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História Dallas - Tobias - capítulo 14


Escrita por: biancamota

Notas do Autor


oi oi oi oi oi tá diferente tomara que vocês gostem

Capítulo 14 - Tobias - capítulo 14


Tobias - capítulo 14    10/04/2019 

Eu ia socar a cara dele. 

–Cara, nem ferrando! 

De verdade. Já tinha tentado respirar cinco vezes, mas não ia conseguir me controlar. Se ele não tirasse aquele sorriso idiota do rosto, eu ia quebrar todos os seus dentes. Um por um. 

–Você não vai!

–Juro pela minha vida que eu vou. –Caleb se exibia como um porco sujo nojento, prestes a ter o nariz quebrado em aproximadamente sete par... 

–Trenty. Ei, Trenty! –Gonzalez estalou os dedos na frente do meu rosto, diversas vezes. –Olha o que você fez aqui, seu babaca! 

–Ah, quem liga para o Trenty? Ele tem a Tiffany para fazer o que quiser. Vamos nos focar em nós, meros mortais, que não somos considerados a porra de um Deus nessa escola. –Ivan bateu no seu armário. –Conta essa merda do início. 

–Ah, qual é, galera. Ela nem é tudo is... 

–Cala a boca, Joe! –todo o time de futebol parou para olhá-lo com raiva. 

Puta merda. Aquilo não podia ser verdade. 

Eu me recusava a acreditar. Não só porque seria obrigado a matá-lo se não estivesse mentindo, mas porque… 

–Tá, tá. Eu vou contar.  –ele subiu no banco de madeira no meio do vestiário masculino, vestindo nada mais que uma toalha, e penteou o cabelo com os dedos. Filho da... –Tava hoje andando pelo corredor, indo pro refeitório. Exalando beleza, charme, auto... 

–Deixa de ser idiota, cara. –Dimmy berrou, acertando a barriga dele com uma toalha. 

–Tá, tá. Aí eu vi a Gabby, andando como quem não quer nada, sabe? E ela sorriu pra mim. Juro que sorriu. –alguém murmurou alguma coisa com desgosto. –Eu pensei “por que não?”. Convidei a gata pra sair, tá ligado? 

–Espero que tenha usado exatamente esse linguajar e que a garota tenha sido inteligente o suficiente para notar que você, obviamente, não fez o ensino fundamental. –Grande-D falou, já vestido e com o cabelo penteado. 

Parecia o único que não tinha petrificado quando Caleb informou que ia sair com Dallas no meio do seu banho, depois do nosso treino de futebol. 

–Deixa o cara falar, Grande-D! –Ivan revirou os olhos e cruzou os braços. 

Cara, eu não estava sentindo minhas pernas. Nem meus braços. Nem a droga do meu corpo inteiro! 

–Enfim. Eu assumo que ela, tipo, deu uma hesitada. Achei que ia dizer não. Mas aí, sei lá o que deu, e... Puf. Tenho um encontro marcado para sexta. Fácil assim. 

Se uma formiga tivesse gritado naquele exato segundo, todos aqueles garotos seminus teriam ouvido. 

–Puta que pariu, Caleb! Para de mentir, seu cabaço! Não pode ser verdade. Para, para. –Kevin bateu seu armário de novo, mais irritado do que antes. 

–É, garotas como aquela não se interessam por ruivos sem graça igual você. Elas querem um chocolate cheio de músculo e cor, como eu. Tá me entendendo? –Erick sorriu, beijando os próprios músculos. 

Eu ia vomitar. Sim, só podia ser. Aquela sensação era de vômito. Ou ódio puro. 

–Não acredito que no final das contas, depois de sair com o Trenty, ela vai sair com você. –Dimmy reprovou com a cabeça e colocou seu uniforme sujo no armário. –Três semanas de puro tesão pra descobrir que a garota é fácil assim. 

Meu Deus. Eu ia matar todos eles. Sentia minha mão, fechada com tanta força, que parecia que meus dedos estavam prestes a quebrar. Ia arrancar a cabeça de cada um deles se continuassem falando dela como se fosse uma… coisa. 

–Parece que seu ego tá meio ferido, né, Trenty? –Caleb piscou para mim. Puta merda, meu corpo todo estava fervendo. –Pode ficar tranquilo. Vou pegar leve, que é pra você poder usar depois também. 

Nem vi meus braços indo em sua direção, muito menos meu punho acertando seu rosto. Mas senti. Ah, se senti. Com todos os nós dos meus dedos, no maior prazer do mundo. 

–Ei, calma, cara! –Erick segurou meu corpo, mas soltou em seguida quando viu que eu estava parado no lugar, respirando fundo. 

Caleb estava no chão. Não tinha porque dar nele outro soco; eu já tinha conseguido o que queria. O sangue escorria do seu nariz, e ele iria pensar duas vezes antes de falar uma merda tão grande. Idiota. 

–Ficou maluco?  –seu lábio também estava sangrando, e a voz saiu um pouco mais aguda pela irritação. –Vai se foder! Se sente melhor agora? É? Ajudou a superar o fora que você levou? Vê se cresce. 

–Pega leve, Caleb. –Joe o pegou pelos ombros e o levantou. 

–Pega leve o cacete! Esse babaca aqui pensa que é o dono da escola. Só porque seu pai é o ex-prefeito? É isso? Acha que pode socar qualquer um? –agora os meninos que seguravam os ombros dele, porque suas veias do pescoço estavam saltadas e seu rosto vermelho, o que não era bom. 

Mas eu não ia dar outro soco. Ele não merecia que gastasse o gelo que tinha em casa só porque acertei sua cara. 

–Não tô tristinho de você sair com ela, seu escroto. -mais ou menos. Mas ele não precisava saber. -Mas tô cansado de ouvir você falar merda. Gabby não é algo para você usar. 

–Vamos, Trenty. Vamos sair daqui. –Kevin pegou meu braço, mas não mexi um músculo do corpo. Parecia errado dar um soco em alguém e não ouvir as reclamações da pessoa sobre isso. 

Além do mais, eu queria estar aqui para a próxima vez que ele tentasse abrir a boca para falar de Dallas. 

–Sabe o que é, Trenty? Você se acha demais. –Caleb se soltou, mas nem sequer fez questão de tentar me bater. Ele sabia que não tinha chances comigo. Cuspiu um monte de palavras na minha cara, ao invés disso. –E você nem é tudo isso, tá ligado? Seu pai tá morrendo. Daqui a pouco, não vai passar do órfão da cidade. E aí? Como vai fazer para aumentar sua média na escola sem ser o filho do ex-prefeito? 

Meu coração estava doendo. De verdade, de uma forma física, de um jeito que estava impedindo minha respiração. Eu estava sentindo um ódio tão grande, que seria capaz de matá-lo, ali mesmo. 

Tentei respirar fundo. Muitas vezes. 

O time inteiro estava reunido ao nosso redor. Todos me olhavam, prontos para interferir caso eu voasse em cima dele. 

Fechei os punhos algumas vezes e arranquei do armário a camiseta que estava usando antes do treino. Minha cabeça latejava com a raiva, e estava com a mandíbula fechada com tanta força que achei que fosse quebrar meus dentes. 

Dei três passos largos, que colocaram meu rosto perto do seu. Desse ângulo, Caleb estava bem mais assustado, se encolhendo aos poucos. Patético. Eu tinha muito mais de altura do que ele.

Queria arrancar sua língua fora. Mas tinha tantas coisas… Faltava apenas pouco mais de um mês para nossa formatura. Eu não podia arranjar problemas. Tinha que dar exemplo também, como capitão do time e responsável pela Kylie. 

E aquele idiota não merecia meu tempo. Eu repetia isso várias vezes na cabeça.  

–Você pode falar o que quiser do meu pai, das minhas médias ou da minha família. Mas se tentar encostar o dedo na Gabby, ou se eu souber que tá falando sobre ela por aí, eu juro; vou te fazer implorar pra que tivesse nascido sem língua. 

Dito isso, carreguei meu corpo pesado e dolorido para fora do vestiário de Safford High School. 


 

Algumas merdas acontecem na vida, de vez enquanto. Merdas pequenas que nos fazem seguir em frente e, a longo prazo, sermos pessoas melhores. 

Minhas duas merdas foram grande demais e não me deixaram nenhum “longo prazo” para que transformasse em algo construtivo. 

Meus dois pais tiveram leucemia. Os dois. 

Primeiro quando eu tinha dez anos. Minha mãe foi diagnosticada com a doença em uma quarta, quando desmaiou no banho e a levamos ao hospital, a muito contragosto vindo do meu pai que repetia que “não devia ser nada” –ele não queria escândalo, porque era época de campanha.

Aí aquele médico careca idiota da cidade vizinha disse que ela estava morrendo. 

Minha mãe. 

Nem sequer consideraram fazer tratamento; a leucemia era do tipo aguda, e, ao que sabíamos, aquilo podia matá-la em poucas semanas, ou até dias.

Foi uma merda. Uma grande, enorme, idiota e estúpida merda. Não fomos uma família que aproveitou o tempo, ou que tentou não ligar e seguir com a nossa vida. 

Lembro que fiquei irritado com ela, com todo mundo. Principalmente meu pai, porque não olhava mais para nenhum de nós. Como se quisesse evitar pensar naquilo. Todos estavam zangados e indignados demais que ela estivesse realmente nos deixando para lembrar que, na verdade, não era sua culpa. 

Hoje em dia, gostaria de ter feito diferente. Teria berrado com meu pai para ele deixar de ser um desgraçado egoísta e voltasse a falar com ela, teria tirado várias fotos para guardar, teria dormido na sua cama todas as noites –o que nenhum de nós fazia porque minha mãe passava a noite vomitando sangue. Teria feito memórias, feito-a feliz, tentado fazer com que risse todos os segundos.  

Minha mãe também não levou nada bem essa história. Lembro de ouvi-la chorar todas as noites, de sentar no seu colo, algumas poucas vezes –porque tinha medo de machucar seu corpo, tão... magro –e pedir para que, pelo amor de Deus, não nos deixasse. Aí suas lágrimas só pioravam, ela começava a tossir e, de repente, outra roupa minha estava suja de sangue e meu pai estava me pegando pelos braços e reclamando que, porra Trenty, você não deixa sua mãe em paz. 

Foi uma merda. Uma grande, enorme, idiota e estúpida merda. 

Ela morreu duas semanas depois. E, por mais egoísta e horrível de se dizer, foi um alívio. Porque mamãe tinha sofrido muito pouco tempo, e eu não sabia quanto tempo poderíamos aguentar a situação sem explodir.

Papai voltou ao normal, voltou a sorrir, a parar de falar palavrão na minha frente. Chorei todos os dias por uns três meses, e acho que ele também, mas nunca discutimos sobre isso. Os Trenty eram bons demais para falar sobre morte. Não precisávamos dessas coisas sentimentais. 

Ele nunca tinha sido muito presente. Aí, quando ela morreu, foi apenas mais uma desculpa. “Olha, Trenty, eu não vou poder jantar hoje. Preciso trabalhar na minha campanha; agora que... bom, que ela morreu, acham que não sou capaz de cuidar de vocês e da cidade. Tenho que manter minha imagem. Não me esperem acordados.” 

E isso era para uma criança de dez anos, cuidando de uma de quatro.

O cara era um ferrado. 

Um ferrado que teve leucemia, quatro anos depois, quando eu tinha quatorze. Só que leucemia crônica, da que pode levar meses e até anos para ser mortal. Para que tivéssemos que cuidar dele por muito tempo, ainda. 

De início, meu pai não quis aceitar. Continuou trabalhando, continuou dando discursos, continuou não voltando para casa na maioria dos dias. Continuou continuando, por muito tempo. 

Aí, em um discurso no Festival de Inverno de 2015, começou a falar muitas coisas que não faziam sentido, a suor feito um porco e do nada desmaiou. Pra valer, com a cabeça batendo no chão, a boca aberta. Muita gente chegou a pensar que tinha morrido. Eu pensei que ele tinha morrido. 

Por um segundo, foi só um choque grande demais para que eu processasse. Pensei, rapidamente, que talvez aquela fosse a melhor alternativa. Ele teria morrido fazendo o que gostava, discursando, e nem tinha chego na parte difícil da doença.

Mas aí lembrei que tinha quatorze anos, que tio Evan não morava na cidade e que não tinha jeito nenhum de sustentar Kylie, de oito anos, completamente sozinho. E acabaríamos em um asilo. 

Não era justo comigo. Com a Kylie. Com ninguém! E ele era tão egoísta se pensava que podia morrer ali, chamando atenção, como sempre.

Horas depois, no hospital, meu pai pediu desculpa.  

Mas nós, de novo, não discutimos. Nunca discutíamos. 

Agora, eu acordava e me atrasava para a escola todo o dia para fazer uma quimioterapia que ele nem queria. Por quatro anos. 


 

No dia seguinte ao acidente com Caleb, na quarta, fomos todos almoçar na Marny. Tiffany estava particularmente irritada nesse dia e berrou quatro vezes que não devíamos ir. Mas eu precisava. Queria tanto ver o rosto de Dallas, que chegava a doer. 

Desde sábado retrasado, quando havíamos nos beijado, não tinha visto nem resquícios da sua existência e, se não fosse pelo ridículo fato de que sabia que tinha um encontro na sexta, já acharia que tinha se mudado. 

–Tá, Trenty. Presta atenção: sei que você não tá acostumado, então vamos falar com calma. –Dimmy e alguns garotos me pararam na porta do restaurante, trancando a entrada. Caleb já estava lá dentro. 

–Temos regras, cara. –Ivan bateu no meu ombro, feliz. Como se fosse uma vitória compartilhar isso comigo. 

–São simples, mas evitam toda essa coisa de desconforto entre rapazes, sabe. –Kevin também bateu no meu ombro, mas sua mão permaneceu lá. Por tempo demais. 

–Ah, eu vou entrar. Já tenho a minha garota, não preciso aturar isso. –Joe já estava entrando, quando Liam murmurou: 

–Se é que aquilo é uma garota mesmo. 

Todos os outros riram. 

–Tá, foco, rapazes. –Dimmy bateu as mãos. –Você tá preparado? 

Cruzei os braços. Se Caleb estava lá dentro, é porque essa merda toda era sobre Dallas. Estava calor, o sol queimava minha pele, e algo me dizia que eles não me deixariam simplesmente ignorar aquilo. Idiotas. 

–Regra um! –Erick engrossou a voz, indicando o número com os dedos bem na minha cara. 

–Você pode dar em cima da garota. Mas não quando seu amigo estiver escutando. –Dimmy segurava um microfone de imaginação nas mãos. 

Meu deus. Eu não conseguia acreditar naquilo. 

–Regra dois! –Kevin fez o número dois, na minha esquerda. 

–Você não pode convidar a garota pra sair até que seu amigo tenha saído com ela.

Puta merda. Como eu gostaria que Roy estivesse aqui, para mandar todos calarem a boca sem se importar se isso seria rude demais. Eu já tinha estourado minha cota de grosseria naquela semana, e sabia que tinha um limite entre xingá-los e se tornar um pé no saco total de ter por perto. 

–Regra três! –Liam quase acertou meu rosto fazendo um... quatro? 

–Porra, Liam, isso é um quatro, seu cabaço! –Kevin bateu na sua cabeça. 

–É que de quatro é melhor, entendeu? 

Todos o socaram no braço, com muita força. Sinceramente, era cada coisa que aqueles garotos falavam, que eu tinha desistido totalmente de tentar defender o sexo masculino, no geral.  

Depois de arrumar aquilo, Dimmy continuou: 

–Nunca, nem pensar, de jeito nenhum, encoste sua boca.... 

–Ou qualquer parte do corpo! –Lenny lembrou. 

–...isso. Ou qualquer parte do corpo na garota do seu amigo até que eles tenham saído. 

Sendo assim, todos eles me olharam, ansiosos. 

–Tá bom. 

Eu não ia discutir. Tinha passado daquela fase fazia muito tempo e, sinceramente, até o Buddha invejaria a paz de espírito que eu tinha encontrado em simplesmente ignorar o que eles falavam. 

Enquanto usavam seus neurônios que tinham sobrado, entrei no restaurante sem ser notado. 

Vi primeiro a mesa com toda a equipe de torcida. Eu sabia o nome de todas elas, tinha certeza. Além de Tiffany, todas ali já haviam tentado falar comigo, ou já haviam ficado com alguém do time. 

Mas ia ter que usar meu cérebro e toda capacidade, se quisesse fazer isso rápido, porque tinha umas que pareciam exatamente igual. Me salvando da situação constrangedora, Marny empurrou a porta da cozinha e sorriu para mim com muita felicidade. 

–Trenty! 

–Marny!

Ela colocou as mãos enrugadas na lateral da minha cintura e me abraçou.

–Como você está, filho? Tudo certo em casa? 

–Tudo sim.

Mesmo sem querer, eu estava procurando a Dallas. Ela estava no final do restaurante, passando pano em uma mesa, e não parecia ter consciência de nada mais ao seu redor. 

Cara. Eu sempre me esquecia o quanto era bonita. 

Estava com o cabelo cacheado preso em um coque alto, exibindo o pescoço que uma semana atrás eu tinha beijado. 

Parecia uma realidade muito distante, agora. Ela parecia… inalcançável. 

–Você deixou ela escapar, né? –Marny reprovou com um movimento de cabeça. –Essa geração desiste fácil demais. Na minha época, os garotos não paravam de ir no nosso portão até a gente casar. Era preciso muita dedicação. 

–A casa dela não tem portão, acho que isso afetou bastante o pedido de casamento. Deve ser por isso que ela disse não, com certeza. –dei de ombros, encarando enquanto Caleb fazia sua caminhada da vergonha até ela. 

Dallas nem notou sua chegada. Parecia realmente concentrada e triste demais para aquilo; seus olhos não se desviaram da mesa até que ele tocasse aquelas mãos idiotas nela. E então, ela voou para o outro lado. 

Chupa essa, Caleb. Seu... 

–Se um portão fosse seu único problema, Trenty, você estaria beijando o chão. Enquanto isso, não deixa aquela pobre garota nas mãos dos seus amigos. –Marny bateu de leve no meu ombro e foi para trás do balcão. 

Porra. Ela estava sorrindo para ele, sendo simpática. Daqui, eu podia até dizer que estavam falando sobre algo engraçado. Será que era sobre mim? Será que estavam rindo do quanto eu poderia parecer idiota, parado e petrificado encarando eles sem vergonha nenhuma na cara? 

Meu Deus. E se ela estivesse falando que eu beijo mal? 

–Vamos, Trenty. Vamos sentar e recuperar sua dignidade com um burrito. –Dimmy me puxou pelo braço até uma cadeira. 

Para. Eu não podia ser tão trouxa assim. 

Assim que me sentei na cadeira, junto com todo o time de futebol e algumas garotas, vi que quase todos me encaravam. 

–Oi, Trenty. –Tiffany, em um piscar de olhos, estava sentada em meu colo. Mesmo. No meio do restaurante. 

–Oi. –cocei a nuca, envergonhado. –Hm... Você se importa de, tipo, sair daí? 

Ela mal piscou. Estava com a mão apoiada no meu peito, brincando com a gola da camisa, e as pernas apoiadas na minha coxa esquerda. 

Como que lidava com algo como aquilo? Não tinham ensinado na escola. 

–Na verdade, me importo sim. Agora, antes de tudo, quero falar que super entendo porque você saiu com aquela... garota, e que te perdoo. Ela é nova e é natural surgir um tipo de curiosidade. Já passamos essa fase do nosso relacionamento. –seu lábios encontraram minha bochecha, bem rápido. Meu Deus, essa garota tinha problema. –Então, como pedido de desculpas, aceito que você me leve para um encontro na sexta. Pode ser? 

Todos da mesa estavam olhando. Merda. Dallas estava olhando, com tanto… como se já estivesse esperando por aquilo, que eu fosse idiota. 

Mas eu não era! Ah. Estava tão cansado de interagir com as pessoas, sinceramente…  

–Na verdade, não pode não. –a peguei pelos braços e fiz meu melhor para tirar seu corpo do meu colo antes que... coisas sérias acontecessem comigo. –Sexta eu... eu... tenho um compromisso. Desculpa. 

Achei que ela fosse chorar. Achei mesmo. E, cara, se começasse, seria meu fim. Eu não sabia lidar com qualquer tipo de choro. Mas aí Tiffany só abriu um outro sorriso e desafiou minha sanidade com os olhos. 

–Então continuamos com os planos de sábado mesmo, gatinho. –deu meia volta e se sentou no seu lugar. 

Não tinha nenhum plano sábado. Mas não achava que seria bom para minha saúde lembrá-la disso. 

Eu estava no meu ápice. Se qualquer pessoa decidisse ser idiota daquele jeito na minha frente de novo, iria surtar. 

Quer dizer, que merda de joguinho era aquele? Eu sabia e todo mundo sabia que Tiffany não tinha a menor chance comigo. Ela era mesquinha, superficial e bonita demais para o seu próprio bem. Quando tentamos ter alguma coisa, na oitava série, a garota passava mais tempo tirando foto do que conversando comigo, e tinha sido um… desastre. 

Eu sabia que era para atingir a Dallas. Mas ela não parecia saber que a Dallas não estava nem aí para mim. Podia parar de me usar e sentar no colo de Caleb, o impacto ia ser bem maior. 

–Viu? Eu falei que a gente não precisava se preocupar. –Ivan falou, revirando os olhos. –Esse filho da mãe tem sempre um rabo de saia por perto. 

–Como se você não tivesse, querido. –Stella o provocou. 

–Ah, gata. Tô falando dos que valem a pena. –neste momento, não houve um olhar que não caísse sobre Dallas e sua inocência genuína. Ela nem sequer estava prestando atenção na gente. 

–Ah, sim. Vocês querem pedir? 

As garotas riram. 

–Depende. Você está cobrando o encontro ou vem de brinde com o almoço? –Liam perguntou, ao meu lado. Soquei seu braço com toda a força que tive. 

–Cala a boca! 

–Ai, Trenty! Doeu. 

–Era para doer mesmo. –Caleb falou, parado ao lado de Dallas. –Trata ela direito. 

Queria que o Grande-D estivesse ali. Ele nunca almoçava com a gente, porque não conseguia aturar o que aqueles garotos falavam. Mas, um soco dele, e todos iriam se comportar direito. 

Ela piscou e, talvez, tenha me olhado por um segundo. Mas foi tão rápido que tentei não me iludir. 

–Se você precisa pagar por um encontro, não quero nem imaginar o que faz por uma transa. –Dallas abriu um sorriso angelical, como se não tivesse falado nada. –Quando quiserem pedir é só me chamar. 

De repente todos os garotos estavam rindo e batendo palma, enquanto Liam assumia seu erro. 

Eu só queria me enfiar em um buraco. Aquele não estava sendo meu melhor dia.  

 

–Não acredito em você. –falei, cruzando meus braços no balcão. 

Ela parou com o pano e me furou com os olhos. 

–O que você tá fazendo aqui?

Todos já tinham ido embora. Eu tinha fingido ir um pouco antes e estava apenas matando tempo na barbearia do Sr. Yonk, do outro lado da rua. Assim, estávamos sozinhos e livres no restaurante. 

–Vim perguntar por que você vai sair com o Caleb. Quer dizer, eu entendo, não deu certo entre a gente… Mas o Caleb? Você consegue bem melhor. 

Me sentei na banqueta. Sentia as palmas das mãos suadas, porque nunca tinha feito aquilo, me humilhar daquele jeito. Mas não dava para ignorar. 

Nenhum daqueles panacas mereciam ela. Se soubesse o que falavam, como se… Não. Eu não era capaz de aceitar e deixar que estragasse assim sua vida, se envolvendo com eles. Mesmo que não gostasse de mim. 

–Olha, a gente fez um acordo, tá? Eu vou deixar você em paz. Não precisa... sair com outras pessoas pra provar nada. –cocei a cabeça, como um truque para demonstrar o quanto estava confuso. 

Meu coração estava martelando no peito. Droga. Mesmo depois de ser pisoteado, chutado à escanteio, largado e abandonado, aquela garota ainda era bonita pra cacete. 

Tobias zero, Dallas trezentos mil.

Dallas mal teve reações físicas. Ela continuou limpando, sem olhar para mim, com o rosto mais neutro do que possível. Se alguém conseguia ser indiferente, aquela menina superava sem nenhum esforço.               

Segui com meu discurso 

–Mas, olha, se você for sair porque gosta do Caleb e essas paradas... Você gosta? Dele? –quase perguntei se gostava de mim, mas minha dignidade se manteve presente e, pela primeira vez naquelas semanas, útil. 

Ela deu de ombros. 

–Ah... então, esquece o que eu falei. –tinha hipopótamos pisoteando meu peito, naquele instante. 

Tentei dar um passo para longe, mas... Porra. Como ela podia gostar de alguém como o retardado do Caleb? 

–Você gosta mesmo dele? De verdade? Porque, sabe... ele é um... 

–Tobias! –suas mãos bateram no balcão em um impacto que quase sacudiu meus ossos. –Olha aqui, vou falar uma vez só. Você não teve, não tem e nunca terá nada a ver com a minha vida pessoal. Não preciso dar explicações, discutir sobre ou sequer ouvir qualquer coisa que tenha a falar sobre isso. Então, se já se cansou de ser um arrogante egocêntrico, que acha que qualquer decisão que EU faço tem que ser ligada a você, pode ir embora. 

Pelo amor de Deus. Como... o que... mas... Pelo amor de Deus! 

Aquilo só podia ser brincadeira. Eu estava só... 

–Tá. Tá bom. –meu pulso estava acelerado, meu coração martelava no peito e... nossa, eu poderia tranquilamente dar na cara de alguém naquele momento. –Quer saber, Dallas? Você... 

Calei a boca. Calei a boca porque não valia a pena discutir. Sabia o que tinha acontecido no sábado, sabia que aquela garota estava doida por mim e que, com toda certeza, sua cabeça devia ser muito ferrada para estar falando aquilo. 

É. Isso aí. 

Tobias quinhentos, Dallas dois. 

Caminhei em passos bem pensados até a porta do restaurante. Marny não estava ali, e Ric arrumava uma mesa muito distante da gente. Não o suficiente para não ter parado tudo para prestar atenção quando Dallas começou a berrar comigo, mas o suficiente para fingir que não estava ouvindo quando o encarei. 

Nem olhei para trás ao sair de lá.  

 

–Não! 

–Sim! 

–Barak Obama não é um presidente corrupto! –Kylie bateu o pé no chão duas vezes, o que foi muito para o Roy.

–Meu Deus! Eu não estou falando isso. Mas você precisa entender que, porra... 

–Roy! –soquei seu braço. 

Eu precisava tirar o vaso de perto dos dois. A mão deles estava agitada demais, e sempre acabava em porcaria quando falavam sobre política. 

–Tá, tá. Foi mal. –ele balançou a cabeça. –Mas não pode não ter saído nem uma notícia sequer sobre ele. É impossível. Me ajuda aqui, Trenty. Isso é uma palhaçada. 

–Vocês não querem assistir Harry Potter? –os dois me olharam, do jeito que James Bond olharia para seu alvo mais letal. –Não? Tá. Tudo certo. Eu vou só... Me dá essa faca aqui, Kylie. 

Era para ser uma quinta feira tranquila. Fazia uma semana que eu tinha “brigado” com a Dallas no restaurante e só queria jantar com meu melhor amigo e minha irmã depois de passar vários dias me sentindo um lixo.

Eu gostava muito dela. Mas estava determinado a superar aquela merda. Já tinha muita confusão na minha vida e lidar com ela era simplesmente… instável demais. 

–Não é só porque você não viu uma coisa que ela tenha que existir, Roy! Isso é uma filosofia de... gente boba. 

–Gente boba? 

–Tenho onze anos. Eu não posso falar palavrão. Não mude de assunto! 

–A-há! –pulei da cadeira da cozinha. –Então você assume que é uma criança? 

–Se eu fosse, seu melhor amigo estaria discutindo muito sério a ponto de ficar no tom Vermelho-Garry com uma criança, o que pegaria mal não só para ele, completamente idiota, mas também para você, por apoiá-lo e considerá-lo especial o suficiente para passar parte dos seus dias possivelmente amando-o. Ficaria ridículo para os dois. 

Nós nos encaramos. Roy abriu e fechou a boca duas vezes, o que foi muito sábio de se fazer. Tínhamos que escolher bem as próximas palavras, ou Kylie ia, de algum jeito, nos fazer pagar. 

–Você é totalmente uma pré-adolescente. –falamos juntos, rápido e baixo para que não aumentasse tanto a moral dela. 

Manipuladora do caramba. 

Aí Kylie saiu, deixando eu e o Roy olhando o rastro que sua arrogância e confiança faziam pelo corretor. 

Ele estava puto. Eu estava puto. Mas nenhum de nós ia atrás dela, porque, mesmo sem dizer em voz alta, a gente cagava de medo do que poderia acontecer se fossemos. 

 


Notas Finais


tchau tchau tchau tchau vocês gostaram, né?


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