Após soar o sinal pelos corredores de toda escola os alunos foram obrigados a se acomodarem em seus lugares, sentados por ordem alfabética, alinhados e completamente concentrados nos professores. O silencio no colégio durante o período em que as aulas acontecem é tamanho que a cena é bela, as regras são seguidas à risca pelos alunos pois estudar em um dos melhores colégios da Coreia do Sul também possui suas desvantagens, e, seguir as regras sem exceção com certeza era uma delas, mesmo que existam furos que poderiam ser evitados com uma maior observação dos gestores.
O som das páginas dos livros sendo viradas eram ouvidas pelo lado de fora das salas. O soar do sino assusta grande parte dos adolescentes devido a concentração que mantinham, os alunos se levantam em sincronia, reverenciam o professor presente e só estão liberados quando este finalmente se retira da sala em uma forma de respeito ao mestre que lhes ensina.
O refeitório que até então estava vazio se enche de vozes e passos dando vida ao local. Em uma mesa bem no meio do salão alguns membros do time de tênis se reúnem para almoçar, sentados para esperar a fila diminuir o grupo observa as pessoas que passam ali completamente distraídos e alheios ao que realmente acontecia a volta deles, sem manter de fato a atenção em algo.
Dentre os tenistas ali, estão Wooseok, Jaehyun e Yongbok, os três são como carne e unha, é muito fácil os ver juntos em qualquer lugar do colégio, mas desta vez não estavam sozinhos, Hanse e Jungsu lhes acompanham no almoço de hoje sentados todos de frente para o buffet em uma enorme mesa de piquenique.
- Eu nunca te vi aqui no colégio, você é novo? – Hanse se debruçou na mesa para encarar o novato de óculos redondos semelhantes aos de Harry Potter, não era algo comum vê-lo se juntar aos tenistas, mas a presença do aluno novo atraiu sua curiosidade.
O garoto demorou um pouco para perceber que a pergunta tinha sido para si por isso o encarou até conseguir formular uma resposta que fosse coerente e educada.
- Sou. – Jongsu sorriu de forma gentil para que sua resposta curta não soasse rude, balançou a cabeça para cima e para baixo para dar ênfase ao que dizia.
- Ouvi dizer que você estava em uma excelente escola, por que veio pra cá agora que está quase acabando? – Wooseok ainda não tinha entendido o motivo daquela mudança mesmo que as fofocas já tenham chegado em seus ouvidos.
- Bom eu tenho um irmão muito problemático, vocês sabem. – Jongsu apontou com o nariz para Hajun que estava caminhando em direção a mesa junto de mais dois membros do time.
- É, convivemos tempo suficiente com ele para sabermos disso. – Wooseok revirou os olhos ao se lembrar das coisas que Hajun fazia.
Yongbok encarou o amigo com a expressão um pouco desesperada, Hajun é um idiota sim, mas não deixou de ser irmão do novato, o loiro encarou o rapaz ao seu lado com um pouco de medo afinal não queria uma confusão logo cedo, mas, as expressões de Jongsu estavam tão serena que pôde jurar que este não havia ouvido o resto da conversa.
Em poucos minutos o garoto que era assunto na mesa juntou-se a eles sozinho, seus dois amigos haviam tomado rumos diferentes e se sentaram em mesas afastadas, encarou um por um com um sorriso no rosto, o rapaz de fios castanhos fechou os olhos por alguns segundos pensando em como deveria cumprimenta-los e por incrível que pareça, naquele dia não estava afim de causar confusão, apesar de seu olhar de deboche para Felix.
Simplesmente não conseguia esquecer as palavras escritas em tinta preta daquela carta, se fosse uma pessoa mais sensível aos sentimentos alheios diria que a menina tinha escrito enquanto chorava, pois, a melancolia do que leu era quase palpável, mas não podia perder aquele momento de piada mesmo que não imaginasse que ler em voz alta na frente do sardento fosse causar um surto de ódio nele, bom é claro que algumas palavras suas ajudaram neste tal surto.
Precisa admitiria foi muito divertido poder ver Felix surtar de tanta raiva.
Hanse esticou as pernas e encarou Yongbok, seus pensamentos poderiam ser lidos por qualquer um que ali, entretanto, naquele dia havia acordado disposto e é possível afirmar que sim, estava afim de causar.
- Então você precisa de uma babá? – Hanse carrega uma imagem de garoto malvado, mesmo que quase nunca opte por alfinetar os outros, essa pessoa em questão está lhe tirando do sério já faz algum tempo. Apoiou os cotovelos na mesa encarando o rapaz com uma clara expressão de desdém.
- Como é? – O garoto de cabelos castanhos encarou os orbes negras do rapaz a sua frente desacreditado no que tinha acabado de ouvir, justo no dia que tinha decidido não causar confusão.
- Uma babá. Seu irmãozinho precisou mudar de escola para ficar de olho no bebezão. – O moreno sorriu de lado encarando o jogador esperando por uma resposta dele.
- Você é o cara que fica correndo atrás daquela menina macho. – O castanho apoiou os cotovelos na mesa, é possível ver as veias saltadas em seu pescoço, a expressão de Hanse foi de pura surpresa. – Acha que eu não sei? Eu te vi levando lanchinho pra ela, está gostando de um sapatão, que nojo.
- Hajun! – A voz do líder soou mais alto que o normal, este que até então permaneceu em completo silencio encarou o amigo com as sobrancelhas arqueadas. – Olha o que você acabou de dizer.
Jaehyun franziu o cenho e encarou o castanho, sentiu repulsa pelo que acabou de ouvir, estava acostumado com os deboches e provocações alheias mas aquilo havia passado de todos os limites e estava tomando um caminho perigoso demais. Sua amizade com Hajun começou no início do primeiro ano do ensino médio, o menino sempre teve problemas pessoais graves com o pai por isso manteve sua amizade com ele até os dias de hoje, é como se tentasse ajudar de alguma forma, mas a cada dia que passa este se torna mais agressivo, mais fora do limite.
- O que você disse foi de muito mal gosto. – Felix disse baixo, mas ainda assim foi ouvido.
- O que eu disse? – Hajun gargalha. – Quem pensa que é pra me dizer o que é certo ou errado? Justo o cara que só pensa no precioso time de tênis, essa sua cara de bobo alegre não passa de uma máscara, não é, Sunshine. “Preciso lhe contar, sobre todos os dias em que passei pensando em você, em como meu coração dispara quando vejo seu sorriso de manhã...”
- Cala a boca!
Yongbok simplesmente não suporta ouvir os pedaços daquela carta, aquele garoto fez questão de tocar na ferida mais uma vez, de todos os insultos que ouviu naquele instante o apelido foi seu pior gatilho. Fechou os punhos sob a mesa e de forma bruta agarrou o tecido da gola da camisa do garoto debochado a sua frente, sua expressão era de ódio, seu coração palpita acelerado ao lembrar do momento em que Seo leu na frente do clube inteiro, as palavras de todos do time entram em sua mente mais uma vez. Naquele dia ouviu o quanto era sortudo por ter uma gostosa aos seus pés, ouviu sobre poder se aproveitar da situação, ouviu chacotas direcionadas a sua personalidade e sobre como era ridículo receber uma carta de amor nos dias de hoje. Todos estes fatos veem a tona mais uma vez em sua mente, para quem vê sua situação de fora se imaginar ouvindo tais coisas pode não ser tão ruim assim, mas este não é seu caso, Yongbok é tímido e naquele dia se sentiu completamente exposto, vulnerável.
Suas mãos tremem enquanto puxa o rapaz para cima, prestes a agredi-lo.
- Ficou maluco! Desde quando você é tão agressivo? – Woo puxou o amigo para trás enquanto Jungsu afastou o irmão da mesa.
- Nunca mais repita essa carta pra mim.
- Eu vou fazer muito mais do que repetir ela pra você, vai se arrepender de ter tocado em mim.
Hajun foi praticamente arrastado para fora do refeitório carregando consigo olhares curiosos sobre a confusão na mesa do time, boa parte dos alunos ali encaram a mesa em completo silencio tentando ouvir mais, a fofoca iria se espalhar como praga.
- Porra, você não sabe que ele faz de tudo pra ganhar atenção?
- E desde quando eu sou obrigado a ficar ouvindo as provocações dele, Jaehyun, estou cansado de ser o garoto sorridente, bonzinho e estou de saco cheio de te ver passando a mão na cabeça de gente como ele.
Wooseok e Hanse se olharam cumplices, a raiva de Felix estava se virando contra o líder do time que riu do que tinha acabado de ouvir. Jaehyun é um cara extremamente pacífico.
- Você sabe que eu não sou o tipo de pessoa que procura briga, mas, isso que acabou de dizer é tão ridículo que chega a ser engraçado. Precisa parar para refletir sobre si mesmo, Yongbok. Que moral é essa que possui pra dizer que eu passo a mão na cabeça dele, no dia que ele achou a carta no meu armário e leu pra todo mundo ouvir, não foi com ele que você gritou, não foi ele que foi humilhado e feito de chacota no colégio, foi? – Jaehyun apesar de ser uma boa pessoa possui um senso de liderança muito forte, suas palavras foram como facadas para o loiro. – Cuidado com o que diz, você não está em posição de falar de ninguém e ainda me deve respeito, eu sou o líder do time. Conhece as regras.
O Lee abaixa o olhar passando a língua pelos dentes inferiores, sua expressão ainda era de raiva mas sabe que brigar com o líder poderia resultar em sua expulsão do time oficial, fechou os olhos e respirou fundo antes de voltar a falar.
- Sinto muito. Eu perdi o controle dos meus sentimentos.
- Olha eu sei como está sendo difícil pra você lidar com as gracinhas dele, mas precisa aprender a se por no lugar dos outros. Sabe o quando aquela menina está sofrendo por causa do que disse? – Jaehyun pôs a mão no ombro do amigo em uma tentativa de lhe confortar. – Não pode passar dos limites desse jeito sempre que alguém te provoca, precisa pensar antes de falar, e você também Hanse, a culpa foi sua por começar a provocar ele daquele jeito.
- Sabe muito sobre o motivo pelo qual provoquei ele.
- Tudo bem, já chega, vamos pra outro lugar, tem muita gente olhando aqui. – Woo se levanta levando consigo Felix deixando Hanse e Jaehyun.
Ambos caminharam juntos em silencio pelos corredores até encontrarem o jardim, se direcionaram até um dos bancos que está vazio logo ao lado do corredor que liga os dois prédios. Sentaram- se quase em sincronia.
Yongbok encara o céu pensativo, tentando relaxar os músculos dos ombros que permanecem tensos desde a discussão de momentos atrás. Wooseok olha o amigo com curiosidade, existe uma pergunta presa em sua garganta.
- Ei, eu sei que isso é um assunto chato pra você, mas, que tipo de amizade você tinha com aquela menina? – Woo virou um pouco o corpo na direção dele. – Eu sei que eram muito amigos porque eu via vocês dois juntos quase o tempo todo, mas tipo, como se tornaram tão próximos?
O loiro desceu o olhar para o amigo tão lentamente que parecia estar se movendo em câmera lenta, parando para pensar, nunca havia contado pra ninguém sobre sua amizade com Ahri, era algo tão natural em sua vida que não achou que um dia alguém fosse lhe questionar realmente sobre.
Engoliu seco e respirou fundo, ultimamente estava agindo fora do normal, aquele Felix estressado não faz parte de sua personalidade e talvez aquilo tenha assustado seu melhor amigo, julgando pela maneira cautelosa que recebeu a pergunta e também pelas expressões serias do rapaz de cabelos escuros e maxilar definido. Parece estar tenso.
- Os Kang são muito próximos da minha família. A mãe dela é madrinha de batizado da minha irmã.
- Você tem uma irmã?
- Sim, ela tem treze anos. Me deixe continuar.
- Tá bom, tá bom, me desculpe.
Felix revirou os olhos e soltou uma pequena gargalhada.
- Como estava dizendo. A mãe dela é madrinha de batizado da minha irmã, a senhora Baram e a minha mãe são colegas de faculdade então nós crescemos juntos, Ahri me ajudava com matemática já que ela sempre recebeu aulas do pai quando ele era vivo.
- Era?
- Sim, o pai dela faleceu a dois anos, ele era professor de matemática em uma faculdade daqui, agora não me lembro o nome. Infelizmente o senhor Kang sofreu um grave acidente de moto e acabou falecendo. - Felix cruzou os braços. – Não tem nada de mais em nossa amizade, nossos pais eram amigos e por isso crescemos juntos, bem normal.
Wooseok precisava concordar, não tinha nada demais naquela amizade mesmo que a explicação de Yongbok fosse bem vaga para seu entendimento, estava surpreso por descobrir que Ahri tinha perdido o pai a tão pouco tempo.
- E sobre aquele apelido?
O garoto cheio de sardas gemeu incomodado com aquilo.
- Ela me chama assim desde que éramos crianças, dizia que eu estava sempre feliz, me comparava com brilho do sol por causa do meu sorriso e alegria. – Fechou a cara e lhe encarou. – Se falar que é fofo eu te mato.
Wooseok ergueu as mãos em sinal de rendição.
- Eu nem cheguei a pensar nisso. – Não pensou porque não havia tido tempo. – E você não pensa em ir conversar com ela sobre o que aconteceu?
- Eu até pensei, mas o Youngnam me ameaçou bem antes. – Chegou a segurar o riso, o irmão mais novo dela é meio bobão mas extremamente ciumento sem falar em sua força física.
- O irmão dela? – Wooseok ergueu uma sobrancelha. – Está com medo de um garoto do primeiro ano?
- Talvez. Eu o conheço a tempo suficiente para saber que vou apanhar. – Fechou os olhos, Youngnam treina MuayThai desde seus oito anos de idade, é impossível vence-lo em uma briga.
- Okay mas vocês era muito amigos, eu lembro dela na quadra te esperando todos os dias, além do mais... Você gosta dela bem ai no fundo não gosta?
- O que? Enlouqueceu?
- Não consigo ver o motivo para ser chamado de louco. Qual o problema em gostar dela?
- Chega desse assunto!
Enquanto os meninos conversam, do outro lado do colégio o grupo de amigas se reuniram depois de almoçar, Ahri se sentou no gramado abaixo de uma enorme árvore junto de Jieun, Sarang e por incrível que pareça, Laura. A morena estica os braços para cima e grunhe se espreguiçando, tiveram uma longa manhã de estudos e finalmente havia chegado o intervalo. Como sempre ela estava comendo um de seus pudins de leite.
Em seu canto direito Laura observa sua companheira de clube, em pouco tempo que a acompanhou do refeitório para o gramado pode ver como as pessoas lhe importunam, Ahri chegou a ser empurrada por uma garota que estava atrás dela na fila para pegar a comida. Sentiu como se estivesse vivendo em uma selva onde as pessoas fazem de tudo para acabar umas com as outras, como alguém pode ser tratado daquela maneira por causa de uma simples carta de amor? Yongbok era o tipo de garoto com tantas admiradoras ao ponto daquela menina sofrer tanto bullying?
Aos olhos dela aquilo era ridículo. Negou com a cabeça e respirou fundo para afastar os pensamentos sobre este assunto, não é de sua conta mesmo que em seu coração exista uma porcentagem de preocupação sobre a sanidade de Ahri.
Virou um pouco a cabeça para observar a garota cujo nome lhe soou como um apelido fofo, Sarang chegou pouco tempo depois das outras e acabou se assustando com a presença de uma pessoa nova em seu grupo de amigas, a menina abriu um largo sorriso para cumprimentar o que julgou ser uma amizade nova. Apesar de ver a chinesa andando pelos corredores várias vezes, nunca chegaram a conversar realmente.
Encarou-a atentamente, pele clara, rosto delicado e bem desenhado, cabelos longos presos a algumas presilhas para que os fios não caíssem em seu rosto, acabou sorrindo, mais uma vez, Laura é realmente uma menina muito bonita é impossível não reparar em seus traços. Desviou o olhar da chinesa para Jieun e Ahri que falam em um tom um pouco alto demais para seus ouvidos.
- Sweet, você sabe que eu não consigo fazer isso.
Ahri segura as mãos da amiga encarando seus orbes, os fios de Jieun voam com uma pequena rajada de vento que a faz fechar os olhos por alguns segundos, suplicante encarou a mais velha se aproximando um pouco mais de seu rosto.
- Mas isso é muito importante, você sabe que é especial pra mim, quero que me veja ganhando esse título. Por favor Ahrizinha, juro que vou proteger você enquanto estiver lá. – A fala saiu melancólica quase em tom de choro.
A morena suspira mantendo seu rosto baixo, estava obviamente correndo de tudo que envolva o time de tênis, não apenas por causa da rejeição ridícula que recebeu de seu ex-amigo mas também para evitar dar ainda mais motivos para ser chamada de coitadinha pelos corredores.
Passeou as mãos pelos dedos da amiga pensando no dia em que a conheceu, dia em que enfrentou a senhora Kim a impedindo de apanhar na frente do colégio, foi uma atitude corajosa e bem intrometida de sua parte, mas não podia deixar que uma mãe batesse em sua filha sem motivos daquele jeito, era humilhante demais.
Desde então se tornaram muito próximas, Ahri passou a ser uma das confidentes de Jieun e estaria mentindo se dissesse não saber sobre como o tênis é importante para a vida de sua amiga, sabe bem como seu temperamento mudou desde que passou a praticar o esporte e principalmente em como se dedica diariamente para conseguir ser uma das titulares do time.
- Tudo bem, vou até lá para te ver.
Sarang não pode evitar de deixar escapar um “o que?” ao escutar uma resposta positiva vinda da morena, ergueu uma sobrancelha e encarou a garota bastante abismada com a situação.
- Ahri não é uma coisa muito inteligente de se fazer. Justo agora que o tempo finalmente está passando você vai lá encarar o sorrisinho daquele idiota, é o mesmo que jogar álcool em uma ferida. Você não vai não. – Cruzou os braços negando com a cabeça, seu cenho estava franzido demonstrando a seriedade de sua preocupação.
Laura encarou Sarang por alguns segundos, diante daquela situação ponderou sobre quem teria mais razão naquela história. Encarando sua colega de clube pode notar durante o tempo que passam estudando matemática juntas que ela parece disfarçar muito bem seus sentimentos mesmo que as vezes seus olhos pareçam vagar para outras dimensões, não precisa ser um gênio para deduzir que a Kang estava sofrendo muito por amor por mais que tente esconder com sorrisos, os olhos de uma pessoa nunca mentem seus sentimentos.
Encarando ambas acabou abrindo a boca para falar.
- Desculpe por me intrometer, mas ela tem razão Ahri.
O apoio de Laura não foi bem recebido por Jieun que encarou a chinesa de forma bastante raivosa, estavam ignorando seus sentimentos.
- Mas e eu? Quero que ela me veja, isso não é justo!
- Jieun, você vive vendo o seu precioso Woo, com se sentiria se ouvisse da boca dele que odiou sua declaração de amor? Ficaria bem lhe encarando diariamente? Eu sei como isso é importante para você, mas pense novamente.
Sarang encarou a mais nova com um suspiro preso em sua garganta, odiava confrontar qualquer uma de suas amigas, mas não pode deixar que Ahri se machuque ainda mais.
As perguntas da garota de franjinha fizeram com que Jieun encarasse sua amiga de uma outra forma, a defendeu de Felix no dia em que gritou com ela e agora estava ignorando seus sentimentos, havia se acostumado tanto com sua amiga brincando e tentando lhe unir com Wooseok que acabou se esquecendo completamente de seus sentimentos em relação ao Lee.
- Desculpe Ahrin, você ainda ama o Felix? – Perguntou se abaixando para conseguir a olhar nos olhos visto que os orbes de Ahri ainda estavam presos no chão.
- Sim, eu... Não sei se vou conseguir esquecer ele algum dia. – Respirou fundo e soltou pela boca, segurando o choro que se prendeu em sua garganta. – Não preciso de tanta preocupação, eu sou forte, lembra? Dou conta do recado.
Ahri ergueu o braço mostrando o pequeno musculo que possui no bíceps fazendo as meninas ao seu redor rirem de sua cara, sua atitude de tentar parecer forte a deixou ainda mais frágil.
- Eu preciso ir, encontro vocês amanhã. – Laura se levantou e se curvou gentilmente para elas antes de sair.
- Ela parece ser alguém com opinião forte.
Sarang encarou Jieun pensando sobre sua fala.
- Realmente. – Ahri se encostou no tronco da árvore relaxando com o barulho das folhas balançando com o vento.
- Onde o Hideki está? – Jieun olhou ao redor estranhando a ausência do japonês.
Sarang sorriu animada ao ouvir o nome, passou as mãos pela franja imitando a mania que Hyunjin tem de jogar o cabelo para trás quasse o tempo todo. Jieun abriu a boca ao entender na hora o que aquilo significa.
- Mentira?
Ahri gargalhou, mesmo estando de olhos fechados sabia que Sarang havia gesticulado alguma coisa, conhece muito bem suas amigas.
- Acho que esqueci de contar pra você, esses dias eu fiz uma chamada de vídeo pelo celular do Hideki para o Hyunjin, eles conversaram pouco, mas hoje quando estávamos indo pro refeitório ele chamou Dekki para almoçar junto com ele. – Ahri fez um coração com as mãos.
- E eu não vi a cara do Hideki? – Jieun estava indignada, havia perdido um momento histórico.
- Ele quase desmaiou.
Sarang negou com a cabeça imaginando como estaria sendo aquele almoço, acabou gargalhando ao imaginar na quantidade de vezes que o Hideki gaguejaria na presença de Hyunjin.
- O Hyunjin é bem bonito né? – Sarang pôs a mão sob o queixo pensando na fisionomia do garoto, cabelo longo, pele branquinha, lábios carnudos. – O Hideki não brinca em serviço em.
- E você também não. O Dakho não fica muito atrás do Hyunjin, ele tem um sorriso bonito, gosta de tirar fotos, eu ainda vou te fazer ser a modelo dele. – Ahri disse em tom apaixonado fazendo Sarang lhe jogar um tufo de grama.
- Que modelo o que! – Sarang se levantou, envergonhada. – Tenho que ir pro meu clube.
- Ei Saran’ah. Eu te inscrevi no clube de teatro semana passada, você começa amanhã. – Ahri disse tão casualmente que até Jieun tremeu. – Meu trabalho como seu cupido já começou.
Jeon pôs a mão sob a testa em completo desespero, quando aceitou fazer parte daquilo não imaginou que a amiga levaria o assunto tão a sério.
“Fudeu” pensou após dar as costas para as amigas sem dizer mais nada, caminhando pelos corredores com os ombros baixos completamente perdida em sobre como iria entrar para aquele clube e encarar o garoto, será que ele ainda lembra do fora ridículo que recebeu?
- Ai por que eu dei um fora nele? – Fechou os olhos, mantendo seu ritmo perdido de caminhada acabou esbarrando em alguém. – Me desculpe.
- Sem problemas.
Sarang parou de andar no mesmo instante, aquela voz... Seu dia poderia ficar pior?
Encarando o rapaz atrás de si a menina deu um sorriso amarelo, Dakho estava com uma mão no bolso, seus óculos pareciam escorregar pelo seu rosto. A menina deu um suspiro completamente constrangida por estar na frente do garoto que passa horas stalkeando no Instagram, por um momento o desespero tomou conta de si, será que ele a ouviu conversando sozinha?
- Até amanhã. – Dakho deu um pequeno sorriso que a menina não soube identificar se era deboche ou gentileza.
- Que azar.
A alguns metros dali, mais especificamente no andar de cima está Hideki sentado no fim do corredor, encostado na parede de coloração branca, suas pernas estão encolhidas próximas ao seu peito e seu queixo repousado sob o joelho. Hyunjin havia lhe chamado para almoçar hoje mais cedo, mas por causa de sua timidez acabou arrastando o coreano para o ultimo andar, no final do corredor, não queria que seu melhor amigo se sentisse constrangido por estar almoçando com um gay, por mais que não houvesse problemas para si ser homossexual existe uma politica entre os alunos deste colégio e todo o preconceito que sofre por ser assumido lhe causa bastante insegurança.
Naquele momento, sentado com seu amigo de infância ao seu lado acabou pensando que haviam ficado tempo suficiente longe para esquecerem que eram melhores amigos, e agora o silencio tomou conta do corredor inteiro.
Hideki fechou os olhos, suas mãos tremem visivelmente, sente vontade de chorar, de correr para longe. Está tão tímido que o Hwang percebeu.
- Por quê fica tão nervoso quando está perto de mim? – O moreno perguntou enquanto mastiga um de seus tomates cerejas que estava em seu prato.
O japonês se assustou com a pergunta. Como vai responder aquilo?
- Eu sempre fui muito tímido. Você sabe. – Disse baixinho desconversando. - Eu só não sei o que fazer, já faz muito tempo que não conversamos, temos muita coisa para conversar, mas não sei o que dizer.
- Para uma pessoa tímida, até que está falando bem.
Hyunjin esperava que o loirinho fosse gaguejar como fez pelo telefone, mas isso não aconteceu.
- Bom, achei que seria legal almoçarmos juntos, sinto falta de nossa amizade. Achei que você me odiasse por algum motivo.
- Eu não odeio você! – Hideki alterou o tom de voz e arregalou os olhos logo em seguida. – Desculpe. Eu só não achei que sentisse minha falta, como disse, você sempre tem muita gente ao seu lado.
- Pare de dizer isso, ninguém é substituível. – O moreno colocou a mão sob o ombro do amigo lhe dando um sorriso gentil e inocente, o suficiente para deixar Hideki ainda mais apaixonado, se é que isso é possível.
O momento infelizmente foi quebrado pelo som do sinal anunciando o fim do intervalo, Hyunjin ainda não havia acabado de comer, mas não parece ter se incomodado com isso. Ele se levantou e estendeu a mão para o menor se levantar também, o japonês segurou em sua mão torcendo para que ele não sentisse seus dedos suados de nervosismo.
Os dois caminham escada abaixo juntos, em pouquíssimo tempo Hyunjin foi cercado por um pequeno grupo de meninos e meninas que lhe encheram a cabeça com assuntos sobre algo que fariam juntos durante a tarde, inundado com a conversa o garoto mal percebeu que Hideki havia continuado sozinho pelos corredores.
Procurando pelas amigas o japonês caminhou pela escola inteira, inclusive no clube de matemática onde esperava encontrar Ahri. Desceu pelo jardim e coincidentemente topou com Guinevere. A menina estava com o cabelo preso em um rabo de cavalo, o que lhe chamou a atenção foi o enorme laço vermelho que prende os fios a deixando com uma aparência bastante infantil, mas não exatamente feio, apenas inocente demais.
- Oh, você é amigo de Ahri não é? – Hideki concordou com a cabeça lentamente. – Estou procurando por ela já faz um tempão, você a viu?
- N-não, estava procurando agora mesmo... Se quiser podemos procura-la juntos.
- É claro! Aliás, qual o seu nome?
- Hideki.
- Okay, Hideki, pode me chamar de Beck.
Hideki balançou a cabeça positivamente, a menina parecia ter a personalidade semelhante a de Sarang, falante e animada. Os dois começaram a procurar pela amiga juntos e durante todo o caminho a canadense lhe contou um pouco sobre sua vida e conseguiu fazer o japonês lhe contar um pouco sobre a própria vida também, nada muito íntimo, mas o suficiente para iniciar um bom assunto.
Passeando pelo caminho que liga os blocos até a piscina os dois puderam ver Ahri e Jieun caminhando em direção a quadra de tênis, Hideki fechou a cara e olhou torto para a cena estranhando bastante o caminho que estavam fazendo.
- Sweet! – Por incrível que pareça ele gritou.
Jieun virou o rosto e sorriu ao ver o amigo, estava cheia de perguntas sobre ele e assim que este chegou perto a menina segurou em suas bochechas e lhe encarou com um belo sorriso safado.
- E ai?
- Jieun! - Hideki empurrou a amiga levemente para trás, cruzando os braços de forma fofa. - Vocês estão indo pra quadra?
- Sim, hoje é o dia que vão anunciar o novo time feminino e a Ahri vai lá me ver.
- Vem também. – Ahri se agarrou ao braço do japonês e segurou na mão de Beck encarando os dois de forma suplicante, seus olhos pedem por favor.
- T-tudo bem. – Guinevere encarou Ahri meio sem entender o motivo de ser olhada daquela forma.
Hideki apenas concordou com a cabeça ciente de que não seria uma tarefa fácil para a morena.
Assim então passaram a caminhar juntos, desceram as escaradas de pedra entrando finalmente na quadra de tênis, o som das bolinhas sendo rebatidas faz eco pelo enorme salão, o grupo de amigos seguem direto para a arquibancada se sentando bem no alto, na última fileira na intensão de não serem vistos por ninguém ali mesmo que alguns olhos já tenham acompanhado o grupo afinal o barulho da porta sendo aberta é alto o suficiente para chamar a atenção da quadra inteira.
No meio das arquibancadas logo na primeira fileira um pequeno grupo está sentado na espera do pequeno evento começar, dentre eles estão Jaehyun, Hajun e Jungsu.
O líder está com os olhos presos em um de seus jogadores, prestando atenção em cada movimento que este faz, quase completamente distraído do que acontece bem ao seu lado.
- Quem é aquela menina? – Jungsu encara o grupo de amigas que se senta do outro lado da quadra, acompanhando a garota de cabelos longos com bastante atenção.
Hajun ergue a sobrancelha procurando a pessoa que seu irmão estava se referindo, seguindo o olhar deste para o grupo acabou fazendo uma cara de nojo com o que viu, decidiu falar sobre todos ali.
- A primeira da esquerda pra direita é uma jogadora, o segundo é um viadinho, a terceira não faço ideia e a ultima é Kang Ahri, a famosa garota da cartinha de amor. – Hajun explicou soltando uma pequena risada, Jaehyun lhe olhou com o canto dos olhos. – Fala a verdade Jun, ela é uma gostosa, não é?
Jungsu encarou o irmão incomodado.
- Para de falar desse jeito.
- A Jungsu, você é homem porra, olha pra aqueles peitos. – Hajun deu um tapa no tórax do irmão. – Eu disse pro Yongbok que ele deveria aproveitar que ela é doida por ele e comer logo, mas o cara surtou.
Jungsu revirou os olhos, seu irmão é tão diferente de si que mal pode acreditar que saíram da mesma mãe. As vezes sente medo do que ele é capaz de fazer em seus surtos de raiva, abaixou a cabeça tentando afastar as palavras do próprio irmão de sua mente. Ergueu os olhos disfarçadamente olhando uma ultima vez para a garota, seria difícil ter uma oportunidade de lhe conhecer melhor já que muito provavelmente a menina sinta medo ao descobrir que é irmão do garoto mais otário do colégio.
Mas, não pode negar seu interesse. Respirou fundo e fechou os olhos.
- Vocês não vão treinar?
{...}
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