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História Crow's Flight - Dor


Escrita por: erikastybrien

Notas do Autor


Oii amores!! *Aviso de nota grande, mas necessária.*
Quero conversar com vocês sobre algumas coisas. Primeiramente, quero pedir desculpa por não conseguir manter uma constância nas atualizações. No começo desse mês descobri que estava com um probleminha de saúde e esse problema atrapalha a concentração, então tive boa parte da minha capacidade de escrita comprometida. Por ter bons capítulos armazenados, eu dei um tempo da escrita para me recuperar e nesse momento estou travada na história. Já fiz três versões diferentes do final e ainda não consegui desenrolar algo que me deixasse satisfeita. Pensando nisso, minha decisão é a seguinte: continuarei atualizando conforme os dias forem passando e eu puder (até porque tenho ead) e se acontecer de nós chegarmos no fim e eu não tiver escrito ainda, vocês precisarão esperar um pouquinho. A única coisa que eu garanto é que a história terá um final. Nada vai me impedir de fazer isso. Além do mais, posso revelar a vocês que teremos aproximadamente 64, 65 capítulos...
Eu acredito que meu gás tenha acabado um pouco, MAS, nada como um dia após o outro então em algum momento precisa vir alguma luz haha. Entãooo, quero pedir apenas energias positivas para que minha cabeça funcione!!
Agora, sobre a história no momento. Percebi que muitos de vocês ficaram frustrados com a reação da Lydia ao encontrar o Theo. Eu não quero de maneira alguma dizer como vocês devem se sentir, isso é muito pessoal, mas eu verdadeiramente quero dizer (em defesa da personagem que amo) que a Lydia enfrentou muita coisa para estar ali, para se arriscar pelo Scott. Aquela cena foi muito complexa por várias razões para mim e obviamente isso implica muita coisa na história.
Hoje vocês estão dentro da cabeça dela e irão entender muita coisa, principalmente sobre mapp que é sem dúvida um casal muito maduro e que se desenvolve junto. Sendo assim, quero apenas que saibam que foi difícil para ela. Ela passou um ano com uma pessoa, acreditando em algo, e isso acabou de uma vez. As vezes (mesmo que a gente não queira) nós sentimos coisas, pessoal... A Lydia é humana. Essa foi minha real intenção da cena, porque eu mesma me vi na pele dela várias vezes (até porque eu estou dentro da cabeça dela o tempo todo). E quero que vocês sigam essa mesma linha daqui para frente: tudo o que planejei e fiz foi com o coração e dedicação e principalmente com personagens humanizados. Cada um com seu erro e acerto sempre.
Lydia,Mitch, Theo, Foster, Irene... todos humanos de sua forma. Eu queria muito desabafar isso com vocês, senti que deveria :)
Maaas, é claro, estou muito feliz em perceber que vocês estão verdadeiramente envolvidos com mapp em especial.
Outra infoooo!! O Spirit está me injustiçando! Estou percebendo que alguns de vocês não estão recebendo as notificações da fanfic e não sei o motivo, meu mero conselho é que vejam se o app está atualizado ou talvez tentem limpar os dados (assim vocês podem refazer o login)... talvez ajude <3
Sem mais delongas, boa leitura <3

Capítulo 47 - Dor


Fanfic / Fanfiction Crow's Flight - Dor

Lydia Martin

Ele estava há alguns passos de mim, em meu quarto. Três passos, talvez quatro...

Quieto. Habilidoso. Concentrado.

Eu estava tentando focar na vistoria, mas ora ou outra meus olhos acabavam em cima dele e meu coração se partia por confusão e desapontamento quando percebia que ele não reparava em mim.

Talvez estivesse concentrado demais...

Boa parte de minha energia estava envolvida em nossa missão de revirar meus itens que eu havia trazido comigo de Nova Iorque desde que o tiroteio com Josh acontecera, meses atrás. Nós ainda não sabíamos pelo o que estávamos procurando, o que o protótipo podia ser, sequer sabíamos se eu poderia estar realmente certa em ter o palpite de que estava comigo.

A primeira ordem direta que recebemos de Irene foi clara: procurar essa merda, fosse o que fosse. Nós estávamos presos nisso há dois dias, discutindo e reprogramando os planos, pesquisando alguma solução mágica, tentando entender qual era a conexão do complexo de hotéis com os túneis que eu e Mitch encontramos. Todas as informações ainda eram confusas e dissipadas e minhas têmporas latejavam com a mera ideia de me enfiar em minha sala e pesquisar mais afundo sobre toda a história.

Eu tentei, mas eu descobri que meu corpo só estava programado para seguir ordens. Nada mais. Eu havia me tornado uma massa estúpida de apenas dor desde que vi Theo me dar as costas e sumir pelo beco.

Eu sabia que havia pisado em seu túmulo em meu peito porquê eu mesma me dei ao trabalho de escavá-lo, eu sabia que a ardência insuportável que tremia em minhas veias era ódio e ódio... tanto ódio... Ele tirou tudo de mim. Ele tirou meu chão, tirou minha alma, tirou minha família... por que alguma coisa dentro de mim ainda estava formigando em um sentimento que eu não conhecia?!

Eu me sentia completamente incapaz de amá-lo. O que um dia eu amei, independente de quem ele havia sido comigo, já não era sequer um terço do homem que eu precisei conversar dias atrás. Mesmo que no fundo seus olhos cinzas e brilhantes me parecessem sinceros ao menos por um único segundo, a forma como sua voz conseguia ser macia quando se esforçava para isso... tudo o que eu fazia era ignorar esses pedaços estúpidos de conclusões e os esmagava dentro de minha cabeça. O mero raciocínio exigia que eu respirasse fundo e me esforçasse para não cerrar as mãos em punho e acertá-las em algo. Eu ainda estava com raiva. Raiva e rancor, devorada por incerteza, consumida por luto e vingança...

Eu concluí rápido demais que meu encontro de horas com o saco de areia da academia da CIA havia sido ineficiente. Suspirei sozinha, jogando em minha cama um moletom preto que estava parado apenas existindo em minha mão pelos últimos vinte minutos. Que merda Theo poderia ter escondido em um moletom?

Encarei a pequena pilha de roupas no meu colchão. Elas me pareciam tão insignificantes que eu quase poderia rir.

Eu consegui me sentir ainda mais estúpida parada ali, cansada daquela vistoria desnecessária, do sentimento de que não podia fazer nada e mesmo se descobrisse o quê fazer, não saber se teria coragem. Ter olhado nos olhos de Raeken depois de tanto tempo me entorpeceu. Eu sentia minhas entranhas anestesiadas mesmo quando minhas emoções estavam roendo tudo por onde passavam. Não conseguia medir o quanto de suas palavras eram verdadeiras ou o quanto as minhas – em meio ao fingimento para enganá-lo – poderiam ser também fruto de uma sinceridade cega e adormecida.

Talvez, no fundo, essa fosse minha maior preocupação. Eu estava com medo de mim mesma, de minha cabeça, de meu maldito coração que mesmo em meio aos pedaços brilhantes e exclusivamente feitos por Theo tivesse de alguma forma ficado contente com nossa aproximação. Eu não sabia o que estava sentindo além de que o odiava e a conclusão de que essa certeza estava sendo confrontada por algo que eu não conhecia, me apavorava.

Eu me preparei para vê-lo. Eu sabia que iria doer, que iria acabar com tudo que um dia ele havia plantado em mim, que eu precisaria ouvir mamãe e Katherine rindo outra vez..., mas... eu não sabia que poderia me sentir confusa.

Levei longos minutos nos últimos dias ignorando isso, me sentindo estúpida, perdendo tanto tempo dentro de minha maldita cabeça que demorei para perceber que uma nova ameaça estava rondando meu coração.

Eu estava exausta de pensar em Theo, de vasculhar nessas lembranças físicas, de precisar me lembrar do quanto ter estado ao lado dele me recordava tudo que Henry um dia representou para mim.

Mas, nessa noite em especial, eu estava muito mais exausta de nadar e nadar sem descanso no enorme mar aberto que Mitch havia me jogado. Meus problemas eram uma nuvem gigantesca e escura sobre minha cabeça só que Rapp..., ele era todo o tipo de luz que meu coração conhecia. Ele vinha sendo isso por um bom tempo.

Considerando sua boa capacidade de adaptação, não era de se surpreender que estivesse tão quieto enquanto folheava meus livros da faculdade. Talvez ele achasse que eu não quisesse conversar...

Eu encarei suas costas fortes marcarem a camisa branca enquanto ele movia os braços. Seu cabelo escuro estava bagunçado como o habitual, suas longas pernas fortes escondidas por uma calça jeans desbotada. Aquele era Mitch Rapp em sua convencional rotina, sendo bonito sem fazer esforço.

Cruzei meus braços, encarando seu corpo. Tudo que me restava era olhá-lo já que eu não sabia como conversar com ele. Eu tinha perdido boa parte da minha capacidade em relacionamentos desde que tudo acontecera e aquele momento era uma frustrante e concreta prova. Eu precisava questioná-lo, saber o que incomodava, abrir meu maldito coração para esse homem que estava devorando cada parte de mim a cada novo minuto... mas eu não sabia como fazer isso. Tinha medo de ser invasiva, de magoá-lo, ou de ouvir o que não gostaria.

E se ele me tivesse que não estava mais apaixonado por mim?

Ainda que Theo fosse um passado doloroso e inabitável, eu sabia que quando a palavra futuro preenchia minha cabeça, toda a minha certeza estava baseada no agente que agora os ombros fortes que eu olhava estavam parecendo enrijecer. Eu escutei um bufar baixinho. Depois que tomou seu fôlego, Mitch passou uma mão pela cabeça, porém não olhou em minha direção.

Minhas mãos arderam com vontade de tocá-lo. Eu estava com saudade dele, o que era ridículo por que Mitch estava há apenas três passos de mim... talvez quatro. Eu iria conta-los assim que caminhasse até ele.

Será que ele queria falar? Seu bufar parecia ter sido presunçoso e acendeu uma fagulha de esperança em meu peito, mas ela foi soterrada por sua nova onda de silêncio.

Eu me distrai dele quando meu celular vibrou no bolso. Pesquei o aparelho, enxergando a mensagem de Allison brilhando na tela.

“Estou começando dos últimos relatórios sobre o Ninho, o que equivale ao depoimento de Scott. Ainda não achei nada, só para você saber e te motivar.”

Argent me provocou no final da mensagem com um emoji repleto de corações. Eu sorri sozinha, mesmo quando a frustração fechou minha garganta. Ainda era difícil imaginar que ela estava me ajudando, que nós estávamos nos dando cada vez melhor agora. No fundo, eu me ressentia a essa solidariedade exacerbada, afinal, quando eu pude confiar em alguém sem precisar ser afundada em receio antes?

Meu coração apertou quando a resposta cruzou meus pensamentos.

Eu ergui meus olhos para Mitch, guardando meu celular no bolso. Ele ainda estava da mesma forma e seus movimentos automáticos poderiam me irritar se eu não estivesse com minha pele choramingando para sentir a dele. Lambi minha boca com um suspiro, enfiando as mãos nos bolsos da calça de moletom. Apoiei um joelho na cama, me dando alguns minutos de concentração enquanto ignorava o que eu provavelmente deveria estar fazendo naquele momento. Fodam-se as roupas.

– Conseguiu alguma coisa? – Uma pontada de ansiedade vibrou em minha voz, a contragosto.

Vamos, amor... olhe para mim. Silenciosamente, eu sussurrei. Um nó de expectativa embolou em meu estômago.

Mitch balançou a cabeça, guardando um novo livro em uma das caixas do chão.

– Não, mas estou curtindo o estudo sobre anatomia.

Ah, Deus... isso foi uma piada?

Ele não riu do próprio comentário, e eu também não. Na verdade, sua voz só parecia entediada e distante e cansada. Cansada... de mim? Ou dessa merda de inspeção? Meu corpo mergulhou outra vez naquele mar imenso entre nós dois e... porra, eu estou me afogando outra vez.

Confusão, saudade, preocupação, culpa, carinho, raiva...

– Mitch.

Um segundo de impulso foi o suficiente. Seu nome se desenrolou em minha língua com um gosto amargo, muito diferente de como costumava ser. Nadando. Ainda estou nadando.

Ele olhou para mim. Seus olhos nos meus sempre seriam elétricos, independente de qual ponto. Eu costumava pensar que nós dois éramos como uma chama, sempre disposta a queimar.

De repente minha conclusão pareceu ilusória e precipitada. Naquele momento em que me sentia afogada eu sabia que qualquer resquício de calor estava apagado. Nossa chama estava apagada.

Nós não existíamos apagados.

Ele me interrogou em silêncio, estreitando os olhos em uma análise pessoal por meu corpo. Pousou as mãos vazias na cintura, ainda de costas, esperando pela minha coragem. Ele não queria nem se virar para conversar?

Meu orgulho torceu tanto em minha garganta que eu pude jurar sentir dor no pescoço. Tentei organizar algum pensamento em meio ao caos dentro de minha cabeça, me concentrando apenas no que importava agora: ele.

– O quê... – Comecei baixinho, sentindo minhas bochechas esquentarem.

Deus... como eu falaria isso? Minha língua congelou outra vez. Obriguei-me a pensar, a manter minha voz macia, mas meu foco escorregou como areia quando Mitch voltou a inspecionar meus livros. Eu esperei, mesmo sem saber pelo o quê. O assisti retomar a atividade sem saber se ele estava disposto a me escutar falando ou se estava me ignorando de propósito. As duas possibilidades rangeram com força em minhas mãos.

– O que está acontecendo? – Minha voz escapou em uma mistura de rancor e tristeza. – Você nem consegue olhar para mim, Mitch.  

– Errado, Lydia. – Ele balançou a cabeça, ainda de costas, e uma risada amarga entoou de sua garganta. Eu franzi minhas sobrancelhas, o ar de repente dolorido em meus pulmões. – Eu quero olhar para você o tempo inteiro e isso está acabando comigo.

Suas palavras foram o suficiente para cortarem meu interior em uma nova batalha que eu não estava disposta a vivenciar. Era doloroso a forma como ele era sempre tão sincero. Tudo na minha vida de uns tempos para cá era resumido apenas nisso: dor. E esse sentimento era tudo que estava brilhando e queimando e acusando em seus olhos quando ele virou-se de frente para mim, sem vacilar nosso contato.

Ele pousou as mãos na cintura, balançando a cabeça. Seu semblante pareceu-me sutilmente sombrio e meu coração ardeu por ele. Eu estava ardendo por ele.

Nadando e queimando. Vivendo e morrendo. Como isso era possível?!

– Eu quero te perguntar uma coisa sobre Theo.

Eu travei com a maciez defensiva em sua voz. Talvez ele não quisesse me intimidar, mas isso aconteceria de qualquer forma considerando que ultimamente tudo era uma ameaça para minha racionalidade.

Aquele era o assunto em que eu menos poderia ter qualquer tipo de propriedade na vida inteira, principalmente nos últimos dias. Apenas a imagem de como os olhos azuis dele me congelaram em rancor quando me encararam... tão perto... eu não queria pensar nisso. Eu não queria por que era desesperador, frustrante, era doloroso. Dor outra vez. Eu estava me tornando somente isso?

Senti um buraco se abrir em meus pés. Fechei os olhos, sentindo que os segundos estavam correndo com faíscas fantasmagóricas entre nós.

– Esse olhar no seu rosto, Lydia... é isso que está acabando comigo.

Dor.

Se eu estivesse me tornando esse maldito sentimento, de alguma forma horrível eu estava empurrando Mitch comigo para essa retenção eterna. Deus..., eu estava o machucando. Lágrimas ardidas em aflição consumiram meus olhos. Eu o encarei, assustada com a quebra em sua voz, mortificada em minha culpa.

Ele balançou a cabeça, atordoado, as mãos apertando no quadril.

– Você não consegue nem falar dele.

– Não, eu não consigo. – Afirmei em um sussurro.

Eu não mentiria para Mitch.

Eu não consigo falar dele por que minhas emoções explodem e tomam tudo, por que minhas veias ardem em vontade de sangue enquanto meu coração chora e eu não sei se é de arrependimento ou de ódio, eu não consigo porque seu nome me lembra que nunca abraçarei minha mãe ou irmã outra vez.

Lágrimas se desprenderam de meus olhos.

– Eu não vou mentir para você. – Sussurrei, como se isso pudesse calar todas as suas dúvidas.

Estúpida.

– Você o ama?

Levantei meus olhos arregalados, consumida pelo choque que cruzou meu íntimo com sua pergunta. Amor. Amor. Amor...

Minhas frágeis conclusões de minutos atrás despencaram em um estrondo único em minha consciência. Eu poderia estar sutilmente desorientada com meus sentimentos, em minha agonia, mas eu ainda não estava nem perto de me tornar dor simplesmente porque ela já era Mitch.

Dor em seus olhos brilhantes de lágrimas não derramadas. Dor em suas mãos esbranquiçadas na cintura. Dor em sua garganta mexendo. Dor na maneira que seu peito não estava mexendo.

Eu... fiz isso com ele?

Um soco atingiu-me. Fechei meus olhos, cobrindo o rosto com as mãos enquanto as lágrimas saíam em meio ao meu torpor de vergonha e confusão. Confusão... talvez eu fosse exatamente isso e nada mais.

Você o ama, Lydia? Perguntei para mim mesma, mesmo quando meu medo estava gritando contra a opção de ser respondida. Chorei em silêncio, sabendo que só poderia voltar a olhar para ele quando os últimos dias terminassem de passar por minha consciência.

– Eu já disse que não me importo com nada desde que eu esteja com você. – Sua voz atravessou minha consciência, mas eu não fugi de minhas mãos. Se possível, as pressionei com mais força. – Você precisa ouvir isso, Lydia, por favor.

Eu ainda estava decidindo como suprimir minha vergonha quando mãos quentes e suaves tocaram meus pulsos. Tocaram.

Mitch não me fez afastá-los, não me segurou, não fez nada além de esperar. Seu silêncio e a sensação de calor que seu corpo lançava sobre o meu com o pequeno espaço entre nós anestesiou tudo dentro de mim. Mesmo quando alguma vontade de encará-lo apareceu, minhas mãos ainda estavam tremendo e meus olhos desesperadamente cuspindo minha angústia, lavando meu rosto. Confusa. Por que confusa?! Eu preferia ser dor.

Eu não o amo, eu não o amo, Mitch... eu só não sei o que está acontecendo!

– Desculpe. – Sussurrei, apertando meus olhos nas mãos. – Desculpe..., só...

Só espere mais um pouco, por favor...

Eu me desconectei por completo, rendendo-me a toda a lava que descia sobre minha cabeça. Chorei em silêncio, doendo por todos os lugares, confusa por todos os lugares. O único lugar que parecia não doer e estar confuso... sim, eu sabia qual era. E era por ele.

– Mitch...

Minhas mãos o seguraram nos ombros por reflexo. Eu abri meus olhos, minhas pernas pendendo ao redor de sua cintura quando ele me ergueu no ar. Ele se sentou em minha cama, de lado para a cabeceira, ajeitando-me de pernas abertas em seu colo. Firmei meus dedos em seus ombros, me equilibrando, escapando da quebra desenfreada de meu íntimo quando olhei para ele.

Mitch definitivamente era a dor porque naquele momento em especial, ele estava dolorosamente lindo. Ele trouxe as mãos ao meu rosto, deslizando os polegares pelos molhados das bochechas. Eu soube que estava derretendo.

O encarei, despencando em nossa conexão que me fazia ver estrelas, no magnetismo que eu respirava, no calor tão vivo e real e humano que vinha de seus braços que sempre eram seguros para mim. Amor.

– Pode chorar. – Sussurrou. Um lampejo cru de tristeza domou seus lindos olhos castanhos, mas ele ainda foi firme quando insistiu. – Se é do que você precisa, chore, Lydia.

Talvez eu ainda quisesse, mas eu não estava mais concentrada em nada sobre o contexto que estava antes me desmanchando. Tudo havia acabado de voltar a ser apenas ele.

Eu funguei baixinho, meus olhos feridos das lágrimas agressivas nos dele quase como se aquele contato fosse meu oxigênio. De repente, todo o resto estava caindo em desilusões que eu não me importava.

Mitch passou uma língua pela boca, tomando um curto bolo de fôlego. Ele continuou acariciando minhas bochechas com tanto carinho que poderia me sufocar.

– Eu não suporto ver você chorando. – Disse ele, baixo, quebrável. – Eu... eu não queria te magoar, me desculpe. Eu só precisava perguntar, Lydia. Eu precisaria em algum momento.

– Mitch. – O chamei, calando-o, mas eu ainda não sabia o que dizer.

– Eu preciso que você escute. – Exigiu suave, seus dedos lentos em minha pele.

Envergonhada, eu apenas assenti.

– Tudo o que eu já te disse até hoje foi sincero. Eu gosto de você, gosto do que a gente tem na cama e fora dela, nossa relação funciona bem independente do que ela seja.

A forma que a melodia de sua língua era suave aqueceu tudo dentro de mim. Sério, ele suspirou e suas mãos pareceram se firmar em minhas bochechas. Ele se certificou de que eu olhasse para ele.

– Eu posso passar por tudo com você, por você, com essa certeza de que estamos bem. Mas eu não suportaria, Lydia, saber que você ainda o quer. De qualquer forma que seja isso me... – Ele balançou a cabeça, atordoado. – Eu não consigo nem pensar sobre isso. Você precisa ser sincera comigo, Lydia. Por favor.

Era essa sua preocupação, então? Era essa a razão pela qual eu estava desesperadamente nadando para chegar até ele e desesperadamente queimando por ele?

A verdade, crua e toda desmontada dos últimos dias, era que eu nunca sequer havia amado Theo.

Eu amava Henry. Amava.

Meu passado era apenas uma sombra de um homem que sequer existia e isso era tão patético que eu quase podia sentir pena de mim mesma. Theo não passava de uma sombra distante e gélida na boca de meu estômago. Isso era tudo que ele era. Um intruso. Destruidor.

– Estou tentando te perguntar isso há dias. – Disse Mitch, puxando-me dos pensamentos. – Mas eu não tive coragem. Seu encontro com ele..., o jeito que você chorou, a forma como você se alarma quando o assunto é ele... eu tentei várias vezes entender o que isso significa mas supor está acabando comigo, Lydia. Não posso mais fazer isso comigo mesmo.

– Mitch. – Praticamente supliquei, minha voz apenas um fio frágil.

Ele se calou, me olhando com seus lindos olhos. Eu desmembrei, em silêncio, cada uma de minhas agonias simplesmente porque era do que ele precisava. Uma vez Foster me disse que Allison comeria o próprio braço para fazer Mitch feliz e eu me lembro de ter julgado essa conclusão. Agora, nesse exato momento, eu estou começando a entender a Argent. Eu estou saudavelmente fissurada por esse homem e tudo o que ele faz comigo. Deus... eu realmente a entendo.

– Mitch. – Tornei a dizer, baixinho. Funguei outra vez. – Encontrar com ele foi diferente do que eu imaginei. Eu me preparei para sofrer por tudo que ele representava, mas quando eu me vi de frente para ele, desesperada por Scott... foi demais para mim.

Era exatamente o que havia sido. Demais. Demais para suportar, para recordar, para odiar ou amar com minha tolice humana. Não importava. O problema era esse: era demais para mim.

Mitch piscou surpreso, engolindo, um medo escuro passando por seu rosto bonito. Eu toquei suas bochechas e suas mãos desceram para minha cintura. Busquei coragem enquanto sentia sua barba rala em meus dedos, acariciando-o, contornando sua mandíbula com meu polegar.

– Eu esperei por isso há muito tempo. Sempre quis saber como seria vê-lo depois de tudo. E foi horrível, Mitch. – Despejei, minha voz fraca e pesada ao mesmo tempo. – Eu chorei por várias razões, muita coisa passou pela minha cabeça, mas nenhuma delas incluiu amor por ele. Eu nunca cheguei nem perto de amá-lo, Mitch. Antes eu achava que sim, mas hoje eu sei que não.

Ele suspirou baixinho, aliviado, acho que sequer percebeu isso.

– Hoje eu sei que se eu amei alguma coisa dele, foi a imagem que Henry era para mim. Nada além disso. E Theo... – Sussurrei, engolindo. – Foi tudo muito repentino, Mitch, e eu sinto tanto por você precisar lidar com isso o tempo inteiro desde que me conheceu.

– Lydia. – Ele me interrompeu, baixinho, desesperado. Suas mãos subiram com urgência ao meu rosto outra vez, disputando espaço entre nós. Eu acho que estou derretendo outra vez. – Eu nunca te julgaria ou me incomodaria com seus avanços pessoais sobre isso, eu sempre soube que você levaria tempo para passar por cima de tudo. Esse foi um dos motivos para eu não ter tentado ficar com você antes.

– E eu sou grata por isso. – Confessei, um leve sorriso se desprendendo de minha boca. – Muito grata, Mitch. Você precisa saber que meu encontro com ele não foi nada.

– Você se afastou muito antes disso, Lydia. Eu pensei que...

Levei um dedo a sua boca. Mitch se calou de súbito, franzindo a testa para mim.

Papéis. A porra de papéis.

– Eu me afastei porquê não sabia como conversar com você.

– Como eu acabei de fazer agora?

Estranhamente, sim. Era nítido o quanto nós precisávamos de mais comunicação entre nós, mas era cúmplice de uma maneira quase dolorosa como nossos sentimentos se pareciam nesse quesito. Eu assenti, sentindo o sangue drenar para minha cabeça.

Esse homem, com tudo que era, esteve esperando por mim todos esses meses. Apesar de sua maneira singular de lidar com as próprias emoções, de conquistar minha confiança, de demonstrar sua paciência, ele esteve todo esse tempo somente esperando. Tudo o que eu fiz em minha estúpida confusão foi magoá-lo, antes e depois de encontrar com Theo.

Eu não suportava machucá-lo e também não suportava a ideia de perde-lo. Eu estava concluindo que estaria sempre nadando por nós dois enquanto nossa chama queimasse.

Mitch vibrou uma risada leve, baixa, mas seus olhos ainda eram sérios.

– Eu sinto muito. – Disse a ele, acariciando seu rosto. – Por tantas coisas, Mitch. Mas principalmente por não conseguir dizer tudo o que sinto porque sinto muitas coisas.

– Que tipo de coisas? – Perguntou com receio, suas mãos enormes firmando em minha cintura.

– Não é sobre ele. – Assegurei, deslizando meus dedos para sua nuca. Acariciei seu cabelo macio, fundindo nosso calor em meio ao silêncio. – É sobre você.

Ele franziu as sobrancelhas em silêncio.

Talvez eu estivesse sendo tola outra vez, talvez eu estivesse sendo estúpida, mas eu engoli cada palavra que brotou em minha língua. Eu precisava de desespero para que as três palavras que mudariam tudo entre nós finalmente saíssem de mim.

Não que elas fossem mentira, até porque elas eram tão verdadeiras que doíam e justamente por essa razão que eu precisava de desespero para dizê-las. Quando eu o fizesse, queria que ele soubesse – até sua última célula – o quanto eu me assegurava delas. Mitch não merecia, principalmente depois de todo esse tempo, que eu as dissesse de qualquer maneira.

Eu as reservei, e dei espaço a outro tipo de desespero que estava cantando em meu quadril. Meus lábios tocaram nos dele, quase tímidos e de repente sufocados por sua fome devastadora. Sua língua quente e hábil deslizou contra a minha em uma batalha pessoal. Mitch começou a deitar na cama e me trazer consigo, mas eu me afastei dele, me colocando de pé. Eu me livrei de minha calça de moletom e voltei até ele só de calcinha, movida pelo poder único em seus olhos.

Sentei de pernas abertas em seu colo e quando nossas bocas se encontraram de novo, ele se abaixou devagar. Pousei sobre seu corpo, trazendo minhas mãos impotentes ao seu peito. Ele me apertou na cintura, suspirando contra meu rosto. Divino e real. Deus...

Seu zíper rangeu e eu levantei o quadril, o dando qualquer tipo de permissão silenciosa e desesperada que eu pudesse. Eu o queria tanto. Dedos quentes arrastaram minha calcinha para o lado.

Mitch deslizou para dentro de mim, me esticando, preenchendo-me com sua devoção sussurrada.

– Porra, linda...

Ele ficou parado por um instante, fechou os olhos como se estivesse decorando cada centímetro que me redescobria. A sensação era tão viva e crua que era como se minha carne estivesse sendo dilacerada em prazer.

Eu gemi sôfrego, estendida, rendida, querendo confessar para ele tudo sobre mim simplesmente porquê queria que ele fosse parte de tudo que fosse possível. Ele continuou parado, parecendo adaptar o próprio corpo, mas eu o tirei o direito de escolha em meio a minha ânsia pessoal.

Rocei em seu quadril, aprisionada no colo potente. Sua ereção era firme e suas mãos atingiam todas as minhas células.

Seu calor ao meu pareceu nos fundir em uma constelação transparente de puro desejo. Eu passei longos minutos me decidindo entre nadar e queimar em meio a tudo que nós éramos. O jeito que olhava para mim me fazia esquecer de respirar.

Meus pulmões arderam com cansaço, mas eu não conseguia parar. O prazer arranhava minha carne, a fricção gostosa me fez fechar os olhos e morder a boca, suada, ansiando por meu orgasmo. Mitch se moveu silenciosamente. Eu parei de me mover quando ele se sentou, esperando por uma instrução ou o que quer que ele quisesse.

Seu sussurro alcançou meus ouvidos.

– Continue, linda.

Ele me deu um sorriso seguro e orgulhoso. Seu rosto estava corado e suado como o meu, mas ele ainda parecia completamente delicioso. Quando tomei com mais força em seus ombros eu percebi como ele estava suado.  

– Isso, Lydia.

A rouquidão e a admiração naquela fala desencadearam um gemido choramingado de mim. Mitch estava quente, eu podia sentir sua pele formigando – ou talvez fosse a minha – contra meus dedos.

Ele se aproximou, unindo nossos peitorais, e sua boca brincou com meu pescoço em uma mordida robusta. Seus dentes minaram ainda mais desespero para meu clitóris, e passei a investir roçadas mais firmes, perdendo meu fôlego. Ele me mordeu mais uma vez, puxando minha pele, correndo arrepios cálidos por minha coluna.

– Você geme muito gostoso... – Sussurrou, o hálito quente soprando em minha orelha. Eu o senti sorrindo, seus dedos fincaram em minha bunda, favorecendo o movimento ao puxarem-me para ele. – Quero que goze gostoso assim também, você está me matando se esfregando desse jeito...

Eu queria mais. Eu precisava de mais. Suas palavras irromperam um vasto fervoroso de prazer e ansiedade e alívio em meu corpo.

Desespero. Desespero. Desespero.

Apertei minhas pálpebras e meus músculos tremeram, meu corpo vibrou e contrações me domaram da cabeça aos pés. Gemi, refém de suas mãos firmes que me pressionaram. Movi meu quadril mais rápido, com fome do orgasmo, aproveitando a doce sensação que soprou de dentro para fora em deliciosos segundos.

Ele roubou minha boca em um novo e faminto beijo quando se mexeu em baixo de mim, grunhindo contra meus lábios. Nós éramos duas confusões de oxigênio escasso e amor e suor.

Ele fez isso comigo. Mitch me transformou nisso, e era assustadoramente bom. Ele me moldou com sua paciência. Meu coração estava sussurrando desesperadamente aquelas três palavras, mas eu não pude liberá-las em meio a minha inércia.

– Eu preciso de mais de você, linda.

Sua confissão me fez sorrir. Eu queria gritar. Eu queria pular. Eu queria arrancar nossas roupas e repetir tudo de novo.

Eu estava... explodindo. Literalmente, talvez. 

Eu o respondi da melhor maneira que conhecia. Sufoquei seus novos pedidos com um beijo ansioso, permitindo que ele rolasse para cima de mim em meu colchão. Mitch se afastou apenas para se livrar da camiseta branca. Quando o fez, eu contemplei seus músculos brilhantes de suor. Eu quero lambê-lo, beijá-lo, quero tantas coisas com ele...

Eu poderia ter sido confusão por longos minutos naquela noite, nadando e queimando apenas em dor, mas naquele momento, Mitch havia me transformado em apenas eletricidade. Era tudo que eu era. 


Notas Finais


Eu gostei bastante dessa narração, estava inspirada no dia que escrevi esse capítulo haha. Sei que eles (em teoria) não falaram tanto, foi uma conversa curta, mas pouco a pouco tudo vai se encaixando, apenas aproveitem o casal :)
Obrigada por todo o carinho sempre, principalmente os leitores que dedicam um tempinho para comentar. Beijosss, até <3


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