S/p.o.v.'s
— Bom dia... — Entro na sala onde permanecia Ji Yong, concentrado em sua televisão assistindo um programa humorístico.
Recebi uma resposta em branco, onde fiquei totalmente histérica e aborrecida pelo vácuo. Sentei-me ao seu lado e após de três minutos exatos constrangidos, o mesmo retirou sua atenção da tela e observou-me com uma feição confusa.
— O que você quer? — Perguntou com frieza. Ji Yong não sabia, mas eu estou muito só nesta casa. Não diferente do normal, pois vivia exatamente deste jeito quando morava na mansão, porém conviver no mesmo local com o seu "amigo" que a sequestrou resulta em solidão. — Não faz essa cara, me dá nojo.
— Ji Yong...Eu quero ir para casa. Se o mérito dessa desavença toda foi por dinheiro, não se preocupe pois eu mesmo pagarei o resgate. — Ele me olhou disperso por um curto tempo, e logo levantou seu copo para beber a cerveja que lá se preservava. — Você entrou contato com o meu pai?
— Você deveria saber que o Kim Jong está pouco se fudendo com o seu sumiço. — Novamente mirou seus olhos para mim. Exitei um pouco de perguntar o porquê disso tudo, mas a minha cabeça está muito conturbada e não irei desistir de saber o que se passou na mente deste cara, ao ponto de sequestrar sua amiga. — Por que está olhando para mim?
— A nossa conversa de ontem ainda não foi finalizada. Eu quero saber o porquê de tudo isso Ji Yong! Por que você odeia tanto a minha família? Qual foi o motivo que o levou a este caminho do crime? E o que há por trás daquela porta?
— Está com a língua afiada hoje. Sobe para o seu quarto. Eu nem ao menos lhe dei autorização para descer.
— Eu quero o café da manhã.
— Espera aí. Eu não trabalho mais para você, por isso não aceito mais as suas ordens.
— Você que escolheu isso Ji Yong. Agora sofrerá as consequências. Eu quero café da manhã com torradas e geleia de morango fresco.
— Não irei fazer merda nenhuma até saber quem é que manda aqui!
— Então é assim? Você parece um troglodita da época paleolítica que apenas gosta das mulheres para marcar território.
— Chega S/n! Por punição, você não irá comer até o jantar. Agora pare de encher a porra do meu saco e suba para o seu quarto! — Apontou sua mão para as escadas. Comecei a resmungar caminhando até o local, porém parei na frente daquela maldita porta. Essa noite irei descobrir o que esse idiota esconde tanto.
Kwon Ji Yong p.o.v.'s
— Finalmente você chegou! — Esbravejei ao ver Daesung entrando na sala, logo após S/n ter saído.
— Eu perdi alguma coisa? — Perguntou o moreno jogando-se no sofá. Retiro seus pés que estavam por cima da mesa de centro e o mesmo resmungou e espreguiçando seu corpo.
— Eu não aguento mais Daesung! A partir de hoje, você será o responsável em cuidar da refém.
— Hyung, você ainda continua usando esse termo? A "refém" tem nome, mas ao contrário desse orgulho todo, você opta por isso.
— Eu não gosto de sermão Daesung, vá para a merda com esse discursinho.
— Tanto faz. O que houve ontem à noite? Taeyang mandou uma mensagem para mim dizendo que cansou dessa vida de crime.
— Esse idiota é um traíra...
— Ji Yong, você já pensou na probabilidade dele contar tudo ao pai da S/n onde ela está?
— Ele não seria tão estúpido assim.
— Mas eu acho melhor conversar com ele. Podemos fazer um acordo e talvez ganhar um lucro com o Kim Jong. Ah e eu esqueci de contar a novidade. — Deu continuidade ao assunto. — O pai da S/n está louco procurando por você.
— Como sabe disso?
— Esqueceu que sou um espião? O que irá fazer em relação a isso?
— Eu não sei. Aish eu estou com tantos problemas que nem ligo mais para esse velho.
— Você contou para a S/n o que está acontecendo com você? Ela pode ajudar nós, e...
— Por que vocês insistem tanto que a S/n não sabe de nada? Vocês vivem me cobrando para contar tudo mas...
— Agora você irá me escutar Ji Yong! —Interrompeu-me se levantando do sofá e encarando para o meu rosto. — Eu cansei de ser o ingênuo da turma e parece que nada abre seus olhos, e olha que os meus olhos são pequenos!
Rio com as suas referências e o mesmo coçou sua garganta para que eu voltasse a dar minha atenção à sua bronca.
— Não sei se o Taeyang disse isso, mas você é muito teimoso. A garota está sofrendo mas parece que você não dá importância para os seus sentimentos. Você acha mesmo que ela seria sua amiga apenas por compaixão por tudo que o seu pai fez para a sua família?
— Já acabou? Agora quero que entenda o meu lado. O que você faria se a sua infância inteira, tivesse que conviver com a miséria e observando seus pais pedirem por piedade para que possa alimentar o próprio filho? Você não pensaria em vingança?
— Talvez...
— Então! Vamos dizer que ambos os lados estão errados em diversos contextos. Eu não gosto de vingança mas esse foi a única solução que encontrei. O Kim Jong não pode sair impune por seus estragos. Seul sofrerá por grandes danos se este homem continuar com a sua linha de gângster.
— Agora eu entendo o lado do Taeyang. O problema não está essa vida que estamos levando, e sim a pessoa que está conduzindo. Você é muito teimoso, eu vou dar no pé antes que eu me arrependa.
— Você também irá sair dessa? Daesung pense no quanto iremos receber com o dinheiro do resgate.
— Eu só irei voltar quando você esquecer dessa ideia maluca! — Saiu da sala batendo a porta fortemente. O barulho foi tão estrondoso fazendo com que S/n descesse as escadas preocupada. Virei meu corpo, na qual dei direção ao meus olhos para ela cabisbaixa.
— Quem deu permissão para descer?
— O meu pai causou algo na sua família durante a sua infância, estou certa?
— Olha só, parece que finalmente conseguiu chegar ao ponto que eu queria que chegasse. Não gosto que escutam minhas conversas mas parabéns pela coragem. — Digo batendo palmas enquanto passava ao seu lado. A mesma suspirou incrédula e puxou o meu braço, na qual fiquei prensado na parede. — Isso está estranho...
— D-desculpa. — Soltou-se de mim e sem dizer mais nada, subiu até o seu quarto onde a segui silenciosamente. Após ter fechado sua porta, pude escutar um fino choro na qual senti-me um tanto desconfortável com a situação.
"A garota está sofrendo mas parece que você não dá importância para os seus sentimentos."
Aperto meus punhos contra a porta e em seguida desço em direção à cozinha, para que pudesse preparar o jantar de mais tarde já que hoje não haverá almoço.
[...]
— Droga! — Resmungo após ter derrubado uma panela de alumínio no chão. Me agacho para pegar e em seguida pego meu celular no balcão para ver se havia alguma notificação. Apenas mensagens de texto que minha mãe mandava para lembrar-me que brevemente estará de volta.
Isso será um problema pois devo me livrar da S/n o quanto antes que a minha mãe descubra ao ver seu filho voltando novamente no mundo do crime.
S/n p.o.v.'s
Estava por trás da porta observando Ji Yong todo atrapalhado com as panelas, ao meu lado também observava de longe aquela porta. Não seria uma boa oportunidade de ver o que há por trás da mesma? Por outro lado minha atenção não saía do garoto que estava histérico em não conseguir fazer o jantar.
— Puta que pariu... — Resmungou colocando suas duas mãos sob o rosto, por cima do balcão. Meus olhos deram visão ao desastre que cometeu em relação ao prato. Suspirei fundo e caminhei até o mesmo na qual me encarou surpreso. — O que faz aqui?
— Eu achei que precisasse de ajuda. — Apontei para o prato e o maior coçou seu pescoço vergonhoso com a situação. — Quer que eu ajudo?
— Você não sabe cozinhar.
— Você que se engana! — Caminho até a pia e lavo minhas duas mãos, coloco o avental logo após e fiz um rabo de cavalo em meus cabelos para ajudá-lo a consertar seu estrago. — Qual é o prato de hoje? — Perguntei aproximando-me e o mesmo sorriu pasmo.
— Não está óbvio? — Apontou seu indicador para o prato e lá observei as almôndegas totalmente diferentes do livro de receitas. — Eu estou com a mente conturbada. Não consigo fazer nada.
— Entendo. — Respondo simplista e nos encaramos por alguns segundos, ele soltou um pigarreio e volto para a realidade, colocando todos os pratos usados dentro da pia. Passou um bom tempo e lá ficamos preparando tudo. Estar ao seu lado trazia diversas sensações estranhas e desconhecidas. — Isso me lembra da época em que cozinhávamos na mansão, aí eu sempre estragava a sala!
Digo relembrando dos tempos que éramos unidos. Surpreendentemente ouço uma risada sua enquanto cortava o repolho.
— Você sempre foi terrível na cozinha. Nem sei por que está querendo me ajudar sendo que não há nenhuma especialidade nisso.
— Talvez seja pela companhia... — Digo em um tom baixo na qual o fez olhar para mim. — Me desculpa Ji Yong.
— Por que está se desculpando?
— Eu não sei...mas quando vemos uma pessoa próxima triste com algo, a única coisa que podemos fazer é se desculpar sem esperar uma expectativa de receber o perdão em troca. Se meu pai fez algo para você, devo fazer isso em seu lugar. Já que o "velho" é ranzinza. — Digo soltando um fraco sorriso, lembrando-me do mesmo discutindo com o Daesung, cujo descobri seu verdadeiro nome ao meio da discussão toda, onde em um breve momento chamou meu pai de velho. — Então a única coisa que eu posso fazer é pedir uma humilde desculpa.
A cozinha soou um silêncio enquanto negavamos um contato visual com a companhia ao lado. Senti-me estranha em saber sua resposta. Eu não queria sair do seu lado. Eu tenho que me conformar que Ji Yong é frio e não se importa com meus sentimentos.
— Você está se desculpando por algo que realmente não sabe?
— Sim.
— Bom, talvez o Taeyang e Daesung estejam certos e que eu seja um pouquinho teimoso.
— Pouquinho?
— Quer me atrapalhar? Estou tentando explicar tudo e...
— Não. — O interrompo levando minhas mãos em seu peitoral, mas logo as afasto. — Pode dar continuidade, mas quero que escute uma coisa. Se for para ser grosseiro e jogar precipitações apressadas, eu espero que em primeiro lugar se acalme e repense se realmente quer contar-me o que realmente aconteceu. Eu não quero me assustar igual ontem...
— Oh, desculpa se ontem tive um ataque e a acabei derrubando tudo. E se a assustei também. — Balanço minha cabeça mostrando sem importância e o mesmo ficou nervoso mordendo seu lábio, a fim de contar para mim o que se passava em sua mente. — Bom eu acho que estou enrolando demais com isso. O seu pai anos atrás havia feito um terrível estrago em minha família durante a época em que eu era uma criança. Esse golpe foi o motivo de ter crescido e conquistado tanto com essa vida de gângster. Meus pais eram grandes milionários sempre com o objetivo de melhorar as condições de algumas pessoas necessitadas. Meu avô naquele tempo estava combatendo uma terrível doença chamado doença de Gaucher, isso requer remédios especiais para que o melhoramento seja restaurado em seu corpo. Mas naquela noite...
Kwon Ji Yong olhou para um ponto fixo da cozinha, talvez relembrando do passado.
— A noite que era para ser o meu aniversário de sete anos. — Deu uma pausa segurando suas lágrimas que teimava cair. — Seu pai entrou na minha casa...Matou boa parte dos meus amigos e familiares. Além de ter roubado todos os nossos pertences.
Fiquei boquiaberta com o seu relato. Ji Yong já chorava incessantemente colocando uma de suas mãos no rosto, lembrando do seu "feliz" aniversário. Levei uma das minhas para secar as lágrimas que caíam mas o mesmo se recusou.
— Ji Yong...Eu não sabia disso. — Digo com a minha cabeça baixada. — Deve ter sido uma grande trauma em sua infância. Ter perdido todos que amavam além de sua riqueza.
— Eu não me importava com a riqueza S/n. — Me olhou sofrido segurando ainda mais suas lágrimas. — O que foi realmente doloroso para mim, é ter visto meus pais trabalhando dia após dia com o objetivo de colocar um café da manhã para o seu filho. As mãos da minha mãe sangravam pelo excesso de trabalho doméstico, limpando o chão apenas com um pano. Meu pai trabalhava toda noite e infelizmente não tinha tempo para sentar ao lado do filho e perguntar aquilo que todos gostam de ouvir, "O seu dia foi bom?" Eu perdi minha infância por culpa do seu pai! — Vociferou no final.
— Eu sinto muito. Eu não tenho coragem de olhar para os seus olhos por vergonha! — Coloquei minhas mãos no rosto entristecida. Meu pai poderia não ser um dos melhores pais do mundo, mas jamais poderia imaginar que ele matou diversas crianças e familiares em um único local, apenas para crescer criminalmente.
— Quando a encontrei naquela noite, eu nem ao certo sabia quem você era. Depois que descobri que era filha do maior gângster de Seul, hipoteticamente presumi que poderia arrancar um bom aproveito disso.
— Foi essa razão de ter se aproximado de mim? — Balançou sua cabeça por cima de minha pergunta, afirmando que tudo tratava-se de uma farsa.
— Eu queria fazê-la minha amiga para que em algum momento propício, pudesse sequestrá-la e pedir por uma boa quantia. Mas parece que essa amizade foi um pouco além disso.
— Quer dizer que você guardava sentimentos por mim, com medo que apaixonasse pela minha pessoa e desistisse dessa vingança? — Perguntei um pouco receosa em ouvir a sua resposta. — Ji Yong você gosta de mim?
O peguei desprevenido com a minha resposta direta. Que merda passou na minha cabeça em fazer essa tola pergunta? Esse silêncio está deixando-me louca!
— S/n...Desculpe se alimentei falsas esperanças. — Diz observando suas mãos inquietas aa quais se recusavam se parar. — Mas eu jamais irei sentir algo a mais por você. A minha vida não depende de uma mulher ao meu lado...
Se isso me doeu? Parece que estou em uma sensação de estar no meio de um precipício, repensando se irei desistir de tudo. Essas palavras entraram em meu coração e lá posso sentir um represa quebrando todos os seus pilares...
Ji Yong por que suas palavras me machucam tanto ao ponto de querer sumir?
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