História Crônicas Solitárias - Fundo Do Oceano

O mar frio e salgado envolvia meu corpo rígido. O pânico preencheu qualquer pensamento que eu pudesse ter, logo me arrependi de minha escolha. Fui afundando como uma âncora enferrujada: lenda e pesarosamente.

Debati-me, mas as cordas que amarrei pelo meu dorso e braços estavam bem apertadas e o tijolo me puxava para baixo. Eu ainda lembrava: escolhi esta morte justamente para que eu não pudesse voltar na decisão. Era uma decisão final, na qual, uma vez feita, não poderia ser desfeita. Eu estava tão certo de que era o que eu queria...

Sem outra opção, soltei todo o ar que me restava, formando bolhas de oxigênio que fugiam em direção à superfície. Se ali houvesse um fotógrafo, seria um momento perfeito para uma foto fúnebre e bela, que os leigos olhariam, romantizando o suicídio. Idiotas... Em um passado distante, talvez eu já tivesse sido um deles.

Inspirei com força e meus pulmões arderam. Meus olhos estavam bem abertos e o sal os queimava. Nunca fora minha intenção morrer sofrendo. Droga, como alguém pode romantizar coisa desse tipo? Meus pulmões clamavam por ar, minha mente parecia falhar. Não vi nenhuma luz que eu deveria seguir, vi apenas a escuridão avassaladora que desde sempre me amedrontou.

Atingi o fundo do oceano congelante com um baque surdo, afastando qualquer peixe ou ser vivo ao meu redor. Meus olhos se fecharam inconscientemente e ela foi o meu último pensamento e o meu último suspiro.