Ainda Naquele Dia...
Walterfire/Aldeia da Água
Juvia:
A respiração quente de Gray na minha nuca, me faz despertar. Abro os olhos lentamente, percebendo pela janela do quarto que já é noite. O tempo parece ter passado muito rápido depois de tudo o que aconteceu. A briga de Gray com Lyon, a volta da Rainha Ur... Tudo parece ter sido apenas um sonho. Mas eu sei que não é...
Pena que não posso tirar as partes ruins.
Depois da briga com Lyon, Gray voltou para o quarto e eu já estava aflita de tanto esperar. Só pelo seu nervosismo, percebi que a "conversa" com Lyon não tinha sido nada boa. Ele me contou tudo, e eu apenas ouvi, completamente assustada. Só na parte em que ele disse que a Rainha havia voltado, consegui me acalmar um pouco.
Tentei tocar no assunto do ocorrido com Lyon, mas Gray me surpreendeu me dando uma noite (ou dia, não lembro) de amor que eu nunca tive. Cada toque em meu corpo dizia como ele me amava. Antes de pegarmos no sono, ele me prometeu que nunca mais iria me deixar. Senti meu coração esquentar, se apegando fortemente aquela promessa. Depois de me dar um beijo na testa, nós dois apagamos.
Continuo observando a lua do lado de fora, e lembranças da Aldeia do Fogo me vem á mente. Todas as noites, eu e Wendy saíamos para fora para observar a lua. Nos abríamos uma com a outra, nunca escondendo nada. Sinto meu coração se apertar e um nó se formar na minha garganta, ao lembrar de seu sorriso. Sinto tanta falta da minha Aldeia. Mas sinto mais falta ainda da minha Wendy...
- Porquê está chorando?
A voz de Gray dissipa os meus pensamentos, e o encaro confusa. Levo a mão ao rosto e o sinto úmido. Nem percebi que estava chorando...
Os olhos escuros de Gray continuam a me estudar, como se esperasse uma resposta.
- Lembranças.- Respondo, limpando o rosto com as costas da mão. Ele me olha confuso, mas logo depois seus olhos demonstram pena.- Você sabe. Sinto falta deles.
Ficamos em silêncio por alguns segundos, até Gray soltar um longo suspiro. Ele toca minha cintura me virando para ele, e lembro que estamos completamente nus. Sinto meu rosto ruborizar um pouco.
- Vai ficar tudo bem, confie em mim.- Diz ele, depositando um beijo carinhoso em minha testa. Ele me olha com um grande sorriso no rosto, seus olhos adquirindo um tom prateado a luz da lua. Tenho sorte de ter achado esse garoto...- Minha mãe está de volta. As coisas irão melhorar, você vai ver.
Sorrio, e enterro meu rosto em seu peito. O cheiro único que ele tem preenche meus pensamentos, me trazendo paz. Adoro essa sensação boa que ele me traz, independente da situação em que estivermos. Amo tanto ele que chega à doer!
Continuamos em silêncio por um bom tempo, até algo me incomodar.
- Gray... Será que dá pra parar de me cutucar?
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Dia Seguinte...
Walterfire/Aldeia do Fogo
Lucy:
Pensei que depois de um tempo não me sentiria mais estranha neste lugar. Estava enganada. Em alguns momentos parecia que eu tinha realmente me encontrado, como um grande quebra-cabeça que aos poucos era completado. Mas depois de tudo o que aconteceu... Parece que o vento levou todas as peças novamente, me deixando sem rumo e completamente perdida. Parece que...
Parece que Natsu era o quebra-cabeça.
Depois de ficar perambulando pela floresta em busca de uma saída, acabei encontrando Erza. Ela se assustou ao ver meu estado (cabelos meio bagunçados, botas nas mãos, olhos inchados e vermelhos de tanto chorar e roupas sujas), e me tratou de levar para casa o mais rápido possível. Perguntei o que ela estava fazendo ali, e ela simplesmente desviou o assunto. Reparei pela primeira vez um cordão que sumia por dentro de sua roupa. Parecia especial.
Ao chegar em casa, fui direto para o banheiro e chorei no banheiro. Chorei mais ainda na cama, e acabei pegando no sono.
O que me mata não é saber que ele me ama, e eu não. O que me destrói e não saber o que sinto. Tudo está um turbilhão dentro de mim, e não sei como acalmar meus sentimentos. Não sei o que vou dizer quando vê-lo, e muito menos como vou agir daqui pra frente.
Só sei que não será mais como antes. Alguma coisa mudou.
Não trocamos nenhuma palavra desde aquele dia. Ele também não me chamou para treinar, e tem passado o tempo que fazia isso fora de casa. Toda vez que nossos olhares se encontravam, ele desviava ou até mesmo saía do comodo que eu estava. Isso me causava uma sensação mais que ruim...
Era horrível.
Leves batidas na porta me tiram dos meus pensamentos. Abro um pouco os olhos, mas não sinto vontade de responder nada. Só o pensamento que Natsu está atrás daquela porta, faz meu coração se apertar. Não sei se estou pronta para olhar em seus olhos novamente.
- Lucy? Você está acordada?
Arregalo os olhos, mas continuo deitada. O quê?!?! O quê ele está fazendo aqui?!?!
Me preparo para levantar e dizer que estou acordada, mas a porta se abre lentamente. Fico assustada ao comprovar que estava certa na minha intuição.
Makarov se aproxima a passos lentos e cautelosos, e para ao lado da minha cama. Fico feliz por estar com uma roupa decente.
Seus olhos me estudam atentamente, mas não consigo descrever seu olhar.
- Levante e se apronte.- Sua voz é séria, mas não rude. Engulo em seco, temendo o que está por vir.- Teremos um longo dia pela frente.
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O sol ofuscou meus olhos por alguns minutos, logo que saí de casa. Crianças corriam para todos os lados, e as pessoas passavam conversando. Passei os olhos por todos os cantos, mas não achei o senhor Makarov em lugar algum. Onde será que...
- Me procurando?
Abaixo os olhos e o vejo á minha frente, me observando. Uma gota se forma em minha cabeça. Tinha esquecido o quanto ele é baixinho.
- Estava sim.- Respondo, me sentindo meio desconfortável. Quero saber o porque dele ter me chamado.- Mas... O quê o senhor quer comigo?
Ele solta uma risada, como se soubesses de coisas que eu não sei. Sinto a estranha sensação de que ele sabe de "algumas coisas".
- Vou ser direto.- Diz ele, depois de alguns minutos. Sinto meu corpo se tensionar com as milhares de possibilidades na minha cabeça.- Natsu veio falar comigo ontem. Ele disse que não tem mais condições de treinar você por motivos pessoais, e que precisava de outra pessoa para retomar seu lugar. Erza está ocupada treinando os outros guerreiros, e os outros guerreiros estão ocupados treinando. Resumindo, não havia ninguém mais para treiná-la além de mim. Então, a partir de agora, sou seu novo professor.
Fiquei paralisada, tentando processar suas palavras. Natsu...
Ele não quer mais ficar perto de mim.
Desvio meu olhar para o outro lado, tentando conter as lágrimas e o nó na minha garganta. Eu nunca havia sido rejeitada por ninguém. Era a sensação mais horrível que eu já senti.
O silêncio entre mim e o senhor Makarov se segue por longos minutos, até ele pigarrear:
- Ele não quis me dizer o motivo para fazer tal coisa.- Seu tom é calmo, mas não consigo acalmar as sensações dentro de mim.- Sei que precisa de um tempo, mas precisamos continuar seu treinamento o quanto antes. Tudo bem?
"Tudo bem?". Não. As coisas não estavam nada bem. Nunca pensei que poderia piorar, mas piorou e muito. Só agora vejo a falta que Natsu faz...
Mas não vou jogar o que ele me ensinou fora. Mesmo que tenha sido por pouco tempo.
Encaro o senhor Makarov, que espera minha resposta. Engulo o nó na minha garganta antes de responder:
- Tudo bem. Vamos treinar, senhor Makarov.
Ele sorri, e queria me sentir bem com seu sorriso como das outras vezes.
De repente ouvimos gritos vindo em nossa direção. Eu e o senhor Makarov olhamos na direção da voz, onde uma menina de cabelos pretos vem correndo em nossa direção. Só quando ela se aproxima, vejo que está gritando pelo senhor Makarov. Mas pra quê gritar tanto?
Ela para ao nosso lado, colocando as mãos nos joelhos e tentando se recuperar. Ela se levanta e me encara de cima a baixo, antes de olhar na direção do senhor Makarov. Uma pontada de desgosto atinge meu estômago.
Eu não gostei dela.
- Kagura, o quê você quer?- Pergunta o senhor Makarov, com uma pontada de repreensão.
Ela sorri, e algo me incomoda nela. Seu sorriso... Plastificado.
- Tenho novas notícias, senhor Makarov. E acho que o senhor vai gostar de saber...
- Diga de uma vez.- Ele se apoia em uma perna, já impaciente. Apenas observo a tudo, como se tivesse ficado invisível.- Tenho coisas muito importantes para fazer.
Ela para por alguns minutos, e um sorriso maldoso se forma em seus lábios. Tenho a sensação de que coisas boas não virão.
- A Rainha.- Diz ela, em um tom de nojo.- Ela está de volta à Walterfire.
Vejo os olhos do senhor Makarov se arregalarem, um misto de surpresa e raiva. Me assusto com aquele olhar. Mas... Quem é essa Rainha?
Makarov parece nervoso, e sem me pedir licença sai puxando Kagura. Apenas observo os dois discutirem pelo caminho, uma sensação estranha se apoderando de mim...
Porquê tenho a sensação de que não conheço mais ninguém?
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