Já estava amanhecendo quando eles saíram do departamento de polícia. Depois de preencher alguns papéis e derem depoimentos, eles saíram para o ar límpido da manhã. O frio do outono tinha ficado mais acentuado, mas Annie se sentia tão bem que só se aconchegou mais para perto de Percy. Comeram cachorros-quentes em uma barraquinha perto do Central Park. Depois de estarem lá, Percy e Annie apostaram corrida até o Cherry Hill³ e pegaram a trilha até a Bow Bridge⁴, parando em cima dela, admirando O Lago, cheio de folhas amareladas e avermelhadas pela estação outonal. Não havia ninguém além de alguns corredores e turistas madrugadores, que se deleitavam com as belas fotos que conseguiam tirar com o parque vazio em contraste com a cálida primeira luz do dia.
Percy contou para ela os últimos anos de sua vida: como, depois de ficar de coração partido, conseguiu uma bolsa para estudar biologia. Como tinha decidido perdoar o pai, após muitos anos de domingos passados na casa à beira mar dele, domingos estes que Percy se sentia desconfortável por ter de comparecer. Decidiu não se ressentir mais, porque, não restava mais nada a aceitar o fato de que o pai dele havia trocado sua mãe por outra, e seria assim para sempre. Contou que Estelle, sua irmãzinha, era a coisa mais linda que ele já havia visto e que prometera enterrar a cabeça de um coleguinha dela embaixo da terra porque o menino de seis anos estava se engraçando com ela. Contou seus primeiros anos de faculdade, e como conseguiu convencer os calouros de engenharia a plantar uma bomba de bosta no porta-malas do veterano que estava os importunando. Contou sobre as suas ex-namoradas, sobre o seu trabalho e outras coisas. Annie ria e participava, às vezes completando alguma lembrança, ou às vezes dando um tapa em seu braço por ter tido alguma atitude irresponsável.
Annie o beijou durante algumas falas, distraindo-o, e ele tinha que recomeçar tudo de novo. Mas não se importava. Poderia repetir a mesma história pelo dia todo se ela continuasse com aquilo.
Mas o sol começou a esquentar, e os dois realmente precisavam voltar para suas casas. Então, eles pegaram um táxi e Percy subiu com Annie até a sua porta. Mas, no momento em que se reclinava para depositar um beijo em Annabeth, a porta foi aberta.
― Annabeth! ― Silena exclamou, atônita.
Puxou Annie pelos ombros e verificou-a por todo o corpo. A loura não estava entendendo nada.
― Está tudo bem com ela. ― Disse Silena, por cima do ombro.
Rapidamente uma Piper vermelha e descabelada voou até eles. Atrás dela, Jason Grace e Charles Beckendorf vieram juntos, os olhos cheios de olheiras e cansados. Piper pôs as mãos no rosto de Annabeth e disse:
― Meu Deus, você está bem. ― E suspirou aliviada.
― O que deu em você? ― Disse Silena, furiosa. ― Achamos que você tinha morrido ou sido sequestrada! Sabe que horas são? Te ligamos várias vezes e você não nos atendeu, mandamos mensagens, e até te mandamos email. Piper não me deixou mandar sinal de fumaça.
― Estávamos prestes a fazer um boletim de ocorrência na delegacia mais próxima! ― Exclamou Piper, nervosa.
― Meu celular estava ligado o tempo inteiro. ― Annabeth disse, checando a bolsa. Realmente, ele estava ligado. Mas no silencioso.
A loura sorriu amarelo para as amigas.
― Me desculpem, eu perdi a hora com o Percy. ― E pegou no braço do moreno e o trouxe para a frente. Parecia que as amigas tinham se esquecido da presença dele.
Silena e Piper o avaliaram de cima a baixo. Não deu para saber se ele passara no teste delas, porque, assim que Percy viu Charles e Jason, ele abriu um sorriso e disse:
― Caras, nós fomos presos!
E gargalhou e quanto os demais faziam perguntas. Annie estava cansada, não queria responder todas elas naquele momento, então disse:
― O que acontece é que eu e Percy já nos conhecíamos, aí nos metemos em algumas enrascadas e acertamos as contas. Mas está tudo muito bem agora. Perfeitamente bem. Foi isso. Agora eu só quero descansar.
― Já se conheciam? Isso é uma coincidência incrível. ― Disse Piper, sorrindo sonhadora. Annie sabia que a amiga era romântica até demais.
― Sim, sim.
― Eu até entendo que você queira descansar, Annie, mas os meninos estão aqui agora e... ― Silena iniciou a fala, lançando um olhar significativo para Percy. Pela primeira vez ele conseguiu captar a mensagem.
― É claro que Annie vai querer descansar em lugar calmo e tranquilo, não é? E não vai dar para fazer isso aqui, como Silena bem insinuou. Eu acho que você deveria ir comigo para casa para, sabe... descansar melhor. ― Disse ele, muito sério.
― Ah ― disse Annie, compreendendo ―, claro. É verdade. Eu não vou conseguir dormir com o barulho, sabe, eu tenho sono leve, então acho melhor eu ir com Percy mesmo.
― Sim, sim, vão logo! ― Disse Silena, empurrando os dois de volta para o corredor. ― Só apareça aqui depois das dez! E com todos os detalhes! ― Gritou para Annabeth.
Annie e Percy acenaram com a mão conforme desapareciam pelo corredor.
Depois de fechar a porta do apartamento, Silena encostou-se nela e disse, orgulhosamente para seus amigos e namorado:
― Bom, depois de todos esses problemas e situações, podemos tirar uma conclusão.
― O amor sempre vence e as dificuldades podem ser superadas por um bem maior? ― Charles arriscou.
― Não. Minhas habilidades de cupido nunca falham.
E sorriu arrogantemente diante dos olhares cínicos dos amigos.
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