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História Crumbs of Freedom - Capítulo 4 - Inheritance


Escrita por: carpelai

Notas do Autor


Hey, pipous! Tudo bem com vcs? Espero que sim ✌

«««IMPORTANTE»»»

Noa tenho muito pra flr hj, relaxem ajsgsh apenas sugerir a musiquinha do capítulo que é a que está na capa: Two Evils - Bastille. E ah, para quem for ouvir, dessa vez não tem um momento específico para começar, então podem ouvir durante o cap inteiro, repetindo a música inclusive. É isso ae, pipous, tenham uma boa leitura huehue

Capítulo 5 - Capítulo 4 - Inheritance


Fanfic / Fanfiction Crumbs of Freedom - Capítulo 4 - Inheritance

“Esta, pois, é a porção do homem ímpio da parte de Deus, e a herança, que os tiranos receberão do Todo-Poderoso. Se os seus filhos se multiplicarem, será para a espada, e a sua prole não se fartará de pão.” Jó 27:13,14.

5 de junho de 1999, Londres, Inglaterra.

Michelle's POV

As janelas da sala da presidência da Petrospem ofereciam uma magnífica vista panorâmica a quem se interessasse, mas, naquele anoitecer, os papéis que ocupavam as gavetas da mesa metálica no centro da sala eram a única coisa que me importavam. Depois de eu já ter vasculhado as duas estantes que compunham a mobília do escritório. Quer dizer, eu preferia infinitamente encontrar informações relevantes que me levassem a solucionar a misteriosa e repentina morte de Michael, do que observar pessoas tentando, por algumas horas, esquecer e ignorar suas vidas miseráveis. Eu tinha a minha própria miséria com a qual me preocupar e só conseguiria isso fazendo tudo que Frank ordenasse e evitando ao máximo deixá-lo furioso.

Era o que eu estava fazendo desde de o momento em que saí da mansão, após ter estado presente na infeliz leitura de testamento do Jauregui, o que não me deixou nem um pouco otimista.


Flashback

Eu estava reunida na biblioteca da mansão com o Turner, Raad, Kyle e Jerry, para a leitura do testamento de Michael. No entanto, eu estava apenas de corpo presente; minha mente viajava por todas as consequências que viriam a seguir.

A morte de Michael definitivamente não estava nos planos. Ao menos não ainda. Eu havia dedicado os últimos anos e principalmente os últimos meses àquele maldito velho e àquela empresa. Precisava da confiança de Michael para que, quando eu me formasse na faculdade, tivesse participação totalmente efetiva na Pretospem e pudesse evoluir lá dentro. Obviamente eu não começaria de baixo, daria um jeito de convencer o velho a me dar um cargo alto e, assim, com o tempo eu poderia tomar o lugar dele na presidência, sem levantar maiores suspeitas. Afinal ele estava envelhecendo e precisava de um herdeiro competente, à altura de tudo o que havia construído. E tudo caminhava perfeitamente bem em direção a meu objetivo, até ele morrer.

Algo me dizia que tudo desandaria dali em diante, que a morte dele não foi um simples acidente, mas, se eu estivesse certa, isso significava que ele sabia de algo. E se ele sabia de algo, a última coisa que faria é deixar sua herança e seu cargo para mim. O que era muito preocupante, pois atrasaria toda a agenda de Frank e das pessoas que estavam por trás dele, e, consequentemente, descontariam em mim.

Os interesses de Frank me eram totalmente desconhecidos e não era como se ele se preocupasse em me contar ou se fosse me contar algo além do que julgasse necessário. Mas depois de tanto tempo suportando isso, eu nem me importava mais em descobrir qualquer coisa, eu estava cansada de toda aquela porra e só queria que tudo acabasse da maneira menos pior.

E nada acabaria da maneira menos pior se Frank se atrasasse por “minha culpa”. Por mais que a culpa, talvez, realmente fosse minha.

Eu nem mais me importaria em deixar Lauren à própria sorte, ao invés de infernizá-la e tentar tomar o seu lugar. Também não era como se, de fato, eu acreditasse que pudesse ter algum êxito em relação. Eu estava quase desistindo.

Quase.

Observei as pessoas na sala. Turner e Raad estavam com expressões neutras em seus rostos. Kyle se esforçava em parecer desinteressado, olhando o jardim por uma brecha na cortina azul royal que cobria quase totalmente a enorme janela do cômodo. Jerry tentava manter uma postura profissional, mas a umidade excessiva visível em seus olhos e seu nariz vermelho, denunciavam sua instabilidade. As vezes eu esquecia que ele e Michael eram irmãos.

Vi os lábios dele moverem-se meio trêmulos, mas não ouvi com clareza nada do ele havia pronunciado até então; a parte formal da leitura pouco me interessava. Mas meus ouvidos pareceram se abrir e adquirirem uma habilidade supersônica quando uma cláusula foi citada. E então meus batimentos aceleraram de maneira absurda, enquanto a ansiedade o desespero tomavam conta de todas as células nervosas do meu corpo. Apesar disso, eu ainda tinha controle suficiente para não deixar minhas emoções transparecerem, a menos que alguém encostasse o ouvido sobre o meu peito.

— “... a posse do meu cargo como presidente da Petrospem, empresa que criei a partir de meus esforços e com ajuda de familiares, assim como de amigos, deve ser passada a meu sócio e amigo, Robert Turner, e minhas ações e patrimônio devem ser retidos até que um de meus filhos, cumulativamente, case-se, tenha no mínimo um filho ou filha e 25 anos completos. Ao primeiro dos meus herdeiros que cumprir as condições que estabeleci nesse documento, será entregue 50% do meu patrimônio, ficando vedada, no entanto, a venda da mansão, a salvo com o consentimento de todos os herdeiros. Este, também, receberá 69% das ações que detenho da Petrospem, o equivalente à, aproximadamente, 35% das ações da empresa, e que garantirá a este ao herdeiro em questão a manutenção do status de sócio majoritário. Ademais, deixo meus bens sob a tutela de Robert Turner até que as especificações da presente cláusula sejam cumpridas e meus herdeiros recorram à sua herança. “A um clã maior dê uma herança maior, e a um clã menor, uma herança menor; cada um receberá a sua herança de acordo com o seu número de recenseados.” Números 26, 54.”. Isso é tudo — concluiu Jerry, respirando profundamente. — Alguma dúvida?

Era isso. Ali estava a confirmação de que Michael sabia de alguma coisa. A menos que ele tenha sido influenciado, ele sabia de alguma coisa. Nada mais explicaria a maldita cláusula. Aquelas condições não faziam o feitio dele. Eu sabia que ele era anglicano, mas nunca fora religioso; mal tinha tempo para a “família”, tampouco tinha para a igreja. A vida dele era aquela empresa e estar no controle dela deveria ser o meu futuro.

“Isso não pode estar acontecendo. Não pode!” — pensei.

Uma camada de suor frio começou a se formar em minha testa. As palavras lidas por Jerry mais pareceram um anestésico para mim, formaram um loop em minha mente, me fazendo delirar. O mundo começou a girar.

— Sério? — Kyle perguntou. Olhei para ele a tempo de vê-lo ainda vidrado no jardim, como se a paisagem atraísse de forma magnética o seu olhar, o hipnotizando, antes dele voltar-se para o Jerry. — É só isso? Tem certeza que ele não especificou a data e local do casamento? O nome dos noivos? Não, melhor.... O signo do futuros netos dele! Tenho certeza que você pulou essa parte, tio Jerry — disse sarcástico, rindo secamente, mas a voz dele soou distante para mim. Distante e gradativamente baixa. Eu me senti fraca.

— Kyle... — Jerry suspirou. —Sim, é só isso — concluiu simplesmente, como quem pretendia evitar maiores discussões.

Então minha visão escureceu e ouvi várias vozes gritarem meu nome ao mesmo tempo. Até que não ouvi e nem vi mais nada.


♦♦♦


Despertei lentamente, deitada no divã que havia na biblioteca. Mantive os olhos fechados, porém.

Senti uma brisa tocar o meu rosto contínua e rapidamente, forte o bastante para começar a me incomodar. Não parecia uma brisa natural, carregava partículas de poeira até minhas narinas. Ao levantar as pálpebras alguns milímetros, percebi que realmente não era; Kyle improvisava ar, distraidamente, balançando um livro velho a frente de meu rosto.

Eu sabia que estava perdendo tempo ao continuar deitada depois de retomar minha consciência, mas não tive a mínima vontade de levantar. Seria tão mais fácil se eu simplesmente morresse de uma vez.

Ouvi vozes distantes e decidi me concentrar nelas; permanecer deitada, fazendo absolutamente nada, a não ser pensar e, muito mal, respirar, não me mataria, e tampouco eu faria isso. É certo que eu estava cansada da vida que vinha tendo, mas eu ainda tinha motivações. O que me faltava, de fato, era paciência, muito menos para quem decidisse me atrasar, ingenuamente pensando estar me passando para trás. Quem ousasse fazer isso, estaria apenas adiando a própria ruína.

— ... O que eu ainda não entendi é que a data da vinda de Ali e Camila e do jantar de noivado deles já havia sido combinada há meses e, até onde eu sei, a empresa está caminhando muito bem — disse Jerry. — Não consigo imaginar o quê faria Michael viajar tão repentinamente e ainda mais para Genebra... Alguma negociação da qual não fui informado? Você certamente sabe, Robert — Jerry questionou confuso.

— Ó, claro — proferiu Robert. Houve uma pausa e eu soube que ele estava pensando em alguma desculpa. — Acredite se quiser, mas desta vez não sei muitos detalhes sobre o que se tratava. Michael me disse apenas que era urgente, um acordo irrecusável, mas que não demoraria mais do que dois dias. — concluiu, cinicamente.

“Não faz ideia, é? É claro que não, você apenas está temporariamente no comando da empresa. Inconveniente e previsível... Meus parabéns, Turner, você acaba de se tornar um dos responsáveis por minha vida estar pior do que nunca. Você acaba de se tornar mais um alvo. E para o seu bem, é melhor que esteja preparado.” — pensei.

Fiz um som nasal e sonolento, com a intenção de que minha presença consciente fosse notada. O tempo estava passando rápido demais e decidi que não poderia perder mais nenhum segundo, se quisesse mudar a minha vida. Jerry havia me poupado o esforço que eu teria em perguntar ao Turner o motivo da viagem de Michael à Genebra, mas apenas isso, pois não consegui mais nenhuma resposta útil. Felizmente eu imaginava onde as respostas poderiam estar, mas não era ali que eu as encontraria.

Kyle me fitou com um olhar duvidoso, como se perguntasse se era realmente eu ou qual seria meu próximo passo maligno. O encarei de volta com um olhar doce, mas não demorei a sorrir de lado, nada inocente, passando a língua entre os lábios. Meu gesto o fez revirar os olhos e dar de ombros. Em seguida, ele largou o livro em cima da mesinha de centro, deu passagem a Jerry e saiu da biblioteca, dirigindo somente um “até mais” aos homens que ainda estavam no recinto.

— Até que enfim, querida! — Jerry disse, aproximando-se. — Como se sente? Já se alimentou? Fiquei preocupado — inqueriu. O tom de verdade era incontestável em sua voz.

Eu nunca havia me preocupado em cativá-lo, então devo admitir que sua preocupação me surpreendeu.

— Estou bem, tio. Um copo de água e fico novinha em folha — respondi sorrindo falsa, porém convincente.

— Ó, claro, querida! — Jerry tomou em suas mãos a jarra com água, que antes estava sobre a mesinha, despejou o líquido em um copo e entregou a mim, que agradeci com um aceno de cabeça. — Mais alguma coisa?

— Não, tio, nada — respondi e, em seguida, sentei-me e bebi a água de uma só vez.

— Nossa, estava mesmo com sede — disse Turner, sem humor. Eu nem lembrava que o infeliz ainda estava lá.

— Pois é, muita sede. — Dirigi um sorriso breve e sem emoção a ele. — E respondendo à sua pergunta, tio, não quero mais nada, obrigada. O que eu preciso agora é sair, tenho um compromisso com o Matthew... Sabem como é, tenho que casar, dar à luz um filho ou filha e esperar alguns anos até o meu aniversário de 25 — concluí divertida, antes de me levantar, abraçar o Jerry e sair da biblioteca, lançando um piscar de olhos aos homens que lá permaneceram.

Fim do Flashback


Esse era o motivo de eu estar na Petrospem em pleno sábado a tarde; eu estava em busca de respostas.

A maioria dos documentos que estavam nas gavetas já havia passado por minhas mãos antes, sendo assim, eu sabia que eles não tinham ligação alguma com a morte de Michael, então qualquer um deles, do qual eu não me recordasse, era uma pista em potencial.

Apesar do cansaço e do tédio, fui tomada pelo pressentimento de que teria algum êxito, e foi por essa razão que não parei.

Folhei alguns documentos da última gaveta que restava, sem encontrar nada de novo, nada que eu já não tivesse visto.

Encarei o teto de blocos monocromático e respirei fundo, como se aquela extensão de concreto fosse me dar uma solução mágica. Seja como fosse, minha raiva naquele momento não permitia que minhas preces viajassem para além daquilo.

Olhei para dentro da gaveta, como havia feito outras vezes, e encontrei um pasta cinza nada familiar. Tomei-a em minhas mãos a analisei por fora; nenhuma etiqueta, nenhuma identificação. Fiquei curiosa a respeito do que ela guardava e excitada com a possibilidade de ser o que eu procurava, mesmo não sabendo o que exatamente eu estava procurando.

Passei os dedos sobre sua superfície, apreciando a textura lisa e de aspecto brilhante. Prendi a respiração e a abri de uma vez.

O que encontrei ao fazer isso, me fez franzir o cenho. Não poderia ser mais frustrante.

“Ok, Michelle, não é tão ruim, não há motivo para se desesperar... O quê você esperava, afinal? Um tutorial explicando passo a passo o plano deles? Você é melhor do que isso!” — disse para mim mesma em pensamento. Talvez eu realmente estivesse esperando algo mais claro, não era nenhum crime esperar algo assim, era apenas muita ingenuidade, principalmente para mim.

O que eu encontrei dentro da pasta foram imagens de uma máquina imensa, quilométrica, seguidas do que parecia uma longa ficha de informações técnicas. De acordo com tais informações, a máquina se tratava de um acelerador de partículas. Nada que fizesse muito sentido para mim ou que se encaixasse no contexto que eu precisava. Ao menos até eu encontrar sua localização; Genebra, Suíça.

Aquilo me deixou extremamente intrigada. De todas as ideias que passaram pela minha mente, nenhuma foi o bastante para estabelecer uma conexão coerente entre Michael, a empresa e aquela máquina. Mas definitivamente era algo a ser considerado, uma pista que eu precisava investigar a fundo.

Fechei a pasta e a coloquei em cima da mesa, em um canto à parte. Organizei os documentos que havia espalhado sobre a superfície metálica e os devolvi às suas respectivas gavetas.

Peguei novamente a pasta cinza e, cautelosamente, me dirigi ao Recursos Humanos. Chegando lá, alcancei a máquina copiadora mais próxima e fiz duas cópias de todo o documento contido na pasta, não deixando um segundo sequer de observar todos os cantos do local, atenta a qualquer possível movimento humano que não fosse meu.

Voltei rapidamente à sala da presidência, guardei a pasta intacta em seu devido lugar. Parei um instante, ficando imóvel, apenas pensando no que eu estava fazendo. Pensei em como cada decisão que eu tomava me aproximava cada vez mais de um destino tão incerto, mas apavorante.

Caminhei para fora da sala, com minhas cópias em mãos e olhei para trás, quando alcancei a porta, conferindo se estava tudo em ordem. Como pretexto, ao entrar na empresa mais cedo, eu disse ao segurança que havia perdido um disquete, cujo conteúdo eu precisava acessar com urgência e, portanto, pensei em procurar em minha sala, onde era mais provável que eu o houvesse esquecido. De fato, eu não possuía acesso às câmeras de vigilância da empresa, mas as gravações do período em que passei vasculhando a sala da presidência não eram nada que os contatos do Frank não pudessem substituir. E mesmo que não fosse comum o segurança ou o porteiro conferirem as gravações antigas, eu não iria arriscar; era melhor que contatassem que uma parte da gravação faltando, do que encontrarem a gravação completa, mas comigo nela, num lugar e horário que não deveria.

Tendo constatado que não havia nada fora do lugar, saí da empresa e dirigi de volta à mansão.


♦♦♦


A lua já havia tomado o seu lugar no céu noturno, quando cheguei em casa. Ao passar pela porte da frente, escutei vozes que pareciam vir da sala de estar. Certamente eram os “convidados de honra” conversando. Ponderei por um instante a respeito de qual seria o meu próximo passo. Decidi que guardaria as cópias que fiz e me juntaria às pessoas na sala, pois eu precisava conhecer melhor o Raad.

Subi as escadas e caminhei pacientemente pelo corredor. A biblioteca da mansão ficava no mesmo corredor que o meu quarto, alguns metros antes, porém. Assim, obviamente eu passei por ela antes de chegar ao meu destino, o que resultou em me fazer encontrar sua porta entreaberta. Me aproximei para fechá-la, mas vi de relance que havia lá dentro. Abri um pouco a porta, sem fazer barulho, para saber de quem se tratava, já que o resto das pessoas presentes na casa, pareciam estar todas na sala. Quando o fiz complemente, avistei Camila com um livro em mãos. O livro tinha uma capa de couro maleável e um tom mostarda. Forcei um pouco a visão para entender o que estava escrito na capa e distingui as diminutas palavras gravadas nela: “Assassinato no Expresso do Oriente”.

Eu não me lembrava de ter visto aquele livro por ali antes, mas também não era como eu fosse uma leitora assídua. E de qualquer forma, aquele exemplar poderia ser dela.

Peguei-me imaginando que tipo de segredos aquela garota poderia ter, mas não me detive muito nesse pensamento; ela ainda não era uma ameaça para o meu propósito, além de que eu precisava focar era no noivo dela.

Continuei o caminho até meu quarto. Ao entrar nele, tranquei a porta e fui até o lado direito da minha penteadeira, ajoelhei-me em frente ao pequeno tapete felpudo, sobre o qual a penteadeira ficava, afastei o tapete e desencaixei um piso oco do chão de madeira, encontrando uma maleta preta. Depois de puxar a maleta, coloquei a combinação de quatro números em sua trava, fazendo-a abrir. Dentro dela havia um revólver, documentos falsos, adulterados, confidenciais... E um frasco de vidro transparente, que continha um líquido da mesma cor e não chegava a ser maior do que meu polegar. Deixei as cópias no chão a meu lado e tomei o frasco em minha mão esquerda, passando a observar atentamente o seu conteúdo, que não ultrapassava a quantidade de 3mL. Não fazia muito tempo desde que eu o havia guardado ali, mas havia esquecido dele. Repreendi-me por isso, porém, pois ele acabara de se tornar um forte aliado. Sorri com a ideia que se formava em minha mente; era arriscada, teria muitas consequências e iria requerer muito empenho, mas, por outro lado, tinha muito potencial e me proporcionaria muita adrenalina.

Coloquei o frasco sobre o tapete, peguei novamente as cópias, guardei-as dentro da maleta e a fechei, devolvendo-a, logo depois, a seu esconderijo.

Em seguida, fui ao banheiro. Tomei um banho rápido e quente. Depois de me secar, sem pôr nenhuma lingerie, coloquei um vestido solto e de alças finas, feito de linho na cor roxa, e um cardigan acinzentado. Eu deveria ficar em condições apresentáveis para começar a executar meu mais recente plano.

— Vamos começar incorporando a boa moça, Michelle... Precisa desfazer a imagem independente e fria que demonstrou na noite anterior — ordenei a mim mesma, encarando meu reflexo no espelho. Eu estava confiante, sentia-me pronta.

Saí pela porta do quarto e avistei o Jerry e a esposa dele terminando de subir a escada. Olhei o relógio na parede do corredor; 21h42. Eles já deveriam estar indo dormir. Desejei mentalmente que os demais ainda estivessem lá em baixo.

— Ó, você está aí — disse Jerry. — Eu não a vi chegar, querida.

— Não faz muito tempo desde que cheguei — falei cordial. — Eu subi direto para o meu quarto, estava precisando de um banho, tio.

— É claro, meu bem. Bom, Sinuhe e eu já vamos dormir. Os meninos ainda estão lá embaixo, desça e converse um pouco com eles.

— Ah, sim, era exatamente o que eu pretendia fazer — anunciei. Sorri e passei por eles, indo em direção ao andar de baixo. — Tenham uma boa noite! — completei ao alcançar a escada.

Ao chegar no térreo, escutei ao longe a voz de Kyle e uma risada que supus ser de Allyson.

Aproximei-me da sala de estar, lentamente e em silêncio, sem fazer com que notassem minha presença. Encostei-me na parede do corredor e passeia escutar a conversa deles.

— Eu não acredito que você disse isso — Allyson disse, recompondo-se da risada.

— Pois eu disse sim, me poupe não é mesmo, aquela cláusula é totalmente bizarra e sem sentido — Kyle confirmou rindo, mas parecia indignado também. — Aquele versículo bíblico então... O Michael não morria de amores pela Lauren e eu, mas ele nunca faria isso em sã consciência com a queridinha dele — concluiu pensativo.

“Invejoso” — pensei.

— Bom, eu não cheguei a conhecê-lo muito bem, mas nas poucas vezes em que conversamos ele me pareceu um homem arrojado, mas muito convicto — pronunciou Raad.

— Às vezes ele simplesmente mudou de ideia, Kyle — ponderou Allyson. — É possibilidade, não?

— Não, eu não acredito que seja o caso, Ally — Kyle respondeu. — Se isso não for pegadinha, tem algo bem errado nessa história.

— Como o quê, por exemplo? O que você que pode ter feito ele tomar uma decisão assim? — Raad perguntou interessado.

— Não sei, mas também não dou a mínima — Kyle respondeu, seu interesse era totalmente o oposto do interesse do árabe. — Quer dizer, até segunda eu já estarei de volta a Leeds, afinal ainda faço parte do proletariado, meus amigos! — disse e eu espiei a cena, me esgueirando pela quina da parede e vendo-o abrir os braços teatralmente, ele estava em pé e seu corpo impediu que eu visse Allyson, que riu. Porém, pude enxergar o Raad inteiramente, até que seu olhar voltou-se como um imã para onde eu estava. Retornei ao meu posto no mesmo segundo, o meu coração batendo veloz sob meu peito, eu podia jurar ter visto as pupilas dele dilatarem-se, mas apesar disso, continuei ali ouvindo a conversa.

— O que houve? — Kyle questionou.

— É, parece que você viu um fantasma — completou Ally. — Será que o tio Michael não tá curtindo o descanso eterno? Eu trocaria de lugar com ele numa boa. — disse, fazendo os rapazes rirem.

“Patética! Michael certamente só deu um cargo a ela na empresa por piedade!” — concluí em pensamento revirando os olhos.

— Eu apenas pensei ter visto um vulto, mas creio que seja o cansaço — explicou o Raad. — Melhor eu ir dormir. — Ouvi ruídos que pareceram ser do sofá em que ele estava sentado.

— Ainda está cedo, fique mais um pouco, não terá o prazer da minha companhia por muito mais tempo depois de hoje — argumentou Kyle.

— Teremos outras oportunidades, não se preocupe — Raad garantiu.

— Você é quem sabe, só não vá se arrepender depois — Kyle alertou.

— Eu ainda estarei aqui, primo, é por isso que ele não está se importando em ir dormir a essa hora — disse Allyson.

Eles pareciam realmente estar se despedindo e eu precisava sair dali, mas precisava ainda colocar meu plano em prática. Só faltava a oportunidade perfeita.

— Ah, é mesmo? Bom saber disso, senhores — Kyle disse, falsamente irritado.

— E estou mesmo indo mesmo me deitar — informou Raad rindo. — Foi uma honra estar na companhia de vocês, tenham uma boa noite... Vocês dois — desejou, enfatizando as duas últimas palavras.

Saí do corredor assim que ouvi isso. Obviamente o universo não estava me ajudando. Analisei, mais uma vez, o frasco em minha mão.

“Parece que eu terei que criar minha própria oportunidade” — pensei.

Uma ideia havia surgido em minha mente, mas eu precisava ser rápida, pois só teria uma chance.

Felizmente, naquele momento a planta da mansão pareceu muito favorável. Dois dos quartos de hóspede ficavam no andar de baixo, próximos à cozinha e, por sorte, um deles estava ocupado exatamente por Ali Raad.

Cheguei à cozinha e rapidamente separei o que eu precisaria, reunindo tudo em cima de uma parte do balcão de mármore; o liquidificador, a tábua de corte, uma jarra, um copo, açúcar, dois pêssegos e uma faca. Escondi o frasco atrás do liquidificador e descasquei com a faca uma parte de um dos pêssegos. Fiquei em silêncio momentaneamente e esperei. Tudo que se ouvia na cozinha era minha respiração.

“1...2...3...4...5...6...7...” — mentalizei os segundos, até que meus ouvidos finalmente detectaram o som de passos se aproximando. E então, quando julguei o barulho estar próximo o suficiente e avistei a sombra do homem no chão, em frente à entrada da cozinha, arrastei a lâmina da faca na ponta do meu indicador direito, rápido e forte, o que me fez grunhir, mais alto do que eu faria numa situação real, porém.

— Michelle? — ouvi a voz preocupada do árabe.

— Ó, Sr. Raad, está aí — afirmei sonsa, com um semblante de dor. — Eu não o havia visto, que vergonha, eu sou muito desajeitada!

— Não precisa me tratar com tanta formalidade, me chame de Ali apenas — disse ele.

— Tudo bem. — Fingi timidez.

— O que aconteceu com você, está tudo bem? — perguntou chegando mais perto.

— Não foi nada demais, eu cheguei faz pouco tempo, vim procurar algo para comer e como não encontrei nada pronto, decidi fazer um suco, mas acabei me cortando sem querer. — Ergui o dedo ensanguentado e contorci o semblante, fingindo esconder sem sucesso a dor.

Subhanallah — exclamou, com um sotaque característico. — Eu vou chamar Allyson para que ela possa te ajudar! — disse virando-se rapidamente e saindo da cozinha.

— Espere! — pedi, fazendo-o me olhar. — Porque você mesmo não me ajuda? Já está aqui mesmo.

— Eu não creio que seja uma boa ideia — disse hesitante.

— Por favor, será mais rápido porque você já está aqui! — argumentei suplicante.

— Tudo bem — concordou como quem sabia que iria se arrepender. — O que eu faço? Tem algum material de primeiros socorros por aqui?

— À esquerda, no armário do banheiro — instrui, sorrindo fraco em agradecimento.

Ele saiu novamente, tão apressado quanto antes e eu aproveitei para ao menos lavar o dedo.

Em menos de um minuto ele estava de volta e caminhou em minha direção, tendo nas mãos a pequena maleta branca com uma cruz vermelha na tampa.

Raad alcançou o meio da cozinha, mas não fez menção de parar, então eu me adiantei até a mesa, onde nos sentamos, impedindo-o de chegar até a bancada e ver o frasco atrás do liquidificador.

Estendi a mão direita sobre a superfície de lisa e gélida da mesa e observei atentamente as ações do árabe.

Bismillah — ele pronunciou claramente, com as mãos sobre a trava da maleta e a abriu. Separou os materiais e virou-se para mim em silêncio, esperando que eu estendesse o dedo.

Com cuidado, ele passou sobre o corte um algodão embebido em soro, secou suavemente com gaze, pingou algumas gotas de álcool iodado em outro pedaço de algodão e desinfetou a ferida. Por fim, abriu a embalagem de um band-aid e pôs em meu dedo, evitando ao máximo o contato de sua pele com a minha.

— Ficou ótimo! — exclamei quando ele terminou a tarefa. — Muito obrigada, você foi muito gentil, Sr. Raad. — Prossegui com o meu plano.

— Ah, por favor, me chame de Ali, eu não sou tão mais velho assim do que você — pediu.

— Certo, Ali — concordei sorrindo abertamente para ele. — Bom, acho que o mínimo que eu posso fazer agora é te oferecer uma bebida.

— Ó, não, desculpe, mas eu terei que recusar... Eu não bebo — explicou.

— Nem um suco? Eu não pretendia mesmo beber nada alcoólico a essa hora — insisti, não ia deixar que ele estragasse as coisas, não quando eu estava tão perto de conseguir o que queria.

— Acho melhor eu ir dormir, afinal a senhorita já não corre perigo de vida. — Sua brincadeira me deu sono, mas eu mantive a personagem.

— Sim, estou, e graças a você. — afirmei, aproximando-me alguns passos. O senti ficar tenso diante da aproximação. — Não faça essa desfeita comigo, o que custa aceitar um delicioso suco que eu prepararei com tanta gratidão?! — perguntei brincalhona. Estava me sentindo desgostosa por ter que me submeter aquela cena ridícula, e sabia que me sentiria ainda pior se não resultasse no que eu esperava.

— Tudo bem, um suco — concordou erguendo o indicador direito diante da própria face e dando a volta na mesa pelo outro lado, acreditando afastar-se de mim sutilmente.

— Como quiser! — Simulei aplausos, demonstrando minha excitação.

Voltei à bancada, pegando um segundo copo no caminho e retomei o preparo do suco. Dessa vez preferi cortar e retirar a polpa das frutas, invés de continuar as descascando. Nos minutos que transcorreram enquanto eu preparava a bebida, tentei manter o árabe distraído ao máximo, conversando sobre assuntos aleatórios com ele.

Com o meu corpo na frente do liquidificador e o Raad impedido de vê-lo, assim como o movimento das minhas mãos, peguei o frasco que estava escondido e o abri, deixando-o. Tão logo a mistura no liquidificador tornou-se homogênea, eu a despejei na jarra e, depois, dentro dos copos. Em um deles adicionei o líquido do frasco e no outro três colheres de chá de açúcar.

— Prontinho! — exclamei.

Coloquei tudo em uma bandeja e a levei até a mesa. Eu sorri largo para o árabe, que sorriu acanhado para mim.

Antes que ele escolhesse um dos copos, tomei para mim o que estava com açúcar.

— Esse aqui está com açúcar, eu não sabia a quantidade que costuma colocar, nem sequer se gosta de açúcar ou não, então não quis arriscar — expliquei antes que ele perguntasse qualquer coisa.

— Não precisava se preocupar — disse ele, acrescentando o açúcar a seu suco e misturando com a ajuda de uma pequena colher. — E aliás, eu gosto de açúcar sim!

— Claro que precisava! — rebati, mexendo minha própria bebida. — Eu sou muito perfeccionista, não me perdoaria se colocasse a mais ou a menos!

— Tudo bem. — Assentiu sorrindo. — Três colheres de chá são o suficiente, ok?

— Ok, não vou esquecer — garanti sorrindo de volta.

Nos quinze minutos que seguiram continuamos a conversar animadamente, até o psicoativo começar a surtir efeito nele.

— Tenho certeza de que você é muito boa no que faz — disse acariciando minha mão. — Será uma profissional ainda melhor depois que se formar.

— Espero não te decepcionar — comentei encarando nossas mãos juntas. O árabe seguiu o meu olhar e quando se deu conta conta do que estava fazendo, pigarreou tirando a mão de cima da minha como se eu fosse o próprio demônio. Tudo bem que eu não era um exemplo pureza ou saúde mental, mas ele não sabia disso.

— Já deve estar tarde, eu nem percebi o tempo passar — disse passando a mão pelos cabelos e piscando os olhos com força. Ao abri-los novamente, encarou um ponto fixo na mesa, certamente tentando focar a visão, antes de olhar para mim. — É melhor eu ir dormir agora, Michelle. Obrigado pelo suco — agradeceu levantando-se devagar e desorientado, apoiando a mão sobre a mesa.

— Já? A conversa estava tão boa. — Levantei também.

— Sim, a companhia está ótima, mas preciso mesmo ir — disse ele com a voz soando um tanto embolada. — Eu já devia ter ido, na verdade, mas não seria educado recusar o suco, ainda mais depois de sua persistência.

— Tudo bem, não vou atrasar mais o seu descanso — falei e ele riu. — Obrigada novamente pela ajuda!

— Não se preocupe, não foi nada! — disse ele. — Boa noite, Michelle! — desejou desencostando o braço do encosto da cadeira, mas ao dar o primeiro passo sem apoio, ele cambaleou, jogando o corpo para frente e apoiando-se com os antebraços na mesa.

— Meu deus! Você está bem? — Fingi preocupação, me aproximando e tocando em suas costas e braço. Ao fazer isso, senti o corpo do árabe retesar.

— A-acho que eu estou co-com mais sono do que imaginei — respondeu tenso e enrolado.

— Percebi! — exclamei. — Venha, vou te ajudar a chegar ao seu quarto. — disse puxando seu braço para que ele o passasse por volta do meu pescoço.

— É muito gentil da sua parte mas não há necessidade disso, eu consigo. — Ergueu o tronco e deu um passo para trás, mas se desequilibrou outra vez. Eu o segurei antes que ele pudesse cair, porém. — Não vê? — perguntou com um sorriso aberto e os olhos quase fechados.

— Estou vendo sim! — concordei sarcástica e, nessa vez, passei seu braço por trás do meu pescoço sem nenhuma rejeição da parte dele.

O quarto de hóspedes que foi designado para ele não ficava muito longe da cozinha. No caminho ele pronunciou algumas sentenças desconexas, mas que não dei importância. Eu estava excitada demais para me preocupar com qualquer coisa que não fosse a probabilidade do meu plano dar completamente certo.

Abri a porta do quarto dele com um pouco de dificuldade, tentando não deixar que o seu corpo escorregasse pelo meu braço, que não era um dos maiores. O ajudei a chegar até a cama e, sob seus protestos, comecei a despi-lo. Retirei seus sapatos e roupas, deixando-o completamente nu. Seus resmungos cessaram momentaneamente, porém, quando eu saí de cima dele e fui até a porta para trancá-la. Enquanto eu caminhava de volta à cama, retirei o cardigan, deixando que caísse ao chão, desci as alças do vestido por meus ombros e deslizei suavemente o vestido pela extensão do meu corpo até sentir o tecido tocar meus pés, saí de dentro círculo irregular que ele formou no chão ao meu redor e eliminei o espaço que ainda restava entre mim o árabe dopado na cama. Sentei em cima dele, pondo uma em cada lado de seu corpo e acaricie seu peito com ambas as mãos, sentindo os poucos pêlos aparados que haviam ali. Ele ainda se debateu um pouco, mas com menos força e ainda menos êxito do que antes.

— Espero corresponder às suas expectativas, Sr. Raad. — Sorri lascivamente, me deliciando com o olhar assustado e ao mesmo tempo inerte que o árabe dirigia a mim e comecei a mover meu quadril sobre o dele, friccionando nossos órgãos sexuais. — Mas não se preocupe, se eu for bem-sucedida, você terá a sua recompensa, terá a parte que lhe cabe da minha herança.


Notas Finais


Então né, não sei o que dizer além de: Porra, Michelle!

Link da música: https://youtu.be/OvWdmowslCs


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