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História Croack! - Scars Go Ouch


Escrita por: ikus

Notas do Autor


ALÔOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOO MEUS LINDOS, TURUBEM???

AI, AMO ESSES SÁBADOS QUE É DIA DE POSTAR, E VOCÊS????

SEM MAIS DELONGAS, BOA LEITURA!!!

Capítulo 7 - Scars Go Ouch


Fanfic / Fanfiction Croack! - Scars Go Ouch

— Ok, você pode fazer o favor de parar de me encarar? — O sapo soltou a colher que usava para comer sua salada de frutas dentro da tigela, frustrado, deixando um tilintar soar pela cozinha.

— Só estou apreciando sua incrível presença. — Falei pomposamente, tentando enrolar ele. Não deu certo. O híbrido revirou os olhos, suspirando, até porque sabia que era mentira.

E era mentira mesmo. Eu não conseguia tirar as cenas do dia anterior da minha cabeça. De como o híbrido respirava entrecortadamente, de como sua pele ficara seca, de como até agora seus pés estavam cheios de feridas. Era como se a qualquer momento ele pudesse passar mal e eu fosse completamente inútil e impotente de novo.

— Me desculpa por todo o trabalho que eu dei ontem. — Se encolheu, lambendo nervosamente os lábios, olhando pra sua salada de frutas. Só nessa hora que eu me toquei que eu estava realmente lhe deixando muito desconfortável encarando. Me xinguei mentalmente.

— Essas coisas acontecem. — Consolei-o, dando um sorrisinho fraco. — Fico feliz que esteja bem, Jimin ssi. — Falei normal até a parte de pronunciar seu nome, quando forcei minha voz de velho de novo.

Felizmente, minha tentativa idiota de fazê-lo rir deu certo, mesmo que eu não soubesse muito bem como isso funcionava. Jimin ssi realmente era uma palavra muito poderosa.

O híbrido gargalhou alto, tentando me atingir com uma linguada no processo, mas não conseguiu até porque rir e dar uma linguada exigem mais ou menos a mesma parte do corpo e fazer os dois juntos não dava muito certo.

Depois de se recompor, voltou a comer, feliz. E, aliviado, parei de encarar tanto ele. Parecia estar bem apesar de tudo, e aquilo era suficiente para mim.

Hoje era o meu dia, então lavei as louças enquanto Jimin se arrumava e, sei lá, passava hidratante para finalmente irmos à HP. Namjoon queria dar uma olhada melhor no híbrido e eu, por outro lado, precisava trabalhar. Às vezes é bom. Não tinha nenhuma campanha específica para fazer, mas pensei em adiantar os editoriais do ano.

Depois de lavar a pouca louça rapidinho, também me arrumei. Poucas coisas mudaram. A minha roupa de ficar em casa, que era uma blusa lisa e uma calça de moletom eram as mesmas de sair pra rua. Então basicamente só escovei os dentes e troquei as pantufas por um tênis qualquer.

Jimin já esperava sentado no sofá, lendo algo em seu Kindle para estudo (os marcadores, anotações e usabilidade eram um pouco diferentes do comum), provavelmente algum livro de administração. Não sei muito bem o nome de uma matéria específica pra falar aqui, então tenho que usar o genérico mesmo.

Indiquei com a cabeça para que ele fosse na frente, vendo o híbrido entender e pegar as chaves penduradas ao lado da entrada, abrindo a porta e até mesmo esperando que eu passasse para fechá-las novamente.

Virei a cara pra outro lado e comecei a descer as escadas quando o híbrido tentou devolver as chaves. Depois de um tempo, ele acabou dando de ombros e as guardando dentro da própria bolsa.

— Feioso! Indo para o Namjoonie hyung? — Disse Taehyung ao pular no melhor amigo assim que entramos na HP. Não sei se essa quebra temporal foi muito estranha, mas já disse que não sou lá um bom escritor e fiquei com muita preguiça de escrever quaisquer outras coisas desnecessárias.

— Tô, sim. — Respondeu o híbrido de sapo, feliz em ver o melhor amigo. Me despedi de ambos para ir pro departamento de comunicação.

— Yoongi hyung está lá também, sabia? — Taehyung falava realmente alto, conseguia ouvir ele até mesmo dentro do elevador.

— E eu com isso? — A voz do Jimin soou ríspida e, ao subir alguns andares, as vozes finalmente morreram. Fico meio aliviado dos dois estarem juntos. Taehyung fazia bem a ele, talvez seja bom os dois passarem o dia um com o outro depois de ontem.

Entrei no escritório amplo e despojado da comunicação. A gente gostava de ser diferentão. As paredes eram coloridas com tons fortes. As mesas não seguiam um padrão de distribuição, além de termos vários pufes espalhados por aí. Cumprimentei a galera dali que eu conhecia de vista, seguindo para a minha mesa, que eu havia colocado no cantinho (a gente trocava as mesas de posição de tempos em tempos).

Dei uma olhada nos planejamento dos editoriais, vendo quais ainda tinham para fazer e escolhi uns três. Eram curtinhos, então eu deveria terminar em menos de três horas tudo.

E, bem, trabalhei. Não acho que tenha nada de muito impressionante nisso. Nem de muito interessante pra falar, então eu tenho que fazer uma daquelas quebras temporais que eu nunca sei fazer.

Bem, a parada é que, depois de umas duas horas de trabalho, Hoseok apareceu lá no meu departamento, cumprimentando todo mundo entusiasticamente e sendo retribuído no mesmo tom. Hoseok parecia uma celebridade, olhando daquele jeito.

Hoseok estranhamente não estava com a testa escorrendo suor, como era de praxe, então observei curiosamente enquanto ele vinha até a mim. Hoseok deu um sorrisão completamente brilhante, como sempre, e puxou uma cadeira qualquer que achou para sentar ao meu lado.

— Oi, hyung. — Cumprimentei por fim, meio tímido sabe-se lá por quê. Talvez por causa da presença brilhante do mais velho, que também chamava muita atenção.

— Ei, Jungkook, muito ocupado? — Respondi que não com a cabeça, me virando para ele para poder prestar mais atenção. — Boa. Então, eu estava conversando com o DongYul (o chefe da redação, pra quem não sabe) sobre as saídas que tivemos sobre o mapeamento das nossas personas. O nosso público alvo mudou um pouco nesses dois últimos anos, e acho que devíamos fazer mudanças na nossa Branding Persona e na identidade visual também para alinharmos um pouco melhor com ele.

Fiquei meio impressionado com as falas de Hoseok. Eu não sabia que ele sabia tanto de marketing e comunicação. Basicamente, ele disse que deveríamos adaptar melhor nossa forma de comunicar (verbal e visualmente) com nosso público alvo.

Puxei um tablet de canetinha, abrindo o meu moleskine virtual. Pedi mais informações do Hoseok sobre os resultados do mapeamento. Ele abriu o arquivo holográfico na minha frente, e começamos a discutir que tipo de design se encaixaria melhor naquele público. Ele explicou que tom ele e o DongYul decidiram usar para os textos e comecei a ter algumas ideias de como transferir isso para a parte visual.

Na minha cabeça tinham-se passado apenas alguns minutos, mas quando olhei, meu moleskine tinha ganhado pelo menos umas 10 novas páginas de rabiscos, desenhos e anotações. E duas horas tinham se passado.

Finalizei com Hoseok, prometendo mandar alguns exemplos de novas artes para ele mostrar aos diretores da HP junto com DongYul, e falando que se tivesse outras ideias mandaria também.

Fiquei meio impressionado. Sabia que Hoseok era uma pessoa incrível, mas não que era tão bom assim trabalhar com ele. Me senti genuinamente inspirado e louco pra botar nossa nova Branding Persona em ação.

Só pra matar a curiosidade, entrei no LinkedIn do Hoseok e, nossa, por que eu nunca tinha feito isso? Ele tinha feito Jornalismo numa boa faculdade, mas as experiências e os cargos que ele foi tendo depois foram de Vendas e Negociação. Seguindo a linha temporal, aparecem alguns cursos de Marketing e alguns cargos nessa área também e, no final, vendo curso após curso, especialização após especialização e cargo após cargo, eu concluí que Hoseok provavelmente era o maior monstro de Outbound da HP.

O que um cara experiente daqueles fazia distribuindo panfletos na maior parte das vezes, eu não sabia, mas o sucesso dele nesse trabalho também fazia mais sentido agora que eu tinha visto os poderes de negociação e comunicação dele tanto ao vivo quanto no papel.

Uau.

Ainda impressionado com Hoseok, olhei as horas e vi que era quase hora do almoço. Eu queria almoçar com Jimin, então me alonguei um pouco depois de sair da minha cadeira e fui caçar o híbrido de sapo.

Obviamente, minha primeira tentativa era a sala de convivências em que passava tempo com Taehyung, mas ele não estava lá e fiquei meio perdido de onde ir. Eu tentaria o consultório de Namjoon, mas ele disse que iria lá logo quando nos despedimos de manhã.

O lugar mais óbvio que consegui pensar depois desses locais foi a cantina, já que era hora do almoço. Mas nada. Depois fui ao banheiro porque, sei lá, eu vou frequentemente ao banheiro e sou o tipo de pessoa que você encontraria lá. Nada também.

Já meio sem saber para onde ir, encontrei Yoongi indo ao banheiro — falei que pessoas sempre estão usando o banheiro! — e perguntei sobre Jimin.

O híbrido tombou a cabeça para o lado, me encarando com suas pupilas afiladas de cobra. 

— Ele estava no consultório do Namjoon há uns 10 minutos atrás. — Respondeu por fim. Sempre acho meio estranhas suas reações e atitudes, mas bem, não era eu que fazia o acompanhamento psicológico dele para julgar ou se aquilo era ruim ou não.

— Obrigado, hyung! — Me despedi, deixando que o híbrido usufruisse do banheiro em paz.

— Pelo menos você não foge de mim. — Bufou Yoongi enquanto eu me afastava e fiquei meio confuso com a fala dele. Mas enfim, vou ter a fé de que tudo estava bem.

Achei estranho Jimin estar no consultório de Namjoon de novo, mas quando eu cheguei de lá encontrei, de fato, o híbrido sentado em uma das cadeiras acolchoadas e coloridas, lendo entediado um livro de administração, provavelmente.

Ele estava distraído, então só acabou me percebendo quando sentei ao seu lado. Deu um sorrisinho fraco, que retribuí.

— Administração? — Perguntei, indicando o seu Kindle de estudos.

— Administração de negócios, pra ser específico. — Suspirou, fechando a capinha do aparelho e apoiando ele em seu colo. — Como se eu fosse capaz de administrar um negócio algum dia.

— Por que não?

— Porque eu sou um híbrido. — Explicou como se fosse óbvio. Fiquei triste.

— Ainda não entendi por que não. — Insisti.

Jimin apenas me observou em silêncio por um tempo. Pareceu começar a falar algo, mas desistiu antes disso e olhou para o outro lado.

— E Taehyung, onde está?

— Foi embora com Juan. — Respondeu, voltando enfim a me olhar e dando de ombros. Mas ele não parecia indiferente de aquilo, mas sim meio desanimado. Era como se ele desse de ombros pra afastar a melancolia, talvez. — Amanhã eles vão pra Espanha visitar a família do Juan.

Fiquei triste por Jimin, acho que ele e Taehyung nunca ficaram tanto tempo separados. Acho que eu deveria abrir mais espaços na minha agenda durante os próximos dias, vai que ele se sentisse meio sozinho.

— Ele vai ficar quanto tempo fora?

— Uns dois meses. — Falou com um biquinho triste. — Dois meses é tempo pra caralho, nem pra aquele arrombado maldito me avisar antes.

— Nossa senhora. — Acabei rindo da revolta espontânea que veio do híbrido. Palavras tão fortes não combinavam com a expressão de cachorro que caiu da mudança dele. — Hm… Eu bem que precisava visitar minha família também. É em Busan, não na Espanha, mas você gostaria de vir junto?

— Sério? — Perguntou, me olhando com as sobrancelhas arqueadas como se não estivesse acreditando naquilo.

— Sério, ué. — Continuei rindo, dessa vez da cara de surpresa do mais velho. Ela era engraçada. — Eu devo demorar um pouquinho pra voltar lá, mas se você não se incomodar, podemos ir.

— Ah… Eu acharia legal. — Acabou concordando timidamente. As reações do Jimin, assim como as do Yoongi, eram bem confusos. Ele passava de melancólico para revoltado para surpreso e depois para tímido muito rápido. Como se todas aquelas emoções fossem uma mistura louca e confusa dentro dele.

— Bem, pelo menos lá tem mar, acho que você vai… — Me interrompi ao ver Namjoon abrindo a porta da sua sala, como se para checar se alguém diferente tivesse chegado. Olhou para mim e para Jimin por um certo tempo, refletindo. Acho que eu deveria ficar lisonjeado por ser alvo de tantas reflexões num dia só. Era como se as pessoas não pudessem olhar pra minha cara sem refletir.

— Jungkook, Jimin, entrem. — Falou por fim, abrindo o espaço para que entrássemos em sua sala.

Jimin estava tão confuso quanto eu, mas obedecemos. Namjoon fechou a porta quando entramos e abriu uma de suas inúmeras gavetas e tirou uma bisnaga de lá. Não sei como ele lembrava de tudo, porque tinha de fato muitas gavetas com muitos remédios. O cara era um prodígio.

— Isso é a pomada cicatrizante que a gente fez especificamente para a pele do Jimin. — Me explicou enquanto arrumava o óculos de aro fino. Jimin claramente reconhecia aquele remédio. — Jimin já tem uma, mas vou dar mais porque queria que ele passasse duas vezes por dia, em vez de uma.

Namjoon olhou para Jimin, como se pedisse permissão de algo. Ao mesmo tempo, parecia que eles já haviam tido essa conversa. O médico suspirou fraquinho antes de voltar a explicar.

— Jimin tem um pouco de dificuldade de passar nas costas ele mesmo. A recuperação dos machucados lá está claramente pior. Você poderia ajudar ele? Eu já passei nele hoje, mas a partir de amanhã só vou poder fazer isso às sextas, na consulta dele.

Olhei para o híbrido de sapo. Para as cicatrizes que eu havia visto ontem. Lembrei do desespero que eu senti sendo tão impotente. Eu seria pelo menos útil daquela vez.

— Tudo bem? — Perguntei fraquinho pro Jimin.

— Tudo bem. — Respondeu tão fraquinho quanto.

 

--x--

 

Foi estranho. Eu me aproximei da porta do quarto de Jimin e fiquei parado lá. Era estranho porque aquela era minha própria casa e, mesmo assim, era como se eu não pertencesse àquele local. Àqueles menos de 2 metros de distância do quarto do híbrido.

Bati na porta de madeira sintética, trocando nervosamente o peso do meu corpo entre um pé e o outro. Não demorou muito para que a porta abrisse e Jimin aparecesse por trás dela, parecendo meio sonolento, os cabelos bagunçados. Sem dar um pio, simplesmente abriu mais a porta e me deu passagem, indicando com a cabeça para eu entrar.

Bem, eu sabia como era o quarto de Jimin. Afinal, era um cômodo da minha própria casa e eu o arrumei para hospedar o híbrido. As paredes eram brancas, sem nenhum detalhe em especial, havia uma janela na parede oposta da porta com cortinas azuis claras.

Uma das paredes era ocupada por um armário de madeira sintética, de cor clarinha e com espelhos em algumas das portas de correr, e por uma escrivaninha com uma cadeira. A cama com lençóis azul bebê junto a uma mesinha de cabeceira ficavam na parede oposta, e eram esses todos os móveis que tinham ali. Eu gostava de poucos móveis, deixava os lugares mais espaçosos.

Mas ao mesmo tempo que eu reconhecia o quarto, também reconhecia diferenças. Havia, claro, dois umidificadores que eu lembrava de ter comprado e isso ter dado “a cara” do quarto de Jimin, mas não era só isso.

Antes de Jimin, ninguém usava o quarto, então ele nunca teve essa cara de habitado. A escrivaninha conseguia estar uma bagunça mesmo que as tecnologias atuais a reduzissem 90% por utilizar pouquíssimas coisas físicas e mais coisas digitais. Não havia xérox de livros, nem folhas e mais folhas soltas com exercícios feitos, mas o notebook, dispositivo holográfico e cadernos digitais de Jimin estavam espalhados por toda a mesa, junto com umas notas coloridas em papel mesmo coladas por aí.

Perto da janela havia um vaso fofo e amarelinho de cacto que, se me lembro bem, Namjoon lhe dera. A parede perto da cama estava coberta de post-its, fazendo o formato de uma árvore, completamente colorida. Era até estranho como a mesclagem de cores ficou boa e, como designer, fiquei sinceramente espantado com o talento de Jimin.

O quarto estava bem iluminado, com as janelas escancaradas, mas isso não chegava a ser novidade. Jimin não podia se cobrir muito por causa de sua respiração cutânea, então a sua principal forma de conseguir calor é no sol mesmo. Ou ligando o aquecedor que deixei especialmente para seu quarto, mas ele não gosta muito dele, é “artificial demais”. Bem, no final dava pro gasto.

A cama estava bagunçada, mas meus instintos me diziam que era mais porque o híbrido tinha acabado de acordar mesmo, provavelmente se cansara estudando. Ele simplesmente coçou a cabeça, ainda sonolento e sentou de novo na cama, deixando a porta aberta — mesmo que eu estivesse dentro do quarto, estranhei, a porta sempre estava fechada.

— Eu te acordei? — Acabei perguntando o óbvio, fazendo menção de puxar a cadeira da escrivaninha para me sentar quando Jimin me chamou para sentar na cama também.

— Não tem problema. — Bocejou. É, acordei. O mais velho coçou os olhos com as costas da mão, e piscando os mesmos, como tentasse se despertar. Eu fiquei com dó, é horrível acordar as outras pessoas.

Depois de mais um bocejo, o híbrido olhou para mim com uma expressão interrogativa. Afinal, por que eu, que nem sequer havia entrado em seu quarto até então, despertei-o de seu sono de beleza?

Sem saber formar uma frase digna o suficiente, apenas mostrei a bolsinha de remédios que eu trouxe junto comigo, abrindo-a para que o outro pudesse enxergar sua pomada cicatrizante.

Sem precisar de mais explicações, Jimin suspirou baixinho, como se não quisesse fazer nada relacionada àquilo. Provavelmente por minha causa. Mesmo assim, virou-se de costas para mim e, com cuidado, puxou sua regata leve de pijama para cima.

Sim, ele tinha algumas cicatrizes visíveis espalhadas pelos braços, pescoço e pernas, mas nada comparado às suas costas e ao seu peito, de verdade. O problema não só era a quantidade, que era estrondosa, mas também a profundidade; elas pareciam até mesmo recentes de tão fundas. Fala sério, fazia 7 meses que Jimin havia sido resgatado, não era possível que elas ainda estivessem assim!

Era horrível. Eu tentava procurar um pedacinho sequer de pele sem machucados, mas era muito, muito difícil. Sinceramente, eu não estava com vontade nenhuma de passar aquela pomada, eu não queria tocá-lo, com certeza ia doer.

Motivado pelo pensamento de que seria pior ainda não passar o cicatrizante, coloquei um pouco dele no meu dedo e passei na cicatriz mais perto de seu pescoço com todo cuidado e delicadeza que eu tinha. Jimin segurou, mas eu vi ele encolhendo o corpo pequeno no momento em que eu encostei nele. Realmente doía.

Respirei fundo e continuei passando a pomada por suas costas, de cima para baixo, agoniado com a respiração entrecortada do mais velho tentando suportar a dor. Deus, ele já tinha sofrido tanto, por que tinha que sofrer mais? Era completamente injusto.

Demorou um pouco, confesso, mas continuei passando a pomada lentamente por suas costas até não haver nenhuma cicatriz descoberta e, quando terminei a tarefa, acabei soltando um suspiro aliviado junto com Jimin.

O mais velho virou-se em minha direção novamente, deixando à vista as cicatrizes longas e finas que cobriam todo seu torso e pegou a pomada de minha mão, ignorando o fato de que eu o encarava muito.

Eu devia ter me despedido e ir embora, mas fiquei lá, observando o híbrido passar com cuidado o medicamento ao longo de seu peito e barriga. Ah, não, aquilo era injusto demais.

— Você não precisa olhar com pena assim, ok? — Acabou soltando junto com outro suspiro, provavelmente depois de se cansar de me ver lhe encarando avulsamente, apoiou a pomada na cama, do lado de seu corpo, e me olhou como se estivesse um pouco cansado para mim. Talvez cansado de mim.

— Desculpa… — Respondi, ressentido de verdade, e abaixei levemente minha cabeça. — É que elas são horríveis… Deve ter doído muito.

Jimin franziu o nariz e pressionou seus lábios um contra o outro, como se refletisse o que eu havia dito. Olhou para baixo, encarando as cicatrizes ocupando o torso pequeno inteiro. Ele com certeza já estava acostumado a vê-lo assim, afinal, era o seu corpo. Mas algo me dizia que ele nunca iria acostumar com tudo o que aquelas cicatrizes carregavam e significavam. Nem eu mesmo sinto que me acostumaria, e eu nem sabia de nada.

— Sim. — Respondeu por fim, olhando-me ainda mais cansado do que antes. Mas não era de sono. Talvez fosse com tudo que teve que lidar até agora, tudo que ainda tem que ouvir, todas as consequências que tem que arcar. — Dói até hoje, em todos os sentidos. Mas eu não quero continuar me apegando ao que já aconteceu. Quero poder ser algo novo, quero ser o que eu quiser. Quero poder fazer minhas próprias escolhas.

Ele falou com simplicidade, muita mesmo. Simplicidade e cansaço apenas. Não teve um tom épico nem nada do gênero. Não pareceu um discurso inspirador. E, mesmo assim, aquela confissão me atingiu em cheio. Meu coração quase falhou uma batida e o ar fugiu de meus pulmões. Foi realmente muito forte. 

Jimin passou a vida inteira sendo privado de escolhas. Agora, olhando seu quarto, todo decorado, a escrivaninha toda bagunçada por seus estudos, lembrando do jeito que o híbrido sempre falava convicto o quanto queria formar em administração, vi o quanto ele transparecia aquilo. Aquela vontade de ser mais, de poder fazer escolhas, de ser dono da própria vida.

E eu me senti meio pequeno, confesso. Não sei se era no sentido ruim ou bom. Enquanto minha vida parecia muito vazia, Jimin preenchia a dele, inclusive a parte que foi tirada à força. Com todas as forças que tinha e não tinha.

— Você é incrível, hyung. — Deixei escapar de meus lábios baixinho sem perceber. Bem, não me esquentei muito com aquilo, afinal, era verdade. E, por mais que eu não falasse esse tipo de coisa normalmente, eu me senti meio confortável naquele momento.

Jimin parou de passar a pomada em seu peito e olhou estranho pra mim, como quem não tem certeza do que ouviu. O cenho delicado franziu e ele pressionou os lábios enquanto tombava a cabeça para o lado. Ele estava confuso.

— Sua força de vontade, hyung. — Expliquei sem ele precisar falar nada. Até porque ele não precisava, conseguia se expressar muito bem só com o olhar, o exato oposto de mim. — Acho que eu até tenho inveja, queria ser assim. Não sei correr atrás do que eu quero.

— E o que você quer? — Ele inqueriu imediatamente. Olhava fixamente para mim, muito sério e completamente focado.

— Eu não… sei? — Acabou saindo em tom de dúvida. Até porque eu estava confuso mesmo. Eu não sabia o que eu queria de verdade. — Tipo, eu acho que eu consegui os objetivos que eu queria, tipo trabalhar na HP, mas algo no fundo no meu coração às vezes incomoda. Como se eu tivesse feito ou esteja fazendo algo de errado. Como se faltasse algo.

A verdade é que eu nunca parei realmente para pensar no que poderia me causar tanta agonia. Assim que eu começava a me sentir estranho e errado, tentava me distrair o máximo possível. Eu tinha muito, muito medo de encarar o que era aquilo. Sempre pensei em tentar descobrir o que me causava tanto desconforto, mas eu nunca conseguia encarar de fato.

— Jungkook. — Jimin chamou sério e eu, que encarava minhas mãos pousadas em minhas coxas, acuado, voltei a olhar para ele. Sua voz era séria, mas sua expressão até que era suave. Bondosa talvez. — Eu também tenho medo. — Estendeu o braço e pousou a mão pequena em meu joelho, para me tranquilizar talvez. — Muito medo, é aterrorizante. Mas a gente precisa descobrir o que é. Você quer passar sua vida inteira se sentindo desconfortável por algo que você nem sabe o que é?

Eu não cheguei a responder, simplesmente respirei fundo, tentando acompanhar o raciocínio do outro para eu mesmo me convencer. Jimin continuava me olhando, mas não parecia impaciente, ele era bem tranquilo.

— Quando eu fui resgatado, simplesmente participei do programa de recuperação, que nem todos… — Jimin continuou falando com a voz mansa, apesar do assunto pesado, e tirou sua mão do meu joelho para segurar a minha. — Alguma coisa me incomodava muito. E eu não queria prestar atenção. Queria só continuar fazendo o programa normalmente.

O toque de sua mão era meio úmido e rugoso, como sempre, mas suave. Sua mão parecia bem pequena perto da minha. Aceitei aquele contato, segurando sua mão de volta.

— E aí eu cansei de fugir e descobri o que me incomodava. Era o meu futuro. A minha capacidade de poder fazer alguma coisa. Eu sou um híbrido, você sabe. E pior do que um híbrido, eu sou um experimento que deu errado. Por mais que eu estivesse fazendo o programa de recuperação, eu sempre sentia, no fundo, que ela não adiantaria nada. Porque não existe lugar pra mim aqui.

O mais velho parou de falar um pouquinho e respirou fundo. Aquilo era difícil. Apertei sua mão de volta, tentando passar algum tipo de força, estímulo. O híbrido sorriu fraquinho com o gesto, se recompondo aos poucos. Eu não tinha pressa, imagino que ele também não.

— Eu fiquei meio mal. Aceitava aquilo e sentia que não havia nada que eu pudesse fazer, que eu estava fadado a uma vida miserável que nem sempre. Eu realmente não lembro o dia, nem o porquê. Mas do nada, no meio do meu afogamento de aceitação, eu me perguntei se realmente precisava ser assim. Tipo… Eu finalmente tinha sido resgatado, eu finalmente tinha um mundo novo na minha frente. Por mais que ele não quisesse me aceitar, eu ainda tinha uma possibilidade, eu podia simplesmente me enfiar no mundo até que ele ao menos me tolerasse. E, finalmente, eu consegui pensar o que eu queria para o meu futuro. Isso tudo porque eu não tinha considerado ele como uma possibilidade até então.

Até então eu desviava meu olhar dele, sem saber muito como agir, como encará-lo. Mas com uma coragem que saiu do nada, levantei meu rosto, encarando-o sem tanto medo dessa vez. Talvez ele tivesse me inspirado, talvez eu não quisesse ter medo depois daquela demonstração de coragem. Jimin era muito incrível.

— Você é incrível. — Minha fala acompanhou meu pensamento novamente. Mas daquela vez, eu não fiquei tão envergonhado assim, Jimin merecia saber daquilo. O híbrido deu um sorriso fraquinho, mas sincero, apertando minha mão de volta. Aquilo era louco. Quer dizer, nossas mãos ainda juntas, no caso.

— E você, Jungkook? — Perguntou, mirando diretamente em meus olhos e me fazendo sentir até mesmo acuado. — O que te dá tanto medo? O que te dá essa sensação estranha?

E eu, pela primeira vez, parei para pensar. Quando que eu ficava com aquela sensação ruim, o porquê. Era difícil pensar nisso, afinal, parecia muito enterrado. Parecia não ter muita lógica também. Talvez eu nunca tivesse pensado que poderia ter um motivo por trás daquilo.

— Você não precisa achar a resposta agora. — O híbrido riu. Provavelmente pelo modo que eu travei depois da pergunta e porque eu passei um bom tempo em silêncio, tentando achar alguma informação útil em minha cabeça oca. — Em geral demora um tempo pra gente perceber e tirar conclusões mesmo. Só mantenha isso mente a partir de agora.

Acenei com a cabeça em concordância. De fato, talvez aquilo não me levasse a lugar nenhum naquele exato momento, então apenas respirei fundo, tentando me acalmar. Foram tantas informações ao mesmo tempo que meu coração estava descompassada e meus pensamentos atropelando uns aos outros em minha cabeça. Era tipo uma guerra civil de neurônios, bem péssimo.

Jimin soltou, por fim, sua mão da minha, para finalmente terminar de passar o cicatrizante pelo seu torso. Analisei seu quarto mais uma vez, todo cheio de novos significados. 

A escrivaninha bagunçada, representando claramente o compromisso do mais velho com o seu futuro, com o que ele queria fazer, com sua faculdade de administração. Cada cantinho, tão cheio de Jimin, que ele mesmo não poderia se esquecer. Não poderia negar o que ele era. Era realmente bonito.

Sem ter muito mais o que falar com o mais velho, me levantei para sair. Até para deixar ele voltar a dormir ou estudar, algo mais produtivo do que falar comigo, com certeza.

Talvez eu realmente precisasse de um tempo sozinho. Eu tinha muito o que refletir, muito o que pensar, e eu nunca fui muito bom nisso. Se é por burrice ou por nunca ter tentado de verdade, era um mistério. Mas eu tinha que, urgentemente, encontrar algo dentro de mim.

Encontrar meu medo.

 


Notas Finais


Ai o jikook se desenrolando :') confesso que eu amo a relaçãozinha que eles vão desenvolvendo nessa fanfic... É tão tranquilinha, ai :')

Então, gente? O que vocês estão achando? Eu amaria que falassem, mesmo se for crítica (construtiva) porque eu sempre sou meio insegura e pá dfsdkljhfskdj gosto de saber se vocês estão curtindo ou não aaaaaaaaa

Aliás, me procurem lá no twitter! Sou a @/domesticranger e queria postar uns spoilers ou algumas coisinhas de Croack lá se vocês animarem, o que acham da ideia?

Beijinhos de luz e até daqui a dois sábados!!!


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