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História Crônicas de Althunrain - Rei Lich - O Herói


Escrita por: Tulyan

Capítulo 36 - O Herói


Fanfic / Fanfiction Crônicas de Althunrain - Rei Lich - O Herói

 Havia muito tempo que andávamos no Preven, meu mestre estava meio calado, mas posso jurar que ele falava com alguém, pois ficava olhando os cantos com algum interesse, e ás vezes o via assentir como se debatesse algo muito importante, eu não falo nada, não devo, eu não sei bem o que meu senhor é, e de forma nenhuma vou julgá-lo... Ou perguntar o que é isso, pois já vi muitos magos enquanto servia meus antigos mestres, mas nenhum como Aryn, ele tem uma presença que vai além de uma aura arcana, me sinto tão bem perto dele, um vigor além de minha devoção pelo meu mestre...

Mas, daqui, só consigo, ás vezes, contemplar seus cabelos brancos como o meu pêlo, o cavalo está galopando em alta velocidade a um bom tempo, eu sinceramente não sei como é possível algo correr assim. Mal consigo manter os olhos abertos, deixo minhas orelhas caídas para evitar o som caótico do ar nelas, felizmente, sábio como é, Aryn me deixou atrás dele e bem vestido, por isso não sinto frio nem calor, apesar de montar esse animal coberto de gelo, estou com um frescor confortável, o ar frio entra pelas mangas e pela gola dessas três blusas claras que visto e levam o ar quente por mim emanado. Minhas pernas voltaram depois de algum tempo descansando, consigo até mesmo mexer minhas patas outra vez... Segurando no quadril de Aryn eu me deixo seguro, este homem que sigo, sábios deuses, me mantenham junto a ele.

Mesmo com esses ventos tão velozes, eu sinto o cheiro de fumaça, e... De sangue... Sim, não tem como ser outro lugar, Preven desacelera, seu galope muda para um trote rápido e dele, dá passos largos e só ai para, eu não preciso olhar para perceber, ouço e sinto o cheiro de muita gente, mas o espanto vem de meus olhos, havia um batalhão de no mínimo duzentos homens aqui, todos de armadura bem feita e roupas brancas, cobertas ou não por metal, estandartes com um símbolo bonito e familiar balançavam alto... – O Clã Caalim... – falo baixo o suficiente para ser quase um pensamento, mas...

— Sim, foram eles que me enviaram... – Aryn me ouve? Como, ele tem sentidos tão apurados assim? – Eles são amigos Klyce, mas fique quieto e relaxe, eu apenas sou prudente...

— Aryn! – alguém o chama, erguendo os ombros meu mestre desce de seu cavalo passando sua perna por cima da crina dele, eu devia descer para acompanhá-lo, eu fiz menção de disso, mas ele me olha e gestualiza para que eu fique, com um sorrio leve no rosto eu o obedeço e fico onde estou, sem falar que Preven é muito alto para descer assim.

 

Klyce estava quieto e observando meus passos, eu sei disso, mas a pessoa que me chama se destaca dentre os homens, não é um coronel, como é comum estar liderando um pelotão desse. – Cix... Faz um tempinho... – os cabelos brancos e armadura perolada nunca vão me confundir, nem sua aura mágica muito poderosa, em falar nela nós conseguimos suprimir a nossa muito bem...

— Aryn. Que honra vê-lo novamente. – Cixoam baixa a cabeça levemente, uma saudação sutil a um superior, mas como isso não convêm a sua posição de filho de duque, o meio-dragão se aproxima de mim.

Quartunta estava atrás dele, as chamas e o cheiro de sangue de ontem está fraco, mas via grande parte de seus homens, armadurados igualmente, entrando e saindo de lá, levando corpos e pessoas assustadas. – Quando soubemos das primeiras vilas... – o homem ficou mais perto de mim. – Eu nunca duvidei que fosse outra coisa, o senhor fez um trabalho simplesmente perfeito, Triunta e Diunta estão um caco, mas todos os civis chegaram a Vrett e eles nos atualizaram... Se me permite a pergunta, de onde vêm?

— Cenkedoz, acabo de... Você deve imaginar...

Espanto bateu sobre ele, ouso dizer que não é a primeira vez hoje. – Quartunta também?

— Sim... As três vilas e a cidade.

— Mas eu... Vimos um vulcão explodindo, uma tempesta- ele mesmo se interrompeu. Sua armadura range quando ele nega a si mesmo a realidade e ri. – Estamos em uma dívida enorme contigo, homens! Apressem o apoio a essa vila, vamos para Cenkedoz logo! – Cix fica de lado ao ordenar seus soldados, todos entendem e metade deles partiram.

— A cidade foi imaculada, mande alguns homens para juntar os corpos e dar o devido fim... Mas eu tenho um trabalho diferente pra você. – falei mais baixo essa parte. – Chegou a encontrar uma mulher chamada Ellody?

— Ah, sim, ela trazia aqueles “presentes” seus, não sei se fiz errado, mas a permiti seguir seu caminho para Vrett. – ele aponta para trás de si com o dedão direito.

— Fez bem. E eu estou muito cansado de fazer isso tudo, preciso de vinho, algum destilado... – fiz uma cara de cansaço para tirar o espanto dele. O homem ia voltar a ordenar seus soldados restantes, mas intervi. – No entanto, precisamos voltar a Vrett o quanto antes, ahm... – tentava escolher as melhores palavras. – Tenho assuntos a tratar com teu pai.

— Tua recompensa claro. – falou convicto.

— Antes fosse... Acho que há algo mais profundo acontecendo do que uns simples invasores. – falar isso remetia ao passado de Cix antes de mim, mas parece não tê-lo afetado.

— E, o que é aquilo ali? – o homem aponta além de mim, seu tom era mais curiosos do que julgador.

— Ah sim, é um Nanci, se chama Klyce, recentemente passou a me acompanhar. – me viro para o lobo que baixa a cabeça levemente. – Klyce, esse é Cixoam, um amigo meu.

— É um prazer conhecê-lo senhor Cixoam. – ambos se cumprimentaram, pessoas distintas, mas ambas sob meu comando, estranhamente inquietante.

— Então. – bato as mãos uma das outras. – Cix, pela urgência vou precisar de ti, mas não nessa forma.

O homem me olha um pouco e concorda. – Como queira... Croner, você fica no comando, cuide de tudo como planejado, vou voltar mais cedo a Vrett e dar as boas novas. – dentre o pelotão, um soldado mais afrente assentiu, e junto a seu movimento, um pedaço daquele aglomerado de homens se destacou produzindo um único som pesado.

— Iremos a Cenkedoz de imediato senhor! – anuncia meio abafado pelo visor fechado.

— Klyce, desça de Preven. – me volto ao Nanci que faz o pedido com rapidez, seu salto é breve e ele parece bem mesmo depois de andar na minha montaria e sentir tanto frio. – Preven, outra hora o chamarei. – com esse comando e com pensamentos, meu cavalo vai embora sem nenhuma hesitação... É um pleno mistério para mim o lugar onde ele vai. – Quanto a você Klyce, venha cá... – o chamo para ficar perto de mim, precisava explicar sobre Cix.

 

Meu mestre me chama para perto e fico próximo a ele, Aryn passa a mão por cima de meu pescoço e me traz para perto de si, não sei como reagir a isso, então junto as mãos afrente de mim e tento ficar o mais silencioso possível, sinto algo estranho do amigo de meu senhor. Mas se ele diz que é um aliado, eu confio nisso. – Tem algo que preciso falar a ti, Cixoam é filho do duque Velenfour, tenho um passado estranho com ele, ah e... Ele é um homem dragão... – tal característica me fez erguer as orelhas em espanto, olhei para meu senhor que observava algo a sua direita.

— Um dragão?! – sempre ouvi falar nessas bestas místicas e poderosas, porém nunca vi sequer a escama de um.

— Isso... Veja... – Aryn fica mais atrás de mim e me mostra, seu amigo se transforma, seu corpo muda, o corpo forte e grande ignora a armadura que desaparece em meio a um crescimento sobrenatural e brilhoso, o pescoço do homem fica longo, esbranquiçado e escamado, logo, uma cauda se alonga em mais de três metros quando um par de asas imensas brotam de perto das omoplatas dele, e se esticam no ar.

As membranas quase transparentes brilham a luz do Sol, assim como todo seu corpo claro e límpido, eu cairia de costas em tamanha contemplação se não fosse meu senhor, tremo diante de tamanha criatura magnifica... Agora totalmente completa, Cixoam fica afrente de seu batalhão, seu peso esmigalha as pedras do chão, todos os homens tentam permanecer quietos perante esse dragão imenso. – O... O... – mal tenho palavras, mas com nenhuma cerimônia meu mestre me tira de perto de si e caminha para a fera sem medo.

— Vem Klyce... – Aryn aponta ao dragão com a cabeça. – Vamos nele... – sua calma e casualidade são impressionantes, e isso me faz pensar, o que meu senhor já deve ter visto, ninguém “normal” ficaria tão calmo, nem mesmo os soldados mantêm a postura, no entanto, devo me acalmar e servir bem meu mestre, não importa as casualidades. Eu me submeti a isso quando o pedi para segui-lo, algo que nunca vou me arrepender.

 

Cix ficava um pouco desconcertado com isso, a primeira vez que fiz isso eu era mais um inimigo letal do que o amigo que agora espero ter me tornado, seu ombro direito se abaixa e com cuidado subo nele, o Nanci vem logo depois de mim, dessa vez o coloquei a minha frente, prendi minhas pernas nas clavículas do dragão e passei as mãos de cada lado do lobo a fim de mantê-lo aqui em cima. – Vamos! – a minha voz Cix bate as asas e corre batendo as patas dianteiras e traseiras juntas e em sequência.

A nossa frente, o relevo descia junto a rochas e alguma vegetação rala que mal chegava a três metros, o lobo estava com medo, era notável, mas o confortava segurando o pescoço de Cix de cada lado dele forçando nós dois a nos curvarmos um pouco para frente. A enorme quantidade de ar chacoalha as pequenas árvores e os densos arbustos, mas logo, tudo para, estávamos voando... Essa sensação sempre será incrível, leveza, paz, calma... Eu, poderia dormir assim, se não fosse o Nanci se debatendo afrente de mim e o dragão ganhando mais altura a cada segundo. Dali pude ver Quartunta, e os muros negros daquelas minas... Que lugar horrível, espero nunca mais ver algo assim... Os soldados de Cixoam já eram semelhantes a formigas quando Klyce parou de tremer de medo, Thereza ria dele, nós dois estávamos a muito conversando sobre tudo o que fizemos, relembrando, junto a nossa visão, as vilas de Diunta, que ainda tinha aquele corte enorme a atravessando, depois de uma floresta grande e um rio, ao qual ainda jazia minha ponte de gelo, vi Triunta, para os dois isso pode não ter um significado tão aparente, mas para mim, significa que meus poderes salvaram muita gente, e isso me deixa muito feliz.

O tempo de voo foi curto, as poderosas asas de Cixoam nos levaram bem rápido, e logo vi a cidade de Vrett, o dragão ruge alto assustando o lobo desatento que se atrapalha e tem que ser segurado por mim para não cair, não era difícil perceber-nos, havia centenas de tendas montadas em acampamentos dentro dos muros altos de Vrett, não conseguia ouvir bem o que diziam, pela distância e pelos ventos caóticos que batiam contra meu rosto, mas era obvio que eles avistaram essa criatura imensa. Logo ficamos em rota de colisão com aquela casa grande ao qual serve de moradia a Velenfour, mas, para desacelerar, as asas enormes dele funcionam como pás, pousamos afrente daquele lugar bonito com calma, as pessoas a volta, melhor, toda a cidade nos viu chegar, o chão treme, posso ver pela perda de equilíbrio dos guardas afrente dos portões.

Sem tempo para perder subo nas costas do dragão e saio dali, caio no chão já andando e só ai paro, me viro para observar o lobo quase traumatizado, suas mãos estavam grudadas no pescoço de Cixoam que se balançou tentando se livrar do Nanci. – Vem logo Klyce, não temos tempo. – falei, e de imediato, como magia, ele para de tremer, ou de ficar catatônico, tomba o corpo para a direita e desce suavemente no chão pedregoso, abraça a si mesmo e me olha brevemente antes de voltar o rosto ao chão. – Vem cá... – o chamo, como uma criança tímida ele se aproxima de mim e toca a cabeça em meu peito, buscando algo para si. – Tem medo de altura?

— S... Sim senhor... – sua voz é tão trêmula, que me sinto mal de não ter perguntado antes...

— Eu não sabia... Desculpe. – esta última palavra parece ter desencadeado algo nele, o lobo se afasta um pouco.

— Não se desculpe meu mestre, eu que estou errado em ter medos... – inspirei o suficiente para respondê-lo, porém fui interrompido.

— Você é o dono dele Aryn? – Cix terminava de destransformar-se, e me pergunta isso ainda recolhendo suas asas brancas, não me julgava, pois ele já fez coisa bem pior.

— Não, eu o salvei da forca, mas ele me chama de mestre por seus motivos, eu me sinto mais como um tutor, não como seu dono quando ele diz isso. – o olho de lado. – Afinal ele é livre, mesmo que não oficialmente...

— Pretende alforriar ele? – o homem fica a minha frente, me olha de cima a baixo uma vez, como um reflexo natural, procurando algo que aparentemente não achou.

— Se isso não for demorado... – fitei meu mais recente parceiro, suas roupas pomposas e volumosas disfarçavam seu corpo magro, mas o notava meio acuado em meio a tanta gente que se aglomerava aos montes.

Aquele tanto de pessoas não me eram estranhas, boa parte, tenho certeza, são das que salvei, sei disso, pois me lembro de suas silhuetas, mas elas não vão lembrar de mim, apenas, do Algoz...

— Palavras nunca irão expressar o quão feliz e honrado estou em te rever. – ela o pai de Cixoam, o duque Velenfour que falava irrompendo as portas de sua moradia.

Suas roupas eram brancas, junto a um corselete de algodão perolado, e seu abraço, muito apertado. – Seja muito bem-vindo Aryn, estou com uma dívida eterna contigo. – retribuo seu gesto batendo em suas costas cordialmente.

— Todos voltaram bem? – falo preocupado, não pude escoltá-los pela urgência.

— Sim, isso mesmo, eu esperava estar contando os mortos, mas... – ele abre os braços, todos a nossa volta são quem ele apontava. – Todos aqui, estão vivos e bem, por seu capricho. – não pude evitar de sorrir, me sentia tão, satisfeito... – Eles mesmo não acreditam bem no que viram, dizem que foi um Algoz de Nyr, mas creio que estavam...

— Não, era eu mesmo, só tinha usado meu poder de sombras. – o velho estranhou e riu.

— Hah! Mas você não é um mago de gelo? – fiz o numeral dois com os dedos.

— Uso os dois. – Cix passou ao meu lado, ele sabe bem disso, e por tal.

— Mostre a eles, mostre que você era o Algoz, todos estamos ansiosos em ver.

Dei os ombros e olhei para Klyce. – Se afaste um pouco. – o instrui, dois passos e nada mais. Voltei a olhar para Velenfour, haviam algumas dezenas me observando, mas ainda assim não me acanho. Por meu desejo, trevas envolvem-me como se entrasse em combustão instantânea, mas a escuridão é linear a minha pele, Ehras aparece automaticamente em minha mão direita, coberta de trevas, ela completa minha forma, e me nomeia Algoz.

— Woow! – o velho dá um passo para trás, espantado como se visse um fantasma. – Eles não mentiram, é tenebroso, com todo respeito Aryn. – solto um riso breve ao momento que as sobras desaparecem, deixo a foice ir junto para não precisar carregar nada.

— Foi você! – um homem fala dentre a multidão. – Você era o Algoz?! – tenho a sensação de que deveria me lembrar dele. – Sou eu, Dobe, o senhor me tirou daquela enrascada, pessoal! Foi ele! Ele que nos salvou, não há dúvida alguma! – sua fala trouxe alegria as pessoas por terem achado seu benfeitor, mas em especial, eu estava ainda mais feliz, por ser isso.

Gritaria foi seguida de uma explosão de felicidade, as pessoas se aglomeravam ao meu redor, lançavam palavras gentis, agradecidas e de benção para mim, me senti muito querido, e era, todos me deram um abraço, alguns choraram, mães carregando seus filhos, velhos acompanhados de seus parentes só queriam me gratificar. – Pessoal! Sei que... Todos estamos muito eufóricos por conhecer tal herói. Mas, vamos deixá-lo descansar, o homem merece uma boa caneca de cerveja! Todos! Vamos ter uma noite de celebração, que este dia seja marcado para sempre! – o duque incentiva, todos rugem um grito feliz ao mesmo tempo, e animado como estou, faço o mesmo levantando os braços como uma criança ao achar um brinquedo perdido. – Venha Aryn, vamos todos entrar, mandarei preparar o maior banquete já servido em Vrett! – Velenfour foi acompanhado de seu filho, e pela pressão popular, fui levado para dentro devagar.

 

Meu senhor é tão querido, eu me esqueci completamente de mim, vê-lo tão feliz me trouxe uma alegria muito profunda, sigo um homem tão honrado, tão bom, as pessoas que me cercam quase não me notam, estão ocupadas demais louvando meu mestre, eu lentamente vou recuando a cada um que toma meu lugar para ver meu senhor mais de perto, eu deixo e tento atrapalhar menos possível. Aryn vai festejar, eu devia servi-lo lá, mas vou esperar toda essa euforia acabar, sem falar que ele deve estar ocupado de mais dando atenção a todos e...

— Klyce! – mesmo nesse caos de vozes, eu nunca vou confundir a voz de quem me salvou a vida. Me viro e baixo as orelhas esperando algo, talvez esteja bravo por eu não ter seguido-o. Mas o que vejo, é um belo e lindo rosto sorrindo para mim, nunca vi isso tão fortemente destinado a minha humilde pessoa. – Ei! Vem! Vamos comer juntos! – essas palavras ecoaram em minha mente, não tenho memória de ouvir isso, nunca fui tratado com tanta gentileza, tanto apreço, isso me faz muito, muito feliz.

— Sim meu senhor! – contrário aos outros, meu mestre passa pelos populares e vem em minha direção, todos param para observá-lo e por isso consigo ir em seu rumo também, em minha mente isso era como ir tocar em um ídolo, porém, Aryn me trata como um amigo, e isso me faz admirá-lo, respeitá-lo e venerá-lo... Agarrando meu ombro direito ele me puxa para si, passa o braço atrás do meu pescoço e anda comigo.

 

Eu ria com as palavras de Dobe, me contava do medo que sentiu ao me conhecer como Algoz, o lobo junto a mim estava calado, até demais, o olhei entre a conversa e a despedida rápida do espião, Klyce tinha a cabeça baixa disfarçava algo... Inesperado para tal clima. – Porque está chorando? – toco seu peito com minha mão direita, seus olhos azulados derramam lágrimas curtas, que ele insiste em enxugar com sua manga quase tão branca quanto seu pêlo. – Ei... O que foi... – ainda andando, o trouxe para mais perto de mim e o chacoalhei um pouco, para tentar diverti-lo.

— O senhor, é tão benevolente comigo... – encosto sua cabeça em meu ombro enquanto ele chora, as coisas que passou foram realmente horríveis, qualquer sinal de cortesia o faz se emocionar.

— Mas é claro, você é meu amigo, não é? – passamos pelas portas altas daquele lugar grandioso, mas não parei de confortá-lo. – Me responda, você é meu amigo certo?

Assentindo, o lobo branco me abraça. – Claro, eu quero muito... – paro para isso e o retribuo, seu focinho sobe a minha direita por cima de meu ombro enquanto afago suas costas.

— Então não chora... – nos afastamos, ele limpa o rosto e funga, desconcertado, dentre as dezenas de vozes, ouço barulhos secos, como rolhas sendo soltas. – Vamos nos divertir, vamos comer e bebem, comemorar nossa amizade e o fim daquela perversidade toda. – bato as mãos a cada lado dele espremendo seus braços e lhe tirando daqueles sentimentos tristes.

— Certo. – o vi sorrir mais uma vez, deve ter sido tão raro essa expressão que, não a faz tão bem, como se algo prendesse seus lábios internamente negros. – Eu vou! – convicção aflora nele.

— Ei Aryn! – Velenfour vinha com quatro canecas grandes de madeira com anéis de metal envolta delas, dentro, pelo cheiro doce, é Cyser! Comecei a salivar como um cão faminto ali mesmo. – Aqui... – ele entrega um a mim, um a seu filho, outro a Dobe e um para si.

— Ficou sem Klyce... – o duque olha para quem me referia e se assusta.

— Me perdoe, Nancis bebem?! – sua surpresa é abrandada com o riso de nós três. – Eu não sabia que você gostava, sempre me diziam que Nancis nunca bebiam...

— Não bebemos, pois nossos mestres não permitem senhor. – Klyce responde juntando as mãos afrente de si.

— Espera... – ele gestua e derrama um pouquinho de sua bebida. – Quem é seu dono? – Cix me olha. – Ah, é você Aryn?

— Eu não, esse ai é livre para fazer o que quiser, eu só finjo ser dono dele até alforriá-lo. – não aguentando mais tal tortura bebo, como um sedento achando água, eu não consigo parar, um pouco cai pelas beiradas da minha boca, mas só quando a caneca está para cima e não há nada mais dentro.

— Ei moça. – o duque chama uma serva qualquer dali, era destacada pelas roupas simples e pelo cabelo amarelo preso com esmero, e uma bandeja de madeira fina que trazia consigo acima da linha do ombro. – Traga mais para nós. – Velenfour coloca sua caneca sobre a bandeja, quando que ele a tomou eu não vi, mas deixo a minha igualmente vazia ao lado da sua. – E coloque uma extra para nosso ilustre camarada aqui. – o velho mostra o Nanci a ela que reage sutilmente, reverencia-o se abaixando levemente e vai fazer seu trabalho. – Mas me diga. – o homem me convida a andar tocando meu ombro e indo rumo a grande mesa onde deveria estar o altar desse lugar, lá, subindo uns poucos lances de escadas, várias cadeiras estavam postas em direção a porta arreganhada. – Eu ainda não consigo acreditar que conseguiu fazer tudo isso sem ajuda... – naturalmente, o duque tem sua cadeira puxada para se sentar, mas ele que faz isso para mim, fico honrado com tal atitude.

— Não fiz tão sozinho. – me sento na cadeira de encosto alto, maior que ela só a da minha esquerda, ao qual o duque se senta, a esquerda dele, fica seu filho, a minha direita faço questão de chamar meu Nanci.

— Posso me sentar aqui mesmo senhor? – as vezes me esqueço de sua criação rígida, mas devagar vou soltá-lo.

— Claro. – respondo quase tão baixo e sutil quando a pergunta. – Bom, em Triunta, conheci DOBE! – o chamei, dentre a multidão, o vi erguer seu copo, ao seu lado estava uma bela moça... Não... Brincadeira... – Ellody?! – surpresa dominou minha voz. – Pelos deuses! Vocês... – apontei aos dois em meio as pessoas.

— Estou quase tão espantada quanto você Aryn! – responde a mulher que beija a bochecha de Dobe. – Ele é meu marido, o que falei a ti! – ela o apresenta a mim, um arrepio extasiante percorre meu corpo, quem diria.

— Obrigado por tudo Aryn, que os deuses o abençoem eternamente! – Ellody grita para mim e sua voz traz mais euforia, as pessoas gritam positivamente ao seu desejo.

— Sem tua ajuda eu nunca teria conseguido! – a retribuo palavras gentis. – Desejo muita felicidade aos dois! – levanto meu punho direito intensificando minha vontade.

Nesse meio tempo a mesma serva de antes deixa três canecas cheias a frente de mim, do duque e do lobo, além de uma bandeja cheia de aperitivos, frutas, carnes e um jarro de barro negro que cabe facilmente quatro litros de... Humm... Hidromel...

Aproveitando nossas canecas já cheias, eu pego a minha e olho a Velenfour, aceno ao velho e juntos levantamos. – Um brinde a Aryn! – ele grita alto. Todos no recinto param tudo o que fazem, os sem bebida se apressam e juntos, temos um momento de silêncio e contemplação do divino sangue de Avony, o silêncio é forte, eu bebia feroz e fui um dos primeiros a terminar, num prazo de milésimos todos os outros também o fazem, e juntos, soltamos outro brado festejante.

Me sento meio folgado, mas não tanto quanto o duque que fica meio torto e pega uma maçã para si. – Sirvam-se. – diz de boca cheia. O lobo arrumava sua cauda ao seu lado antes de voltar a assentar-se, me estiquei um pouco e consegui agarrar um pernil de... Cheiro o ar ao redor dela, cabra.

Ofereço ao Nanci. – Esse é teu. – seus olhos brilhantes como os de uma criança me fitam com doçura, sua boca molhada de bebida é bicolor agora e eu rio dele, mesmo que eu esteja igual.



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