Era uma manhã de verão como qualquer outra. Acordei, escovei os dentes, questionei minha autoestima ao espelho, troquei de roupa, tomei café da manhã e me sentei à beira da porta da frente de casa esperando o dia passar. Minhas manhãs eram todas parecidas, principalmente agora que eu estava novamente em casa, no auge dos meus quase 18 anos, após finalizar a Academia Ninja e pensando no futuro que eu queria trilhar.
Eu não era nada interessante, pelo menos não na minha visão: cabelos negros, olhos perolados, pele branca, dentes alinhados, mas com uma leve entortada por conta do crescimento dos sisos. Eu era comum, nada como Sakura Haruno ou Ino Yamanaka. Eu passei os anos da Academia Ninja imperceptível.
Naquele dia, em específico, meu pai havia saído trabalhar pela manhã e me deixado cuidando da minha irmã mais nova, Hanabi. Meu pai era líder do clã Hyuuga, um dos maiores clãs de Konoha; minha mãe tinha falecido no nascimento da irmã, e desde então eu, no meu posto de Princesa do Byakugan, estudava e treinada para ser ninja e comandar o clã Hyuuga.
A minha vida costumava ser uma mesmice, eu era tímida e passei os anos da Academia Ninja fugindo dos contatos sociais e, como uma figurante, presenciei todas as grandes lutas e grandes passagens dos alunos populares: eu vi Sasuke fugir da cidade, vi Rock Lee se machucar, vi Gaara dominar seus demônios e, principalmente, vi Naruto se transformar num homem.
Enfim, já era algo próximo às 9hrs quando Hanabi se levantou e pediu que eu a levasse até a casa de nossos tios, porque ela queria brincar com o primo Yashu; eu a levei. Ao chegar no local, Hanabi saiu correndo brincar com os pequenos Hyuugas, enquanto eu tomei chá com os anciões. Era sempre interessante e animador ver minhas primas contando sobre suas aventuras, os namoradinhos, as paqueras, e as provocações com a Hanabi acerca de um suposto crush que ela tinha na vila. O mais interessante era ver Hanabi ficando corada quando falavam de Konohamaru.
O tempo passou e Hanabi quis ficar com os primos. Meu pai voltaria para casa em uns dois dias, então não vi problemas em deixar minha irmã dormir fora de casa, afinal ela estaria bem vigiada, ninguém seria corajoso o suficiente para não cuidar da filha mais nova do líder do clã. Deixei Hanabi e tomei meu caminho de volta, já beirando umas 18h, passei por um campo de morangos, onde colhi algumas frutas para, mais tarde, cozinhar uma torta de morangos silvestres como minha avó havia me ensinado. Eu conhecia toda a propriedade e os caminhos, até porque eu havia crescido em meio a tais acres.
Nossa casa era a maior na vila dos Hyuuga, que ficava um pouco distante do Centro de Konoha; a propriedade era grande, com um enorme espaço de lazer. A residência principal dos Hyuuga era bem espaçosa e cercada por uns bons metros de jardins e florestas. Meu pai sempre gostou de privacidade, por isso construiu o clã Hyuuga com uma grande distância entre as residências, de forma que quem andasse pelas vielas do clã, não pudesse enxergar dentro das residências, bem como quem estivesse numa casa, não tivesse acesso visual às outras. Nisso, eu e meu pai somos bem parecidos, o fato de todos aqui serem portadores do Byakugan já causava invasões de privacidade o bastante, qualquer cuidado era necessário para preservar a intimidade das famílias.
Desde pequena eu queria ser uma ninja e liderar meu clã, mas a minha timidez e postura insegura fez com que meu pai depositasse mais confiança na Hanabi liderando do que eu; na verdade, Hanabi era só cinco anos mais nova do que eu, e mesmo assim tinha uma postura rígida e firme, como qualquer líder deveria ter. Lembro-me de sempre ter tido meu primo Neji ao meu lado, me protegendo e me segurando em todas as minhas falhas, algo que não ocorria com a Hanabi, que tinha uma espaço pessoal livre para formar seu caráter e a sua personalidade.
Neji era poucos anos mais velho do que eu, era filho do irmão do meu pai, e seria herdeiro da família secundária, que tinha como finalidade proteger a família principal, para que não houvesse risco a hereditariedade do grande poder dos Hyuuga. Portanto, eu era o símbolo da eterna submissão de Neji, e ao mesmo tempo eu era o motivo da decepção do meu pai. Fadada ao fracasso e à sombra da Hanabi, eu cresci cada vez mais calada, sempre subestimada.
Entrei na academia ninja quando deveria, fui uma das melhores alunas, venci e perdi batalhas, mas nunca desisti do meu sonho de provar minha força e ser uma ninja; quem sabe – pensava calada – eu poderia ser cotada para entrara para a ANBU, dependeria apenas de eu provar minha força, habilidade, determinação e, o mais difícil, demonstrar que havia uma parte de mim que se impunha e sentia o ódio e a raiva necessária para assumir tal posto.
E assim eu vivi até aqui, hoje faz pouco mais seis meses que há paz entre os reinos após o fim da guerra ninja. Considerando tudo que houve nessa guerra, não tivemos muitas missões após o fim, isso porque a maioria de nós ainda estava se acostumando a viver num mundo em paz.
Pensando e questionando as diversas escolhas que eu deveria fazer, continuei caminhando sentido a minha casa, logo avisei ao longe o bosque de flores amarelas que foram plantadas pela minha mãe antes um pouco de a Hanabi nascer. Era pequeno, mas doce; caminhar por entre essas flores sempre me fazia lembrar da minha mãe.
Intrigada com o sentimento de que havia alguém por ali, caminhei por uns metros, até que avisei uma menina. Curiosa, me aproximei, mas sempre com a cautela de não ser vista por outrem. “Eu conheço aquela menina” – pensei -, mas não podia ser, ninguém entrava na propriedade do clá Hyuuga sem ser visto, até porque era um clã de portadores do Byakugan, praticamente impossível algúem se infiltrar por aqui; menos ainda para parar sentada num campo de flores amarelas em meio a um bosque de morangos. Ativei meu Byakugan e tudo ficou evidente, só podia ser ela, era uma menina bonita, clara, de cabelos castanhos amarrados em duas partes, era Tenten. Nós havíamos estudado juntas na Academia Ninja.
“Ei, Neji, cuidado! Me espera. Acha mesmo que ninguém vai nos ver aqui?” – ouvi, e era evidente ser a voz da Tenten.
Bom, pensei comigo que deveria ser o Time Guy, mas me enganei. Não havia mais ninguém além da Tenten e do Neji. Eu, que estava atrás de uma pedra, logo fui dando meia volta e retomando meu rumo para casa. Triste destino, foi só eu me mexer por um segundo que eu escutei uma voz que me deixou nervosa: “Ei, você! Pare! Quem está aí?”.
Continuei caminhando, até porque de onde eu estava quase podia avistar o caminho de casa. “Por que Hinata? Por que você foi parar aqui?”, eu me questionava. E foi assim que eu ouvi:
- É a Hinata, Neji. Que vergonha! Agora fale com ela, vai saber o que ela vai imaginar de nós dois aqui em meio a este bosque. Hinata, espera aí! – como sempre, a Tenten era querida e receptiva, foi uma das poucas ninjas veteranas da Academia que me destinou alguma palavra doce nos anos em que estudamos no mesmo lugar.
Parei. Estática. Eu não sabia o que fazer. Eu vestia um vestido branco médio, de renda no busto. Estava de cabelos soltos e bagunçados, com uma cesta de morangos no braço. Ora, eu não parecia uma ninja nem aqui, nem em lugar nenhum, e a última coisa que eu queria era que outro ninja me encontrasse assim. Mas não tive escolha. Me virei, e:
- Oi, Tenten. Tudo bem? O que faz por aqui?
- Bom – respondeu com vergonha – Neji queria me mostrar alguma coisa aqui no clã Hyuuga, então me trouxe. Mas não se preocupe, não é nada demais.
Pela primeira vez na vida eu vi Tenten envergonhada. Era próximo às 19h, estava escuro, Tenten estava estática na minha frente e Neji vinha logo atrás. Automaticamente eu questionava em pensamento o que esses dois estavam fazendo no clã Hyuuga – ou pior, dentro da propriedade da família principal – sussurrando e tentando não serem notados? Não era da minha conta, então não perguntei.
- Hinata-san, me perdoe por invadirmos a propriedade da família principal; já estamos de saída, não vamos mais atrapalhar – Neji me falou, tomou o braço de Tenten, que estava visivelmente confusa, e saiu andando.
Por meio segundo questionei se eu deveria respondê-lo. Neji era meu primo, meu protetor, e sempre deixou claro haver um abismo entre nós. Não éramos amigos, e considerando todos os limites que ele impôs durante os meus 18 anos, não seriamos. Mesmo assim, vendo a vergonha de Tenten quando esta percebeu que estava dentro da minha casa, respondi:
- Neji-san, não se preocupe. Você é parte da família também, essa propriedade é tão minha quanto sua. Fiquem à vontade, não contarei a ninguém que os vi. Mas cuidem-se, tem guardas de plantão no caminho principal, então creio que vocês devessem tomar o rumo a sudeste, porque os guardar daquele posto viajaram com meu pai em missão.
Neji fez um semblante de questionamento, eu nunca havia falado com ele daquela forma. Mas, eu já tinha 18 anos, e ele quase 20. Crescemos juntos com ele sempre me protegendo. Na guerra ninja, Neji quase morreu para me salvar; eu devia minha vida a ele, e tratá-lo como um simples membro da família secundária era totalmente desnecessário.
Na verdade, essa divisão entre famílias principal e secundária era algo retrógrado, e eu sabia; o problema é que meu nunca concordaria em destruir esses conceitos do passado. Se eu tivesse força e o suficiente, e o coragem o bastante, me tornaria líder do clã Hyuuga e poria um fim nessa relação de submissão.
Neji estava paralisado com as minhas palavras; entendo que ele não poderia retrucar a princesa do clã, pior ainda dentro da casa dela. Tenten, percebendo a situação e tentando ler com as poucas informações que tinha, soltou algumas palavras em minha direção:
- Obrigada, Hinata. Como sempre, você é gentil. Não sabia que estávamos na casa do líder dos Hyuuga. Nos perdoe. Já estamos de saída.
- Não! – respondeu Neji – não se desculpe, Tenten. Quem deve submissão a Hinata sou eu, e não você – virou-se na minha direção e disse: - Estamos de saída, não mais pisarei nessa casa.
Eu ficaria sozinha em casa durante toda a noite, me pai havia viajado, Hanabi estava na casa dos nossos primos, e até mesmo os guardas internos à casa não estavam presentes porque estavam na missão com meu pai. Portanto, quase que automaticamente, falei:
- Neji e Tenten, querem entrar para jantar?
Neji ficou mais branco do que já era. Acredito que ele nunca tinha sido convidado a entrar na casa da família principal, pelo menos não como um visitante, apenas como um protetor.
- Não é adequado Hinata, e você sabe.
Eu sabia, de fato. Mas, eles já estavam no meu quintal, não é mesmo? O que era caminhar mais alguns metros até a sala de estar?
- Claro, nós queremos – respondeu Tenten que, virando-se para Neji sussurrou – Como negar um convite da princesa do clã?
Neji não falou nada, apenas acatou com a cabeça e seguiu na minha direção. Ele não estava satisfeito com a situação, era perceptível que sequer queria estar ali. Mas consentiu, até hoje não sei se por vontade ou submissão.
Ao entrar na sala de estar, Tenten ficou boquiaberta com o tamanho e a decoração. Era a maior casa do clã e possivelmente de Konoha. Poucas pessoas tiveram permissão de entrar nessa residência que, questionavelmente, tinha mais de dez quartos para apenas três moradores.
Fui até a cozinha, fiz um chá e trouxe a eles. Servidos, enfim, perguntei:
- Vocês estavam entrando escondido para chegar à casa de Neji, não é mesmo? Todos os moradores das duas casas dos líderes (a minha e a dele) estavam viajando, e realmente a passagem mais segura em meio a toda a vigilância dos olhos perolados da nossa família, era por dentro do bosque aqui de casa.
- Hinata, não insinue tais coisas. Eu e Tenten somos amigos, eu apenas queria mostrar algo a ela – disse Neji.
- Entendo, está tudo bem. Eu não falaria nada a ninguém e, se eu falasse, poucos me ouviriam mesmo. Não se preocupem, eu acho a relação de vocês muito bonita.
- Relação? – questionou Neji. Tenten estava corada e não saia uma palavra da sua boca.
- Calma, Neji. Amizade também é uma relação – sorri – outra coisa, acaso queiram novamente entrar sem serem vistos, vocês podem me avisar que eu os ajudo, todos os pontos cegos do clã estão nos bosques que dividem a casa principal da secundária, eu sei disso por ter acesso aos documentos de Hiashi, meu pai.
- Não é nada disso que você está pensando, Hinata – Neji estremeceu.
Me aquietei, Neji era uma figura paterna para mim, eu não poder discordar do que ele afirmava, seria quase uma heresia. Após alguns poucos minutos de um silencio constrangedor, Tenten falou calmamente:
- Neji, Hinata é sua prima e nossa amiga, ela está tentando nos ajudar e não há motivos para esconder qualquer coisa – virando-se para mim, continuou – Hinata, eu gosto do Neji, estamos juntos há algumas semanas, mas poucas pessoas sabem disso. Então, por favor, poderia não contar a ninguém que nos viu?
- Claro. Agora, tomem o rumo que estavam buscando. A casa de Neji fica há poucos metros a sudeste, se continuarem pelo caminho do bosque de flores amarelas, provavelmente ninguém irá vê-los – respondi.
Neji não disse uma palavra sequer. Não concordou com a indicação de caminho, não discordou da afirmação da Tenten. Ele apenas se levantou e foi até a porta, enquanto Tenten veio na minha direção e me abraçou. Assim, partiram para a casa ao lado.
Poucos minutos depois, abri a janela da sacada do meu quarto e era possível ver uma luz acesa no quarto principal do terceiro andar da casa ao lado. Fiquei feliz por ver Neji e Tenten juntos, bem como porque, pela primeira vez, meu primo entrou na minha casa um igual, como sempre deveria ter sido.
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