilly e xarope de caramelo. — Desculpa. 

— Não precisas pedir desculpa. — Pousou a sua mão sobre a dele. A verdade é que, mesmo com gestos românticos, palavras bonitas e toda uma atração inicial. Tae-Yong não era o tipo de homem que ela procurava, e Naeun não era o tipo de mulher que ele procurava. Não sentiam ter desperdiçado tempo enquanto saiam juntos. Foi só uma maneira estranha de começar uma amizade. 

Pelo canto do olho, Naeun conseguiu reparar num silhueta que deambulava pelo espaço, como se estivesse à espera de alguma coisa. Olhou, um pouco mais interessada, vendo um moço muito alto — do tamanho da Torre Eiffel —  numa pose estranha, as mãos nas ancas, o peito hirto e de costas para ambos. Franziu o sobrolho, desconfiada. 

— É um colega meu. — Comentou prontamente Tae. — Ele veio comigo caso precisasse de ajuda. Para...hum, me explicar? — Encolheu os ombros. — Para quem é relativamente bom com palavras escritas, sou péssimo a exprimir-me verbalmente. — Um dos primeiros defeitos que Naeun tinha encontrado nele e que, de certa forma, tinham sido um dos grandes factores na relação fadada de ambos. Ela gostava de reclamar, gostava de discutir quando as coisas não estavam de todo bem. E Tae gostava de sossego e de ficar quieto. — Nos vemos por aí? 

— Sim. — Sorriu. — Até ao próximo ano! — Atirou, antes de ver o seu ex-namorado e o amigo saírem pela porta. Nunca lhe chegou a ver a cara, mas toda aquela altura merecia um rosto à altura. 

Yuta trazia na mão a caixa de chocolates favoritos de Naeun. Um saquinho de lenços já abertos e todo amor do mundo para a poder abraçar. Precisava com urgência tirar a carta para começar a guiar; aquele tempo frio dava cabo do seu nariz sensível, que pingava e deveria estar tão vermelho que bem o podiam chamar de Rodolfo. Ele sabia que Na e Tae iriam terminar da melhor maneira. Nos últimos tempos, eles apenas pareciam amigos mais do que outra coisa. Porém, sabia que Naeun iria chorar, porque precisava de o fazer. Precisava de chorar porque "tinha falhado". Yu era da opinião que ela apenas tinha preferido ser feliz à maneira dela e não falhado, como se alguém pudesse falhar no amor. Bem, ele podia. 

Naeun, pelo menos conseguia chegar a um acordo ou ser a pessoa que terminava as coisas. Ele, no caso, tinha o azar de levar com os pés sem poder dizer nada em troca. Sentia-se — como acontecera na semana anterior — um saco do lixo prontinho a ser enchido até ao máximo e depois atirado para a rua quando já não servia um propósito. Mas bastava de pensar em si e na sua falta de talento para com homens.  Engoliu em seco, pensando em como o frio era um efeito psicológico e que daí a cinco minutos estaria na cafetaria onde Na e Tae-Yong tinham terminado. Ela estaria a olhar para o vazio, ou para a mesinha, em busca de algo invulgar nela, antes de finalmente se aperceber que algo não estava certo. 

Nem se deu conta das pessoas que iam na sua direção oposta, então não era de admirar chocar contra alguém.
    — Tae. Desculpa! — Pediu assim que viu com quem tinha chocado. — Como é que ela está? — Perguntou. 

— Parecia bem quando... — levou uma mão à cabeça, embaraçado. — Quando fui embora. Era mútuo certo? 

— Sim, mas isso não quer dizer que não lhe custe. — Sorriu. — Relaxa, que irá passar. — Sentiu a presença de outra figura a breves centímetros dele, mas sem olhar muito bem apenas fez uma vénia pequena antes de se despedir. — Bem, nos vemos por aí?

— Sim. Claro que sim. — Sorriu verdadeiramente. Tae era um tipo porreiro. Poderia não ser o homem dos sonhos da sua melhor amiga, mas era alguém que podia confiar. Apesar de ser três anos mais velho que Yuta, não fazia questão de manter títulos ou discurso formal. Gostava de passar tempo com Yu sempre que podia e conseguiam conversar bem, especialmente para alguém tão introvertido como Yuta. 

Chegou à cafetaria com os dedos a implorarem para continuarem vivos. O nariz tinha congelado a certa altura; então, em contacto com o calor do café, sentia os primeiros pingos a caírem-lhe. Possivelmente o pack de lenços iria perder mais um antes de chegar a Naeun. Olhou em volta, procurando pela sua melhor amiga até a encontrar. Sentada num canto afastado, cabisbaixa, a olhar para a mesa tal como ele previra. Deixou escapar um suspiro, inspirou em busca de coragem e sentou-se na cadeira logo em frente à dela.

— Vamos para casa, Na? — Hoje ela não iria para os dormitórios. Hoje ficaria com ele. Já tinha alugado um quarto num hotel barato, mas com bom aspecto, ali perto. Como era fim-de-semana, não havia problema dormirem e verem filmes o dia seguinte. Tinha planos de a levar ao cinema, então tinha contado com Yura para ir ao dormitório de Naeun ameaçar as colegas de casa dela a deixarem-na entrar em busca de roupa bonita, quente e confortável. 

Ela aceitou sem dizer uma só palavra. Caminharam aninhados pelas ruas frias sem trocar uma só palavra. Chegaram ao hotel, Yuta ligou a água quente na banheira e saiu, desejando não ter que despir Naeun. Tirando a vez que ela partira uma perna e teve que a ajudar no banho, Yu não se sentia confortável em ver a pele exposta da sua melhor amiga e não era só por ser mulher —  bem, claro que isso também, mas porque não lhe parecia bem. Ela despiu-se sozinha, atirando com as roupas para o chão; fosse qual fosse o estado de espírito aquilo era normal. Não fechou a porta do banheiro. Yuta voltou-se para a janela, ouvindo apenas o sons dela a entrar em contacto com a água.

No final, pediram serviço de quartos — o pai dele iria matá-lo — e viram filmes grátis que passavam na pequena TV do quarto de casal até caírem no sono. 

 

Pela manhã, ela não fez uma fita para se arranjar. Fez aquilo que Yuta mandava, vestiu-se — agradecendo o sentido impecável de moda de Yura —,  colocou um pouco de maquilhagem e sentia-se pronta para ter o melhor encontro da sua vida. Antes de saírem para a rua, olhou para a cara do seu melhor amigo mais uma vez, analisando todos os pormenores que já conhecia. Apertou-lhe a cara com ambas as mãos. 

— É pena seres gay. — Confessou, beijando-lhe os lábios delicadamente. — Obrigada por existires.

— Obrigada por me deixares existir na tua vida. 


 

***

 

Jaehyun e Yuta tinham combinado sair nesse fim-de-semana. Era o último fim de semana antes de as aulas acabarem finalmente. Mas Yuta tinha cancelado. A mensagem dizia apenas que algo tinha acontecido com Naeun, nada de grave fisicamente, mas que ela precisava dele. Às três da manhã, chegou outra mensagem a explicar melhor. Ela e Tae-Yong tinham terminado e ele, como melhor amigo, precisava de estar lá para ela, como ela sempre estava. 

Jaehyun decidiu vaguear pela cidade na mesma. Sempre fora do tipo que fazia as coisas a tempo e horas, então nunca sentia o stress da última semana; a maior parte das coisas tinha sido feita, os erros revisados e restava-lhe apenas entregar tudo a tempo e ordem. 

Tinha as mãos enfiadas nos bolsos do casaco comprido e quente, um cachecol verde escuro a tapar-lhe metade da cara, e no bolso o telemóvel com uma mensagem da sua ex-namorada de liceu. Ha-Young estava na cidade e queria vê-lo. Que tipo de partida idiota era aquela que o universo lhe estava a pregar? 

Já que os planos tinham sido cancelados, decidiu aceitar encontrar-se com ela, num restaurante chinês perto da estação de metrô que dava diretamente para a estação de comboio.

Quando chegou, ela já estava lá dentro. Bonita como sempre, mas agora um pouco mais madura. Tinham namorado praticamente o tempo todo de liceu, terminando antes dele entrar na faculdade e ela desistir dos estudos para viver da sua arte. A forma elegante como estava vestida fez-lhe pensar que talvez sempre tinha conseguido algo e ele apenas tinha passado muito tempo desatento. Ha-Young cumprimentou-o com um sorriso singelo. Lembrava-lhe muito o último a que teve direito antes de terminarem e seguirem cada um a sua vida. 

— Estás com bom aspecto. — A sua voz melódica encheu-lhe as orelhas, o coração e a cabeça de memórias. Tentou reprimi-las por um instante. Ela tinha-lhe partido o coração um ano atrás; não precisava daquilo na sua vida, não precisava de sentir-se assim, não novamente. 

— Tu também. — Cedeu ao elogio. Fez sinal para que ela se sentasse e só quando ela estava praticamente arrumada é que se sentou à frente dela. 

Ficaram algum tempo em silêncio, ela fixando o chão, as luzes e todo o espaço, e ele fitando os seus próprios dedos de unhas roídas com o nervosismo, vermelhos por finalmente voltarem a estar quentes.  

A comida não demorou muito a chegar. Ambos não tinham sequer pronunciado uma palavra desde que a tinham pedido. Era estranho para ele. Jaehyun sempre teve assuntos para falar com ela; mas no momento, talvez porque ela é que o tinha chamado, não conseguia ver-se a comentar qualquer assunto como antigamente. Que tipo de intimidade teria ele para lhe dizer “nem parece que já lá vai um ano…”, mesmo que tenham trocado alguns emails — para falar da saúde dos avós dela, ou quando o pai dela faleceu num acidente de trabalho. Mas e-mails não eram cara a cara. Por muito que quisesse fingir, compreendia bem aquela realidade. 

— Vou casar.
Deixou que o peso daquelas palavras o colocasse novamente em terra. Ha-Young estava noiva, a Ha-Young com quem tivera muitas primeiras vezes estava para casar e tinha feito uma viagem de horas para lho dizer cara a cara. 

— Parabéns. — Obrigou-se a dizer. 

— Estou grávida, também. — Acrescentou. — Mas não é por isso que vamos casar. — Encolheu os ombros. — Sinceramente, depois dos teus últimos e-mails... achei que te devia dizer cara a cara. — Suspirou. — O que nós tivemos foi bom. Mas não é mais que aquilo. Foste o meu primeiro amor, e gostaria que tivesses sido o último. Mas a realidade é outra. — Pendeu a cabeça para o lado, olhando para um dos copos sobre a mesa. — Gostava que não me voltasses a contactar. Por favor, Jaehyun. 

— Desculpa... não queria parecer um estranho... só queria... — ter a certeza que aquilo era real? Queria entender porque é que ela tinha preferido ficar na vila em vez de se mudar com ele para Seul. Poderiam ter alugado um estúdio, ele estudaria e ela trabalharia na arte dela. Poderia tudo correr bem. Mas não correu, e sentia-se péssimo com o assunto. Não porque estava devastado com a ideia de nunca mais falar com Ha-Young, mas porque no seu coração, aquela conversa não doía tanto como era suposto doer. E sabia muito bem o porquê. 

Despediram-se, ela não lhe entregou um convite de casamento — quem é que queria o ex-namorado no seu dia, mesmo? — e Jae não se prontificou a levá-la à estação. Precisava de estar sozinho um bom bocado… Precisava de lidar com as notícias, com o rumo da sua vida. Talvez estivesse na altura de seguir em frente, afinal Ha-Young também o tinha feito. 

Pegou no telemóvel e ligou para Lucas, um dos seus colegas de faculdade, um tipo porreiro e cheio de bom humor. 

— Hey, Jae! — Ouvia-se o barulho de fundo. Devia estar com os colegas de dormitório. Pelo menos o sons de computadores e pessoal a gritar sobre jogos davam-lhe essa impressão. — Está tudo bem? Olhem, vou fazer uma pausa! — Gritou para os outros. Em seguida, o som caótico deu lugar ao sossego quando Lucas fechou a porta. — Agora que estamos em silêncio, precisas de alguma coisa? Está tudo bem?

— Sim, sim. Está tudo bem! Olha, diz-me… 

— Sim?

— Quando é que vocês a marcar aquelas coisas de blind dates? 

— Oh-oh-oh! 

— Pareces o pai natal.

— Alguém finalmente está interessado em conhecer alguém. — Ignorou completamente o primeiro comentário. — Vieste em má altura… com o final das aulas há pouca gente a querer alinhar nesse tipo de coisas, mas vamos ter um na próxima terça. Vou ver se conseguimos arranjar mais uma miúda! 

— Okay. — Sentiu imediatamente remorsos pelas suas escolhas idiotas. — Falamos depois, então. 

— Yah! ‘Tasse. — E desligou sem se despedir. 

Decidiu que estava longe de querer voltar para o seu dormitório; mesmo muito longe dessa ideia. Suspirou, cansado; devia ter insistido com Lucas, saber onde é que eles estavam e ter ido lá ter. Mesmo que não fosse um entusiasta por jogos de computador, preferia mil vezes isso que estar sozinho no meio de Seul, sem realmente um local para estar. Francamente, até preferia estar a trabalhar naquele momento. De todas as vezes que algum colega pedia no chat se alguém podia trocar com ele em cima da hora, hoje ninguém tinha dito uma única palavra no grupo. Bufou, frustrado, pontapeou um papel e depois apanhou-o, atirando-o para o lixo mais próximo. Sacudiu as mãos só de pensar no que tinha acabado de fazer e desejou mais que nunca ter uma carteira ou uma namorada com um desinfetante para mãos. 

Entrou na cafeteria mais próxima, lavou as mãos e, quando estava a sair, cruzou-se com Tae-Yong. 

— Oh, hey! — Cumprimentou, um pouco desajeitado. Realmente não era o local mais interessante para se encontrar um colega mais novo. — Jaehyun, certo? 

— Sim. — Baixou-se numa curta vénia. Afinal, ele era um dos seus seniors do departamento. 

— Ah, não é preciso isso. — Sorriu. — Estás sozinho? — Perguntou, parecendo realmente interessado na situação. O que, de início, deixou-o desconfortável, principalmente porque se encontravam muito perto dos banheiros e hum… sempre achou que Tae estava na mesma equipe que ele. Analisando a expressão aterrorizada, abafou uma risada. — Não é nada disso, meu! — soltou a gargalhada. — Estou com um colega de turma e bem, ele não conhece muita gente. E tu costumas ser um tipo porreiro, menos para a Naeun. Aliás, depois preciso saber o por quê. 

Nem ele sabia. 

Acabou por aceitar o convite e sentar-se com o seu colega e ex-namorado de Naeun. Bem, era recente, mas podia chamá-lo assim. Era, tecnicamente, o termo correto. Jaehyun não compreendia muito bem o que o levava a envolver Naeun na equação de muitas coisas na sua vida. Ela tinha sido bastante clara em querer mantê-lo longe da sua vida durante anos. O que implicava um malabarismo absurdo para Yuta conseguir conviver com eles os dois, já que nem na mesma sala de estar podiam estar juntos. Se ele entrasse na biblioteca, ela saía. Fazia questão de evitar qualquer trabalho de grupo onde ele estivesse, mesmo que isso fizesse com que Naeun se agrupasse com os miúdos idiotas que não trabalhavam. Bem, se era esse o tipo de stress que ela queria na sua vida, que fosse. Ele claramente não compreendia, queria muito compreender, mas não tinha certeza se haveria coragem suficiente dentro dele para aturar aquele cão raivoso em forma de pessoa. 

O moço alto do outro dia apareceu e sentou-se bem na sua frente. Era bonito, de uma forma alienista. Não sabia bem porque é que fazia aquela comparação ou sequer pensava no aspecto físico do moço. Jaehyun não era propriamente a pessoa mais atenta a essas coisas a beleza — ou a falta dela — nas pessoas era realmente algo que lhe passava ao lado. Mas hoje sentia-se pronto a dar mais atenção a essas coisas. Talvez porque a sua ex-namorada tinha oficialmente terminado com tudo —  amizades, ligações e ocasionais mensagens. Talvez estivesse na altura de finalmente seguir em frente e procurar, ou não, alguém. Talvez fosse o stress ou talvez houvesse uma válida razão para este ser, gigante e bem parecido, fazê-lo querer olhar mais que uma vez. Como se, depois de dois segundos, soubesse que a vida de ambos estaria ligada para sempre. É, precisava urgentemente de férias. 

Sorriu, assustando Tae e o Johnny. Johnny? Johnny! O seu sorriso ficou ainda maior.

— A gente conhece-se! — Atirou para o colega de faculdade. — Trabalhamos juntos!

— Oh. E precisaste de dois minutos para te lembrar disso? — Troçou John, encolhendo os ombros. — Pensei que estávamos na base da amizade... as coisas que descobrimos. 

— Desculpa. — Levou uma mão à testa. — Estava distraído a olhar para... — Nem terminou a frase. Atrás de John não havia ninguém. Literalmente. Aquela zona do café estava mais que vazia e a sua primeira mentira tinha sido cancelada a meio da frase. Revirou os olhos, olhou para as mãos limpas, para a mesa e depois para a empregada do café. — A empregada... ela passou para levantar alguma coisa e... 

— Bem, pelo menos já sabemos que não estás com sinais de alzheimer tão cedo, ou a dar em doido. — Comentou Tae com uma risada. Observou a empregada, na casa dos quarenta anos. — Não sabia que te interessavas por mulheres mais velhas. Bem, não que soubesse algum dos teus interesses, mas ela claramente não era o tipo que imaginava. 

— Jaehyun vem aqui e em vez de pedir MILK anda à procura de uma MILF. 

A piada teria corrido muito melhor se não fosse pela súbita aparência de uma outra jovem. Bonita, mesmo bonita. Sorriso tímido, franja a tapar-lhe a testa por completo, olhos pequenos, escuros e simpáticos, num vestido laranja pálido. Os seus olhos e os de Jaehyun encontraram-se por um bom instante. Ela era, oh, ela era...

— Digam olá! — Pediu Taeyong. — É a minha prima, Chorong. 



 

***

 

Naeun sentou-se num banco perto das residências masculinas. Apertava o seu casaco com toda a força do mundo para se manter quente, o nariz enfiado no pelo falso e os olhos fechados, tentando imaginar-se numa situação mais agradável, fosse numa praia ou ao pé de uma lareira, daquelas brilhantes e que só se vê em filmes americanos. Sim, aquele falso calor começava a entrar-lhe pele dentro. 

E morreu assim que alguém abriu a boca. Um grupo de jovens, provavelmente também da sua faculdade, aproximaram-se dela, com meia dúzia de palavras idiotas e camisas à mostra — com todo aquele frio? Um bafo insuportável a licor e daqueles sorrisos que a deixavam maldisposta só de olhar de longe, imagine-se quando lhe direcionados. 

Voltou a fechar os olhos, tentando ignorar a sua vontade de os escorraçar dali para fora com insultos. 

— Não precisas de esperar mais! — Gritou um deles, batendo palmas. Ela semi abriu as pálpebras, dando de cara com o mais feio dos três. Revirou os olhos mentalmente e voltou a fechar os olhos. — Então, boneca. Eu, tu, e talvez uma garrafa de boa cerveja?

— Ainda não posso beber. — Atirou com pouco entusiasmo. — Por favor, estou só à espera de uns amigos. Podem continuar a vossa vida, claramente estou bem de saúde. 

— Podias estar ainda melhor se estivéssemos só nós os dois, num quarto e...

— E o quê? Os dois vestidos eu a ligar para a policia por tentativa de estrupo ou por te ter enfiado com a cabeça na sanita? 

Naeun sorriu ao ouvir a voz familiar de Yura. Não era muito mais alta que ela, mas os anos de treino davam-lhe um aspecto de rufia. Ela podia muito bem ser um membro de gangue; bonita como tudo, mas mesmo assim de um gangue. O grupo de rapazes deixou-se ficar uns breves segundos, analisando bem a situação. Talvez por as três estarem vestidas de negro e conseguissem parecer ainda mais com um grupo de mafiosos, o trio decidiu abandonar a sua possível morte. Encolheram os ombros e o líder deles, o mais feio, voltou-se para Naeun. Olhou-a de alto abaixo e sorriu de lado. 

— Nem és assim tão bonita. 

— Claramente. — Devolveu ela, encolhendo os ombros. 

Assim que o grupo estava afastado o suficiente, Yura sentou-se no colo de Na e abraçou-a. 

— Então, vens cá muitas vezes? — Ronronou, arrancando uma risada das duas amigas. 

 

***


 

Yuta entrou primeiro no restaurante, que ficava a poucos metros da faculdade. Daqueles de estilo tradicional: bom cheiro, boa comida e uma senhora de meia idade tão simpática que poderia ser a própria personificação da palavra "santa". Seguiu-se Naeun, com a mão enfiada nos bolsos das calças jean dele, e Yura, com o telemóvel na mão a trocar mensagens com o moço que tinha conhecido há pouco tempo — ou, seja vinte e quatro horas e cinco minutos atrás —, a ver se ele a iria buscar para um segundo jantar — insere vinte emojis de beringelas e piscadelas. No final vinha Hyemi, a arrumar um pacote de lenços na carteira. O choque em cadeia aconteceu; Yuta parou, Naeun chocou nas costas dele, Yura tropeçou nos próprios pés e caiu, deixando o telefone cair para ser depois esmagado pela própria Hyemi. 

— Mas vocês já beberam antes de chegar? — Taeyong riu enquanto ajudava uma das meninas. — Estão bem? 

— Ninguém vai ficar, se o meu telemóvel morreu. Eu não consigo sobreviver mais uma noite sem sexo. — Guinchou Yura, irritada. Arrastou-se, ainda com meia Hyemi em cima dela, e lá tirou o aparalho esmagado entre a barriga da amiga e o chão de madeira com um cheiro peculiar. 

Para sorte de todos, não só estava a funcionar como houve emojis de beringelas e de gotas na mensagem de resposta. Naeun sentiu-se demasiado exposta e Yuta não acreditava que, num mundo de heteros, poderia haver coisas tão obscenas. Precisava urgentemente lavar os olhos com lixívia. 

Taeyong agarrou a mão de Naeun.

— Por aqui, menina. Apesar de serem melhores amigos, o departamento de Literatura não se mistura com o de Matemática na última noite de faculdade. 

— Espero que tomes bem conta dela. — Atirou Yuta com um sorriso. — Até! — Encaminhou-se para o lado oposto do restaurante. 

— Está tudo bem? — Perguntou-lhe Taeyong sem a lagar.

— Acho que sim. — Encolheu os ombros. — Estou um pouco cansada. E a não contar conviver muito. Mas não me vais dar hipóteses, pois não?

— Nop. Esta noite és minha. — Os dois arregalaram os olhos com o embaraço. Era tudo muito recente entre ambos, desde o namoro até ao término. Não tinha dado muito tempo para se habituarem à dinâmica, então, certas frases davam asas a momentos embaraçosos. Como aquele, onde umas semanas atrás seria uma deixa para sexo às escondidas nos dormitórios. Mas hoje era código para por-favor-não-quero-mais-viver-depois-disto. Separaram-se rapidamente. — Ahum. DESCULPA. — Soltou alto de mais, atraindo um par de olhares curiosos.

— Não há problema. — Atirou o seu longo cabelo para trás e imediatamente sentiu-o bater em algo.

— Au!  – veio imediatamente uma reação.

— Oh, peço desculpa! — Rodou sobre si mesma em busca da nova vitima do seu cabelo, encontrando Jaehyun com uma mão enfiada no olho. — Ah. Okay. Não deve ter doido assim tanto. — Cheateada, encolheu os ombros e voltou a girar para a frente. Os seus bonitos olhos encontraram Chorong. No breve tempo que namorou Taeyong, teve o prazer de conhecer a sua prima de bom sentido de humor e tão fofinha quanto um urso de pelúcia. 


 

— Chorong! — Gritou saltitando até ela. Sentou-se no lugar vago e as duas abraçaram-se carinhosamente. — O que estás aqui a fazer? Pensei que só voltaria a ver-te para o ano! 

— Afinal, houve alguns contratempos... — A sua voz fina era tão bonita e delicada. Tinha as bochechas rosadas enquanto olhava discretamente na direção do primo e de Jaehyun. — Só podem estar a brincar comigo...



 

****



 

Yuta estava sentado no sofá cor de bolor, que tinha encontrado perto de um caixote do lixo mesmo antes de se mudar para aquele apartamento de um único quarto. Naeun estava sentada no chão, entre as pernas dele. Tinha o cabelo molhado e observava a TV com uma taça de pipocas doces ao seu lado, enquanto o melhor amigo a penteava com toda a paciência do mundo. Tinha muito menos cabelo do que nos anos de adolescência, porém ainda conseguia ser um pesadelo de pentear, principalmente depois de um dia de corridas frenéticas pelos campus da faculdade. 

Depois do primeiro ano nos dormitórios providenciados pela universidade, Yuta tinha preferido alugar o seu próprio espaço. Longe das noitadas loucas, longe do álcool ilegal e longe dos homens horrendos e mal-cheirosos que lhe roubavam as meias limpas. Um ano – um ano de pura tortura que tinha culminado em socos, tentativas de piromania e garrafas de whisky atiradas pela janela do quarto andar do complexo. É, viver sozinho tinha-se tornado uma das melhores decisões da sua vida. Quem lhe diria que nerds poderiam ser tão bagunceiros? 

Hoje era um dia triste. Era o aniversário da morte da avó de Naeun. O terceiro aniversário desde que Naeun tinha ficado sozinha no mundo. Porém, nenhum deles queria falar daquelas memórias, daqueles últimos dias na cama de hospital ou o funeral, onde só ela e Yuta tomaram conta das coisas porque o pai dela não dignou a aparecer. Hoje era dia de pentear o cabelo de Na, de contar-lhe coisas bonitas e falar-lhe no tom mais doce possível. Era dia de abraçar quando fosse chorar, de a deixar ser a Son Naeun vulnerável que não podia sair sempre que queria. 

Pegou no óleo de aragão e esfregou-o na palma das suas mãos molhadas. Com um pequeno sorriso no rosto, enterrou os seus dedos no cabelo dela, envolvendo o óleo em todo o seu comprimento. Era, de alguma forma, singularmente terapêutico,ver os cabelos lisos a ganhar um brilho majestoso e saudável enquanto os seus dedos permaneciam em constante movimento. 

Limpou as mãos à toalha que estava nas costas da melhor amiga e depois ficou a olhar para a TV. Passava uma série americana sem legendas, onde algumas pessoas solteiras tentavam arranjar alguém para casar. Mas só podiam falar com a pessoa e não a ver. Era excêntrica, a ideia de se apaixonar por alguém sem a poder ver. Todo um tipo de relação preparada para falhar. Enquanto um dos casais se pedia mutuamente em casamento, Yuta saiu da sua posição, indo diretamente para a cozinha em busca de algo mais salgado. 

— Na, queres comer outra coisa? — Falou um pouco mais alto para se fazer ouvir para lá do som da TV. 

— Qualquer coisa salgada! — Respondeu. — Tipo crackers? 

— Queres crack? — O choque cortou-lhe a voz a meio da frase, produzindo um guincho irritante e desconcertante. 

— Crackers! Bolachas salgadas! — Abafou uma risada. — Deus, Yuta! Ainda não estou assim tão desesperada no semestre para pedir drogas! — Desta vez deixou escapar a sua risada melódica e contagiante. Yuta não pode deixar de sorrir com ela. 

— Okay, está bem. Não deu para ouvir muito bem com essas pessoas a gritar que se amam e o som nojento de beijos! — Devolveu, enquanto abria o armário de cima em busca de crackers de manteiga, sal e “sabor a queijo”. — Queres algo para beber? — Olhou para a banca da cozinha. — Que não seja álcool. 

— Então podes deixar estar. — Conseguia visualizá-la a encolher os ombros, a brincar com a ponta dos cabelos e a sorrir para a TV. 

Voltou para a mini sala, manobrando-se entre os livros que povoam o chão, os produtos de beleza de Naeun e outras coisas que ele preferia não saber o que eram até ao próximo sabádo de limpezas. Deitou-se no sofá e colocou o prato com os crackers no chão, ao lado da taça de pipocas já quase terminadas. 

O segundo episódio da série estava a meio quando alguém bateu à porta do apartamento. Os amigos entreolharam-se, desconfiados. 

— Estás à espera de alguém? — Perguntou Naeun com um sorriso maroto. — Devia ir esconder-me algures enquanto vocês se divertem? — Tapou a cara com as duas mão enquanto deixava escapar uma risada diabolicamente travessa. 

— Para com isso. — Repreendeu. — Eu não estou à espera de ninguém. — Levou uma mão ao queixo instintivamente. Era o seu tique para quando começava a ponderar coisas. — Disseste a alguém que estarias a viver aqui durante algum tempo? 

— Nop. 

— Espero que não seja o meu senhorio. Ele alugou-me o apartamento a pensar que era só para uma pessoa. Se te vir aqui vamos ser os dois expulsos.

— Ninguém faz uma rusga às duas da manhã de sexta-feira, Yuta… 

— Então talvez seja engano. 

Mas voltaram a bater à porta. 


 

Com a possibilidade de enfrentar um assassino em série, um ladrão ou, pior, uma testemunha de jeová, Yuta avançou lentamente pelo minúsculo corredor (se é que poderia até ser chamado disso) entre a sala de estar e o átrio. Tinha na mão uma escova de pentear com gemas falsas incrustadas na parte de trás. Poderia não matar, mas seria o suficiente para magoar e conseguirem fugir. 

Abriu a porta devagarinho, que logo foi empurrada por Jaehyun. Estava completamente bêbado. O cheiro a álcool impestou o ar, misturando-se com o da comida ao pé do sofá e o óleo do cabelo de Naeun, tornando o ambiente asqueroso e repulsivo. 

Yuta levou a mão à boca para não vomitar. E com a outra segurou Jaehyun com toda a sua força, antes que caísse no chão.

Cruzou olhares com Naeun, que mesmo relutante em ajudar Jae, afastou as coisas do chão para abrir caminho até ao sofá. Atirou os snacks para a mesa da televisão e os livros para debaixo da mesa redonda que servia de secretária de estudos para os dois. Yuta encostou-se a Jae e fez o braço dele ladear-lhe o pescoço.  E em passos vagarosos arrastou-o para o sofá, atirando-o como se fosse um saco de batatas. 

Aquele sofá combinava com  Jaehyun, pensou Naeun. Tinham os dois péssimo aspecto, e eram os dois uma espécie de lixo na sua vida. 

Suspirou, um pouco irritada, e quando ia para se ausentar Jae segurou-lhe no pulso. A força dele era tanto que ela acabou por ceder, caindo no chão ao lado dele, os seus rostos praticamente colados. Tequila cheirava tão bem, mesmo nele.

— Não vás. — Pediu ele, praticamente implorando. — Por favor… 

Era a primeira vez que ela não sabia como reagir com ele. Apesar de estarem os dois em contacto, ela não tinha vontade de lhe bater ou de o atirar pela janela do terceiro andar. Ao mesmo tempo, não queria olhar para ele e para os seus olhos com lágrimas. Ele estava mesmo a chorar ali? Ali, ao pé dela? Os dedos de Jaehyun pressionaram com um pouco mais de força o pulso de Naeun. Percebendo o que estava a fazer, maneirou a pressão o suficiente para não a magoar, mas bastante forte para ela não o largar e simplesmente desaparecer. 

— Não fujas, não hoje… 

Depois de abrir a janela da sala e a da cozinha para arejar o espaço, Yuta juntou-se à cena tirada de um filme romântico. Tirou os sapatos de Jaehyun e colocou-os na entrada. Analisou a cara de Naeun para perceber se era desta que ela o ia matar. Mas a expressão sem qualquer pingo de raiva era razão suficiente para permanecer afastado daquele horrendo cheiro. 

— Jaehyun… tu não tens idade para beber. O que é que se passa? — Inquiriu Yuta pensando se deveria buscar um copo de água, chamar uma ambulância ou ficar apenas quieto. 

— Foi… — inspirou para ganhar senso das palavras. — Um trote da universidade. Os seniores pediram tequila e fomos obrigados a beber shots. 

— Mas tu estás já no segundo ano… — Repreendeu-o como se fosse seu pai. 

— Eles não estavam muito interessados no meu ano. — Gemeu, levando uma mão à barriga. 

— Devo chamar uma ambulância? — Perguntou já com o telemóvel na mão. 

— Não! Eu estou bem… mais ou menos, mas irei ficar. Eu só… eu só . — As lágrimas mancharam o sofá bolorento, dando-lhe um tom mais escuro e certamente mais bonito. — Naeun, Son N-A-E-U-N. — Soletrou o nome dela como se de alguma forma fosse importante e extremamente dramático para aquele momento. — Eu preciso de falar contigo. 

    — Estou a ouvir. — Bufou ela. Ainda estava presa pela mão dele. E não fazia questão de quebrar o contacto, mesmo que a sua voz não mostrasse grande agrado na presença dele. 

Jaehyun não tinha fugido da vida dela, pelo contrário. Yuta e ele tinham criado uma amizade tão boa que tinha vezes que Naeun sentia uma ponta de inveja. Não só a tinha insultado, estava agora a roubar-lhe o melhor amigo. E as coisas não pararam nessa amizade; entraram na mesma faculdade, frequentam o mesmo departamento e até tinham que assistir a algumas aulas juntos. Jaehyun tinha-se tornado uma espécie de sanguessuga na sua vida – ou melhor, um tipo de fungo, um parasita, uma constante sem variáveis na sua vida. 

— Tenho perguntas. 

— Não temos todos? — Retrucou ela sem perceber que tinha acabado de fazer uma piada com o seu arqui-inimigo. 

— A minha é única. — Jaehyun podia sorrir naquele instante. Ela tinha trocado mais que duas palavras com ele e nenhuma envolvia “sai”, “larga-me” ou “metes-me nojo”. Sinceramente, se não fosse todo aquele álcool, poderia sentir que aquele era um dos melhores dias da sua vida. Inspirou profundamente em busca de toda a coragem no universo e mais além, em busca de toda a força do universo para finalmente perceber o que é que tinha acontecido. — Porque é que me odeias? 

A pergunta de um milhão de dólares. A pergunta que nem Yuta tinha conseguido fazer naqueles três anos depois das férias de verão. Jaehyun estava mesmo a atacar o elefante da sala; tinha sido uma atitude valentona, daquelas que causa aventuras na vida, como saltar de um avião, atravessar o Alasca ou fazer um safari sem guia em África. Uma pergunta que poderia levar à própria extinção da espécie Jungnium Jaehyunmus. 

— Que pergunta mais idiota! — Naeun revirou os olhos. — É isto que tinhas para me perguntar que necessitava álcool e figuras tristes? — Pegou na mão de Jaehyun, arrastando-a para o lado. — Tu sabes bem o que fizeste. — Ia para se levantar quando Jae a agarrou novamente e, desta vez, ela caiu em cima do peito dele, batendo com a testa nos lábios de Jae. Ele não disse nada e abraçou-a. — Se não me largares vou fazer-te nunca ter filhos. — Ameaçou. E ele largou-a. 

— Por favor. Apenas responde à minha pergunta. 

— O espelho. 

— O espelho? Qual espelho?

— Não te faças de idiota, Jung Jaehyun. Tu ofereceste-me um espelho no final da primeira semana de férias na praia. Com o bilhete mais estúpido à face da terra! 

— Eu não sei do que estás a falar… — As suas bochechas levemente coradas eram possivelmente uma coisa adorável. Porém, Naeun estava destinada a odiá-lo tanto, que nem isso, ou o nariz arrebitado, ou os olhos gentis e brilhantes das lágrimas, ou o cabelo macio, ou as orelhas elegante ou a maçã de adão tentadora, a fariam repensar a sua forma de ver e conviver com  Jaehyun. Ele era, era…

— Eu sei do que é que ela está a falar. — Interveio Yuta, aproximando-se finalmente de toda aquela situação. — Naeun, eu é que te dei o espelho… — Coçou o cabelo com muita força balançando-o para cima e baixo e expondo esporadicamente a sua testa, que naquele momento parecia o sítio perfeito para levar com uma flecha. Naeun não tinha flechas, mas tinha um montão de coisas que lhe poderia atirar em cima. — Em minha defesa! Tu estavas sempre a perguntar a todo o mundo se estavas bem, se o teu cabelo estava bonito, se não tinhas nada na cara. E eu achei que devia oferecer-te o espelho. 

— Mas eu vi o Jaehyun a sair do meu quarto! — Devolveu, fulminando o melhor amigo com o seu olhar. — O que é que estavas lá a fazer? — Virou-se abruptamente para Jae. 

— Eu estava, uhhh...eu e a Ha-Young estavamos...ahum, estávamos a namorar na altura. 

— Oh Ha-Young? Da turma dois do segundo ano? — Naeun tentou reviver as memórias de quem é que ela estava a partilhar o quarto naquelas férias. — Vocês, oh céus, vocês fizeram sexo no nosso quarto? — Guinchou as últimas palavras, levando as mãos à cara.

— Não! — Bateu com a palma da mão na testa. Que raio de conversa estava a ter na sua pior bebedeira. — Fui dar-lhe um anel de compromisso que comprei na mesma tenda que o Yuta comprou o espelho. — Fechou os olhos. Subitamente a luz causava-lhe náuseas intensas, como se o mundo fosse um gigante emaranhado de todo o tipo de coisas nojentas à face da terra. Não era propriamente mentira, mas não era mesmo assim verdade. Engoliu um vómito e outro, inspirando em busca de concentração para os espasmos corporais. Depois daquele dia iria renunciar ao álcool. 

— Ou seja, tu — apontou para Yuta —  Decidiste que dar-me um espelho, me chamar horrenda e usar outra letra qualquer que não a tua era uma excelente ideia? — O inferno tinha acordado na terra, Lúcifer tinha dado os seus primeiros passos para a destruição do corpo de Nakamoto Yuta, o seu nome? Son Naeun. A sua arma de eleição? A vassoura convenientemente pousada do lado direito do sofá. — És um homem morto. 

Porém, naquela noite ninguém morreu, pelo menos não inteiramente. Jaehyun levantou-se muito nervoso e pegou na taça de pipocas ao pé da TV, vomitando para o interior tudo o que tinha consumido naquela noite, w a explosão intensa espirrou para fora do controlo. 

Afinal teriam sempre  que mudar de sofá. 

 


Notas Finais


Obrigada se chegaram até a aqui!
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