História Dama de Gelo - A Entrevista

Bruno estava rígido e de cara fechada. Era tão estranho contemplar essa sua expressão. Fui até minha bagagem de mão e peguei um caderno de anotações e meu celular . Desbloqueie e dei de cara como várias notificações de ligações perdidas, com certeza meu sumiço e de Sarah tinha sido notado na revista. Mais este era um assunto que eu preferia lidar depois. Agora eu tinha um baixinho enfezado na minha frente girando seus anéis nos dedos como um louco.

- Vai demorar ainda muito para começar minha entrevista? – perguntou ele impaciente.

- Não apenas vou colocar o telefone para gravar e pegar uma caneta para fazer algumas anotações. – respondi séria.

Vasculhei minha bagagem ainda mais rápido sob o olhar insatisfeito dele, até que finalmente encontrei  uma caneta.

- Pronta? – perguntou ele revirando os olhos.

Tive que me conter para não xingá-lo. Ele tinha se transformando em um daqueles famosos detestáveis que eu já tinha entrevistado.  Mal lembrava o cara legal que havia se preocupado comigo e me trazido comida no meio da madrugada. Eu sabia que  esta transformação era culpa minha e que agora eu tinha que aguentar.

- Sim Senhor Mars. – Respondi formalmente.

Vi ele revirar ainda mais os olhos.

- Continue, por favor, a me chamar apenas de Bruno. – Disse ele rudemente.

- Estou trabalhando faço questão de ser formal com o senhor. 

- Formal?- ironizou ele. – Você está de roupão na minha frente e eu sentado em sua cama, o que tudo isso tem de formal?

- Se isso lhe incomoda senhor Mars, eu posso me vestir mais adequadamente. E podemos fazer a entrevista na mesa. – Falei apontando para a mesa entalhada de madeira que ficava perto da varanda do quarto.  

Eu sei que estou sendo ridícula. Mais se ele queria dar show de estrelismo só por que eu o rejeitei, eu então daria um show de profissionalismo e frieza. Afinal qual é a dele?  na verdade qual é a minha? Estou lutando com todas as forças para acalmar meu coração e minhas pernas que tremem. Porque ele tinha que ser assim. Pensei enquanto ele olhava para mim da cabeça aos pés.

- Pode ficar com o roupão. – respondeu seco.

Eu pensei realmente em me trocar já que Bruno pareceu finalmente ciente da minha falta de roupas, podia sentir ele imaginando se eu estaria nua por baixo daquele roupão.  O desejo e a cobiça eram evidentes em seus olhos, por mais que ele tentasse disfarçar com seu súbito mau humor. Meu Deus me arrependi amargamente de ter pedido essa entrevista, cada olhar seu dirigido a mim me fazia corar por completo.

- Então podemos começar. – falei sentado na ponta oposta da cama, dando uma distância considerável e segura entre nós.

Liguei o gravador e abri meu caderno  de anotações.

- Em primeiro lugar agradeço a oportunidade de entrevistá-lo Senhor Bruno Mars. – Comecei formal já com o gravador ligado. – O senhor  fechou um grande contrato de shows em Las Vegas  o que guarda de especial para seus fãs nestas apresentações?

- Será uma grande diversão para todos,  a 24kmagic Wold tour será exibida para todo meu público de Vegas,e claro adicionarei alguns músicas ao setlist do show que trarão ótimas recordações para os meus fãs.- Respondeu  girando seus anéis.

- Poderia nós dar uma dica destas músicas surpresas?

- Como você mesma disse serão surpresa. – respondeu mais seco que o deserto do Saara.

Eu engoli sua grosseria.  Mas minha bondade  com ele tinha acabado naquele momento.

- Será que suas músicas serão tão surpreendentes quanto sua namorada senhor Mars?

- O que? – perguntou ele mais alto que o normal.

- Bem, creio que foi uma surpresa para o senhor ser traído por ela daquela forma? – Falei sem encará-lo.

Eu sabia que estava jogando pesado. Pesado demais.

- Não respondo sobre minha vida pessoal. – Falou ele entre dentes.

- Sim eu entendo é difícil ser traído dessa forma. Foi pego desprevenido não foi?

- Eu não respondo sobre minha vida pessoal. – repetiu ele um pouco mais alto.

Sei que era cruel mais eu precisava de um furo de reportagem e não seria ele falando sobre seus shows e seu álbum de sucesso. Eu queria mais e eu sabia como tirar isso dele.

- Eu entendo. – comecei a falar com a voz mansa. – Principalmente sendo ela uma mulher tão bonita e tão apaixonada por você. Mais tenho certeza que tudo irá ficar bem entre vocês, sua namorada te ama.

Vi ele respirar pesadamente. Eu estava quase lá. Ele ia explodir.

- Afinal – falei com um sorriso deslumbrante. – Uma mulher tão amorosa quanto ela não deve ser julgada por ninguém, ela merece com certeza compreensão e compaixão. Sua namorada merece...

- MERECE QUE ELA VÁ PARA O INFERNO! – Gritou ele fazendo saltar  uma das veias de seu pescoço. – E ELA NÃO É MAIS MINHA NAMORADA, PARE DE DE FALAR DELA PORRA! – Concluiu ele respirando apressadamente.

Eu tinha conseguido. Sim eu tinha conseguido. Meu ego de jornalista estava lá no alto. Ninguém tinha feito ele falar sobre o ocorrido e ele ainda não tinha admitido o fim do relacionamento para ninguém. Eu tinha um furo de reportagem. Eu tinha a capa para a Glow. Não o tipo que eu queria, pois não era esse tipo de notícia que eu gostava de dar. Mas era a noticia que salvaria a semana parada e monótona da revista.   Eu tinha cumprido meu dever com a Glow, mas não me sentia feliz.

Bruno ficou de pé  e me olhando irado. Ele com certeza tinha se dado conta do ocorrerá afinal.  Eu sabia o que estava por vir então desliguei o gravador do celular.

- Como você pode ser tão baixa. – Falou ele cuspindo as palavras em mim. – Me provocar dessa forma, para conseguir uma notícia. Eu devia ter previsto,  você só é mais uma jornalistazinha de fofocas de merda.

- Me respeite! - Falei dura. - Eu sou a editora de uma revista que está em crise, eu não tive opção. Isso aqui é trabalho, não leve para o pessoal.  Não pense que eu tive prazer em arrancar isso de você. Não se ofenda mais sua vida não me interessa. - Falei com frieza me levantando e me afastando da cama dando as costas para Bruno.

- Eu sou um idiota. Como pude gostar... – Começou ele a falar mais logo se conteve abaixando a cabeça. – Sabe Melanie eu adoraria também te entrevistar. – falou ele chegando mais perto.

Quando senti sua aproximação atrás de mim tentei me afastar, mais ele foi mais rápido e me segurou pelo braço.

- Me larga agora! – rosnei tentando me soltar de sua mão.

Bruno me empurrou para trás até que minha costas se chocaram contra uma das parede do quarto. Ele então prendeu meu corpo com o peso do seu.

- Como eu disse Melanie eu também quero te entrevistar. Tenho umas perguntas pra você.  – Falou ele baixo  em meu ouvido me fazendo arrepiar por completo. – Eu queria entender porque suas bochechas ficam  rosadas quando eu falo com você. – Disse beijando cada uma de minhas bochechas suavemente. – Queria entender também Melanie por que você fica arrepiada quando te toco. – ele então beijou meu pescoço, e meu corpo inteiro ficou em chamas.

Bruno distribuía beijos por todo meu pescoço. Minha respiração estava falha e meu corpo não me obedecia mais.  

- Me diz por que Melanie? – sussurrou ele com a voz rouca em meu ouvido. – Você me quer Melanie? – perguntou ele mordiscando minha orelha.

Eu tinha que pará-lo. Eu tinha que me parar. Meu Deus como era difícil parar.

- Você me quer Melanie? – voltou ele novamente a me perguntar.

Eu fechei os olhos como para aproveitar os últimos segundos de seu perfume  e da sensação de seus lábios quentes em minha pele. Então juntei todas as forças que ainda me restavam para lhe responder.

- Não. Eu não te quero. – Falei baixo, mas mesmo assim as palavras pareceram ecoar pelo quarto. – Por favor me solte agora! –

Bruno me obedeceu de imediato. Afastou seu corpo do meu e olhou em meus olhos como se procurasse por algo dentro deles. Algo que escondi imediatamente.

- Senhor Mars me desculpe se lhe passei impressões erradas. Não costumo ficar tanto tempo com alguém tão famoso acho que isso me levou a ter reações estranhas. – Menti. – Eu agradeço pela sua entrevista e tenha certeza que a transcreverei  da maneira mais elegante possível, minha intenção jamais será prejudicá-lo.

- Então era só por que eu sou famoso... – Sussurrou ele ignorando minhas ultimas palavras.

Eu olhei para ele procurando por forças para continuar a mentir.  Mas antes que eu começasse a inventar mais desculpas ele se pronunciou.

- Faça o que quiser com a entrevista, para mim tanto faz. – Sua  voz estava tão gelada quanto um iceberg.

- Como eu disse não irei prejudicá-lo...

- Faça como quiser!–  me cortou  indo em direção a porta. – Minha assessoria procurará você amanhã para lhe ajudar em qualquer coisa que precise em relação a você ou sua amiga que está no hospital. Tenha uma boa noite.

Eu o olhei sair do quarto apressadamente sem me olhar. Deixando par atrás seu cheiro, a sensação do seu toque em meu corpo. E uma pequena lágrima no canto do meu olho.