História Dark Paradise - Posso matar você.

Robert só parou de me socar quando eu não consegui mais abrir os olhos, eu sentia o gosto do sangue em minha boca e todo o meu rosto latejar. Quando senti a falta do peso de Robert, tentei me levantar, mas ele me chutou com tanta força na costela que a ideia de levantar já não fazia mais sentido. Eu não queria desistir, mas estava fraca demais, a raiva agora era voltada totalmente para mim, por ter vacilado dando a brecha e perdendo a oportunidade de dar a lição para aquele que fez a minha vida, a vida da Camila e de tantas outras pessoas um inferno. Eu odiava Robert como nunca odiei alguém, me deixei ficar cega pela raiva e agora estou sofrendo as consequências.

- Manda um beijinho para sua amada, Lauren! 

POV Camila Cabello 

O nome de Robert piscava na tela do meu celular, iluminando o quarto todo. Com os olhos fixo na no aparelho, me mantive presa em uma luta interna em atende ou não atender? Um calafrio correu pelo meu corpo, sua ligação repentina me fez tremer da cabeça aos pés e a unica coisa que pensava, era em suas ameaças. Fechei os olhos respirando fundo em busca de controle mental, no momento tudo o que eu precisava era ser forte, mas não me sentia aquela delegada determinada como antes, cheia de energia e sem medo algum. A Delegada Cabello sumiu do mapa, deixando apenas Camila, talvez seja por estar tão envolvida, nunca estive tão envolvida em um caso com estou neste. Céus... Estiquei minha mão tremula alcançando o aparelho que ainda piscava, soltei todo o ar que havia em meus pulmões e atendi.

- O-o que você quer? - Minha voz falhou por um momento, Robert soltou um riso nasal do outro lado da linha, sua respiração parecia estar um pouco pesada. 

- É melhor correr Delegada Cabello - Seu tom ameaçador me fez arrepiar dos pés a cabeça, um pressentimento ruim que palpitava em meu peito antes mesmo de atender sua ligação - O estado que a deixei não é um dos melhores. 

Meu coração errou a batida, Sofia sorrindo em minha direção veio em minha mente, meu corpo ficou tão fraco que por pouco não derrubo o celular. 

- O QUE VOCÊ FEZ? CADE SOFIA? 

- Sofia? Não... Ainda não fiz nada com ela - Seu tom de voz saiu controlado, como se estivesse me perguntando o que fiz para o jantar. Se não foi Sofia, então...

- O-O que v-você fez com ela? - Me levantei em um solavanco, meu corpo vibrava, temendo o pior. Eu a avisei. Porra!!... Eu avisei para ficar longe dele. - Onde esta Lauren?

- É melhor correr... - A ligação foi finalizada. Minhas pernas se movimentavam, me fazendo andar de um lado para o outro, um turbilhão de pensamentos fervilhavam em minha mente. Eu não tinha ideia do que aconteceu com Lauren, mas estava com medo de descobrir, eu poderia não saber lidar. Nos últimos tempos eu andava tão a flor da pele que tinha medo de mim mesma.

[...]

No momento, tenho a estranha impressão de que tudo que faço é errado. Venho errando em minha vida gravemente desde que sai de casa, a cada passo que dei, errei, errei com Lauren, na minha carreira, com Sofi, com Rob. O que me destroi é ter deixado tanta gente passar por cima na minha vida, nas minhas escolhas e decisões, é uma merda você perceber algo assim quando o tempo já foi perdido e as esperanças já se esvaíram. Sim! Eu estava já sem esperanças. A brisa fresca soprava em meus cabelos, eu estava com a cabeça encostada sob o volante do meu carro, deixando as lágrimas escaparem, eu estava com medo do que eu iria enfrentar. Desde a ligação de Robert, não sabia o que fazer. Já não sabia exatamente quanto tempo estava parada na frente da casa de Lauren, chorando após minha busca incansável por ela, sem ninguém a recorrer. O pior pressentimento se instalou dentro de mim. Sei que a última coisa que devemos pensar é no pior, mas no momento eu já havia passado por todas etapas, deixando exatamente o pior passar por minha cabeça!

Depois que Robert finalizou sua infeliz ligação, meu corpo entrou em modo automático enquanto a terceira guerra mundial acontecia dentro de mim, quando percebi, me peguei nas ruas de Miami após incontáveis ligações para Lauren sem resultado algum. É estranho, mas finalmente consigo admitir a mim mesma o quanto eu a amo. Sim! Eu a amo! Esse é um dos grandes motivos de estar chorando como nunca chorei na vida, como pude demorar tanto tempo para aceitar o fato de amá-la? Não é como se o sentimento que sinto por ela seja pequeno, pois não é! Eu nunca senti algo assim por nada e nem ninguém. Talvez seja por isso... Por ele ser tão grande que chega ser assustador e insano. Insano! Palavra perfeita para definir toda essa mentira que venho vivendo nos últimos tempos, desde meu emprego, ao meu noivado, a minha relação com a família, com meus amigos. Eu estava vivendo a mais pura mentira, o roteiro mais fajuto implantado por todos na minha vida, mas só havia uma coisa real nisto tudo e eu vinha a ignorando por medo de finalmente ter descoberto quem realmente Lauren é! E sabe o que é mais assustador ainda? Eu também me descobri... E no momento o que eu mais quero é poder ser eu mesma independente de certo ou errado.

Respirei fundo e abri meus olhos determinada a colocar um ponto final de uma vez por todas em tudo! Afastei minha cabeça do volante, minhas mãos ainda o seguravam forte, mas lentamente as afrouxei e com uma delas sequei as incansáveis lágrimas. Peguei meu celular e disquei o numero da unica pessoa que eu precisava para encerrar toda essa merda!

Não demorou muito para a ligação ser atendida. 

.: Vamos acabar logo com isso! Me encontre no endereço que te mandarei por mensagem, em 1 hora te vejo lá. - Não aguardei a resposta, apenas desliguei a chamada e liguei o carro, arrancando para longe da grande cidade de Miami. 

POV Lauren Jauregui 

Meus olhos se abriram lentamente, a luz do luar banhava apenas meu rosto naquele beco escuro. Com muito cuidado e esforço me sentei soltando um gemido de dor, meu corpo todo latejava devida as pancadas fortes em meu corpo. Não sabia ao certo por quanto tempo havia apagado, mas assim que peguei meu celular, vi inumeras ligações perdidas, mas apenas de uma pessoa chamou a minha atenção... Camila! Se aquele filho da puta tiver feito algo a ela, eu juro que não terei piedade alguma de mata-lo da forma mais bárbara que alguém imaginaria. Com a mão um pouco trêmula devido as fortes dores, tratei de imediatamente retornar sua ligação. 

.: A-Alo? - A voz de Camila soou rouca e estranha do outro lado, não parecia nenhum pouco com a da Camila calma que conhecia - É você? 

Soltei um suspiro de alívio, em partes, pois ainda tinha a impressão que havia algo de errado. 

.:Você está bem? Onde está? - A enchi de perguntas enquanto me apoiava na parede para me levantar deixando sem querer outro gemido escapar. 

.:Lauren, Lauren - Meu nome saiu em desespero do outro lado - Você está bem? Céus... E... Eu não acredito - Sua voz passou a sair embargada, era nítido que ela estava prestes a chorar. 

.: Calma - Fechei meus olhos com força soltando um gemido de dor - Onde você está? Você está bem? - Repeti minha pergunta, meu coração batia forte em meu peito, já estava começando a ficar mais aflita. - Da para me responder? Merda! 

.: Não me mande ficar calma! Eu achei... - Camila resfolegou, cortando a frase, ela estava chorando! - Eu achei que tinha perdido você Lauren, eu não te encontrei em lugar algum, eu não sabia o que fazer, não tinha a quem recorrer....

.: Camila! Calma! - A interrompi - Me fala com calma. Onde você está? Eu estou... bem – Em pensar que estava viva, considerava estar bem.

Camila se calou no mesmo instante. Caminhei com dificuldade até meu Volvo, puxei a chave no bolso da minha calça, seu silêncio estava me deixando agoniada.  

.: Camila...

.: Lauren... Estou no seu galpão. 

Estava prestes a entrar no carro, mas paralisei assim que ouvi suas palavras, meus olhos se arregalaram, foi como se a terra tivesse parado de girar. Ela disse mesmo que esta no meu galpão? O que diabos ela estava fazendo lá?!

.: Camila o que você está fazendo aí? 

.:Lauren...Acho que ferrei com tudo! 

POV Camila Cabello 

Finalizei a ligação ao ouvir passos pesados, automaticamente puxei a arma da minha cintura e me encostei na madeira velha do galpão, bem ao lado da única entrada lateral. Só poderia ser ele! E era... Assim que Robert pisou dentro do galpão, reuni todas as minhas forças e golpeei sua cabeça com a arma. A coronhada foi tão forte, que o levou imediatamente para o chão desacordado, um fio grosso de sangue passou a escorrer da sua cabeça até seu rosto. Agora era tarde demais para deixar meu lado racional vir a tona, eu tinha um objetivo e mesmo que Lauren tenha aparecido, já estava mais que decidida em acabar de uma vez por todas com toda essa merda que minha vida se tornou. 

Peguei em seus calcanhares e o arrastei pelo galpão com muita dificuldade, o peso desfalecido de Rob já estava me irritando mais que o normal. Quando finalmente cheguei em meu destino, olhei ao meu redor e tudo parecia preto e branco, lembranças da última vez em que estive aqui invadiram minha mente e eu estagnei segurando o corpo do homem. Dei mais uma olhada e meneei com a cabeça para logo me acordar do transe. Levei Robert até um canto e utilizei cordas e fitas que Lauren tinha ali para amarrá-lo e amordaçá-lo. A adrenalina percorria por todo meu corpo e eu só estava orando para que Lauren chegasse logo. 

Minha mente trabalhava insanamente, em busca de formas e ideias para alimentar toda aquela adrenalina que se manteve presa por tanto tempo. Olhar Robert, só fazia tudo piorar, quando mal percebi, já estava andando de uma lado paro o outro naquele galpão velho, com um corpo desfalecido à minha frente. Eu nunca me imaginei um dia desejar tanto a morte de uma pessoa, desejar tanto matar alguém, como desejo fazer com Robert. Meus pés travaram sob o chão, parando exatamente de frente para ele, resmungos escaparam de seus lábios e lentamente ele passou a se mexer com uma feição de dor.

- Camila? - Sem que eu percebesse, Lauren entrou no local me assustando. Olhei para a morena e não podia acreditar no que meus olhos viam… Seu estado estava deplorável, toda sua face estáva inchada e com rastros de sangue por toda parte. Me aproximei dela e meus olhos marejaram. Toquei levemente seu rosto e Lauren recuou um pouco fazendo uma expressão de dor. Foi cortante olhar em seus olhos e ver que onde antes era branco e verde, estava vermelho e verde.

- Céus… Você está tão machucada – Disse o óbvio sentindo as lágrimas escorrerem por meu rosto involuntariamente. Lauren pegou minha mão que estava tocando seu rosto e a beijou mesmo com seus lábios inchados e cortados, não deixou de ser aquele beijo quente e carinhoso.

- Eu vou ficar bem – A morena tentou esboçar um sorriso, mas nada estava conspirando para que isso acontecesse.

- Sorria para mim Lauren – Eu dizia quase que em desespero. Era apavorante vê-la daquela maneira. Lauren apenas olhou para mim, balançou a cabeça negativamente quase que em câmera lenta e em seguida a abaixou deixando as lágrimas caírem.

Uma súbita raiva me invadiu, ela está tão frágil, tão diferente da Lauren forte que conheço, Robert quebrou sua máscara da pior forma. Soltei a mão de Lauren deixando a minha em forma de punho e fui em passos largos em direção ao corpo de Rob que ainda estava no chão desacordado, eu não podia aceitar aquilo calada.

- SEU DESGRAÇADO! – Gritei entredentes enquanto o golpeei no rosto. – SEU FILHO DA PUTA – Gritei novamente e dei outro golpe, dessa vez em sua barriga, fazendo o homem acordar assustado. Sentei em seu quadril e comecei a desferir muitos socos em seu rosto – NUNCA MAIS TOQUE NA MINHA MULHER!!! – Gritei uma última vez quando senti Lauren me agarrar por trás, me tirando de cima dele. Robert amordaçado apenas gemia enquanto tentava cuspir o sangue que havia se acumulado em sua boca.

Lauren me levantou e eu me soltei de seus braços ficando de costa para os dois, eu não podia olhá-lo, não agora, a raiva que eu estava sentindo, não tinha medidas ainda, poderia ser perigoso, mas eu queria aquilo. Quando mais calma, me virei e pude ver Lauren tirando a mordaça de Rob, o virando de lado para que ele pudesse vomitar todo o sangue que o estava engasgado.

- Só pode ser brincadeira... - Sussurrei para mim mesma - Porque está salvando esse verme? – Perguntei incrédula.

- Se ele morrer por suas mãos, você terá vivido em vão – Disse ela já em pé se aproximando de mim. Lauren havia me feito refletir sobre o que tinha dito e ela tem razão. Eu não sei por que diabos eu trouxe Robert para o galpão, que porra estou fazendo aqui ou com a minha vida? Eu não tenho respostas para tais perguntas, não quando a razão é a última coisa que se tinha dentro de mim.

Meu coração acelerou em uma fração de segundos e me faltou o ar, resfoleguei e explodi em um choro alto e escandaloso, olhei para minhas mãos trêmulas com sangue e me desesperei mais. Eu chorava copiosamente, agachei e afundei minhas mãos na cabeça, eu chorava tanto, como se aquilo fosse lavar minha alma, lavar minhas mãos e meus dias infernais. Minha cabeça estava explodindo em conflito.

 

- Vivido em vão... - Debochei sarcasticamente com o olhar baixo, mas quando olhei para Lauren, meu coração se apertou mais ainda. É como se o fio de esperança da minha razão vir a tona se esvaísse ainda mais. - Você não entende mesmo não é Lauren? - Levantei um olhar firme para a morena, sua expressão era indescritível - A minha vida toda eu vivi em vão... Tudo! Exatamente tudo! Não se passava de um roteiro fajuto, onde eu não passava de uma marionete. Não há razão Lauren, não quando eu já derramei tanto sangue - Soltei um riso sarcástico - Você sempre tem razão... A única coisa que nos diferencia é a porra do meu distintivo!

Lauren não disse nada, apenas se aproximou e segurou meus pulsos, me forçando a levantar, o silêncio era quebrado apenas pelos gemidos do Rob. Me levantei, então a morena me olhou e passou as costas de sua mão em meu rosto.

- Porra Lauren... - Fechei meus olhos apertando-os, lágrimas ainda escorriam silenciosamente pelo meu rosto - E-Eu estraguei tudo! Envolvi minha família, envolvi você! Veja só como você está... – Disse com a voz embargada e cai novamente no choro e então agarrei a gola de sua camiseta e a abracei.

- Você só se desesperou... Por mim – A morena me afastou de seu corpo, segurou meu rosto em suas mãos, me obrigando a olhá-la – Camila, você me ama?

Sem forças para negar qualquer coisa naquele momento, sem condições de sair correndo ou fingir que estava bem, olhei bem fundo nos olhos de Lauren para por fim responder o que a tanto tempo venho negando a mim, à ela e a todos.

- Lauren, eu amo você! – Algumas lágrimas ainda rolavam por meu rosto – Eu sinto que nunca vou deixar de te amar. Quando estou com você, todas as regras e a lógica… Coisas que são importantes para mim! Desaparecem… Tudo que sinto é como o meu coração bate rápido sempre que estou com você.

- Eu te amo Camila Cabello! – Lauren disse e aproximou seus lábios nos meus, pressionei na ganância, na vontade que eu estava daquele beijo, mas Lauren gemeu baixinho nos lembrando que ela estava muito machucada. Lentamente me separei de seus lábios macios.

Ficamos um tempo calada, apenas olhando uma para outra, Lauren ainda acariciava meu rosto com seu polegar. É assustador o quanto eu a amo, não tem explicação por tamanha paz que ela me transmite, mesmo estando em uma situação tão fodida como esta.

- Prendemos Britt ontem - Quebrei o silêncio - Mas nada leva à esse desgraçado, Lauren – Respirei fundo para controlar a vontade de chorar – Eu estou tão frustrada com isso.

- Camila, você meteu os pés pelas mãos trazendo esse bandido até aqui – Olhei para Lauren que parecia preocupada – É um caminho sem volta, você sabe não é?

Lauren estava certa, eu realmente havia ferrado com tudo, era um caminho sem volta, medidas drásticas terão que acontecer.

- Eu não quero mais viver num mundo onde eu não possa te ter, Lauren – Disse já sentindo mais lágrimas caírem, os olhos de Lauren marejaram novamente me cortando o coração – Eu não quero mais viver Lauren.

- Camila...

- Não... – Engasguei num choro compulsivo – Lauren, eu prefiro morrer.

E eu realmente preferia, essa anarquia que virou minha vida, não valia mais a pena, não valia mais viver, não valia a pena acordar todos os dias sabendo que não posso estar ao lado de quem eu amo, ao lado da mulher que mexe comigo, não vale a pena viver perto da minha família sendo que eu sou o motivo de não deixá-los em segurança.

- Camila, se você quer morrer, eu posso te ajudar com isso.