1. Spirit Fanfics >
  2. Crônicas de Althunrain - Rei Lich >
  3. A Luz da Manhã

História Crônicas de Althunrain - Rei Lich - A Luz da Manhã


Escrita por: Tulyan

Notas do Autor


Titi =3

Capítulo 33 - A Luz da Manhã


Fanfic / Fanfiction Crônicas de Althunrain - Rei Lich - A Luz da Manhã

Eu... Perdi meu mestre, o homem mais gentil que conheci até hoje, eu... Como? Quem é esse ali? Minha mente tentava assimilar isso, meus olhos não paravam de chorar, mesmo que eu negasse, era meu senhor, sem dúvidas, eu nunca esqueceria seu rosto, mesmo sendo carregado por um monstro...

Cai de joelhos escorado no batente da porta, Any ficou ao meu lado, rindo, como, como ela ri tão alegremente? Seu amigo morreu, ou era tudo uma farsa? Eu não sei se vou aguentar isso, não posso ficar aqui, eu tenho que fu... Não, eu não posso fugir, um servo jamais faz tal crime, mas, tenho tanto medo, tanta raiva, eu... Quero matar ele!

Num fluxo surreal de ira eu me faço avançar até o homem, era óbvio nossas diferenças, mas estou disposto a morrer para vingar meu mestre Huceol? Sim! Eu estou!

Me faço levantar com rapidez, eu o atacaria com qualquer coisa que tenho, não me importa mais nada!

Mas, Any segura meu ombro me fazendo voltar a realidade, que egoísmo o meu, morrer sem que isso seja a vontade de meu senhor, é errado, eu não tenho tal direito. Baixo meus ombros e minhas orelhas fazem o mesmo, eu caio de joelhos outra vez, em meu coração, eu, por mais doloroso que seja, devo esquecer Huceol, por mais gentil e bom que ele tenha sido para mim, como escravo sem dono, eu tenho que servir a quem os deuses desejem.

 

O Nanci está extremamente abalado, isso é compreensível, ele treme e chora o mais silencioso que consegue, mas dessa vez não é Huceol que está aqui, é Aryn.

— Que bom que tudo correu bem... – falo me aproximando, a mulher ainda em corpo velho assente e ri com sigo mesma.

— Aquele recado foi interessante Aryn, eu só não esperava tudo isso... Estou impressionada meu amigo, que poder é esse? Quantos seres de sombras fez? – sorrio com o elogio, eu chego a sua varanda e ouço minha bota negra bater na madeira.

— Mais de duzentos, talvez uns trezentos, não contei na hora. – a minha fala o Nanci aperta os olhos, mesmo que eu o mostre, minha voz, meus valores, meus hábitos são diferentes de Huceol. – Klyce. – disse ameno, Ellody olha ao lobo em suas pernas e afaga seu pescoço. – Vamos conversar... – a mulher olha-me e ao fazer isso vê que eu apontava ao escravo e a sua casa, com um sorriso, ela permite.

Meu avanço para dentro causa medo e angústia a ele, pobre rapaz... O fito um instante, ele treme, apavorado, e eu apenas tenho uma reação. – Estou ordenando que entre... – minhas palavras têm efeito imediato.

Mesmo com medo de mim Klyce se coloca de pé, guiado por Ellody, é deixado sentado em um dos sofás. Eu por minha vez entro com a certeza de que minhas botas não trazem sujeiras, Ehras é apoiada em meu ombro quando me sento também, sujo o sofá bonito com o sobretudo ensanguentado e com as cabeças que deixo ao meu lado casualmente.

— Eu, vou buscar um saco para isso ai... – animada a espiã corre para a cozinha, uma bela desculpa para nos deixar a sós.

O Nanci tenta esconder o medo e se portar com educação, senta-se com a coluna ereta, patas juntas, mãos sobre os joelhos e a cauda ao seu lado. Eu, pelo contrário, me sento folgadamente, relaxado e tranquilo. – Você pertencia a Huceol, correto? – o lobo desaba emocionalmente por um segundo apenas.

— S... Sim senhor! – sua voz trêmula me faz sorrir de canto.

— Como vê, ele está morto... – toco as cabeças e giro-as como se fossem copos a fim de não fazê-las encarar o lobo. – E não se engane, ele estava morto a muito tempo. Você nunca o conheceu... – pouso a lâmina da foice em minha nuca, sua ponta vai de minha direita a minha esquerda, o tom azulado me dá segurança.

— O... Como? – seu olhar triste vai a mim.

— Sou poderoso, todas as criaturas lá foram são minhas criações. – passo a mão direita no cabelo e o sinto diferente. - Eu matei todos os mercenários desse lugar infame... – disse meio distraído, olhei os fios, estavam mais longos, ou é impressão minha? Voltei a falar diretamente com o Nanci ao deixar isso de lado. – Tudo em nome de Velenfour e da justiça de Avony. – ergo minha mão direita e dela sai sombras. – Habitei seu corpo criminoso, profanei-o, confesso, somente para me infiltrar e destruí-los de dentro. Sim, eu o usei, usei Ellody...– apontei ao corredor que dá na cozinha. – Que conhece por Any. E não espere que eu peça desculpas, eu não espero que confie em mim, eu não preciso que confie, mas eu só vou tirar essa coleira de você e nunca mais nos veremos.

— Mas, o... Era o senhor o tempo todo? – confirmo dando os ombros. – Então, o senhor que me salvou?

— Isso, mas você não tem dividas comigo, eu o libero de qualquer débito... Você deixou de ser um escravo para mim, e de qualquer forma, não quero um, creio na liberdade para todos, sem descriminações. Por tal... – tirei a chave da minha cintura onde ficava rente a minha calça e meu quadril, mostrei-a a ele e a deixei sobre a mesinha entre nós. – Pode ir para onde quiser.

Nesse instante Ellody volta com um saco grande de pano dobrado que me entrega.

— Bom, Ellody, volte para Vrett, procure Cixoam e diga que Aryn a enviou, e devem mandar um pessoal que me foi prometido para manter as vilas em ordem... Leve elas, diga também que Cemeon manda lembranças. – aponto as cabeças que cubro com o saco cinza e desgrenhado.

Me levanto com alegria, mais um lugar a salvo, estou quase lá, só mais um pouco. – Já vai? – sorria a sua preocupação. – Não quer tomar algo antes?

— Cenkedoz ainda pesa nas mãos de criminosos. – pego Ehras e a coloco rente a mim. – Este lugar está a salvo e... Tenho que me apressar... – a abraço uma vez e para o Nanci apenas aceno e me despeço, tenho que aproveitar a noite...

 

— Espera! – já estava na rua, pronto para chamar Preven quando o Nanci irrompe a porta despertado. – Por favor, senhor...

— Aryn... – me nomeio a ele ainda de costas.

— Senhor Aryn, por favor, me deixe segui-lo. – o lobo se aproxima de mim, seu olhar fica entre o chão e meu semblante posso sentir, o lobo tem acanho, mas lágrimas ainda escorrem de seus olhos.

Eu me viro um pouco surpreso e sem acreditar nisso. – Eu te disse. Você é livre, não tem que servir ninguém e eu não gosto da ideia de ter um escravo. – baixei a lâmina ao chão.

— Eu te imploro. – Klyce se ajoelha a minha frente e junta as mãos como se fosse orar.

— Olha. – me abaixo sem encostar os joelhos no chão, deixo Ehras fixa no chão pela base que congela a pedra e a sustenta, fico a sua frente e toco seus pulsos macios. – É errado tirar a liberdade de alguém que não merece, você não cometeu desonra ou crime.

— Por favor, eu faço qualquer coisa. – juntei suas mãos nas minhas e tentei acalmá-lo. – Senhor, eu lhe imploro.

— Você é livre, oficialmente está morto, mas nada disso importa, vá... E faça seu destino. – fiz menção de me levantar, mas Klyce me segura.

— Posso... Te pedir um favor? – ele abaixa a cabeça ao me ver assentir. – Pode, me matar então? – estranheza, raiva e confusão emanavam de mim, mas eu via apenas a verdade em seus olhos. – O senhor não entende... Eu não posso ser livre, eu vou morrer, eu só sei servir, só isso, senhor, eu não posso mais ser livre, alforria pouco importa para os mestres. – isso era verdade, havia me esquecido. – Eu não tenho para onde ir, não tenho nada, nem mesmo um dono! – suas mãos apertam as minhas. – Por favor, me mate! Assim eu... – Klyce para de falar e chora ali mesmo.

Nego meus pensamentos. – Isso não vai mudar Klyce, eu o salvei da morte, te dei um nome, te dei comida, roupas e banho, Agora é sua vez de escolher o que quer, se deseja um mestre, deve ter muitos por ai... – o faço soltar minhas mãos.

— E... – suas lágrimas o impediam de falar direito. – Eu posso ser teu ajudante. Qualquer coisa senhor, qualquer coisa! – paro de negá-lo, Thereza insistia em ajudá-lo, ela era a segunda influência fora minha própria consciência. – Eu juro que fico quieto, nem vai me notar, eu, fico onde me mandar, eu obedecerei tudo que disser.

Dou uma volta ao meu redor, procurando alguém que pudesse ficar com ele, mas a noite escura assustava todos os sãos, e os corpos na rua horrorizavam os loucos. “Outro alguém para conversar” como insiste a Rainha... Suspiro pesado, me viro de uma vez puxando Ehras de onde estava e avanço em sua direção. Qualquer um sairia correndo, mas ele apenas ergue o focinho negro deixando o pescoço a mostra, pronto para morrer, mas, eu pouso a lâmina azulada em seu ombro direito, a ponta curva vai rumo ao chão junto a suas costas. Farei como uma nomeação, algo simbólico para ele. – Jura fidelidade e obediência a mim?

— Eu já jurei mes- o interrompo.

— Não, este pacto é entre Aryn e você. Seja lá qual for o nome que queira para si.

— Perdão senhor, mas posso ficar como Klyce? É o nome mais bonito que já recebi... – eu sou os ombros. – Muito obrigado... Juro minha lealdade e obediência eterna ao senhor. – ele prostra outra vez, mas seguro o couro de sua nuca.

— E outra. – o faço voltar a ficar de joelhos. – Pare com isso, deve fazer tal ato apenas aos deuses, a mais ninguém.

— Sim senhor. Perdão. – baixa sua cabeça, mas via felicidade em sorrisos tímidos.

— Existe respeito e submissão, eu odeio o segundo, nunca faça isso novamente, se quer me servir, haja como alguém livre... – Klyce permanece ajoelhado e assente fungando. – Levanta dai...

O lobo dessa vez é menor se comparado a mim, mas isso não importa, o que me incomoda nele é. – Tira essa coleira, não é um animal.

— Ahh, meu senhor... – seu tom é explicativo. – Nancis devem sempre ter uma, sem elas somos foragidos ou, como disse antes, devemos ter uma alforria, mesmo que a maioria ignore os papéis...

— Ao menos leve a chave com você... – disse cortando a explicação, realmente não tenho tempo.

— Sim mestre.

— Não sou seu dono Klyce, muito menos seu mestre, não me chame assim... Ah! E se realmente quiser vir comigo, você cuida de si, eu não posso e não vou protegê-lo sempre entendeu?

— Sim senhor. Vou fazer o meu melhor...

— Sei... – aponto de volta a casa. – Peça... Peça a Ellody que te dê mantimentos, eu vou para fora da cidade, se não me achar ou se atrasar, perderá a chance. – como um soldado ordenado ele só faltou bater continência. Ele sorri animado, pela primeira vez sorrio de volta, mesmo que o meu seja menos.

Eu realmente gostei dele, é um bom rapaz.

 

Eu mal posso acreditar, Aryn me aceitou, estou tão feliz. Havia feito o que me mandou, a senhora, melhor, moça riu de mim e foi para sua cozinha, eu estava com muita pressa, mas devo ser paciente, para mim será difícil não agir como faço normalmente, todos me exigiam submissão, mas, pela primeira vez alguém me exige apenas respeito e lealdade...

Então a mulher volta com uma mochila nas mãos, seu couro avermelhado parece caro, eu falaria algo sobre... – Coloquei muita comida para vocês, e roupas também. – ela me fita e eu me curvo a ela, em respeito como manda Aryn.

— Muito obrigado, senhora Ellody.

Aryn, que nome majestoso, meu mestre Aryn, era minha primeira vez sendo um “parceiro” e não um escravo como desejaria e estou acostumado, mas devo dar o meu melhor sempre. Antes de ir eu, pela primeira vez posso parar de tremer, se morrer por ou pelas mãos dele eu serei grato por ter sido útil e estarei feliz assim. A chave da minha coleira é um lembrete constante de sua bondade e gentileza fenomenais, “aquele” Huceol era ele, tudo que ele fez por mim... Eu nunca vou esquecer. Ellody, a mulher espiã me abraça, ninguém me toca tanto, e por isso eu retribuo com muita vontade, uma batidinha em minhas costas de diz a hora de parar.

— Boa sorte Nanci, espero te ver novamente... – ela... Se... Se curva a mim, eu, isso nunca aconteceu antes, porque ela fez isso? Eu sou apenas um escr- Não, eu sou o servo de Aryn agora, mas ainda devo demonstrar gratidão. Me curvo de volta e me viro sem me preocupar de estar sendo rude. – Que os deuses os acompanhem.

— A senhora também... – abri a porta me despedindo dela.

— Até que enfim... – me assusto, a voz vindoura das sombras a minha direita me faz encostar no batente da porta. Mas, quando meus olhos se acostumam com a escuridão, eu fico muito feliz.

— Aryn, achei que o senhor...

— Eu estava brincando contigo Klyce, eu não vou abandonar você. – ele se levanta, sua presença me dá alegria, mesmo que não queira ser meu mestre, eu vou servi-lo e segui-lo onde for. Seu sorriso me cativa, e pela primeira vez com ele eu baixo minha cabeça por acanho. Obrigado por se importar comigo...

 

Pela primeira vez desde que voltei da morte, alguém me segue indeterminadamente, o lobo não fala muito, não há o que dizer, não há assunto agora, não nessa escuridão banhada de sangue, mas consigo chegar afora dos muros externos sem me entediar, o portão estava aberto e havia pegadas do lado de fora, resquícios de fuga, isso me faz sorrir, será interessante... Mas por hora, me viro a Klyce, a mochila que carrega é um pouco grande para ele e como vamos nos locomover rápido, isso nos atrapalhará...

— Klyce, venha cá. – o chamo, de imediato tenho o Nanci a minha frente, seu olhar varia a mim, ao chão e a Ehras. – Olhe em meus olhos quando estivermos conversando, já combinamos isso antes... – o instruo. – Está bem?

— Sim meu mestre...

— Não... – me interrompo e suspiro pesado, é um hábito dele, passo a mão esquerda na testa até a nuca e falo sem sair som. – Tá... – agora sim coloco altura. – Pode me chamar por mestre, como quiser, eu realmente não me importo, mas tenha em mente que agora é meu companheiro, não meu servo. Mesmo que queira ser um, eu vou tratá-lo como um amigo... – as orelhas dele se levantam e sua cauda balança de um lado a outro, devagar.

— Fico muito feliz em tê-lo como amigo senhor Aryn. – agarro seu ombro lhe dando confiança e dou uma batidinha nela.

— Preven! – chamo, o lobo baixa as orelhas e desce os ombros achando que havia gritado com ele. Me viro de lado apertando levemente o ombro de Klyce mostrando a ele quem chamava, da escuridão noturna meu cavalo surgiu relinchando, por segurá-lo, manteria o lobo ao meu lado mesmo que minha montaria chegasse muito perto de nós. – Olá meu amigo. – solto o Nanci para acariciá-lo, Preven bufa, mas monto nele sem rodeios.

Ofereço minha mão a Klyce que estende a sua, mas aponto a mochila que trazia consigo, entendendo o que eu quero, ele me estende sua bagagem, fico de lado sobre meu cavalo, o olho de canto como um magico se apresentando a uma criança eu passo a mão sobre aquele couro recheado duas vezes, e na terceira alinho meu braço com a ocultação dele, deixei ela nas sombras de Preven, assim como Ehras, mesmo que ainda sintamos o peso, não tê-los para atrapalhar fisicamente já ajuda. – Para onde vamos senhor?

O lobo abaixo me pergunta segurado um dos braços, por vestir apenas o braie e ainda estar descalço, ele sente frio, eu sei. – Vamos para Cenkedoz, fica longe daqui, mas não tanto para meu Preven... – bato gentilmente no pescoço negro de minha montaria gélida e como se concordando comigo a criatura cava a terra com sua pata direita. – Vem... – volto a oferecer minha mão, seus olhos azuis vão dela a mim, encabulado de certa forma. – Anda logo! – o apresso.

Quando ele pega minha mão eu agarro seu pulso e o levanto do chão, não pesava mais do que... Um galho, eu acho, o coloquei atrás de mim e instrui rindo.

— Segura em mim, se ficar com frio me avisa...

— Tudo bem senhor. – sinto então suas mãos em minha cintura, com uma vontade enorme, comando.

— Corra Preven! Corra! – numa aceleração explosiva o cavalo dispara, para compensar, Klyce aperta-se em mim, e eu por minha vez agarro a crina.

Nossa velocidade passa facilmente da de um cavalo comum, e logo, os passos dele são sobrenaturais, sinto o vento forte em meu rosto, mas nem mesmo fecho meus olhos, vejo tudo com clareza mesmo na escuridão da noite, esta que me conforta e regenera, a estrada de pedra é pouco iluminada, mas bem feita, eu vejo golens a cada cinquenta metros, mas estamos tão rápido que somos um vulto negro e azul nas trevas que mal os alertamos. Felizmente, a longa distância está quase no fim, eu sei bem pelo mapa nos documentos de Velenfour, as imagens estão gravadas em minha mente, e em falar nela, Thereza passou um bom tempo limpando os traços de Huceol de nós, algo muito bem-vindo...

A terra rochosa ganhava picos cada vez mais altos e logo me vi rodeado de montanhas e montes cobertos por uma fina camada de neve, já era madrugada, eu sinto isso, meu ápice noturno se esvai aos poucos, mas como o ritmo de Preven, eu não vou parar agora, mas foi só agora que notei o erro que cometi, trago um civil, ele não sabe lutar, isso vai me atrapalhar muito por lá... Mas eu planejava mesmo era descarregar toda a raiva que tenho em forma de gelo... Em falar em gelo, pela primeira vez desde que saímos olho para trás, o lobo está agarrado a mim, esconde o focinho e os olhos abaixo do braço direito, ele tremia muito e batia o queixo, nem mesmo seu pêlo o mantinha aquecido, eu o avisei dos perigos que eu carrego. Mas se que quero que ele seja útil para mim, se quero concertá-lo um dia, tenho que mantê-lo vivo, com meu desejo mudo, Preven desacelera próximo a uma curva, estávamos longe da cidade ainda, segundo meu mapa mental claro, e isso só deixa tudo mais seguro.

Os morros íngremes mal são acessíveis a pé, mas para Preven, ângulos não importam, ele sobe em alta velocidade em sua comum e acelerada marcha, sinto os braços do lobo apertando-se em torno de mim, sobre ali vejo um relevo semelhante a uma cratera, mas esta é naturalmente moldada pelos ventos e pela neve. Meu plano era deixar o Nanci aqui para o ataque, mas sou surpreendido por um homem ali de tocaia, era esse o local de vigia dele, assim que meus olhos o encontram Preven avança, mesmo com roupas leves e escuras para camuflagem eu o via muito bem, mas, não ouvia ruído ou cheiro vindo dele, estranho.

Faço o cavalo avançar sobre o humano, suas patas o derrubam no chão e o pressiona contra a terra negra. – Me solta. – falo num tom gentil ao Nanci que o faz, desse apenas eu, chamo Ehras da escuridão da madrugada e levo sua ponta ao homem ali. – Então temos um batedor aqui? – faço a ponta tocar seu traje negro e congelá-lo.

— Ahr! O que?! – o homem grita assustado, eu havia dobrado a sombra ao nosso redor, Preven foi amortecido pelas trevas e oculto nelas, eu amo a noite.

Fiquei de lado para ver meu companheiro, o lobo estava sentado estranhamente sobre o cavalo, como se não gostasse, bom ele é armadurado com gelo então pode ser péssimo para alguém mal acostumado a cavalgar e ao frio, o homem se mexe demais, e com minha paciência eu chuto seu rosto, vejo alguns dentes saindo e ele desmaiando. – O que acha que fazemos com ele Klyce? – pergunto ao lobo.

— Não sei senhor, o que ele é? É nosso inimigo? – dou uma boa olhada no homem, com a foice eu retiro o manto que cobria suas pernas e quadris, facas, adagas de arremesso estão presas em seu quadril por um cinto cheio de abas e pequenos bolsos com ou sem botões.

— Eu creio que sim, os homens que te compraram, aqueles que comandavam a vila eram peixe pequeno... O pessoal afrente detém muitos contratos com mercenários, exércitos deles. – o manto negro que o cobria era preso em seus ombros com uma fina corda, o tirei dele e o puxei para mim, era bastante leve, e aparentemente, impermeável. – Você se importa se eu... – apontei ao homem caído com a mão vazia, a outra levava a foice até seu rosto.

— Faça o que desejar meu senhor, eu sou um mero espectador, não tenho o direito de julgar-te. – ele falava tremendo seu corpo.

— Vista isso. – jogo a ele o manto, no ar é pego pelo Nanci que o faz cair em seus braços atrapalhados. – E... Olha pra lá. – aponto para sua esquerda, Klyce me obedece baixando o focinho e tapando o rosto com o manto, giro Ehras na mão com maestria e sem tirar os olhos do lobo, no terceiro giro a faço cair alguns centímetros, ao som úmido ele baixa suas longas orelhas brancas e os ombros.

— Não sinta medo, é necessário para mim, bom, para nós, você faz parte da minha cruzada agora não faz? – o Nanci olha o corpo que eu não preciso ver, seu coração já não bate mais, e sua surpresa não vem tão arraigada como imaginei.

— Claro meu mestre, eu sou seu servo eterno. – Klyce me dá certa segurança, com ele aqui eu sei que não sou um monstro, que não vão me ver assim, mesmo que apenas a opinião dos deuses e de Thereza me importem.

Sorrio brevemente e aponto a Preven. – Mantenha ele seguro...

— C... Claro meu senhor. – não era com Klyce que falava, mas ao ouvir o relinchar de minha montaria tenho uma resposta dupla.

— Use as sombras, suas coisas, Klyce, estão com ele, peça e Preven vai lhe dar o que precisar. – me virei para olhar o morto, seu corpo e vestes não davam para usar, nem mesmo caberiam em mim. – Vão!

— Meu senhor, eu devia ficar contigo, te ajudar no qu-

— Faça o que pedi... – mesmo que meu tom fosse tranquilo essas palavras o fez se render, sua cabeça baixou e colocou o manto sobre si em seguida.

— Como desejar meu senhor... – ele tenta tocar na crina de Preven, mas tem medo.

— Ele também é nosso amigo Klyce, o trate com respeito que ele o protegerá. Não precisa temê-lo.

— Eu... Eu não o temo senhor, só, sinto frio... – um sorriso torto sobe em seu rosto branco.

— Não faça fogueiras, se aqueça com as vestes e se defenda do vento, logo será dia, e quando ele chegar eu estarei de volta. Prometo!

— O... O senhor promete? – o Nanci me faz ver seus olhos, eu criei afeto por ele, isso agora é fato.

— Prometo meu amigo, promessas são o semblante da alma de um homem... – meu cavalo começa a andar. – Fique tranquilo.

Eu me afastei dele o suficiente, mas via a felicidade trêmula do lobo branco mesmo que suprimida e de costas a mim. Ando de ré e me atento, sombras emergem de minhas botas e sobem como fumaça até meus joelhos, e deles cobrem minha cintura e meus ombros. Como último chamado, o Algoz  de Vrett voltará a ceifar...



Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...