1. Spirit Fanfics >
  2. Criminal Love >
  3. Burned

História Criminal Love - Burned


Escrita por: Senara

Notas do Autor


Então, eu só ia postar amanhã, mas consegui terminar antes do previsto. Agradeçam a Akanemana, que me deu um belo tabefe na cara e me acordou. Sem ressentimentos, é claro! Tenho grande carinho por ela! <3 kkk
Bem, as coisas começaram a sofrer grandes mudanças agora...
XOXO

Capítulo 20 - Burned


Fanfic / Fanfiction Criminal Love - Burned

Estava de volta a Black Roses.

Soube assim que abriu os olhos. Reconheceu a parede cinza e mofada, a porta torta, os poucos móveis dispostos em fileiras e a mesma cama imunda e barulhenta rangendo abaixo de si. O antigo quarto cheirava a desespero e podridão. Usui fechou os olhos com força, até ver os pontos amarelos em sua visão para depois abri-los, verificando se estava apenas tendo um pesadelo. Não, aquilo era real.

Como foi parar ali? Tentou se levantar, mas ambas as mãos foram puxadas para trás com força. Olhou para os lados, a respiração ficando mais barulhenta conforme ia entrando em pânico. Estava acorrentado a cama. Como se não fosse o suficiente, seus pés também estavam presos.

Uma corrente de ar passou pela janela com grades, o fazendo tremer. Percebeu que estava sem camisa, vestindo apenas uma bermuda de pano. Estremeceu, e desta vez, não foi pelo frio. Era a mesma vestimenta que fora obrigado a usar nos primeiros dias naquele lugar, antes de subir ao patamar de VIP. Não que isso fosse uma situação muito melhor, mas pelo menos, podia comer cinco vezes por semana ao invés de quatro. Do que estava falando? Nada naquele lugar era bom. Suas lembranças voltavam em um turbilhão, fazendo com que a náusea o assolasse impiedosamente.

Só podia ser um pesadelo. Estava sonhando, tinha certeza. Black Roses tinham sido fechada há muito tempo, e a dona estava morta – tinha se assegurado disso pessoalmente. Então por que raios...? A porta se abriu de repente, revelando uma figura alta e ruiva, vestida com um collant de couro e alguns artefatos eróticos pendurados em um cinto.

- Erika. – Sua voz saiu em um sussurro. Estava se sentindo esgotado, e não fazia a menor ideia do por que.

- Takumi-kun, meu amor. – Ela sorriu. – Gostou do lugar? Charmoso, não?

- Onde nós estamos? – Rosnou baixo. Tentava não sentir raiva com frequência, mas o que sentia por aquela mulher... Ia além do desprezo mais odioso que se pode ter.

- Acho que você já sabe a resposta, Takumi-kun. – Erika se aproximou da cama e sentou ao lado dele, as pernas brancas enroscando nas de Usui. – Eu o trouxe aqui porque sabia que precisava de algo familiar, e também, não posso mantê-lo na minha mansão com o meu marido por perto, posso?

- Como descobriu sobre esse lugar? – Disparou outra pergunta, mexendo levemente os pulsos, tentando ficar mais confortável.

- Ah, foi bem fácil. – Ela abanou a mão, dispensando elogios. – Conversei com seu amigo, Igarashi Tora. Ele me deu todas as informações que eu precisava sobre o seu passado, incluindo o tempo que passou aqui. A parte difícil foi conseguir invadir o prédio abandonado, na verdade. E pense como será bom termos um pouco de privacidade! – Erika contornou as linhas do abdômen de Usui com as unhas perfeitas. – Ninguém vai te encontrar aqui, e poderemos ficar juntos para sempre.

- Você pretende me manter aqui, preso em uma cama, nu e acorrentado até o fim dos meus dias? – Tentou esconder a raiva em sua voz.

- É claro que não, bobinho! – Erika riu. – Depois de alguns dias, eu vou conseguir o que quero e então, como eu sei que não me ama e não está disposto a ficar comigo, vou matá-lo quando me cansar desta brincadeira. – Ela cerrou os olhos em uma linha doentia e se aproximou dele, o bastante para que seu cabelo roçasse a testa de Usui. A aura, antes sádica, agora se tornava sombria. – Eu já disse uma vez, Takumi. Se eu não posso tê-lo, então ninguém terá.

- Não sou um objeto, Erika. Algo que você pode manter para si. – Desvencilhou do toque frio dela. – Acha mesmo que ninguém vai perceber que eu estou desaparecido?

Erika fez um biquinho e Usui quase acreditou que ela estava triste.

- Eu já tomei conta disso, querido. – Ela se levantou, olhando pela janela com um ar pensativo. – Se qualquer um de seus seguranças ou alguém não autorizado chegar perto dessa área, um pequeno acidente pode acontecer com a sua querida detetive.

Usui sentiu o coração dar cambalhotas e o estômago congelar. A bile ameaçou escalar pela garganta e jorrar.

- Do que você está falando?

Desta vez, Erika parecia realmente muito brava. Os olhos escarlates estavam pegando fogo, os lábios, antes perfeitos, estavam torcidos em uma careta de escárnio. Não que ela soubesse o que essa palavra significa.

- Ayuzawa Misaki. – Disse aquele nome imponente e majestoso como se fosse algum tipo de doença. – Eu sei que foi por ela que você me deixou. Também sei onde ela mora, trabalha, faz compras... Até onde ela lava roupa. Se você tentar fugir ou entrar em contato com alguém... Bem, não sei o que pode acontecer com ela.

- Ela não tem nada a ver com isso. Deixe-a em paz. – Usui conseguiu, com muito esforço, manter o tom firme.

- Hum, é ai que você se engana, meu amor. – Erika de repente, era a mesma mulher manhosa de novo. Com os mesmos olhos picantes e pervertidos. Passando uma das pernas por cima de Usui, sentou em sua pélvis, deitando sobre ele e deixando que tivesse uma visão periférica de seus seios descomunais. – Ela é o motivo por tudo isso estar acontecendo. E ela deve pagar, mas tudo isso dependerá de você. Se me obedecer e fizer o que eu quiser, posso até considerar deixá-la em paz.

Usui não abriu a boca. Erika tinha acabado de ameaçar a única coisa que realmente importava para ele e agora queria firmar um contrato. Ah, se pudesse usar suas mãos...

- E então? Temos um acordo?

Como Usui não respondeu, Erika sorriu, como se já esperasse por aquela reação, ou melhor, ansiasse por ela. Começou a rebolar e a gemer em cima dele, quicando e mexendo os quadris incansavelmente. Usui não queria ficar excitado. Não queria mesmo, mas era homem, e aos poucos, foi sentindo o volume da calça se manifestar e cutucar Erika com uma certa força. Ela já estava ficando louca e nem tinham se despido ainda. Usui mordeu o lábio com força, tentando se conter.

Erika percebeu e começou a rir, como a perfeita sádica que era.

- Ah, Takumi-kun, eu tenho certeza que deve ser muito grande... – Deslizou alguns centímetros para baixo e segurou o cós da bermuda. – Eu quero dar uma olhada nele.

Puxou a bermuda para baixo e o membro saltou, pulsante. Erika arregalou os olhos, admirando a torre Eiffel a sua frente. Ela se inclinou para frente e o lambeu.

- Realmente... Delicioso. – Passou a língua sensualmente pelos lábios.

Como Usui poderia explicar isso a Misaki? Não podia arriscar fugir, não colocaria a segurança de sua Presidente em uma corda bamba, nem se isso significasse passar uma segunda vez pelo inferno na terra, o que, ironicamente, estava acontecendo. Não achava que conseguiria ficar muito mais tempo naquele lugar. Podia parecer calmo por fora, mas seu “eu interior” estava surtando. Nunca imaginou que teria que encarar aquelas paredes mais uma vez, ou que teria outra mulher imbecil acima dele, rebolando e abusando de seu corpo quando ele não podia fazer nada para impedi-la. Era pior do que tudo que já imaginou. Não conseguiria e não podia nem mesmo contatar Shiroyan. Este, com certeza, estava tendo um ataque.

Pensou em Misaki e em como a havia dispensado daquela maneira... Quando? Hoje de tarde? Ontem de noite? Não sabia quanto tempo tinha se passado desde que a tinha visto no cemitério. Tudo o que sabia era que nunca mais a veria, e pensar nisso fez com que seu coração doesse. Finalmente tinha conhecido uma mulher incrível, a exceção pela qual havia procurado por tanto tempo e agora a havia perdido. Tinha sido muito rápido e ele nem mesmo pudera apreciar e explorar este sentimento novo.

Ah, Misaki...

Lembrou-se dos cabelos castanhos e cheirosos, os olhos severos e âmbar, a pele morena e aveludada, aquela personalidade que te prende como um livro de Shakespeare. Nunca teria aquilo novamente, e a culpa era total e completamente sua.

Usui imaginou se algum dia retornaria a tocar aqueles lábios de Iracema. Talvez voltassem a se encontrar no céu, ou ele fosse para o inferno e fosse atormentado por pequenos capetinhas com o rosto dela. Não seria tão ruim, afinal.

 Não queria pensar em morrer enquanto pensava em Misaki, que era alguém tão cheia de vida e maravilhosa. Guardaria aquela imagem para si, para que pudesse pelo menos ter bons sonhos.Se ela estivesse ali, com certeza o espancaria por estar desistindo de tudo tão rápido e por ser tão pessimista. Como esperado de sua Presidente.

Sorrindo, fechou os olhos, enquanto Erika sentava com força em seu membro e abusava dele, assim como todas as outras ex-residentes daquela mansão doentia. Não se importava mais com aquilo. Erika podia estar se forçando para dentro dele, mas Misaki não precisa forçar uma entrada, fazia parte dele. Hoje, amanhã e sempre.

Pelo menos pude saber como é estar apaixonado apesar de ser uma merda, pensou. Obrigado, Ayuzawa.

...

Sakura trouxe mais um quilo de papelada, o jogando na mesa de Kanou.

- Ainda não acabou, Sakura-san? – Ele lamentou, enfiando o rosto nos braços cruzados. – Estou exausto. Estamos fazendo isso há horas.

- Eu não saio daqui enquanto não encontrar a prova que precisamos. – Sentou em sua mesa, decidida e voltou a folhear os documentos, com a energia renovada.

Faziam três dias desde que tinha falado com Kuuga. Ele seria deportado na próxima semana se ela não fizesse alguma coisa. Queria falar com ele, dizer que tudo ficaria bem, que acharia uma brecha na acusação feita, principalmente agora que Kanou e Yukimura a estavam ajudando. Mas não tinha certeza e estava proibida de falar com ele novamente, graças a Shizuko e Hanabusa.

Shizuko havia pedido um afastamento do caso, e estava viajando para a América, aparentemente, tentando se envolver em outro projeto. Disse que precisava respirar outros ares para se acalmar, o que era bom, porque assim, teria mais chances de salvar Kuuga.

Misaki estava engajando em um projeto pessoal, do qual não contava para ninguém, mas Sakura tinha certeza que envolvia Usui Takumi. Havia visto várias fichas com o nome dele na mesa da amiga. Ela nem mesmo ia para casa, ficava na agência o dia inteiro e periodicamente recebia visitas da irmã e de Hinata. Misaki estava vivendo a base de café e bolachas de leite. Sakura nunca esteve tão preocupada com a amiga, mas toda vez que perguntava alguma coisa, ela afirmava que estava melhor do que nunca e que só estava juntando pistas. Normalmente, tinha a aparência parecida com a de um zumbi. Assustou duas funcionárias enquanto saia do banheiro. Acharam que era uma assombração.

- Sakura-chan! – Yukimura entrou correndo na sala, com uma única folha em mãos e a gravata solta no pescoço. – Acho que encontrei o que precisávamos!

Sakura saltou da cadeira e em menos de um segundo, estava ao lado dele, vasculhando a folha com os olhos.

- O que achou?!

- Veja só, Shizuko o deportou porque encontrou indícios de que ele trabalhava como um traficante, e mesmo depois da cadeia e do trabalho voluntário, continuava no mundo do crime, certo? – Correu o dedo pelo arquivo, apontando para as palavras mais importantes.

- Sim, aonde quer chegar? – Para sua surpresa, foi Kanou quem perguntou.

- Bem, o problema é menor do que fomos induzidos a acreditar. – Yukimura umedeceu o lábio, levantando a cabeça para olhar para Kanou. – Ele vai ser exilado do país, mas não vai para uma cadeia, é mais como uma casa de reabilitação para traficantes. Fica na Coréia do Sul. Eles mantêm controle rigoroso de todos lá dentro e só podem sair, se saírem, depois de no mínimo três anos de confinamento.

- Shouchirou-kun... – Sakura choramingou. – Não me parece muito melhor...

- Sakura-chan, não chore! – Yukimura se desesperou. – O que eu queria dizer é que se arrumarmos testemunhas, provando que o Kuuga não é perigoso, não estava instável durante o trabalho voluntário e que está longe da criminalidade, podemos absolvê-lo da acusação.

- Testemunhas? – Kanou se juntou a eles, tropeçando em uma das várias pilhas de papéis. – Você quer dizer...?

- Minha avó. – Sakura fixou os olhos em algum lugar paralelo. – E quem é a outra testemunha?

Yukimura olhou para a parede, como se pudesse ver através dela. A sala ao lado era a de Misaki, onde não se ouvia ruído nenhum há alguns dias. Ela ficava quieta, lendo, pesquisando, anotando e dando telefonemas rápidos. Não falava com eles há algum tempo.

- A outra testemunha precisa ser a pessoa para qual Kuuga estava supostamente fazendo o trabalho. – Fitou os amigos, meio cabisbaixo. – Usui Takumi.

...

O celular de Misaki gritou, acordando-a repentinamente.

- Alien idiota! – Gritou, assustada. Mas não havia ninguém na sala. Estava sozinha. Ainda bem.

Tinha cochilado sobre uma pilha de papéis e sobre o teclado do computador. O brilho do visor queimou sua retina por alguns segundos enquanto ela tateava a procura do aparelhou, praguejando e derrubando várias folhas. Finalmente encontrou o celular, aceitando a chamada desconhecida.

- Ayuzawa falando.

- Ayuzawa-san, eu sou Shirokawa, segurança do Usui-san.

Uma pausa silenciosa tomou conta da ligação, acompanhada de uma tensão inegável.

- Eu sei quem você é. – Sua voz era furiosa e cautelosa. – O que quer?

- Usui-san foi visto pela última vez com você, em um cemitério, quando Ikkun o deixou. – Foi direto ao assunto. Ela não parecia a fim de jogar conversa fora. - Ligamos para ele, perguntamos a alguns conhecidos se o tinham visto, ligamos para aeroportos e ele não deu saída, bordéis, hotéis, boates, clubes, rodoviárias, ferroviárias, serviços de táxis, casas noturnas, Erika-san... Tentamos de tudo e nada. Ele está com você?

- Não. – Um raio passou por sua cabeça e ela se lembrou de suas mãos dadas na neblina. Parecia ter sido há séculos, mas só tinham se passado três dias. Misaki sentia que sua mão não podia estar em lugar algum que não fosse atada a do Usui, mas agora... Não tinha tanta certeza. – Não o vejo há alguns dias e, sinceramente, não me importa o que tenha acontecido com ele, desde que esteja vivo. Não posso colocar cadáveres na cadeia.

- Mas ele disse que...

- Não me importa o que ele disse! – Berrou, com as mãos tremendo. Estava furiosa e tinha perdido o resto de controle que esteve mantendo sobre si mesma. – Tudo o que me importa é que eu fui idiota em confiar nele, e que agora vou completar o meu trabalho, que era no que eu devia ter focado desde o começo!

- Mas, Ayuzawa-san...

- Ahhhhh! – Gritou de frustração, tentando manter o pensamento claro e a maturidade. Sentiu o peito subindo e descendo com força. Até quando Usui não estava presente, conseguia exercer poder sobre suas reações. Alien pervertido idiota! – Escute. Não tenho o menor interesse no que aconteceu com ele. Não posso e não quero ajudar. Não me ligue mais, e se encontrá-lo, diga a ele que a nossa perseguição começou e eu não vou perder. Nunca perco.

- Senhorita, por favor...

- Passar bem. – Desligou o celular e o atirou para o lado, querendo mais do que nunca descobrir sobre o paradeiro de Usui. Ele podia estar em perigo, mas tudo o que seu coração queria era vingança. Odiava a mulher patética na qual havia se tornado e não queria continuar assim. O único meio de voltar a ser quem era, seria arrancando o mal pela raiz. Prenderia Usui Takumi, nem que fosse a última coisa que fizesse na vida. Era uma promessa.

...

Alexandria tamborilou os dedos nervosamente na mesa. Não gostava de encarar Tora. Ele a fazia se sentir menor, apenas por olhar para ela. Pelo menos, em um restaurante, tinha várias outras coisas para olhar... Pessoas conversando, garçons, crianças correndo por entre as mesas e outras coisas entediantes. Qualquer coisa era melhor do que os olhos penetrantes de Tora.

Respirou fundo e levou o copo de água aos lábios, tentando se ocupar com alguma coisa.

- Se você pegar esse copo mais uma vez, eu vou embora. – Tora declarou, com os braços cruzados.

Largou-o em cima da mesa. Já estava nervosa por ter que enganar Yukimura, não queria aguentar as paranoias do irmão depois de ter tido um dia razoavelmente ruim. Tinha saído cedo de casa para esclarecer as ideias quando Tora a convidou “gentilmente” para um almoço. Homens de preto a agarraram e a jogaram em um carro. De repente, estava em um restaurante com sua pessoa menos preferida no mundo.

- Eu já disse que não descobri muita coisa. – Esbravejou. – O que mais você quer que eu diga?

Tora deu uma risada seca.

- Achei que tinha deixado claro o que eu queria, maninha.

Alexandria torceu o nariz, enojada.

- Não gosto que me chame assim.

- Hum. – Deu de ombros. – Você é a pessoa que faz tanta questão de ser reconhecida como Igarashi e como minha irmã. Estou fazendo sua vontade apenas.

- Por que faz isso, Tora?

O canto dos lábios felino se repuxou, como o perfeito sádico que ele era.

- Faço o que?

- Trata a todos como se fossem seus inimigos. Se continuar assim, pode acabar conseguindo o que quer. – Não sabia de onde tinha reunido tanta coragem. Talvez provinha do tempo em que tinha passado com Yukimura. Tinha sido o ponto alto de sua vida até agora.

- Eu te chamei aqui para conseguir minhas respostas, já que provou que eu tenho certo controle e manipulação sobre você, espero que me dê o que eu quero. Porque eu vou conseguir, sabe? Eu sempre dou um jeito.

- Então por que precisa de mim? – Repetiu a pergunta que a assombrava.

- Você é um bônus, Alexandria. – Aquele sorriso odioso não deixava seu rosto nem por um segundo. – São dois coelhos com uma cajadada só. Consigo as informações que preciso, e quebro seu coração em milhões de pedaços de graça. Isso é o que nós, homens de negócio, chamamos de “bom contrato”.

- Acabar com a vida da sua irmã é um bom contrato? – Cada nova palavra que saia de seus lábios era um novo veneno para ela. Tora adorava ver as pessoas sofrendo. Principalmente ela.

- Acabar com as vidas das pessoas que você odeia é um ótimo contrato. – Tora pegou a taça de vinho e a girou nas mãos. Apesar de ser desprezível, era terrivelmente charmoso. – Agora, quanto mais tempo eu passar longe de você, mais feliz fico. Comece a falar.

Alexandria respirou fundo. Queria ficar longe do Japão e de todas aquelas pessoas que a faziam se lembrar de sua vida antiga e desprezível. E o único meio de se afastar de tudo aquilo, seria sair dali. Somente Tora poderia lhe conceder isso. Ele podia ser um rato nojento, mas sempre mantinha a palavra.

- A única coisa que eu sei é que Hanazono Sakura está apaixonada por aquele criminoso, Sakurai Kuuga, mas que ele será exilado do país em alguns dias.

Tora parecia realmente irritado. Não podia imaginar o que tinha feito para deixá-lo zangado. A não ser, é claro, que ele achava motivos até mesmo para odiar sua respiração.

- E Ayuzawa Misaki? – Era óbvio que ele só pensava nela.

- Por que o interesse obsessivo por essa mulher?

- Responda a pergunta.

- Ela ainda está investigando Usui Takumi, mas parece que ele está desaparecido há alguns dias. Tem muitas pessoas procurando por ele.

Tora retorceu o rosto em algo estranho, que Alexandria não conseguiu identificar. Aquele tipo de expressão que você reconhece pessoalmente como quem está por trás de tudo, ou quando um sua maquinação ocorre como o planejado.

- Você sabe onde ele está. – Afirmou. É claro que sabia. Igarashi Tora era o mestre das informações e esquemas.

- Isso não é da sua conta. Porém, fico feliz que Erika tenha feito o que me prometeu. – Virou a taça de vinho em dois goles. – A situação não podia ser mais favorável. – Pareceu se dar conta da presença da irmã pela primeira vez naquela tarde. – Tem mais alguma coisa que eu precise saber?

- Não.

- Como anda o seu detetivezinho?

- Não é nada que você precise saber. – Declarou, deixando claro que a conversa tinha terminado.

- Então, suponho que não queira que eu conte sobre o... – Seu celular vibrou em cima da mesa. Identificou o número de Maki e o atendeu de pronto. – Maki?

- Igarashi-san, Erika entrou em contato comigo há alguns minutos. Ela deseja vê-lo.

- Há algo errado? – De repente, aquela sensação de vingança completa trincou.

- Ela quer acertar o pagamento e disse precisar falar algo sobre o prisioneiro. Algo importante. – A voz de Maki estava tensa.

- Certo. Marque uma reunião com ela. Tanto faz o lugar. Já terminei com a minha irmã. – Alexandria percebeu, com um exalto, que era a primeira vez que Tora a chamava assim sem um pingo de sarcasmo ou desprezo em sua voz. – Mande o endereço para o meu celular. Chego em vinte minutos

- Muito bem, senhor. Considere feito.

- Sempre considero, Maki. – Depois desligou o celular. – Como acabou de ouvir, eu preciso ir. Será requisitada quando eu precisar de você de novo. - Deixou uma nota de dinheiro sobre a mesa e agarrou o casaco. – Até mais tarde, maninha. – Desagradando-a com um sorriso, se virou e estava prestes a ir embora, mas voltou-se para ela. – Ah, sim, quase me esqueço. Daremos uma festa na mansão Igarashi amanhã á noite. Sinta-se a vontade para chamar seu namoradinho detetive e os amiguinhos dele. Eu adoraria conhecê-los.

- Não achei que estivesse em clima de festas. – Ele sempre tinha uma carta na manga. Alexandria não sabia se isso era preocupante ou extremamente preocupante.

- É claro que estou. Amanhã é seu aniversário. Achou mesmo que eu me esqueceria? – Não tinha amor fraternal em sua voz. Apenas um desprezo máximo, mascarado com um aproveitamento maligno. Ele tiraria proveito de tudo que pudesse. Igarashi Tora era uma sanguessuga que sabia aproveitar as chances que lhe eram dadas. Maquiavel sentiria orgulho dele. Um verdadeiro desfrutador da fortuna.

Alexandria estava prestes a responder, quando encontrou os olhos amarelos de lince, que a calaram no mesmo instante.

- Se você não for... Bem, coisas muito ruins podem acontecer com muitas pessoas de que você gosta. Pense nisso, tudo bem? – Dando esta alegre declaração, Igarashi deixou o restaurante, levando consigo todos os olhares das mulheres presentes.

Inclusive o da irmã, que agora agonizava em pavor. A ameaça que pairava no ar era palpável. Como tinha dito anteriormente, Igarashi sempre mantinha a palavra. Sempre. E não seria desta vez que daria para trás.

Como se Alexandria já não tivesse motivos suficientes para  temer o irmão.

...

Usui piscou os olhos confusos e verdes.

Ainda estava acorrentado a cama, mas desta vez, suas mãos estavam livres. Não era um grande progresso, diga-se de passagem. Mesmo retomando o comando das mãos, para onde iria? Espiar a janela, talvez? Abrir as gavetas que não deveriam ter nada, apenas baratas? Ou melhor, quebrar a cama e com a madeira que conseguir e se matar e construir uma cruz para seu enterro de uma pessoa só. Não necessariamente nesta ordem.

Suspirou, sem reconhecer o que se agitava dentro de si. Medo? Ódio? Pavor? Raiva? Desprezo? Tudo junto e um pouco mais? Não fazia mais diferença. Ficaria louco em alguns dias, ou Erika tinha decido que o sexo morto com uma pessoa semi-inconsciente não tinha sido muito agradável e o mataria logo em seguida. Não importava o que aconteceria, iria morrer de qualquer jeito. Sua força e vontade para fazer qualquer movimento que fosse tinha ido embora com o sol. A noite estava muito fria, e um ar gelado assobiava por entre as grades da janela. Decidindo parar de vegetar por alguns segundos, se esticou para pegar o lençol rasgado e o jogou por cima do corpo.

Ótimo, já podia riscar hipotermia da sua lista “do que eu vou morrer”. Restava ainda o tédio ou DST’s.

Percebeu um brilho fraco pelo duto de ventilação e interrompeu seu monólogo fúnebre e depressivo. Cerrou os olhos e se inclinou em direção a grade metálica. Não era um brilho, e sim dois. Duas bolas medianas e douradas viradas em sua direção, e estavam assustadoramente arregaladas.

Usui jogou o lençol de lado e desceu da cama. Assim que o fez, o brilho se afastou um pouco, relutante.

- Não se aproxime. – Uma voz sussurrou do escuro.

- Quem é você? – Podia ser um gnomo. Usui resistiu ao impulso de espancar a si mesmo. Já tinha começado a alucinar.

- Meu... Meu nome é Miyuki. – Os olhos dourados se aproximaram um pouco. Não estavam mais tão hesitantes. – Você tem um nome?

- Depende.

- Do que?

- De quem quer saber. – Chame-o de paranoico, mas teve experiências ruins o bastante para deixá-lo desconfiado de muitas coisas. Inclusive brilhos místicos em dutos de ventilação em uma mansão nojenta no meio da noite.

- Já te disse o meu nome. – O brilho fraco estava bravo.

- O que está fazendo ai? – Ergueu uma sobrancelha. Como alguém possivelmente poderia caber lá dentro?

- Eu moro aqui.

Usui piscou.

- Você mora no duto de ventilação?

- Não aqui, aqui. Aqui, aqui.

Usui piscou de novo.

- O que?

- Eu quis dizer que moro nesta mansão.

- E onde estão os seus pais? – Ele quis saber. Já era fácil deduzir pela voz que se tratava de uma criança.

- Não conheci a minha mãe, e meu pai saiu para beber. Acho que está muito divertido porque isso foi há cinco anos. – A voz perdeu a força de repente.

- Pode sair daí. Não vou te machucar. – Tentou evitar do assunto de pais. Não tinha tido experiências boas com os seus também.

- Eu não... As pessoas não gostam de olhar para mim. – Sua voz falhou, e o brilho se perdeu por um momento. – Elas têm medo.

- Medo do que? – Usui franziu a testa. A criança não podia ser nenhum monstro.

Ouviu-se um suspiro pesado, logo após, o rangido de parafusos sendo retirados do lugar e a grade se movendo para o lado. Uma figura pequena se agitou na penumbra. De lá, saiu uma garotinha. Usui sentiu como se tivesse colocado um dedo molhado na tomada. Era idêntica a Misaki. Os olhos, como previsto, grandes e amarelos. Cabelos escuros que não passavam dos ombros, e a pele morena. Usava um vestido que algum dia tinha sido branco, mas agora estava imundo pela ação do barro e da água. Porém, a pele do rosto, braços e pernas de Miyuki estava suja de terra e alguma coisa roxa.

Conforme ela vinha para a luz da lua, ele foi diferenciando os detalhes da fisionomia com mais afinco e desejou não tê-lo feito.

Usui percebeu que a coisa roxa não era sujeira. Eram queimaduras. Nos lugares onde estava marcada, a pele dela era enrugada e tinha um aspecto morto, como se tivesse apodrecido. Manchas do tamanho de maçãs se espalhavam por todo o seu corpo. A parte esquerda do rosto infantil era caída e murcha, e deformava o que era para ser algo belo e a sobrancelha esquerda era inexistente. Os dedos pareciam gravetos tortos, assim como as pernas marcadas. Usui teve que resistir ao impulso de arquejar e se afastar dela.

- O que aconteceu com você? – Conseguiu perguntar, tentando aliviar o olhar de pena.

- Nasci assim. Acho que foi por isso que meus pais não me quiseram... – Pareceu ponderar, mas com a metade do rosto destruída, era meio difícil dizer. – Eu chamo isso de síndrome do Fantasma da Ópera, porque eu me pareço bastante com ele.

Usui tinha que admitir, ela tinha senso de humor.

- Você não está com medo? – Relampejou os olhos para ele.

- Estou... surpreso, eu diria. Mas não com medo. – Tentou se colocar de pé, mas tropeçou na corrente que o segurava.

Miyuki pareceu perceber as algemas compridas e metálicas.

- Quem prendeu você aqui?

- Ex-namoradas podem ser loucas ás vezes.

Ela franziu o nariz queimado para Usui.

- Você é Usui Takumi? – O silêncio dele e o olhar despreparado serviram como resposta. – Ouvi alguns homens no corredor conversando. Você fez algo muito ruim para uma mulher e não pode sair de jeito nenhum.

- É mesmo? – Ele esticou o pé, como que para desfrutar das correntes. – Achei que estava aqui a passeio.

Miyuki enlaçou as mãos atrás das costas e desenhou círculos invisíveis com o pé no chão. Estava visivelmente nervosa.

- Eu queria saber... Será que eu posso ficar um pouco aqui com você? É que eu nunca recebo visitas e você é a única pessoa que não gritou quando me viu e não tem medo da minha aparência ou atira frutas em mim, me chama de “demônio” e “aberração”. Ah! – Ergueu o indicador fino, se lembrando de alguma coisa. – Já me chamaram de meretriz de Lúcifer também, mas não sei o que quer dizer.

- Sinto muito, mas as frutas estão em falta por aqui.

Usui não sabia se sentia pena ou se sentia um lixo. O único meio que encontrava para não expressar seus sentimentos era através do sarcasmo, mas ela parecia tão inocente, dizendo coisas como aquelas como se não fossem nada. Ele não pode negar um sentimento estranho. Compaixão, muito provavelmente.

Ela ainda olhava para Usui, aguardando uma resposta.

- Eu estou muito ocupado no momento, mas acho que posso te encaixar na minha agenda.

Miyuki expandiu um sorriso e todo o quarto foi iluminado. E daí que ela tinha queimaduras e era considerada feia? Uma vez que o agraciou com uma visão de seu sorriso, a beleza de sua pureza e inocência foi tudo o que Usui conseguiu ver. Parecia mais um pequeno querubim, enfeitado e protegido pelo fator fofura.

- Muito obrigada, Usui-san! – Qualquer que fosse o temor dela ou receio se dissolveu no momento em que Miyuki sorriu. Ela correu de volta para o duto, pescou alguma coisa, e depois que agarrou o que queria, disparou para a cama e pulou, quicando algumas vezes antes de parar sentada. – Você sabe ler?! – Arregalou os olhos dourados e esperançosos para ele.

- Se eu sei ler? – Usui soltou um riso soprado enquanto se sentava ao lado dela. – Fui eu quem inventou a escrita.

- Oh! – Toda sua expressão mostrava a mais completa admiração por ele. – Verdade? – Sua voz se parecia com a daquelas pequenas personagens de animes, que geralmente são as mais fofas.

- Sim. Deixe-me ver o que tem ai, Mini-Ayuzawa.

- Mini o que? – Encarou-o como se tivesse falado grego.

- Esquece. E então? Que livro é esse?

 - Hum, não tenho certeza, porque eu não sei ler, mas acho que o nome é... O Patinho Feio. A moça que me deu disse que a história combina muito comigo! Disse que é porque é um conto muito bonito. – Tinha um olhar sonhador enquanto passava os dedos delicados sobre a capa.

Usui foi arrebatado por uma raiva incontrolável pela mulher que havia dado o livro a Miyuki. Falando coisas assim a uma criança que jamais viria a maldade em suas palavras, era realmente algo detestável. Se bem que ele não estava em posição de julgar.

- Eu não sou burra, Usui-san. Sei o que ela quis dizer ao me dar o livro. – Miyuki estava lendo a mente dele? – Mas penso que se eu for mesmo o patinho feio, algum dia vou crescer e ficar bonita e então, ninguém mais vai ter medo de mim. Vou poder ter amigos, e quem sabe uma família. Vou poder caminhar pela rua sem que atirem coisas em mim.

- Achei que não soubesse ler. – Usui não estava se saindo bem em responder monólogos ultimamente.

- E não sei. Mas eu fui olhando as figuras e consegui entender a história. – Miyuki fez outra careta fofa. – Bem, mais ou menos. Pode me ensinar as letras?

- Não sei, não. – Usui se espreguiçou. Parecia que tinha arrumado sua companhia, afinal. Bem melhor do que todas as mulheres inúteis que tinha encontrado naquele lugar. – Quantos anos você tem?

- Tenho sete anos e meio!

- Então acho que posso te ensinar algumas coisas. – Deu de ombros.

- Mesmo?! – Ela ergueu os braçinhos, comemorando. – Isso! Agora vou poder ler todos os meus livros!

- Tem mais?

- Sim, eu roubo alguns de vez em quando. Posso trazer depois, se você quiser. – Os orbes âmbar brilharam de excitação.

- Ah, fazer o que? Não tenho nada melhor planejado mesmo.

- Muito obrigada, Usui-san! Do fundo do meu coração! – Miyuki abriu o livro sobre as pernas de Usui e se reencostou nele, encolhendo as perninhas finas e as abraçando junto ao peito. – Vamos, eu te ajudo! Começa com ”Era uma vez...”.

Usui quase sorriu, mas consegui se deter a tempo. Não podia ir se afeiçoando as pessoas daquele jeito. Realmente, Misaki havia mudado tudo sobre ele. Apenas o fato de pensar nela fazia com que seu peito queimasse. Uma série de perguntas o inundava quando trazia esse nome á tona, e suspeitou que aquilo não melhoraria, uma vez que agora passaria os seus últimos dias com uma miniatura de Misaki. Não era um jeito horrível de se despedir do mundo, afinal. Pelo menos, teria o privilégio de uma companhia agradável.

Ele deu início a história, fazendo algumas observações durante a leitura, para que ela entendesse alguns sons. Miyuki era muito inteligente e aprendia com rapidez, o que causava um certo deleite em Usui, era verdade. Apenas depois que encerrou a história, que percebeu que Miyuki tinha adormecido em suas pernas, cochilando com o polegar junto aos lábios entreabertos, a respiração serena se igualando a de um anjo.

Realmente, ela era idêntica a sua Presidente. De que jeito poderia ir dormir mais em paz se não olhando para o rosto sereno de Misaki? Não havia nenhum outro melhor. Só esperava que pudesse vê-la outra vez antes de... Do que quer que aconteça com ele.

Inclinou-se e beijou o topo da cabeça castanha.

- Boa noite, Misaki.


Notas Finais


Miyuki é muito fofa <3
XOXO


Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...