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História Cura - Capítulo um - 3 de Julho


Escrita por: LeoaMarinha

Notas do Autor


Olá, pessoal! Essa é minha primeira fanfic aqui no SS e está quase toda concluída. É postada, também, no Nyah! Fanfiction. Espero que deem uma chance a esse casal totalmente inusitado. Quem leu no Nyah gostou muito!

Capítulo 1 - Capítulo um - 3 de Julho


"Se tens um coração de ferro, bom proveito. O meu, fizeram-no de carne, e sangra todo dia."

José Saramago

 

    Como de costume, Itachi se levantou junto ao nascer do sol e fez sua caminhada matinal pela vila. Comprou pão fresco, leite e queijo. Saudou os jornaleiros, os donos das mercearias e as donas de casa que sempre encontrava pelas manhãs. Conversou com uma ou outra senhora de idade que apreciava a fresquidão dos amanheceres primaveris sentando-se em sua cadeira de balanço à portas de sua casa. Acariciou um cachorro aqui, um gato ali e apreciou o canto dos pássaros acolá. Quando voltou para casa, derreteu o queijo e o colocou artisticamente sobre um bolinho de arroz. Em seguida, encheu um copo com leite e salpicou uma pitada de camomila. Sentado perto da janela do pequeno loft, Itachi consumiu seu desjejum e observou a vida das pessoas três andares abaixo de si. 

    A guerra acabara há quase três anos, mas ele ainda sentia diariamente a presença dos horrores que vivera desde a noite em que massacrara seu clã. Ainda que a verdade tivesse vindo à tona e que tivesse sido anistiado, Itachi não se sentia merecedor de perdão algum, nem por parte da vila nem por parte do irmão. Sempre que olhava para suas mãos, via a cor do sangue poderoso dos Uchiha sob as unhas e a culpa o assolava e ameaçava consumir sua alma. Que alma?, perguntava-se, amargo. Há muito acreditava que os demônios haviam levado toda a sua humanidade e que, agora, restava apenas uma mortalha que o revestia. Agora, Uchiha Itachi não era mais do que um fantasma assombrado pelo seu próprio passado. Desejava, às vezes, que aquele casal de camponeses nunca o houvessem encontrado após a batalha contra Sasuke, que ele tivesse morrido sob a chuva e ao redor das chamas negras de seu Amaterasu. Entretanto, recebera mais uma chance de viver. 

    Após comer uma fatia de pão, Itachi ligou o rádio e ouviu um réquiem qualquer enquanto lavava as louças e ordenada a cozinha. Sentiu, como de costume, o peso do mundo em seus ombros. Os cabelos negros, agora curtos na altura do queixo, caíram por seu rosto, acariciando seu maxilar e fazendo se lembrar dos dedos de sua mãe afagando sua bochecha. 

    - Kuso. - Ele resmungou, secando as mãos em uma toalha qualquer. 

    Quando pertencia à Akatsuki, aqueles pensamentos não o rondavam tanto quanto agora. Pensando bem, Itachi tinha o que fazer naquela época. Agora, sequer exercia seu ofício de ninja. Em vez disso, trabalhava na floricultura Yamanaka, um lugar calmo e inofensivo, exceto pelas gargalhadas extravagantes de Ino, os choros ocasionais do bebê Inojin e a presença diária de Akimichi Chouji com seu saco de batatinhas chips. Abandonara o hitaiate e as shurikens por opção própria - como hokage, Naruto acreditava em suas habilidades de servir à vila e não gostaria que Itachi houvesse abdicado de seu antigo ofício - e escolhera uma vida mais tranquila, longe das turbulências que o faziam pensar nas atrocidades que bordavam seu passado. 

    Itachi vestiu-se com as tradicionais calças pretas e a camiseta com o brasão do clã Uchiha nas costas, embora não se sentisse digno de carregar o símbolo do clã junto a si. Escovou os dentes, colocou uma das mechas de cabelo que caíam por seu rosto atrás da orelha e esboçou um sorriso simpático - aquele que teria que manter por todo o dia. Fechou as janelas e, após trancar a porta, saiu para a rua. O sol já estava um pouco mais alto e o movimento crescia em Konoha. As crianças já se dirigiam à Academia, sorridentes e empolgadas com o que o futuro ninja lhes reservava. Mal sabem elas… Sussurrou uma voz nas profundezas da mente de Itachi, mais uma vez fazendo-o se lembrar do choro esganiçado de Sasuke naquela fatídica noite. Itachi franziu as sobrancelhas e olhou para seus pés, pensando no quão automático era colocar um na frente do outro e caminhar sempre em frente. Ao chegar à floricultura, deparou-se com Ino já atrás do balcão, sorrindo para ele como quem espera por uma boa notícia. 

    - Ohayo, Itachi-san. 

    - Ohayo. - Ele fez uma breve reverência. 

    - Uma encomenda de tulipas chegará em poucos instantes, você pode receber para mim? Tenho alguns assuntos para resolver. 

    - Hai. - Itachi disse, sem perguntar quais eram os tais assuntos. A vida de Ino não lhe interessava. Na verdade, quase nada lhe interessava. 

    De fato, a encomenda de tulipas chegou em poucos instantes. Ele conferiu a quantidade, separou-as por cores e pagou os senhores que as haviam trazido. Depois de colocá-las em seus devidos lugares, Itachi observou atentamente um pequeno buquê de amarantos avermelhados que se encontrava sobre o balcão. Aproximou-se e conferiu o cartão com os dizeres "Mitsashi Tenten". Itachi formou a imagem da jovem Mitashi em sua mente, sempre séria e com o olhar rígido. Diziam por aí que ela não costumava ser assim, que era alegre e brincalhona, mas tudo mudara no dia em que seu melhor amigo e companheiro de time, Hyuuga Neji, fora morto na guerra. Itachi não conseguia pensar em um bom motivo para aquelas flores estarem ali, mas não se importava de verdade. Bastava que as entregasse à Mitsashi quando ela chegasse. 

    - Konninchiwa, Itachi-san. 

    Ele se virou para trás, deparando-se com a dona do buquê de amarantos. Ela trajava um simples vestido marrom que a cobria até os calcanhares, levemente justo na cintura, e trazia a sombra de um sorriso forçado nos lábios. Não parecia nada alegre e brincalhona, tinha os olhos avermelhados e suas mãos tremiam levemente. 

    - Tenten-san. Ohayo. - Ele pegou o buquê. - Acho que lhe pertence. 

    - Hai. - Ela se aproximou, estendendo a mão para as flores. - Quanto fica? 

    Itachi fez um cálculo rápido, disse o valor à moça e esperou pelo dinheiro. Após receber o pagamento, reparou no quanto ela olhava com pesar para as flores. 

    - Significam imortalidade, vida eterna, fidelidade. - Ela sussurrou para si mesma, os lábios junto às flores e o nariz aspirando o perfume. 

    Com essas palavras, Tenten deu as costas e saiu da floricultura, deixando Itachi refletindo acerca daquelas poucas palavras. Ele soube, após aquelas palavras, que as flores eram para o garoto Hyuuga, aquele por quem diziam que a Mitsashi era apaixonada. Sim, Itachi tinha certeza de que os boatos eram verdadeiros. Ainda que se fechasse para o mundo, ele sentiu uma pontada em seu peito. Seu coração, que às vezes se mantinha adormecido, agora parecia sofrer. Uchiha Itachi sabia o conceito de empatia, sabia se colocar no lugar dos outros. E, ao lembrar-se dos olhos vermelhos da Mitsashi, conseguia se colocar perfeitamente do lugar dela. Nunca tivera coragem o bastante para visitar os túmulos dos pais, pois sabia que fazer aquilo lhe tiraria o pouco de vontade de viver que ainda lhe restava. Pensar na dor de ler dizeres e datas de nascimento e morte em lápides o fazia querer se esconder dentro de si, enrolar-se ao seu redor como um gato faz em tempos invernais. Entretanto, não lhe restava anda além de seguir em frente e torcer para que uma doença crônica o atingisse e o matasse em pouco tempo. Pensando bem, cruel como fora no passado, talvez os deuses tramariam para matá-lo de forma lenta e dolorosa. 

 

*** 

 

    Perto da hora do almoço, quando Ino retornou, Itachi percebeu que ela não tinha mais o mesmo bom humor que demonstrara de manhã cedo. Ele estava sentado atrás do balcão quando ela se aproximou e se debruçou sobre o tampo de madeira, apoiando o rosto abatido na mão esquerda. 

    - O que houve? - Ele perguntou, calma e educadamente. 

    - Hoje seria o aniversario de vinte e um anos do Neji. - Ela suspirou. - Ele era um bom amigo. 

    - Todos vocês pareciam gostar muito dele. 

    - Não tanto quanto a Tenten. - A voz de Ino não passava de um fio quase inaudível. - Ela chorou muito. 

    Então, Itachi ligou os pontos. Os assuntos que Ino precisava resolver estavam relacionados àquela data. Provavelmente, a Yamanaka fora ajudar a amiga a sobreviver àquele dia tortuoso. 

    - Você é uma boa amiga. 

    - Tento ser. - Ela planou ambas as mãos no balcão e fitou os próprios dedos. - Gosto de pensar que eles também estarão lá por mim quando for o dia de eu visitar a lápide do meu pai. 

    Itachi engoliu em seco, mas não demonstrou seus sentimentos - medo, raiva, confusão, ódio por si próprio. Sentia-se envergonhado por não ter a mínima ideia de qual era o epitáfio de seus pais. Entretanto, preferia poupar-se daquela dor incomensurável. 

    - Acho que eu estarei lá por você. 

    - Arigatou, Itachi-san. - Ela sorriu abertamente, o que fez com que seus olhos azuis se fechassem. - Você também é um bom amigo. 

    Com essas palavras, Ino se retirou e foi para a estufa. Itachi ainda estava processando o que ela havia dito quando, encarando a entrada da floricultura e mal processando a imagem das pessoas que por ali passavam, disse de si para si, a voz sombria e opaca: 

    - Tento ser. 


Notas Finais


E então, o que acharam? Deixem comentários, eu ficarei muito feliz.
Beijox <3


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