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História Dark Paradise - A Garota do Passado


Escrita por: CherryCool

Capítulo 2 - A Garota do Passado


Dante se questionava quanto a lógica que o motivou a trazer a mulher com ele. Não era do seu feitio fazer caridade tampouco acolher estranhos em sua moradia, mas não estava disposto a abandoná-la à própria sorte consciente que fora responsável pela condição atual dela. Um súbito senso de consciência bem específico.

Apesar dos rumores que circulavam dela supostamente ser uma divindade, na sua percepção, ela parecia muito uma garota humana normal sem grandes diferenças extraordinárias que a destacassem, talvez o único detalhe a ressaltar fosse seu casulo estranho que permaneceu por um longo período em estado de animação suspensa pelo que entendeu. Uma das hipóteses seria uma proteção fornecida por magia, o que explicaria seu impressionante vigor juvenil.

As pessoas daquele fim de mundo tinham uma visão mais fantasiosa e imaginativa ao declarar abertamente meras teorias e o fato dela ter ficado tanto tempo dormindo enquanto o mundo ao seu redor evoluía só fomentou mais a crença deles no extravagante sobrenatural.

Existiam traços nela que atraíam muitos olhares: os olhos reluzentes, as feições suaves cujos contornos pareciam uma obra prima de algum artista que normalmente se via em museus. Não somente isso, a aura que a envolvia era misteriosa, uma luminescência poderosa e contida, também vibrante e cheia de vida que pulsava radiantemente.

Por mais que ela não representasse uma ameaça real, sentiu-se tentado a mantê-la sob sua custódia até se certificar que realmente não existia perigo, tanto pra ela quanto para as demais pessoas. Ofereceria a donzela seus serviços para guarda costas enquanto a vigia.

A reação dela ao ver coisas cotidianas bastante comuns lhe deu uma vaga ideia de que seu sono durou muito mais do que poderia considerar, realmente concordando com a contagem do homem que lhe interceptara outrora. A jovem não tinha de início, pelo menos ainda, raciocínio mais de acordo com o que aparentava tampouco com o título que lhe sugeriam, para uma suposta deusa, suas atitudes soavam como uma ignorante explorando o estranho mundo novo no qual fora abruptamente inserida, descobrindo estímulos visuais, sensoriais e olfativos. Mexendo em tudo que chamava sua atenção, encarando fixamente letreiros e transeuntes com curiosidade.

Dante precisava descobrir como lidar com a situação peculiar e saber mais sobre a dama de trejeitos incomuns que encontrou. Sentado em sua cadeira, uma velha companheira de guerra, a observou vasculhando tudo no ambiente, querendo aprender mais das geringonças presentes ali e como operavam. Em determinado momento de distração, assim que cansou de fuxicar o jukebox, fitou o lustre velho que balançava vagamente feito uma mariposa presa no encanto irresistível da luz.

– Qual é o seu nome? Consegue falar? – imediatamente, após as perguntas, a garota o encarou intrigada. O devil hunter, um pouco mais paciente, começou a usar o improviso em mímica para ver se funcionava para extrair uma informação mais concreta dela. Repetiu a frase pausadamente, gesticulando com as mãos da melhor maneira que podia. Ela demorou para captar a mensagem, mas com um pouco de dificuldade esboçou poucas palavras.

– Nome... – resfolegou como se aquilo exigisse mais do que suas limitadas capacidades físicas permitiam. – Arya.

Um pouco desajeitada, ela disparou até o meio-demônio, apontando para ele como se soubesse quem se tratava.

– Sparda?

Dante franziu a testa.

– Não. Sou filho dele, me chamo Dante.

– Filho? – reprimiu a risada com a expressão dela com a revelação, um misto de incredulidade com surpresa inocente.

– Então, senhorita, você conheceu meu velho? Amigos? Amantes? Colegas de batalha?

– Amigos – respondeu dispersa, examinando, com o olhar afiado, os traços físicos provenientes da genética de Sparda no caçador. Ela se aproximou mais e tocou o rosto dele com uma leveza gentil que o desconcertou a ponto de congelar com a inspeção, a sensação o aqueceu de uma maneira agradável, algo que não estava psicologicamente preparado. Afastou as mãos dela se certificando de não ser rude em sua ação.

Pigarreou para recuperar a compostura, vendo que ela já demonstrava mais eloquência e pensamento mais ativo comparado com horas atrás.

– O que estava fazendo dormindo naquele lugar?

– Oh. – ela estreitou os olhos, refletindo quanto ao que diria. – Hibernando.

– Hibernando? – arqueou a sobrancelha em ar de graça. – Humanos não hibernam.

– Não sou humana – retrucou mais firme, irritada com o ligeiro deboche do meio-demônio. – Humanos não vivem nem mais que dois séculos.

– Esse é o ponto, madame

– Tenho idade para ser sua tatatataravó, ainda que tenha parado de envelhecer com 27 anos. Seu pai nunca falou sobre mim? – indagou, se recostando na mesa na qual o mestiço descansava preguiçosamente as pernas.

– Não, nem sabia sua existência.

– E onde ele está? É estranho não ter visto ele até agora e...

– Morto. – interrompeu sem se importar em poupar pormenores.

Houve um longo silêncio que se prolongou por minutos, tendo unicamente a música do jukebox tocando ao fundo. Arya recuou, sentando no sofá com feições difíceis de prever, todavia presumiu que a notícia a tenha pegado de surpresa, não somente isso, também causou um choque imenso para alguém que esteve fora por tanto tempo sem contato com a nova realidade. Ela simplesmente permaneceu imóvel, quieta, sem gesticular ou exteriorizar seus sentimentos.

Dante se limitou ao papel de espectador enquanto a assistia, lentamente, a absorver a verdade na velocidade que seu raciocínio mais devagar comparado a condição normal de um indivíduo em plena saúde. Uma voz irritante de sua consciência lhe repreendeu pela insensibilidade ao contar, sem qualquer pudor e emoção, uma morte, sobretudo, por ser seu pai – e claramente um alguém importante para a donzela. Para o caçador, ficar triste e viver lamuriando miseravelmente perdas irremediáveis, não fazia parte integrante de sua natureza. Possuía uma visão mais voltada a superar a dor convivendo com ela sem perder tempo imaginando como mudaria as circunstâncias que o marcaram negativamente. O passado não pode ser mudado, apenas lembrado e revivido. 

Sem muita experiência para oferecer consolo adequado, principalmente para uma mulher, se aprumou para não aparentar desleixo e pôs o cérebro para trabalhar em uma maneira de amenizar o estrago que acarretou, contudo, não vinha nada além de “deixar a situação se desenrolar do jeito que estava”.

– Eu nunca imaginei que... Isso explica o fato de você ter vindo. – Arya anuiu com leve melancolia gravada nos contornos ternos e delicados que componham o design do seu rosto. – O amuleto perfeito avisa quando a hora se aproxima. Meu povo tem maior longevidade e, para conservar essa dádiva, precisamos hibernar um determinado período. – Dante notou o tremor nas mãos da mulher, como se estivesse se segurando para manter a imagem altiva e forte e não desmoronar. Era estranho para ele confrontar um fragmento da história do seu velho e se sentir impotente diante dela. – Da última vez que vaguei nesse mundo, não existia nem metade do que atualmente é imprescindível para sobrevivência. Foram tantos anos, talvez mais de cinquenta e... Não imaginei que não fosse ver seu pai novamente.

Arya suspirou, porém, se opondo ao que deduziu, ela aceitou bem o fato, sem um caos de choro desnecessário que ele não teria meios para resolver. Ela deveria estar bem habituada com a morte para suas atitudes mais serenas.

– Eu. – praguejou que sua boca maldita tenha o jogado nisso antes que tivesse chance de formular algo inteligente. – Posso ajudar você, no lugar do meu velho se desejar.

– É gentil da sua parte. – Arya sorriu timidamente e, inexplicavelmente, foi como se todo ambiente estivesse banhado com uma luz cálida e cativante. – Só preciso de roupas agora.

– Eu não tenho roupas femininas aqui, como pode ver, vivo sozinho. – comentou, se levantando. – Se preferir pode usar minhas roupas.

– É assim que flertam hoje em dia? – Arya brincou, lançando um olhar acalorado e bem humorado para o mestiço que, por sua vez, abriu um sorriso contagiado pela gracejo atrevido.

– Nem comecei ainda, madame.

– Lidere o caminho – riu, seguindo o meio-demônio por uma escadaria e um pequeno corredor.

Dante a conduziu para o quarto, destrancando a porta e indicando para que ela entrasse com um gesto teatral.

– Você tem um estilo de decoração peculiar – murmurou abstraída, varrendo toda extensão do cômodo e analisando os pôsteres de mulheres quase desnudas, usando peças que mal as cobriam.

– Tome – ele lhe entregou uma camisa preta que, a julgar pelo porte físico dela, achou que serviria perfeitamente.

Arya pegou o traje e, sem vergonha, tirou o casaco que a cobria sob o olhar vigilante, ligeiramente abismado de Dante, que passeava pelas curvas nuas da mulher. Ela se vestiu como se o homem no recinto não lhe intimidasse ao se despir tão despreocupadamente.

– Espere eu sair antes de... – alertou com tom mais alterado.

– O que foi?

– Nada. – resmungou, virando o rosto.

– Algo errado em estar nua? Você nunca viu uma mulher nua?

O caçador pigarreou. Normalmente ele, com seu jeito ácido e cínico, que provocava tanto aliados quanto inimigos, pela primeira vez em anos, não encontrou uma resposta à altura para Arya e suas questões capciosa.

– Não se preocupe, estou bem com isso.

Ele fez um muxoxo que arrancou uma doce risada da jovem.

– Minha estádia aqui será bem divertida pelo visto.


Notas Finais


Até a Próxima!


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