História Criminal Love - Second Season - New Beginning

UM ANO E MEIO DEPOIS

Nem sempre o amor ganha. Ele pode ser forte, grande feito esses super-heróis de filmes, mas nem sempre ele ganha. Às vezes você precisa abrir mão dele para continuar, guardá-lo com esmero em uma caixinha bem lá no fundo do seu ser para que consiga continuar a viver. Mas não por que é egoísta ou fraco, muito pelo contrário, por que é forte. É preciso de força para abandonar coisas, uma calça linda que não te serve mais, uma pessoa que se ama muito. É preciso muita força pra seguir em frente. Amei, lutei por esse amor e falhei, mas não quer dizer que fui fraca. Amei por que meu sistema não falhou. Amei por que fui corajosa e forte. Mas tem vezes que a saudade bate na porta pra me tirar o sono, me lembro de você a todo momento e quando mais tento te tirar da cabeça, mais você se multiplica como um vírus apesar de tudo e me arrasta até aquela caixinha lá no fundo onde guardei esse meu amor. Eu admiro ele por horas, sorrio, choro, dou gargalhadas e imagino o que poderia ter sido, mas não foi, depois o guardo novamente e sigo em frente.

Eu ainda sinto algo e isso é tão imodificável quanto o fato de não podermos ficar juntos.

Eu sei que doeu em você também. Eu estava lá com você e fui a única capaz de olhar no fundo de seus olhos e pedir calma, enquanto todos os outros passavam por você e pediam pressa. Espero que saiba que me marcou com ferro em brasa, de uma forma que ninguém mais poderia e mesmo que tenhamos fugido um do outro, eu vou sempre se lembrar de você e das nossas noites de conversa sem nexo algum, do nosso grude, do seu jeito único de me tratar, dos seus mimos. Você é muito, muito importante pra mim, e sempre vai ser ainda que não esteja mais por perto. Se tem uma coisa que todos aprendemos na vida é que depois de uma tempestade, não importa quão devastadora ela tenha sido, o sol vai nascer de novo. Não importa qual seja a dificuldade, o problema, ele passa. Só precisamos de paciência, força, fé, coragem. Guarda tua essência, menina. É na queda que conhecemos nosso organismo, lutamos contra nossos medos e nos reerguemos.

E eu me reergui.

Naquele dia meu coração parou. Alisson, mesmo com uma bala no corpo, não desistiu de mim e eu devo minha vida a ele. Eu estava pendurada na linha tênue entre a vida e a morte e dependia apenas de mim para qual lado eu iria.

Eu achei que o dia em que fui estuprada tivesse sido o pior dia da minha vida. Isso até o dia em que o homem que eu amava quase me matar estrangulada. Se eu não tivesse desmaiado, tido um ataque, ele teria me matado de verdade. Ele parou por que pensou que tivesse terminado. Jack e Alisson saíram feridos, e graças aos céus os dois não morreram. Tive que implorar a Jack para não mexer com ninguém da família dele e nem que o matasse como disse que faria.

Eu acordei três dias depois no hospital após sair de um coma induzido e tive uma crise de choro que durou o resto da semana todo. Precisei me entupir de remédios para tentar ficar bem até Valentina dar a luz, o que graças aos céus aconteceu cinco dias depois. Foi lindo. Com a melhor obstetra da cidade, com a melhor equipe, no melhor quarto do hospital e apenas esperando a hora para conhecer nosso pequeno ou pequena. Lucas estava com tanto medo quanto ela vendo-a dentro da banheira, sentindo as contrações e resmungando de dor a cada segundo. Ela não largava minha mão por nada nesse mundo e às oito horas, treze minutos e quarenta e cinco segundos de um sábado de dezembro, Valentina deu a luz a uma linda menina.

Elizabeth.

O mesmo nome da mãe que morreu num trágico acidente ainda quando Tina era bem nova. A felicidade tomou conta de todo o quarto e não teve um que segurou as lágrimas. Uma música calma e baixinha tocava, a luz um pouco fraca e sorrisos para todos os lados. Dei ainda mais espaço para Lucas e sai de perto. Que cena linda os três juntos. Queria com todas as minhas forças ir embora de lá e parar de pensar na minha filha toda vez que olhava para Eliza, queria parar de pensar que algumas semanas antes de Valentina, EU teria dado a luz a minha filha e Rafael estaria do meu lado. Chorei por mais uma semana e me entupi de mais remédios.

Foi um longo ano, mas ótimo. No dia seguinte ao nascimento de Elizabeth, fui para a Alemanha me internar numa clinica. Fiquei nove meses fazendo um tratamento agressivo, bem intenso contra meus traumas, com acompanhamento de vários médicos de várias especialidades. Eu voltei cem vezes melhor, uma Lola muito mais forte do que eu já era antes de tudo, mas ainda continuo com as consultas. Não tenho mais medo de contato físico com homens, sei me defender sem uso de qualquer arma e agora não preciso mais fingir sorrisos, simplesmente por que eles são espontâneos. Eu sou feliz agora. Sou uma fênix que ressurgiu das cinzas.

Houve alguns problemas relacionados ao galã com quem ando transando há alguns meses. Ele é uma figura pública, mais a fama que a família tem na área da engenharia e bum! Lola Thompson estava estampada nas capas de revistas como novo affair do galã de Londres. Para piorar, uma moça que trabalhava no apartamento dele, fluente em inglês, de alguma forma conseguiu ouvir toda a conversa que tive com ele sobre meu passado incluindo o estupro. No dia seguinte eu estava numa revista de fofoca que perguntava se Lewis Lencastre ainda tinha uma vida sexual ativa graças a mim. Foi o ápice. Ficamos loucos, mas depois de um tempo ficamos longe dos tablóides. Recebi o carinho de muitas pessoas e em especial uma ONG que cuida de mulheres que passaram pela mesma situação que passei. Fui convidada para dar um testemunho e eu fui por que sabia que ia ajudar muitas mulheres. E ainda ajudo. Um tempo depois eu já estava lá trabalhando fixamente com elas, viajando e ajudando a mudar a vida de diversas mulheres em vários lugares. Concilio o trabalho na Thomson’s, na ONG e no orfanato. É maravilhoso.

— Lola, pelo amor de Deus, segura essa menina! — ela vem correndo em minha direção só de lingerie e toda maquiada — Ela não para de mamar e eu preciso me arrumar!

Pego Elizabeth em meus braços e suas mãozinhas vão direto para meu colar de pedras e Valentina sai correndo para vestir seu vestido de noiva. É, até que enfim esses dois vão casar! Demorou demais!

Vou indo atrás e logo entrego Eliza para a babá e vou ajudar a noiva em apuros a se vestir.

— Calma, Valentina — digo olhando seus olhos alisando seus braços enquanto estamos diante do espelho. Vejo seus olhos se encherem d’água e a perceber o clima íntimo, as outras mulheres se retiram da sala e nos deixam a sós — Você está tão linda — digo tirando uma mecha de seu cabelo do rosto.

— Calma, Lola? Quero ver quando o Lewis te pedir em casamento se você vai ter calma horas antes, tá!

Caí na risada.

— Não viaja, Valentina — eu sorrio e a abraço por trás — Vamos, senão vamos nos atrasar.

— Cadê o moleque?

— Ele vai com minha mãe. Ela vai o ajudar a se vestir — sorrio.

Dediquei-me a muitos projetos sociais nesse tempo e não parei com o trabalho no orfanato. Apadrinhei Henrique, o garotinho com HIV e ele mora comigo agora, o que o torna quase meu filho. É, eu quase tenho um filho, mas em breve ele será de verdade mesmo e terá meu sobrenome. Henrique Thompson. Se tudo der certo. Vai dar tudo certo.

[...]

Foi uma cerimônia linda e claro que eu fui madrinha. A festa é num lugar chique e super maravilhoso. Caímos na farra! Colocamos o esqueleto pra mexer como nos velhos tempos e nossa, como foi bom. Juntamos a turma toda e Augusto, Gustavo (que foram me visitar lá na Alemanha) e a nova namorada, as meninas da faculdade e até mesmo o pessoal do colegial! Foi sensacional. Estou tão feliz por Valentina e Lucas, eles se amam tanto e posso dizer que nesse ano que passou, eles passaram por vários perrengues pra cuidar de Eliza, dois pais de primeira viagem, todos renderam boas risadas. Reencontrei algumas pessoas também, que claro, não poderiam falta nesse casamento. Gutierre e Branco, que estão esperando um bebê! Vitor e a namorada, Fernanda e Tom! Eles estão juntos mesmo! Quem diria.

Parei um pouco para respirar e fui para a sacada. Está uma noite linda e faz tempo que não vejo o céu tão estrelado assim. Resolvo ligar para saber como está as coisas não tão longe daqui.

— Hi, baby — céus como eu amo esse sotaque saindo da boca deliciosa desse homão da porra. Me dá tesão só de ouvir ele me chamar de baby. Não pôde me acompanhar por que seu pai teve um problema de saúde e ele o acompanhou no hospital.

— Oi — sorrio — Liguei pra saber como estão as coisas por aí. Seu pai está melhor?

— Está sim. Tomou remédio e agora está descansando. Vou aproveitar pra ler alguns documentos pra reunião de segunda.

— Nem me fala nessa reunião — faço careta.

— Como está a festa?

Mike aparece na porta de vidro e me chama para dentro. Faço um sinal que já vou.

— Ótima. Queria que estivesse aqui, já estou com saudades.

— Quer que eu te busque quando for embora? Assim podemos ficar juntos o resto da noite.

— Não estou bebendo. Eu dirijo até aí — digo começando a ir em direção a porta.

— Você que sabe, linda. Qualquer coisa me liga, ta?

— Ta bom então — respondo sorrindo e pego a maçaneta da porta para abri-la, mas parece que outra pessoa fez a mesma coisa e eu acabei dando passos de susto para trás assim que a porta veio em minha direção — Tchau, baby — respondi e baixei o celular com certa estranheza, parece que conheço essa pessoa.

É tudo bem rápido, em segundos, e quando terminei de falar, a pessoa levantou a cabeça, com os olhos pregados nos meus, como se atraídos por alguma força magnética, e agora percebo que são da minha cor preferida.

Lindos.

De tirar o fôlego.

Brilhantes.

Azuis.

Meu coração bateu forte, tanto pelo susto quanto pela surpresa. Vejo-a em seus olhos também. Está tão diferente e tão bonito nesse smoking. Seu cabelo está grande e penteado para trás, os fios loiros brilhando com a mistura da pouca luz artificial e a da lua. Está de barba também, parece um lenhador. Quis rir desse pensamento, mas não fiz isso, estava inebriada demais com sua presença para conseguir fazer alguma coisa.

As pessoas já me perguntaram se eu guardo algum tipo de ressentimento. Não, não guardo. Deixei tudo de ruim e todo ressentimento para trás, mas não nego que ainda dói lembrar como tudo terminou. Um quase assassinato e dois corações partidos. Eu o perdoei e assim pude seguir em frente com a minha vida.

E agora vejo que ele também seguiu com a dele.

— Aí, nossa, estou tão cansada, esse menino está me matando — ouço alguém dizer atrás dele com um sotaque português de Portugal bem carregado e então uma loira passa por ele — Com licença — ela sorri para mim e retribuo o sorriso abrindo espaço.

Ela está grávida.

— Vem, Rafael — ela o chama e sou eu quem quebra contato visual e passo por ele sem baixar a cabeça nem nada.

Caramba! Não estava preparada para isso. Algo misturado com felicidade por ele ter mudado de vida e por ele estar bem, e com dor por ver o que poderíamos ser se remexe dentro de mim.

— Vejo que já o encontrou — Mike diz com as duas mãos nos bolsos e começa a me acompanhar — Tudo bem? — Ele me olha e eu faço cara de tédio.

— Por que não estaria?