História Dança comigo? - Único;

A noite de sábado estava gelada. O clima estava perfeito para usar terno, na concepção de Jimin. Detestava colocar tantas camadas de roupas tão engomadas em dias quentes, ficavam ainda mais desconfortáveis. Mas era o dia do baile de inverno, então não precisaria se preocupar em contar desesperadamente os minutos para afrouxar o nó de sua gravata e se livrar de seu paletó.

Olhou uma última vez no espelho, ajustando a gravata listrada na diagonal de preto, cinza e prateado. A camisa branca estava perfeitamente alinhada embaixo de seu paletó inteiramente preto, que ele pedira à sua mãe que passasse e deixasse pendurado para não amassar nem um pouquinho que fosse.

Precisava estar perfeito. Era o dia do baile de inverno, afinal.

O baile de inverno era uma das maiores festas da escola. Acontecia num espaço enorme, decorado dentro do tema de gala, havia muita música, comida fina e bebidas lindíssimas que imitavam coquetéis alcóolicos. Todos os participantes deveriam estar engomados dos pés até o pescoço, e era desejável que você fosse acompanhado, porque havia o momento da valsa também. Era uma festa e tanto.

E aquele seria o último baile de inverno de Jimin, porque ele já estava no último ano do colegial. Queria que tudo saísse perfeito, havia passado as últimas semanas planejando cada detalhe com muito cuidado, porque só tinha uma chance de fazer as coisas darem certo, e a grande noite finalmente havia chegado.

Deixou seu quarto e desceu as escadas. Sua mãe estava lhe esperando na sala, com as chaves do carro em mãos. Ela não sabia de nada que Jimin havia planejado, ele não queria que ninguém soubesse, porque tinha medo de dar tudo errado. Era uma possibilidade muito grande.

— Quero o senhor em casa antes das duas. — ela advertiu e lhe deu um beijo no rosto. — Bom baile, querido.

— Eu sei, eu sei. — fez uma careta. — Obrigado, mamãe.

Pegou as chaves e saiu de casa, entrando no carro que estava estacionado na garagem. Adorava dirigir aquele Elantra prateado, mas não era sempre que seus pais o deixavam pegar o carro para sair sozinho, porque sua carteira era relativamente recente.

Eram quase dez horas, estava bem em tempo. Não queria chegar muito tarde, porque precisava voltar cedo.

Existiam dois tipos de pares para o baile de inverno; aqueles que possuíam carro e podiam buscar suas acompanhantes em casa, e aqueles que as encontravam no lugar da festa, porque ainda não tinham carro ou coragem de encarar pais protetores demais.

Jimin não se encaixava muito bem em nenhum dos dois tipos, seu caso era um pouquinho mais complicado.

Estacionou o carro em frente ao jardim que tanto conhecia, e notou as luzes da casa ainda acesas, para a sua sorte. Eram quase dez e meia. Respirou fundo algumas vezes, criando coragem para seguir em frente com aquilo tudo, e então efetivamente desligou o carro e saiu, caminhando pela trilha de pequenas pedrinhas que levava da margem do jardim até a porta da frente daquela casa.

Estava nervoso, tão ansioso que a gravata estava lhe sufocando e o terno parecia quente demais, mesmo que aquele fosse um dia bastante frio.

Tocou a campainha, ouvindo o barulho da mesma ecoar pela casa e esperou, colocando as mãos suadas pelo puro nervosismo dentro dos bolsos.

Prendeu a respiração quando a porta foi aberta e um homem apareceu ali, lhe encarando dos pés à cabeça.

— O que está fazendo aqui, Jimin? — ele perguntou, a voz carregada de rispidez e curiosidade ao mesmo tempo.

— Boa noite, senhor. — pigarreou suavemente. — Hoje é o dia do baile de inverno.

— Jimin? — a mulher apareceu de trás do homem, encarando Jimin com genuína surpresa. — Jeongguk não vai ao baile.

— Boa noite, senhora Jeon. — cumprimentou formalmente a mulher. — Eu sei disso. Posso entrar?

Sabia que o pai de Jeongguk não gostava muito de si, ao mesmo tempo em que apreciava muito sua presença na vida de seu filho. Era uma dualidade estranha. A senhora Jeon, apesar de seguir a maioria dos ideais do marido, gostava muito de Jimin, mas estava bastante confusa com a sua presença ali na noite do baile de inverno.

O senhor Jeon não parecia querer lhe deixar entrar. Mas foi a mãe de Jeongguk quem respondeu à sua pergunta.

— Pode sim, querido. Ele está lá em cima.

— Obrigado. — agradeceu com verdadeiro alívio em sua voz, passando pelos dois ali à porta e adentrando a casa que já conhecia.

Subiu as escadas e foi direto para o quarto de Jeongguk, cuja porta estava aberta e a luz estava acesa na potência mais fraca. Bateu de leve à porta três vezes, chamando a atenção do outro para si e o vendo arregalar os olhos ao lhe ver.

— Jiminie? — sentou-se na cama. Vestia pijamas de frio, listrados na vertical de tons pastéis de azul, verde e amarelo. Ele estava adorável. — O que está fazendo aqui?

— Você parece seu pai me perguntando isso dois minutos atrás, que horror. — fez uma careta e viu o mais novo rir o riso que lhe aquecia o peito. — Hoje é o baile de inverno.

— Eu sei... — um pequeno bico se formou nos lábios do garoto. — Você não devia estar lá?

— Você é meu par, Jeonggukie. — proferiu como se fosse a coisa mais óbvia do mundo. — Como poderia ir sem você?

— Eu não posso sair, Jiminie. E está tarde, daqui a pouco preciso dormir. — Jeongguk fez uma careta triste.

— Eu não disse que você vai sair. — aumentou um pouco a claridade do quarto no interruptor ajustável e foi até a cama. — Dança comigo?

O sorriso que se abriu nos lábios de Jeongguk fez qualquer receio ou incerteza de Jimin desaparecer. Era curioso, sincero e era lindo, como tudo a respeito do garoto.

Tirou as cobertas de cima de si, e deixou Jimin lhe ajudar a levantar. Abraçou seu pescoço com um pouquinho de força, com o medo involuntário de cair mesmo que soubesse que o mais velho nunca fosse lhe soltar.

E Jimin abraçou a cintura de Jeongguk com firmeza, sorrindo ao vê-lo sorrir para si também, antes de começar a se mover bem lentamente, guiando o outro consigo sem efetivamente saírem do lugar.

A cabeça do Jeon deitou no ombro do mais velho e ele fechou os olhos, inspirando o cheiro embriagante que tanto amava. Estava de pijama de flanela, cheirando a sabonete de lavanda, e Jimin usava um terno lindo e um perfume cheiroso. Riu baixinho ao pensar sobre isso.

— O que foi? — o mais velho perguntou e Jeongguk negou com a cabeça.

— Eu te amo, Jiminie. — respondeu apenas, fazendo o coração de Jimin derreter mais uma vez naquela noite.

— Eu também te amo.

O relógio da casa, que ficava no andar debaixo, anunciou com as notas melancólicas que eram onze horas. Jimin esperava que os pais de Jeongguk não viessem lhe mandar embora ainda, não queria um baile de apenas meia hora.

Continuaram dançando daquele jeito, sem praticamente sair do lugar, para não exaurir o corpo doente do garoto mais novo. Até que, inevitavelmente, ele se cansou e pediu para se sentar novamente na cama.

— Você já vai? — perguntou com a voz manhosa. Estava triste, queria poder ficar acordado até mais tarde, e ir dançar de verdade no baile de inverno com Jimin.

— Ainda não. Tenho que te perguntar uma coisa antes.

Jeongguk piscou em confusão com as palavras de Jimin, mas então arregalou os olhos que imediatamente lacrimejaram, e cobriu a boca ao que o mais velho ficou sobre apenas um dos joelhos, bem à sua frente, e retirou uma caixinha de dentro de seu bolso.

— Jiminie…

— Dança comigo, Jeonggukie? Para o resto da vida, você dança comigo?

Sem conseguir dizer nada, Jeongguk assentiu fervorosamente enquanto a aliança prateada era deslizada para seu dedo. E quando se deu conta, estava jogado nos braços de Jimin, chorando contra o peito do mais velho.

— Eu danço, Jiminie. Com você eu danço todos os dias da minha vida.

O resto da vida de Jeongguk poderia durar um dia, um mês, um ano ou uma década, era impossível prever. Mas se a vida fosse um baile de inverno, Jimin só aceitaria dançar de fosse com Jeongguk.