“Seokjin meneou a cabeça afim de esquecer o que os pequenos estavam aprontando consigo, enchendo o seu cabelo de pétalas de rosas. Quando virou-se viu os olhos de Namjoon fixos em si, o sorriso que pairava aos seus lábios foi cessando aos poucos enquanto se encaravam esquecendo o mundo a sua volta. Mas, o sorriso que se apagou, aos poucos foi acendendo mais uma vez e Seokjin caminhou saltitante ao encontro do lúpus, que involuntariamente sorriu, esperando pelo ômega.”
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O som do cavalgar ritmado dos cavalos ecoavam por toda campina, a cada passada um rastro de poeira era deixado para trás. Gramíneas e pedras voavam em um reboliço desenfreado, colidindo com o solo. A noite estava estrelada e o brilho singular e autentico da lua cobria todo o território como uma chama incandescente.
A rainha mantinha seu semblante inexpressível ao olhar as árvores passando lentamente pela janela da carruagem, que abria espaço noite a fora. Seus pensamentos estavam inquietos, semelhante ao homem do outro lado do acento que mexiam seus dedos afoitos e mantinha uma expressão perturbada.
– A noite está brilhosa – Namong comentou encarando o céu noturno pela janela igual a mulher. – Noite estrelada, até que daria uma ótima pintura – destacou e um sorriso pincelou os seus lábios.
Sooyeon parecia estar distante em seus pensamentos, pois não fez nenhum comentário diante da fala do alfa, diferente do que ele esperava. O sorriso azedo que estampava na face do homem, morreu aos poucos, quando esse voltou sua atenção para a majestosa rainha.
– Você está bem? – perguntou por gentileza, essa demorou a responder soltando um longo suspiro antes de menear a cabeça em afirmação. – Está quieta desde o momento que saímos – pontuou e a mulher deu de ombros.
– Estou a meditar com os meus pensamentos – comentou e Namong soltou uma leve gargalhada.
– Meditar? E desde quando a minha adorada rainha medita? – perguntou, sua voz soando preguiçosa e debochada. Sooyeon soltou um sorriso amargo e enviesado antes de virar para o alfa e olhar em seus olhos.
– Obrigada – soltou de repente pegando o alfa de surpresa, que a olhou sem entender.
– Hun? – expressou cauteloso franzindo o cenho.
– Acho que nunca lhe agradeci por tudo o que fez a mim – comentou encarando o homem por alguns segundos, antes de voltar a sua atenção para a janela. Namong ficou um tempo sem entender até liberar um sorriso e assentir levemente a cabeça.
– Já falei no passado e torno a repetir, entre nós não há necessidade de usar tais palavras – destacou e gentilmente guiou sua mão para tocar a mão da mulher que estava repousada em seu colo.
Os dedos entrelaçaram e um sorriso destacou nos lábios de Namong.
– Você foi a melhor escolha que fiz na minha vida – Namong comentou fazendo uma singela carícia nos dedos da mulher. Sooyeon não disse nada, voltou sua atenção para fora da janela, vendo o exato momento que a carruagem parou de se locomover e o silêncio da noite caiu sobre eles.
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Era uma noite alegre, e Yixing poderia provar isso ao ouvir as gargalhadas escandalosas das pessoas e a correria desenfreada das crianças pelo gramado. Um sorriso brilhou em seus lábios ao se dar conta de que foi Seokjin a proporcionar aquilo. Não era de hoje que todos sabiam da sua extensa admiração pelo ômega, assim como os seus reais sentimentos.
Isso era perceptível em seus olhos, bastava apenas olhar para o seu rosto quando estava ao lado do rei nortista. Não era por menos, o ômega era amado e adorado pelas pessoas que o cercavam, não apenas bela sua beleza exuberante, mas pelo seu coração benevolente e sua maestria em colocar o bem-estar do seu povo acima de qualquer coisa.
Pensar nisso deixava o sorriso nos lábios de Yixing mais brilhoso que o normal, ainda mais ao sentir o peso da caixinha no bolso interno das suas vestes que guardava a joia mais bela dos quatro reinos. Sabia que aquele momento não era o mais adequado, mas não poderia mais ignorar as batidas desenfreadas do seu coração toda vez que estivesse na presença do ômega.
Aquela noite ele iria dar um passo para o desconhecido, pensou. Irônico pensar algo assim, logo ele, um alfa que enfrentou mais guerras do que se pudesse contar nos dedos. O alfa jovem que liderou grandes guerras, e tão cedo conquistou sete reinos da sua terra de origem.
Mas, para as batalhadas travadas pelo coração, não havia experiência nesse mundo capaz de elucidar e preparar qualquer soldado. Eram todos iniciantes no campo de batalha. O golpe certo não existia, era apenas a entonação dos sentimentos mais profundos, em aguardo das respostas.
Pensar nisso, trouxe memorias calorosas para o coração desregulado do alfa. Memórias que ele gostaria de guarda-las para sempre se fosse algo possível. O sorriso mais uma vez iluminou a sua face e o alfa se perdeu em seus pensamentos.
“Apesar do inverno aos poucos ter abandonado o território coreano e as premissas da primavera viesse dar as caras, os ventos ainda eram constantes e envolviam qualquer pessoa que ousasse sair da proteção de suas casas naquele horário.
Depois de ficar anos recluso dentro do castelo, Yixing não estava disposto a permanecer e perder a beleza nortista que tanto os livros exaltavam. Naquele início de tarde, o alfa havia saído para cavalgar e apreciar a paisagem que aos poucos era preenchida pelo manto primaveril.
Aproveitou o momento e passeou pela cidade de Hanseong, que em outros tempos era o centro de comercialização de todo o território, mas que hoje, aos poucos se erguia, graças ao empenho de Seokjin. Yixing preferiu caminhar sem a presença dos seus homens como escudo a sua volta, dessa vez eles andavam um pouco afastado para dar a privacidade que tanto o Rei Vermelho gostava.
Quando retornou para o Palácio Primaveril já estava no final da tarde e o maior preferiu ver como Lity e Honey estava. Deixou as guloseimas que havia comprado para as crianças na cozinha e caminhou para a gruta, um local mais afastado do castelo e o espaço confortável que seu dragão havia encontrado para marcar território.
No entanto, assim que se aproximou do lugar teve uma boa surpresa. Já estava em seus planos chamar o ômega para passear consigo, só faltava-lhe a coragem, uma vez que o rapaz estava completamente atarefado com obrigações do reino que recentemente caiu por seus ombros.
Mas, ali estava Seokjin caminhando incerto e receoso ao encontro de Lity que o encarava com atenção, como se estivesse à espera de qualquer passo incerto do ômega para poder atacar. Quando o ômega parou na frente de Lity, ela levantou-se alerta, mexendo suas enormes asas que estavam abaixadas e inquietas.
Os ossos quebrados das presas que foram devoradas pelo enorme dragão ficaram evidente quando esse mexeu e Seokjin tentou não olhar. Seu coração bombardeou desenfreado quando sentiu Lity se moveu, soltando baixos ruídos, mesmo com um certo medo percorrendo o seu corpo, levantou a cabeça e encarou o animal que o olhava com atenção.
Depois de alguns minutos assim, Lity moveu sua cabeça para mais perto de Seokjin e abriu sua boca enorme, soltando um som gutural que ecoou por toda a campina. O coração de Seokjin quase saiu pela boca, achando que o dragão fosse lhe atacar. Yixing havia parado de andar apreensivo, por mais que conhecesse muito sobre dragões, algumas coisas ainda eram incertas.
Lity não colocou fogo no ômega como esse esperava que fosse, apenas tentou provocar o seu medo, mas o rapaz se manteve estável no lugar. O grito intenso do animal foi tão forte que fez os cabelos do ômega voar para trás, e as pontinhas da fita azul mesclou em meio a cortina negra dos fios longos se desprendendo e voando com o vento intenso que os envolvia.
Yixing conseguiu capturar a pequena peça e se aproximou do rapaz, no momento em que Lity se afastou um pouco inclinando a cabeça na direção de Seokjin que a olhou sem entender inicialmente. Depois guiou sua mão direito ao focinho do animal, tocando-o e deixando uma leve carícia sob a pele escamosa, aquilo pareceu agradar o animal que soltou alguns sons que poderiam ser conhecidos como um ronronar suave, se não fosse por ele ser brutal.
– Ela está te reconhecendo – Yixing comentou assim que aproximou do ômega que pego de surpresa, soltou um gritinho assustado se desequilibrando e tropeçando.
Um sorriso cativante evolveu os lábios de Yixing e ele se aproximou ainda mais. Seokjin rapidamente se recuperou e soltou um doce sorriso na direção do alfa no momento em que Lity inclinou suavemente sua cabeça na direção do tronco do ômega.
– O sangue primitivo do fogo percorre suas veias – comentou ao parar ao lado do ômega e ver esse voltar a fazer carinho no dragão. – Já li muitos livros, mas tudo o que sabemos sobre dragões e fogo é meio incerto. A maioria são mitos e lendas contadas por séculos – confessou e Seokjin assentiu, seus dedos deslizavam suavemente pela pele escamosa e crostosa do animal de aspecto reptiliano.
– Quando eu era pequeno, meu pai costumava me dizer que passaram séculos até o mundo ver um dragão verdade – o ômega comentou virando-se para o alfa que assentiu.
– O mundo não via um dragão há séculos, até eu aparecer – Yixing comentou se aproximando de Lity e deixando uma singela carícia no dragão que ronronou gutural, virando sua enorme cabeça para o alfa. – Para a maioria do mundo são considerados monstros, mas não para mim. Não importa o quão grande eles ficam, ou o quão aterrorizante e temível para os outros. Eles vão continuar sendo os meus filhos, e acho que você entende isso – destacou e Seokjin assentiu.
– Não entendo o por que deles não me atacar. Tipo, compreendo dela não ter atacado o Namjoon já que o sangue Zhang também percorre as veias dele, mas e quanto a mim? – indagou curioso e Yixing suspirou.
– Não há uma exata explicação, tudo o que sabemos é incerto e confuso. Mas, dragões são muito inteligentes, muito mais que os humanos. Eles sentem afeições pelos amigos de seu mestre e também sentem fúria dos seus inimigos. Você é a fênix, o animal primitivo do fogo. É como se você fosse a soberania entre todos ao que diz as lendas. Eles te respeitam e sentem o seu afeto, então, é pressuposto que eles têm uma certa lealdade para consigo – comentou afetuoso ao deslizar seus longos e delicados dedos pela cabeça do animal.
– Eu não sei nada sobre fênix – confessou ganhando a atenção do alfa que virou-se para si atencioso. – Digo, é totalmente diferente com as minhas águias, eu sinto tudo com as minhas águias. Sinto quando elas estão furiosas, ou quando sentem a minha raiva. Nós temos um laço inquebrável, mas com a Minjee é diferente... eu não sinto nada – completou em um suspirar tristonho e Yixing assentiu.
– É diferente, porque é desconhecido. Quando você começar a entender verá o mundo de coisas novas que ela pode lhe trazer – completou e Seokjin assentiu voltando a acariciar suavemente Lity que rugiu e virou-se em sua direção.”
Com um leve movimento de cabeça, Yixing espalhou as memórias de volta para o fundo da sua mente e se pôs a caminhar pelo gramado do jardim em direção ao local onde acontecia a festa. Seus dedos circularam o punho da espada embainhada como um presente, não se esquecendo de que deveria entregar aquele objeto para o verdadeiro dono.
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O rubor cobriu o rosto do ômega, que não suportou continuar encarando aqueles olhos intensos como fragmentos de gelo. Involuntariamente desviou a face vermelha com um minúsculo sorriso pairando em seus lábios. Mas, mesmo assim continuou a caminhar em direção ao rapaz que fazia o seu coração disparar desordenadamente.
Porém, antes que pudesse concluir o seu caminho, foi interceptado na metade por um rapaz de fios rebeldes que crescia ainda mais a cada dia. O menor não disse nenhuma palavra, apenas se jogou nos braços de Seokjin, envolvendo-o com carinho.
– Jinnie – Jungkook comentou alegre e ômega sorriu afagando os cabelos do moreno que ficavam maiores toda vez que o via. Depositou um selar na testa do alfa, antes de apertar a bochechinha deste, fazendo-o sorrir. – Não tenho mais quinze anos – resmungou fazendo o ômega franzir a testa, em uma expressão irônica.
– Não, apenas treze anos – debochou e recebeu um tapa no braço do alfa. Iria continuar com os insultos se não fosse pela chegada de um serzinho pequeno que grudou nas coxas de Jungkook feito um coelho.
– Tio Kookie, não estou achando o appa Tae – comentou tristonho com seus olhinhos brilhantes e Seokjin o olhou com atenção sorrindo ao ver o jeitinho doce do menor para com Jungkook.
– Appa Tae não aparece para crianças que se comportam mal – brincou e o garotinho de sete anos fez um biquinho tristonho em seus lábios, encarando-o emburrado. – Calma, ele não sumiu. Deve ter retornado ao Palácio para pegar alguma coisa. Mas, o que ele ensinou sobre modos, já esqueceu? – perguntou e o menor franziu o cenho sem entender o que o alfa queria dizer. – Não viu que o tio Kookie está ocupado na presença do rei? – questionou e Jinyoung virou-se na direção de Seokjin, corando envergonhado se afastando das pernas de Jungkook e fazendo uma leve reverência para o ômega.
– Vossa Majestade – comentou baixinho sua voz saindo pouco trêmula o que fez Jungkook rir e acariciar a cabeleira castanha escura do menor, que rapidamente se escondeu atrás do alfa envergonhado demais para encarar Seokjin, que soltou um sorriso pela atitude do menor e meneou a cabeça.
– Pequeno Jinyoung não se preocupe, tio Kookie vai lhe ajudar a encontrar o appa Tae – destacou educado e o menor espiou curioso detrás de Jungkook. Quando viu o sorriso brilhante que estampava a face de Seokjin, saiu detrás do alfa e assentiu com um sorriso bobinho em seus lábios, antes de arrastar o alfa pelo gramado, puxando-o pelo braço.
Seokjin suspirou alegre e voltou a sua atenção para Namjoon que ainda estava parado no mesmo lugar a sua espera. Voltando com o sorriso doce em seus lábios, Seokjin caminhou mais uma vez para o encontro do alfa, porém, foi interceptado no meio do caminho mais vez.
– Vossa Majestade, esse é o porco mais gordo da minha criação – uma alfa comentou rodeado por pessoas que Seokjin suspeitou ser a sua família. Havia um ômega entre eles que aparentava ter a mesma idade que a alfa, e mais duas crianças que se enroscava nas pernas do ômega. – É um agradecimento para a sua benevolência conosco – tornou a falar e em nenhum momento olhou nos olhos de Seokjin, como se fosse indigna de olhar para o ômega.
Seokjin assentiu e guiou suas mãos para a face da alfa, fazendo essa olhar em seus olhos, que a muito custo manteve seus olhos fixos nos olhos densos do ômega.
– Agradeço por ter comparecido ao meu banquete, espero que você e sua família possa aprecia-lo. E quando ao porco... – comentou olhando o animal grunhir no colo da alfa. – Ele é seu, não quero que vocês acham que tem o direito de me entregar o que tem de melhor – falou atencioso com um sorriso gentil estampado em sua face, vendo a alfa junto de seu ômega e filhos assentir repetidas vezes enquanto se reverenciava.
Depois de trocar mais algumas palavras o casal deixou Seokjin, que rapidamente foi interceptado por mais algumas famílias que levavam tudo que havia de mais precioso para tentar agradá-lo. O ômega recusou todos os presentes, não precisava que o seu povo lhe desse o que havia de mais valioso só por que ele era o rei. Não gostava disso, ele como rei que deveria dar tudo ao seu povo, não ao contrário.
Após ser interrompido várias vezes ora pelo seu povo, ora por pessoas que tinha um profundo carinho, como Jimin e Yixing que quase o conseguiu arrastar para longe do seu objetivo inicial. Jin se viu livre para caminhar em direção a Namjoon, dessa vez não sendo interrompido no meio do caminho.
Em nenhum momento Namjoon deixou de olhar para o ômega, apenas ficou a sua espera vendo como o ômega estava cercado por pessoas que tanto a admirava. As pessoas o olhavam com admiração e respeito, e o fato dele ser um ômega não atrapalhava essa admiração.
Ninguém nunca o olhou assim. Tudo o que Namjoon conseguia ver nos olhos das pessoas que o encarava era medo. As pessoas não tinham compaixão por ele, apenas medo. Diferente de como olhava para Seokjin e Yixing. Mas, esqueceu essas indagações quando viu o ômega parar envergonhado a sua frente.
– Você está bem? – Seokjin perguntou em um sussurro, tímido demais para encarar o alfa em uma primeira instância.
O que era irônico, ele nunca abaixou sua cabeça para ninguém, não importa se era alfa comum ou lúpus, não mais. Mas, Namjoon tinha algo que ele não sabia explicar, talvez seja os resquícios dos efeitos da marca, não saberia dizer. Tudo que sabia era que o lúpus em alguns momentos conseguia despertar coisas em si que nenhum outro conseguiu.
– Estou – Namjoon respondeu exibindo um sorriso doce em seus lábios, tão evidente que suas covinhas apareceram e os seus olhos desapareceram pela pálpebra, e foi essa visão que Seokjin teve quando finalmente olhou no rosto do maior.
– Eu também estou bem – comentou em um sorriso que fez o alfa corar em vergonha. Ele deveria ao menos ter perguntado se o ômega estava bem, mas estava envergonhado demais para conseguir pronunciar qualquer palavra corretamente.
– Desculpas – pediu pegando Seokjin de surpresa que cessou o sorriso sem entender o motivo do outro pedir desculpas. – Eu não tenho nada de tão precioso para lhe oferecer como o seu povo... – iniciou e Seokjin riu diante daquela frase, o lúpus poderia estar falando sério, mas o ômega levou em tom de brincadeira.
– Pelos deuses, o que aconteceu com eles? – questionou retoricamente pegando o alfa de surpresa que se calou e o olhou com atenção. – Eu nunca pedi por nenhum presente, não quero que eles acham que por eu ser o rei, eles têm o direito de me dar tudo o que tem de melhor. Meu pai nunca pediu isso, por que eu pediria? Sou eu que devo muito a eles – completou e um sorriso gentil brotou nos lábios do lúpus que preferiu não dizer nada.
Seokjin tinha uma áurea pura e doce, do tipo que despertava curiosidade e desejo da maioria. Vontade o suficiente para cobri-lo com os presentes mais caros do universo. Não era uma mentira, era uma constatação óbvia. Ele era terno demais e qualquer pessoa acharia que tinha por obrigação presenteá-lo em agradecimento. Namjoon faria isso se tivesse alguma coisa de valor em suas mãos, mas ele não tinha. Ele não tinha nada, nem mesmo as roupas que usavam era suas.
A única coisa que exista eram o sangue de milhões de pessoas que cobriam os seus dedos, não havia nada de bom que pudesse oferecer a Seokjin. Nem mesmo o seu sorriso, que achava que era feio o suficiente para exibi-lo na frente do ômega. Seus pensamentos traiçoeiros percorreriam quilômetros se continuasse seguindo aquela linha de raciocínio, porém, foi interrompido com uma pequena comoção que os envolveu segundos depois.
Namjoon voltou a encarar Seokjin sem entender o que estava acontecendo, no momento em que um punhado de pétalas de rosas de todas as cores caia em sua cabeça e o ômega gargalhava, usando as mãos para tentar cobrir a chuva de flores que recebia.
– Pegamos você – a voz doce e alegre de Beomgyu ecoou ao lado de Namjoon e ele foi capaz de ver a aglomeração que as crianças faziam envolta de Seokjin lideradas por Yibo que agitava uma cesta de palha no ar, liberando as últimas pétalas existente.
– Crianças! – o ômega mais velho ralhou tentando se afastar do banho de rosas que recebia, e por impulso foi em direção a Namjoon, para tentar bloquear a cascata de pétalas que caiam sobre si.
No entanto, por infortúnio do destino o moreno escorregou na infinidade de pétalas que cobriam o solo sob os seus pés. Soltou um gritinho surpreso e teria ido de encontro ao chão se não fosse os braços fortes e rústico que o envolveu. Surpreso por não ter atingido o solo, o ômega olhou para cima e encontrou os olhos selvagens de Namjoon.
– Obrigado – agradeceu tímido, sua face sendo envolvida pela coloração vermelha que predominava em suas bochechas.
Namjoon ficou o observando por alguns minutos, admirando a galáxia de estrelas que era perceptível nos olhos brilhantes do ômega por um tempo consideravelmente longo. As crianças vendo os dois ainda alheio em seu próprio mundinho, pegaram as pétalas que estavam no chão e voltaram a jogar no casal.
Seokjin deu duas singelas batidinhas nos braços do alfa que ainda o segurava inclinado no ar. Namjoon piscou por alguns segundos voltando a si, e envergonhado ergueu o ômega, de modo que ele volta-se a ficar em pé. Gentilmente as mãos calejadas de Namjoon abandonou a cintura delicada e nua de Seokjin, deixando-o constrangido pelo momento.
– De quem foi essa ideia estapafúrdia? – Seokjin questionou encarando os rostinhos sapecas de Beomgyu, Hyunjin, Jisoo e Jinyoung que havia entrado na brincadeira também, tão diferente da criança envergonhada que estava horas atrás quando cumprimentou o ômega.
Os quatro sorriram arteiros e rapidamente apontou o dedo na direção de Yibo, que correu e se escondeu atrás das costas largas de Namjoon. Delicadamente o ômega de cabelo azulado colocou a cesta que havia em suas mãos nas mãos grandes do alfa que pegou sem entender o que estava acontecendo.
– Eu não tive nada a ver com isso – Yibo comentou levantando as mãos e saindo detrás do corpo do lúpus que tentava processar o que estava acontecendo a sua volta. Ainda estava envergonhado demais pela situação anterior envolvendo o ômega mais velho. – Ontem eu vi o Namu colhendo as rosas no jardim – dedurou pegando o lúpus de surpresa que virou-se na direção do ômega, boquiaberto. – O Hyunjin está de prova – completou arteiro e Seokjin lançou um olhar questionável ao lúpus que não soube responder, não estava compreendendo a mudança de assunto tão de repente e por que o ômega o olhava daquela maneira.
– Eu vi mesmo – Hyunjin se pronunciou com uma coragem destemida. – Ele vestia uma jardineira marrom e colhia rosa por rosa, montando arranjos ou colocando nos cestos – confessou e Namjoon piscou finalmente compreendendo o que estava acontecendo. Eles estavam acusando-o, jogando a culpa por ter atacado Seokjin com pétalas de rosas em cima dos seus ombros.
– Eu colhi porque me mandaram colher – defendeu e Yibo bateu os pés no gramado descontente e fazendo birra igual um pré-adolescente.
– Não senti verdade nessas palavras – comentou em um sorriso e Namjoon o indagou com um olhar que dizia ‘Por que está me acusando de algo que obviamente eu não fiz?’ – Essa cesta na sua mão me é suspeita – completou deixando o lúpus sem resposta, olhando para o objeto em suas mãos e depois virando-se para Seokjin que o olhava acusador.
– E-eu... – gaguejou inicialmente e Seokjin soltou um sorriso divertido, achando graça da expressão do alfa e do jeito que as crianças zombavam de si, tão íntimos.
– Saiba que estou profundamente descontente – o ômega entrou na brincadeira, cruzando os braços e virando o rosto, um biquinho formou-se em seus lábios e de relance olhou para o alfa que ainda estava boquiaberto e o encarava sem entender.
Yibo sorriu alegre balançando a cabeça no primeiro momento, depois se aproximou de Namjoon, parando ao seu lado. E como se o alfa quisesse falar algo para si, o ômega jovem esticou o seu corpo para ficar um pouco próximo a altura do lúpus, e inclinou sua cabeça, de modo que pudesse fingir que o alfa falasse algo para si. Depois sorriu sapeca, empertigando o corpo, colocando uma mão na cintura e outra no queixo, fazendo-se de pensativo.
– Namu disse que está disposto a fazer qualquer coisa para reparar o seu erro – comentou e Namjoon virou-se para Yibo descrente daquelas palavras.
– Erro? – questionou sem entender e Seokjin escondeu a risada, cobrindo seus lábios com a mão, diferente de Beomgyu e Hyunjin que gargalharam, levando Jisoo e Jinyoung a fazer o mesmo.
– Seokjin não sabe se está disposto em aceitar esse pedido de desculpas – Jin comentou continuando com a brincadeira, o lúpus virou-se rapidamente para ele completamente perdido.
– Namu disse que irá fazer de tudo, até mesmo chamar o Rei Jinnie para dançar – Yibo continuou com a encenação, e ao ouvir aquilo os olhos de Namjoon triplicaram de tamanho e ele rapidamente virou-se para Yibo.
– O que? – questionou surpreso se perguntando da onde aquela criança estava tirando palavras tão mirabolantes como aquela.
– Seokjin ainda está indeciso – Jin continuou fazendo um pouco de drama, olhando para o alfa e vendo a confusão estampada em sua face. – Teria que fazer o pedido formalmente – completou liberando um sorriso juntamente com Yibo que pulou de alegria.
– Tudo bem, crianças. No três! – Yibo falou se aproximando de Namjoon e chamando as crianças para perto de si. – Um... dois... TRÊS! – gritou no momento em que as mãozinhas das crianças empurraram Namjoon para frente, fazendo ele colidir-se com Seokjin, que abaixou o rosto envergonhado pela situação.
– A-ah... – Namjoon gaguejou tentando não olhar para a face de Seokjin que estava a poucos centímetros de si. Seus dedos ficaram trêmulos e o alfa desejou não parecer um idiota na frente do ômega.
– Namu... faça o pedido – Yibo se aproximou dos dois e sussurrou baixinho, fazendo Seokjin rir. O alfa fechou os olhos envergonhado demais para tentar tomar qualquer atitude, suas orelhas estavam ficando profundamente vermelha.
– Então... vai fazer o pedido, ou quer que eu faça? – Seokjin questionou em um riso arteiro pegando o lúpus de surpresa, que abriu os olhos, alarmado de como a situação mudou-se tão de repente. – Tudo bem, então – continuou e soltando um longo suspiro, enrijeceu o corpo. – Quer dançar comigo, Namjoon? – questionou seus olhinhos brilhando pela luz do luar, refletindo todas as constelações na perspectiva do lúpus.
– E-eu... – gaguejou fechando os olhos e Yibo que assistia a cena com o rostinho quase colado ao casal, não aguentou aquilo e se pronunciou.
– Ele aceita – comentou fazendo Seokjin rir. Namjoon quando se deu conta que não havia mais saída, assentiu e estendeu a sua mão para o ômega que a aceitou em um sorriso doce.
Yibo junto com as crianças começaram a empurra-los para próximo da multidão de corpos que se embalavam ao som da música alegre, que era entonada pelos instrumentos dos músicos. O ômega jovem de fios azulados sorriu contente quando viu o casal parar esperando uma nova música começar, deu dois toques de mãos com Beom e Hyunjin.
– Muito bem, crianças. Foram excelentes hoje, em nossa primeira missão – elogiou e apertou as mãos de Jinyoung e Jisoo em agradecimento. – Merecemos uma bandeja de doces, quem vem comigo? – perguntou arteiro recebendo gritinhos empolgados dos menores.
– Yibo? – aquela voz fez o ômega congelar no lugar e a fechar os olhinhos torcendo para que fosse apenas vozes no seu subconsciente.
– Continue andando – sussurrou baixinho para as crianças que o olhava esperando alguma ação. Yibo tentou sair de fininho, fingindo que não havia ouvido o chamado do irmão.
– Não adianta tentar fugir, eu já te encontrei – Jackson comentou avançado até alcançar o ômega que soltou um longo suspiro antes de virar-se na direção do alfa. – Não quero que você continue fugindo de mim – confessou e Yibo permaneceu de cabeça abaixada sem forças para encarar o irmão mais velho e receber mais broncas. – Eu não quero brigar, eu só quero saber se você está bem – continuou em um suspiro e Yibo olhou para si.
– Eu estou bem, obrigado por perguntar – soltou depois de alguns segundos em hesitação.
– Me dá um abraço? – pediu cauteloso e Yibo soltou um sorriso antes de abrir os braços e abrigar o irmão mais velho num caloroso abraço.
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Taehyung estava sentado próximo a fogueira assando uma costela, e alternava o seu olhar das chamas para o ômega dançando do outro lado. Jimin dançava com a leveza de um cisne, seus passos eram suaves como as plumas e a música parecia lhe envolver de corpo e alma, deixando-o completamente imerso nos movimentos. E sempre que o ômega dançava, o mundo a sua volta parava para aprecia-lo.
– Ele dança bem – Jungkook confessou ao se aproximar do alfa castanho, vendo-o completamente imerso nos movimentos do ômega. Taehyung depois de alguns segundos assentiu em concordância, liberando espaço no banco para o moreno sentar.
– Ele é bom em tudo o que faz – Tae elogiou e o arco de um sorriso brilhou em seus lábios. – Tem a voz doce e suave como a brisa de outono, quando canta a noite para fazer o Jinyoung dormir. Tem a leveza de um cisne ao dançar e o coração tão puro que é possível alcançar as estrelas – divagou apaixonado e Jungkook assentiu liberando um minúsculo sorriso.
– Eu entendo – confessou ganhando finalmente a atenção desmedida de Taehyung. – Eu não lhe culpo por se envolver com ele, eu consigo entender os motivos que levaram vocês a se envolverem. Não posso culpar você por isso, por que foi um pedido meu. Eu pedi para que você o protegesse, e você o protegeu como o seu rei ordenou. Mesmo que ao longo do caminho tenham se envolvido amorosamente.
– Ele não é o seu inimigo, Jungkook – iniciou e gentilmente esticou sua mão para tocar nos dedos do moreno. – Não há certo e nem errado nessa história, todos nós sofremos influência do destino. Tivemos que lidar os infortúnios que nos cercou, infelizmente ninguém nunca nos preparou para isso.
– Eu sei, não o vejo como um inimigo, longe disso – comentou apertando os dedos gentis de Taehyung e voltando a sua atenção para Jimin que dançava ao lado do ômega ruivo chamado Hoseok. – O que eu quero dizer é que... eu consigo ver tudo isso nele. A-ah... – gaguejou e Taehyung esperou o moreno dar continuidade ao seu raciocínio. – Eu consigo ver a pessoa bondosa que ele é, vejo que ele tem muitos traços seu, tipo... você o treinou, o fez uma pessoa forte, eu consigo ver isso e admirar – confessou e Taehyung liberou um sorriso.
– Eu não irei dizer que eu sei tudo o que você passou nas mãos de Namong, por que eu não estive ao seu lado para ter esse direito. Mas, eu posso imaginar que foi a coisa mais assombrosa e horrível que você já passou, também quero que você saiba que não foi algo fácil para mim e para ele. Mesmo que tínhamos um ao outro, viver de um lado para outro com várias pessoas a sua procura tentando lhe matar, não é uma tarefa fácil. Se sobrevivemos durante esses anos, foi por que tínhamos um ao outro para tentar suportar e dividir o peso – foi sincero ao falar sobre aquilo.
– ‘Quando o inverno sombrio chegar, o lobo solitário perecerá’ – recitou o lema de sua casa. – Você não é um Jeon, mas agiu igual um lobo, você protegeu a matilha. Obrigado! – agradeceu sincero e Taehyung sorriu, deixando um singelo tapa nas costas do rapaz.
– Você cresceu, quero que saiba que eu estou orgulhoso da pessoa que você se tornou. Com toda certeza, seria um rei benevolente e leal ao seu povo – elogiou e como a muito tempo não fazia, abandonou o espeto de costela no pote próximo a fogueira, limpou as mãos nas vestes e estendeu o braço para abraçar o moreno.
– Eu não quero que ele me considere um inimigo, se você o ama, eu quero ser próximo a ele – confessou no ouvido do alfa em meio ao abraço.
Taehyung assentiu e viu Jimin encerrar a dança, se despedindo de Hoseok e caminhar até si. Ao ver a visão dos dois alfas abraçados, o ômega agora louro franziu o cenho sem entender o que estava acontecendo, e aproximou cauteloso.
– Você pode tentar agora – exalou ao partir o abraço, deixando o moreno confuso no mesmo instante em que Jimin parou ao lado de Taehyung, lançando um olhar interrogativo para o moreno.
– Eu me lembro do nosso último encontro, eu pedi... Não, eu lhe ordenei para que se em algum momento nossos caminhos viessem se cruzar, você poderia por gentileza fingir que não me conhecesse, e ao dizer isso, queria dizer que você pode dar o fora agora – Jimin comentou fazendo Taehyung sorrir e puxar o ômega para o seu colo, fazendo-o sentar-se em cima de suas coxas.
Jimin não negou, sentou-se e continuou a encarar Jungkook como se em algum segundo fosse voar em sua garganta. O louro estava um pouco suado devido aos movimentos intensos que realizou minutos atrás. Taehyung vendo as gotículas descer pela face do menor, retirou um lenço do bolso interno de suas vestes e secou-as.
– Eu lhe devo um pedido de desculpas pelo nosso último encontro desastroso – Jungkook iniciou lançando um olhar para o ômega que o encarava impiedoso.
– Você foi um sem vergonha, me tocar em uma das regiões mais íntimas do meu corpo – exalou raivoso.
– E eu devo lembrar que você deixou a sua digital estampada na minha cara por sete dias – Jungkook comentou apontando para a face.
– Foi pouco, deveria ter impedido que você gerasse descendentes pelo próximo século – confessou cruzando os braços, e um biquinho irritado pairou em seus lábios. Taehyung sorriu e mordiscou os lábios do louro, deixando-o envergonhado.
– Vocês dois só sabem discutir? – questionou já acostumado com aquilo, nos últimos dias ele tentou fazer os dois se darem bem, mas sempre começava com aqueles insultos desnecessários que não levavam a lugar algum.
– Esse projeto de príncipe que começou – Jimin falou emburrado passando os braços em volta do pescoço de Taehyung, se negando a olhar para Jungkook que o olhava descrente.
– Taehyung, você viu... eu tentei conversar numa boa com esse ômega petulante – exaltou e Jimin virou-se rapidamente na direção do alfa.
– Eu vou te mostrar quem você está chamando de petulante, seu coelho estupido – praguejou tentando se levantar, mas foi impedido pelos braços de Taehyung que o envolveu firme pela cintura.
– Já chega, vocês dois tem o que? Cinco anos? Jinyoung se comporta melhor que vocês dois juntos – comentou cansado daquela ladainha de insultos.
– Eu queria ser seu amigo, mas você não colabora, picolé – zombou.
– Eu vou... – iria começar se Taehyung não tivesse interrompido suas falas mais uma vez ao colocar um pedaço de maça em sua boca. Jimin olhou para o castanho incrédulo pela atitude e o alfa apenas depositou um selar em sua bochecha e sorriu doce.
Jungkook observando a cena, soltou um sorriso e quando viu que o menor tinha acabado de engolir o pedaço de maça e já se preparava para continuar o seu discurso de insulto, pegou um morango da bandeja e levou aos lábios do menor, que aceitou a contragosto.
– Que tal vocês dois virarem amiguinhos? – Taehyung iniciou e Jimin negou com a cabeça.
– Não vejo vantagens para ele ser meu amigo – Jimin iniciou assim que terminou de comer o morango.
– Jimin! – Taehyung ralhou com o ômega que suspirou e assentiu, se inclinando e pegando mais um morango da bandeja que Jungkook colocou em seu colo.
– Contando que ele não ultrapasse o limite, eu estou disposto a tolera-lo – Jimin soltou dando uma mordida no morango e Jungkook assentiu, servindo três copos de vinho que retirou da botija de barro que havia ali.
– Então devemos comemorar – Jungkook soltou sorridente e entregou para o casal ao seu lado os dois copos de vinho e juntos fizeram um brinde silencioso, bebendo todo o conteúdo em seguida.
– Vamos dançar, Tae – Jimin chamou já se levantando assim que terminou a bebida.
Taehyung assentiu envolvendo as mãos do ômega e seguindo-o pelo lugar, Jungkook os encarou surpreso e já iria soltar algum comentário quando viu Taehyung o chamar com as mãos. Rapidamente seguiu o casal que parou próximo a multidão de corpos. O moreno não sabia o que fazer, olhou ao seu redor e viu diversas pessoas dançarem do seu jeito.
O ruivo que viu dançar anteriormente com Jimin, estava agora dançando com um rapaz louro e Jungkook julgou ser Min Yoongi, já havia visto o sulista pelos gramados do Palácio Primaveril, realizando algumas tarefas doméstica, e em suma maioria levando a filha de dez anos para brincarem.
– Jungkook... – Taehyung chamou o moreno que estava alheio.
O príncipe virou-se para o castanho e viu Jimin voltar a ficar imerso na música, usando o corpo do alfa de apoio para fazer alguns movimentos. Jungkook um pouco receoso uniu-se ao casal, tentando seguir os passos de Jimin que orientava Taehyung. Felizmente por ser um bom esgrimista, seu corpo era muito flexível, então não era novidade para ninguém que ele era um bom pé de valsa.
~´~
Daquele lugar era possível observar a multidão de pessoas embaixo se divertindo ao som da música alegre entoada pelos músicos. As crianças corriam de um lado para o outro, as gargalhadas suaves subiam ao céu trazendo um conforto desmedido para todos aqueles que um dia viu aquela terra perecer nas mãos de sulistas.
Dae Eui observava todos ali levando uma taça de vinho aos lábios. Ao mesmo tempo que admirava o povo se divertirem, ficava também preocupada. Treinada para o desastre, a mais velha sabia que os sorrisos eram passageiros e em lugares que costumam haver alegria, o caos estava à espreita.
– É uma bela noite para colocar os pensamentos no lugar – uma voz ecoou atrás de si, fazendo a ômega se virar cautelosa.
Li Jie caminhava elegantemente em sua direção vestindo um traje longo e branco. Uma escolha traiçoeira para uma senhora chinesa, que nasceu cercada por tradições. Um evento daquele repleto de festejo e comemorações, não havia sentido da beta utilizar um traje de luto. Obviamente, Dae Eui guardou suas observações para si, já que a fumaça repugnante do cachimbo que a mais velha fumava incendiou a sua cara.
– Estou a me perguntar, o que uma bela jovem como você, faz aqui em cima sozinha? – comentou e o risco de um sorriso envolveu os lábios da mais velha, que levou o cachimbo aos lábios dando uma bela de uma tragada, antes de soltar a fumaça e analisar a ômega com atenção. – Você é diferente – constatou e Dae Eui a olhou por um bom tempo.
– Todos que eu já conheci, disse o mesmo. Acredite, ser diferente para mim não é um insulto – respondeu depois de um tempo e a mais velha soltou uma gargalhada antes de assentir.
– Não era um insulto. O diferente é curioso e... perigoso – comentou, seus olhos soltando um brilho intenso e a mais velha soltou por entre os dentes um filete de fumaça.
– A sorte e o perigo estão do mesmo lado – Dae Eui soltou e a mais velha assentiu em um sorriso.
– Qual é o seu nome, minha jovem? – questionou e a ômega não compreendeu o motivo daquela pergunta tão de repente.
– Dae Eui – falou mesmo não entendendo onde a mais velha queria chegar.
– Você tem certeza disso? – perguntou com seus olhos afiados como um predador pronto para dar o seu bote.
– Se não tivesse certeza, não teria lhe falado, com todo respeito, milady – comentou esperando que a mais velha ficasse chateada, porém, isso não aconteceu.
Li Jie assentiu em um movimento de cabeça, voltando a tragar seu cachimbo, inclinando o seu corpo na balaústra.
– Já experimentou o doce sabor do tabaco? – questionou e a ômega negou com um movimento de cabeça. – Deveria se acostumar, pessoas como nós, seja ômega ou beta, estamos fadadas a viver uma vida de infortúnio e quão cedo você aprende algumas coisas que teoricamente era papel de um alfa, melhor será para você.
– Não tenho tempo para me importar em aprender algumas ações de alfas, estou ocupada demais matando eles – confessou e Li Jie soltou um sorriso.
– Começo a entender por que você é um ponto inquestionável aos olhos de Kim Seokjin – confessou.
– Como pode entender algo que você desconhece? – perguntou arisca. – Não diga que você entende o meu Rei, por que você certamente não compreende Seokjin.
– Rei? – questionou em um sorriso. – Então é assim que vocês já o intitulam? Deixa-me te dizer uma coisa, mocinha... Eu já vivi muito tempo, da época em que você e o seu senhor, nem se quer pudesse sonhar de cruzar esse mundo. Eu já vi reis demais no poder, de todos os tipos. Seokjin pode ser amado e querido por seu povo, mas eu me pergunto até quando? Quando será o próximo passo dele incerto? E acredite, quando eu digo que ele virá, é por que ele com toda certeza vai cometer tal infortúnio.
– Compreendo que você esteja com raiva pelo seu sobrinho-neto ter cruzado o oceano com seu exército e vir lutar por uma guerra que não lhes pertence, mas não ousa questionar a integridade do meu Rei, eu não irei permitir – Dae Eui esbravejou inconformada.
– Então, espere e verás com seus próprios olhos – Li Jie devolveu fazendo Dae Eui apertar os dedos sentindo a raiva cruzar o seu corpo. – Ele já se aliou ao mal, será que essa guerra vale a pena? – perguntou e Dae Eui compreendeu ao que ela se referia ao mencionar o ‘aliou-se ao mal’. Os olhos da beta estavam fixos em Seokjin e no platinado ao seu lado.
– Eu que deveria lhe perguntar, essa guerra realmente é válida para o seu sobrinho-neto? Seokjin não o obrigou a lhe seguir, Yixing fez isso de bom coração. E quanto ao mal, o sangue dele pode não correr pelo seu corpo, mas tem uma pequena parcela que é compatível com o do seu sobrinho-neto. Achei que você ficaria feliz com isso – comentou ao final.
– Ele é uma alma condenada, quem ficaria feliz sabendo que estamos caminhando para uma guerra, uma que pode ser mais colossal do que qualquer alma viva já viu – destacou voltando a tragar o seu cachimbo. – Almas gêmeas? – indagou e um sorriso serpenteou por seus lábios. – Quando um cair, o outro cairá, é assim que a história continua.
– Às vezes, almas gêmeas estão destinadas a se encontrar... – Dae Eui comentou com seus olhos perdidos no casal lá embaixo. – Mas, não a ficarem juntas – completou e depois de lançar um último olhar para a mais velha, saiu deixando-a sozinha.
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Namjoon estava enfrentando um dos maiores impasses de sua vida. Ele não era um grande exemplo dos que chamavam de pé de valsa. Para falar a verdade ele era terrível, do tipo que se você conhecesse uma vez, desejaria nunca mais ter que cruzar o caminho num salão de baile.
O alfa estava satisfeito com isso, não era como se tivesse frequentado muitas festas da realeza em sua vida. Nunca foi obrigado a dançar antes, as regras de etiquetas que ele aprendeu ao longo da vida, não o preparou em nenhum momento para aquele... de ter o ômega mais uma vez vulnerável em seus braços, ansiando o seu próximo passo.
Para a alegria do lúpus, Seokjin não esperou nenhuma atitude vindo de si, apenas o arrastou para a multidão de corpos, até parar num lugar um pouco afastado da multidão pulsante. O ômega sorriu-lhe terno e gentilmente segurou as mãos do alfa, levando uma em direção a sua cintura e a outra em seu ombro.
Namjoon sentiu uma infinidade de borboletas atingir o seu estômago, prendeu a respiração sem querer quando os seus dedos calejados tocaram novamente na pele macia e desnuda de Seokjin. O traje que ele usava, de nada colaborava para diminuir as pulsações aceleradas do seu pobre e oprimido coração.
O cheiro viciante de pomelo e verbena com uma pitada de maracujá o envolveu numa corrente fugaz, fazendo o seu lobo choramingar dentro de si. As pulsações desreguladas do seu coração eram tão intensas que o alfa poderia jurar que o ômega estava ouvindo. E de fato, não era como se Seokjin estivesse alheio aquela chuva de sensações que envolvia o alfa, talvez ele estivesse sentindo algo semelhante.
Ou talvez apenas não tinha uma reação certeira para tudo que estava cercando-o nos últimos dias. Não era como se ele estivesse sentindo toda a infinidade de sensações que Namjoon sentia, mas o fato era que, o platinado era um lúpus, isso de certo modo era algo que deixava o seu lobo inquieto. Mas, sendo muito bem treinado, conseguia desfazer as singelas curvas do seu subconsciente.
Uma música suave e terna começou a ser entoada pela vibração sonora da flauta em conjunto com os instrumentos de cordas e teclas. Seokjin guiou suas mãos envolta do pescoço do lúpus e iniciou os primeiros passos da melodia lírica.
Namjoon tentou seguir os passos suaves do ômega, mas era um verdadeiro desastre ambulante quando o assunto envolvia melodia e ritmo. No primeiro movimento, ao invés dele dar dois passos para frente no sentindo da direita, ele o fez no sentindo da esquerda, colidindo com os pés de Seokjin.
– Desculpas – pediu envergonhado por ter pisado nos pés do ômega, esse apenas meneou a cabeça e continuou com os seus movimentos. No entanto, mais uma vez Namjoon não conseguiu acompanhar os passos ritmados do menor, pisando em seus pés uma segunda vez. – Mil desculpas – soltou completamente envergonhado e estabanado como estava, apertou a cintura do ômega sem querer.
– Não se preocupe, não irei sair dos seus braços na primeira oportunidade que tiver. Então, não precisa me apertar assim – Seokjin comentou em um riso gentil e Namjoon arregalou os olhos surpreso, rapidamente retirou a mão da cintura do ômega.
– Desculpas – pediu mais uma vez, dessa vez fechou os olhos para não suportar a intensidade do olhar de Seokjin direcionado para si. O lúpus poderia jurar que se houvesse um espelho ali, ele estaria tão vermelho que seria facilmente confundido com uma pimenta.
– É estranho... – Seokjin iniciou pegando Namjoon de surpresa que abriu os olhos tentando olhar para a face do ômega. – Fomos casados durante um tempo, mas nunca dançamos juntos – constatou ao final e Namjoon engoliu o bolo que se formou em sua garganta.
Era uma constatação verdadeira, mas muito dolorosa por sinal. Eles poderiam ter tido muitas coisas no passado, porém, haviam mágoas profundas demais os cercando, tão intensas que o fizeram se afogar.
– Dançamos... – o alfa soltou depois de alguns minutos em hesitação. – Depois da lua de m-mel – gaguejou envergonhado por tocar naquele assunto. – Mas, quem realmente está contando? – soltou em um riso quebrado, tentando ao máximo esconder as dores do seu coração. – Não tivemos a chance de fazer muitas coisas – confessou em um sussurro logo em seguida.
Seus pensamentos percorreram quilômetros depois da fala do ômega, deixando-o completamente alheio ao seu redor, e propenso ao erro. Que veio segundos depois, sem querer pisou mais uma vez nos pés de Seokjin, que fechou os olhos ao sentir o peso do alfa cair sobre o seu mindinho. Não reclamou das outras vezes, porque estava usando botas bem grossa, mas o peso do alfa de algum modo iria interferir na resistência do material.
– Você está tenso e isso dificulta os seus movimentos – Seokjin comentou ao analisar um pouco o alfa, que estava enrijecido a sua frente feito um pedaço de madeira. – Relaxe, você só precisa sentir a música, não precisa necessariamente conhecer os passos. Deixe-se levar pela melodia.
– Se arrependeu de ter me chamado para dançar? – questionou timidamente. Não era para aquela pergunta ter saído dos lábios. Era só uma dúvida que martelava em seus pensamentos, mas as vezes o seu corpo tomava ações próprias, antes de ele conseguir raciocinar sobre.
– Como posso me arrepender de algo que não aconteceu? – Seokjin devolveu pegando o alfa de surpresa, que se afastou um pouco para olhar em sua face, interrogativo. – Tudo que o aconteceu depois que lhe convidei para dançar, foi uma série de pisões desordenados. A minha sorte é que estou usando botas altamente resistentes. Não ouse chamar isso de dança, milorde – comentou em um sorriso educado e gentil, deixando o lúpus completamente envergonhado, que enrubesceu a face por completo.
– Desculpas... acho melhor nós parar por aqui para evitar uma catástrofe – Namjoon conseguiu dizer depois de alguns minutos em hesitação, soltando as mãos do corpo do ômega, que involuntariamente o puxou para mais próximo de si.
– Vai desistir assim tão rápido? – questionou e apertou seus braços envolta do pescoço do alfa. – Não conhecia esse lado de um lúpus. Por que desistir se você pode aprender? – questionou em um sorriso gentil.
– Não quero atrapalhar a sua diversão, alteza – atenuou segundos depois.
– E quem disse que não estou me divertindo? – Seokjin perguntou em um riso agradável. – Acredite, ver o tão temível alfa lúpus corar envergonhado e pedir desculpas a cada passo dado em falso, é bem divertido – confessou e Namjoon sorriu envergonhado pelo jeitinho que o ômega disse aquilo.
– Não tenho o que dizer sobre isso – comentou depois de alguns minutos.
– Mas eu tenho, me deixe lhe guiar em uma dança, milorde? – pediu gentilmente fazendo o lúpus sorrir.
‘Te deixaria me guiar até o inferno, se desejasse’ pensou consigo. Seokjin soltou uma longa gargalhada, pegando o platinado de surpresa que o olhou sem entender inicialmente.
– Não precisa de tanto, até próximo a fogueira já é suficiente – Seokjin comentou em um sorriso alegre.
– Eu disse isso em voz alta? – perguntou querendo encontrar um buraco para se enfiar e esquecer aquela situação desastrosa.
– Disse – o ômega confirmou deixando o platinado ainda mais envergonhado do que estava minutos atrás.
– Deve estar me achando um palhaço – comentou constrangido e Seokjin soltou um longo suspiro antes de inclinar a cabeça para ver a face do lúpus melhor e tentar ver os seus olhos.
– Estou te achando uma pessoa diferente, totalmente diferente do lúpus que eu casei – comentou pegando o maior de surpresa ao tocar no assunto casamento. – E isso não é algo ruim, muito pelo contrário, é algo muito bom. Você está mais comunicativo e isso é algo que me agrada muito – confessou e Namjoon soltou um sorriso tímido.
– Vossa Majestade sabe como deixar alguém sem palavras – comentou segundos depois envergonhado, desviando o olhar dos olhos esculpidos de obsidiana.
– É o que dizem pelos sete mares – Seokjin comentou em um sorriso gentil e Namjoon voltou sua atenção para a face do ômega, conseguindo capturar a expressão mais pura de toda as galáxias. Tão terna que o alfa desejaria afogar naquele brilho inquieto.
Não comentaram mais nada, Namjoon deixou-se levar pelos passos de Seokjin, tentando seguir corretamente o maior número de passos possíveis. A sua concentração e as batidas mais desaceleradas do seu coração, permitiu que ele viesse a cometer poucos erros em comparação com a cena anterior.
Ignorou a multidão de olhos que caia sobre eles, e apenas se concentrou no ômega em seus braços. Seokjin era um excelente professor, não precisava falar nada, ele tomava as rédeas e o guiava com cuidado. Aos poucos o maior foi se envolvendo na melodia e tudo ficou mais aceitável. Felizmente, Jin não era o tipo de pessoa que conseguisse ficar muito tempo em silêncio.
– Já frequentou bailes antes, Namjoon? – questionou em um tom baixo ao fazer um leve movimento indo para a direita do alfa. Esse soltou um leve suspiro e negou em um movimento lento de cabeça.
– Não tive a oportunidade de participar de um formalmente – comentou sentindo a intensidade dos olhos de Seokjin recair sobre a sua face. – Você já? – perguntou mesmo sabendo que era uma pergunta tola. Seokjin dançava como ninguém, seus movimentos eram leves, mas certeiro. Seu corpo parecia flutuar em seus braços e tudo deixava ainda mais avassalador ao adicionar a beleza exuberante do ômega.
– Meu pai costumava promover muitos bailes pela corte. Eu cresci em meio ao salão de bailes. Bem, quando se é um ômega, você não tem a opção de recusar. Saber dançar é o que eles chamam de tarefa essencial na vida de um ômega – comentou.
– Eu não me importaria se você soubesse dançar ou não – Namjoon comentou e reunindo um pouco de coragem, segurou a mão do ômega, fazendo-o dar uma voltinha no ar, depois envolveu-o novamente em seus braços.
– Como eu poderia prever que anos depois me casaria com um alfa que não fosse chegado as regras de etiquetas? – soltou em meio aos passos. – Infelizmente não podemos adivinhar certas coisas, então, não me restava outra alternativa a não ser seguir as regras impostas pela sociedade – completou.
– Compreendo – soltou depois do silêncio cair sobre eles.
– Se tivéssemos nos conhecidos antes, em algum baile da corte, certamente seriamos obrigados a dançar juntos pelo menos uma vez... – iniciou mas foi interrompido pelo lúpus.
– Então, provavelmente você não me chamaria hoje para dançar. Iria pisar tanto no seu pé que você pegaria trauma – comentou em um sorriso inocente fazendo Seokjin gargalhar.
– Não é para tanto, já dancei com alfas piores. Você está se saindo muito bem, melhor que a maioria – confessou e Namjoon tentou sorrir se não fosse pela frase ‘já dancei com alfas piores’ que martelava a sua mente, deixando o seu lobo com um certo ciúmes.
– Dançou? – indagou segundos depois e Jin meneou a cabeça.
– Não por querer, mas quando se é um príncipe ômega algumas coisas passam a ser obrigações – destacou e Namjoon assentiu, fazendo mais uma vez o ômega girar no ar e depois retornar para os seus braços, no momento que a música por fim se encerrou.
– Acho que não foi tão terrível assim – Namjoon comentou segundos depois, ao parar com o ômega em seus braços e Seokjin inclinou o rosto para olhar nos olhos do alfa.
Permaneceram se encarando por vários segundos, alheios ao mundo ao seu redor. Tempos depois, Jin soltou um suspiro e assentiu, liberando um doce sorriso que Namjoon nomearia como o segundo sorriso mais bonito do ômega. O primeiro com toda certeza, era o que ele deu quando acordou uma vez e ele estava cariciando-o. Aquele sorriso, na concepção do alfa, deveria ser pintado e emoldurado, de tão belo e verdadeiro que era.
– Não foi – respondeu se soltando dos braços do lúpus no momento que uma multidão os cercaram.
Não houve despedida, Seokjin simplesmente foi levado pelo seu povo quando uma música mais alegre iniciou. Namjoon se afastou da multidão e começou a observar o ômega ao longe, dançar em volta da fogueira. A música era pulsante, do tipo que convidou a todos para se reunir em volta do fogo e mexer o corpo ao ritmo da sanfona, da flauta e dos tambores.
Jimin e Baekhyun se uniram ao ômega e em poucos segundos, estavam os três dançando juntinhos. Ora soltando movimentos mais sensuais, ora apenas deixando se levar pelas batidas eletrizantes. Em poucos segundos, as crianças que corriam por ali, se uniram aos três ômegas, pulando e gritando, contagiando todos os presentes.
Leeteuk observava a cena um pouco mais afastado da multidão de corpos, próximo a uma barraca que estava fazendo algum alimento apimentado, dado ao aroma de pimenta que circulava ao seu redor.
– Presumo que também não esteja satisfeito com o que viu recentemente – Jackson comentou ao se aproximar de Leeteuk, segurava um copo de vinho.
– Ninguém te perguntou nada – Leeteuk soltou sem nem ao menos lançar um olhar para o alfa, que arregalou os olhos surpreso pela resposta imediata do ômega, sem um pingo de educação.
– Vocês nortistas são todos assim? – indagou descrente e Leeteuk finalmente virou-se na direção do alfa, liberando um sorriso antes de comentar.
– Eu não sou nortista, minha família é do leste – debochou e Jackson revirou os olhos, saindo batendo os pés segundos depois para não maltratar o ômega.
Namjoon permaneceu um bom tempo parado no mesmo lugar, observando Seokjin dançar alegre cercado de pessoas. O alfa chegou a ponderar se aquele era o momento para se retirar, já havia ganhado a noite só de ter tido a oportunidade de dançar mais uma vez com o ômega.
No entanto, quando pensou em se afastar e deixar o ômega cercado por pessoas que o amam, viu Seokjin caminhar saltitante mais uma vez ao seu encontro. Estava um pouco ofegante, por isso em um determinado momento deixou de caminhar e passou a correr segurando os tecidos da sua veste para não tropeçar.
– Não estava cogitando a possibilidade de fugir, milorde? – questionou ofegante ao parar ao lado do lúpus que sorriu gentil para o ômega, não iria negar, por que de fato era verdade. – Não fuja, ainda tenho algumas coisas para te mostrar – comentou soltando o tecido das suas vestes, tentando recuperar o folego que se esvaiu ao dançar freneticamente.
Namjoon assentiu e gentilmente guiou seus dedos em direção ao cabelo do alfa, retirando uma pequena pétala de rosa que havia parado entre meio aos fios. Seokjin tinha congelou no lugar por alguns segundos, e quando alfa exibiu a pétala, sorriu, balançando a cabeça em negação.
– Crianças, por sorte você não é o alvo delas hoje – comentou gentil, mas o cheiro de pimenta sobressaiu no ar, deixando o ômega inebriado. Rapidamente puxou Namjoon pela mão, e saiu em disparada próximo a uma barraquinha. – Ttteokbokki – falou fechando os olhos e puxando o ar para sentir mais uma vez o aroma apimentado que cobria o ar.
– Vossa majestade – o beta que estava na barraquinha preparando a refeição sorriu, cumprimentando o ômega e assentindo diante da sua fala, longo depois fez uma reverência em sinal de respeito.
– Uma vez, quando eu era pequeno, eu me entupi de Ttteokbokki que cheguei a passar mal – relatou sorridente para o alfa ao lembrar das suas aventuras de infância. – Estava muito apimentando e eu tinha comido pelo menos umas cinco porções, meu rosto inchou que parecia uma bola. Jungkook nunca riu tanto em toda sua vida como naquele dia – completou em um riso alegre, depois pediu duas porções para o beta, que rapidamente correu para atender ao seu pedido.
Namjoon olhou terno para o ômega, tentando imaginar a cena de um Seokjin pequeno com o rosto vermelhinho e inchado. Por alguma razão, a imagem de Beomgyu veio na sua mente, e o alfa sorriu. Aquilo era algo típico de acontecer também com Beom.
Não chegou a pensar muito na cena, já que no segundo seguinte, Seokjin estava lhe dando uma porção do alimento. Namjoon aceitou em um leve movimento de cabeça, vendo o ômega dar a sua primeira mordida, fazendo uma expressão prazerosa em sua face, soltando sons engraçados pela sua garganta, enquanto mastigava.
O mais velho meneou a cabeça e começou a comer, sentindo o gosto apimentado rapidamente envolver seu paladar. Juntos começaram a caminhar por entre as pessoas, soltando alguns comentários aqui e ali. Normalmente, quem falava mais era Seokjin, Namjoon apenas escutava-o com atenção e soltava palavras monossilábicas em algumas ocasiões, mas não deixava de olhar para o ômega completamente fascinado.
– Já experimentou keran pang? – Seokjin questionou ao terminar de comer sua porção de sundae. Seus lábios estavam um pouco sujo devido a gordura do alimento e Namjoon rapidamente retirou uma toalhinha do seu bolso interno, e guiou aos lábios do ômega para limpar, pegando-o de surpresa, que exclamou e deu um passo para trás.
– Desculpas – Namjoon pediu ao ver a expressão assustada na face do ômega, que deu de ombros e pegou a toalha para limpar por si mesmo. – Nunca experimentei – respondeu a pergunta anterior do ômega que o olhou com o cenho franzido.
– Keran pang é uma comida típica do Sul – Seokjin continuou segundos depois, surpreso pelo fato de Namjoon ser um sulista e nunca ter experimentado. – É basicamente feito com ovo cozinho, mas algumas pessoas gostam de adicionar queijo – continuou e Namjoon sorriu, Jin era um verdadeiro poço de informações. – Minha mãe tinha uma amiga sulista que ensinou-a a fazer, desde então em algumas festividades, minha mãe sempre fazia, e devo dizer que era o melhor, por mais que eu nunca experimentei um feito exclusivamente por um sulista.
– Parece ser bom – Namjoon falou segundos depois, mesmo tendo vivido a sua vida inteira no Sul, não teve o prazer de experimentar grandes coisas e ouvir o menor relatar suas experiências, fazia se sentir completamente deslocado da realidade.
– É maravilhoso, eu ainda almejo um dia encontrar a receita e fazer para o Beom – falou e um sorriso atenuou em seus lábios, que se expandiu momentos depois quando o menor puxou o ar e sentiu o cheiro de fritas o envolver.
Sem dar tempo para Namjoon pensar coerentemente, Jin o arrastou para mais uma barraca e dessa vez, um alfa veio ao seu encontro. Seokjin virou-se para Namjoon perguntando se ele ia querer, mas o alfa dispensou, então o menor pegou apenas uma porção de frango frito, saindo tempos depois saltitante, fazendo Namjoon sorrir, ele parecia uma criança feliz por ter ganhado seu primeiro presente.
– Isso está uma delícia – comentou depois de mordiscar. – Tem certeza que não vai querer um pedaço? – ofereceu mais uma vez e Namjoon negou, apesar do cheiro estar delicioso, não ousaria pegar da porção do ômega – Experimenta isso, sente a crocância – falou ao levar um pedaço em direção aos lábios do alfa que aceitou. – Gostoso né? – indagou e Namjoon assentiu.
– Muito bom – confessou ao final e Jin sorriu oferecendo mais da sua porção, mas o maior recusou.
Continuaram a andar, dessa vez Seokjin falou menos, estava mais envolvido em apreciar seu frango frito. Conforme caminhavam por entre as barraquinhas, as pessoas ofereciam algo para eles. Um alfa corpulento exigiu que Namjoon experimentasse uma de suas bebidas, e depois de muita insistência, o lúpus aceitou.
– O que é isso? – Jin perguntou ao ver o alfa dar um gole na bebida e sem dar tempo para o maior responder, pegou o copo de suas mãos e virou o copo, bebendo todo o conteúdo. – Ah estava com sede, desculpas – comentou ao entregar o copo vazio para o alfa que o olhou boquiaberto.
– Jin... – sussurrou em um chamado, no momento que o olhar de Seokjin começou a ficar desfocado.
– O que era isso? – perguntou em um sussurrou e Namjoon rapidamente o segurou, levando-o para sentar em um lugar mais afastado do pessoal que transitavam por ali.
– Você acabou de beber ruskyt – comentou ao colocar o menor sentado no tronco de uma árvore e segurou o seu corpo para ele não cair, já que o mundo ao redor de Seokjin pareceu que começou a girar. – É feito com cevada e alguns cereais com 95% de teor alcoólico, para derrubar qualquer um e deixar um lúpus completamente embriagado – explicou mesmo ciente de que Jin não estava lhe dando ouvidos.
Se infiltrou entre as pernas do ômega e segurou a sua cabeça, colando-a em seu tronco. Seokjin totalmente alheio envolveu o maior pela cintura, fechando os olhos, ansiando para que os efeitos passassem o mais rápido possível, já que estava de estômago cheio.
– Namu, Rei Jinnie! – uma voz exuberante cantarolou ao longe fazendo Namjoon virar na direção do som, avistando Beomgyu correr na direção deles, todo alegre e saltitante. – O que o Jinnie tem, Namu? – o menor perguntou ao ver a situação que o ômega se encontrava e Namjoon soltou um longo suspiro antes de comentar.
– Ele ingeriu algo que não lhe fez bem, faz um favor para mim? –pediu recebendo um leve movimento positivo da criança que ainda observava o moreno, curioso. – Busca um copo de água para ele – soltou e o menor assentiu, saindo correndo logo em seguida.
Namjoon continuou em pé acariciando os fios longos do cabelo do ômega, enquanto Jin permaneceu agarrado a sua cintura de olhos fechados. Minutos depois, Beom retornou com uma garrafa de água. Com a ajuda da criança, Namjoon fez Seokjin beber todo o conteúdo, fazendo-o voltar a ficar um pouco mais sóbrio.
O ômega ainda segurava a toalha que o lúpus havia usado para limpar os lábios dele. O maior apenas a pegou novamente, limpando as gotículas de água que se formou ao redor dos lábios cheinhos de Seokjin.
Enquanto o ômega tentava recuperar a sobriedade, Beomgyu começou a tagarelar sem parar no ouvido de Namjoon, falando das suas recentes aventuras. O lúpus só sabia rir do jeitinho gracioso e petulante que o menor usava para contar as suas experiências. Os três permaneceram ali por um bom tempo, Jin repousava a cabeça no ombro de Namjoon e Beom estava em pé na frente deles tagarelando.
– Não me lembro de ter autorizado você a fazer isso – Seokjin comentou de repente pegando Namjoon de surpresa que rapidamente virou-se para o menor, vendo-o totalmente recuperado.
– Rei Jinnie – o menor exclamou quando viu o ômega levantar a cabeça dos ombros do alfa. Jin sorriu feliz pela alegria desmedida na face do menor, que rapidamente saltou em seu colo. – Você está melhor? – perguntou envolvendo o pescoço do ômega com seus bracinhos miúdos.
– Nunca estive melhor, sua voz é o meu remédio para tudo – comentou fazendo um sorriso gigante brotar na face de Beomgyu que depositou um beijinho em sua bochecha. – Obrigado – Jin sussurrou ao virar-se para Namjoon que assentiu se levantando e ajudando o ômega a se levantar também.
Namjoon retirou Beom do colo de Seokjin, levando a criança tagarela em seus braços e Seokjin voltou a caminhar um pouco mais devagar. Dessa vez, os três caminharam em direção as barraquinhas de doces e Jin voltou a ficar mais ativo, experimentando tudo os doces que viam pela frente. Namjoon se perguntava onde o menor encontrava espaço para tantos alimentos?
Depois de comprar uma pequena porção de bung-eoppang, os três sentaram próximo a uma fogueira. Namjoon segurava Beomgyu no colo, enquanto Seokjin revezava entre comer a espécie de pastel em formato de peixe com recheio de chocolate, e levar até a boca de Beomgyu, e em algumas ocasiões levava aos lábios de Namjoon também.
– Não vai sair sem antes não limpar essa boquinha – Seokjin comentou quando Beomgyu tentava descer do colo de Namjoon para poder ir correr com Hyunjin e Jinyoung.
O ômega usou a toalha cedida por Namjoon para limpar os lábios do menor, que assim que ficou livre das garras de Jin, saiu saltitante em direção as duas crianças. Jin ficou um tempo admirando a pequena criança correr ao longe, até sentir Namjoon se mover ao seu lado. Só voltou a si, quando sentiu o tecido da toalha tocar mais uma vez os seus lábios.
Seokjin recolheu a toalha das mãos do alfa e limpou seus lábios. Ele sempre comia tanto que esquecia de limpar os próprios lábios, pois ficava entretido com os alimentos. Após limpar-se, colocou a toalha sobre o colo, foi quando notou o bordado bem elaborado com o apelido do mais velho.
– Namu – comentou em um sorriso e o alfa virou-se para si soltando um sorriso gentil.
– Yibo – citou o nome do ômega que havia feito a arte.
– Suspeitei – Jin confessou e depois devolveu a peça para o lúpus, que dobrou-a guardando em suas vestes. Jin soltou um suspiro e ia se levantando, quando notou que a comoção ao redor havia diminuído. – Onde foi todo mundo? – questionou se levantando e olhando ao redor. – Ah! O festival das lanternas – lembrou-se, toda a empolgação voltando mais uma vez habitar o seu consciente.
– Lanternas? – Namjoon questionou sem entender ao ser puxado mais uma vez pelas mãos de Seokjin, que corria a sua frente, em meio as gargalhadas. Os cabelos longos e vantajoso do ômega dançam no ar, como plumas envolvidas por uma melodia. O lúpus sentiu falta da fita azul que diariamente prendia os fios do ômega.
– É uma tradição no Norte soltar lanternas em uma comemoração importante. Faz muito tempo que Hanseong não realiza tal evento. Acredita-se que elas levam as doenças e os infortúnios embora, deixando apenas o aprendizado – explicou ao parar de correr e começar a caminhar calmamente por entre as pessoas que estavam envolvidas demais decorando sua lanterna. – Ao soltar a luz você deve fazer um pedido, se esse realizará a lanterna irá desaparecer do céu.
Completou levando o alfa em direção a barraquinha onde havia material para confecção das lanternas. Infelizmente chegaram atrasados demais, havia material suficiente apenas para a confecção de uma lanterna.
– Poxa, só sobraram uma – Seokjin comentou triste e um biquinho chateado formou em seus lábios.
– Pode ficar – Namjoon falou dando a oportunidade para o ômega.
– Podemos fazer juntos – Seokjin soltou já pegando todos os materiais necessários e caminhando em direção ao gramado se sentando e Namjoon o acompanhou.
– E isso não interfere nos pedidos? – Namjoon perguntou e Seokjin riu.
– Só saberemos se tentar – deu de ombros e Namjoon sorriu, sentando ao lado do moreno.
Juntos começaram a confeccionar a lanterna. Seokjin fez a maior parte, desenhou uma águia e uma fênix de um lado, depois passou o pincel para Namjoon que fica sem saber o que desenhar inicialmente. Quando guiou o pincel no papel deixou a mente fluir e Jin observou o papel com atenção, até ver o desenho de uma pipa flutuando, não compreendeu o que aquilo significava, mas também não perguntou. Compreendia que aquilo era algo um pouco íntimo.
Quando tudo ficou pronto, caminharam ao encontro da multidão que já se preparava para soltar suas lanternas. Seokjin olhou sorridente para Namjoon e depois de um leve movimento de cabeça, soltaram a lanterna juntos.
Namjoon seguindo o exemplo de Seokjin fechou os olhos e deixou a sua mente fluir. Pediu singelamente para os astros ou deuses daquela crença ajuda-lo a manter o sorriso nos lábios de Seokjin, Beomgyu e Yibo, mesmo que de longe. Ele não quer que nada de ruim viesse acontecer com os três ômegas.
– Então, o que achou? – Seokjin perguntou sorridente quando o lúpus abriu os olhos.
– Eu preciso aprender muito – Namjoon confessou em um sorriso gentil.
– Ainda tem uma vida inteira pela frente – comentou e o sorriso nos lábios de Namjoon murchou aos poucos. Talvez não! Ele gostaria de ter mais tempo, mas de um jeito estranho, ele sabia que seus números estavam se esgotando.
Seokjin começou a andar pelo gramado refazendo o caminho de volta e Namjoon com um suspiro voltou a segui-lo. O ômega não comentou mais nada e o platinado sentiu falta da bela voz tagarela de Jin, conversar pelos dois. Aquele silêncio trazia um certo vazio ao seu coração.
Quando pensou em dizer alguma coisa para quebrar o silêncio, um beta que ia passando com uma bandeja repleta de copos de bebidas esbarrou em Seokjin, sujando por completo suas vestes. Jin se afastou surpreso, estava com os tecidos da sua calça e manto completamente encharcado.
– Mil perdões, Vossa Majestade – o homem falou em uma reverência se encolhendo de medo.
– Tudo bem, acontece – Jin soltou erguendo os tecidos da sua veste e vendo o completo estrago. – Preciso retirar isso – comentou e virou-se para Namjoon. – A-ah... pode m-me acompanhar? – pediu envergonhado. Não era como se ele não pudesse ir sozinho até o Palácio, mas agora ele era o rei e mesmo sendo muito amado por seu povo, alguém que conspirava contra si poderia cruzar o seu caminho.
Namjoon assentiu e seguiu o ômega em direção ao Palácio Primaveril. Andou em silêncio ao lado do ômega, até esse chegar na porta do quarto. Pensou que Seokjin lhe deixaria esperando na porta do seu quarto, mas o moreno abriu a porta e pediu para que o alfa adentrasse o lugar junto consigo.
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Yixing estava um pouco impaciente, passou a festa inteira procurando por Seokjin e quando por fim encontrou o ômega, ele estava nos braços de Namjoon, dançando próximo a fogueira. Não iria interrompe-los, mesmo que precisava entregar a espada que estava em seu cinto para Namjoon, não ousaria ser invasivo daquela forma.
Depois procurou-o por todos os lugares para irem acender as lanternas juntos, mas também não chegou a encontrar Seokjin, por fim, aceitou acender a lanterna sozinho. E quando finalizou a celebração tratou logo de procurar pelo ômega, perguntando para as pessoas que via pelo caminho do paradeiro do rapaz.
– Ele foi em direção ao Palácio com o alfa – um dos ômegas que estava numa barraquinha fazendo doces comentou.
Yixing sentiu seu coração pulsar, mesmo tendo uma ideia de quem seja o alfa, começou a pensar que o alfa talvez fosse Jungkook, afinal os dois eram primos, era notório passar um tempo juntos.
– Alfa? – indagou sem querer e o ômega assentiu.
– O lúpus – concluiu e Yixing ficou sem palavras.
Mesmo sabendo que depois do que viu mais cedo, aquilo pudesse acontecer, tentava se enganar. Era difícil não sentir o seu coração se apertar dentro da caixa torácica. Com um suspiro triste, agradeceu o ômega pela informação e se afastou.
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Namjoon parou em frente a uma pintura que tinha do lado oposto do quarto, acima da lareira. A imagem retratava um casal sentando no trono e uma criança com pouco mais de dez anos em pé atrás deles. O sorriso brilhante e jovial não poderia negar que aquela criança fosse Seokjin quando criança.
– Meus pais – Jin comentou se aproximando do alfa que assentiu levemente.
Conheceu o alfa quando veio pedir a mão de Seokjin em casamento com Namong, mas só chegou a conhecer a ômega no dia do casamento. As poucas palavras que chegaram a trocar, não foram nada, mas o caloroso abraço que recebeu naquele dia, foi o mais terno e fraternal que já recebeu em toda sua vida. Talvez pelo fato dele não ter recebidos muitos abraços em sua vida. Mas, apesar de ter sido um momento um tanto estranho, aquele contato ficou gravado em sua mente e se o alfa pudesse, gostaria de senti-lo uma vez mais.
– Você tem a beleza de sua mãe – Namjoon soltou segundos depois e virou-se na direção do ômega que sorriu levemente.
– A maioria das pessoas que conheceu a minha mãe falam isso – comentou pensativo e Namjoon não deixou de admirar os olhinhos brilhantes de Seokjin ao olhar para a pintura. – Eu fico imensamente feliz com esse elogio – destacou e Namjoon assentiu, voltando a olhar para as vestes do ômega, que sorriu envergonhado por ainda não ter tirado a peça – Elas estão completamente arruinadas.
Namjoon mais uma vez assentiu sem dizer nenhuma palavra e viu o ômega se aproximar mais de si, depois virando-se de costas e olhando por cima dos ombros.
– Pode desamarrar para mim? – pediu, envolvendo a cascata de fios pretos em suas mãos e trazendo-os para frente, dando a visão das cordinhas do cropped que o ômega usava.
O platinado assentiu e com as mãos trêmulas levou em direção a cordinha. Seu coração pulsava muito forte dentro de si, que fez o alfa se descontrolar na hora de desatar os nós. Demorou mais tempo do que o necessário, já que ele não conseguiu firmar os dedos na pequena cordinha.
– Os debaixo também – Seokjin comentou e o lúpus olhou para o manto sobre as calças do menor, vendo uma cordinha uni-los. Ainda trêmulo, desatou o nó, retirando o manto, deixando o ômega só com as calças. – Obrigado – Jin agradeceu caminhando mais uma vez para longe.
Namjoon assentiu e deixou o ômega caminhar do outro lado sem lhe lançar o olhar. Tentou apenas não pensar que há alguns metros dali, Seokjin estava tirando as roupas e ficando completamente nu. Seu lobo gritou enaltecido dentro do seu subconsciente, já que o aroma do ômega naquele lugar era cem vezes mais intenso, o que mexia com a sua mente lupina. Mas, o lúpus apenas se limitou a fechar os olhos e esquecer o som que dos tecidos indo ao chão.
– Pode abrir os olhos – uma mão gentilmente tocou os ombros de Namjoon fazendo-o sobressaltar, até ele voltar a si e se dar conta de que aquela voz era de Seokjin.
Virou-se para o ômega, vendo o encarar com seus olhos de obsidiana. Usava vestes um tanto comum, um manto azul clarinho com detalhes e bordados em azul turquesa. A pequena coroa que anteriormente repousava no topo de sua cabeça, deu lugar para a fita azul, e o maior segurou a vontade de pegar na fita.
Não por muito tempo, já que seus dedos ganharam vida própria juntamente com o seu lobo que ficava cada vez mais incontrolável dentro de si. Tocou gentilmente nos ombros do ômega, envolvendo uma das madeixas longas em seus dedos. A outra mão foi de encontro com a cintura do ômega, alisando-a delicadamente como fez mais cedo em meio a dança.
Seu coração bombeou uma quantidade absurda de sangue, e o cheiro delicioso de pomelo e verbena, junto com o toque doce do maracujá, o afogou, deixando um risquinho avermelhado atenuar em sua pupila. O lúpus aspirou mais ainda aquele aroma trazendo o corpo do ômega para si.
– Faça – Seokjin ordenou encarando a face do platinado que negou com a cabeça repetidas vezes.
– Nã-ão posso – gaguejou fraco, tentando manter o último resquício do seu lado racional.
– Simplesmente o faça – Jin tornou a repetir e uma lágrima solitária desceu pelos olhos do lúpus quando sentiu os braços de Seokjin envolver o seu pescoço.
– Não quero que você se arrepende depois – sussurrou de olhos fechados se aproximando ainda mais do ômega, para a fonte daquele aroma inebriante e envolvente. – As ações podem durar uma noite, mas as consequências vêm ao raiar do dia – completou.
– Então viva o agora – comentou e sem dar chances para o outro continuar a pensar, avançou!
Os lábios cheinhos tocaram os lábios do alfa em um selar suave. Namjoon sentiu uma infinidade de borboletas afundar em seu estômago, suas pernas perderam um pouco do tônus-muscular quando a pontinha da língua do ômega serpenteou pela borda dos seus lábios.
De repente a mente do platinado ficou em branco, feito um pergaminho. A brisa suave da noite que adentrava pela janela, misturado com o aroma cítrico o acolheu. O lúpus deixou de pensar e agiu. Segurou firme a cintura do ômega com um dos seus braços, trazendo-o para mais perto de si, unindo-os como um.
A mão que antes brincavam com as madeixas longas, procurou seu lugar, pousando na pele macia do belo rosto. E a sua língua predatória saiu em busca dos lábios do menor, que rapidamente abriu a boca, permitindo ao alfa usufruir daquela singela e intensa exploração. O beijo iniciou-se em um encaixe perfeito de lábios.
A língua do maior brincou no interior caloroso do ômega, que soltou um longo suspiro, apertando os braços envolta do pescoço do maior, aproveitando o momento para deslizar seus dedos pela cabeleira platinada.
Namjoon apertou o ômega em seus braços, e cambaleou em direção a cama. Não findou o beijo, apenas se inclinou melhor, facilitando para o ômega deitar sobre os tecidos macios, depois cobriu o corpo menor com seu. Sugou avidamente a língua de Seokjin, aproveitando o momento e a posição para apalpar algumas regiões que almejou tocar desde o momento que o viu descer as escadas.
O beijo se aprofundou ainda mais, deixando-os completamente inebriados. Sentiram seus pulmões implorarem por um pouco de ar, mas o toque era tão doce e viciante que Namjoon poderia jurar que ouviu um coro ecoar por seus ouvidos. Não importava mais se Seokjin podia ouvir as batidas desreguladas de seu coração. Nada mais importava. O beijo foi tão intenso e puro que Namjoon poderia compara-lo com o cair do céu, pois ele finalmente havia encontrado o paraíso.
O coro de vozes continuou a predominar por seus ouvidos, até que ficou impossível de ignorar. Ainda deixando chupadas suaves pelos lábios do ômega, Namjoon partiu o beijo vendo um bilhão de constelações ao seu redor ao abrir os olhos. Seu coração pulsava tão forte, que ele conseguiu ouvir as batidas em seu ouvido, estava ofegante e o seu cheiro estava exalando por todo o lugar, mesclado com o aroma delicioso do ômega que estava ofegante da mesma maneira.
– Está ouvindo isso? – Seokjin questionou em meio aos ofegos e Namjoon piscou várias vezes até o mundo a sua volta voltar ao normal.
Foi quando a realidade recaiu sobre eles, se afastaram rapidamente quando o coro que eles ouviram não eram imaginação de sua mente necessitada e sim os gritos de um povo que clamava por socorro. Namjoon rapidamente correu em direção a janela vendo as pessoas que antes dançavam e bebiam alegremente correr sem rumo e direção.
– Algo está acontecendo lá embaixo – comentou e Seokjin levantou rapidamente da cama saindo pelo quarto em disparada, sendo seguido por Namjoon que rapidamente o alcançou.
Quando saíram do castelo foi que eles compreenderam que estavam sendo atacados de surpresa. Terror perpassou pelos olhos de Seokjin e Namjoon sentiu o seu coração afundar. Seokjin rapidamente olhou para o céu em busca de suas águias, mas não as viram naquele momento, tentou manter a calma e saiu correndo em direção ao estábulo onde estava Chollima. Namjoon o seguiu por um tempo, até o menor parar e olhar para si assustado.
– Beom – sussurrou e uma expressão de choque estampou em sua face e Namjoon assentiu.
– Vai atrás de suas águias e vou procurar o Beom – gritou e Seokjin aproximou de si e entregou uma pequena adaga que conseguiu pegar a tempo no quarto, antes de sair correndo.
– Okay – sussurrou ao final. Se despediram com olhares completamente aterrorizados, seguindo caminhos opostos.
Namjoon segurou firme a adaga em suas mãos e correu em direção a multidão assustada, que gritavam e corriam tentando desviar dos homens que o alfa rapidamente reconheceu sendo do exército de Tohokaido. Uma fúria subiu pelo seu corpo, ao mesmo tempo que o desespero atenuava em seu consciente.
Viu ao longe, Jackson segurar Yibo afastando-o dos alfas que estavam atacando-os, Leeteuk estava a frente dos dois empunhado uma espada e bloqueando o maior número de ataques que conseguia. Viu Dae Eui correr com uma criança ruiva pelo lugar, desviando dos ataques, e cortando os inimigos que cruzavam o seu caminho.
Rapidamente um clarão subiu ao céu e o grito gutural caiu sobre o povo nortista, quando Yixing passou acima deles montando no dragão e começou a atear fogo nos alfas, mas esses vieram preparados para o ataque de um dragão, já que lanças começaram a cruzar o céu em direção do alfa e Lity.
Namjoon parou de observar e começou a procurar por qualquer sinal de Beomgyu, no entanto um grito colossal sobressaltou, aterrorizando todos que já estavam assustados demais. Quando Namjoon olhou para cima, viu uma mancha vermelha cobrir o dorso de escamas do dragão, não demorou a notar pela sua visão acusada, que Yixing havia sido atingindo brutalmente em cima do dragão.
O maior tentou não pensar muito nisso, se limitou em correr em busca de encontrar a criança. Mas quando deu alguns passos, suas pernas cederam ao ver o sorriso pavoroso que ainda o aterrorizava a noite e de mãos dadas com esse havia uma pequena criança vendada, que Namjoon logo reconheceu as vestes azul claras.
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Sooyeon caminhou por entre as arvores até chegar no topo do lugar onde alguns alfas estavam reunidos a sua espera. A mais velha segurava o manto negro que serpenteava a sua volta. Seu rosto estava inexpressível e a mulher carregava uma áurea genuína e calma, como se estivesse indo fazer caridade a alguém.
Os alfas a reverenciaram quando essa parou próximo a eles. Um se adiantou e lhe estendeu um arco que a mais velha aceitou, analisando-o com cuidado. Estava muito bem polido, que era possível ver o reflexo a lua cair sobre ele.
– Afiou as flechas? – questionou docemente e o alfa assentiu.
– Conseguimos atingir o alfa, ele está ferido e o dragão parou o ataque – apresentou as últimas noticias e a ômega assentiu.
– Como imaginei – comentou e caminhou elegantemente pelo lugar, seu manto negro e longo resvalando pelo gramado.
– Namong está na retaguarda com os soldados, por enquanto está indo muito bem – continuou a atualizar a mais velha que assentiu.
– Não totalmente, a atração principal da festa ainda não apareceu – comentou ao chegar próximo ao topo da colina e avistar a multidão de corpos correr para salvar sua própria vida, enquanto isso os soldados de Toyosaki abriam caminho.
O dragão já estava fora de campo, só faltava Seokjin aparecer com suas belas águias, Sooyeon pensou. E assim que o pensamento brotou em seu subconsciente, um pontinho escuro se moveu no céu e a ponta de um sorriso brilhou no canto direito dos lábios da mulher.
Seokjin voava elegantemente o Chollima em companhia das suas duas leais águias. Não demorou e uma frota de águia seguiu atrás de si e os alfas começaram a ficar de prontidão para acertá-lo com uma lança. Mas, Seokjin parecia uma bailarina no ar, se movia com graciosidade das várias flechas que tentaram o atingir.
– Parem os ataques – Sooyeon ordenou e os alfas abaixaram seus arcos. – As águias só dão medo porque elas estão no céu... – iniciou ao posicionar o arco, depois colocou uma lança pronta para atacar. – Se elas perdem as asas, elas perdem toda a sua glória – completou e soltou a lança que cruzou o céu em um brilho prateado, antes de atingir o seu alvo.
Um relinchar gutural cobriu o céu quando o cavalo-alado foi atingido próximo a sua jugular. Seokjin viu o bater das asas e o animal se estrinchar para se manter em equilíbrio, mas foi em vão. No segundo seguinte ele estava despencando com o animal.
– JINNIE – uma voz se sobressaiu em meio a multidão de gritos aterrorizados.
Sooyeon pode sentir toda a dor naquele chamado, conhecia aquela voz desde quando ela ainda era pequenos gaguejos de uma criança que ainda estava aprendendo a falar. Deu as costas para o terror que cobriu as terras nortistas, refazendo o caminho de volta. Um minúsculo sorriso começou a brilhar nos lábios da rainha, que desapareceu por entre as árvores deixando os alfas boquiabertos para trás.
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