O começo do verão não poderia ser mais perfeito. As três passaram horas juntas, rindo, comendo e colocando a conversa em dia enquanto ficavam se provocando. Algumas coisas mudaram. Como, por exemplo, Momo mesmo com sua personalidade brincalhona agora também tinha um lado mais sério – chega até a ser sexy de acordo com Sana. Dahyun tem a mudança mais perceptível. Ela ainda tem a mesma risada, ainda fica vermelha depois de uma brincadeira, porém sua mudança era óbvia. Principalmente no seu estilo. Agora ela substituiu os vestidos pelas camisas, calças e shorts. Seu pijama não é mais estampado com desenhos fofos e o seu sorriso não transmite mais inocência, era totalmente o oposto.
Porém a loira e Momo afirmaram que ela continua a mesma Dahyun de sempre. Então Sana escolheu acreditar em suas amigas.
Em relação a Sana, as meninas disseram que ela parece mais segura – é exatamente essa imagem que ela queria passar – e Dahyun também comentou que ela estava mais bonita. O elogio pegou Sana de surpresa e quando Momo concordou suas bochechas ficaram mais vermelhas do que já estavam.
Pelo menos Momo acha ela bonita, isso já era um ponto positivo.
No dia seguinte a luz do sol vindo da fresta da cortina é o despertador de Sana pela manhã. Ela franze o cenho e coloca a mão no rosto tentando bloquear a claridade. Aos poucos a japonesa abre os olhos e se depara com o teto e paredes – brancos – do apartamento de Dahyun. Esse quarto parece mais interessante que o resto da casa, talvez o motivo seja o único quadro com uma arara azul que está pendurado na parede. Sana gosta de pensar que Dahyun colocou aquele quadro porque sabia que ela iria odiar todo esse branco. A japonesa senta na cama e olha em sua volta. É tão surreal pensar que ela está no quarto de hóspedes de uma de suas amigas depois de cinco anos sem pisar nesse país.
Ela se livra das cobertas cinzas – alguma coisa tinha que ser – e vai em direção a cozinha. Chegando lá, a japonesa encontra o café da manhã completo já pronto na mesa. Ela pega uma xícara de café e vai direto para o cômodo onde sabia que iria encontrar Dahyun.
"Nem vai fazer companhia para a sua velha amiga no café da manhã?" Ela coloca apenas metade do corpo para dentro da sala, que possuía isolamento acústico, observando Dahyun com o violão no colo e alguns papéis sobre o sofá.
"Você é grandinha, já pode se virar sozinha." Dahyun brinca organizando os papéis para guardar.
Sana decide entrar no cômodo, que é totalmente o oposto do resto da casa. Lembra de quando foi mencionado que o quarto de hóspedes era o lugar mais interessante? Bem, talvez este aqui ganhe. As paredes eram escuras e o cômodo continha, espalhados por ele, vários instrumentos como violões, guitarras e até mesmo uma bateria. Sana não sabe o porquê mas algo nela dizia que Dahyun gostava de passar a maior parte do tempo ali.
Ela não sabia, mas ela estava mais que certa.
Dahyun levantou os olhos do violão por alguns instantes para observar Sana. A loira ficou em silêncio enquanto via a japonesa passar delicadamente os dedos pelos instrumentos na parede. Como se eles fossem de vidro. Admirando os pequenos detalhes de cada um deles.
"Gostou?" A mais nova perguntou depois de algum tempo.
"É bom saber que a antiga Dahyun ainda vive em você." Ela aponta para a guitarra preta com detalhes rosa. O único objeto ali que tem um pouco da antiga Dahyun.
"Eu só guardei porque foi um dos primeiros que eu comprei." E talvez o fato de Sana ter ajudado na compra também tenha feito a loira guardar aquele instrumento que era tão diferente dos outros. Mas isso ela nunca admitiria em voz alta. "Tem um certo valor sentimental."
"Bom saber que eu sou, de certa forma, responsável pelo – provavelmente – único item rosa desse apartamento."
Sana bebe seu café enquanto Dahyun apenas nega com a cabeça. Óbvio que a japonesa iria provocar ela por seu apartamento um tanto quanto sem vida – de acordo com Momo. A loira guarda seu violão e pega seus papéis para então sair do cômodo, sendo seguida de perto por Sana.
"Onde você pensa que está indo?" Pergunta a japonesa já com medo da resposta.
"Eu tenho uma aula daqui a pouco." Dahyun deixa suas coisas no sofá, ao lado de sua bolsa, e vai em direção a porta para pegar seu sapato e colocá-lo.
"Você também vai me abandonar hoje?" Sana se joga no sofá com um bico fofo nos lábios, ela tinha as sobrancelhas unidas.
A loira sabe que Sana gostava de jogar sujo então tenta ignorá-la.
"Peço desculpas. Mas pensa pelo lado bom. Você vai ter um tempo só para você." Dahyun pega suas coisas do sofá e a chave de seu carro de cima do balcão.
"Eu tive cinco anos para isso." Sana tenta convencer Dahyun a ficar, usando seus olhos para fingir tristeza.
"Agora vai ter mais algumas horas." Dahyun sorri cínica e vai em direção a porta enquanto Sana resmungava baixo do sofá.
"Hey, espera!" A loira se vira. "Posso dar um pouco de vida para esse lugar?" Ela até tenta abrir a boca para falar mas é interrompida. "Por favor! Eu vou ficar algumas semanas aqui e não vou sobreviver só com aquela arara." Dahyun respira fundo sabendo que Sana não iria desistir tão fácil.
"Não exagere." Era difícil dizer não para ela. Sana abre um sorriso enorme e isso já é suficiente para fazer Dahyun sorrir também. "Prometo que serei toda sua quando voltar." A loira pisca antes de sair pela porta.
Agora Sana estava lá, sozinha, sem as suas amiga novamente. Pelo menos dessa vez seria apenas por algumas horas.
A japonesa aproveitou para andar um pouco pela cidade e ver se encontrava algo para decorar o apartamento de Dahyun. Enquanto analisava alguns quadros para comprar Sana sente seu celular vibrar indicando que ela acaba de receber uma mensagem.
Momoring <3: Desculpa por não ter tempo para você hoje mas qualquer coisa que precisar é só ligar. Não fique muito triste sem mim. Prometo recompensar amanhã ;)
Seu coração bateu mais rápido após ler a mensagem. Momo sempre foi super atenciosa. Talvez esse seja um dos vários motivos que fizeram Sana se apaixonar por ela.
Ah, Dahyun também mandou uma mensagem.
Dahyunnie: Se você comprar alguma coisa rosa você nunca mais pisa naquele apartamento.
'Tão doce.' Sana sabia que Dahyun não teria coragem de expulsá-la do apartamento mas mesmo assim preferiu não arriscar.
Poucos minutos depois a japonesa se encontrava de volta ao apartamento, terminando de colocar tudo o que comprou no lugar. Teve uma mudança no ambiente mas não foi nada demais, ela espera que a mais nova goste. Enquanto Sana analisava o cômodo a campainha toca.
Ao abrir a porta ela vê uma mulher – muito bonita diga-se de passagem – parada em sua frente. Ela usava um vestido branco com estampa de flores da cor vermelha. Ela tinha um visual um tanto quanto inocente, angelical. O que era um estranho contraste com o seu olhar, que de angelical não tinha nada. A estranha a analisou de cima a baixo com aquele mesmo olhar, não parecendo muito feliz de ter encontrado ela ali ao invés da dona do apartamento.
"Posso ajudar?"
"A Dahyun está?" O tom de voz da mulher carregava um ar de superioridade que não agradava muito a japonesa.
"Não. Quem deseja falar com ela?" Sana estava curiosa para saber quem era aquela mulher.
"De novo não." A mulher fala baixo para si mesma mas a japonesa ouve.
"Perdão?"
"Olha, quando Dahyun aparecer apenas diga à ela que sua amiga mais bonita precisa falar com ela. É caso de vida ou morte." A mulher simplesmente fala e começa a se retirar. "Só vê se não coloca nada dela na sua bolsa por engano antes de ir embora. Às vezes pode acontecer. Nunca se sabe."
Sana abre a boca para questionar a mulher mas já é tarde demais. Ela fecha a porta ainda com a boca aberta e o cenho franzido em um claro sinal de confusão.
'Quem era aquela louca?'
A japonesa dá de ombros e deixa para perguntar sobre isso mais tarde quando a loira voltar.
À tarde, quando Dahyun chegou no apartamento, ela se deparou com uma Sana de cabeça para baixo no sofá enquanto assistia tv, aparentando estar no auge do tédio. Após escanear o apartamento com os olhos, ela se dirige à Sana.
"O que é isso?" Ela aponta para um vaso de planta – a qual ela não fazia ideia do nome – que estava no seu balcão. "E aquilo?" Dessa vez ela se refere ao quadro pendurado na parede.
"Isso é uma planta muito usada para decoração e aquilo é um quadro abstrato nas cores verde e vermelha." A japonesa explica ao sentar corretamente no sofá.
"Por quê?" Era única pergunta que passou pela cabeça da loira. Ela dá mais uma olhada a sua volta. Haviam outros objetos de decoração no apartamento mas nada muito exagerado e nada rosa, é claro.
"Porque qualquer coisa já seria de enorme ajuda para esse apartamento. Aliás, tem mais vasos na varanda." Dahyun fuzila a mais velha com o olhar. "O quê? Poderia ter sido bem pior e você sabe disso."
Dahyun só revira os olhos e resolve aceitar porque sabe que no fundo a japonesa estava certa. Até que não ficou tão ruim assim.
Logo em seguida Sana explicou para Dahyun que uma mulher havia aparecido no apartamento procurando por ela. A loira pareceu ficar tensa no início mas seus ombros relaxaram após ouvir a descrição da mulher e o que ela disse antes de ir embora. Aparentemente era uma das novas amigas da loira.
"Por que você nunca mencionou ela?" Sana questionou já não gostando muito porque não foi com a cara da mulher. E uma parte dela se recusava a acreditar que ela era só uma amiga. A mulher era extremamente bonita e isso Sana não poderia negar. Ela não ficaria surpresa se descobrisse que as duas tem algo a mais do que uma simples amizade.
Não que ela se importasse, só foi algo que passou pela sua cabeça.
"Você vai conhecer ela hoje à noite. Já tínhamos marcado de sair."
"Hm, ok." Ela estava curiosa para saber quem era essa amiga da qual ela nunca tinha ouvido falar antes.
Quando Dahyun vai preparar o almoço Sana se oferece para ajudar. Assim elas passam os próximos minutos em um silêncio confortável, ficando cada uma concentrada em sua tarefa. As duas aproveitam o almoço no meio de risadas enquanto relembravam alguns eventos do passado.
"Lembra de quando a Momo estava triste e decidimos bater na janela dela à noite para chamarmos ela para sair?" Sana começou. "Você caiu da escada e torceu o tornozelo." A mais velha ria repetindo cada detalhe da cena na sua cabeça.
Tudo começou quando Momo se recusou a sair do quarto após ter ido mal em uma prova muito importante para a qual ela havia estudado a semana inteira. Sana e Dahyun tentaram animar ela mas Momo estava muito decepcionada consigo mesma e ficava se culpando. Como as duas mais novas não queriam ver ela triste decidiram ter a brilhante ideia de ir até a casa de Momo à noite e chamá-la para fazer algo como subir em um prédio para observar a cidade, visitar o parque vazio, qualquer coisa que fizesse ela esvaziar a cabeça.
Sabendo que os pais de Momo nunca deixariam sua filha sair tão tarde as duas decidiram pegar a escada que ficava no quintal e subir até a janela do quarto da mais velha. Sana foi primeiro e Dahyun vinha logo atrás. Antes mesmo de chegar no topo a mais velha sentiu a escada chacoalhando um pouco e logo ouviu algo caindo no chão seguido de um grito de dor. Ao olhar para baixo Sana encontra Dahyun no chão com a mão no tornozelo direito. Ela desceu o mais rápido que pôde para ajudar a sua amiga. Não foi nada grave mas tudo que está ruim pode piorar.
Dentro de alguns segundos as luzes da casa se acenderam. Dahyun e Sana se olharam por um milésimo de segundo antes de se levantarem e saírem correndo o mais rápido possível. Vale ressaltar que Dahyun ficou um pouco para trás por estar mancando mas por sorte ela conseguiu ser mais rápida que o pai de Momo. Ela podia jurar que viu uma arma na mão dele.
"Eu caí por culpa sua!" A loira acusou.
"Já se passaram dez anos e você continua dizendo que é minha culpa. Eu não fiz nada!"
'Você estava de saia!' Dahyun pensa.
"Foi ideia sua!" Ela prefere dizer.
"Daria tudo certo se você tivesse o mínimo de coordenação motora."
As duas continuam sua pequena discussão e passam o almoço nesse clima nostálgico. Durante o início da tarde elas assistem séries, jogadas no sofá. Quando Dahyun estava distraída, Sana fazia cócegas na barriga dela usando o pé e a loira pegava sua perna, ameaçando jogá-la do sofá. Era bom esse clima calmo e as risadas por coisas bobas. Sana sentiu saudades de momentos assim em que passava horas rindo e se distraindo. Dahyun sempre teve o poder de fazer Sana esquecer do mundo lá fora, nem que fosse só por algumas horas.
Depois de algum tempo, Dahyun teve a ideia de ir para a praia e convidou a japonesa para acompanhá-la. Sana optou por um vestido leve estampado, com um biquíni preto por baixo, um chapéu na cabeça e óculos de sol. Dahyun estava com um maiô preto e um shorts branco. Surpreendentemente o lugar não estava tão cheio como o esperado. Haviam algumas crianças brincando, amigos, casais, famílias, todo mundo apenas curtindo aquela tarde.
Sana estava arrumando suas coisas na areia para então deitar ali, quando o silêncio entre elas é quebrado pela loira.
"Acho que vou entrar um pouco."
A japonesa vira para falar com a loira bem no momento em que Dahyun havia retirado o seu shorts e estava apenas de maiô. Foi automático. Seus olhos percorreram todo a extensão do corpo de sua amiga. A peça de roupa colada em seu corpo dava ainda mais evidência à sua silhueta perfeita. Dahyun ajeitou seu maiô e foi em direção ao mar sem nem olhar para Sana. A japonesa observava como o quadril da mais nova se movimentava e como seus cabelos loiros voavam com a força do vento batendo neles. Sana chega a tirar o óculos de sol para poder ver melhor, até Dahyun finalmente mergulhar no mar.
Após sair do transe, a japonesa olha para os lados checando se mais alguém olhou para Dahyun ou se alguém notou ela babando pela sua amiga.
'Qual é o seu problema Sana? Parece que nunca viu uma mulher bonita na vida.'
Com isso, Sana volta a se concentrar no que estava fazendo anteriormente.
Passado alguns minutos, a japonesa agora se encontrava sentada na areia passando o protetor solar, ou pelo menos tentando, já que estava com dificuldade de passar na costas.
"Precisa de ajuda?"
Ela pôde ouvir a voz de sua amiga enquanto estava de costas para ela. Ao se virar em sua direção, Sana se arrepende instantaneamente. A japonesa encontra ali de pé uma Dahyun ofegante, com os cabelos molhados e um sorriso torto no rosto.
'Quando ela ficou tão gost-'
Sana para seus próprios pensamentos e apenas coloca o protetor nas mãos de Dahyun enquanto vira para a direção contrária, ficando de costas para a mais nova. A loira se ajoelha atrás dela para poder passar o protetor.
'Sana, pare com esses pensamentos estranhos. Agora!'
Seus pensamentos são interrompidos quando ela dá um pequeno salto ao sentir o dedo indicador de Dahyun percorrer o centro das suas costas, lentamente, de cima para baixo.
'Que merda ela está fazendo?'
Dahyun passava a mão devagar pelas costas de Sana, espelhando o produto por toda a região. De repente ela para. A mais velha tinha as costas retas sem a intenção de fazer nenhum movimento brusco. É possível perceber que há uma tensão no ar que não estava ali antes. Sana sente a respiração da loira no seu ouvido e engole a seco.
"Por que está tão tensa, Sana?"
Lentamente Sana vira sua cabeça para olhar em direção a sua amiga. A proximidade faz com que sua respiração pare. Seus olhares se prendem um no outro por alguns segundos. Sana nota o momento exato em que Dahyun foca em seus lábios e rapidamente olha em seus olhos novamente. Quando a japonesa faz o mesmo ela percebe o sorriso cínico da loira.
'Essa idiota está fazendo de propósito!'
"Eu te odeio." Em um movimento rápido, Sana tira o protetor solar das mãos da mais nova e Dahyun apenas deita ao seu lado enquanto gargalhava.
'Como eu fui cair nessa provocação barata? Isso que dá ficar na seca por tanto tempo.' Sana pensa e revira os olhos, escolhendo ignorar a loira pelo resto da tarde.
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Ao chegar a noite Dahyun e Sana começaram a se arrumar. De acordo com a mais nova, elas iriam jogar boliche e comer alguma coisa com algumas amigas dela.
Sana estava curiosa para conhecer elas. Há alguns anos era basicamente só ela, Dahyun e Momo. Claro que elas possuíam outras colegas fora do trio com as quais elas conversavam, mas no fim do dia elas não passavam disso, colegas. Talvez seja porque elas eram tão próximas que ninguém queria cair de paraquedas no meio do trio, por receio de ficar de lado por não terem tanta intimidade com nenhuma delas. Porém o tempo passou, Sana ficou longe por anos, Dahyun e Momo não passavam mais todos os dias juntas, seus gostos mudaram e elas acabaram se afastando um pouco. Sendo assim mais fácil fazer novas amizades.
Depois do que aconteceu de manhã – com aquela mulher vindo a procura de Dahyun –, Sana estava ainda mais curiosa para saber quais tipos de amizades a loira fez nos últimos anos.
A roupa escolhida da noite foi uma calça jeans escura, camisa de cetim na cor vinho e um salto não muito alto, os cabelos soltos e um batom rosa suave. Simples.
Sana se olha no espelho uma última vez ainda de ir em direção à sala de estar. Chegando lá, ela vê Dahyun sentada no sofá. Ela vestia uma calça jeans, camisa branca e jaqueta de couro preta. A loira mexia no celular, suas sobrancelhas juntas indicavam que ela estava concentrada no que estava fazendo. A japonesa tem um sorriso de lado ao andar em passos lentos até o sofá. Ela decide se aproveitar do momento de distração da outra e para bem atrás de Dahyun. Sana se inclina para frente, leva a mão para o pescoço da mais nova e aproxima a boca do seu ouvido.
"Dahyun." Ela sussurra enquanto seus dedos roçam no pescoço da loira.
Dahyun pula no lugar quase derrubando o celular e em um piscar de olhos ela se levanta, virando em direção à Sana. Ela tinha a mão no peito, no lado do coração, enquanto sua respiração estava agitada.
"Você quer me matar!?" Ela fala vendo Sana se apoiar no sofá enquanto ria da reação dela.
A japonesa ri por algum tempo até se recompor. "Isso se chama vingança, Dahyunnie." Ela pisca.
"Vamos logo, elas já estão lá embaixo esperando." Dahyun fala ríspida enquanto abre a porta e sai na frente. Ela corava.
Dahyun segue na frente pelo corredor e Sana seguia atrás com um sorriso nos lábios. Ela sabe que a loira iria fingir estar com raiva pelos próximos minutos, não mais que isso.
"Ah droga." Dahyun para antes de entrar no elevador. "Eu esqueci a chave do carro."
"Parabéns, gênia." Sana brinca. "Vai na frente que eu pego a chave do carro."
"Valeu." A loira agradece.
"Valeu nada, vai ter que me pagar em dinheiro pelo esforço." Ela diz se virando e Dahyun apenas nega com a cabeça, entrando no elevador.
Ao chegar lá embaixo, a loira rapidamente vê suas amigas.
"Finalmente, pensei que só ia descer amanhã." Diz uma delas fingindo irritação.
"Por que quando eu apareço as pessoas nunca me recebem com um 'Olá, como você está Dahyun?'" Ela abre os braços em sinal de indignação.
"Olá, como você está Dahyun?" Pergunta a outra mulher.
"Péssima. Obrigada por perguntar."
"E é exatamente por isso que ninguém pergunta." A primeira mulher fala novamente. "Ah, a senhorita ainda me deve uma explicação. Quem era aquela mulher no seu apartamento? Por favor me diz que você não levou uma aleatória para lá de novo. Uma vez até vai, duas é burrice. Vai que ela também te rouba igual aquela tal de Sharon. E não vem me dizer que você contratou ela para limpar o apartamento porque eu não caio nessa."
"Nayeon, se você deixar eu falar, talvez eu consiga explicar." Diz a loira.
A mulher deixa os ombros caírem mas ainda mantém os braços cruzados, esperando uma explicação.
"Ela é a Sana, a minha amiga."
Os olhos de Nayeon quase saltam de seu rosto. "Sana?! Aquela Sana? A Sana que você- Ei!" Ela para de falar ao sentir um tapa no seu braço direito.
Nayeon se vira para perguntar o motivo do tapa mas seus olhos focam em outra coisa no meio do caminho.
Sana parada a alguns metros de distância das três.
Elas ficam em silêncio por alguns segundos. Sana aproveita esse tempo para analisar rapidamente a mulher na sua frente. Cabelos castanhos longos, vestido vermelho e lábios combinando com o vestido. Uma roupa que parecia combinar mais com a sua personalidade. Elas se encaram por um tempo.
"Hey, Sana! Lembra de mim?"
O silêncio é finalmente quebrado pela outra mulher que estava logo ao lado daquela que Sana viu mais cedo. A japonesa desviar seu olhar para ela. Ela parece familiar. Um pouco mais alta, shorts jeans, camisa azul clara propositalmente grande para o seu tamanho e cabelos curtos bem escuros.
Cabelos curtos.
"Jeongyeon?"
Yoo Jeongyeon, se não lhe falha a memória. Uma das colegas de Dahyun. Sana lembra de ter visto ela uma ou duas vezes, porém as duas nunca chegaram a conversar de verdade. Ela costumava a ter cabelos loiros antigamente mas a japonesa consegue dizer que é a mesma pessoa.
"Meu deus, você se lembra." Ela fala surpresa e em seguida se dirige à outra mulher. "Eu disse que depois de ver esse rosto aqui uma vez a pessoa nunca esquece."
A mulher cruza os braços e revira os olhos.
Dahyun limpa a garganta antes de começar a falar. "Bom, Sana essa é Nayeon, que você conheceu mais cedo. "Nayeon..." Ela aponta para a japonesa. "...Sana. Minha amiga."
Sana não gostava de julgar as pessoas sem conhecê-las mas algo fazia ela não gostar de Nayeon. Ela não sabe explicar. Talvez fosse sua atitude, o ar de superioridade ou a forma como ela parecia fuzilar Sana com seus olhos, mesmo agora sabendo que a japonesa é amiga de Dahyun.
"Prazer em finalmente conhecê-la." Nayeon é a primeira a falar.
'Finalmente? Será que Dahyun falou de mim para ela?'
"Prazer em conhecê-la." Sana força um sorriso. "Chave." Ela passa a chave do carro para Dahyun.
Enquanto Dahyun e Sana entram no carro – no banco do motorista e do passageiro, respectivamente –, as outras duas se dirigem para o banco traseiro. Jeongyeon manda um olhar para Nayeon que dizia 'Qual é o seu problema?' e a mais velha apenas deu de ombros.
Durante o trajeto as que mais falam são Jeongyeon e Dahyun, enquanto as outras duas parecem perdidas em seus próprios pensamentos.
"Por que a Momo não veio mesmo?" Nayeon fala de repente.
Sana passa a prestar atenção na conversa.
"Ela estava ocupada hoje durante o dia e tirou a noite para descansar." Explica a loira.
"Hm, acho que ela está me evitando. Ela ainda me deve por ter ajudado ela a arrumar o apartamento." Seu tom não era sério.
Sana se via a cada segundo mais interessada na conversa.
"Se você me pedisse um beijo como forma de pagamento eu também te evitaria."
"Está com ciúmes, Jeongyeon?" A mais velha faz um bico com os lábios em direção à outra.
"Nos seus sonhos, Nabong."
As duas começam a se provocar e Dahyun apenas ri. Sana, por outro lado, tem a cara fechada e semblante pensativo. Depois da palavra 'beijo' ela parou de escutar a conversa.
Ela definitivamente não gostava dessa Nayeon.
Ao entrarem no local Nayeon parecia mais animada para jogar boliche, a mais velha pega Dahyun pelo braço e arrasta a loira com ela. Jeongyeon vem mais atrás com uma Sana quieta do seu lado. A de cabelos curtos respira fundo antes de falar.
"Não liga para ela." Sana vira para a outra parecendo confusa. "Nayeon. Não liga para ela, ela é assim sempre, fica encarando e analisando. Não é nada pessoal. Talvez seja o lado protetor dela, ainda mais se tratando de Dahyun. No fundo ela é legal, só não conta para ela que eu disse isso." Jeongyeon sorri depois de falar e Sana retribui o sorriso agradecida.
As quatro ficam divididas em pares, Dahyun e Sana contra Jeongyeon e Nayeon. A mais velha das quatro se mostra competitiva ao decorrer da noite e sempre bate em Jeongyeon quando ela erra. Apesar de ela não ter conversado com Sana ainda, não havia mais um clima estranho entre as duas. A japonesa ainda tinha o pé atrás com Nayeon – provavelmente por conta dos ciúmes em relação à Momo – mas ela não sabe o tipo de relação que Nayeon possui com Momo e pelo o que pôde perceber, ela gostava de dar em cima das outras como forma de brincadeira. Pelo menos era assim com Jeongyeon então Sana presume que ela aja assim com mais pessoas também. Assim, Sana decide esperar um pouco para tirar qualquer conclusão e conhecer a outra melhor. Ela não queria ser responsável por um clima chato, afinal de contas Nayeon era amiga de Dahyun e, muito provavelmente, de Momo também.
Agora era o momento de Dahyun e Jeongyeon jogarem, deixando as outras duas sentadas esperando. Sana decidiu focar em Dahyun mas logo pôde perceber uma movimentação do seu lado esquerdo.
"Você não vai muito com a minha cara né?" Sana tem as sobrancelhas arqueadas ao olhar em direção à mais velha. Ela não esperava que a outra começasse a conversa dessa maneira. "Admito que tenho um pouco de culpa nisso por ficar encarando, mas é só um péssimo hábito que eu tenho. Desculpa se eu te deixei desconfortável ou algo do tipo. Talvez tenha sido meu instinto protetor." Ela fala e olha para frente em direção à Dahyun. Sana segue seu olhar e franze o cenho.
'Instinto protetor?'
Certo, Jeongyeon citou algo mais cedo. Ela só não entendia o motivo de Nayeon agir dessa forma protetora sendo que ela sabe que Sana é uma velha amiga de Dahyun. Ela nunca faria algo para machucar a loira.
Antes que Sana possa pergunta em voz alta, Dahyun avisa que é a vez delas jogarem. Deixando a japonesa curiosa para saber porquê Nayeon tentaria proteger Dahyun dela sendo que a mais velha não tem motivos para isso.
Após a partida elas seguem para a lanchonete mais próxima. O clima fica mais leve e agora a japonesa já se sente um pouco mais confortável. Jeongyeon era muito boa em fazer as pessoas rirem. Não que suas piadas fossem boas, na verdade eram o oposto disso, mas Jeongyeon era ótima em socializar no geral. Em um certo momento Dahyun levanta para ir ao banheiro e a de cabelos curtos decide acompanhá-la na intenção de deixar as outras duas sozinhas e quem sabe fazê-las desenvolverem uma amizade.
"Ok, sei que é totalmente aleatório mas eu tenho uma pergunta que só você vai saber me responder." Nayeon diz depois de esperar as outras duas se afastarem. Ela parecia bem mais amigável agora ou talvez Sana só esteja se adaptando a essa nova realidade.
"Diga." Sana fala enquanto toma seu refrigerante.
"Dahyun e Momo já foram namoradas?"
Sana quase cospe todo o seu refrigerante ao ouvir a pergunta. Ela rapidamente fica vermelha e começa a tossir sem parar.
"Está tudo bem?" Nayeon parecia preocupada e ameaçou levantar mas a japonesa sinaliza com a mão indicando que estava bem.
Após algum tempo Sana consegue parar de tossir e normaliza sua respiração. Ela limpa a garganta antes de falar. "De onde surgiu essa pergunta?"
"Ah, sei lá, às vezes elas agem meio estranho uma com a outra."
"Estranho como?"
"Quando saímos elas geralmente ficam grudadas no começo mas do nada se afastam e meio que se evitam pelo resto da noite. É muito estranho. Primeiro achei que elas estavam brigadas mas é constante. De uma hora para outra o clima fica esquisito. Aí passou pela minha cabeça a possibilidade de elas serem ex-namoradas que tentam manter a amizade depois do namoro. Eu sei que eu não conseguiria e ficaria um clima bem estranho." Explica Nayeon. "Então como vocês são amigas há anos, resolvi perguntar para você. Fiquei curiosa para saber se elas já namoraram, tiveram amizade colorida…" Sana ia tomar de seu refrigerante mas desistiu no meio do caminho para evitar maiores problemas. "...ou se eu estou ficando louca."
A japonesa parou para pensar.
'Se elas tivessem tido algo eu seria a primeira a saber.'
Sana começa a pensar na forma em que as duas se trataram no dia em que ela voltou. Ela não lembra de ter notado nada de errado, aparentemente as coisas estavam normais. Elas se provocavam, riam e tudo parecia igual aos velhos tempos. As coisas podem ter mudado um pouco mas não chegaram nesse ponto, afinal, se alguma coisa tivesse acontecido ela saberia, certo?
"Você está louca, Nayeon." A japonesa fala simplesmente. Antes que a mais velha possa dizer mais alguma coisa, Jeongyeon e Dahyun voltam para a mesa.
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Ao chegarem no apartamento as duas foram direto tomar banho. Dahyun no banheiro de seu quarto e Sana no do corredor, obviamente. Sana não conseguia parar de pensar na pergunta de Nayeon. Não fazia o menor sentido. Elas eram amigas e nada mais além disso. Era loucura. Porém a japonesa não tirava isso da cabeça. Se passaram cinco anos. Dentro de cinco anos muita coisa pode acontecer. Elas se falavam mas isso não significa que Sana saiba tudo o que aconteceu entre as duas. Talvez elas tenham brigado nesse período e não se resolveram completamente, por isso o clima estranho. São infinitas possibilidades. Não necessariamente significa que elas tiveram alguma coisa.
Saindo do banho Sana vê Dahyun indo em direção ao seu quarto já pronta para dormir.
"Dahyun."
A loira se vira na sua direção.
"Precisa de alguma coisa?"
Sana olhou bem nos olhos de Dahyun. Aquela era sua melhor amiga. A garota que ouvia seus segredos e também compartilhava os dela. Se tivesse rolado algo entre as duas, Sana tem certeza que Dahyun contaria para ela.
"Não. Não é nada. Esquece." Ela fala e sorri.
A mais nova retribui o sorriso e deseja uma boa noite para Sana antes de entrar no quarto. E é parada ali no corredor que a japonesa se lembra de uma coisa. Elas não sabem de todos os segredos uma da outra.
Por exemplo, ela nunca contou à Dahyun que é apaixonada por Momo.
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