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História Dandelion - Roleta Russa


Escrita por: KakaLeda

Notas do Autor


OIEIEIEIEIEIEIEIEIEIEIEIEIEIEIEIEIEIE PESSOAS QUE ESTÃO NA BAD E AS QUE NÃO ESTÃO TAMBÉM

☀Primeiramente eu gostaria de explanar para todos que eu tô ainda muito chocada com os shows do BTS aqui no Brasil - não gente, eu não fui T.T, mas vi as Lives, tá? Sou pobre, mas sou guerreira - Enfim, chorei horrores com tudo aquilo, nossa foi tão emocionante... Vocês viram os vídeos, né? Chorei principalmente com o Suga(meu Bias) porque... Nossa! É muita coisa, esse não é o lugar para comentar sobre meus chiliques kkkkkkkkkkkkkkk
☀Segundamente, Me desculpe novamente, atrasei alguns dias... T--T Juro que não foi intencional, até porque eu tive que reescrever cenas desse capítulo umas três vezes para a história ficar realmente boa, pq esse final... Gente é sério, eu tinha que deixar o negócio bem sério, pq o que vai acontecer nesse capítulo... Muito rebuliço mexxxxxxmo, muita cena tensa, vai ter cena pra chorar, pra xingar, pra bater, pra suspirar... Espero que gostem!!!!!

♪\(*^▽^*)/\(*^▽^*)/

Capítulo 55 - Roleta Russa


Fanfic / Fanfiction Dandelion - Roleta Russa

Sophie

 

Para mim foi um alívio saber que tudo havia ocorrido bem para Lorenna e Nathaniel, ambos estavam a salvo e em segurança. Ou pelo menos se encontravam bem mais seguros do que nós naquele momento.

A primeira coisa que fizemos quando chegamos à Rússia foi estabelecer um plano de fuga, caso algo desse errado a caminho da festa ou depois dela; depois disso aproveitamos para descansar algumas horas, porque a viagem havia sido cansativa; e, por fim, quando recuperamos nossas forças para aquela noite, arrumamos roupas formais de festa na cidade mais próxima de onde estávamos instalados.

Faltava apenas uma hora para o evento começar, Hugo já havia me contatado e não parecia que Conor e ele iriam demorar muito para chegar. Eu já havia terminado de me maquiar e de arrumar o cabelo, faltava apenas pôr o vestido – eu havia o deixado por último para não sujá-lo com a maquiagem – quando escutei uma batida na porta.

– Pode entrar – falei enquanto me cobria com um roupão.

Um segundo depois a porta foi aberta e Viktor entrou no quarto segurando uma sacola. Ele arqueou as sobrancelhas, numa expressão de admiração, ao pôr os olhos em meu rosto.

– O que você quer? – eu perguntei rapidamente, antes que Viktor tivesse a chance de falar alguma gracinha.

– Abaixe a guarda, Sophie, no momento eu não estou mordendo ninguém... – Viktor exibiu um sorriso de canto bastante... Sedutor. Tão sedutor quanto os sorrisos de Castiel.

Aquilo deveria ser uma característica de família, definitivamente.

– Então o que veio fazer aqui? Hugo já chegou? – eu perguntei.

– Eu vim lhe entregar isso, para você vestir – Viktor colocou a sacola sobre a cama.

– Mas eu já tenho um vestido... – eu apontei para o traje estirado sobre a cama. Era um belo vestido de renda azul.

– É bonito, mas confie em mim, o herdeirozinho japonês é bem nacionalista. Ele vai preferir falar com uma garota usando isso aqui – Viktor apontou para a sacola e deu outro sorriso.

Abri a sacola e encarei o traje, e entendi o que Viktor estava dizendo.

– Hmmm, você parece bem dedicado com tudo isso... – eu comentei num murmúrio.

– Não vou deixar as ambições de um velho ambicioso manchar a honra da organização... – Viktor encarou fixamente a janela do quarto, mordendo a parte de dentro da bochecha.

– Falando assim parece até que estamos lutando por algo que não é ilegal – eu falei com leve sarcasmo na voz. Viktor achou graça.

– Não de acordo com a Lei que eu sigo – disse Viktor, aproximando-se de mim e se sentando na cama – Mas às vezes me imagino fazendo a mesma loucura que Castiel fez... Eu também iria para a escola comum, talvez faria amigos e seria o cara do Bullying... Bem a minha cara.

– Então você com certeza seria o tipo de pessoa com quem eu não suportaria conviver – eu disse, cruzando os braços e afiando o meu olhar – Mas se bem que Castiel era desse jeito no início.

– Até que você o mudou – Viktor saltou da cama e ficou de frente para mim, bem próximo – Me pergunto se o mesmo não teria acontecido comigo, e se agora eu não estaria pedindo para voltar a ter uma “vida normal” como meu irmão está fazendo nesse momento.

– Você poderia tentar – eu disse.

– É um pensamento interessante, Sophie, mas eu realmente só tenho curiosidade. Seria como tentar obrigar um ateu a crer em alguma religião, eu não me encaixaria, pois gosto dessa vida. Gosto bastante – Viktor enfatizou.

Eu suspirei fundo e baixei o olhar.

– Ah, não faça essa expressão de tristeza, isso pode acabar me iludindo me fazendo pensar que você realmente se preocupa comigo – Viktor segurou meu queixo por um segundo e depois soltou, então começou a andar em direção à porta.

– No momento você é o único membro da família com quem ele pode contar e, além disso, você tecnicamente é o meu cunhado... Não tem como eu não me preocupar – eu disse quando ele abriu a porta para sair.

Antes de sair do quarto, Viktor me encarou sobre o ombro com um olhar surpreendido e depois exibiu um sorriso tocado, então saiu porta afora sem falar nada.

Depois que ele saiu, eu me sentei na cama e desenrolei o traje que estava dentro da sacola. Passei a mão sobre o tecido fino vermelho, repleto de desenhos bordados com linhas da mais alta qualidade, e senti a textura que era digna de trajes de elite. De elite japonesa. Era um kimono bem tradicional, com vários metros de tecido reluzente.

Viktor estava certo, aquela roupa com certeza chamaria a atenção do herdeiro japonês.

E melhor, cobria completamente minha barriga, eu iria me sentir mais do que confortável e segura para prosseguir com o plano.

 

Quando finalmente acertei o laço no pano que envolvia minha cintura e mudei meu penteado para um coque oriental decorado com presilhas douradas, fui me encontrar com os demais. Assim que cheguei à sala, me deparei com Conor encostado na parede que ligava o corredor dos quartos com a sala de estar, ele abraçava um rifle com se fosse seu ursinho de pelúcia favorito.

Talvez para ele o rifle fosse realmente algum tipo de objeto precioso.

Quando me aproximei, ele foi o primeiro a me notar. Seus olhos analisaram meu visual e me cumprimentaram num silêncio respeitoso. Ser caladão era bem do seu feitio.

– Sophie, minha cara... Minha nossa, se antes eu estava com dúvidas se essa reunião iria dar certo, agora eu nem ouso pensar negativamente. Você virou uma musa oriental – Hugo atravessou a sala e me girou para observar meu traje.

– Obrigada... – eu recuei um pouco, mas sem perder a compostura diante daquelas pessoas. Parecer tímida seria um sinal de fraqueza – Já estamos prontos para ir? Onde está Castiel? – encarei a sala e não o achei.

– Ele está esperando no carro dele – Viktor respondeu à minha pergunta, em seguida se aproximou de mim, fez um sinal de positivo após me analisar dos pés à cabeça.

 – Aconteceu alguma coisa com ele? – eu franzi as sobrancelhas.

– Falando assim parece até que você não conhece o meu irmão – Viktor colocou uma mão em meu ombro – Ele ainda está bastante receoso com você indo para o cruzeiro.

Eu respirei fundo e mordi o lábio inferior. “Entendi”.

– Vamos de carro até lá? – eu perguntei.

– Sim, não fica muito longe.

– Ótimo, porque vou com Castiel... Ele precisa manter a calma... – eu disse, observando a Lamborghini estacionada pela janela. Os faróis ligados e o movimento lá dentro indicavam a presença dele.

– Precisa mesmo – escutei Viktor dizer quando eu comecei a andar para fora da casa.

Os demais também seguiram para seus carros, alguns ficaram lotados de homens por causa da grande quantidade de subordinados que estavam conosco a partir daquele momento – pessoas de Castiel, de Viktor, de Conor, de Hugo e algumas de Nathaniel – e o meu objetivo era conseguir, até o final daquela noite, formar um exército numeroso o bastante para conseguir lidar com qualquer subordinado de Olga e de Jean-Louis.

Atravessei o gramado congelado e me aproximei do carro, então entrei nele sem fazer cerimônias e respirei fundo o ar quente do aquecedor do carro. Aquela noite era a mais fria de toda a minha vida.

– Lá vai estar mais frio, pois o lago Baikal fica congelado nesta época do ano... – Castiel avisou, ele devia ter percebido o meu incômodo.

– Eu aguento – eu disse, esfregando as mãos para esquentá-las.

– Não gosto disso... Tudo pode acontecer, Sophie – Castiel falou, seu maxilar trincado demonstrava sua frustração.

– Não quero discutir, você sabe muito bem que isso é necessário... Apenas diga alguma coisa sobre a minha aparência e dirija esse carro alegórico de luxo – eu disse, impaciente e com frio.

Castiel soltou um riso que mais se parecia com um expirar.

– Se cubra com isso – Castiel puxou um casaco de pele negra do banco de trás e o deu para mim. Eu o encarei surpresa quando peguei o objeto – O quê? Eu sabia que você ia reclamar da temperatura baixa. O Brasil é um país quente, eu apenas deduzi que você, uma brasileira, precisaria disso.

– Entendi... Obrigada – eu disse, me envolvendo com a roupa cheia de pelos. Aquilo foi a salvação da minha noite.

– Uma pergunta, se o lago está congelado, como um cruzeiro está sobre ele? – eu perguntei.

– O cruzeiro fica lá o ano inteiro para turistas navegarem, mas quando o lago congela, alguns podres de ricos usam o navio que está paralisado para dar festas. É bem engenhoso – Castiel reconheceu, e, depois de alguns segundos, completou: – E a propósito, você está linda... Parece até a noiva de algum imperador asiático – Castiel falou enquanto dava a primeira marcha no carro, e acrescentou rapidamente – Quer dizer, só se eu for o imperador.

Coloquei uma mão na boca para segurar uma risada.

– Vamos logo – eu disse.

 

Como Viktor havia dito, o lago não ficava muito distante de onde estávamos instalados. O caminho foi rápido, tanto que a temperatura do meu corpo apenas se equilibrou no finalzinho da viagem.

Mas o melhor foi ver o lago enquanto nos aproximávamos dele. Parecia um campo aberto cheio de gigantes pedras de gelo, mas completamente coberto por neve. Os carros pararam antes de chegarem ao que seria a margem do lago.

Quando saímos dos automóveis, reparei que o cruzeiro estava paralisado ao lado de um pequeno porto, algo que se parecia com uma ponte de madeira larga. Nós também não estávamos sozinhos, vários convidados da festa estavam chegando ao mesmo tempo que nós, alguns já subiam as escadas para adentrarem a festa que ocorria lá dentro.

– Você está nervosa? – Castiel perguntou para mim num sussurro.

– Talvez um pouco – eu respondi num murmúrio.

– Não se preocupe, faça como você fez naquela primeira noite de festa na Alemanha. E lembre-se de que, dessa vez, eu estou aqui para te proteger – disse Castiel, enquanto colocava minha mão entre sua dobra interna do braço. Minha mão apertou carinhosamente a sua pele num agradecimento silencioso.

Atravessamos o mini porto e subimos as escadas para o cruzeiro. Na proa havia muitas pessoas, a música que tocava era um instrumental tradicional japonês; e a decoração bem ao estilo oriental, junto ao banquete de frutos do mar que estava sendo servido, completou perfeitamente o clima da festa.

– Irasshaimase, meus amigos – um homem com características orientais nos cumprimentou, assim como eu, ele também vestia um traje tradicional japonês – Eu sou Irie Yamaguchi-gumi.

– É um prazer estar aqui, Yamaguchi-san. Eu sou Viktor Mikhailov, e esse é o meu irmão Castiel – Viktor e Castiel o cumprimentaram com uma meia reverência. Foi somente naquele momento que me toquei que estávamos diante do herdeiro da principal família da Yakuza.

– Yamaguchi-sama, é bom vê-lo depois de tanto tempo – Hugo tomou a frente e o cumprimentou com uma reverência completa, demonstrando bastante respeito. “Ah sim, japoneses prezam muito pela hierarquia e pela honra, e já que Conor e Hugo são apenas ‘empregados’ de Irie, eles lhe devem muito mais respeito que Castiel e Viktor”.

– E essa adorável beldade, posso saber seu nome? – Irie pôs os olhos em mim sem limitar a intensidade deles.

Eu formei um sorriso com a boca de forma a agradá-lo.

– Senhor Yamaguchi-gumi, meu nome é Sophie. É um prazer conhece-lo – eu disse, me curvando numa reverência que vi uma garota fazer uma vez num drama oriental.

– O prazer é com certeza meu, Sophie-san – ele me cumprimentou da mesma maneira, sem tirar os olhos dos meus. Aquilo era bastante constrangedor, ainda mais porque Castiel estava bem do nosso lado. Eu quase podia senti-lo tentando se controlar. Irie então franziu um pouco as sobrancelhas e falou: - Mas me sinto sendo desrespeitoso ao chama-la pelo primeiro nome. Não poderia me dizer o nome de sua família?

– Obrigada por se preocupar com esse detalhe, senhor, mas meu sobrenome não é de grande importância, eu preferiria que o senhor se lembrasse de mim pelas palavras que irei proferir esta noite e também pelas... Amizades que formaremos – eu fui concisa e ao mesmo tempo prolixa. Irie compreendeu minha mensagem, e pareceu gostar do meu jeito direto, o que foi um alívio.

– Está certa, em tempos como esse cada segundo gasto com futilidades é um completo desperdício – disse Irie a todos – Vamos direto ao ponto, meus caros. Sigam-me.

Atravessamos uma porta que levava para o interior do cruzeiro, diretamente para um salão de festa. As luzes eram vermelhas, o que intensificava a decoração nipônica, e havia músicos tocando instrumentos tradicionais num canto do salão e dançarinos asiáticos performando no meio dos convidados. E para acrescentar, outra mesa com um banquete jazia exposta ao público, e essa tinha uma variedade infinita de sushis e outros alimentos da culinária japonesa. Se não fosse pelo barulho do ambiente, o som que minha barriga estava fazendo assustaria até os peixes que nadavam debaixo do gelo do lago.

Irie Yamaguchi-gumi nos levou para um local reservado, onde somente algumas pessoas tinham acesso. Os garçons, todos trajando roupas tradicionais, nos serviram e nos acomodaram numa mesa baixa, com almofadas no lugar de cadeiras. Eu tentei reprimir minha excitação ao me lembrar de cenas como aquela que eu havia visto em filmes orientais.

– Sirvam-se, por favor – Irie apontou para o banquete posto na mesa. Havia uma lagosta enorme em minha frente, ela parecia estar sorrindo para a minha barriga.

Eu não hesitei em encher o meu prato.

Os minutos se passaram e a conversa naquela mesa passou de elogios ao jantar ao assunto sobre os negócios. Viktor explicou a situação à Irie que, de imediato, se mostrou interessado em nosso apoio à sua ascensão ao cargo de chefe da Yakuza; eu tomei a frente quando os assuntos econômicos vieram à tona, coloquei sobre a mesa documentos que oficializariam as vendas entre as famílias russas e japonesas envolvidas com a situação, inclusive Hugo e Conor deram seu apoio e sua palavra à Irie sobre a veracidade daquela nossa proposta.

Nunca antes precisei usar tanto do meu discurso, pois Irie não foi o único japonês no qual necessitei ganhar a confiança, além dele havia dois governantes do Japão – provavelmente envolvidos com tráfico, o que pagava suas campanhas eleitorais – e alguns poucos empresários e representantes. Meu discurso tomou outro tom quando tive que lidar com aquelas pessoas, pois a maioria não confiava muito numa mulher sendo “diplomata”.

Porém, no fim, acabaram cedendo às minhas palavras.

Senti a mão de Castiel segurar a minhas debaixo da mesa, como se falasse silenciosamente para mim: “Você conseguiu”. A expressão de Viktor para mim também me informava que ele estava satisfeito.

De qualquer forma, um peso foi tirado de mim, pois a partir daquela noite teríamos mais força. A liberdade estava cada vez mais próxima.

Depois que os papéis foram assinados e que os apertos de mãos foram dados, a tensão entre os presentes à mesa foi substituída por uma conversa empolgante sobre as bebidas japonesas e russas – assunto que Irie e Viktor pareciam conhecer bastante – Castiel também se envolveu numa discursão sobre carros esportivos de ultima geração com um empresário de uma montadora automotiva, e eu me mantive concentrada em meu prato repleto de sushis, pois minha barriga estava prestes a entrar numa guerra civil de tanta fome.

No centro do salão os dançarinos pararam de performar e deram lugar a mulheres com trajes reluzentes e espadas, elas começaram seu número com uma demonstração de luta bem num estilo ninja e depois passaram para uma dança bastante épica. Eu fiquei presa àqueles movimentos tão bem calculados que aquelas orientais conseguiam fazer, meus olhos iam de lá pra cá involuntariamente, acompanhando o ritmo da música. Até que eu paralisei completamente a minha visão num ponto específico.

Atrás do palco de dança, uma mulher coberta por um hijab que escondia tudo, exceto seus olhos, olhava fixamente para a nossa mesa. Ela não parecia perceber que eu a estava encarando, por isso aproveitei para analisar aqueles olhos e tentar relembrar de onde eu já os teria visto antes. Eles eram azuis como safiras, acho que além de Armin, a única outra pessoa com olhos daquela cor era...

“Não pode ser...”, minha cabeça eclodiu num turbilhão.

“Não, eu tenho que ter certeza, não posso acabar com a festa do nosso recém-parceiro por causa de um achismo meu”.

– Com licença, senhores, eu tenho que ir ao toalete – eu fiz uma mesura respeitosa e me levantei, mas Castiel segurou a barra da minha Yukata para me chamar. Eu me inclinei para ouvi-lo.

– Você está se sentindo bem? – ele sussurrou e encarou minha barriga. Eu não consegui deixar de acha-lo fofo naquele momento, Castiel devia estar pensando que eu estava me sentindo enjoada.

– Estou, eu realmente só quero ir ao banheiro... – eu disse, confortando-o. Depois que sua expressão do rosto se aliviou, ele me soltou e voltou a conversar com os empresários.

Eu voltei a minha atenção para onde antes a mulher com hijab se encontrava, no entanto agora ela já não estava mais lá. Olhei ao redor, tentando encontrar qualquer pista para onde ela teria ido, analisando até mesmo as mulheres com cabelos loiros e curtos do lugar... Se fosse realmente Olga a dona daqueles olhos, então o que estaria planejando fazer aqui? Ela não estaria sozinha, não é mesmo...?

De repente o meu celular tocou – a vibração me deu um leve susto porque, depois de tanto tempo o mantendo desligado, eu já havia me desacostumado com aquele som – quando puxei objeto metálico e o atendi, me surpreendi ao escutar a voz de Lorenna.

– “Sophie?! Sophie, responda-me, por favor!” – ela parecia ansiosa.

– Lorenna? O que foi?

– “Dimitry finalmente falou e depois ele se... Bem, vou deixar essa parte pra depois” – sua voz hesitou por um segundo – “O que estou dizendo é que Olga sabe sobre o cruzeiro, ela sabe que vocês estão aí e provavelmente deve estar preparando uma armadilha” – a voz de Lorenna estava tensa e trêmula. Eu também comecei a me tremer.

Ampliei meu foco de visão e olhei para os cantos mais obscuros do salão, foi só aí que me dei conta de que estávamos rodeados – para não dizer cercados – de inimigos. Quando analisei novamente a parte de baixo, peguei a mulher com hijab atravessando o salão.

– Eu a encontrei – eu disse, apertando o celular com a mão.

– “Nathaniel já está num jato com os subordinados, ele não vai demorar muito para chegar aí” – Lorenna parecia estar querendo convencer a si mesma sobre isso.

– C-certo – minha voz hesitou e eu engoli em seco – Vamos tentar segurar até lá. Agora preciso ir.

Depois que desliguei e guardei o celular, eu puxei de dentro das camadas de tecido da Yukata um pequeno revolver, discreto e sutil, mas bastante letal; e o deixei numa posição em que eu pudesse utilizá-lo com facilidade, sem chamar a atenção de ninguém. Atravessei o amontoado de pessoas que se divertiam com a apresentação sobre o palco e tentei alcançar a mulher com o hijab, mas no meio do caminho me deparei com outra pessoa conhecida. O olhar dele sobre mim me dizia que aquele homem já estava me observando há um tempo.

Naquele momento eu tive uma epifania. Eu desisti de ir atrás de Olga e me aproximei do homem discretamente, ficando atrás dele como uma sombra. Depois, peguei o revolver e o apontei para as costas do homem, cobrindo o objeto metálico com a manga da minha yukata para que ninguém visse.

– O banquete deve estar fazendo bem à sua criança, minha jovem. Frutos do mar trazem benefícios ao desenvolvimento mental infantil – Jean-Louis proferiu, bebericando o saquê do copo que segurava.

– É bom saber que o avô pensa um pouco no neto. Mas você sabe muito bem que não estou aqui para trocar informações sobre bebês – eu pressionei o cano do revolver nas costas de Jean e sussurrei – Eu quero que venha comigo para um local reservado.

– E por que eu faria isso? A apresentação está deslumbrante... – Jean não parecia estar se sentindo ameaçado por mim.

– O fato de eu estar apontando uma arma para suas costas não é motivo suficiente para você seguir os meus pedidos?

– Com certeza não. Vou deduzir que você já reparou que meus homens estão cercando esse lugar, então se tomar uma atitude tola como essa, as chances de vocês saírem daqui vivos diminuirá assustadoramente... – eu podia ver o perfil de Jean sorrindo com satisfação. De qualquer forma, ele estava certo.

– Muito bem. É o seguinte, quero conversar com você. Não é esse o tipo de pessoa que você é? Alguém que adora negociar? Pois eu tenho uma proposta. Que tal trocarmos algumas palavras? – eu sugeri.

– Hmmm, isso me soa mais interessante... – Jean-Louis deixou o copo com saquê na mesa mais próxima e se virou para mim – Mas, por mais que a senhorita tenha conseguido me deixar bastante curioso com que tipo de proposta você poderia me oferecer, eu ainda tenho minhas preferências quanto a essa situação. E também estou cansado de brincar com aqueles meninos... Vamos acabar logo com isso – Jean então, de súbito, desviou a mira da minha arma para o chão, segurando minha mão e envolvendo minha cintura com seu braço, de forma a parecer que nós dois estávamos numa pose de dança; e me prendeu junto ao seu corpo, imobilizando-me.

– Solte-me agora – eu rosnei. Fazia muito tempo que tocar num homem me trazia tanto repúdio, e o cheio de álcool dele só fazia minhas náuseas piorarem. Mas mesmo com minha careta de raiva e meus dentes trincados, Jean-Louis continuou me segurando como se aquilo fosse realmente divertido para ele.

– Shhhh... Nós ainda não queremos trazer a atenção das pessoas para nós, não é mesmo? – Jean sussurrou de modo cínico. Em seguida ele me girou para que eu ficasse de frente para o lado esquerdo do gigantesco salão – Olhe para cima, para a janela do capitão do navio – eu fiz o que ele mandou – Você consegue ver?

Quando avistei, eu arregalei os olhos e senti minha circulação parar. Avia um franco-atirador mirando para o salão. Não, depois que olhei bem, ele estava mirando especificamente para minha mesa. Para a cabeça de Castiel.

– Você viu, ótimo – Jean deve ter concluído ao ver minha reação. Ele me girou novamente e voltou a sussurrar em meu ouvido – Em pouco menos de dois minutos ele vai apertar o gatilho, e vai disparar em todos naquela mesa... A não ser que você venha comigo e obedeça a cada uma de minhas ordens...

Eu mordi o lábio inferior e desviei o olhar para o outro lado do salão, onde Castiel jazia sentado, e tremi.

– O-o que exatamente você pretende fazer? – minha voz decidiu falhar naquele exato momento, droga!

– O tempo está passando... – Jean me apressou, com um sorriso no rosto que só me causou mais repudio.

– Está bem, apenas... Pare aquele homem – eu falei, baixando o olhar para o chão.

Jean arqueou as sobrancelhas, satisfeito, e se virou para um de seus homens que estava próximo de nós, depois fez um gesto com a mão. Segundos depois avistei o atirador recebendo uma mensagem e abaixando a extensa arma. Apenas abaixando.

– Ele ainda está lá – eu falei entredentes.

– Claro que está. Agora venha – Jean pegou o meu braço e começou a me puxar para fora do salão.

Atravessamos um corredor que devia levar para a ala inferior e subimos pelo elevador até chegarmos à popa do cruzeiro. O lado de fora estava extremamente frio, a temperatura devia ser inferior à zero, eu abracei meus próprios braços e tentei controlar a perda de calor que meu corpo estava sofrendo.

Além do frio, a minha outra preocupação foi o fato daquela popa estar cheia de criminosos, todos armados e, provavelmente, recebendo ordens de Jean-Louis. Mas também havia uma pessoa no centro, sentada elegantemente, apenas assistindo o desenrolar da situação com uma expressão de superioridade.

– Belo hijab, Olga – eu comentei ao me aproximar dela.

– Ele é lindo mesmo, eu comprei em Dubai... – Olga passou a mão sobre o tecido com um sorriso – Bonita Yukata. Se eu não conhecesse a sua história, eu a colocaria na minha lista de melhores infiltradas que já matei...

– É lisonjeiro, mas eu ainda estou bem viva – eu retruquei, mesmo sabendo que qualquer atitude fora da linha poderia me levar para maus lençóis.

– Eu vejo... E também está bem falante. É bom que fique assim até o final, quero terminar isso rápido – disse Olga, ela se levantou da cadeira e fez um gesto com dois dedos da mão para chamar os seus homens. Eles pareciam já saber o que aquilo significava, pois mesmo sem Olga falar nada, dois brutamontes me agarraram e me puseram sentada na cadeira. Depois amarraram minhas mãos nas costas da cadeira.

Jean-Louis não parecia que ia intervir em nada, ele apenas encostou-se à proa do navio e ficou observando. Olga, no entanto, começou a me rodear.

– Muito bem, onde está o meu filho? – Olga perguntou sem fazer rodeios.

– Deve estar cuidando do seu espião... Na Alemanha – eu menti, falar que Nathaniel estava chegando seria o mesmo que pedir para que ela se preparasse para enfrenta-lo.

– Ah, você está falando de Dimitry? Ele sempre foi bastante útil para nós... É uma pena o disfarce dele ter sido revelado tão rapidamente... – Olga não parecia tão chateada como dizia estar.

Até que, de repente, ela se virou para mim com um olhar tão afiado quanto uma lâmina e se aproximou de mim devagar, falando uma palavra a cada passo dado – Mas é estranho... Eu tentei entrar em contato com ele há algumas horas, mas Dimitry não me atendeu... – Olga se curvou a ponto de ficar com a cabeça apenas alguns centímetros mais alta que a minha – Se por acaso Dimitry tivesse conseguido resolver o problema com Nathaniel, ele não teria ignorado as minhas chamadas, então posso supor que o oposto aconteceu? – Olga arqueou uma sobrancelha e trincou os dentes – Mostre-me seu celular, eu a vi usando não faz muito tempo...

Eu me mantive quieta, apenas encarando-a com meus olhos inflamados de raiva e temor. Ela não podia descobrir que Nathaniel estava vindo.

– Pode deixar, eu o acho sozinha – Olga começou a passar a mão por todo o meu corpo, apalpando cada ponto e abrindo algumas camadas de tecido até achar o maldito celular. Quando ela se afastou, minha roupa estava toda amarrotada e aberta na parte de cima, onde meu decote estava quase totalmente exposto.

Agora, com uma grande quantidade de pele exposta, o frio me atingiu com mais intensidade, e eu me tremi.

– Vejo aqui as suas ligações... Parece que você falou com alguém não faz muito tempo. Poderia ter chamado alguém? Pedindo socorro? – Olga entregou o celular para um dos homens – É o que eu vou descobrir daqui a pouco...

– E para quem você acha que eu liguei? – eu a encarei em desafio. Tomar o tempo dela era o essencial naquele momento.

– Jean, eu acho que essa menina está pedindo para morrer... – Olga segurou o meu rosto com uma mão, suas unhas grandes e afiadas arranharam minha pele das bochechas. Ela então me encarou como se quisesse me mutilar somente com o olhar e falou: - Eu vou repetir minha primeira pergunta, e dessa vez não vou tolerar mais besteiras... Onde está Nathaniel?

– E o que vai fazer com seu filho quando ele chegar aqui? – eu perguntei, mesmo sabendo que aquilo era uma afronta direta ao seu mais último aviso.

Dito e feito, Olga me deu um tapa forte no rosto, tão forte a ponte de fazer minha cabeça girar para o lado e minha gengiva cortar, saindo sangue da minha boca.

Porém aquela reação me deu um pouco de vantagem, pois no momento em que virei o rosto, percebi que alguns dos subordinados de Olga – que, pelo que sei, já foram de Francis – se entreolharam, provavelmente curiosos com a resposta de Olga à minha pergunta. Eu não podia deixar a chance passar.

– Dessa vez, se você vier com alguma prolixidade... Não serei eu quem vai te machucar – Olga apontou com a cabeça para o brutamontes ao nosso lado. Os punhos daquele homem me fizeram engolir em seco.

Mas eu tinha que continuar com a minha loucura.

– Eu vou te responder, mas primeiro me diga o que vai fazer com Nathaniel, o seu filho, quando ele chegar aqui? – eu perguntei rapidamente, para que ninguém tivesse a chance de me interromper. E mais, acrescentei uma pergunta para desviar o foco daquele interrogatório – Aliás, por está perseguindo-o?  

– O que vou fazer...? – Olga me encarou com escárnio, como se não quisesse me escutar perguntando aquilo, mas ao mesmo tempo estivesse sendo forçada a fazê-lo. E eu tinha uma suspeita do por quê de ela estar fazendo isso.

Olga soltou o ar e encarou os homens de soslaio, discretamente, como se estivesse analisando a reação de cada um deles.

“Sim, a maioria são subordinados de Milo e de Francis, todos já foram leais a eles um dia, e agora são leais a você... Mas o problema é que eles não sabem de toda a verdade”.

Ao ver que a maioria queria sim saber a resposta de Olga à minha pergunta, ela se pôs a responder.

– Por que eu quero Nathaniel aqui? Não se faça de tonta, ele matou Francis... Ele tem que pagar por ter traído os próprios pais – Olga estremeceu de raiva.

Ao ver que os capangas dela gostaram da sua resposta, eu entendi o que seria necessário fazer.

Decidi começar plantando uma pequena semente da discórdia na mente daqueles homens.

– Nathaniel matou Francis? Foi isso que você contou aos seus homens? – eu fui sarcástica, aprendi a imitar o jeito de Castiel e agora aquilo estava me servindo de alguma coisa – Eles realmente acreditam que você não teve nada a ver com isso?

– Onde está querendo chegar, garota insolente...? – os lábios de Olga eram uma linha fina.

– Vocês viram Nathaniel matando Francis? – levei um segundo para saber que nenhum deles havia sido testemunha, por isso continuei com a minha atuação enganosa – Engraçado como você, Olga, parece bem “inteira” mesmo depois de ter virado viúva, se é que me entende...

– Ora, sua...

– Ah, por favor, todos nós sabemos do seu caso com o Francis. Mas a questão aqui é saber se Francis sabia sobre todo o seu jogo sujo de poder... Se ele sabia que seria eliminado por você assim que fosse desnecessário – eu exibi um sorriso cheio de confiança, mostrando a todos que eu não tinha dúvidas das palavras que eu proferia, mesmo eu sabendo que aquela parte sobre Nathaniel não ter sido o verdadeiro assassino era mentira. Aquilo gerou olhares e murmúrios tensos entre o grupo de homens – Você mandou Francis ser morto, de forma a mascarar quem realmente planejou isso, assim como fez ao matar Milo. Não acha mesmo que eu não tinha notado a Beladona em seu banheiro, não é?

Aquilo foi a gota d’gua. Milo era bastante admirado pelos seus subordinados, e muitos deles estavam ali, prestando bastante atenção em minhas palavras. Eu podia ver a chama de ressentimento e de ódio inflamando no fundo dos olhos de alguns.

– Insolente! – Olga me bateu novamente no rosto, com muito mais força dessa vez. Eu cuspi mais sangue ainda – Não invente mentiras!

– Você pôs o veneno na bebida de Milo! VOCÊ! Você o matou e pretende matar Jean-Louis depois daqui... Pretende comandar tudo... Você é ambiciosa demais... – eu novamente cuspi sangue – Quem deseja subir tanto acaba caindo de uma altura fatal no final...

Mais murmúrios, mais discórdia, mais desconfiança. Aqueles homens estavam se sentindo traídos. Olga se deu conta de que estava perdendo terreno, e aquilo logo cairia para cima dela como uma avalanche impiedosa. Não demorou muito para Olga reagir.

– Machuque-a – Olga ordenou ao brutamontes.

O homem enorme começou a se aproximar de mim, eu já estava pronta para receber outro golpe, mas Jean interveio de súbito.

– Não a atinja no rosto, vamos deixar intacta a beleza dela, por favor – Jean falou. Olga revirou os olhos.

“Se não vai ser no rosto, então onde...”.

– NA BARRIGA NÃO! – eu implorei, me dando conta daquela possibilidade. Se aquele punho atingisse minha barriga, eu com certeza perderia a criança, e aquele pensamento me fez atingir o desespero mais profundo.

Eu continuei encarando Jean, pedindo silenciosamente a ele para que tivesse piedade ao menos com o próprio neto. No fim ele acabou cedendo.

– Machuque as pernas, então – Jean ordenou.

O monstro deu um chute forte e atingiu os ossos das minhas duas pernas. Eu me dobrei de dor na cadeira, berrei palavrões e senti minha cabeça perder a noção. Era uma dor absurda, parecia que minhas pernas tinham se quebrado, o local do machucado ficou roxo quase que de imediato.

– Ainda vai continuar com o seu showzinho, Sophie? – Olga perguntou, com um sorriso de cobra cortando o seu rosto caucasiano – Ou vai me responder? Não vou deixar você escolher o local da próxima vez... An?

De repente um som ecoou pelo navio, escutei vários gritos e sons de correria, junto a tiros e mais tiros. Os tiros se aproximavam numa velocidade de progressão, como se o grupo que estava avançando estivesse enfrentando um obstáculo por vez. Quando vi, Castiel surgiu segurando dois revolveres, um de prata e um de bronze, recém usados; Castiel estava furioso, seus cabelos negros pareciam carvão em meio às flamas de seus olhos incendiados, ele respirava calor e nem parecia sentir o frio na popa do navio. Assim que ele viu os machucados em meu corpo, Castiel mostrou os dentes.

– Essa história vai acabar aqui – Castiel falou com a voz controlada.

– Não se você não quiser ver sua putinha morta... – Olga apontou um revolver para mim e me tomou como sua refém.

– Jean... Solte-a agora, ela não tem nada a ver com isso – Castiel parecia um tigre prestes a saltar em alguém para matar.

– A questão aqui é comigo! Mais respeito, por favor... O Jean-Louis terá a vez dele depois – Olga sorriu.

Castiel então virou os olhos para mim, sua expressão escondia a frustração no fundo de seus olhos. Eu sabia que ele estava com medo por mim, mas, naquele momento, tínhamos que fazer o possível para conseguirmos sair vivos. Então acabei explicando isso a ele com um gesto discreto de cabeça.

– O que você quer? – Castiel cedeu cabisbaixo.

– Eu quero algumas respostas... – Olga falou.

– Se está confiante o suficiente de que vamos perder lá dentro, para estar abusando do seu tempo me fazendo perguntas, eu sugiro que reveja essa sua sanidade... – Castiel cuspiu as palavras.

– Meu contingente de homens é maior do que você pensa, disso eu tenho certeza – Olga parecia realmente confiante – Agora largue as armas e as chute para cá.

Castiel hesitou antes de obedecer a ela.

Quando Olga pegou as armas, ela escolheu a de prata e tirou de dentro todas as balas, depois a recarregou com apenas uma e girou o tambor do revolver, fechando-o em seguida. Meu coração palpitou quando um pensamento me passou pela cabeça.

– Se ajoelhe de frente para nós – Olga ordenou à Castiel, e ele o fez um segundo depois. Depois Olga cortou as cordas das minhas mãos e entregou o revolver de prata para um dos seus homens – Acredito que vocês devam conhecer bastante esse jogo... Roleta Russa.

– Não... Não vou fazer isso... – Castiel balançou a cabeça de um lado para o outro. Ele estava tremendo, mas provavelmente não era de frio.

– Vamos começar – disse Olga. Ela lançou um olhar para o seu capanga e o homem colocou o revolver entre eu e Castiel, então o girou.

O revolver parou com o cano apontado para mim, aquilo fez a expressão de Castiel ruir completamente.

– Não vou fazer isso! Me matem, se quiserem, mas eu não vou jogar isso! – Castiel se exaltou, ele começou a tremer mais intensamente e seus olhos estavam nebulosos. Mas nada disso era atoa, pois na Roleta Russa, quando você gira o revolver e o cano dele aponta para a outra pessoa, você é obrigado a atirar nela. Se der sorte, na vez vai ser a vez do buraco sem bala, e não vai matar a pessoa.

Se der sorte.

Ainda havia a possibilidade de sair o buraco com a bala.

– O que você quer, Olga?! – Castiel perguntou entredentes.

– Além da sua submissão total, quero saber onde está o meu filho, o que vocês planejaram... Quero as alianças de vocês, quero sua influência, Castiel... Eu sei que você pode me dar tudo isso – Olga não economizou em seus pedidos.

– Atira – eu falei num murmúrio.

– O-o quê? – Castiel não parecia acreditar.

– Se você obedecê-la, nenhum de nós dois teremos vida daqui por diante, Castiel... E de qualquer forma, ainda existe a possibilidade de não sair nada – eu falei, tentando amenizar tanto o meu temor quanto o dele.

– Mas ainda existe a possibilidade de sair – ele engoliu em seco e mordeu o lábio inferior – Não posso fazer isso, eu não posso te...

– Atira! – eu o cortei, mas depois amenizei minha voz e respirei fundo. Se fosse eu no lugar de Castiel, eu estaria desolada – Tudo bem... Vai ficar tudo bem... Não se submeta a eles por favor...

Castiel olhou para o revolver e hesitou em tocá-lo, mas na hora que o fez, seus olhos ficaram vermelhos como de quem está prestes a chorar. Ele ergueu a arma, com a mão trêmula, e apontou para mim. Ele engoliu em seco e fechou os olhos, naquele momento eu também fechei os meus e aguardei.

No entanto, Castiel virou imediatamente o revolver para cima e apertou o gatilho várias vezes por segundo, até que finalmente a bala saiu e atingiu Olga. A mulher caiu morta ao meu lado, o sangue espirrou em toda a minha yukata já escarlate.

Castiel encarou pasmo o resultado da sua atitude, depois desviou o olhar para mim e me puxou para um abraço protetor, como se todos os nossos problemas tivessem se acabado naquele momento. Mas eu sabia que ao fazer aquilo, Jean provavelmente responderia a nossa atitude. Quando Castiel me soltou, eu vi que estávamos cercados, e Jean aplaudia o nosso “espetáculo” emocionante.

– Obrigada, meu filho, você tirou um trabalho das minhas costas – uma voz feminina assustou tanto a mim quanto a Castiel, e somente quando a mulher apareceu que me dei conta de quem era.

Valérie se aproximava devagar, provavelmente por causa da dificuldade de andar com aquele peso na barriga – que, por sinal, já estava muito grande – ela me olhava de cima, mas seu trajeto ia direto ao encontro de seu filho.

– Castiel, levante-se, é difícil me curvar agora – Valérie explicou. Eu encarei a barriga dela e me perguntei se no futuro eu ficaria daquele mesmo jeito.

Castiel se levantou, ainda confuso com tudo que estava acontecendo. Então Jean estava do nosso lado? Porque Valérie e ele pareciam bastante... Amigados, e Valérie não passava a impressão de que iria ficar contra nós de alguma forma, ela até agradeceu quando Olga foi morta.

– Eu pretendia intervir antes, mas desejei ver o que você faria, meu filho – Valérie explicou, como se aquilo fosse uma resposta digna de uma mãe normal.

– Você... Desejou ver? – nem mesmo Castiel parecia estar crédulo daquilo.

– Sim, e no fim você não abaixou a cabeça para aquela mulher medíocre... Com a morte de todos eles, podemos finalmente tomar o que é nosso, podemos voltar ao que éramos antes – Valérie parecia realmente feliz com aquela ideia, ela tocou no rosto do filho com olhos cheios de orgulho – Você, seu pai e eu.

– E Viktor? – Castiel perguntou. Valérie fechou um pouco a cara.

– O bastardo não faz parte da família, meu bem... Ainda mais agora que somos tão fortes. Reconquistamos todas as nossas áreas perdidas... E você vai voltar para nós.

– Então durante todos esses anos... Você e ele – Castiel encarou Jean-Louis com olhos afiados – Vocês manipularam e mataram, tudo isso por poder? Vocês enganaram os próprios filhos para isso?

– Castiel, se controle e pense... Estávamos enfraquecendo...

– Façam o que quiserem, mas eu não vou voltar a viver com vocês essa... “Vida” – Castiel tirou as mãos de Valérie de seu rosto e se afastou, colocando-se em minha frente, como se quisesse me proteger.

Valérie me encarou novamente, dessa vez com escárnio puro, e suspirou fundo como se estivesse desapontada.

– Segurem-no – a mulher mandou. Logo em seguida três homens vieram segurar Castiel, eles prenderam seus braços e o imobilizaram. Castiel tentou se soltar deles, mas qualquer movimento dele era parado logo em seguida.

Valérie então se aproximou de mim e me analisou dos pés à cabeça.

– Sophie, eu sei que você deve ter uma primeira impressão bem ruim de mim... Nosso encontro no Brasil não foi nada memorável, eu reconheço, mas entenda que tudo o que estamos fazendo aqui tem um propósito grande, muito maior do que uma pessoa como você pode entender... E assimilar... – Valérie passou a mão na barriga e sorriu – Jean me contou que estou esperando um neto. Que notícia mais bela... Ficar grávida é realmente algo indescritível, e olha que somos duas aqui. Minha criança mal nasceu e já tem um sobrinho... Ou pelo menos teria, se a mãe não fosse você.

Eu prendi a respiração e encarei Castiel de soslaio, ele parecia mais tenso do que eu. Bem mais. Aonde aquela mulher queria chegar com aquela conversa?

– Não me leve a mal, Sophie, mas uma mãe tem que filtrar as coisas boas e ruins que chegam aos filhos, e você não está nem de longe adequada para portar o sobrenome Mikhailov – disse Valérie, com um cinismo na voz que chegava a ser desumano – Você é um estorvo ao progresso, você está envenenando o meu filho com ideias medíocres e simplórias... É como um câncer, e eu preciso eliminar esse câncer.

– Não toque nem mesmo num único fio de cabelo dela! – Castiel se remexeu, mas suas amarras humanas eram fortes demais.

Eu engoli em seco e entrei em desespero interno.

– Vai demorar um pouco, mas logo você vai morrer. E isso vai servir de lição para o Castiel, para ele não tentar algo do tipo novamente... Pois conheço alguns dos seus amigos no Brasil – a voz de Valérie era culta e mortal, bem mais aterrorizante que a de Olga.

Eu senti que seria meu fim no momento em que aquela mulher ordenou aos seus homens a me espancarem até a morte. “Eu vou ser espancada”, aquilo não parecia real. Quando os homens se aproximaram, escutei Castiel gritar de longe, mas eu estava tão inerte que nem mesmo os sons chegavam a mim completamente. Tudo parecia um grande eco que ecoava junto com as batidas do meu coração amedrontado.

Minha primeira reação foi de querer proteger meu ventre, numa atitude instintiva de impedir que aqueles monstros colocassem as mãos numa das coisas mais preciosas da minha vida. Não demorou meio segundo e eles começaram a me bater, me chutaram, me socaram... A cada soco eu gritava de dor, pois eu sentia minhas costelas se enfraquecendo, e meus ossos já doloridos das pernas voltaram a latejar.

Os gritos de Castiel ficaram cada vez mais distantes, e cessaram completamente quando recebi um chute na cabeça, o que me ensurdeceu e me deixou sem noção de espaço. A dor ainda continuava lá, mas em parte era como se eu estivesse anestesiada – mas ainda doía muito – talvez fosse porque eu já estava fraca demais, e também eu havia perdido tanto sangue...

“Oh, o que são aquelas luzes?”, “São helicópteros... Nathaniel está num deles, eu reconheço aqueles cabelos”, eu acho que sorri nesse momento.

Observei os homens de Nathaniel invadirem o local e massacrarem os homens de Jean e de Valérie. Quando voltei meus olhos para Castiel, eu o vi se retorcendo de raiva, se livrando dos homens que o seguravam, lutando contra eles e matando-os com golpes de alto nível. “Esse é o meu Castiel... Ele sempre foi forte”.

De repente senti lágrimas molhando o meu rosto. Foi nesse momento que pensei nos nossos momentos juntos, em todas as vezes que ele esteve lá ao meu lado, me amando; era tão bom quando parecíamos ser apenas um casal normal do colegial, por que não podíamos voltar para aquela vida? Por que era tão difícil assim ficar com a pessoa que amo?

Assisti Castiel lutando para tentar me alcançar, ele roubava as armas dos inimigos e as usava contra eles mesmos, depois usava suas habilidades físicas e imobilizava o oponente. Eu vi tudo isso em câmera lenta, sem escutar barulho nenhum, e foi o espetáculo mais emocionante da minha vida.

Até que ele finalmente me alcançou, com os olhos molhados em lágrimas. Castiel me segurou como se eu fosse feita de porcelana e que a qualquer momento eu poderia quebrar, depois ele passou a mão pelo meu rosto e analisou minhas feridas, sempre se culpando, sempre se lastimando...

– P-pare com isso... – eu murmurei para ele.

– Parar com o quê? – Castiel pegou minha mão e a segurou contra seu rosto.

– Você não tem culpa... Por favor, não se culpe eu... – tossir sangue foi inevitável para mim, o que só me deixou mais fraca e zonza – E-eu só queria te dizer q-que...

– Sophie, p-por favor – Castiel colocou o rosto em meu busto, ele estava chorando muito – P-por favor, n-não faz isso... Você é tão forte, fica comigo. Fica comigo, por favor... Esquecer que tínhamos que ser um casal comum? – ele fingiu um sorriso – Não tem sentido pra mim se você não estiver comigo...

– O-obrigada, cabelo de sangue... – eu usei um apelido antigo que dei a ele, pois minha mente ia e voltava ao passado, se lembrando dos melhores acontecimentos. Era estranho, porque, por mais que eu soubesse que Castiel ainda estava ali, me segurando, meu corpo começava a perder o calor reconfortante dele, como se estivesse se afastando.

– Você s-sabe que eu te amo, né? – foi a ultima coisa que consegui dizer, antes de fechar os olhos e cair num sonho estranho. Num sonho escuro, silencioso e infinito.


Notas Finais


♬Música: https://www.youtube.com/watch?v=yPgUyinaq_c



Eu sei que a maioria de vocês querem me matar... Mas eu já tô morta gente, depois do show do BTS não sobrou mais Lady não... Tô só a ameba. Mas vocês ainda podem atirar na ameba *U*(T.T)
Por favor, não deixem de comentar suas reações, o que vocês acharam desse cap e o que sentiram <3
Kissusssssssss de Dandelion<3


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